Aids e Mídia – construção da cidadania Marília de Almeida Este artigo analisa a abordagem feita pelo jornal “O Popular” sobre a Aids durante a década de 1980, início de 1990 e atualmente. O objetivo é entender a importância do jornalismo no entendimento que a sociedade faz da doença e na construção da cidadania dos soropositivos. Palavras-chave: Aids – cidadania – comunicação – informação – jornalismo Aids e Mídia – construção da cidadania RAMOS (2001) afirmou: “a comunicação é portadora de um novo direito social, o direito à comunicação”. E é ele que nos leva ao progresso em direção à liberdade e à democracia. O acesso à comunicação tornou-se, a partir do século XX, uma condição indispensável para a construção da cidadania, o elemento central para o desenvolvimento de uma democracia estável. Nos anos 80, a informação obre a expansão da nova e perigosa doença, a Aids, demonstrava o pânico da sociedade em relação a ela. O que era dito nos meios de comunicação sobre os portadores do vírus HIV possuía um caráter preconceituoso e não era tecnicamente explicativo. Para se ter uma idéia de como a questão foi tratada pela mídia impressa em Goiás, pesquisamos as reportagens publicadas pelo jornal “O Popular”1 entre os anos de 1983 (quando foi publicada a primeira notícia sobre a Aids) e 1991. Para melhor compreensão também pesquisamos as notícias publicadas sobre o assunto no jornal “O Popular” durante o ano de 2006. Por meio dessa análise temos o objetivo de identificar as lacunas e discursos discriminatórios existentes na abordagem que os meios de comunicação realizam sobre a Aids ao longo da história. O arquivo da Organização Jaime Câmara (OJC), dona do jornal, contém uma pasta intitulada “Aids” onde está reunido tudo o que foi publicado sobre o assunto. Não tivemos acesso a todas as edições e sim ao arquivo do Departamento de Pesquisa da OJC. O jornal 1 Sua primeira edição circulou pela primeira vez em 1938 e se tornou diária em 1944. 1 “O Popular” é considerado o carro-chefe da Organização Jaime Câmara e circula em todos os municípios goianos e em algumas cidades do Distrito Federal e Tocantins. Aids na mídia Em 1981, o jornal norte-americano The New York Times noticiava o crescente número de casos de pneumonia entre homens homossexuais dos Estados Unidos. Desde então, a imprensa tem papel importante na construção da idéia da Aids. Os meios de comunicação, ao mesmo tempo em que buscavam conhecer e obter informações sobre a misteriosa doença que assustava o mundo no início da década de 1980, também participavam da formação interpretativa dos leitores em relação a Aids. Informações e dados complexos vinham de hospitais e institutos de pesquisa e chegavam nas redações onde eram filtradas e traduzidas para que o leitor pudesse compreender o significado da doença em seu cotidiano. HANSEN (2004) afirma: “ No início as notícias pareciam ser exageradas na mídia, e talvez até o fossem, porque não se sabia nada ao certo sobre o que estava ocorrendo de tão dramático no mundo e o que viria a seguida”. NETO (1999) cita que no começo a mídia utilizou uma série de metáforas para tratar a moléstia. Por ter atingido inicialmente homossexuais, a Aids foi apelidada de mal dos homossexuais, praga ou peste rosa e câncer gay. Aquele que era contaminado pelo vírus HIV era denominado de aidético, termo que ainda pode ser encontrado em reportagens da década de 80, mas que já foi substituído por outros considerados mais adequados como soropositivos, portadores do HIV ou HIV positivo. BARATA2 analisou as reportagens sobre a Aids veiculadas pelo programa Fantástico (Rede Globo) entre os anos de 1983 e 1992. Em sua pesquisa, Germana dividiu o conteúdo transmitido pelo programa em três fases. Segundo ela, inicialmente a intenção era desvendar a doença até então misteriosa. No primeiro momento, pessoas conhecidas do grande público, como atores e cantores, começavam a procurar os meios de comunicação para admitir serem portadoras do vírus da Aids. 2 Pesquisa realizada pela bióloga Germana Barata da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) disponível em <http://www.usp.br> 2 Em um segundo momento, a doença se torna um tema de saúde pública. É quando se inicia o debate em relação aos métodos de transmissão, prevenção e possíveis tratamentos. No entanto, de acordo com a pesquisadora, nessa fase a Aids ainda é vista como uma doença de poucos, que atinge um determinado grupo de risco. Já num terceiro momento, o que atualmente nos encontramos, a doença é vista como parte do cotidiano e não atrai mais tanta atenção. De acordo com a pesquisa, somente nessa fase outros termos considerados mais adequados passaram a ser utilizados em detrimento do termo aidético. Germana Barata concluiu que as campanhas de prevenção feitas pelos meios de comunicação, não só por meio de propagandas, mas também a partir de reportagens não eram eficazes. O homossexual não era aconselhado a ter relações sexuais somente com o uso de preservativos, ele era orientado a não ser gay. Os usuários de drogas também não eram aconselhados a se drogarem somente com seringas descartáveis, e sim a não serem usuários de drogas. Segundo a pesquisadora, isso fazia resultava em campanhas de prevenção de tom moralista e distantes de seu público alvo. Como a mídia constrói a imagem da Aids Os meios de comunicação atuam como mediadores entre as fontes de informação e o leitor. Segundo SPINK e MEDRADO (2001) , a construção da imagem da doença se dá pela terminologia utilizada na escrita do texto, pelo uso de lugares-comuns, figuras de linguagem e pelo estilo gramatical empregado. Além disso, a escolha das fontes consultadas e de suas falas é essencial para a formação ou influência na opinião do leitor acerca do assunto. A existência de diversas fontes em uma reportagem contribui para uma representação mais real em relação à Aids. No entanto, antes de chegar ao leitor, a opinião ou informação é submetida a um processo de análise e escolha. Esse processo é necessário, mas nem sempre é devidamente utilizado. O jornalista precisa ser fiel à informação transmitida pela fonte, mas não deve inserir a fala de um entrevistado que contenha uma idéia errada. Isso é aconselhável desde que ele desminta a informação no mesmo texto. As falas das fontes consultadas, especialmente quando se tratam de especialistas, são grandes 3 construtoras de sentido e influem diretamente na interpretação da realidade por parte dos leitores. Na edição de 30 de abril de 1988, a reportagem “Alerta Geral” do Jornal “O Popular” contém a fala entre aspas do hematologista Edmo Pinheiro: “Temos que encontrar uma solução para controlar as relações homossexuais”. A afirmação, por ser de uma autoridade de saúde, pode tornar-se verdadeira para o leitor e, assim reforça a idéia de que a doença só atinge homossexuais. Neste caso, o jornalista se restringiu apenas a uma atividade declaratória. Ele deve subtrair opiniões ou informações dadas pelas fontes que poderão causar ao público mais confusão que esclarecimento. Ainda na mesma reportagem, é publicada a afirmação do imunologista norte-americano, Goedert, de que o único ato sexual seguro é a masturbação. Três notícias do ano de 1987, do mesmo jornal, anunciaram a prisão de soropositivos no Estado de Goiás. Na primeira matéria, do dia 20 de janeiro, um boliviano residente no Brasil foi preso por policiais da Delegacia de Pirenópolis, por estar sob suspeita de ser portador do vírus HIV. O delegado responsável pelo caso afirmou que a prisão havia sido feita para evitar que ele contaminasse outras pessoas. Em momento algum na notícia foi questionada a prisão do boliviano, ou seja, se era permitido prender uma pessoa por estar doente. “O delegado da cidade, Josué Alencar Amorim, esclareceu que a detenção se deu como forma de se tentar evitar o contato sexual do boliviano com outras pessoas e, conseqüentemente, impedir a disseminação da doença (...)”3. Na segunda notícia, datada de 26 de agosto, uma gestante portadora do vírus HIV foi presa em Minaçu. Porém, neste caso, foi inserida no texto a fala de um médico que se disse surpreso com a prisão da mulher, já que ela não havia cometido nenhum crime. O jornalista autor do texto foi profissional ao utilizar o infectologista Quimarques Santos, clínico do Hospital de Doenças Tropicais, como fonte para a matéria. As afirmações do médico desconstruíram preconceitos contidos na prisão da gestante. “A solução para seu 3 Departamento de Pesquisa da Organização Jaime Câmara, Jornal “O Popular”, 20 de janeiro de 1987. 4 problema não é a prisão, mas tem que ser global, pois faz parte de uma camada social que não tem amparo nem projeção social”4, destacou o médico. Em 9 de outubro do mesmo ano, o jornal publicou uma pequena notícia sobre a prisão de outro soropositivo – tratado por aidético no texto – que havia fugido do Hospital de Doenças Tropicais, na cidade de Goiânia. Ele foi denunciado pela própria mãe que pediu que ele fosse localizado para evitar a contaminação de outras pessoas. Segundo o relato da senhora, o soropositivo entrou em um estado de depressão após descobrir ser portador do vírus e por isso deveria ser preso. Nenhuma fonte médica foi consultada para comentar o caso e não se cogitou a hipótese de que o homem ao invés de preso, recebesse tratamento psicológico. “Completamente desesperado após ter descoberto ser portador da doença, Tião vem apresentando um comportamento ‘anormal, violento e até irresponsável’. Ele vem doando roupas e objetos pessoais a qualquer um, disse Pascoalina”5. Ainda em 1987, o jornal “O Popular” publicou em seu Caderno 2 a matéria “O Vírus da Transformação Social”. A partir de entrevistas realizadas na capital goiana e em São Paulo com soropositivos e outras pessoas não portadoras do vírus HIV, a reportagem pretendia mostrar a desinformação que persistia na sociedade. Embora o texto não contenha idéias discriminatórias, ele está incompleto porque não discute o que foi dito pelos entrevistados. Alguns depoimentos adquiriram tom moralista. Um entrevistado chegou a dizer que parou de ter relações sexuais por medo da Aids. Um jornalista aconselhou as pessoas a não transarem até que fosse descoberta uma vacina ou tratamento eficiente. Um outro homem afirmou ter medo de ser contaminado em banheiros públicos ou assentos de ônibus. Seguindo o mesmo raciocínio, outro entrevistado casado, afirmou: “acho que se for para a gente pegar alguma coisa, não vai ser a camisinha que vai evitar”6. Esta fala, em especial, 4 _______________________________________________________________ 26 de agosto de 1987. Departamento de Pesquisa da Organização Jaime Câmara, Jornal “O Popular”, 9 de outubro de 1987. 6 _______________________________________________________________ 21 de agosto de 1987. 5 5 deveria ser acompanhada de uma explicação por parte de uma fonte médica ou científica, pois é contrária a tudo o que se tentava ensinar sobre o uso de preservativos em campanhas de prevenção. Ainda no jornal “O Popular” em uma pequena notícia, do ano de 1991, o jornalista finaliza seu texto afirmando que mesmo com o uso da camisinha, as relações sexuais devem ser feitas somente com “pessoas conhecidas”. E, além disso, afirma que o “homossexualismo é uma das principais fontes de transmissão da Aids”7. Afirmações como esta podem ser até mais perigosas do que as discriminações explícitas, pois são absorvidas pelo leitor sem que ele perceba. Desestimular a prática sexual não é uma campanha de prevenção eficaz, pois já se sabe que as pessoas não vão parar de manter relações sexuais e raramente vão diminuir seus números de parceiros. Além disso, alegar que os homossexuais são as principais fontes de transmissão só reforça um preconceito que já se tentava quebrar naquela época. Como a Aids se torna notícia nos meios impressos A relação entre a Aids e os meios de comunicação é constantemente discutida pela comunidade acadêmica e por organizações civis. Vários pesquisadores dedicaram livros e teses de pós-graduação ao tema. HERZLICH e PIERRET (1988) estudaram a abordagem dada à Aids por seis jornais franceses entre os anos de 1982 e 1986. Segundo análise dos pesquisadores, a imprensa foi responsável para que a doença se tornasse um tema de discussão pública e não somente de interesse da comunidade médica e dos grupos de risco. No Brasil, o tema é estudado por pesquisadores da área de saúde e também por vários outros setores, inclusive o da comunicação. NETO (1997) afirma que a Aids é uma doença da atualidade mediática. Ou seja, a relação entre ambas é indissociável: enquanto a mídia divulga a Aids, esta “alimenta jornalisticamente” a primeira. Ainda segundo o pesquisador, a Aids deve ser abordada como uma questão pública – já que se tornou uma pandemia – e não somente como um tema médico ou científico destinado a um número limitado de pessoas. A Aids é um tema passível de ser inserido em várias editorias de um mesmo jornal, dependendo do foco dado à reportagem. 7 _______________________________________________________________ 15 de fevereiro de 1991. 6 Embora seja cobrada a publicação mais freqüente de reportagens sobre a Aids, ela nem sempre possuiu caráter noticioso. O domínio da prática jornalística, portanto, é essencial para que se criem novas ênfases ao tratar um tema que há mais de vinte anos está presente nos meios de comunicação. A publicação de uma determinada notícia na mídia é resultado de uma série de fatores – leia-se favores – que atuam na estrutura administrativa da empresa e são interpretados pelos leitores como a linha editorial do veículo. Logo, muitas vezes esses meios podem alegar que uma notícia não foi publicada devido à sua linha editorial e não porque contraria uma extensa rede de relações que o sustentam. Já que a empresa jornalística precisa seguir as leis do mercado para agradar leitores e anunciantes, a notícia se torna parte disso e, portanto, uma mercadoria. No contexto abordado, a prevenção à Aids é um produto que deve ser vendido pelos meios de comunicação. Atualmente existem muitos fatores que contribuem para que mais reportagens sobre a Aids sejam veiculadas nos meios de comunicação. Como exemplo temos a pluralidade de fontes a serem consultadas, as constantes descobertas científicas e a diversidade de denúncias de discriminação e também as dificuldades sofridas pelos portadores do vírus HIV, principalmente na distribuição de medicamentos. O papel das instituições especializadas Desde os primeiros casos de Aids no mundo, organizações não governamentais e também órgãos do governo trabalham na orientação dos jornalistas em relação a doença. No início, atuavam principalmente na área de denúncia de maus tratos e orientavam sobre quais os termos mais adequados para se falar da doença. Hoje, ONGs já formaram núcleos de comunicação que têm o objetivo de repassar informações sobre a Aids para os meios de comunicação e também pressioná-los para que publiquem reportagens educativas sobre o tema. Assim, esses órgãos têm a garantia de que o jornal recebeu a informação correta e a expectativa de que ele vai utilizá-la da forma menos discriminatória possível. Um bom exemplo dessa atuação na internet é a Fundação Osvaldo Cruz, que a partir de seu site, de uma revista mensal, a Radis, e do Departamento de Comunicação e Saúde do 7 Centro de Formação Científica e Tecnológica difunde descobertas e pesquisas sobre o tema para a imprensa em geral. Fica a pergunta: os meios de comunicação estão conseguindo aproveitar as informações recebidas por esses órgãos? De acordo com o monitoramento da Agência Nacional de Direitos da Infância (Andi), a Aids e as doenças sexualmente transmissíveis apareceram 175 vezes em cadernos e revistas especializadas para jovens durante o ano 2000. Em 2001, o número caiu para 133 e a pauta estava em 11º lugar no ranking dos temas abordados em publicações do segmento. Notícias de “O Popular” A matéria do jornal “O Popular”, “A Aids quebra barreiras de grupos”, de 1991, tratou sobre a contaminação causada pela falta de informação e contou com a entrevista do médico infectologista do Hospital de Doenças Tropicais de Goiânia, Luiz Carlos Silva Souza, para desmentir mitos criados pela sociedade sobre as formas de contágio. Também utilizou como fonte uma portadora do vírus HIV e o Grupo Pela Valorização, Integração, e Dignidade do Doente de Aids (Pela Vidda) para explicar sobre a parte social da doença. Como exemplo de boa reportagem temos a matéria publicada em 6 de janeiro de 1988, um período em que a Aids representava um grande mistério para a osciedade, que incentivava a doação de sangue e explicava que todo o material utilizado na coleta era esterilizado e portanto, a contaminação por esse processo era praticamente nula. É interessante notar que no mesmo ano em que publicou duas notícias sobre a prisão de soropositivos sem qualquer oposição por parte do jornalista, o jornal “O Popular” também entrevistou o cientista político e portador do HIV, Herbert de Souza, Betinho. Além da entrevista, a reportagem ainda contém um box com respostas claras e didáticas aos principais questionamentos da sociedade: é possível contrair Aids por um aperto de mão? Em piscinas? Motéis? Vacinas? A reportagem foi o melhor exemplo de jornalismo responsável encontrado na pesquisa feita nos arquivos do jornal, já que a fonte além de ser um conhecido cientista político, era um soropositivo ativista da causa, capaz de responder dúvidas e que possuía credibilidade entre a sociedade. Em 2006, foram publicadas cinco reportagens sobre a Aids pelo jornal “O Popular”. Uma das matérias de grande relevância é “Aids – Taxa de Mortalidade por casos 8 de aids cai em Goiás”8. A reportagem trata sobre o aumento de esperança e expectativa de vida dos soropositivos devido ao avanço das terapias anti-retrovirais e da distribuição gratuita de medicamentos pelo governo. A matéria fala também sobre a vida de um portador do vírus HIV, que atualmente, já pode estudar, trabalhar e se relacionar normalmente desde que saiba se cuidar. Também utiliza como fontes duas mulheres soropositivas que contam as dificuldades que enfrentaram quando se descobriram portadoras do vírus e como vivem atualmente. “A administradora de empresas Fernanda (o nome da paciente foi trocado para resguardar sua identidade), de 34 anos, é um exemplo desse perfil. Ela convive com o vírus HIV há 11 anos e, após o susto inicial por saber que havia se contaminado, veio a decisão: ‘Eu resolvi que iria viver e que viveria bem’, frisa. Nesse tempo, Fernanda jamais adoeceu. Aderiu ao tratamento e usa os medicamentos religiosamente. Com a saúde em dia, administra uma empresa e comanda quase 30 funcionários.” Como nos encontramos em uma fase em que as formas de contaminação e prevenção são consideravelmente mais conhecidas, quando a Aids não é mais o mistério que era há cerca de 20 anos, não foi possível encontrar um grande número de matérias que tivessem essa ênfase social. No momento é mais fácil encontrar notícias com abordagem científica e alguma contextualização, já que a novidade não é a Aids em si, mas as descobertas feitas em relação a ela. Como exemplo de reportagem com abordagem científica no jornal “O Popular” temos também a do dia 22 de novembro de 2006, intitulada “Saúde – Cai transmissão de Aids de mães para filhos”. Ela cita uma pesquisa do Ministério da Saúde sobre a transmissão vertical do vírus e o crescimento de casos entre a população feminina em grande parte devido à dificuldade de acesso aos métodos anticoncepcionais. Nesta reportagem aparece o caso de uma portadora do HIV que deu luz a trigêmeos dias antes da reportagem. 8 Departamento de Pesquisa da Organização Jaime Câmara, Jornal “O Popular”, 20 de janeiro de 2006. 9 “Raquel teve diagnóstico de HIV em 2002 e, de lá para cá, mesmo tendo sido orientada sobre os riscos da transmissão vertical e do perigo da reinfecção (troca de vírus entre portadores na relação sexual), engravidou duas vezes. E o que é pior, com intervalo de menos de seis meses do parto para a segunda gestação. O companheiro, Paulo, 28 anos, pai dos trigêmeos, admite que foi descuido.”9 Duas outras matérias também dão ênfase a pesquisas sobre a Aids. “Baixa adesão a tratamento ameaça controle da Aids”10 revela que 40% dos 2,5 mil pacientes portadores do HIV em tratamento no Hospital de Doenças Tropicais de Goiânia não realizam o tratamento como deveriam. A matéria ainda explica como a situação financeira do portador do vírus HIV pode influenciar no tratamento. No dia 2 de dezembro de 2006, o jornal “O Popular” publicou a matéria “Aids atinge mais jovens e pobres” que aborda resultados da pesquisa realizada por alunas de Enfermagem da Universidade Católica de Goiás (UCG). O estudo definiu o perfil dos pacientes portadores do vírus HIV, residentes em Goiânia e que fazem tratamento no Serviço de Atendimento Especializado (SAE) do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás. Os pacientes são, em sua maioria, “jovens, brancos, pobres, heterossexuais e com baixo nível de renda e de escolaridade”11. Conclusão A Aids não pode deixar de ser noticia, já que as pessoas não pararam de morrer em decorrência dela. No entanto, nos parece não ser possível encontrar uma fórmula ou receita para aumentar o número de reportagens que utilizem a doença como tema. Ao jornalista cabe experimentar, buscar novas abordagens e tentar encontrar a melhor forma de atingir o leitor, especialmente o jovem. Agindo assim ele coloca a informação a serviço do cidadão. 9 Departamento de Pesquisa da Organização Jaime Câmara, Jornal “O Popular”, 22 de novembro de 2006. ______________________________________________________________ 1 de dezembro de 2006. 11 Departamento de Pesquisa da Organização Jaime Câmara, Jornal “O Popular”, 2 de dezembro de 2006. 10 10 Embora até o ano de 1991 pudéssemos encontrar termos ou idéias discriminatórias nas reportagens do O Popular sobre o assunto, pudemos também encontrar outras que serviram como exemplo da boa atuação do jornalismo na difusão da prevenção, como a entrevista feita com o cientista político e soropositivo, Betinho. A partir da pesquisa, constatamos que a abordagem utilizada pelo “O Popular” ao longo dos 24 anos desde a primeira reportagem publicada pelo jornal se diferenciou. Inicialmente os temas principais eram a descoberta de novos casos entre os que não eram considerados parte do grupo de risco”, o medo da população ou casos de polícia. Hoje, a doença já deixou de ser um mistério para grande parcela da população e por isso as reportagens têm caráter científico, abordando descobertas e pesquisas médicas. Como foi constatado em pesquisa no jornal “O Popular” durante o ano de 2006, os soropositivos se tornaram fontes mais constantes e muitos deles até preferiram que seus nomes verdadeiros fossem utilizados nas matérias. De acordo com estatísticas do professor Ricardo Veronesi da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) publicada na reportagem “Especialista antevê futuro negro sobre a Aids”, em 1990 existiam de 1 milhão a 1 milhão e meio de pessoas infectadas pelo vírus da Aids. No ano de 2006 o número estimado há dezesseis anos ainda não havia sido alcançado. Segundo dados do Ministério da Saúde, aproximadamente 600 mil pessoas viviam com Aids no país. Embora não tenha uma das maiores taxas de contágio da América Latina, o Brasil concentra a maior população de infectados pelo vírus HIV. Refências Departamento de Pesquisa da Organização Jaime Câmara, Jornal “O Popular” HERZLICH, C. & PIERRET, J, 1992. Uma doença no espaço público: A AIDS em seis jornais franceses HANSEN, João Henrique. Como entender a saúde na comunicação? Ed. Paulus, 2004. 11 NETO, Antônio Fausto. Comunicação e Mídia Impressa: Estudos sobre a Aids. Ed. Hacker Editores, 1999. NETO, Antônio Fausto. Aids dos Media: Maneiras de Viver... Maneiras de Morrer. Rastros Revista Virtual, 1999. Disponível em: <http://www.ielusc.br/rastros> SPINK, Mary Jane; MEDRADO, Benedito; MENEGON Vera; LYRA Jorge; LIMA, Helena. The Making of Aids news. Disponível em: <http://www.scielo.br> Sites http://www.agenciaaids.com.br http://www.fiocruz.br http://www.arscientia.com.br http://www.usp.br 12