as contribuições da educomunicação na formação do

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AS CONTRIBUIÇÕES DA EDUCOMUNICAÇÃO NA FORMAÇÃO DO
INDIVÍDUO COLETIVO
Mara Dutra Ramos Rios1 - UFU
Diva Souza Silva2 - UFU
Resumo
Este artigo trata da problemática que envolve o uso das novas tecnologias na educação tendo
com foco principal a formação do aluno, enquanto indivíduo coletivo. A importância deste
estudo reside na urgência em se discutir de forma mais aberta e analítica os paradigmas
impostos pelo sistema escolar brasileiro. Devido a esse fato, procurou-se desenvolver uma
pesquisa com objetivo de trazer a luz os conceitos da educomunicação a partir da concepção de
ecossistema comunicativo no âmbito escolar e apresentar as contribuições desse processo na
formação do indivíduo coletivo. Realizou-se uma pesquisa documental de abordagem
qualitativa no primeiro semestre de 2015, utilizou-se no corpo literário as ideias e proposições
dos pesquisadores Paulo Freire, Mário Kaplún, Martín-Barbero, Ismar Soares, Adílson Citelli,
entre outros. E apresentou-se as contribuições da educomunicação, através da análise das
narrativas em documentários midiáticos dos atores envolvidos nos projetos: cala boca já morreu
e viração. Diante dos resultados obtidos na pesquisa conclui-se que muitas são as contribuições
da educomunicação para a formação do aluno, enquanto indivíduo coletivo. Destarte, é
necessário que gestores e docentes questionem sua prática, e percebam os meios de
comunicação também como produtos do trabalho social e utilizem o diálogo em uma
perspectiva participativa e colaborativa com vistas a transformar a educação brasileira.
Palavras-chave: Educomunicação. Ecossistema comunicativo. Indivíduo coletivo.
Introdução
Nas últimas décadas as escolas, as universidades e muitas outras instituições públicas e
privadas de âmbito nacional e internacional, estão experimentando mudanças profundas nas
formas de ensinar, aprender, comunicar, relacionar e até mesmo comercializar produtos e
1
RIOS, Mara Dutra Ramos. Professora Pesquisadora e Supervisora nos cursos de formação do CEaD/UFU,
Mestranda em Tecnologia, Comunicação e Educação na Faculdade de Educação da Universidade Federal de
Uberlândia, Pós-graduada em Marketing e Graduada em Administração pelo Centro Universitário do Triângulo.
e-mail: [email protected].
2
SILVA, Diva Souza. Professora Doutora nos cursos de graduação e pós-graduação da Faculdade de Educação
da Universidade Federal de Uberlândia. email: [email protected]
serviços. Uma boa parte dessa transformação se deve ao avanço e disseminação das tecnologias
digitais de informação e comunicação que se encontram arraigadas no cerne da sociedade.
Diante deste contexto contemporâneo das mídias e entendendo a importância dos meios
de comunicação para a educação brasileira em 1996, a Lei Federal n. 9394 – que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional (LDB) introduz a ideia de que “a educação não se limita
somente a escola [...] é um campo amplo e encontra-se em processo na família, nas relações
sociais, no trabalho, na sociedade, na cultura e nos meios de comunicação inseridos nesses
ambientes.” (LIMA, 2011, p. 54).
Nessa perspectiva a educomunicação se apresenta como alternativa para desenvolver a
educação em um país que apresenta importantes déficits de aprendizagem e possui graves
problemas sociais como o Brasil. Através da educomunicação escolas e professores têm a
oportunidade de explorar recursos tecnológicos e midiáticos com vistas a promover um
aprendizado ativo e desenvolver o aluno enquanto indivíduo coletivo, com papel participativo
e interventivo na sociedade.
A educomunicação presente no ecossistema comunicativo das escolas propicia a
formação de novos indivíduos comprometidos com a vida, com a justiça, com a solidariedade,
com a liberdade e com a construção de um novo cenário. Possibilitando a esses indivíduos ao
qual denominamos de alunos já que se definiu por explorar apenas o contexto escolar
comunicarem ao mundo o que pensam e sentem sobre temas de seu interesse e da comunidade.
Entretanto, trabalhar com mídias impressas ou digitais são um grande desafio para
escolas, professores e até mesmo para os alunos. Essa dificuldade consiste no fato de que nem
todos possuem o domínio das ferramentas digitais e a mesma condição social e, portanto, acesso
aos recursos tecnológicos necessários. Diante dessa problemática, surgem alguns
questionamentos a serem analisados: Como utilizar as mídias nas práticas educomunicativas no
sistema escolar? Quais recursos midiáticos podem ser utilizados? Quais práticas têm
apresentado melhores resultados?
A priori, antes de adentrar nestes questionamentos é necessário pensar na finalidade de
construção colaborativa de um projeto educomunicativo nas instituições de ensino para não
cairmos no uso dessas praticas apenas para compor um repertório educacional. Para que a
educomunicação realmente traga resultados significativos para a sociedade é necessário
planejar o processo a partir da formação do indivíduo coletivo.
Esse termo indivíduo coletivo parte da premissa que cada pessoa é um individuo em
formação e que faz parte de algo maior, da coletividade, necessitando, portanto de interagir com
o meio, se sentir parte de uma comunidade, que compõe a sociedade, buscando assim conhecer
seus direitos e deveres e interferir, participar, colaborar com esse processo social.
Destarte, pensando no uso das tecnologias na educação e na necessidade de um maior
envolvimento por parte das instituições de ensino e dos atores envolvidos na educação com
vistas a trazer melhorias para a sociedade realizou-se uma pesquisa com objetivo de trazer a luz
os conceitos de educomunicação a partir da concepção do ecossistema comunicativo no âmbito
escolar e apresentar as contribuições desse processo na formação do aluno, enquanto indivíduo
coletivo.
Para elaboração deste artigo utilizou-se como metodologia, a pesquisa documental de
abordagem qualitativa com o propósito de trazer os conceitos de educomunicação; explicar o
ecossistema comunicativo presente no contexto escolar e apresentar as contribuições do
processo educomunicativo através das narrativas presentes no documentário midiático, “o
indivíduo coletivo3” que contempla os projetos cala boca já morreu e viração. Projetos estes
que foram implementados com sucesso e transmitem na fala de alunos, professores e gestores
escolares as contribuições das práticas educomunicativas na formação do indivíduo coletivo.
Mas, enfim o que é mesmo educomunicação?
A Educomunicação é um conceito novo, onde a proposta é a de aproximar as relações
da comunicação com a educação, criando um campo de diálogo entre comunicadores e
educadores em todo o mundo, onde o ponto fundamental é o compartilhamento de
conhecimentos, com vistas a contribuírem para o desenvolvimento das áreas e
consequentemente para a sociedade contemporânea.
Essa aproximação entre a comunicação e a educação não acontece por mero acaso, vem
em um momento importante e ao mesmo tempo conturbado na educação, pois deriva da
influência que a evolução tecnológica dos meios de comunicação tem exercido na sociedade,
na cultura, na forma de ser e de relacionar dos sujeitos. Conforme Fígaro (2000, p. 41), “esse
estreitamento entre comunicação e educação permite repensar se estão disponíveis
instrumentais analíticos e teóricos adequados para a prática diária de comunicadores e
educadores.”
O documentário intitulado “Indivíduo Coletivo – O Resultado do Processo da Educomunicação”. Além de
explicar dinamicamente as origens do conceito de Educomunicação, apresenta insights de jornalistas e educadores
envolvidos em projetos como a associação “Cala-boca já morreu” e a revista Viração. Foi É resultado de um
trabalho de conclusão de curso em Rádio e TV Produzido em 2011 por alunos da Universidade Metodista de São
Paulo.
3
No entanto, mesmo possuindo características distintas a comunicação e a educação
apresentaram no mundo latino, certa aproximação que foi constatada graças às contribuições
dos filósofos da educação como Célestin Freinet (1920), Paulo Freire (1973), ou da
comunicação como Mario Kaplún (1992) e Martín-Barbero (1996).
E apesar da educação e a comunicação se distanciarem pelo tecido do seu discurso, cabe
lembrar as palavras de Freire apud Soares (2000, p. 19) “Ele afirma que o homem é um ser de
relação e não só de contatos, como um animal; não está apenas no mundo, mas com o mundo”.
Seguindo essa linha de pensamento Ismar Soares (2000) comunga da ideia que a ‘relação’ é o
elemento que constitui esse novo campo, denominado educomunicação. Dessa forma,
entendemos que a comunicação faz parte do processo educativo, assim como a educação
também está presente na comunicação e ambas as áreas se complementam, tornando algo maior,
mais abrangente e que possibilitará trazer novos conhecimentos e melhorias para a sociedade.
Para Citelli (2011, p. 60) existem várias formas de trabalhar os vínculos da comunicação
com a educação. “Há o plano epistemológico voltado para as indagações acerca de um campo
reflexivo e interventivo que resulta dos encontros, desencontros e tensões que existem entre os
processos comunicacionais e a educação.” Principalmente quando vivenciando os desafios
inerentes das tecnologias de informação e comunicação, das culturas midiáticas e pela nova
forma de ser e estar dos sujeitos no mundo. E para evidenciar a importância do assunto, traz
como exemplo o curso de Licenciatura em Educomunicação4 criado em 2009 pela Universidade
de São Paulo.
Corroborando com o pensamento de Citelli, Baccega (2009, p. 19) afirma “que a escola
e a família, vêm confrontando, nos últimos tempos, com os meios de comunicação, [...] pela
hegemonia na formação dos valores dos sujeitos”. E que essa disputa constitui o campo da
Educomunicação, que busca dialogar entre essas agências.
Não contrário a essas ideias, mas com uma visão diferente Martin-Barbero (2011, p.
123) afirma que “nada pode ser mais prejudicial a educação do que nela introduzir
modernizações tecnológicas sem antes mudar o modelo de comunicação que está por debaixo
do sistema escolar.” Ao fazer essa afirmação explica que no México atualmente ainda
predomina um modelo de educação vertical, autoritário na relação professor-aluno, onde o
4
A Congregação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo aprovou em 2009, a
primeira Licenciatura em Educomunicação do país, tendo o curso como instalado em fevereiro de 2011 e
reconhecido pelo Conselho de Educação do Estado de São Paulo em 09 de abril de 2015. Disponível no site:
<http://www.cca.eca.usp.br/educom>. Acesso em: 20 jun 2015.
professor é o detentor de todo o conhecimento e o aluno apenas repete o conhecimento por ele
transmitido.
Diante dessa afirmativa, podemos inferir que surge nessa discussão, um fator
importante, o modelo de comunicação tradicional da educação. Embora, a visão do autor seja
com base no seu país de origem, podemos perceber que no Brasil não é muito diferente. Apesar
dos avanços tecnológicos e do aumento na utilização dessas tecnologias no ensino presencial e
a distância, ainda predomina a comunicação vertical no ensino. A seguir destacamos a posição
de autores nacionais sobre a questão.
Soares (2000) reforça a ideia, afirmando que para muitos especialistas, a questão-chave
não está nas tecnologias, mas no próprio modelo de comunicação adotado. Mas como é
percebido o modelo tradicional de comunicação no Brasil? Qual a importância é dada para essa
questão?
Citelli (2011, p. 63) traz o termo ‘alheamento’ para indicar o estado em que a
comunicação, apesar da “sua importância e significado no mundo contemporâneo, fica alijada,
seja dos cursos de graduação, seja das respectivas licenciaturas”. Ao fazer essa leitura também
podemos imaginar o reflexo, ou efeito cascata dessa falta de interesse e/ou conhecimento sobre
a utilização da comunicação pelos docentes, gestores e dirigentes na vida escolar dos alunos.
Lima (2007) alerta sobre a necessidade de uma maior atenção a comunicação e
orientação dos educadores no exercício da prática docente com seus alunos sobre a leitura
crítica dos meios de comunicação. E comenta que a outra face dessa defesa está no uso
competente desses meios em sala de aula. Diante dessas colocações podemos concluir que a
comunicação deve ser trabalhada pelos educadores em duas frentes, na sala de aula com os
alunos e na reflexão sobre a recepção da comunicação nas diversas mídias.
Participando da mesma linha de pensamento de Lima, Baccega (2009, p. 27) conclui
dizendo que “os meios de comunicação hoje são um novo espaço do saber, ocupando parte do
lugar que antes era dedicado apenas à escola”. E que compete à comunicação e a educação levar
os sujeitos a construir novos modos de atuação na mídia e no mundo. O campo não pode,
portanto, ser confundido com atividades em sala de aula que levam os alunos a apenas
reproduzir o que estão habituados a ver.
Diante das colocações anteriormente apresentadas pelos pesquisadores Lima (2007),
Baccega (2009), Fígaro (2000), Barbero (2000), percebe-se que boa parte da responsabilidade
em transformar a educação recai sobre a atuação docente. Diante desta máxima, surgem vários
questionamentos que exigem estudo e reflexão que vão além deste texto, dos quais destacamos:
Será que esse profissional foi preparado para essas transformações, como está a situação
docente frente às novas mídias educacionais? E as instituições de ensino possuem uma estrutura
tecnológica e midiática? E os discentes, como se apresentam neste contexto tecnológico e
educacional?
O docente seja de escola pública ou particular, seja da educação superior ou do ensino
médio continua sendo o grande agente mediador do processo de ensino-aprendizagem com os
discentes, que por seu turno, estão marcados pela sociedade da informação e da comunicação.
No dizer de Citelli:
são compreensíveis os motivos que levaram alguns programas de licenciatura, de
cursos de formação de professores, de áreas de Pedagogia, a incluírem em suas grades
curriculares, ainda que muitas vezes, de maneira desordenada, difusa, incompleta,
tímida, disciplinas com o título de: Mídia e educação, Educação para a Mídia, [...] .
(CITELLI, 2011, p. 65).
Apesar de já existirem algumas ações no sentindo de formar novos professores para
trabalhar com questões da comunicação na educação, fica evidente que isso é feito de forma
muito sutil. É necessário investir na capacitação e na formação docentes para que se sintam
preparados para enfrentar os desafios oriundos das novas tecnologias, e que as estratégias e
metodologias aplicadas sejam institucionalmente garantidas.
Assim, pode-se inferir diante das leituras e estudos realizados, que a educomunicação é
um novo campo de diálogo, possui um caráter crítico e criativo, voltado para a cidadania e a
solidariedade. Surgiu diante de uma revolução tecnológica ancorada em duas importantes áreas
para a sociedade, educação e comunicação, e acredita-se que essa aproximação entre as áreas
estará ao longo do tempo sendo consolidada.
Entretanto, é importante destacar que esse campo encontra-se em fase de constituição,
e as ações e transformações necessárias e almejadas para as áreas somente serão possíveis se os
agentes envolvidos neste processo: professores, comunicadores, pesquisadores, coordenadores,
diretores, entidades públicas e privadas, e o próprio estado, aproveitarem esse campo aberto ao
diálogo para compartilhar informações, experiências e assim em conjunto buscar soluções para
os problemas presentes na atualidade.
A escola como ecossistema comunicativo
Quando pensamos na ideia de ecossistema logo imaginamos algo complexo com várias
relações que ao se comunicarem tornam possível a existência e a sobrevivência dos seres. Do
mesmo modo o ecossistema comunicativo se constitui, é através da relação dos indivíduos com
e através dos vários meios de comunicação que esse processo acontece, cria vida e se estabelece.
No contexto escolar é através da interação, participação, colaboração de todas as pessoas
que atuam na instituição que o ecossistema comunicativo ganha corpo e força. Dentre os
agentes que participam deste processo podemos inferir a diretoria escolar, a secretaria, a
supervisão, os professores, os alunos, e sem dúvida os pais e a comunidade. Existem alguns
desses atores que tem um papel mais incisivo e atuante neste ecossistema, como é o caso dos
professores por ser o motor primeiro que irá dar início ao processo comunicativo e em seguida
os alunos que vão tornar possível que a comunicação se estabeleça e seja disseminada além dos
muros da escola, chegando até a comunidade.
A concepção de ecossistema comunicativo no ambiente escolar não é um processo
simples, existem barreiras e limitações que vão além do próprio modelo tradicional de educação
que por si só, já se torna algo a ser trabalhado. Martín-Barbero (1996) acredita que o grande
desafio consiste em inserir na escola um ecossistema comunicativo que contemple ao mesmo
tempo: experiências culturais heterogêneas, o entorno das novas tecnologias da informação e
da comunicação, além de configurar o espaço educacional como um lugar onde o processo de
aprendizagem conserve seu encanto.
Deste modo, se torna relevante pensar em um ecossistema que abarque as várias culturas
presente na escola, respeitando as suas singularidades e valorizando o seu conhecimento. Como
trabalhar com esses diversos saberes culturais que foram transmitidos aos alunos ao longo da
sua vida? Paulo Freire5 em uma entrevista no programa Matéria Prima da TV Cultura por Sergio
Groisman (1989) comenta sobre a importância de aprender a respeitar a cultura de cada lugar,
de cada indivíduo, pois quando ficou exilado fora do Brasil, em contato com outras culturas
percebeu que não existe saberes maiores ou melhores e sim saberes diferente.
Outro fator que não podemos deixar de analisar na fala de Martín-Barbero (1996) é a
utilização das novas tecnologias da informação e comunicação neste processo, porque mesmo
que existam diferenças sociais entre os alunos é possível pensar em alternativas que
contemplem algumas tecnologias. Desse modo, é importante para o docente saber adequar às
tecnologias que se têm disponíveis de acordo com a realidade dos alunos. Porque apesar de
algumas escolas públicas brasileiras possuírem laboratórios de informática, entretanto, muitas
não possuem internet que atendam a demanda dos alunos. E quando possuem acesso a internet,
faltam outros recursos como o de suporte tecnológico, e até mesmo, equipamentos mais simples
como tomadas, cabos, estabilizadores, entre outros.
5
Paulo Freire entrevistado no Programa Matéria Prima da TV Cultura, por Serginho Groisman em 1989.
Disponível no site: <https://www.youtube.com/watch?v=Zx-3WVDLzyQ> Publicado em 20 de set de 2013.
Atualmente temos uma gama de opções tecnológicas de comunicação que podem ser
utilizadas de acordo com a realidade escolar que se apresenta ao docente. Uma alternativa
interessante é o jornal impresso, que pode ser feito pelos alunos e entregue para a comunidade
escolar em mãos, esse mesmo jornal, pode também ser produzido digitalmente e divulgado
através de blog, site ou em um grupo no facebook. Outra opção interessante é o radio que tem
trazido bons resultados e pode ser implantado sem muitas dificuldades devido a algumas
iniciativas do governo. E ainda pode-se utilizar as oficinas de fanzine6, que são pequenas
revistas elaboradas pelos alunos sobre temas de interesses diversos, e por fim não poderia deixar
de mencionar as histórias em quadrinhos, que podem compor esse repertório comunicativo na
escola.
Destarte, é perceptível as várias opções de tecnologias comunicativas existentes na
contemporaneidade que vão da escrita manual ao digital, mas para que haja uniformidade na
comunicação e envolvimento dos alunos no aprendizado cabem as instituições de ensino e aos
educadores entender que é necessário uma maior apropriação da comunicação no ambiente
escolar, e perceber o que impede essa exploração da comunicação na educação, não são apenas
os meios digitais, e sim uma ruptura de paradigma. De acordo com Kaplún (2011, p. 174):
é fundamental ultrapassar esta redutora e postular que a Comunicação abarca
certamente o campo da mídia, mas não apenas esta área: abarca também, e em lugar
privilegiado, o tipo de comunicação presente em todo processo educativo, seja ele
realizado com ou sem o emprego de meios. Isso implica considerar a Comunicação
não como um mero midiático e tecnológico, e sim, antes de tudo um componente
pedagógico.
Portanto, se faz necessário romper paradigmas e criar um ecossistema comunicativo
onde alunos e professores possam interagir e colaborar de modo igualitário com vistas a
contribuir para o aprendizado e para o beneficio da sociedade. Corroborando com essa linha
de pensamento e remetendo Paulo Freire, Martín-Barbero (1996) defende a ideia de que o
processo de aprendizagem precisa conservar seu encanto. Para entender como, destacamos a
importância da comunicação na educação na fala de Paulo Freire (1973, p.43) que explica:
Ser dialógico é vivenciar o diálogo, é não invadir, é não manipular, é não sloganizar.
O diálogo é o encontro amoroso dos homens que, mediatizados pelo mundo, o
pronunciam, isto é, o transformam e, transformando-o, o humanizam” (FREIRE,
1973, p. 43)
Dessa forma, podemos concluir que a utilização do ecossistema comunicativo nas
escolas se faz através do diálogo, e ao vivenciarmos o diálogo estaremos, portanto
6
Surgiu como uma espécie de revista alternativa na década de 40 e vem sendo usado para a divulgação de ideias
e informações relativas a grupos com pouco espaço na imprensa, como entusiastas de ficção científica, fãs de rock
ou punks.
transformando, humanizando a escola e trazendo o aluno para o centro da aprendizagem, onde
ele não será apenas mais um mero espectador e sim um agente de ação, um indivíduo coletivo
que produz, comunica e transforma o meio em que vive.
O indivíduo coletivo
Antes de adentrarmos no contexto do processo educomunicativo, se faz necessário
entender o conceito de indivíduo coletivo, saber da sua gênese, de onde se originou essa ideia
e porque ela é tão importante para educação em tempos de contemporaneidade midiática.
O termo indivíduo vem do latim individuus e significa ‘indivisível’, ‘uno’, aquilo que
não se divide por ser algo completo. Conforme Jung (1973 apud FADIMAN; FRAGER 1979,
p. 60) todo indivíduo possui uma tendência para a individualização ou autoconhecimento. A
“individualização, no entanto, significa, precisamente, a melhor e mais completa das qualidades
coletivas do ser humano.” Porque é através da interação social que se forma as principais
estruturas da personalidade humana. E ninguém pode tornar-se consciente de sua
individualidade a menos que esteja relacionado a seu próximo, e em geral, relacionado a muitos
indivíduos com quem ele pode comparar-se e através dos quais ele é capaz de discriminar a si
mesmo.
O termo coletivo vem do latim collectivus e significa aquilo “que se agrupa, ajunta”,
existem outras definições como no Houaiss (2001) onde o termo coletivo significa aquilo que
“que pertence a um povo, a uma classe, a um grupo”. Neste texto, atribuímos o termo indivíduo
coletivo ao contexto da educomunicação para reforçar a ideia que o ‘indivíduo’ se desenvolve
a partir do contato em sociedade ‘coletivo’, das relações que estabelece, das comparações e das
vivências com o meio. Entendemos, portanto, que o indivíduo somente se percebe completo
“indivíduo coletivo”, a partir do momento que se sente parte de algo, pertencente ao seu país, a
sua comunidade, a sua escola, a sua família, a seus amigos, entre os quais participa, interage,
transforma, e é transformado pelo meio em que habita.
A priori é importante entender como se dá esse processo de inclusão do indivíduo com
o meio. É através da comunicação que as relações se estabelecem, independente se pela fala,
pela escrita, por símbolos ou por imagens, o indivíduo desde suas origens sempre buscou formas
de expressão e comunicação. E diante dessa necessidade de se comunicar, de se fazer entender,
buscou desenvolver novos meios e modos de comunicação.
Na atualidade como o surgimento da internet e das novas tecnologias digitais, os meios
de comunicação evoluíram a ponto de criar barreiras que ao mesmo tempo em que facilitam a
comunicação em termos de espaço temporal, também estão afastando as pessoas do convívio
familiar e porque não dizer do ambiente escolar. Eis ai o grande desafio deste estudo,
demonstrar a importância de preparar o sujeito para a coletividade em tempos midiáticos.
Conforme Martín-Barbero (2014, p. 131)
Hoje nos deparamos com um sujeito muito mais frágil, mais quebrado e, entretanto,
paradoxalmente muito mais obrigado a se assumir, a se responsabilizar por si mesmo,
em um mundo onde as certezas tanto no plano do saber como plano ético ou político
são cada vez menores.[...] É com esse sujeito que a educação tem que lidar hoje: um
adolescente cuja experiência da relação social passa cada dia mais por sua
sensibilidade, seu corpo, já que é através deles que os jovens [...] estão dizendo muitas
coisas aos adultos por meio de outros idiomas.
Ao analisarmos as palavras de Martín-Barbero entende-se o quão importante e
necessário buscar realizar estudos que busquem conhecer e entender melhor o sujeito educando
da contemporaneidade para que se torne possível realizar um trabalho pedagógico que envolva
novos modos de comunicar. Assim entendemos que ao pensar na formação do indivíduo
coletivo considerando os processos educomunicativos, estamos buscando desenvolver
capacidades comunicativas importantes para o seu desenvolvimento, e atuação na sociedade.
Mario Kaplún (2014, p. 183) também participa dessa linha de pensamento ao inferir que
para cumprir “seus objetivos, todo processo de ensino/aprendizagem deve dar lugar a
manifestação pessoal dos sujeitos educandos, desenvolver sua competência lingüística,
propiciar o exercício social.” E não simplesmente confiná-los a um mero papel de receptores,
é preciso criar condições para que eles mesmos gerem mensagens próprias ao tema que estão
aprendendo.
Portanto, para se construir um processo educomunicativo que realmente traga retornos
significativos para o aluno enquanto indivíduo-coletivo, ser atuante na comunidade é
importante entender que os sujeitos estão utilizando outros meios e linguagens para interagir.
Essa nova forma de relacionar e comunicar gera certo estranhamento para o docente, havendo
assim, um desencontro na comunicação. Daí surge à necessidade de pensar no planejamento
desse processo educomunicativo e na capacitação docente para mediar essa aprendizagem.
Tema que apresentamos no tópico a seguir.
O processo educomunicativo na escola: com a palavra gestores, professores e alunos.
A educomunicação apesar de ser considerado um novo campo que surgiu da interrelação da educação com a comunicação encontra-se presente na sociedade desde a metade do
século XX. Inicialmente a educomunicação foi implementada através das práticas sociais com
o titulo de práticas alternativas, mas que apesar de ser um movimento forte se encontrava
fragmentado. Em 1999 houve um movimento para o reconhecimento dessa realidade a partir de
um referencial teórico, onde se adotou o termo educomunicação. Em 2004 a rede Comunicação,
Educação e Participação (CEP) em parceria com o ministério de educação, incentivaram a
utilização da educomunicação através do projeto ‘Mais Educação’ da rede pública de ensino.
(SOARES, 2012)7
Atualmente com a ampliação do uso das tecnologias digitais, a educomunicação está
sendo utilizada por diversas instituições de ensino públicas e privadas e nas organizações não
governamentais (ONGs) presentes no Brasil e na América Latina. Desse modo, pensar no
processo educomunicativo se tornou algo importante e necessário para o desenvolvimento da
educação e disseminação deste campo. No entanto, para que a educomunicação realmente traga
algum beneficio para o aluno e para a comunidade é necessário planejar todo processo a ser
percorrido, realizar o acompanhamento e envolver todos os participes do projeto para que se
atinjam os objetivos educomunicativos propostos. Reforçando essa ideia Soares (2010) afirma
que a educomunicação é um conjunto de ações inerentes ao planejamento, implementação e
avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e a fortalecer ecossistemas
comunicativos.
Mas, como os dirigentes escolares e os professores podem se apropriar da
educomunicação, de forma a contribuir para a formação do indivíduo coletivo? Na verdade,
não existe uma fórmula pronta, pois cada escola possui uma realidade e ecossistemas
comunicativos diferenciados com suas barreiras e limitações. Porém, existem iniciativas que
foram realizadas com sucesso e que servem de referências para elaboração de projetos
educomunicativos. Dentre as quais destacamos: o programa nas Ondas do Rádio que foi
realizado em 2012 com o apoio da secretária municipal de educação do estado de São Paulo, o
projeto Cala Boca Já Morreu, o projeto Viração e o Jornal impresso.
De acordo com o material elaborado pela organização do programa nas ondas do Rádio
(2012), o primeiro passo para iniciar um projeto educomunicativo consiste em conhecer a
realidade da escola, saber como funciona o ecossistema comunicativo e buscar percebê-lo como
espaço de convivência das pessoas onde se realizam ações comunicativas. Outra questão
importante é analisar como ocorre a comunicação no ecossistema, ela é realizada de forma
aberta, participativa, bidirecional e dialógica, ou é algo, que acontece de forma fechada,
centralizada, unidirecional e monológica. Depois de feito esse diagnostico se torna possível
7
Entrevista com o Coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da USP, o Dr. Ismar de Oliveira Soares, fala a respeito
da evolução do termo Educomunicação no Brasil. A entrevista foi gravada no prédio da ECA em junho de 2012, disponível
no site:< https://www.youtube.com/watch?v=VPjSDiu9ZLo>. Acesso: 16 maio 2015.
perceber as necessidades e desejos de mudanças e identificar se já existem práticas
educomunicativas na escola que podem ser difundidas e ampliadas.
Afirmam ainda, que os processos da educomunicação, devem ter como princípios
basilares a promoção do protagonismo infanto-juvenil, a expressão comunicativa e criativa, o
trabalho colaborativo e o uso de recursos de tecnologias de informação e comunicação. Deste
modo, destaca-se como relevante o envolvimento dos gestores de projetos e dos professores
mediadores no desenvolvimento de ações que permitam uma concepção de comunicação mais
aberta e participativa. Segundo a narrativa da educomunicadora Evelyn de Oliveira Araripe
(2012), do projeto Viração:
O importante é o processo de preparar os alunos para que se sintam fortalecidos, para
que eles tenham coragem de se manifestarem do jeito deles. Então, talvez um
profissional de comunicação quando lê um texto, quando vê um vídeo de algum jovem
que passa pelo programa, fale que se seja algo amador, pois os alunos têm todas as
limitações gramaticais, textuais, enfim de conceitos. Mas é o olhar deles, o produto
final é algo muito puro, muito eles mesmos, por eles mesmos.” (informação verbal) 8
Analisando a narrativa da educomunicadora Araripe, entende-se o quanto o aluno
necessita que realmente exista neste processo uma comunicação aberta e dialógica, sem censura
de qualquer natureza, para que eles consigam se expressar e reconhecer por eles mesmos as
falhas, buscar formas de melhorar e assim se apropriar deste aprendizado. É importante
esclarecer que a avaliação do produto educomunicativo não consiste em aplicar notas de
desempenho, mas sim propiciar ao aluno oportunidades de adquirir novos saberes e de se
reconhecer como indivíduo coletivo, ser atuante no grupo e autor do produto.
Na educomunicação o produto irá mostrar o processo, isso significa que caso haja
problemas durante o processo, seja de conflitos entre os participantes, falhas na comunicação
ou falta de acompanhamento pelo professor mediador, isso refletirá no resultado. Para entender
porque isso ocorre com frequência, a coordenadora do projeto cala-boca já morreu, Gracias
Lopes Lima (2012) explica que:
Os tipos de convivência social que vamos nos deparar quando trabalhamos com
grupos são convivências muito parecidas com estas que os meios de comunicação
social desenvolveram. Onde somos educados a competir, a querer se sentir cada vez
mais diferente do outro. [...] Os meios de comunicação nos afastam, por isso é comum
quando os jovens vão produzir programas, alguns quererem se exibir mais que os
outros, falar mais que o outro, ou se sentir envergonhado por ter falado menos que o
outro. É uma relação de afastamento. (informação verbal) 9
8ARARIPE, Evelyn de Oliveira.Trecho do documentário Indivíduo Coletivo.
Universidade Metodista de São Paulo. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=EMfD8rPAcao. Publicado em jun 2012.
9 LIMA,Gracias Lopes.Trecho do documentário Indivíduo Coletivo. Universidade Metodista de São Paulo. Disponível no site:
https://www.youtube.com/watch?v=EMfD8rPAcao. Publicado em jun 2012
Considerando e complementado a fala da coordenadora Lima, vemos o quão necessário
e importante é propiciar ao indivíduo o convívio em grupo, em trazer os comportamentos
sociais para o ambiente escolar de forma a trabalhar, orientar e entender os conflitos resultantes
dessa relação. Porque na educomunicação o produto final é importante, mas o processo
comunicativo, a interação, o diálogo que poderá ou não ocorrer no grupo e que permeia a
criação e o desenvolvimento do produto é o que realmente irá trazer um crescimento
significativo para o aluno.
Na educomunicação o processo é considerado como parte do produto, isso ocorre
porque é no processo que as relações de troca se estabelecem, e o saber compartilhado gera
novos conhecimentos. Veja na fala de Mauricio Silva (2012) fotografo e aluno do curso de
educomunicação da ECA-USP, como se configura o momento educomunicativo na pratica:
Os alunos podem apresentar um produto maravilhosamente feito, bem editado, de
técnica perfeita. O que eles cresceram em torno disso? Se eles simplesmente fizeram
o vídeo eles apenas aprenderam a produzir vídeos, não necessariamente adquiriu-se
um conhecimento em cima disso. Mas se durante o processo eles aprenderam a
trabalhar juntos, se eles pesquisaram sobre a história, sobre a literatura, sobre a
geografia de determinado tema, se eles conseguiram aprofundar em torno disso.
Pronto! Eles aprenderam. (informação verbal – grifo nosso)10
Analisando a fala de Silva, podemos perceber que o aluno educomunicativo, necessita
desenvolver novos papeis que normalmente são atribuídos ao professor. Neste interim se torna
importante pensar em como desenvolver no aluno capacidades além da comunicação, como,
proatividade, flexibilidade, liderança. Mas será que os professores estão preparados para criar
espaços abertos de comunicação e aprendizado? Vamos entender como o professor enquanto
educomunicador se apresenta neste processo. Segundo Maria Fernanda B. Portolani (2012)
O mediador tem um papel muito importante, que é o de cuidar desse espaço, deixá-lo
propicio para que efetivamente todas as pessoas possam se manifestarem, e as pessoas
não se manifestam só falando, então tem que ser uma pessoa que saiba lê mesmo o
que está ali, saiba olhar nos olhos, [...] tem que estar aberto para as novas relações, ter
bastante cuidado e responsabilidade na verdade. (informação verbal)11
Com base na perspectiva apresentada por Portolani, pôde-se perceber que o saber
comunicar, neste contexto pressupõe abertura para o diálogo, sendo algo que vai exigir do
professor mediador maturidade para saber ouvir e incentivar a participação dos alunos. Remetenos claramente as ideias libertadoras freirianas já destacadas neste estudo. Saindo desse
paradigma de educação bancaria, e se abrindo para uma nova forma mais dialógica de ensinar
e trocar saberes.
10
SILVA, Maurício.Trecho do documentário Indivíduo Coletivo. Universidade Metodista de São Paulo. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=EMfD8rPAcao. Publicado em jun 2012
11 PORTOLANI, Maria Fernanda B.Trecho do documentário Indivíduo Coletivo. Universidade Metodista de São Paulo.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EMfD8rPAcao. Publicado em jun 2012
Nessa mesma vertente, apresentamos na visão dos alunos como se configura a formação
do indivíduo-coletivo nos processos educomunicativos e com ênfase destacamos algumas
contribuições da Educomunicação percebidas, demonstrando assim como eles se sentem
inseridos nesse contexto. Desse modo, destacam-se abaixo as narrativas dos alunos que
participaram do documentário “Indivíduo coletivo” (2012):
Foi como sair de uma casca e ter uma visão muito diferente do mundo, de como as
coisas realmente acontecem, o meu papel como jovem, o meu papel como pessoa
mesmo, [...], descobri que eu tenho força. (aluno a).
Participo de uma oficina, e aprendi muito, melhorei o meu jeito de ser, aprimorei meu
modo de falar, meu modo como conduzo as pessoas, do jeito que eu falo com elas, eu
respeito a todos. (aluno b)
É difícil de descrever, mas como estou envolvida desde muito cedo, a postura que eu
tenho nos espaços, as escolhas que eu faço, enfim desde dentro de casa até as escolhas
profissionais, acho que influencia muito em todas as esferas, por que não tem haver
com uma formação para virar produtor de comunicação, mas é uma formação para
você se fortalecer como pessoa, e isso reflete em todas as esferas da vida (aluno c)
Na fala apresentada pelos alunos (a, b e c), nota-se que a partir do envolvimento nos
projetos educomunicativos, inicia-se um processo de reconhecimento interno enquanto
indivíduo, havendo assim, modificações profundas nas formas de agir e comunicar, e no próprio
comportamento ao se relacionar com o próximo. Outro ponto que é possível observar é o
desenvolvimento do potencial comunicativo do aluno, e o aumento da auto-estima que gera um
fortalecimento do indivíduo, contribuindo para socialização com o meio.
Em se tratando do desenvolvimento do potencial comunicativo do indivíduo, é
importante destacar as mudanças comportamentais, e que ilustram muito bem o trabalho
realizado com os alunos nesses projetos educomunicativos. Percebeu-se que ocorrem
modificações até mesmo na forma com que os alunos realizam o processo de pesquisa nos
meios de comunicação, na forma como realizam a leitura e a interpretação de textos, no
processo de escrita na produção dos textos para os programas, na própria comunicação oral ao
defenderem seu ponto de vista, na abordagem respeitosa com o próximo e principalmente no
senso participativo e colaborativo junto ao grupo.
Nessa perspectiva, considerando os depoimentos dos alunos presente no documentário
“Indivíduo Coletivo” podemos concluir que muitas são as contribuições da educomunicação
para a formação do indivíduo coletivo. E apesar da educomunicação ser considerado um
conceito novo, tem propiciado aos alunos adquirir uma percepção sobre a sua própria identidade
e desenvolver-se em várias esferas, tornando-se indivíduos mais críticos e conscientes do seu
papel na sociedade.
Considerações finais
Constituindo um campo de diálogo entre as áreas a educomunicação, surge em um
momento importante para educação, devido a influência que o avanço dos meios de
comunicação tem exercido na sociedade contemporânea.
No entanto, o neologismo
educomunicação não deve ser visto como a simples junção dos termos, ou a simples aplicação
das tecnologias midiáticas na educação. Visto que esse novo campo se fundamenta no direito
humano à comunicação, sendo uma forma de intervenção social pautada na ação de projetos
que valorizem a identidade do indivíduo e a cultura local.
Embora a educomunicação seja considerado um campo de relação do saber das áreas
em processo de consolidação, tem-se constatado pela academia os resultados positivos dos
projetos educomunicativos para a sociedade. Conforme vislumbrado pela pesquisa, as
iniciativas realizadas nos projetos, cala boca já morreu, viração e nas ondas do rádio
apresentaram contribuições significativas na formação do aluno enquanto indivíduo coletivo.
Observando que esses projetos trabalham a concepção de ecossistema comunicativo e tem como
princípio basilar em suas ações, o protagonismo infanto-juvenil na produção de comunicação.
Contudo, considerando a literatura utilizada neste artigo, cabe esclarecer que a
implementação de um processo educomunicativo não é um processo simples, carecendo, não
obstante, de esclarecimentos e reflexões por parte dos atores que participam do processo,
principalmente do corpo docente quanto ao emprego das novas tecnologias de informação e
comunicação, quanto a necessidade de trabalhar o processo com vistas a adoção do diálogo
aberto e participativo em todas as ações.
Cabe, portanto, retomar as palavras de Mario Kaplún (1992, p.183), para explicar que
“todo processo de ensino-aprendizagem deve dar lugar a manifestação pessoal dos sujeitos
educandos, desenvolver sua competência lingüística, propiciar o exercício social.” E não
simplesmente confiná-los a um mero papel de receptores, é preciso criar condições para que
eles mesmos gerem mensagens próprias ao tema que estão aprendendo.
Por fim, diante dos resultados obtidos na pesquisa conclui-se que muitas são as
contribuições da educomunicação para a formação do aluno, enquanto indivíduo coletivo.
Destarte, é necessário que gestores e docentes questionem sua prática, e percebam os meios de
comunicação também como produtos do trabalho social e utilizem o diálogo em uma
perspectiva participativa e colaborativa com vistas a transformar a educação brasileira. Desse
modo a educomunicação poderá cumprir o seu papel social contribuindo para que as pessoas se
desenvolvam, se apropriem da sua identidade, e busquem se relacionar com o próximo,
tornando-se pessoas capazes de gerir a própria vida em sociedade.
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