O ciclo cardíaco normal Reinaldo Mano O cíclo cardíaco é estudado de formas diferentes nas diversas fontes. A forma que é colocada no site é a ao meu ver de mais fácil compreensão e de memorização. Três eventos interdependentes, mas não simultâneos, possibilitam o ciclo cardíaco: a despolarização celular; a contração miocárdica, que constituirá o ciclo fisiológico; e o movimento cinético do sangue e das valvas cardíacas que compõe o ciclo cardíaco propriamente dito. Apenas este último é o que determina o que estudamos como ciclo cardíaco. Assim devemos compreender que os eventos contráteis, são precedidos dos eventos de excitação elétrica e, por sua vez, os eventos hemodinâmicos sucedem os eventos contrateis. Só assim entenderemos os conceitos de sístole e diástole descritos abaixo. Para fins didáticos iniciamos o estudo no momento final da diástole ventricular, a sístole atrial. A ativação elétrica do coração A contração do músculo cardíaco depende diretamente da despolarização elétrica das células miocárdicas. É nesse momento que ocorre a entrada de cálcio no miócito que induzirá em última análise a sístole mecânica. O estímulo elétrico se origina nas células marca-passo do nó sino-atrial. A despolarização elétrica caminha pelo músculo atrial e chega ao nó atrioventricular, onde sofre um retardo fisiológico. Este retardo é que vai originar a contração seqüencial do átrio e ventrículo de forma harmônica. Teoricamente os átrios e ventrículos são isolados eletricamente, possuindo como ligação normal apenas o nó AV. Falhas nesse isolamento podem ocorrer através da existência de bandas musculares que atravessam o anel fibroso AV, formando as chamadas vias anômalas, responsáveis pela Síndrome de Wolf Parkinson White e por certas taquiarritmias. O estímulo elétrico se propaga aos ventrículos através do feixe de His e seus ramos, distribuindo-se por todo o miocárdio ventricular através das fibras de purkinje (veja anatomia do sistema de condução). A despolarização do sistema de condução obviamente antecede a contração mecânica. Assim vale assinalar a localização dos elementos eletrocardiográficos durante o ciclo cardíaco: 1- A onda P se inscreve cerca de 40 ms antes do pico da onda P da curva de pressão atrial. 2- O QRS se inscreve no início da fase de contração isovolumétrica, linha 1 do gráfico 1). 3- O pico da onda T (fase 3 do potencial de ação) ocorre ainda durante fase de sístole cardíaca, coincidindo com o pico de pressão ventricular. 4- A diástole coincidirá com a fase 4 do potencial de ação (linha isoeletrica entre T e a próxima onda P). A contração do miocárdio e seus efeitos hemodinâmicos Figura 1 - Curvas de pressão atrial, ventricular e arterial durante o ciclo cardíaco A contração isovolumétrica Após a sístole atrial os ventrículos estão em sua capacidade máxima de volume e com sua maior pressão diastólica (pressão diastólica final ou PD2). As valvas aórtica e pulmonar encontram-se fechadas, pois as pressões diastólicas arteriais são bem maiores ainda que a pressão diastólica dos ventrículos. A ativação elétrica chega ao ventrículo e começa a fase de contração muscular. A pressão intracavitária sobe rapidamente e as valvas AV se fecham completamente. Ocorre aqui a primeira bulha (linha 1 da figura 1). Como as pressões atriais se assemelham muito e o ventrículo esquerdo, por ser maior, produz mais rapidamente maior pressão, a valva mitral se fecha primeiro que a tricúspide. Por um momento extremamente curto as cavidades ventriculares se isolam completamente, enquanto a contração do músculo ventricular se propaga. Em um certo ponto a pressão intracavitária ultrapassa a pressão diastólica das grandes artérias e as valvas semilunares se abrem. A fase de ejeção Com a abertura das valvas semilunares ocorre a expulsão do volume ventricular para as grandes artérias (fase ascendente da curava de pressão, após a linha 2 da figura 1). A contração do músculo cardíaco chega ao seu máximo no ápice da curva de pressão ventricular, que depois começa a se reduzir. A taxa da ejeção ventricular não depende apenas da força de contração do músculo cardíaco e do gradiente de pressão formado a nível das valvas, mas também das propriedades elasticas dos grandes vasos e da árvore arterial. O relaxamento e as fases de enchimento ventricular Se pensarmos com atenção devemos entender que com o fim da contração muscular e o início da diástole fisiológica, na verdade ainda estamos no período da sístole cardíaca. A contração começa a se extinguir, com cada vez mais miofibrilas em estado de relaxamento, a partir do ápice da onda de pressão ventricular. A pressão se reduz (curva descendente da pressão ventricular da figura1 ) demorando ainda um certo período de tempo onda a ejeção ainda ocorre mas numa fase reduzida, mesmo com o músculo cardíaco já tendo iniciado seu relaxamento. Apesar do fluxo sangüíneo dos ventrículos para os grandes vasos diminuir muito, o fluxo sanguíneo na arvore arterial se mantém devido as propriedades elásticas das paredes dos grandes vasos (efeito Windkessel). Em um determina do ponto a pressão arterial supera a ventricular, fechando as valvas aórtica e pulmonar. A diástole cardíaca começa quando estas valvas se fecham. Nesse instante ocorre o entalhe dicrótico da curva de pressão arterial. O relaxamento isovolumétrico O músculo cardíaco já com a fase de relaxamento iniciada gera uma queda repentina da pressão intracavitária. Em um dado momento a pressão arterial supera a pressão ventricular e as valvas se fecham, primeiro a aórtica por possuir maior pressão e em seguida a pulmonar. Aqui ocorre a segunda bulha (linha 3 - fig1). Durante alguns instantes a pressão ventricular permanece maior que a atrial e ambas as vias de entrada e saída permanecem fechadas, apesar do relaxamento ativo das fibras miocárdicas. A diástole a) A fase de enchimento rápido Quando a pressão ventricular por fim se reduz abaixo da pressão atrial, que nesse momento é máxima (ápice da onda v da curva de pressão atrial - linha 4 - fig1) as valvas AV se abrem deixando passar um grande fluxo rapidamente em direção ao ventrículo. 70% do enchimento ventricular ocorre nessa fase. b) Fase de enchimento lento Também chamado de diastase. Com o enchimento do ventrículo e o fim da fase ativa do relaxamento do músculo cardíaco, ocorre uma desaceleração importante do fluxo. A valvas AV tendem a se fechar passivamente. No momento da desaceleração do fluxo rápido para o fluxo lento é que ocorre o 3º ruído cardíaco. O fluxo do átrio para o ventrículo é bastante reduzido, chegando a quase parar. c) Sístole atrial Nova contração atrial ocorre, finalizando o ciclo. As valvas AV se reabrem, momento em que ocorre a onda A da valva mitral ao ECO unidimensional e o 4º ruído cardíaco. A sístole atrial pode representar até 20% do volume diastólico final do ventrículo, sendo de grande importância para a manutenção do débito cardíaco nos pacientes que possuam algum tipo de restrição funcional do VE. Texto Provisório: Quando uma valva é estenotica ou Antes de tentar decifrar a causa básica de danificada, o fluxo turbulento anormal de um sopro, é importante primeiro entender sangue produz um sopro que pode ser quais são os sons do coração normal e ouvido durante os tempos de silêncio quais variações normais destes sons podem normais da sístole ou diástole. Este sopro acontecer. Parte-se do ponto que você já pode não ser audível sobre todas as áreas entenda a anatomia do coração e tenha lido do tórax, e é importante primeiramente um livro-texto básico de exame físico que notar onde é ouvido melhor e para onde descreva os métodos padrões de ausculta. irradia. Logo, você deveria tentar discernir Os mais óbvios dos sons cardíacos são a 1ª se o sopro acontece durante a sístole ou e a 2ª bulha, que distinguem a sístole da diástole cronometrando-o contra a primeira diástole. O som cardíaco colocado ao fundo e segunda bulhas. Então, escute na página de introdução deste site é um cuidadosamente para dizer se o sopro ritmo sinusal comum, com uma 1a. bulha preenche completamente aquela fase do aguda e 2a. bulha e nenhum outro som ciclo (i.e., holosistolica), ou se tem início significativo. A 1a. bulha é o som que discreto e pontos finais. Sopros marca aproximadamente o início da sístole, regurgitantes, como na insuficiência de e é criado quando o aumento da pressão valva mitral, tendem a preencher a fase intraventricular durante a contração excede inteira, enquanto sopros de ejeção, como na a pressão no interior do átrio, causando um estenose aórtica, normalmente têm início fechamento súbito do tricúspide e da notável e pontos finais dentro daquela fase. mitral, ou valvas átrio-ventriculares. O A qualidade e forma do sopro são então ventrículo continua a contrair durante a notáveis. Descrições comuns incluem sístole, forçando o sangue através das estrondos,sopros, maquinaria, áspero, válvulas semilunares ou das valvas aórticas severo, ou musical. A intensidade do sopro e pulmonares. Ao fim da sístole, os é ,a seguir, classificada de acordo com a ventrículos começam a relaxar, as pressões balança de Levine : no interior do coração se torna menor do que nas artérias aorta e pulmonar, e um I -Muito Baixa intensidade, difícil ouvir até pequeno fluxo de sangue que volta levam mesmo por ouvintes especialistas as válvulas semilunares a se fecharem, II - Baixa intensidade, mas normalmente originando a 2a. bulha. audível por todos os ouvintes Embora a 1a. e a 2a. bulha sejam III - intensidade Média, fácil ouvir até consideradas sons distintos, você notará mesmo por ouvintes sem experiência, mas que cada uma delas são formadas pelo sem uma sensação palpável fechamento quase instantâneo de 2 valvas IV - intensidade Média com uma sensação separadas. Entretanto, vale a pena lembrar palpável a real ordem dos fechamentos, porque em V - intensidade Alta com uma sensação certas condições podem ocorrer divisão palpável. Audível até mesmo com o desses sons no componente valvar estetoscópio colocado no tórax com a separado. Durante a 1a. bulha, o extremidade do diafragma fechamento da valva mitral sensivelmente VI - intensidade mais Alta com uma precede o fechamento da valva tricúspede, sensação palpável. Audível até mesmo com enquanto na 2a. bulha, a valva aórtica fecha o estetoscópio elevado sobre o tórax. apenas antes da valva pulmonar. Melhor do Finalmente, é importante decidir se este que memorizar esta seqüência se você sopro é clinicamente significante ou não. lembrar que a pressão no ventrículo esquerdo durante a sístole é muito maior que no direito, você poderá prever que a valva mitral se fecha antes da tricúspide na 1a. bulha. Da mesma forma, devido à pressão no início da diástole na aorta ser muito maior do que na artéria pulmonar, a valva aórtica se fecha primeiro na 2a. bulha. Saber a ordem do fechamento das valvas torna compreensível às diferentes razões para separar os sons cardíacos mais facilmente. Ao escutar o coração de um paciente, a cadência da batida normalmente distinguirá a primeira da segunda bulha. Devido ao fato de a diástole levar ,aproximadamente, duas vezes o tempo que sístole, há uma pausa mais longa entre a segunda e a primeira bulhas que entre a primeira e a segunda. Porém, altas frequências cardíacas podem encurtar a diástole ao ponto no qual é difícil a distinção entre a primira e a segunda bulhas. Por esta razão, é importante sempre palpar o PMI ou o pulso carotídeo ou radial ao auscultar. O som de coração que você ouve quando sente primeiro que o pulso é a primeira bulha, e quando o pulso desaparece ,tratase da segunda bulha. Da mesma maneira que um sopro pode ser causado por um fluxo normal através de uma valva estenótica, também pode ser criado através de alto fluxo por uma valva normal. Gravidez é um estado de altovolume comum onde este sopro de fluxo fisiológico é ouvido freqüentemente. Anemia e tiritoxicose podem causar situações de alto-fluxo onde o sopro não é propriamente patológico, mas indica um processo de doença subjacente. Crianças também freqüentemente têm sopros inocentes que não são devido a anormalidades estruturais. Como um médico pode determinar se um sopro é significante? A coisa mais importante a considerar é a história clínica. Em uma população de adultos jovens não referidos, a prevalência de sopros sistólicos varia de 5% a 52%, sendo que 86% a 100% destes pacientes possuem ecocardiogramas normais. Questões importantes incluiriam a presença de sintomas como síncope de esforço, dor torácica, palpitações, brevidade de respiração, ou dispnéia paroxística noturna. Em termos do exame, não há jeito de considerar ou não um sopro como sendo fisiológico, mas em geral, sopros fisiológicos tendem a serem localizados entre o ápice e borda esternal inferior esquerda, tendo irradiação mínima, ocorrendo precocemente durante a fase meso-sistolica, tenha uma fase crescentedecrescente, e com uma qualidade vibratória. Eles normalmente mudarão intensidade com posição da manobra, tornando-se mais baixo enquanto em posição ereta e mais baixo quand em posição"agachado". Uma manobra de Valsalva diminuirá a intensidade do sopro porque o aumento da pressão de intratorácica diminuirá o retorno venoso ,o qual,por sua vez, diminuirá o fluxo sanguíneo pelo coração e a turbulência. Adicionalmente, eles não serão correlacionados à achados audiologicos adicionais, como terceira ou quarta bulha. Exemplos de algumas variações comuns de sons cardíacos normais sem uma patologia estrutural demarcada podem ser encontrados nos links no menu à esquerda.