CONHECIMENTO POPULAR SOBRE PLANTAS BIOATIVAS NO CUIDADO DA SAÚDE EM COMUNIDADES RURAIS MUNICÍPIO DE SANTO ÂNGELO, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL Luis Guilherme Lappe1, Vera Regina Medeiros Andrade2, Narciso Vieira Soares3 & Nilvane Terezinha Ghellar Muller4 Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões/Departamento de Ciências da Saúde/Curso de Farmácia, [email protected] 2Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões/Departamento de Ciências da Saúde/Curso de Farmácia, [email protected] 3Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões/Departamento de Ciências da Saúde/Curso de Enfermagem, [email protected] 4Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões/Departamento de Ciências Biológicas/Curso de Farmácia, [email protected] RESUMO: Plantas bioativas são as que possuem substâncias que interferem no funcionamento do organismo, como as medicinais, aromáticas, condimentares, inseticidas, repelentes, tóxicas e bactericidas. O objetivo foi diagnosticar as plantas bioativas utilizadas pela população na zona rural de Santo Ângelo. Foi realizado uma pesquisa observacional e descritiva, na zona rural do município de Santo Ângelo, RS. A amostra selecionada por conveniência foi constituída por 50 mulheres dos clubes de mães dos distritos de Sossego, Comandaí, Buriti e Lajeado do Cerne. O instrumento foi um questionário com questões abertas e fechadas sobre plantas bioativas. Das 50 mulheres, a maioria tinha idade acima de 50 anos, 40,43% relataram que plantas bioativas são utilizadas para diversas finalidades, 65,96% fazem uso desde infância. Um total de 73 plantas foi relatado pelo nome popular conhecidos pelas entrevistadas. Apesar das participantes relatarem diversas utilidades para as plantas bioativas, a maioria faz uso dessas como medicinais. Palavras Chaves: Espécies bioativas, conhecimento popular, plantas tóxicas. 1 INTRODUÇÃO O conhecimento popular sobre os recursos naturais, denominado de “conhecimento ecológico tradicional” é proveniente do conhecimento entre gerações, há centenas de anos, tanto de plantas que apresentam ação tóxica ou ação medicinal. Esse conhecimento, assim construído das ações medicinais, serve para a aplicação destas plantas bioativas na estratégia e alternativa para a agricultura familiar. As plantas bioativas são aquelas que apresentam alguma atividade biológica, não apenas curativa. Essa denominação se refere às plantas que possuem compostos ou substâncias que interferem ou alteram o funcionamento do organismo de outros seres vivos, sendo enquadradas como plantas medicinais, aromáticas, condimentares, inseticidas, repelentes, tóxicas e bactericidas (SCHIEDECK, 2008; DIAS, 2002). No passado, as plantas medicinais foram utilizadas como principal meio terapêutico para tratamento da população. A descoberta de alguns medicamentos, hoje utilizados na medicina, se deram a partir deste URI, 10-12 de junho de 2015 Santo Ângelo – RS – Brasil. III CIECITEC Santo Ângelo – RS – Brasil conhecimento popular e, vem sendo observado um grande aumento nos relatos do uso do conhecimento popular sobre plantas medicinais sendo o único recurso terapêutico de muitas comunidades (AZEVEDO & SILVA, 2006; TRESVENZOL, 1997). Pela grande infinidade de plantas medicinais existentes e pelo uso indiscriminado da população, não considerando os riscos de toxicidade pelas propriedades terapêuticas de cada espécie, se fazem necessários estudos sobre elas que ainda são insuficientes para comprovar sua eficácia e segurança (PANIS, 2008). O compartilhamento destas informações e a divulgação do setor contribuirá assim para a expansão da pesquisa e consequente fortalecimento da tecnologia, e assim o uso correto, seguro e responsável das plantas bioativas e medicinais, por parte da população brasileira. Desta forma, o objetivo desse estudo foi analisar o conhecimento sobre plantas bioativas pela população na zona rural de Santo Ângelo e caracterizar a utilização dessas plantas. 2 METODOLOGIA Foi realizado uma pesquisa do tipo observacional e descritiva (LAKATOS, 1991). O estudo foi realizado na zona rural do município de Santo Ângelo, Rio Grande do Sul, Brasil. Esse município está situado na Mesorregião do Noroeste Rio-Grandense, região fisiológica das Missões, com uma altitude de 281 metros, possui clima subtropical, uma área total de 680.498 km², e conta com uma população de 76.275 habitantes distribuída entre a sede e 14 distritos (BRASIL, 2010; BRASIL, 2015). A amostra foi selecionada por conveniência em quatro distritos também selecionados por conveniência (LAKATOS, 1991), como os distritos de Sossego, Comandaí, Buriti e Lajeado do Cerne. Participaram 50 mulheres que frequentavam os clubes de mães, com idade acima de 20 anos, que concordaram em participar da pesquisa. O instrumento de coleta de dados foi um questionário contendo questões abertas e fechadas sobre um dado de identificação (idade), para caracterizar a mostra. Sobre o conhecimento de plantas bioativas, foram realizadas as seguintes perguntas: O que são plantas bioativas?; Há quanto tempo faz uso de plantas bioativas?; Quais as plantas bioativas que você conhece? Você faz uso de algumas delas? Sim ou Não; Para que?; Quem recomendou? vizinho; amigo, parente, jornal, televisão, rádio ou conta própria; Usa frequentemente plantas bioativas? Frequentemente, 1 vez na semana, de 15 em 15 dia; Usa frequentemente plantas bioativas? Frequentemente, 1 vez na semana, de 15 em 15 dia. Foram realizadas visitas aos clubes de mães, em datas agendadas com as participantes amostradas na pesquisa, no período de junho e julho de 2014. Após a coleta os dados, foi realizado uma análise descritiva dos dados. 3 RESULTADOS E ANÁLISE As participantes do estudo tinham idades entre 30 e 89 anos, sendo que a maioria (61,70%) tinha idade acima de 50 anos e 17,02% tinham idade acima de 70 anos (Figura 1). URI, 10-12 de junho de 2015. Santo Ângelo – RS – Brasil III CIECITEC Figura 1: Distribuição das participantes por faixa etária. A amostra do presente artigo foi selecionada por conveniência, porque, conforme a literatura, há uma predominância de pessoas com mais idade e do gênero feminino que relataram ter conhecimento sobre plantas medicinais. Mesquita et al. (2009) relataram que a quantidade de conhecimento é proporcional ao aumento da idade e que pessoas com mais idade tem mais conhecimento sobre plantas medicinais do que adultos jovens ou adolescentes. Santos et al. (2012) e Pinto et al. (2013), tiveram as mulheres como maioria dos participantes em suas amostras, com índices de 75%, 78,94% e 88,05%, respectivamente. Esses pesquisadores observaram que as mulheres detêm grande parte do conhecimento medicinal das plantas. Conforme apresentado na Tabela 1, para a população consultada nesta pesquisa, o conceito de plantas bioativas foi bastante variado. Das mulheres entrevistadas, 40,43% relataram que são plantas utilizadas para diversas finalidades, 10,63% destacaram que são plantas que ajudam a curar doenças e utilizadas para fins medicinais e 25,53% das participantes que não souberam ou não opinaram. Dentre as pessoas envolvidas nesta pesquisa, 89,36% destacaram que tradicionalmente faziam uso de plantas bioativas. O conhecimento sobre plantas bioativas das mulheres pesquisadas não está totalmente incorreto, porque plantas bioativas são plantas utilizadas não apenas para fins curativos, como também condimentares, aromáticas, conservantes e corantes utilizados na indústria, até mesmo como insumos agrícolas. Já, 10,63% das entrevistadas destacaram que são plantas que ajudam a curar doenças com fins medicinais. Nossos dados diferem de diversos estudos publicados, que apresentaram o uso de plantas bioativas como medicinais, como os realizados por Macedo, Oshiiwa e Guarido (2007) e Negrelle e Fornazzi (2007), em que a utilização dessas plantas, por ser uma via alternativa no combate de doenças, de baixo custo, encontradas com facilidade, até no próprio quintal de suas residências, continua ocupando um lugar de destaque no arsenal terapêutico. Mesquita et al. (2009), que pesquisaram as plantas bioativas de uso humano por famílias de agricultores, verificaram que diversas plantas eram utilizadas como medicinais. Essa divergência com os dados da literatura pode ser explicada pelo fato de que, as mulheres da nossa pesquisa, quando perguntadas sobre o uso de plantas URI, 10-12 de junho de 2015. III CIECITEC Santo Ângelo – RS – Brasil bioativas, antes de responderem pediram explicação sobre o que seria plantas bioativas, no que foram esclarecidas. Quando questionadas sobre o período em que elas vem fazendo uso de plantas bioativas (Tabela 1), foi constatado que a maioria delas utilizavam desde a infância (65,96%). Esses dados estão conformes as pesquisas realizadas por Pinto et al. (2013) em que 91,9% dos entrevistados relataram o uso desde crianças, desde pequenos ou a vida toda, respectivamente. A predominância do gênero feminino, já relatada, e o uso desde a infância evidenciam o cuidado materno e o conhecimento tradicional que é transmitido entre gerações nas famílias. E para a utilização das plantas, a maioria fazia uso por indicação de algum parente (65,96%), seguido pelas que utilizavam por conta própria e pelas que que foram indicadas por vizinhos, televisão, jornal ou por amigos. As frequências de uso variaram de semanalmente, frequentemente a quinzenalmente com percentuais de 42,55%, 38,30% a 4,26%, respectivamente. Esses dados estão de acordo com vários estudos publicados, como Pinto et al. (2013), Macedo, Oshiiwa e Guarido (2007), Panis (2008) e Brasileiro et al. (2008), com percentuais que variaram entre 51% a 84,5%, que obtiveram informações provenientes da tradição familiar. Isto reforça que essa sabedoria é proveniente do conhecimento entre gerações, tanto de plantas que apresentam ação tóxica ou ação medicinal. A frequência de uso variou de semanalmente, frequentemente a quinzenalmente com percentuais diferindo de outros estudos, como os de Brasileiro et al. (2008) e Oliveira e Araujo (2007), que apresentaram variações no uso, desde raramente a semanalmente. Isto pode ser explicado porque as pesquisas foram realizadas com populações diferentes e também porque essa frequência depende da planta, da forma de preparo e da situação. Tabela 1: Distribuição das participantes conforme as respostas para as perguntas o que são plantas bioativas, o tempo em que faziam uso, a forma de preparo mais frequente, quem recomendou o uso e a frequência de uso (n=50). O que são plantas bioativas n % São plantas que são usadas para diversas finalidades. 20 40,43% Plantas de chás 6 12,77% Plantas que ajudam a curar doenças. 6 12,77% Arruda, macela, cidreira e hortelã. 1 2,13% É uma planta que tem uma crença popular. 1 2,13% Planta bioativa é que tem uma segunda atividade. 1 2,13% São plantas usadas para o bem. 1 2,13% Não sabe/Não opinou 13 25,53% Desde a infância 33 65,96% Há muito tempo 6 12,77% Não sei exatamente 3 6,38% Há pouco tempo 1 2,13% Não utilizo 2 4,26% Não sabe/Não opinou 4 8,51% Tempo de uso Se faz uso Tradicionalmente URI, 10-12 de junho de 2015. 45 89,36% III CIECITEC Santo Ângelo – RS – Brasil Não usa 1 2,13% Não sabe/não respondeu 4 8,51% Forma de preparo 0 Chá 38 76,60% Chá, decocção 5 10,64% Tintura, chá 1 2,13% Não sabe/não opinou 5 10,64% Recomendação do uso Parentes 33 65,96% Conta própria 5 10,64% Vizinho 3 6,38% Televisão, jornal 4 8,52% Amigo 1 2,13% Não sabe/não opinou 3 6,38% Semanalmente 21 42,55% Frequentemente 19 38,30% Quinzenalmente 2 4,26% Não sabe/não opinou 7 14,89% Frequência de uso Na pesquisa, foram citadas 73 plantas pela nomenclatura popular. Após a análise dos dados, as 6 espécies mais citadas pelas usuárias foram: Macela, Achyrocline satureioides , (80,92%), Hortelã, Mentha sp (48,98%), Cidreira, Lippia alba (44,72%), Losna, Artemisia absinthium L (36,21%), Alecrim, Rosmarinus officinalis (34,07%) e Poejo, Mentha pulegium (34,07%) (Figura 2). Plantas bioativas citadas Frequência Macela 80,92% Hortelã 48,98% Cidreira 44,72% Losna 36,21% Alecrim e Poejo 34,07% Funcho, Cidró e Melissa 31,95% Erva doce 29,81% Boldo e Sálvia 27,69% Aipo e Cavalinha 25,56% Guaco e Maçanilha 23,43% Camomila 21,30% Endro, Maracujá e Quebra-pedra 19,17% Cobrina e Tansagem 17,04% Babosa e Casca de romã 14,91% Canela, Folha de lima, Gengibre, Malva e Arruda 12,78% Alcachofra, Chapéu-de-couro, Folha de laranjeira, Manjerona e Pitangueira Calêndula, Carqueja, Espada-de-são-jorge, Folha de bergamota, Manjericão, Mil em rama, Pata de vaca e Salsa Alfazema, Arnica, Cancorosa, Cipó-mil-homens, Espinheira Santa, Pimenta e Pau-amargo 10,65% URI, 10-12 de junho de 2015. 6,39% 4,26% III CIECITEC Santo Ângelo – RS – Brasil Baldrana, Catinga de mulata, Comigo-ninguém-pode, Confrei, Fel-da-terra, Guiné, Nica, Pau-ferro, Quininha, Folha de limão, Cânfora, Chá-de-bugre, Erva tostão, Cabiroba, Agrião, Abacate, Ginseng, Ipê roxo, Cabelo de milho, Artemisia e Coronilha 2,13% Obs.: Dentre as planas citadas na pesquisa, cada percentual refere-se ao total de entrevistados, por este motivo a soma das amostras passam dos 100%, pois, cada entrevistado podia informar mais de uma planta. Figura 2: Quadro apresentando a distribuição das plantas bioativas citadas pelas participantes do estudo. Na nossa pesquisa, as seis espécies mais referidas, dentre as 73 plantas citadas, foram a macela, hortelã, cidreira, losna, alecrim, e poejo. Os pesquisadores Macedo, Oshiiwa e Guarido (Marília, SP) relataram que as ervas mais citadas foram cidreira, camomila, chá verde, hortelã, erva doce e carqueja. Já, na pesquisa realizada por Mesquita et al., (região sul, RS) relataram que as plantas mais utilizadas foram a boldo, carqueja, funcho, goiabeira, hortelã e losna. Da mesma forma, na pesquisa de Brasileiro et al. (Governador Valadares, MG) citaram a cidreira, boldo, algodão, hortelã, poejo, tansagem, arnica e camomila como plantas mais utilizadas. Observamos que, dentre as plantas mais utilizadas pelas diferentes pessoas pesquisadas foram a hortelã, cidreira, poejo e losna, dentre uma diversidade de plantas utilizadas. Todas essas pesquisas foram realizadas em diferentes cidades, regiões e estados do Brasil, que por ser um país de extensão continental, possui uma biodiversidade na flora e foi colonizado por diferentes povos com culturas diferentes, que sofreram influência diferentes dos povos nativos indígenas que aqui habitavam. 4 CONCLUSÕES Apesar das participantes relatarem diversas utilidades para as plantas bioativas, a maioria faz uso dessas como medicinais. Em geral a população vem recorrendo ao “conhecimento ecológico tradicional” adquirido sobre as plantas com propriedades medicinais, considerando pelo seu baixo custo, boa fonte terapêutica em diversas patologias de baixa gravidade. Os trabalhos realizados nessa área contribuem para uma integração maior na pesquisa, ensino e sociedade. Tais atitudes acabam por reforçar mais o melhor aproveitamento de alternativas naturais que o ecossistema disponibiliza a toda população. 5 REFERÊNCIAS AZEVEDO, S. K. S.; SILVA, I. M. 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