Carla do Couto Soares Maciel Bióloga. Mestre e Doutoranda em Biologia de fungos pela UFPE. Atualmente pesquisadora da UFPE e UNICAP. E-mail: [email protected]. Hugo Rafael Leonardo Figueredo Cândido Bacharel em Biomedicina pela Faculdade Maurício de Nassau. E-mail: [email protected]. INFECÇÃO HOSPITALAR: PRINCIPAIS AGENTES E DROGAS ADMINISTRADAS R ESUMO As infecções hospitalares são adquiridas após a admissão do paciente, estando relacionadas a procedimentos hospitalares. O presente trabalho teve como objetivo analisar o quadro de infecção hospitalar, os agentes infecciosos, as drogas administradas e a resistência às mesmas. Pacientes com extremos de idade e sistema imunológico debilitado são os mais vulneráveis. Dentre os agentes e as drogas administradas, destacam-se oxacilina contra Staphylococcos aureus, cefaloporinas contra Pseudomonas aeruginosa e antifúngicos contra Candida. A resistência às drogas reduz a eficiência do tratamento dos infectados. O controle na biossegurança e na administração dos antimicrobianos são essenciais para reduzir os índices de infecção hospitalar. Palavras-chave: Biossegurança. Staphylococcos aureus. Antibióticos. A BSTRACT Hospital infections have are acquired after admission and may related to hospital procedures. This study aimed to analyze the nosocomial infection, agents involved and the drugs administered, as well as resistance to them. Patients with extreme age and weakened immune system are more vulnerable. Among the main microorganisms concerned and drugs employed there oxacillin against Staphylococcos aureus, cefaloporins against Pseudomonas aeruginosa and systemic antifungal agents against Candida but most of them are resistant to the drugs which reduces the successful treatment. The bio-security control and in the administration of antibiotics, could reduce the infection rates. Keywords: Bio-security. Staphylococcos aureus. Antibiotics. VEREDAS FAVIP - Revista Eletrônica de Ciências - v. 3, n. 1 - janeiro a junho de 2010 Infecção Hospitalar: Principais Agentes e Drogas Administradas 1 HISTÓRICO DAS INFECÇÕES HOSPITALARES Desde o surgimento dos hospitais no século XIX, há relatos de infecções. Estas estão relacionadas intimamente com a incidência de doenças e pidêmicas, que acometiam as comunidades pobres e, também, às más condições de higiene e saneamento básico em que vivia a população (MOURA et al., 2008). Foi na Idade Média que se iniciaram as suspeitas de alguma coisa que pudesse transmitir doenças de um indivíduo para o outro. Francastorius, médico italiano de Verona, no seu livro De Contagione, descreve doenças epidêmicas e faz referências ao contágio das mesmas. Declara que as doenças surgiram devido a microrganismos que podiam ser transmitidos de pessoa a pessoa, segundo informações colhidas dos marinheiros que testemunhavam a propagação das doenças nas expedições, na era colombiana (FONTANA, 2006). Durante séculos, as pessoas que adoeciam eram isoladas em locais sombrios, úmidos, sem luz natural, sem cuidados higiênicos e dietéticos. A exemplo dessa realidade destacam-se os sanatórios para hansenianos, da Idade Média, que viriam a facilitar a difusão de doenças transmissíveis, podendo-se situar a origem das infecções hospitalares nesse período e local (ANDRADE; ANGERAMI, 1999). A situação de insalubridade dentro dos hospitais persistiu até metade do século XIX, quando esse cenário começou a se modificar com o estabelecimento da bacteriologia, por Pasteur. Além disso, Semmelweis, em 1847, tornou compulsória a lavagem das mãos com água clorada, para todos os médicos, estudantes de medicina e pessoal de enfermagem, reduzindo a mortalidade materna por febre puerperal de 12,2% para 2,4%, logo no primeiro mês de intervenção (ANDRADE; ANGERAMI, 1999). Muitos investimentos foram executados na busca por medidas de controle da contaminação microbiana, entre os quais, destaca-se Joseph Lister, em 1865, que, preocupado com a possibilidade de infecção nas suas cirurgias, utilizava um dispositivo para pulverizar ácido fênico no ar da sala cirúrgica (substância bastante irritante para o paciente e seus assistentes), passando, posteriormente, a investir na lavagem das mãos e desinfecção de instrumentais de campo cirúrgico (ANDRADE; ANGERAMI, 1999). Foi ainda no século XIX que Von Pe t t e e n ko f f e r a p o n t o u a e x i s t ê n c i a d a suscetibilidade individual e a influência do ambiente para o desenvolvimento das doenças. Dizia que, além da teoria Microbiana, havia outros fatores para a instalação de um processo infeccioso, ressaltando a interação de três destes, a saber: o agente, o hospedeiro e o meio ambiente (FONTANA, 2006). Somente no fim do século XIX que importantes contribuições foram dadas ao estudo das infecções hospitalares, sua epidemiologia e prevenção. Os conhecimentos se consolidaram, a VEREDAS FAVIP - Revista Eletrônica de Ciências - v. 3, n. 1 - janeiro a junho de 2010 34 partir de 1928, quando Alexander Fleming observou que o fungo Penicillium notatum, inibia o crescimento de algumas bactérias. Descobriu-se então, a Penicilina. Durante a segunda guerra mundial, o médico alemão, Gerhard Domagk, descobriu que as sulfonamidas eram eficazes contra infecções bacterianas. A partir de então, efetivou-se a expansão dos antimicrobianos em muitas gerações (FONTANA, 2006). Vide (Figura 1). Às portas do século XXI o reconhecimento, cada vez maior, de novos agentes infecciosos e o A B ressurgimento de infecções, que até pouco tempo estavam presumivelmente controladas, também caracterizam uma nova fase. Acresce-se a este problema o número cada vez maior de agentes infecciosos que adquiriram resistência a uma série de drogas, como conseqüência de um processo de seleção gerado pelo uso desenfreado e inadequado das respectivas drogas com ações cada vez maiores (ANDRADE; ANGERAMI,1999; PITTET et al., 2008). C Figura 1. A- Cirurgia realizada no começo do século XIX, na qual não havia nenhuma medida de higiene; B Equipamento utilizado por Joseph Lister, em 1865 para desinfectar o ambiente hospitalar; C- Placa de Petri contendo Penicillium sp. produtor de penicilina, inibindo o crescimento de Staphylococus (www.library.nhs.uk). 2 GRUPOS DE RISCO ÀS INFECÇÕES HOSPITALARES O Ministério da Saúde define infecção hospitalar como aquela adquirida após admissão do paciente e cuja manifestação ocorreu durante a internação ou após a alta, podendo ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares. Durante a internação, o paciente idoso tem maior 35 chance de desenvolver infecção hospitalar (PITTET et al., 2008). Estudos de ocorrência e risco de doenças infecciosas são importantes, pois são as causas freqüentes de hospitalização e morte. A faixa etária a partir de 60 anos, é a mais susceptível ao processo infeccioso, aumentando com isso os índices de mortalidade desses pacientes, quando comparado com indivíduos mais jovens. A infecção adquirida VEREDAS FAVIP - Revista Eletrônica de Ciências - v. 3, n. 1 - janeiro a junho de 2010 Infecção Hospitalar: Principais Agentes e Drogas Administradas em ambiente hospitalar assume grande importância nesse grupo etário devido à alta taxa de letalidade. O individuo idoso está mais susceptível a adquirir infecção hospitalar devido a alterações fisiológicas do envelhecimento, declínio da resposta imunológica e necessidade de realização de procedimentos invasivos (VILLAS-BOAS; RUIZ, 2004). Uma série de fatores proporciona o desenvolvimento das infecções nosocomiais em crianças, dentre elas podemos ressaltar: a lenta maturação do seu sistema imunológico, cujo desenvolvimento é menos acentuado quanto menor for a idade, tornando maior o risco de aquisição de doenças transmissíveis; o compartilhamento de objetos entre pacientes pediátricos; a desnutrição aguda; a presença de anomalias congênitas; o uso de medicamentos, particularmente de corticosteróides; e as doenças hemato-oncológicas (ANVISA, 2006). É sabido que, nos últimos anos, o avanço tecnológico tem permitido o tratamento de doenças consideradas incuráveis no passado. Por isso, pacientes mais idosos e os portadores de doenças cada vez mais graves são internados e, por vezes, submetidos à terapêutica clinica e/ou cirúrgica que agravam ou desencadeiam o processo de comprometimento imunológico tornando-os particularmente susceptíveis à infecção. O paciente, quando submetido a procedimentos invasivos e ao uso de antimicrobianos de amplo aspecto, vai alterando sua microbiota (colonização de orofaringe, da pele e trato digestivo) permanecendo colonizado por microrganismos resistentes e aos antimicrobianos administrados. Com isso, pacientes imunodeprimidos, independente da faixa etária, são considerados mais vulneráveis e mais susceptíveis às infecções nosocomiais quando comparados com pacientes com o sistema imunológico preservado (JACOBY et al., 2010). 3 PRINCIPAIS AGENTES INFECCIOSOS E RESISTÊNCIA ÀS DROGAS ADMINISTRADAS Dentre as diferentes classes de microrganismos como bactérias, fungos e vírus, as bactérias destacam-se como os mais freqüentes em infecções hospitalares, pois constituem a microbiota humana. Normalmente não trazem risco a indivíduos saudáveis, mas podem causar infecções em indivíduos com estado clínico comprometido sendo chamadas de bactérias oportunistas (ANVISA, 2004; MAKEDOU et al., 2005). Os patógenos implicados nas infecções hospitalares são transmitidos ao indivíduo tanto via endógena, ou seja, pela própria microbiota do paciente, quanto pela via exógena. A microbiota normal humana apresenta vários e possíveis agentes causadores de infecções como Streptococcus, Staphylococcus, Neisseria, Klebsiella, Lactobacillus e Escherichia coli, enquanto que a via exógena inclui diferentes microrganismos (ANVISA, 2004). D e n t r e a s b a c t é r i a s e n c o n t r a d a s, provocando infecções hospitalares, observou-se, VEREDAS FAVIP - Revista Eletrônica de Ciências - v. 3, n. 1 - janeiro a junho de 2010 36 com destaque, na última década, para Staphylococcus aureus que emergiram como importantes agentes causadores de infecção da corrente sangüínea (tabela 01). Estas infecções acometem pacientes em todas as faixas etárias, com maior freqüência nos extremos de idade. Entre as infecções hospitalares, as sepses por Staphylococcus aureus são responsáveis por elevada morbidade e mortalidade (MOREIRA, 1998; NUNES, 2000). A principal droga administrada para infecções por S. aureus é a oxacilina. A identificação de cepas resistentes à oxacilina tem sido freqüente MICRORGANISMOS Enterobacter spp. desde a introdução deste antibiótico no uso clínico (MELO et al., 2009). As primeiras cepas de Staphylococcus aureus resistente à oxacilina (SARO) foram descritas na década de 60, porém este microrganismo tornou-se importante causa de infecção hospitalar no início da década de 70, quando começaram a ser descritos os primeiros surtos. No Brasil, o SARO é responsável por 26,6% a 71% das cepas de Staphylococcus aureus isoladas em diversos hospitais do país (MOREIRA, 1998). FONTES DE INFECÇÃO Nutrição parenteral, fluidos de infusão intravenosa, frascos de heparina Serratia marcescens Balão intra-aórtico, transdutores, soluções intravenosas e anestésicas Klebsiella pneumoniae produtora de beta-lactamase de espectro estendido e klebsiella spp. Soluções contaminadas (heparina), transmissão cruzada em berçário, seleção pelo uso excessivode cefalosporinas Legionella pneumophila Contaminações de soluções anti-sépticas como PVPI e clorexidina, circuitos respiratórios, monitores de temperatura, colchões e demias equipamentos que mantenham contato direto com o paciente colonizado ou infectado Os pacientes e profissionais colonizados (principalmente nas narinas), transmissão ambiental pouco importante (mobiliários, água, aérea etc) Profissionais de saúde com infecção ou colonização em pele ou orofaringe (muito importante em unidades de queimados) Paciente com colonização intestinal, contaminação ambiental importante na transmissão de equipamentos (termômetro e esfignomanômetro etc) Sistemas de ar condicionado quente e de aquecimento de água (aquisição pão, via inalatória) Clostridium difficile Paciente com infecção/colonização, contaminação de superfícies Mycobacterium tubeculosis Profissionais de saúde com doença bacilifera e pacientes baciliferos internados sem cuidados adequados de isolamento ou precauções com aerossóis Mycobacterium chelonae Contaminação de equipamentos e água utilizada em circulação estracorpórea para cirurgias cardíacas; soluçoes de violeta genciana Pseudomonas aeruginosa Staphylococcus aureus resistente a oxacilina ou resistente a glicopeptídeo Streptococcus do grupo A Enterococcus resistente a glicopeptídeos Tabela 01 - Principais bactérias causadoras de infecção hospitalar e as fontes de infecção. Fonte: ANVISA, 2004. 37 VEREDAS FAVIP - Revista Eletrônica de Ciências - v. 3, n. 1 - janeiro a junho de 2010 Infecção Hospitalar: Principais Agentes e Drogas Administradas O segundo grupo de importância médica nas infecções hospitalares são os fungos, sendo a Candida albicans e o Aspergillus os patógenos mais freqüentes. Os fungos são responsáveis por aproximadamente 8% das infecções hospitalares (ANVISA, 2004). Espécies do gênero Candida têm sido os agentes mais freqüentemente isolados, correspondem acerca de 80% das infecções fúngicas de origem hospitalar e são a quarta causa de infecção da corrente sanguínea, conduzindo ao óbito em torno de 25 a 38% dos pacientes que desenvolvem candidemia. A capacidade da levedura em aderir, infectar e causar doença, em conjunto, é definido como potencial de virulência ou patogenicidade. Os fatores de vir ulência são deter minados g e n e t i c a m e n t e, p o r é m e x p r e s s o s p e l o s microrganismos quando submetidos a condições favoráveis (TAMURA et al., 2007; MIRANDA et al., 2009). Vários processos patológicos, fisiológicos ou traumáticos podem facilitar a colonização e posterior infecção do hospedeiro por Candida sp. O seu mecanismo de transmissão é essencialmente endógeno. Dentre estes, os mais comuns são imunossupressão por várias causas, neutropenia, desnutrição e quimioterapia antineoplásica. Outros facilitam a entrada do microrganismo no hospedeiro, como o uso prolongado de catéteres, queimaduras e cirurgias extensas (MALUCHE; SANTOS, 2008). A Candida spp. é um gênero naturalmente sensível a todas as drogas antifúngicas de uso sistêmico, mas casos de resistência adquirida a azólicos são conhecidos em pacientes que foram expostos prolongadamente a estes medicamentos (COLOMBO; GUIMARÃES, 2003). Dentre as viroses, o vírus da hepatite B e C, enteroviroses e viroses associadas com pneumonia hospitalar são comumente registrados (tabela 02). As viroses representam por volta de 5% das infecções (ANVISA, 2004). O risco de aquisição ocupacional das hepatites B e C está entre 6% a 30% e 3% a 10%, respectivamente. Vale ressaltar que, em relação à hepatite B, a vacina é segura e eficaz, e seu uso é obrigatório pelos profissionais de saúde. Quanto à Hepatite C, não existe vacina, e o uso de imunoglobulina não confere proteção, fato que fortalece a atenção das normas de biossegurança pelos profissionais, incluindo adequado uso dos EPI, quando não for possível eliminar ou controlar o risco na fonte, utiliza-se os equipamentos de proteção coletiva (SCHEIDT; ROSA; LIMA, 2006; FRANKA et al., 2009). VEREDAS FAVIP - Revista Eletrônica de Ciências - v. 3, n. 1 - janeiro a junho de 2010 38 MICRORGANISMOS Coronavírus (Síndrome Respiratória Aguda Grave – pneumonia asiática), vírus da influenzae e sincicial respiratório FONTES DE INFECÇÃO Vírus Transfusão de hemoderivados, equipamento contaminado (colonoscópios – hepatite pó vírus C); acidentes com materiais pérfuro-cortantes Profissionais de saúde e pacientes com infecção, transmissão através de secreções respiratórias e coronavírus, provavelmente também por via fecal-oral Enterovírus incluindo o vírus da hepatite A Alimentos ou água contaminados, porfissionais de saúde Varicela, sarampo e rubéola Profissionais de saúde ou pacientes como fonte primária Vírus da hepatite tipo B, CE vírus da imunodeficiência humana Tabela 02 - Principais vírus causadores de infecção nosocomial e as fontes de infecção. Fonte dos dados: ANVISA, 2004. Atualmente, no início do novo milênio, um número considerável de microrganismos desenvolveu resistência aos antimicrobianos convencionais, como também alguns são impenetráveis às novas drogas. A prevenção e o controle da problemática da multiresistência incluem fundamentalmente, ações educativas, o uso racional de antimicrobianos, a vigilância das cepas hospitalares e do perfil de sensibilidade, bem como, atentar aos procedimentos invasivos (ANDRADE; LEOPOLDO, 2006). 4 PRINCIPAIS SÍTIOS DE INFECÇÃO As Infecções podem ser agravadas através de veículos como mãos, secreção salivar, fluidos corpóreos, ar e materiais contaminados, como por exemplo, equipamentos e instrumentos utilizados em procedimentos médicos. Muitos destes procedimentos são invasivos, isto é, penetram as barreiras de proteção do corpo humano, de modo a 39 elevar o risco de infecção. As infecções do trato urinário (ITU) representam, em publicações internacionais e nacionais, a primeira causa das infecções hospitalares seguida pelas pneumonias, infecção da corrente sanguínea e pelas infecções de sítio cirúrgico. Geralmente as ITU's estão associadas à instalação de cateter por via uretral, ou seja, 80% a 90% dos casos estão associados a este procedimento. Vários estudos demonstram que o coletor de urina fechado diminui o risco de infecção. Mesmo com técnica asséptica na instalação do cateter urinário e o uso de sistema de drenagem fechado, 50% dos pacientes apresentam urina colonizada após 48 horas de cateterização (LAHSAEIZADEH; JAFARI; ASKARIAN, 2008). No Brasil, entre aproximadamente 5 a 15% dos pacientes hospitalizados e 25 a 35% dos pacientes admitidos em Unidades de Terapia Intensiva adquirem infecção hospitalar, sendo ela a quarta causa de mortalidade. Os índices de infecção VEREDAS FAVIP - Revista Eletrônica de Ciências - v. 3, n. 1 - janeiro a junho de 2010 Infecção Hospitalar: Principais Agentes e Drogas Administradas hospitalar nas UTIs tendem a ser maiores do que aqueles encontrados nos demais setores do hospital, devido à gravidade das patologias de base. Apesar de o número de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) representar, geralmente, cerca de 5 a 10% dos leitos de um hospital, estima-se que nesse setor ocorram aproximadamente 25% de todas as infecções hospitalares (LEISER; TOGNIN; BEDENDO, 2007). Estudos de surtos hospitalares já mostraram que profissionais de saúde e diversos instrumentos (circuitos de ventilação, termômetros, estetoscópios, etc) podem ser responsáveis pela manutenção da colonização/infecção – além da reconhecida implicação de dispositivos invasivos (caracteres venosos centrais, sonda urinária, caracteres arteriais, entre outros), no desenvolvimento de surtos, muitas vezes associadas à quebra de normas básicas de manuseio. Após a colonização, características individuais, já citadas anteriormente, determinarão a b evolução para infecção (ANVISA , 2004). 5 P R E V E N Ç Ã O DA S I N F E C Ç Õ E S HOSPITALARES No Brasil, apenas nas duas últimas décadas, a infecção hospitalar tem sido abordada de maneira mais efetiva e científica. Passos importantes foram dados nesse sentido, a partir da promulgação de várias leis e portarias. A primeira portaria ocorreu em 1976, por decreto do ministério da saúde n° 77.052: nenhuma instituição hospitalar pode funcionar no plano administrativo se não dispuser de meios de proteção capazes de evitar efeitos nocivos à saúde dos agentes, pacientes e c circunstantes (ANVISA , 2004). Em 1983, a portaria 196 determinou que todos os hospitais do país deveriam manter uma comissão de controle de infecção hospitalar (CCIH) independente da entidade mantenedora. No final da década de 80 ampliaram-se as discussões sobre o controle das infecções hospitalar e associações profissionais foram criadas e surgiram diversos encontros, congressos e cursos de treinamento em parte, patrocinados pelo Ministério da Saúde reunindo profissionais preocupados com esse b problema (ANVISA , 2004). Com a promulgação da lei federal N° 9431, de 6 de janeiro de 1997, os hospitais ficaram obrigados a constituírem um programa de Controle das Infecções Hospitalares, e para isto, foram orientados a criarem comissões. A responsabilidade administrativa - perante o Estado seria suportada pelo hospital, enquanto a responsabilidade civil perante as partes poderia ser cobrada do hospital ou diretamente dos profissionais responsabilizados pelo ato gerador, de acordo com a lei federal N° b 6.437, de 20 de agosto de 1977 (ANVISA , 2004). Apesar de muitos esforços, o Brasil ainda enfrenta uma realidade adversa daquilo que se pode julgar satisfatório: carência de recursos humanos e materiais nas instituições de saúde (principalmente nas públicas), ausência de CCIHS atuantes em grande parte dos hospitais, ou ainda, profissionais VEREDAS FAVIP - Revista Eletrônica de Ciências - v. 3, n. 1 - janeiro a junho de 2010 40 exercendo a função sem conhecimento adequado da atividade - o que resulta em elevadas taxas de infecção hospitalar, ocorrência de surtos não detectados em berçários e unidades de terapia intensiva, emergência de bactérias resistentes a diversos antibióticos e elevado risco ocupacional. Por um lado, torna-se necessário maior compromisso dos dirig entes tanto com administração dos hospitais, visando maior qualidade do atendimento ao paciente - quanto pelo cumprimento da legislação para a implantação de CCIHs, em todas as instituições, com profissionais capacitados (ALBUQUERQUE-COSTA et al., 2009). A fiscalização é responsabilidade dos órgãos estaduais - que devem avaliar as condições de exercício das profissões e ocupações técnicas e auxiliares diretamente relacionadas com a saúde b (ANVISA , 2004). 6 CONCLUSÃO Diante do que foi exposto, é possível concluir que as infecções hospitalares são mais freqüentes em pacientes imunodeprimidos, idosos, crianças e pacientes sujeitos a procedimentos invasivos. Estes podem adquirir infecção por vias variadas, tais como: por sua própria microbiota ou por um fator exógeno, sendo esse por p r o c e d i m e n t o s i n a d e q u a d o s, m a t e r i a i s contaminados, falta de higienização ou esterilização, e, pelos próprios profissionais que circulam nesses 41 ambientes. Vários microrganismos estão presentes nessas contaminações como bactérias (Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa), fungos (Candida spp.) e vírus (Hepatites B e C), nos quais juntamente com o uso indiscriminado de antimicrobianos, que causam resistência aumentando a problemática de combate às infecções hospitalares, tornando mais intensa a inclusão de medidas de segurança e conscientização dos profissionais da saúde tal como o investimento em palestras e reciclagem de todos os procedimentos no que se diz respeito às infecções nosocomiais. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE-COSTA, P.; TRAJMAN, A.; MELLO, F. Carvalho de Querioz; GOUDINHO, S.; SILVA, A. Monteiro Vieira; GARRET, D.; RUFFINO-NETTO, A.; KRITSKI, A. Lineu. Administrative measures for preventing Mycobacterium tuberculosis infection among healthcare workers in a teaching hospital in Rio de Janeiro, Brazil. Journal of Hospital Infection, 72(1), 57-64, 2009. ANDRADE, D.; ANGERAMI, E.L.S. Rev. 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