História da América Meridional

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EaD
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ
VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO – VRG
COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CEaD
Coleção Educação a Distância
Série Livro-Texto
Ivo dos Santos Canabarro
HISTÓRIA DA
AMÉRICA MERIDIONAL
Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil
2010
1
EaD

2010, Editora Unijuí
Rua do Comércio, 1364
98700-000 - Ijuí - RS - Brasil
Fone: (0__55) 3332-0217
Fax: (0__55) 3332-0216
E-mail: [email protected]
www.editoraunijui.com.br
Ivo do s Sa nt os C an abarro
Editor: Gilmar Antonio Bedin
Editor-adjunto: Joel Corso
Capa: Elias Ricardo Schüssler
Designer Educacional: Jociane Dal Molin Berbaum
Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa:
Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil)
Catalogação na Publicação:
Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí
C212h
Canabarro, Ivo dos Santos.
História da América Meridio nal / Ivo dos Sa ntos
Canabarro. – Ijuí : Ed. Unijuí, 2010. – 62 p. – (Coleção
educação a distância. Série livro-texto).
ISBN 978-85-7429-881-8
1. História. 2.America Meridional. 3. America Meridional – Formação histórica. I. Título. II. Série.
CDU : 98
98(=4)
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Sumário
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
CONHECENDO O PROFESSOR .................................................................................................5
APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................7
UNIDADE 1 – DA AMÉRICA COLONIAL AO ESTADO OLIGÁRQUICO.............................9
Seção 1.1 – A América Pré-Colombiana .................................................................................... 10
1.1.1 – Os Astecas ............................................................................................................. 11
1.1.2 – Os Maias ............................................................................................................... 13
1.1.3 – Os Incas ................................................................................................................. 15
Seção 1.2 – A América Após a Chegada de Colombo .............................................................. 17
Seção 1.3 – Dimensões da Organização da Sociedade Colonial ........................................... 21
Seção 1.4 – O Fim do Sistema Colonial .................................................................................... 26
UNIDADE 2 – DA FORMAÇÃO DO ESTADO NACIONAL
AOS CONFLITOS DO SÉCULO 19 .................................................................. 29
Seção 2.1 – A Fase de Instabilidade Político-Administrativa ................................................. 30
Seção 2.2 – A Fase de Estabilidade Política e Econômica ...................................................... 31
Seção 2.3 – Exemplo de Estado Oligárquico: a Argentina .................................................... 34
2.3.1 – Rosas: o caudilho dos caudilhos ........................................................................ 35
2.3.2 – O Processo de Imigração e Industrialização. ................................................... 37
Seção 2.4 – O Paraguai no Século 19........................................................................................ 38
2.4.1 – A Guerra Contra o Paraguai. .............................................................................. 41
UNIDADE 3 – A AMÉRICA MERIDIONAL NO SÉCULO 20 .............................................. 45
Seção 3.1 – O Estado Oligárquico em seu Apogeu e Crise no Século 20............................ 46
Seção 3.2 – A Era do Populismo ................................................................................................. 52
Seção 3.3 – Aspectos das Ditaduras Militares na América Latina ........................................ 55
Seção 3.4 – As Ditaduras Militares na Argentina ................................................................... 55
Seção 3.5 – A Ditadura de Stroessner no Paraguai (1954-1989) .......................................... 57
Seção 3.6 – A Ditadura no Uruguai ........................................................................................... 59
SAIBA MAIS .................................................................................................................................. 61
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Conhecendo o Professor
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
Ivo dos Santos Canabarro
Gosto muito de trabalhar com fotografias, sou fascinado pelos elementos visuais, acredito que eles nos possibilitam o conhecimento de outras realidades. Comecei a pesquisar os arquivos fotográficos no curso de Graduação em História que cursei na Unijuí,
pois naquele período fui bolsista de iniciação científica do CNPq.
Depois, no Mestrado, realizado na UFRGS, continuei a utilizar as
fotografias, ali adas aos depoimentos orais. Após conclui r o
Mestrado comecei a trabalhar na Unijuí no curso de História.
O trabalho como professor no curso de História sempre esteve aliado às atividades de pesquisa, pois considero importante que
o professor não trabalhe apenas com o saber já produzido, mas
que ele também tenha a capacidade de produzir novos conhecimentos. Foi nesta perspectiva que fiz o curso de Doutorado na
Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, e na Universidade de Paris III, na França. A minha tese de Doutorado é um
estudo sobre a cultura fotográfica na Região Noroeste do Rio Grande
do Sul.
Fazer pesquisas é um desafio constante, pois a cada momento descobrimos coisas novas que nos fazem repensar os conhecimentos produzidos. Neste sentido, considero que trabalhar com as
teorias da História é uma possibilidade de pensar o ofício do historiador, que além de dar aulas deve desafiar-se a fazer pesquisas.
Atualmente participo de um grupo de pesquisa intitulado História
e Cultura Visual, que agrega pesquisadores de imagens de todo o
Brasil. A minha pesquisa chama-se “A História pela fotografia”,
que já venho desenvolvendo há alguns anos, mas sempre encontro
questões novas para pesquisar.
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Apresentação
Este componente curricular tem como objetivo estudar a formação histórica das sociedades na América Meridional compreendendo dimensões que vão desde o processo de ocupação até a
contemporaneidade. Os estudos sobre a América Meridional estão direcionados para as diversas formas de ocupação e colonização deste espaço, o que se verificou a partir da chegada dos espanhóis.
Salientamos, porém, que foi uma ocupação em um lugar no
qual já havia uma população nativa, ocasionando então uma
mudança significativa nas formas de organização dos que habitavam o continente antes da chegada dos colonizadores.
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
Etnocentrismo
Significa que um grupo social
faz de sua visão de mundo a
única possível, e discretamente
se for o caso a melhor, a
natural, a superior, a certa. O
grupo do outro fica nesta
lógica como sendo o engraçado, absurdo, anormal ou
inteligível. Este processo
resulta num considerável
reforço de identidade do nosso
grupo. Para maiores detalhes
ver: Rocha, Everaldo. O que é
etnocentrismo. São Paulo:
Brasiliense, 1994.
A chegada dos espanhóis no continente americano causou
um grande impacto, em vista da ocorrência de um choque de culturas, uma vez que os estágios em que viviam os nativos e os
colonizadores eram completamente diversos, assim como também
eram diferentes as organizações sociais dos nativos que aqui viviam.
Não é possível visualizá-los como uma cultura homogênea,
pois havia diversas fases de desenvolvimento, dependendo do lugar que habitavam. Alguns viviam em cidades e outros em estágio ainda tribal, tendo este fator interferido diretamente no processo de colonização. De fato existiram reações ao processo de
colonização e dominação, mas elas foram diferentes e de acordo
com o estágio de evolução dos nativos.
Esse processo inicial de contatos entre espanhóis e nativos
foi num primeiro momento uma reação de estranhamento, pois
ali estava uma diferença cultural muito significativa, ocorrendo
um processo de etnocentrismo, pois o europeu se mostrava superior ao nativo, impondo a sua cultura.
O nativo, por sua vez, foi verdadeiramente dominado pelo
espanhol, pois não dispunha de muitas alternativas para escapar
de ste processo de coloni zação do novo mundo. A ati tude
etnocêntrica dos colonizadores é evidente, pois já saíram da
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Espanha com essa intenção de obter riquezas para o trono e catequizar os nativos, com a
justificativa ideológica de levar o nome de Deus, cristianizando os que ali estavam. A intenção real do colonizador, no entanto, era saquear as riquezas e descobrir os metais preciosos
tão importantes para o mercantilismo.
As reações ao etnocentrismo europeu acontecem das mais variadas formas, alguns
historiadores inclusive defendem a ideia de que os nativos já estavam prevendo serem dominados por uma cultura superior que viria abalar suas vidas. Tudo isso, porém, faz parte de
um imaginário da colonização, até porque os testemunhos que nós temos da época não nos
permitem chegar a essa conclusão.
De fato os espanhóis impressionaram com seus cavalos e armas de fogo, causando um
estranhamento no nativo, que não sabia muito bem como se defender dessa verdadeira invasão que havia sofrido. Nos relatos dos religiosos que acompanharam as expedições, fica
evidente que a invasão foi muito violenta, que eles queimavam povoados inteiros para saquear as riquezas e dominar os nativos.
Esses atos de violência revelavam os verdadeiros objetivos dos espanhóis, qual seja, de
saquear as riquezas, utilizando a fé como pretexto e justificativa para a dominação.
Os nativos realmente não tinham como se defender das armas de fogo que eram utilizadas contra eles, e consequentemente se submeteram ao processo de dominação.
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Unidade 1
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
DA AMÉRICA COLONIAL AO ESTADO OLIGÁRQUICO
OBJETIVOS DESTA UNIDADE
• Apresentar as diversas possibilidades de entendimento do processo de ocupação da América Meridional num período que compreende o pré-colombiano até a chegada e colonização dos espanhóis.
• Descrever os sistemas produtivos dos diferentes povos que habitam a América Meridional.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 1.1 – A América Pré-Colombiana
Seção 1.2 – A América Após a Chegada de Colombo
Seção 1.3 – Dimensões da Organização da Sociedade Colonial
Seção 1.4 – O Fim do Sistema Colonial
Nesta primeira unidade você irá entender algumas dimensões que caracterizam a
América Colonial. Vamos conhecer como os primeiros colonizadores ocuparam socialmente
o espaço, suas formas de trabalho e as relações sociais estabelecidas com os nativos.
As relações entre nativos e colonizadores não foram nada amenas, ou seja, foram
conflituosas, pois o processo de exploração dos recursos naturais foi intenso, e alguns autores, inclusive, consideram que houve realmente um saqueamento das riquezas da América
Colonial.
Os nativos ainda foram utilizados como mão de obra escrava nos primeiros tempos da
colonização e a economia foi desenvolvida para atender à demanda dos países colonizadores, uma vez que estava direcionada para a exportação, mas mantendo-se uma economia de
subsistência para atender às necessidades da população local.
Nesse período colonial tudo girava em torno dos interesses dos países colonizadores.
A política atendia aos interesses das metrópoles, e não havia uma autonomia para propor
novos projetos. A cultura foi constituída por um processo de hibridização, ou seja, juntou-se
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partes dos colonizadores com partes dos colonizados. A consciência dos setores locais em
torno de um projeto político libertador levou ao desmantelamento do antigo sistema colonial, dando origem ao processo de independência. A América Meridional, após o processo de
independência, passou para as mãos de uma elite local, formando-se e então um Estado
oligárquico, centralizador e autoritário.
Seção 1.1
A América Pré-Colombiana
Esta expressão, “América pré-colombiana”, é empregada amplamente na historiografia
para designar o longo período histórico que os povos americanos viveram antes da chegada
de Cristóvão Colombo na América em 1492, ano tido como um marco histórico, pois a partir
daí os nativos que viviam aqui na América foram incorporados à História Moderna.
Essa incorporação não significou um processo de igualdade de relações, muito pelo
contrário, os europeus impuseram o seu etnocentrismo, pois se consideravam superiores aos
nativos, que não eram considerados cristãos. O mais importante a salientar, contudo, é que
estes nativos tiveram as suas vidas totalmente transformadas, sendo subjugados ao processo de colonização.
A entrada da América na História Moderna significou uma incorporação ao que podemos denominar de pré-capitalismo, com o início de uma nova fase no sistema produtivo
europeu. A partir das grandes navegações alguns países europeus conquistaram terras e
riquezas no Novo Mundo. Espanha e Portugal foram agressivos neste processo de expansão, pois investiram capitais e conhecimentos para conquistar riquezas além-mar.
Antes da chegada de Colombo à América já havia uma história, não ligada à Europa,
mas dos nativos que viviam neste espaço. O importante é preservar as diferentes formas de
vivências dos nativos para não cometermos o erro de chamá-los de bárbaros ou selvagens
somente porque não tinham os mesmos hábitos dos europeus.
A organização social dos nativos era bem diferente daquela do europeu, mas isso não
os tornava inferiores, ao contrário do que defendem alguns historiadores, que revelando
uma atitude etnocêntrica, os denominam de bárbaros, selvagens e pagãos. Devemos entender que as culturas têm a sua própria organização, e no caso dos nativos, eles viviam em
diferentes estágios de desenvolvimento, o que os tornava também diferentes entre si, sem,
contudo, que essa diferença seja motivo para que os classifiquemos como inferiores.
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A História da América antes da chegada de Colombo já era vivida pelo menos há aproximadamente 20 mil anos, ou seja, já tinha a sua própria trajetória, independente da Europa, não fazendo parte das classificações históricas dos povos europeus.
Os nativos que viviam aqui na América atingiam um número extremamente expressivo, estima-se que eram aproximadamente 50 milhões de pessoas, mas seus estágios de desenvolvimento eram bem diferentes, vivendo, em sua maioria, em tribos. Alguns, inclusive,
ainda no estágio da pedra lascada, pois eram várias etnias e grupos linguísticos, e outros,
por sua vez, habitavam cidades, apresentando uma organização social mais complexa.
Os nativos tinham os seus próprios credos, os seus deuses, diferentes daquele dos cristãos, gerando, com isso um estranhamento por parte do europeu, que procurava catequizálos. Esses diferentes estágios de desenvolvimento dos nativos foram decisivos para impor todo
o processo de colonização, facilitando ou dificultando a dominação imposta pelo espanhol.
A imposição do processo de ocupação e posterior colonização foi totalmente dramática
para os nativos, pois estes ainda não haviam feito contatos com os brancos, o que de imediato
já causou uma série de problemas, desde doenças contagiosas que ocasionaram a morte de
populações nativas que não possuíam resistência àqueles tipos de vírus e bactérias.
O que mais dizimou, no entanto, foram realmente os saques que os espanhóis faziam,
devastando os povoados em busca de metais preciosos e, mais tarde, com o próprio processo
de escravização do nativo. Alguns historiadores chegam a comentar que esse foi um verdadeiro cataclismo demográfico, ou seja, uma destruição em massa da população nativa.
É importante destacar e ter sempre em mente que na América viviam nativos em diferentes estágios de povoamento, o que torna ainda mais complexo entender o processo de
ocupação. Vamos num primeiro momento apenas fazer alguns comentários sobre estas comunidades ou, como alguns denominam, estas civilizações, por ser uma abordagem ilustrativa
para compreendermos a diversidade da ocupação.
Serão feitas algumas considerações sobre os astecas, maias e incas, mas não pretendemos aqui esgotar o assunto, fazendo apenas uma ilustração destes povos que foram fundamentais para a história da América pré-colombiana.
1.1.1 – OS ASTECAS
As primeiras considerações sobre os astecas descrevem o seu processo de ocupação no
vale do México, mais precisamente às margens do grande Lago Texcoco. Neste local surgiram os primeiros povoados ou civilizações, originários de vários povos que se constituíram
como os astecas propriamente ditos.
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Os astecas foram os últimos a chegarem neste vale. Eram não só provenientes de Astlán,
uma região situada no noroeste do México, como também eram oriundos do sul dos Estados Unidos, vindo a ocupar este vale e formando ali uma civilização bem organizada em
todos os aspectos.
Os astecas ocupavam grande parte do vale do México, e para isso enfrentaram muitos
obstáculos, pois naquele espaço já existiam outras comunidades. Foi realmente um processo de conquista, um processo de ocupação que se deu lentamente, pois os astecas foram aos
poucos dominando o espaço, criando suas comunidades e também as suas cidades.
Construíram a cidade de Tenochtitlán, localizada às margens do Lago Texcoco, local
onde se encontra atualmente a Cidade do México. Esse processo de criação de cidades foi
lento, pois foram construindo aos poucos as cidades de Texcoco e, mais tarde, Tlacopán.
Desta forma foi criado um conjunto de cidades nas quais os astecas estabeleceram os seus
domínios sobre os demais povos que ocupavam os espaços próximos, com isso formado um
verdadeiro império, não sem lutas e violência, pois enfrentaram a resistência dos demais povos.
A cidade de Tenochtitlán ficava exatamente às margens do Lago de Texcoco, sendo
uma região muito pantanosa, apresentando condições de produção muito complexas. Naquele tempo, uma das principais atividades produtivas era a pescaria, e também aproveitavam as terras ao longo do lago, que eram pantanosas, para produzir hortaliças.
Com o processo de conquistas de outras terras foram intensificado a agricultura, criando várias técnicas de plantio e irrigações, sendo possível produzir vários tipos de cereais e
outros alimentos, tais como: milho, feijão, melão, baunilha, cacau, pimentão e mesmo o
algodão. Como podemos perceber, essa agricultura era bem desenvolvida, permitindo o sustento e inclusive o acúmulo de excedentes. Neste contexto, a plantação do cacau foi fundamental para o seu beneficiamento, produzindo o conhecido chocolate, o qual, mais tarde,
com a colonização, levado à Europa.
A organização da propriedade da terra também era diferente da atual, pois para os astecas
ela era, em sua maioria, coletiva, ou seja, de propriedade do Estado, praticamente não existindo a propriedade privada como conhecemos hoje. A distribuição da terra ocorria da seguinte
maneira: cada um dos adultos ou famílias recebiam um pedaço de terra para ser cultivada, na
qual deveria produzir para a família e mais tarde também para guardar como excedente.
Com a expansão dos astecas e conquistas de novas áreas iniciou-se a ocupação privada da terra. Nestas novas áreas conquistadas eram criadas o que chamamos de fazendas
(uma grande propriedade de terras); estas terras privadas passaram a pertencer aos nobres,
pois a sociedade era dividida em castas (o que chamamos atualmente de classes sociais). Os
excedentes produzidos eram comercializados nas cidades, não era utilizada moeda, mas a
troca era em forma de escambo, quer dizer, produto trocado por produto.
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A estrutura da sociedade para os astecas mudou muito desde a sua chegada no vale
do México, pois logo que ocupavam o espaço eles formavam uma sociedade mais homogênea, ou seja, mais igualitária, e governada por sacerdotes. Com o processo de ocupação foi
se formando e complexificando uma verdadeira sociedade de classes.
A divisão social era a seguinte: uma classe dominante (como em toda a sociedade)
formada pelos denominados nobres, que eram chefes guerreiros e os sacerdotes. Depois destes havia uma classe média, formada pelos comerciantes, que acumulavam riquezas, não
com moedas, mas com um grande volume de produtos que iam adquirindo ao longo do
tempo nas atividades comerciais. O povo propriamente dito era dividido em duas camadas:
os que eram classificados como cidadãos comuns e os mais baixos, os escravos.
Os cidadãos comuns que, em sua maioria, dedicavam-se ao cultivo da terra, eram
realmente os trabalhadores, mas também podiam praticar o pequeno comércio e o artesanato. As suas obrigações com o Estado eram várias, pois pagavam os impostos, também prestavam o serviço militar e eram convocados a realizar trabalhos obrigatórios, como na construção da infraestrutura (ruas, pontes, canais e templos). Os escravos eram geralmente os
capturados como prisioneiros de guerras, e alguns sacrificados em nome do Deus-Sol. Os
demais eram condenados pela justiça, como também por dívidas que não podiam pagar.
Os astecas possuíam uma vida cultural bem variada, sua formação cultural foi decorrente da junção das diversas manifestações dos povos que habitavam o vale do México. Os
astecas desenvolveram muitos conhecimentos na área da astronomia, e os aplicavam na
prática da agricultura. Também desenvolveram a Astrologia e a Matemática.
O desenvolvimento da arquitetura foi fenomenal, pois construíram grandes cidades, e
suas construções encantaram inclusive os próprios espanhóis. A cidade mais importante foi
Tenochtitlán, a qual chegou a contar com aproximadamente 500 mil habitantes. Esta cidade era realmente formidável, tendo sido, inclusive, comparada à Veneza, pois contava com
inúmeros canais. A cidade possuía até aquedutos para o fornecimento de água.
A vida cultural também era intensa, e o sistema educacional estava dividido em duas
partes, ou tipos de escolas: a escola Calmecac, local onde estudavam os filhos dos nobres, e
a escola Telpochcalli, frequentada pelos jovens do povo.
1.1.2 – OS MAIAS
Os maias habitavam uma extensa região, que atualmente compreende o sul do México, Guatemala, Honduras e Honduras Britânica. Essa região começou a ser habitada aproximadamente em 300 a.C., o que significa que estes povos já tinham toda uma história
antes da chegada de Colombo na América.
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A história dos maias divide-se em períodos que compreendem três fases: pré-Maia, de
300 a 317; o Antigo Império, 317 a 987, e finalmente o Novo Império, que vai de 987 a 1697.
A primeira fase, conhecida como Pré-Maia, é pouco estudada, pois os indícios documentais são raros, mas entende-se que nessa fase teve início a produção do milho, como
também o começo da construção das cidades. A segunda fase, o Antigo Império, foi um
período marcado pelo estabelecimento de um Estado com características centralizadoras.
Nessa época as cidades maias foram dirigidas pelos monarcas divinos, sendo estes os grandes proprietários de terras, que determinavam como deveriam ser os trabalhos obrigatórios
que a população precisava cumprir. Já na terceira fase, o Novo Império, as cidades reconquistaram a sua independência.
A principal atividade econômica dos maias era a agricultura, e as terras eram de propriedade do Estado. Os produtos cultivados eram os mais diversos, mas basicamente plantavam milho, algodão, feijão, tomate, batata, cacau, etc. Como a agricultura era a principal
atividade, eles lhe dedicavam muita atenção e as técnicas eram aplicadas sempre para conseguir uma maior produtividade, destacando-se, por exemplo, a irrigação. Ao mesmo tempo
também praticavam a queimada, o que contribuía para o esgotamento dos solos.
Os historiadores são unânimes em afirmar que o cultivo do milho era realmente uma
atividade expressiva, e consistia a base da alimentação dos maias, e por ser uma cultura
fácil de praticar, eles dedicavam grande parte de seu tempo a outras ocupações. As demais
atividades eram destinadas à construção de cidades e magníficas obras arquitetônicas, como
seus templos.
A sociedade maia também tinha a sua complexidade, e era basicamente dividida em
classes: a primeira classe incluía os considerados nobres, e constituíam-se em chefes guerreiros; também mantinham a liderança com as tarefas de toda a administração pública. A
classe dos sacerdotes era considerada a segunda na hierarquia; eles controlavam as atividades religiosas e culturais. O povo fazia parte desta classe e também exercia várias atividades, como as produtivas, pagamento de impostos, prestação de serviço militar e trabalhos
obrigatórios para o Estado. A terceira classe na hierarquia era a dos escravos, não muito
numerosa, e formada por prisioneiros de guerras e também condenados pela justiça.
A população total dos maias era estimada em aproximadamente 15 milhões de pessoas, e as famílias eram a base da sociedade, mantendo a preocupação de amparar os velhos.
A arquitetura maia era extremamente desenvolvida, pois construíram extraordinárias cidades com templos, palácios e observatórios. Isso tudo ainda pode ser visitado,
servindo como testemunho do desenvolvimento desta civilização, que impressionou pelo
seu esplendor.
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A questão cultural, porém, não está restrita à cultura material, ela também pode ser
percebida nas ciências, por exemplo, na própria astronomia, considerada tão desenvolvida
quanto a europeia na época dos descobrimentos. Os instrumentos da cultura material também são expressivos, pois já trabalhavam com alguns metais como o ouro e a prata. Também
utilizavam a pedra polida para a confecção de instrumentos, tanto para o trabalho, quanto
para a guerra. Quanto às suas crenças, eram adeptos aos deuses da natureza.
1.1.3 – OS INCAS
Os incas também organizaram um verdadeiro império, formado ao longo dos tempos,
num processo de conquistas de outros povos que habitavam a sua região de abrangência. O
local ocupado pelos maias era extremamente vasto, compreendendo uma região de aproximadamente 950.000 Km 2 , localizada em parte da Colômbia, norte da Argentina e Chile.
Esta região é configurada geograficamente pela Cordilheira dos Andes, ou seja, um
local de difícil ocupação por questões climáticas. Essa região era ocupada há muito tempo,
mesmo antes da chegada dos incas, mas a documentação arqueológica não permite um
estudo mais detalhado dessa fase da ocupação.
A partir do ano 600 este espaço foi ocupado pelos Chimu, que desenvolveram amplamente os processos de irrigação, possibilitando a agricultura. Os Chimu fundaram a cidade
de Chan-Chan, sua capital, que contou com aproximadamente 80 mil pessoas. Os incas
foram sucessores dos Chimu.
Os incas, segundo os estudos, eram oriundos da região amazônica e pertenciam à
etnia quíchua. Tinham a característica de serem bons guerreiros e conquistadores, e com
isso alastraram-se até as terras altas do Peru, conquistando Cuzco. A partir daí as guerras
continuaram no processo de conquistas e expansões, que durou praticamente três séculos,
submetendo ao seu domínio vários povos andinos.
Este processo teve várias fases, mas pode-se citar a conquista do Império Chimu e da
cidade de Tiahuanaco. Este longo processo de expansão é marcado pela conquista de povos
e cidades, bem como pela assimilação de culturas mais desenvolvidas. A expansão dos incas
ocorreu devido as suas constantes guerras e busca de riquezas, consequentemente incorporando povos, culturas e bens materiais. Antes da chegada dos espanhóis eles formavam um
verdadeiro império, com praticamente 8 milhões de habitantes, divididos em vários grupos
étnicos.
Os povos andinos tinham muitas dificuldades de sobreviver num clima e relevo extremamente hostil e, sendo assim, criaram muitas técnicas para desenvolver a agricultura naquele espaço. A agricultura destes povos pré-colombianos era bem adiantada, cultivando
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muitas espécies de alimentos. Para isso várias técnicas foram sendo experimentadas para
dominar o clima e a geografia, desenvolveram a irrigação, transformando a área desértica
em local produtivo, irrigado com as águas das geleiras.
Esse processo agrícola foi realmente bem desenvolvido, inclusive realizavam fertilização dos solos, utilizando o guano como adubo, resíduo proveniente dos excrementos das
aves marinhas. Todo este trabalho de agricultura e realização de obras de infraestrutura
exigia um grande esforço coletivo, e para isso realizavam mutirões para dar conta destas
atividades.
Essa relação com a terra é semelhante aos demais impérios, pois em quase todos ela era
propriedade do Estado. Com o incas este processo se repete, uma vez que não havia a propriedade privada da terra, e sim, a organização em unidades produtivas chamadas de ayllu. O
ayllu consistia num agrupamento de várias tribos num mesmo território, dividido em partes
que compreendiam as terras destinadas ao Deus-Sol, ao imperador e às da comunidade.
Nestes ayllu havia a prática da mita, ou seja, de trabalhos obrigatórios. Quanto às
práticas do comércio, não havia moedas e as trocas eram também em forma de escambo, ou
seja, produto trocado por produto. Os impostos eram pagos pela mita. Toda a produção
excedente era armazenada pelo Estado, para enfrentar eventuais desastres naturais, como
também para sustentar os nobres, sacerdotes e mesmo os militares, os quais dependiam do
auxílio do Estado.
Como todo império, os incas também se dividiam em classes sociais, as quais compreendiam o clero, a nobreza e naturalmente o povo. O clero, responsável pela parte espiritual
do império, tinha como responsabilidade a magia e os rituais. A nobreza era constituída
pela família do nobre, ou seja, do imperador inca; também faziam parte dela os chefes guerreiros e os denominados curacas. O povo era constituído basicamente pelos camponeses, os
quais muito cedo casavam e permaneciam morando no ayllu, praticando a agricultura e
prestando a mita.
Quanto às formas de união, as pessoas casavam um tempo depois de morar juntos, e
os nobres podiam praticar a poligamia.
No que se refere à administração política, havia uma concentração de poder nas mãos
da família do Inca, ou seja, do imperador. Era um tipo de império teocrático, pois o domínio
era exercido em nome do Deus-Sol. Seus poderes estendiam-se ao papel de chefe civil, poder
militar e religioso, e realmente havia uma concentração de poder na sua figura.
O processo de sucessão dos imperadores era extremamente complexo, ocorrendo disputas que incluíam guerras e desordens políticas. Este processo de luta pelo poder serviu
para enfraquecer o império, abrindo uma brecha para a conquista por parte dos espanhóis.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
O grande império era dividido em províncias, cada uma delas com um governador, havendo
uma estrutura política bem organizada, o que possibilitava a perfeita comunicação dentro
do império.
A vida cultural dos incas foi extremamente desenvolvida, pois estes herdaram um significativo patrimônio cultural dos povos da região andina, incorporando vários elementos
destes em sua cultura. Na cultura material destaca-se a arquitetura, com a construção de
grandes edifícios utilizando-se de pedras irregulares que se encaixavam perfeitamente. Este
patrimônio cultural pode ser constatado nas cidades de Cuzco e Machu Picchu, que são
exemplos desta cultura.
Os incas também possuíam um sistema numérico decimal, e eram muito eficientes na
metalurgia, trabalhavam com ouro, prata, cobre e bronze. A tecelagem também foi extremamente desenvolvida, cuja técnica está presente inclusive nos dias atuais.
Essas três civilizações podem ser consideradas as mais desenvolvidas da América PréColombiana, pois viviam em cidades e possuíam formas de produção bem organizadas, mas
mesmo assim foram dominadas e saqueadas pelos espanhóis, e não conseguiram resistir ao
invasor.
Isso não significa que seus integrantes não reagiram aos ataques dos espanhóis, pois
os relatos dos religiosos revelam que os conflitos foram devastadores para a população nativa, que assistiu à destruição de suas cidades e organizações sociais. Com a finalidade de
saquear as riquezas, os espanhóis realmente colocavam fogo nos povoados, matavam a população, não tinham nenhuma piedade, e por incrível que possa parecer, ainda se apresentavam como cristãos que levavam o nome de Deus para os pagãos.
Os nativos que ocupavam mais o sul da América ainda viviam no estágio da pedra
lascada e polida, não pertenciam às grandes civilizações e a sua vivência ainda era em
forma tribal, sofrendo também os ataques dos espanhóis, que procuravam riquezas, principalmente metais.
Seção 1.2
A América Após a Chegada de Colombo
Com a chegada de Colombo, em 1492, a América entra para o mundo moderno, ou
seja, passamos a integrar a modernidade, e com o início do pré-capitalismo vamos fazer
parte de um mundo cuja forma de produção estava em transformação.
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Ivo do s Sa nt os C an abarro
A busca de riquezas fora do continente europeu fazia parte do mercantilismo, que
procurava metais para incrementar a economia. Quando os espanhóis chegaram na América ocorreu um verdadeiro choque de culturas, e, na realidade, este foi um acontecimento
nefasto para os nativos, mas muito lucrativo para os colonizadores. Neste cenário de transformações, a cultura dos nativos passava por uma profunda alteração, pois com a convivência com uma nova forma de organização social e o início do processo de colonização, a
partir daí passariam a ser colônias de exploração da Espanha.
Logo na chegada os espanhóis foram adentrando no território à procura de riquezas.
Este processo foi de submissão dos nativos, para inseri-los no novo sistema econômico estabelecido pelos conquistadores. Esse sistema pode ser designado como colonial mercantilista,
ou seja, já estávamos pertencendo ao pré-capitalismo europeu, com todas as consequências
que isso poderia gerar, e que realmente foram desastrosas para os nativos.
A instituição do sistema colonial fazia parte de todo um processo mais amplo de mudança do feudalismo para o capitalismo. Com a chegada na América efetivou-se este sistema colonial estabelecendo relações de exclusividade entre as metrópoles e as colônias. Assim, tudo o que era explorado e produzido nas colônias era destinado para os países colonizadores. Neste sentido, podemos afirmar que este sistema econômico era complementar ao
pré-capitalismo europeu, ou seja, os metais preciosos eram todos enviados para o país colonizador, além dos produtos tropicais e matérias-primas.
A organização do sistema colonial foi extremamente rígido, pois a Espanha criou todo
um aparato para garantir a dominação nos territórios conquistados, além de estabelecer as
formas de produzir riquezas, organizando as formas de trabalho de acordo com o próprio
sistema mercantilista. O aparato criado pela Espanha era complexo, havia o Conselho das
Índias, tendo a tarefa de organizar as questões judiciais, legislativas, militares e eclesiásticas. Já a Casa de Contratação era responsável pelo comércio. Toda a parte administrativa
era regulamentada pelos vice-reis, que se instalavam por todo o território conquistado, formando o seu núcleo de poder, mas subordinado às metrópoles.
O poder mais local era representado pelos cabildos e ayuntamientos, que consistiam
em órgãos locais de poder; seus representantes eram os descendentes de espanhóis nascidos
na América.
A organização dos territórios conquistados foi distribuída em vice-reinados e capitanias gerais. Foi a forma encontrada para controlar a administração com os vice-reis e os capitães encarregados de manter a estrutura de poder representando a Espanha e seus interesses na América. A distribuição dos vice-reinados ficou assim estabelecida: vice-reinado da
Nova Espanha; vice-reinado da Nova Granada; vice-reinado do Peru; vice-reinado do Rio
da Prata, além de algumas capitanias gerais.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
Ver na biblioteca do conecta Unijuí o mapa com a colonização espanhola na América
Meridional.
O vice-reinado da Nova Espanha se expandia pelo oeste dos Estados Unidos, o atual
México e uma parte da América Central, e, como podemos observar nos diferentes mapas
(disponíveis na biblioteca), era um território muito extenso. Convém salientar que o México
e o Peru foram importantes centros produtores para o sistema colonial, com grande parte da
produção consistindo na extração de metais preciosos, pois era o que a Espanha procurava
naquele período.
Com a decadência da extração de metais, iniciou-se o sistema produtivo agrícola, com
isso dividindo as terras e utilizando-se da mão de obra indígena. A divisão das terras formou
as grandes propriedades, as denominadas fazendas, que eram unidades produtivas rurais
praticamente isoladas do poder da Espanha. Os proprietários das terras, que exploravam os
tributos e o trabalho dos indígenas, eram os espanhóis e seus descendentes. As grandes
propriedades também eram exploradas pela Igreja mexicana, um dos maiores latifundiários
do vice-reinado. Os índios eram os mais explorados, posto que não possuíam direitos, apenas trabalhavam nas grandes fazendas e nas minas.
A localização do vice-reinado da Nova Granada compreende os atuais territórios da
Colômbia, Panamá e Equador, sendo estes territórios os primeiros a ser ocupado pelos espanhóis, nele sendo criados os primeiros povoamentos. Foi a partir daí que os espanhóis se
deslocaram para a conquista dos novos territórios na busca constante de metais preciosos.
Os espanhóis logo na chegada dominaram os nativos, que já se encontravam num acentuado processo de desenvolvimento, e que foram forçados a trabalhar nas minas e, mais tarde,
na agricultura. Os espanhóis, no início, caçavam os índios e os vendiam para as áreas de
mineração, e somente mais tarde começaram a praticar a agricultura com produtos destinados ao mercado europeu, também criando gado para vender para as zonas de mineração.
Na agricultura utilizavam a mão de obra indígena e mais tarde a escravidão negra.
Com a redução do ouro e prata do México, este vice-reinado foi intensificando a sua produção para suprir as necessidades da Espanha.
O vice-reinado do Peru situava-se onde atualmente estão o Peru e parte da atual Bolívia, ou seja, um espaço do Império Inca. Antes da chegada dos espanhóis era um território
muito rico, com metais preciosos que foram motivo de cobiça pelos colonizadores. Após o
saque das riquezas, os espanhóis escravizaram os nativos, obrigando-os a trabalharem nas
minas extraindo metais, como também formaram grandes fazendas, cuja mão de obra era
composta pelos nativos. Os proprietários da minas e os fazendeiros detinham um amplo
poder local, entrando em conflito com os representantes da Coroa.
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Ivo do s Sa nt os C an abarro
Os nativos foram os que mais sofreram com a colonização, pois estavam submetidos à
escravidão, trabalhando nas minas e nas fazendas, tendo sua liberdade condicionada à
prestação do trabalho compulsório. Na nova escala social os nativos estavam condicionados à escravidão, era a classe mais baixa na hierarquia social, acima deles estavam os mestiços, que constituíram uma classe livre, mas que não subiam na escala social e permaneciam temerosos de serem rebaixados a escravos.
Esse processo de colonização também teve as suas reações, a exemplo do caso de
Tupac Amaru, que era descendente de índios, mas revoltou-se contra a servidão e a abusiva
cobrança de impostos, sendo morto e esquartejado pelos espanhóis.
Na parte mais meridional da América tivemos o vice-reinado do Rio da Prata, território
que compreendia um amplo espaço onde atualmente localizam-se a Argentina, Uruguai,
Paraguai e uma parte do Peru e da Bolívia. Como podemos perceber, era realmente uma
extensa área. Começou a ser ocupada ainda no século 16, quando os espanhóis desceram
do Peru e seguiram até o extremo norte da Argentina, chegando ao Rio da Prata, território
que disputavam com os portugueses, todos em busca de ouro e prata. Como não encontraram de imediato, este território permaneceu abandonado por um longo tempo.
Os núcleos de povoamento eram raros, pois não se tinha uma riqueza aparente, então
se atraía um grande número de aventureiros que se dedicavam ao comércio e também à
apropriação de grande quantidade de terras que tinham pouco valor, mas já contava com a
presença de gado selvagem. Os espanhóis geralmente ocupavam as margens do Rio da Prata, pois era uma área dedicada ao comércio e ao contrabando de couro e metais.
Nesse vice-reinado as relações com os nativos de imediato foram diferentes das ocorridas nos demais territórios, pois os espanhóis não encontraram minas, nem cultivavam a
terra. Sendo assim, os nativos não sofreram num primeiro momento o proce sso de
escravização. Os espanhóis tiveram muitos filhos com as nativas, gerando um grande número de mestiços.
Com o declínio da mineração os espanhóis descem em direção ao Rio da Prata e passam a intensificar a atividade agropecuária e o comércio. O couro era o produto de exportação, e também praticavam outras atividades comerciais, pois ali era um porto de entrada de
produtos para os demais vice-reinados. Além disso, o contrabando era amplamente praticado. Os filhos de espanhóis nascidos aqui eram chamados de criollos, e formavam um grupo
que se dedicava à agropecuária, possuindo poder local, sendo decisivos para o processo de
independência desse vice-reinado.
Para além dos vice-reinados ainda havia as capitanias gerais, as quais ficavam subordinadas àqueles. As mais expressivas eram as da Guatemala, Flórida, Cuba, Venezuela e
Chile, e como podemos perceber, ocupavam uma vasta região territorial. Também desenvol20
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
viam atividades produtivas, como nos vice-reinados. Essa divisão territorial em vice-reinados e capitanias gerais foi fundamental para a Espanha controlar todas as atividades de
extração de metais e produção agrícola praticada aqui, pois o pacto colonial obrigava a
enviar para a metrópole toda a produção, bem como a pagar impostos da extração e exportação.
Esse período colonial foi realmente muito longo, mas ao mesmo tempo foi estabelecido
um poder local pelos criollos, que mais tarde se revoltaram com a situação colonial e lutaram pela independência das colônias.
Seção 1.3
Dimensões da Organização da Sociedade Colonial
As formas de trabalho foram extremamente exploradoras, com os espanhóis submetendo os nativos a tarefas que eles não desejavam realizar. Dentre as diversas formas de organização do trabalho podemos destacar a mita, que foi muito utilizada durante todo o período
colonial.
Logo que os espanhóis chegaram à América a busca de metais preciosos foi constante e
a economia mineradora tornou-se responsável pelo enriquecimento da Espanha. A exploração iniciou-se pelos planaltos do México, expandindo-se pela Cordilheira dos Andes, e todo o
trabalho foi feito pelos nativos, com a denominação de mita. Esse sistema consistia num trabalho compulsório que empregava as comunidades dos nativos no processo de mineração.
Os nativos eram forçados ao trabalho nas minas, sendo denominados de mitayos.
Quando os nativos partiam para explorar as minas era feito um verdadeiro ritual, pois rezava-se o oficio dos mortos. Com a mita era feitos muitos deslocamentos dos nativos e o trabalho era tão exaustivo que poucos voltavam vivos para casa.
Além da mita ainda podemos destacar com outra forma de exploração do trabalho dos
nativos, a encomienda, também amplamente utilizada no período colonial americano. Podemos destacar duas formas distintas de atividade econômica, a mineração e a produção
agrícola, e nesta última era adotada a encomienda.
A forma de distribuição da propriedade de terras foi a base da grande propriedade,
conhecidas como fazendas, nas quais eram produzidos gêneros alimentícios e matérias-primas, no início geralmente direcionados para as regiões mineradoras. Com a gradual crise da
mineração, essa produção passou a ser mais destinada ao consumo nas propriedades, e
somente mais tarde para a exportação.
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Ivo do s Sa nt os C an abarro
A partir do século 18, com o auge da crise da mineração, os produtos exportáveis
passaram a ser realmente os produzidos nas grandes fazendas nos territórios do Caribe e do
Rio da Prata, transformando-as em grandes propriedades rurais exportadoras. A forma de
trabalho denominada de encomienda consistia na servidão dos nativos em vastas áreas de
terras apropriadas pelos colonizadores.
A administração colonial reconhecia a propriedade privada do colonizador e encomendava um considerável número de nativos, os quais deveriam pagar tributos aos proprietários de terras sob a forma de prestação de serviços. O encomendeiro, porém, tinha suas
obrigações, tais como cristianizar os nativos que lhe prestavam serviços e também pagar
impostos à Coroa pelo número de nativos confinados.
Outra forma de trabalho presente na América foi a escravidão negra, introduzida a
partir do século 16 nas regiões onde os nativos resistiam à servidão ou foram exterminados
pelos espanhóis. Podemos perceber que os negros trabalhavam nas Antilhas, alguns também nas minas e no serviço doméstico das grandes fazendas. Alguns historiadores defendem
a tese de que a Espanha não participava diretamente do tráfico de escravos, mas que comprava de outras companhias, como dos portugueses, que praticaram intensamente o tráfico
por vários séculos.
Os escravos negros também reagiam à escravidão por meio de fugas e motins, pois não
aceitavam facilmente as condições de trabalho impostas pelos seus proprietários.
A intensa exploração dos nativos despertou o interesse da Igreja, que mandou para as
terras americanas a Companhia de Jesus, ainda no século 16, formando assim o que podemos denominar de Reduções Jesuíticas. No Rio Grande do Sul tivemos os sete povos das
missões: São Francisco de Borja, São Nicolau, São Luiz Gonzaga, São Miguel Arcanjo, São
Lourenço Mártir, São João Batista e Santo Ângelo Custódio, sendo um dos mais conhecidos
o de São Miguel, patrimônio da humanidade reconhecido pela Unesco.
As reduções ocupavam grandes territórios e agrupavam um grande número de índios,
os quais viviam coletivamente, praticavam a agricultura, a pesca e o artesanato, mas em
troca eram cristianizados pelos jesuítas. Nas reduções a distribuição dos bens era igualitária, pois produziam para viver e manter a ordem religiosa, os nativos eram inclusive alfabetizados em sua própria língua.
Também podemos constatar a presença do trabalho semilivre, que se iniciou ainda no
final do século 16, nas grandes fazendas e mais tarde se estendeu para as minas, onde era
conhecido como sistema de peonagem, que em algumas regiões ainda persiste na atualidade. É uma forma de trabalho assalariado, mas o trabalhador recebe o seu salário em produtos e não em dinheiro. Esses produtos podem ser os mais variados possíveis, tais como:
carne, cachaça, roupas, utensílios, etc.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
O detalhe desta relação é a seguinte: esses produtos são comprados nos armazéns das
minas ou fazendas por um preço muito alto. Sendo assim, o trabalhador fica permanentemente endividado, e isso faz com que ele continue trabalhando para esse mesmo patrão pelo
resto de sua vida, caracterizando mais uma servidão do que um trabalho livre.
A estrutura comercial da América Espanhola era totalmente atrelada à metrópole, pois
as relações eram estabelecidas a partir dos tratados que os regulamentavam. No início do
processo de colonização tudo era feito a partir de Castela, pois foi instituída a Casa de
Contratación para cuidar da administração da América Espanhola. O comércio era feito
todo pelo porto de Sevilha, e a partir de 1717 o porto único foi transferido para Cádiz.
No século 18 foi posto fim ao regime de porto único. Sendo assim, qualquer porto
espanhol poderia comercializar com a América. Toda a produção de metais explorados aqui
deveria ser enviadas à Espanha, bem como as matérias-primas que aqui eram produzidas. O
ouro e a prata pagavam altos impostos, e era chamado de quinto um imposto de 20% sobre
o metal. Os produtos manufaturados importados pelas colônias eram comprados com um
alto preço, resultando em altos ganhos por para a Espanha.
Nas colônias poderiam ser praticados a produção de manufaturas e o artesanato. Isso
servia para atender à economia interna, mas era proibido elaborar produtos que concorressem com a metrópole, como o vinho. Durante um longo período as colônias não podiam
comercializar entre si, pois todo o comércio deveria ser feito pelos espanhóis, no entanto era
possível encontrar práticas de contrabando.
A Espanha tinha uma fraca indústria, que não conseguia atender às demandas das
colônias. Com isso, havia muito contrabando, inclusive com a permissão dos administradores locais, que recebiam propinas para permitir que os navios estrangeiros atracassem e
vendessem as suas mercadorias para as colônias. Os funcionários corruptos recebiam muitas propinas por permitir esse comércio, juntando muito dinheiro e voltando a viver na
Espanha. Os ingleses, holandeses e franceses frequentavam constantemente os portos para
fazer contrabando, vendiam os produtos manufaturados, e, em troca, compravam produtos
agrícolas recebendo em ouro e prata, comércio lucrativo para os contrabandistas.
A sociedade espanhola era extremamente tradicional, possuindo resquícios do feudalismo, mostrando-se muito aristocrática e fechada, transferindo esse modelo para as colônias. Os critérios para classificações dos indivíduos em classes sociais foi estabelecido pela
renda de cada um, pelo poder e nascimento. Aqui ainda levava-se em conta a cor da pele,
tudo isso era critério para a alocação nas classes.
Outra grande herança espanhola foi a questão da grande propriedade, pois foi constituída uma estrutura agrária com predomínio dos latifúndios destinados aos conquistadores
e seus sucessores. A estrutura dos latifúndios é um modelo que começou no período colonial
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e que persiste até a atualidade. Toda a produção colonial era destinada para a metrópole,
assim o desenvolvimento interno das colônias foi extremamente prejudicado, pois não se
investia internamente.
A estrutura social determinava que no seu topo ficariam alocados os espanhóis provenientes da península ibérica, os denominados chapetones, descendentes da nobreza
empobrecida da Espanha. Esses chapetones ocupavam todos os cargos administrativos das
colônias, pois eram os letrados, também tornando-se donos das grandes propriedades e das
minas, portanto tinham poder político e econômico ao mesmo tempo.
Abaixo dos chapetones ficavam os criollos. Esses eram os filhos de espanhóis nascidos
na América, mas não podiam ter mestiçagem, ou seja, não podiam ter cruzamento interétnico.
Os criollos geralmente eram grandes proprietários de terras, mas também comerciantes. Não
podiam ocupar altos cargos administrativos, mas participavam dos cabildos, um órgão que
representava o poder local.
O modelo de estrutura de classes foi complexo, pois sempre privilegiou os brancos e a
superioridade da raça e do sangue, e isso, de imediato, já excluía índios, negros, mestiços e
outros cruzamentos raciais. Os mestiços, resultado do cruzamento de brancos com índios,
de brancos e negros e de negros com índios, constituíam a maior parcela da população, mas
nunca ocupavam os cargos administrativos, no máximo poderiam ser capatazes das fazendas e minas, bem como mão de obra servil e livre.
Na base da sociedade estavam os índios, que na época da chegada dos espanhóis eram
aproximadamente 30 milhões e ficaram reduzidos a cerca de 10 milhões. Isso comprova o
verdadeiro massacre que essa população sofreu ao longo do processo de colonização, pois
foram condenados à servidão nas minas e fazendas.
Na tentativa de interferir no massacre dos índios, a Espanha criou a Lei das Índias,
que procurava proteger a organização comunitária da propriedade e do trabalho indígena.
Na prática, porém, essas leis não funcionaram, pois o encomendero que cobrava impostos e
estava encarregado de cristianizar os indígenas, na realidade os explorava ainda mais, transformando-os em força de trabalho e quando estes morriam ou deixavam as terras, ficava
com elas.
Essa mesma Lei da Índias também proibia a mita, mas isso, na prática, também não
teve acesso, pois os índios continuavam a ser alocados em trabalhos forçados, o que contribuiu decisivamente para o genocídio desse povo. Na lei foi instituída a igualdade de direitos
entre índios e espanhóis, mas isso somente existiu formalmente, pois na realidade os indígenas continuaram a ser mão de obra nas fazendas e minas.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
A cultura colonial foi uma imposição dos espanhóis sobre os colonizados, e a
cristianização, mais especificamente o catolicismo, que era a religião oficial dos espanhóis,
a maior delas. Com a imposição do cristianismo as crenças dos nativos foram todas relegadas
a segundo plano, algumas proibidas e até consideradas heresias.
O clero participou de todo o processo de colonização, em acordo com a Coroa, pois
eram os reis que nomeavam os religiosos, bem como cobravam o dízimo. Convém salientar
que a Igreja Católica Espanhola foi a que mais praticou a Inquisição, e na América a
Santa Inquisição foi realmente de causar medo nos colonos. Qualquer coisa poderia ser
considerada como heresia, e os religiosos ainda estavam na caça de judeus, muçulmanos
e protestantes. Por outro lado, também foram tenazes na conversão dos índios ao cristianismo.
A Igreja Católica foi representada também pela Companhia de Jesus, cujos integrantes eram os que mais se dedicavam a catequizar os índios. Os jesuítas foram implacáveis na difusão do cristianismo e no combate às heresias, sendo os principais responsáveis pela introdução do cristianismo na América, e no seu trabalho de cristianização
criaram escolas, batizaram índios e colonos e tentaram de todas as formas livrar os índios da escravidão.
Foram os responsáveis pelas missões jesuíticas, como já vimos anteriormente, e obedeciam diretamente ao papa. Nesse sentido, não acatavam as ordens dos bispos e demais
autoridades eclesiásticas, e após muito tempo de conflito com as autoridades, foram expulsos da América Espanhola e Portuguesa no século 18.
O estilo barroco também esteve presente na América Espanhola, mostrando-se uma
fiel reprodução do que estava em voga na Europa e muito divulgado pelos jesuítas a partir
do século 17, chegando ao seu auge no século 18. A arquitetura foi decisivamente influenciada
pelo barroco: cidades inteiras, como exemplo algumas do Peru, e vários tipos de construções, como igrejas, cadeias, cabildos e mesmo residências particulares, todas seguindo os
traços da arquitetura barroca. As igrejas eram as que mais ostentavam as riquezas, todas
barrocas, com pinturas e altares recobertos com finas camadas de ouro. O barroco também influenciou a própria literatura, sendo fruto da sociedade colonial, ou seja, as artes
em geral eram todas influenciadas por este estilo, que possuía seus próprios fundamentos
estéticos.
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Seção 1.4
O Fim do Sistema Colonial
O período colonial foi o mais longo de toda a história da América Espanhola, pois
começou no século 16 e foi até o início do século 19, mais de três séculos de intensa exploração da Espanha em todos os territórios, nos vice-reinados e capitanias gerais. Durante
todo o período colonial a produção mineral e agropecuária era destinada à metrópole, além,
é claro, dos impostos que os colonos tinham de pagar. Houve inclusive a concorrência desleal dos produtos aqui produzidos com os comprados da Europa.
No começo do século 19 iniciaram-se as lutas pela independência, pois os que aqui
viviam não suportavam mais a dominação da Espanha e queriam liberdade de comércio e
produção.
Neste processo de independência podemos destacar o papel fundamental dos criollos,
filhos de espanhóis nascidos na América, e que foram os que mais ansiavam pela independência, daí deflagrando todo um processo de lutas contra a Espanha.
Este período violento começou no século 19. Nos vários vice-reinados ocorreram lutas
pela independência, mobilizadas pelos criollos, para acabar com as velhas estruturas coloniais, mas a Espanha reagiu violentamente a esse processo, pois não desejava o fim do
período colonial. Os criollos, por sua vez, se mostraram muito organizados e com força de
mobilização, mantendo a luta até conseguirem definitivamente a libertação da Espanha,
tendo fim o longo período colonial.
SÍNTESE DA UNIDADE 1
Nesta Unidade visualizamos duas fases da América: num primeiro
momento o período pré-colombiano, ou seja, antes da chegada de
Colombo à América, um longuíssimo período da história da América, muito pouco conhecido por nós, pois os estudos históricos não
são muito expressivos. Este período ficou marcado pelas diferentes
formas de organizações sociais dos nativos, que viviam aqui antes
da chegada de Colombo. As formas de organização social eram
realmente bem diversas, pois alguns ainda viviam de forma tribal,
no período da pedra lascada ou da pedra polida, e outros já se
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
organizavam em civilizações. Os nativos mais ao norte já viviam
mais organizados em civilizações, como os incas, maias e astecas,
que habitavam as cidades, com técnicas de produção avançadas.
Os nativos mais ao sul ainda viviam em estágios tribais, praticamente vivendo da caça e pesca nas florestas.
Na segunda fase, já após a chegada de Colombo, no período colonial, a América ficou conhecida como América Espanhola, e foram
praticamente três séculos de dominação e exploração. Os nativos
foram os que mais sofreram com esse processo de exploração, pois
grande parte foi dizimada pelos trabalhos realizados ou mesmo
morta na tentativa dos colonizadores de saquearem as suas riquezas. O sistema colonial instalado aqui dava todos os privilégios
para a Espanha, os colonos tinham de produzir em função da metrópole, e foi criada toda uma estrutura colonial para que tudo
funcionasse como a Coroa desejava. O sistema colonial sempre
funcionou para legitimar o poder da Espanha na América, até o
ponto em que os criollos não aceitaram mais o sistema, se organizando e vencendo o domínio espanhol.
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Unidade 2
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
DA FORMAÇÃO DO ESTADO NACIONAL
AOS CONFLITOS DO SÉCULO 19
OBJETIVOS DESTA UNIDADE
• Identificar as perspectivas do Estado oligárquico que se apresentou de forma diferenciada
em alguns países, cada um com suas especificidades.
• Descrever as características que marcaram a experiência do Estado oligárquico no século 19.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 2.1 – A Fase de Instabilidade Político-Administrativa
Seção 2.2 – A Fase de Estabilidade Política e Econômica
Seção 2.3 – Exemplo de Estado Oligárquico: a Argentina
Nesta Unidade você vai estudar o processo de formação do Estado Nacional, como
ocorreu a sua efetivação após o processo de independências, estruturado a partir de um
acordo entre as elites locais, garantir suas formas de poder centralizador. Nesta perspectiva
forma-se o Estado oligárquico, ou seja, o poder estava nas mãos das oligarquias locais,
chegando, em alguns países, a formar o caudilhismo.
A centralização do poder causou vários problemas entre países vizinhos, pois procurava-se expandir as fronteiras e seus domínios, originando alguns conflitos na Bacia do Prata.
A expansão dos conflitos gerou um panorama de instabilidade no século 19, comprometendo inclusive a estabilidade do Estado oligárquico. O conflito mais intenso foi a guerra contra o Paraguai, que dizimou este país, acabando com o sonho de se tornar um país livre em
termos de economia, pois no século 19 os países do Prata dependiam das exportações para
estabilizar sua economia.
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Seção 2.1
A Fase de Instabilidade Político-Administrativa
Esta primeira fase após o processo de independências foi marcada por um longo período
de reestruturação de toda a sociedade, pois ainda não estava definido exatamente como
seriam as bases do Estado. Alguns historiadores chamam esta de fase da anarquia, haja
vista que ainda não se tinha organizado as formas administrativas, tendo essa expressão
sido largamente utilizada na historiografia latino-americana, pois remete a um período difícil no processo político destes novos países independentes, que passaram por um longo
processo até atingir um ordenamento estável.
Por outro lado, os historiadores também observam que essa desorganização do Estado
deu origem ao fenômeno conhecido como caudilhismo, ou seja, o poder concentrado nas
mãos de uma figura política centralizadora, denominado caudilho. Isso tudo atestou a incapacidade das classes dominantes de instituir um Estado que realmente ocupasse um lugar
de poder, sendo um processo muito longo no decorrer do século 19.
Podemos afirmar que após a independência foi marcante a militarização na sociedade
latino-americana, pois o Estado ainda não se encontrava estruturado. Os militares desempenhavam vários papéis, e estavam quase sempre presentes nos momentos em que a classe
dominante não conseguia um consenso, com cada segmento tentando impor a sua hegemonia
sobre as demais classes.
Outro papel dos militares era servir como mediadores para acalmar conflitos em alguns países que apresentavam a economia totalmente debilitada em decorrência do processo de independência. A economia foi a que mais se desestabilizou, pelo fato de ter ficado
muito tempo sem receber os capitais dos investidores estrangeiros. A situação de instabilidade e as dificuldades de impor uma política estável, transformaram toda a economia da
América Latina num verdadeiro caos, uma situação totalmente dramática para esses países
livres. A interrupção das exportações foi a principal causa do desequilíbrio econômico.
Toda esta instabilidade política e econômica que abateu a América Latina foi decorrente das lutas de poder, criando um clima de pessimismo em vários países, principalmente
a partir de 1830, dando margem para que segmentos tradicionais tomassem o poder e constituíssem um Estado totalmente conservador. Podemos citar vários exemplos destes conservadores e centralizadores no poder, tais como: Antonio López de Santa Anna, no México,
Juan Manoel Rosas, na Argentina (este foi, no sentido literal da palavra, um verdadeiro
caudilho), além de Diego Portales, no Chile.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
A instabilidade econômica entrou em uma outra fase na
segunda metade do século 19, pois a partir desse período foi percebido um acelerado desenvolvimento do setor primário exporta-
Terras comunais
São propriedades de uso
coletivo que ainda havia no
século 19 na Argentina.
dor, isso tudo devido a uma melhor organização das economias
internas pela intervenção do Estado.
Por outro lado, a economia europeia também já se encontrava estável, demandando mais produtos primários e, com isso,
fortalecendo a economia dos países exportadores de matérias-primas. Com a recuperação, fez-se necessário uma nova política
econômica, com a reformulação do sistema fiscal, pois alguns
segmentos sociais mais produtivos defendiam que seria preciso
abolir os impostos abusivos que impediam determinadas atividades mercantis.
Alguns destes impostos eram resquícios do período colonial,
tais como o dízimo e a alcabala, e os segmentos mais liberais
defendiam o seu fim, bem como argumentavam que o governo
federal não deveria intervir em determinados assuntos econômicos, por exemplo, nas tarifas alfandegárias protecionistas e nos
privilégios de certas empresas públicas.
Seção 2.2
A Fase de Estabilidade Política e Econômica
Na segunda metade do século 19 já se percebia certa estabilidade econômica e política, tendendo a estabilizar as relações
sociais, até então conflituosas. Em muitos países os liberais conquistaram o poder e lutaram pelas reformas fundiárias, na tentativa de apropriação de grande parte de terras que os índios ocupavam. Outro projeto seria a formação de um mercado de trabalho, pois no novo contexto econômico era preciso criar uma mão
de obra que atendesse as demandas do novo mercado.
Os liberais no poder eram a favor da expulsão dos índios
das terras comunais e pretendiam também nacionalizar os bens
do clero. Eles viam como uma ameaça ao seu poder os privilégios
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Campanha do Deserto
do clero, dado que pretendiam pôr em prática um projeto de mo-
A campanha do deserto
consistia em ampliar o
povoamento rumo às regiões
ainda desérticas e que
precisariam ser ocupadas e
colonizadas.
dernização econômica e social. Esses liberais denunciavam que
o clero não poderia mais ter o poder de decisão na educação e
cultura, pois viam isso como uma forma de centralização da liberdade de pensamento.
A intervenção dos liberais foi decisiva no novo modelo de
Estado, conquistando o poder em diversos países, como na Argentina e no Uruguai onde, a partir de 1830, introduziram políticas de contenção do próprio clero. O outro objetivo dos liberais
era a desapropriação das terras indígenas, no que obtiveram muito
sucesso em toda a América Latina. No caso específico da Argentina foi estabelecida a campanha do deserto, que ocasionou o
total extermínio dos índios que habitavam o sul do país. No caso
do Chile, ocorreu uma verdadeira matança de índios, exterminando essa população de nativos.
A historiografia latino-americana descreve que a atuação
dos caudilhos foi realmente muito controvertida, pois eles representavam algum segmento da classe dominante, não tendo uma
legitimidade em relação a todos os grupos sociais. Isso gerou tensão entre os caudilhos, resultando em muitas guerras civis entre
eles, que desejavam a concentração de poder em suas mãos.
Os caudilhos representavam um segmento mais conservador, que defendia um Estado centralizador, com o poder concentrado num governante com reconhecimento popular. Os caudilhos eram temidos e ao mesmo tempo respeitados e amados, pois
eles realmente personalizavam o poder de decisão.
A configuração do Estado nacional foi de fato um longo
processo, pois os grupos que assumiam o poder não tinham uma
visão muito clara do que concretamente era necessário fazer para
dar conta de toda uma diversidade socioeconômica vivenciada
por esses países.
Era possível perceber vários estágios de desenvolvimento da
própria economia, até se chegar a uma definição mais precisa do
capitalismo, pois como o período colonial foi muito amplo, as
mudanças também foram lentas. Havia, como declaram os historiadores, um verdadeiro hibridismo na matriz econômica e social.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
O Estado nacional institui verdadeiramente uma nova matriz econômica, agora baseada no
grande latifúndio, daí decorrendo um grande processo de desapropriações de terras, as quais
foram parar nas mãos dos latifundiários ligados ao setor primário exportador.
O Estado nacional, a partir de suas novas políticas, foi incisivo na efetivação de uma
estrutura econômica mais compatível com o mercado externo, conquistando dessa forma
uma retomada dos negócios internacionais. O latifúndio foi responsável pelo incremento da
produção para exportação, aumentando significativamente a quantidade de produtos. Nesta fase a economia já estava mais estabilizada, mas direcionada para o mercado externo,
marcando decisivamente o mercado latino-americano, que adotou uma economia voltada
para as exportações.
O ordenamento político passou para as oligarquias primário-exportadoras, estabelecendo, desta forma, um modelo de Estado extremamente centralizador, com o poder concentrado nas mãos desse segmento dominante. Neste sentido, podemos perceber que este
foi um momento de consolidação do Estado Nacional e para isso também foi importante a
configuração de um modelo exportador, que conseguiu alavancar a economia.
Com isso, alguns segmentos da classe dominante conseguiram fazer parte do Estado, com a posse de capital suficiente para impor o seu domínio sobre os demais. Sendo
assim, configurou-se esse segmento dominante tanto no comando político quanto na economia. Vale destacar que desde a segunda metade do século 19 a Europa já se encontrava
plenamente recuperada economicamente, impulsionando o processo de industrialização,
e com isso importando matéria- prima da América Latina. Essa foi a nova configuração do
capitalismo, ou seja, os países europeus industrializados e os demais fornecendo a matéria-prima.
Esse modelo econômico primário-exportador caracterizou o capitalismo na América
Latina a partir do século 19 e parte do século 20, até se estabelecer o processo de industrialização, que ocorreu bem mais tarde por aqui. Esse modelo primário-exportador revelou-se
muito importante para o capitalismo da Europa e dos Estados Unidos, pois nós vendíamos
para eles a matéria-prima por um preço baixo e adquiríamos os produtos industrializados
por um preço muito alto.
Esses países industrializados ganharam muito nestas trocas desiguais e por isso investiram parte deste capital por aqui, possibilitando a construção de estradas de ferro, a instalação de iluminação elétrica, como também estabelecendo filiais de bancos. No decorrer do
século 19 era necessário a formação de mão de obra para atuar nesta produção primária, e
por isso gradualmente foi ocorrendo a abolição da escravatura, um passo fundamental para
a consolidação do capitalismo como modo de produção dominante.
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Ivo do s Sa nt os C an abarro
A configuração do capitalismo na América Latina foi um processo muito longo, pois a
escravidão ainda estava presente ao lado do trabalho livre, gerando toda uma contradição
nas relações de trabalho. Ainda prevaleciam algumas práticas pré-capitalistas, juntamente
com o capitalismo, com os segmentos dominantes mantendo o seu poder de coerção sobre
os demais segmentos sociais.
É importante frisar que foi somente com essa oligarquia primário-exportadora que
realmente se instalaram as bases efetivas para o desenvolvimento do capitalismo. Já no
final do século 19 percebeu-se uma estabilidade social, econômica e política, demonstrando
o sucesso do capitalismo na América Latina como um todo. Todo esse período de estabilidade foi decorrente da atuação desses segmentos primário-exportadores, que desenvolveram
um projeto que atendia aos interesses internos, aliados ao próprio desenvolvimento do capitalismo internacional.
Os demais segmentos sociais foram, gradativamente, se ajustando às determinações
desses dominantes, inclusive os populares, que acabaram se constituindo mão de obra para
este modelo exportador. Com esse processo o modelo de Estado nacional acabou sendo
consolidado a partir da inserção destas economias periféricas latino-americanas a um modelo capitalista dominante nos países industrializados.
Grande parte dos autores discute o capitalismo na América Latina defendendo a ideia
de modelo primário exportador dependente dos rumos do capitalismo internacional. Essa é
a verdadeira ideia de teoria da dependência, que vigoraram muito tempo nas teorias clássicas sobre a dependência, para explicar o modelo capitalista. Atualmente já existem outras
correntes teóricas que discutem o capitalismo de um outro ângulo.
Seção 2.3
Exemplo de Estado Oligárquico: a Argentina
Após o processo de independência a Argentina foi governada pelos unitaristas. Isso
revelava o poder de Buenos Aires sobre as demais províncias que possuíam liberdade de
comércio, mas as rendas obtidas com a exportação sempre ficavam na alfândega de Buenos
Aires.
Este segmento que ocupou o poder apresentava-se como liberal, mas era um grupo
oligárquico, extremamente conservador, pois ainda preservava as mesmas atitudes do período
colonial, tentando impor o seu domínio sobre as demais províncias. Havia, entretanto, uma
outra oligarquia que vivia no interior e que não se dedicava ao comércio, ou seja, os grandes
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
proprietários rurais, que estavam mais preocupados em manter as suas grandes propriedades
de terras, levando uma vida simples no campo. Por outro lado, os que viviam em Buenos Aires
adotavam hábitos europeus e importavam todos os produtos manufaturados do exterior.
Essa oligarquia interiorana era conhecida como federalista, porque defendia a
descentralização econômica e política, ou seja, lutava pela autonomia das províncias do
interior, opondo-se aos unitaristas de Buenos Aires. Ambas as oligarquias lutavam constantemente após o processo de independência.
Os unitaristas assumiram o poder realizando uma política que favorecia Buenos Aires,
e todas as exportações e importações eram taxadas na sua alfândega, arrecadando um bom
capital. Esse era o papel que a metrópole exercia no período colonial, quando Buenos Aires
detinha todo o controle sobre a economia da Argentina, pois todos os bancos estavam lá
localizados, e também era responsável pela emissão da moeda.
Nos primeiros anos após a independência os federalistas permaneceram acuados, pois
estavam subordinados ao centralismo dos portenhos, ou seja, dos unitaristas. Essa situação
era totalmente desfavorável para as províncias, pois estas não conseguiam competir com os
produtos manufaturados importados da Inglaterra.
Os artesãos das províncias lutavam ferozmente contra a hegemonia de Buenos Aires,
porque a liberdade de importação desvalorizava os produtos locais, gerando uma concorrência desleal, pois os produtos, não raras vezes, custavam mais caro que os importados,
que apresentavam uma qualidade superior aos confeccionados artesanalmente.
A mão de obra local das estâncias era feita pelos gaúchos, um tipo social interiorano
que vivia da criação e matança de gado, que com a exportação destes produtos ficaram à
margem do mercado de trabalho e acabaram formando as tropas dos caudilhos que lutavam
contra a hegemonia de Buenos Aires. Com a guerra civil de 1828 a 1829 os unitaristas de
Buenos Aires foram destituídos do poder e cada província passou a desfrutar de autonomia.
2.3.1 – ROSAS: o caudilho dos caudilhos
Na própria guerra civil um nome se destacou: Juan Manoel Rosas, um rico proprietário de terras da Província de Buenos Aires, que obteve apoio dos caudilhos do interior, conquistando o poder desta província com o apoio dos aliados das demais províncias interioranas.
Rosas ficou conhecido como o “caudilho dos caudilhos”, pois enorme era o seu poder, tendo
a capacidade de dominar toda a vida política da Federação, procurando desta forma a consolidação da unidade nacional. Seu poder era reconhecido pelos demais caudilhos das províncias do interior, que mantinham sua autonomia política, mas cabia a Buenos Aires cuidar das relações exteriores da Federação.
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Ivo do s Sa nt os C an abarro
Rosas era um herói da oligarquia rural conservadora e das massas populares que não
eram atendidas por ninguém, ou seja, totalmente desassistidas. O apoio a Rosas era basicamente concedido pelos ricos porque ele era capaz de impor ordem na política, garantindo
assim a prosperidade deste segmento. Por outro lado, as classes populares eram submetidas
ao seu poder porque ele era tido como típico gaúcho, era respeitado e venerado inclusive em
procissões, que carregavam a sua imagem, quase como um Deus.
Rosas instituiu uma política severa em relação à economia e estabeleceu uma legislação alfandegária protecionista. Essas medidas estendiam-se ao artesanato, ficando proibido
importar selas de cavalo, tecidos de lã e algodão, sapatos, bebidas alcoólicas, frutas secas e
demais gêneros. Com isso acabaria a concorrência entre o artesanato local e os produtos
importados. Essa medida também mantinha os rios do interior fechados ao comércio externo.
Durante o governo de Rosas não havia na Argentina uma burguesia industrial, portanto o país era dominado pela burguesia comercial e pelos grandes proprietários de terras,
voltados para o comércio externo, pois naquela ocasião ainda não havia interesse em investir no processo de industrialização.
A Argentina era especializada em produzir produtos agrícolas e consequentemente
importar os produtos manufaturados, e fazia parte do sistema capitalista global, que designava alguns países a produzir manufaturados e outros a fornecer matérias-primas. A Argentina importava quase tudo da Inglaterra, e com isso forçando a abertura dos rios para a
navegação internacional, com o apoio dos grandes proprietários e grandes comerciantes.
Rosas, ao longo de seu governo como caudilho dos caudilhos, obteve significativa
credibilidade por parte do povo, pois era temido e amado ao mesmo tempo, mas todo o seu
esforço não logrou quebrar o domínio do porto de Buenos Aires sobre o comércio internacional. As províncias, apesar das medidas protecionistas, não conseguiam entrar no comércio
internacional, portanto o seu artesanato era destinado ao consumo interno.
Buenos Aires ainda continuava a concentrar a renda e a população, e algumas províncias do interior permaneciam quase que despovoadas, sendo assim os portenhos ainda
continuavam a exercer as atividades mais lucrativas. O governo de Rosas foi a demonstração de que o caudilhismo obteve muito respaldo na América Latina, concentrando o poder
nas mãos de um sujeito autoritário e popular ao mesmo tempo.
O governo de Rosas teve fim por um movimento militar liderado por Justo José Urquiza,
governador da Província de Entre-Rios. O movimento teve apoio do Brasil e do Partido
Colorado do Uruguai. Com a derrota de Rosas na Argentina foi instituído um Estado nacional
dominado pelos comerciantes portenhos e pela aristocracia rural de Buenos Aires, todos
vinculados ao imperialismo inglês.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
O Estado liberal foi concebido pelos grandes proprietários de estâncias e dos setores ligados ao comércio internacional, e funcionou plenamente no período de 1870 a
1930. Esse mesmo Estado acabou com a autonomia regional das oligarquias não vinculadas ao mercado externo. Desta forma, o setor exportador impôs sua hegemonia em toda
a Argentina.
2.3.2 – O PROCESSO DE IMIGRAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO
As elites que conquistaram o poder após a queda de Rosas eram economicamente mais
diversificadas, ou seja, não apenas ligadas à exportação. As novas teorias econômicas das
elites refletiam as concepções que vinham do exterior, pois apresentavam um verdadeiro
entrave para o desenvolvimento, os denominados gaúchos, que eram os interioranos definidos como bárbaros, entendidos um dos motivos do subdesenvolvimento da Argentina.
As elites que conquistaram o poder começavam a mostrar preconceitos em relação à
mestiçagem, desejavam um verdadeiro branqueamento da população, pois os mestiços eram
a maioria. Para resolver este problema de branqueamento da raça a solução encontrada foi
a imigração.
O processo de imigração foi intenso. Decorrente disto a população aumentou consideravelmente a partir de 1880, e o processo de branqueamento ocorreu de forma gradativa. A
mestiçagem ficou amenizada, pois a miscigenação foi significativa. O governo criou uma
legislação que concedia vantagens para os estrangeiros em relação aos nativos, atraindo
assim, um número muito grande de imigrantes para este país.
No começo a imigração foi feita em colonização oficial, ou seja, o imigrante recebia
um pedaço de terras do Estado, bem como a passagem, e deveria, portanto, cultivar aquela
terra com cereais. Num segundo momento do processo os imigrantes não recebiam mais
terras e foram destinados para trabalhar nas estâncias e outros encaminhados para as cidades, atuando como operários na nascente indústria.
O Estado oligárquico iniciou o processo de modernização do país a partir das terras
devolutas, que foram doadas para os imigrantes e uma outra parte vendida aos grandes
pecuaristas, que modernizaram o campo, transformando as terras em grandes estâncias capitalistas. A modernização da Argentina levou sua plena inserção no próprio imperialismo,
pois cada vez mais desenvolvia o livre comércio internacional, recebendo recursos externos
para investimentos em ferrovias, nos telégrafos e na modernização dos portos, dessa forma
beneficiando a exportação dos produtos primários e a importação das manufaturas. Com
isso criou-se uma economia de dependência do capitalismo inglês.
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Ivo do s Sa nt os C an abarro
A Argentina foi o primeiro país da América Latina a se industrializar, pois o acúmulo
de capitais foi possível a partir de investimentos dos ingleses em algumas áreas específicas
de produção, tais como: moinhos, frigoríficos e principalmente na indústria lanífera. O desenvolvimento destas áreas foi uma combinação do capital externo com o capital nacional
e também dos imigrantes, todos destinados ao processo de industrialização com a matériaprima que havia disponível.
Grande parte da produção industrial era destinada ao mercado externo, pois o mercado interno era um tanto quanto limitado para absorver toda esta produção. Com o processo
de industrialização a Argentina tornou-se um dos países mais ricos da América Latina, com
um desenvolvimento muito rápido e aumento do poder de compra dos assalariados, tendo as
aplicações financeiras alcançado um patamar bem significativo.
Este processo de crescimento da economia vai praticamente até a década de 30 do
século 20, pois a partir daí ocorreu uma queda das exportações devido a uma crise do mercado externo. A própria Inglaterra, que comprava muito de seus produtos, também entrou
em crise, afetando a economia dependente da Argentina que, em decorrência, entrou em
crise profunda, com reflexos no século 20.
Seção 2.4
O Paraguai no Século 19
Após o processo de independência do Paraguai, instala-se naquele país a autocracia
paternalista do governo de Francia, que aconteceu de 1813 a 1840, um longo período de um
governo centralizador. Francia, com a morte do governador Yegros, convocou o Congresso
que o decretou governo, uma forma de ditador, num primeiro momento por dois anos, e
posteriormente como vitalício.
O governo de Francia foi realmente diferente dos demais governos da América Latina,
pois desde o início ele isolou o Paraguai do mundo externo. As fronteiras do país foram
fechadas e vigiadas pelos militares, as pessoas e mercadorias não podiam circular, estando
sujeitas à punição. Era muito rara a permissão para navios estrangeiros comercializarem
com o país e, às vezes, trocavam mercadorias por erva-mate.
O desenvolvimento econômico do Paraguai foi autossustentado, sendo um dos únicos
países da América Latina a não depender de capitais estrangeiros, realmente buscando sua
autonomia. No Paraguai não havia uma burguesia que pudesse financiar o seu desenvolvimento econômico, portanto o Estado assumiu esse papel e fez investimentos capazes de
manter a sua produtividade.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
Francia, por meio do Estado patriarcal, fazia os direcionamentos das políticas públicas orientando os investimentos na economia. Com essas diretrizes políticas e econômicas o
Estado conseguiu desenvolver a produção de manufaturas para o abastecimento do mercado interno, não necessitando da mão de obra da imigração europeia para alavancar o processo de industrialização. Francia mantinha em suas mãos o controle total do país, inclusive usando a coerção física, pois em alguns casos mandava fuzilar os considerados inimigos.
O governo de Francia foi realmente centralizador, e ele poderia ser considerado um
ditador, pois desejava manter o controle de tudo e de todos os cidadãos, tentando, a todo
momento, acabar com a oligarquia rural. Para tanto, impôs uma lei que proibia o casamento entre índios, brancos, negros e mulatos. Com essa lei ele atingiu diretamente a oligarquia
rural, pois havia muita mestiçagem, e muitos que eram considerados brancos foram rebaixados para mestiços e, sendo assim, não poderiam mais se casar com brancos.
Quando Francia morreu em 1840, a oligarquia rural estava totalmente desarticulada,
pois seus integrantes não tinham participação política e a maior parte de suas terras haviam
sido confiscadas pelo governo. Por outro lado, a incipiente burguesia também não tinha
poder de decisão. Sendo assim, caberia ao Estado manter o desenvolvimento do país.
Com a morte de Francia o autoritarismo continuou a vigorar, sendo eleito pelo Congresso Carlos Antonio Lopez, que se manteve no poder de 1844 a 1862, juntamente com mais um
cônsul, mas o poder realmente permaneceu apenas em suas mãos. Ele foi eleito presidente da
República por dez anos, e no começo do governo se mostrou progressista, abolindo a tortura,
libertando os escravos nascidos a partir de 1843, limitando o período em que o escravo se
mantinha trabalhando, bem como submetendo os religiosos ao poder do Estado.
Na política, continuou o regime autoritário de Francia, delegando a seus familiares o
controle dos principais postos do Estado. Seu poder foi tão centralizador e autoritário que
perseguia qualquer pessoa que pudesse ser contra o seu governo. Na economia procurou
inovar um pouco, permitiu a abertura dos portos para comercialização e também a entrada
de imigrantes. Os estrangeiros foram tratados com muita restrição, pois não lhes eram permitidos a posse de terras e o casamento com mulheres paraguaias, somente com autorização especial do governo, o que na maioria dos casos era negado.
O Paraguai tinha apenas um produto para exportação, a erva-mate, mantendo monopólio estatal sobre o produto, pois o governo comprava dos produtores e revendia com alta
lucratividade aos importadores estrangeiros. Com esse comércio o governo obtinha capital
para obras de infraestrutura, tais como estradas de ferro e comprar navios a vapor.
A exportação da erva-mate foi fundamental para o desenvolvimento interno do
Paraguai, pois o governo detinha grande parte dos lucros com esse comércio e, sendo assim,
os cidadãos não necessitavam pagar impostos. Carlos Lopez também foi o criador do exérci39
EaD
Ivo do s Sa nt os C an abarro
to pe rmanente, defendendo que era preciso manter-se alerta diante dos interesses
expansionistas dos países vizinhos. No caso da Argentina, havia um perigo permanente,
uma vez que esta desejava anexar o Paraguai aos seus domínios territoriais.
Carlos Lopez governou o Paraguai até 1862, e com sua morte assumiu o poder o seu
filho Francisco Solano Lopez, que governou até 1870. Solano Lopez manteve a mesma política econômica desenvolvimentista dos governos anteriores, ou seja, de manter o Paraguai
como uma economia autônoma, sem depender dos investimentos externos. O governo sustentou o desenvolvimento da economia investindo na infraestrutura, pois foi o primeiro país
da América Latina a possuir uma ferrovia controlada pelo Estado, e instalou também uma
linha telegráfica, investiu na fabricação de navios a vapor nos seus próprios estaleiros, avançou na produção siderúrgica e na indústria bélica.
Com todos os investimentos internos feitos, o Paraguai foi um dos únicos países da
América Latina a manter uma balança comercial favorável, ou seja, seu desenvolvimento
não se baseava no capital externo, como os demais países. Para manter a balança comercial,
investia os lucros obtidos com a exportação da erva-mate e madeira, produzia praticamente
tudo o que o país consumia. O Estado era quem controlava a economia, sem a intervenção
dos países estrangeiros.
O Paraguai tinha uma excelente infraestrutura interna, e com isso foi possível investir
também na organização de um exército forte, considerado um dos melhores da América
Latina. O governo entendia que o fortalecimento militar era fundamental para impedir qualquer tentativa expansionista dos países vizinhos. Com esse forte exército, também era necessário um grande número de soldados, os quais quando não estavam de prontidão, eram
destinados a trabalhos em obras tais como: construções de estradas, canais de irrigação e
ferrovias, além de ocuparem cargos em empresas estatais.
O governo de Solano Lopez também investiu muito na educação, procurou elaborar
um programa para alfabetizar a grande maioria da população. Também enviou jovens ao
exterior, principalmente para a Europa, e muitos técnicos estrangeiros vieram dar aulas no
Paraguai. Grande parte da população era composta por camponeses, e estes ocupavam as
terras que estava em poder do Estado, que as cedia para serem cultivadas pelos agricultores,
que colonizavam e produziam, mas não podiam vendê-las.
A composição social da população não comportava uma burguesia, e a classe que
possuía maior capital era a dos artesãos, os quais fabricavam produtos para serem vendidos
para o mercado interno. Essa classe produtiva basicamente empregava mão de obra familiar
para desenvolver a sua produção, e era muito rara a presença do trabalho assalariado. Nas
grandes manufaturas pertencentes ao Estado, a mão de obra era composta pelos soldados
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EaD
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
que exerciam estas atividades quando não estavam lutando. A maioria das terras era de
propriedade do Estado, que organizava o que denominava de “fazendas da pátria”, que
produziam principalmente erva-mate para a exportação.
2.4.1 – A GUERRA CONTRA O PARAGUAI
Geralmente os livros didáticos denominam de Guerra do Paraguai a que se desenvolveu de 1865 – 1870, mas nós vamos nos basear na nova historiografia e denominar a investida
do Brasil, Argentina e Uruguai contra aquele país. A guerra, que se estendeu por cinco
anos, foi totalmente devastadora para o Paraguai, pois foi destruído tudo o que os governos
haviam construído anteriormente.
O Paraguai resistiu bravamente contra os três países que o atacaram, pois estes países
ainda contavam com o apoio da Inglaterra. Com essa guerra acabou o sonho de um país
com desenvolvimento autônomo na América Latina, uma vez que os demais países eram
dependentes dos investimentos externos.
A situação do Paraguai era realmente delicada até o início da guerra, uma vez que o
governo de Solano pretendia manter a saída para o mar pelo Rio da Prata, pois o país naturalmente não era banhado pelo mar e necessitava uma saída para os produtos exportáveis,
principalmente a erva-mate.
Por outro lado, a Inglaterra apresentava uma política de estranheza em relação ao
Paraguai, não vendo com bons olhos o seu desenvolvimento autônomo, mesmo porque essa
forma de desenvolvimento poderia ser seguida por outro país da vizinhança e isso não seria
nada bom para sua economia. A Inglaterra tinha interesse em vender seus produtos para o
Paraguai, e, desta forma, queria acabar com a política protecionista de Solano Lopez, ampliando os seus mercados. Este foi o real motivo para aliar-se, aos demais países do Prata,
acabando com o protecionismo do Paraguai.
Com relação ao Brasil, um dos aliados, os problemas com o Paraguai já haviam começado anteriormente, pois para atingir o Mato Grosso era necessário navegar pelo Paraguai,
e dessa forma toda a vez que um navio trafegava em águas paraguaias, necessitava pedir
uma autorização. Os brasileiros começaram a fortificar o Mato Grosso para garantir a sua
posse, mas também tinham problemas com as fronteiras, pois as divisas com o Paraguai
ainda não estavam bem definidas, o que provocava graves incidentes.
Por outro lado a Argentina, também aliada, iniciou uma ofensiva que visava a fortificar a embocadura dos Rios Paraguai e Paraná, e isso naturalmente afetava diretamente a
navegação do Paraguai, que não conseguia exportar a erva-mate. Com essa série de proble41
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Ivo do s Sa nt os C an abarro
mas e bloqueios a Argentina, o Brasil e o Uruguai uniram-se e formaram a Tríplice Aliança,
que, naturalmente, com o apoio da Inglaterra, era a forma mais ofensiva de combater o
Paraguai.
Sentindo a força ofensiva da Tríplice Aliança, o Paraguai ficou acuado e resolveu
lançar-se à guerra, primeiro com uma ofensiva contra o Brasil, invadindo o Mato Grosso
Solano esperava contar com o apoio das províncias do interior da Argentina, mas não teve
sucesso na tentativa, pois os caudilhos do interior já estavam submetidos ao poder de
Buenos Aires.
No decorrer da guerra, que durou cinco anos, o Paraguai resistiu bravamente aos
adversários, mas teve também muitas baixas. Quando as munições bélicas começaram a
faltar, os soldados paraguaios combatiam com cacos de vidros, alternativa encontrada para
a falta de armas. A Tríplice Aliança foi financiada pela Inglaterra, portanto, dispunha das
melhores armas e munições, e, depois de um verdadeiro massacre, acabou com o Paraguai,
que permaneceu ocupado pelo Brasil até 1876.
Quando terminou a guerra, metade do território do Paraguai pertencia aos países integrantes da Tríplice Aliança. O mais impactante, porém, foi a redução da população, o que
comprova que ocorreu um verdadeiro extermínio, pois antes da guerra havia 1,5 milhão de
habitantes, mas no fim do conflito restaram apenas 500 mil.
Isso significa que foram exterminadas nada menos que 1 milhão de pessoas em cinco
anos, e dos que sobreviveramem sua maioria eram mulheres, velhos, inválidos e crianças. A
situação ficou muito crítica após a derrota, pois foram destruídos os meios de produção, as
fábricas, os fornos de fundição, tudo ficou arrasado. A maior perda, todavia, foi o desenvolvimento sustentável que ostentavam, a sua independência econômica. Todo esse projeto
teve fim com a guerra.
A partir da guerra a oligarquia rural conquistou o poder, desenvolvendo o latifúndio.
Enfim, finalmente o capital inglês penetrou no Paraguai, e de um país rico e independente
passou a ser uma nação pobre e subdesenvolvida, suas manufaturas desapareceram com a
concorrência inglesa.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
SÍNTESE DA UNIDADE 2
Nesta Unidade você tomou conhecimento da situação social, política e econômica da América Latina ao longo do século 19, o momento de transição dos países realmente livres, com a consolidação de um modelo de desenvolvimento. Logo após a independência estes países passaram por uma verdadeira crise, até novamente
se rearticularem como o mercado externo, pois por um longo período ainda dependiam da ajuda externa para desenvolver a sua
economia.
Neste contexto de dependências desenvolveram-se governos autoritários, que para legitimar o seu poder tentavam conquistar a simpatia dos segmentos populares. Foi o caso dos caudilhos, figuras
emblemáticas nos países do Prata. As relações econômicas eram
realmente de dependência, e no século 19 mantinham mais contatos e transações com a Inglaterra, que comprava os produtos primários e vendia suas manufaturas. A única exceção foi o Paraguai,
que tentou um modelo de desenvolvimento autônomo, mas foi totalmente devastado pela guerra.
Após a Guerra do Paraguai todos os países do Prata tornaram-se
Estado oligárquicos, que definiu a cena política no século 19.
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Unidade 3
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
A AMÉRICA MERIDIONAL NO SÉCULO 20
OBJETIVOS DESTA UNIDADE
• Apresentar as diferentes posições políticas da América Meridional no decorrer do século
20, perpassando pelos períodos de abertura e também de repressão.
• Descrever as diferentes etapas dos processos que marcaram o século, analisando as experiências que o povo vivenciou nos diferentes países.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 3.1 – O Estado Oligárquico em seu Apogeu e Crise no Século 20
Seção 3.2 – A Era do Populismo
Seção 3.3 – Aspectos das Ditaduras Militares na América Latina
Seção 3.4 – As Ditaduras Militares na Argentina
Seção 3.5 – A Ditadura de Stroessner no Paraguai (1954-1989)
Seção 3.6 – A Ditadura no Uruguai
Nesta Unidade abordaremos algumas questões que marcaram o século 20, de muitas
mudanças, que influenciaram diretamente no desenvolvimento das dimensões sociais, econômicas e culturais dos países latinos-americanos. Iniciaremos pelas atividades econômicas
que se alteraram em consequência do próprio capitalismo, gerando um modelo econômico
dependente, o que alguns autores denominam de teoria da dependência.
É importante salientar, contudo, que sempre existiu uma economia voltada para o
mercado interno, que contou inclusive com um processo preliminar de industrialização. Ao
longo do século 20 ocorreram inúmeras transformações, o processo de hibridização da cultura foi intensificado pelos processos de imigração, iniciado ainda no final do século 19.
Com isso, a cultura foi se diversificando a partir da junção desses fragmentos.
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Ivo do s Sa nt os C an abarro
A diversidade social gerou uma crise do Estado oligárquico, que precisou ser revisto
para atender aos interesses dos grupos sociais que reivindicavam participação no cenário
político. As mudanças políticas ocasionaram uma certa tendência à formação do populismo,
criando estratégias políticas que tivessem vínculos ideológicos com os segmentos populares,
embora alguns projetos apenas tenham construído um imaginário populista para tentar
contemplar os interesses populares. Ainda nesta perspectiva política vamos abordar algumas questões sobre as ditaduras militares na América Latina.
Seção 3.1
O Estado Oligárquico em seu Apogeu e Crise no Século 20
O apogeu e a crise do Estado oligárquico ocorreram no século 20, embora tenha ele se
estruturado já no século 12. No período que vai de 1900 a 1930, este modelo de Estado sofre
as maiores alterações em alguns países da América Latina, onde se percebeu que em determinados lugares a fragilidade era maior, mas na maioria dos países marcou profundamente
as estruturas políticas e sociais.
Os diferentes tipos de manifestações do Estado oligárquico definiram o seu modelo
como representativo de uma economia caracterizada pelo setor primário exportador. Esse
modelo socioeconômico foi marcado pela total exclusão da população dos órgãos de decisão, sendo um Estado marcado pelos aparelhos repressivos, ou seja, um determinado segmento social que controlava a economia e por consequência o Estado. A democracia não
estava presente neste modelo de Estado, que se caracterizava por ser centralizador e ao
mesmo tempo repressivo.
O modelo de Estado oligárquico foi marcado pela figura do fazendeiro, que tinha o
poder de decisão. Sua autoridade era tanta que todos ficavam subjugados ao seu poder, os
escravos, os peões, mestiços, negros, mulatos e brancos pobres, e estando sob o seu controle,
trabalhavam para manter este modelo econômico. Ao mesmo tempo, este modelo de Estado
foi ameaçado pelas manifestações contrárias ao seu poder centralizador e ao monopólio da
economia, principalmente no caso da monocultura. As manifestações eram contra ao
autoritarismo de Estado e principalmente, contra a dependência que estes países apresentavam em relação aos países industrializados, pois isso impedia o desenvolvimento econômico.
O caso do México foi emblemático, e Porfírio Diaz (1876-1910) foi representante deste
Estado oligárquico, derrotado pela resistência das classes opositoras. Em outros países esta
resistência também se manifestou, causando uma série de movimentos de contestação, inclusive derrubando governantes.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
Apesar dos constantes ataques às oligarquias, em muitos países este modelo perdurou
praticamente até o final do século 20, como foi o caso de alguns países da América Central.
No caso específico da Argentina, as oligarquias foram contestadas e tiradas do poder, suplantadas pelos setores antioligárquicos, estabelecendo-se um projeto capitalista alternativo.
Este projeto alternativo estabelecia o desenvolvimento do mercado interno, mas de
imediato não eliminava o modelo primário exportador, no entanto foi derrotado com a crise
de 1929, o que significou a retomada do poder pelas oligarquias. Esse período ficou conhecido como “década infame”, que vai de 1930 a 1943.
Esse início do século 20 até praticamente 1930 foi marcado por uma grande expansão
do setor primário exportador, pois o mercado externo mostrava-se favorável. Nesse período
tivemos uma expansão caracterizada pelo aumento das exportações, principalmente do café,
cereais, cana-de-açúcar, frutas, guano, salitre, cobre, estanho, lã, carne e demais derivados
do gado, látex, minerais e metais pesados, todos produtos deste modelo primário exportador.
A manutenção do modelo primário exportador dependia dos recursos do Estado, dos
latifundiários e do capital estrangeiro, um verdadeiro tripé que comandava a economia,
todos com interesse em mantê-la como estava. Esse modelo de desenvolvimento favoreceu a
classe que detinha o poder econômico e político, obrigando os trabalhadores a realizarem
diferentes tarefas, como construção de portos, canais, ferrovias e outros, com a exploração
do trabalho constituindo foi uma prática efetiva nesse modelo econômico.
Podemos citar o caso do Chile, que não foge a essa regra do Estado oligárquico, pois
no começo do século 20 contava com uma classe dominante muito rica, a qual explorava o
salitre à custa do trabalho das massas pobres. A Inglaterra ostentava um grande poder econômico no país, pois participava da exploração do salitre e do cobre. Havia ainda uma
incipiente burguesia que estava ligada à exploração do minério, às exportações e aos negócios bancários. Sendo assim, a oligarquia tradicional era ligada a essa burguesia mineradora,
detendo o poder político também na sociedade que estava submetida ao trabalho intenso.
Em todos os países nos quais se instaurou o Estado oligárquico geralmente a produção esteve ligada às atividades primárias exportadoras. Assim, a grande propriedade foi a
alternativa estabelecida para dar sustentação a esse modelo de desenvolvimento dependente das oscilações do mercado externo. Esse modelo mais rural ocasionou um lento processo
de urbanização e um demorado desenvolvimento do mercado interno.
Segundo alguns autores, esse modelo era caracterizado pelas relações pré-capitalistas, pois não desenvolvia um mercado interno consumidor, estando as relações comerciais
dependentes muito mais do mercado externo do que do interno. Neste tipo de relação de
mercado foram emergindo classes sociais vinculadas ao modelo capitalista de desenvolvimento dependente, típico da primeira fase do século 20.
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Ivo do s Sa nt os C an abarro
Podemos destacar três situações que marcaram o desenvolvimento neste processo de
afirmação do capitalismo na América Latina:
1 – algumas regiões tidas como grandes vazios demográficos foram colonizadas seguindo
esse modelo primário exportador, naturalmente controlado pelas oligarquias locais;
2 – em alguns países o setor primário exportador foi marcado pelas relações de trabalho
semisservis, ocorrendo uma acumulação capitalista caracterizada pelas relações de produção pré-capitalistas;
3 – em alguns países as atividades econômicas foram dominadas por empresas monopolistas,
não havendo relações de troca com a sociedade local.
Todo esse modelo de desenvolvimento oligárquico do capitalismo foi marcado profundamente pela presença do latifúndio tradicional, revelando-se este o eixo da economia, que
controlava todas as relações de produção. Sendo assim, gerou um modelo social no qual as
classes dominantes estavam subordinadas às oligarquias rurais, que detinham o poder econômico e político ao mesmo tempo, e onde se desenvolveram relações de trabalho semisservis.
Esse modelo estabelecido provocou um lento desenvolvimento das forças produtivas,
mas esse mesmo Estado oligárquico foi alvo de críticas e protestos das novas classes sociais,
que eram contra esse setor primário exportador considerado o modelo exclusivo para o desenvolvimento econômico.
O modelo de Estado oligárquico encontrou oposição na medida em que não procurou
incorporar os novos segmentos sociais, classes antioligárquicas, que foram surgindo na primeira metade do século 20. Essas novas classes eram compostas principalmente pelos trabalhadores e pela própria burguesia industrial, eram os proletários, os segmentos médios
urbanos e os novos empreendedores, ou seja, os industriais.
Esses novos segmentos foram os mais críticos em relação a essa oligarquia rural, pois
definiam o seu modelo produtivo como o mais atrasado possível, incapaz de alavancar o
próprio capitalismo industrial. Convém salientar que mesmo essa oligarquia rural possuía
um segmento médio, o qual apoiava o seu modelo de desenvolvimento econômico e mesmo
o seu poder político.
O modelo primário exportador caracterizado pela propriedade de grandes áreas de terra também foi alvo de críticas e lutas em alguns países. Este foi o caso específico do México,
onde o campesinato organizado por Zapata e Villa lutava pela reforma agrária, mas não
possuía um projeto de nação, terminando sufocado pelas transformações impostas pela burguesia nascente. Esse projeto, entretanto, não foi totalmente em vão, conseguindo contemplar com êxito algumas reivindicações, como a pequena propriedade rural, pois foi aparecendo uma grande massa de pequenos produtores.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
Em outros países, como a Argentina, Uruguai e Chile, a expansão capitalista foi mais
intensa, e isso ocasionou uma verdadeira expulsão dos trabalhadores rurais do campo, pois
perderam as suas pequenas propriedades, favorecendo ainda mais a formação do grande
latifúndio.
O desenvolvimento do capitalismo esteve também atrelado ao próprio processo de industrialização, contribuindo com o modelo primário exportador e se revelando uma alternativa viável a este modelo de desenvolvimento. A industrialização em muitos destes países
originou-se da acumulação de capitais provenientes do setor primário da economia, pois ao
longo dos tempos foi possível construir uma reserva de capitais para ser aplicada em uma
outra atividade produtiva.
As primeiras indústrias estavam ligadas ao setor primário, que beneficiava produtos
para exportação, surgindo também uma indústria destinada ao consumo popular, como a
alimentícia e têxtil, desta forma suprindo as necessidades do mercado interno, que não
dispunha de recursos para a compra dos produtos importados.
O processo de industrialização também foi consequência da acumulação de capitais
por meio da venda dos produtos para o exterior, o que propiciou o surgimento de um segmento social burguês voltado para as atividades do mercado externo. Esse segmento burguês mantinha um determinado controle do mercado interno, pois vendia e ao mesmo tempo
comprava produtos e, sendo assim, estava consciente das necessidades desse mercado.
Convém salientar que já havia um mercado de trabalho livre nas cidades, composto
principalmente pelos imigrantes europeus, que já possuíam experiência de trabalho nas indústrias, gerando dessa forma um mercado interno propício para o consumo de produtos
industrializados, principalmente os mais populares.
Essa indústria de produtos populares era a que mais encontrava condições de se desenvolver nesse cenário, pois o mercado interno não possuía poder de compra para produtos
sofisticados, e os segmentos que tinham mais poder aquisitivo eram os que compravam os
produtos importados, muito embora já se começasse a constituir esse mercado interno, que
se decisivo para o desenvolvimento da indústria local.
O processo de industrialização teve origem em capitais de diferentes procedências,
parte do setor primário exportador, como também da atividade comercial, e também procedente das transformações da produção do setor artesanal. Sendo assim, a burguesia industrial se identificava com o setor primário exportador, mas apenas com uma parcela deste
segmento. O desenvolvimento industrial até certo ponto manteve-se atrelado ao setor primário exportador, pois em alguns momentos esse setor industrial crescia e em outros recuava. Nos períodos de prosperidade deste setor primário geralmente crescia o número de indústrias, pois parte de seus excedentes eram investidos nesta atividade.
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Com a definição de um processo de industrialização, surge a classe que comandava o
processo, a burguesia industrial, segmento que possuía um projeto de desenvolvimento alternativo, naturalmente diverso do modelo da oligarquia rural, posto que se voltava também
para o mercado interno.
Essa burguesia industrial aos poucos conseguia também acumular capitais, emergindo a vontade de participação no cenário político para promover o desenvolvimento. Sendo
assim, suas ações políticas estavam mesmo mais voltadas para a promoção do crescimento
do mercado interno que, naturalmente, era o seu centro de consumo.
Para o desenvolvimento deste processo de industrialização é necessário considerar as
forças de trabalho, ou seja, os proletários, aqueles que vendiam a sua força de trabalho neste
processo produtivo. Os operários eram, no começo do processo de industrialização, extremamente explorados, pois não havia uma legislação trabalhista para defendê-los, os movimentos
operários eram muito dispersos, não se constituindo ainda em uma força organizada.
Boa parte dos operários era oriunda do meio rural. Acostumados que estavam àquelas
antigas relações trabalhistas, indo para as cidades permaneciam isolados, morando nos subúrbios em condições de vida totalmente desumanas. Esses operários sentiam muito as
mudanças de vida e na cidade precisavam se adaptar a uma nova realidade. Esse processo
transformou antigos artesãos em proletários, pois ficavam obrigados a vender a sua força de
trabalho para sobreviver no capitalismo industrial.
A produção industrial nesse início de processo de transformação no modelo produtivo
era ainda muito incipiente, o que gerou uma classe operária dividida em determinadas categorias, dependendo do tipo de indústria em que trabalhavam, mas esse processo de constituição de classes foi muito lento. Os primeiros operários foram aos poucos se organizando
em sociedades mutualistas, com finalidade assistencialista, uma vez que não tinham nenhuma segurança. Essas sociedades defendiam melhores condições de trabalho, tentavam
harmonizar os interesses de classe, reivindicavam um salário mais compatível com suas necessidades e a diminuição da jornada de trabalho, bem como lutavam em defesa dos direitos
gerais dos trabalhadores.
Essas sociedades mutualistas significaram o primeiro passo para a formação da consciência de classe dos trabalhadores, que não tinham uma ação mais direta, pois se preocupavam mais com o assistencialismo, apesar das condições de trabalho serem precárias. Naquela época, qualquer forma de organização era considerada um avanço no processo de
formação da classe trabalhadora. Esse caráter assistencialista não impediu que tivessem
consciência de sua importância enquanto trabalhadores, pois foi por intermédio dessas associações que jornais divulgavam as ideologias do anarquismo e do socialismo, e revelando
uma consciência de classe.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
Alguns componentes da classe média estavam distantes da estrutura produtiva dos
segmentos oligárquicos, eram camadas médias que englobavam a burocracia do Estado, os
comerciantes pequenos e médios, além dos bancários e profissionais liberais. Esses segmentos médios não tinham um poder de organização, ou seja, não se voltavam contra o Estado,
pois muitos dependiam dele, embora estivessem afastados da estrutura produtiva do modelo
primário exportador.
Esses segmentos médios não tiveram uma participação efetiva nos movimentos sociais
de transformação da sociedade. No caso do México, a Revolução de 1910 mobilizou diferentes segmentos sociais daquele país. Afora o México, os movimentos sociais, com cunho
mais popular, ficaram restritos às grandes cidades, nas quais se aliavam populares com esses segmentos médios. As classes populares estavam mais próximas do campesinato, ambos
fazendo resistência às práticas oligárquicas.
As classes populares expandem-se muito com a imigração, que experimentou o seu
auge no período que compreende de 1870 a 1930, constituindo uma fase de grandes
transformações na América Latina, pois a população aumentou muito. Esta nova fase
da imigração foi mais intensa na Argentina, no Uruguai e no Brasil, transformando-se
em sociedades europeizadas. Cidades como Buenos Aires e São Paulo foram cenários da
chegada de imigrantes destinados à zona rural e urbana. Muitos deles vieram para se
dedicar à agricultura, mas acabaram ficando nas grandes cidades, temendo as condições de trabalho semisservis. Com o processo de imigração as regiões mais pobres da
América Latina tornaram-se áreas ricas e prósperas, pois foi estabelecido um novo modelo produtivo.
A Argentina foi um dos palcos de chegada de imigrantes, recebendo aproximadamente
5 milhões de imigrantes europeus, que ocuparam as férteis províncias em torno de Buenos
Aires. A cidade chegou, em 1914, a ter quase metade de sua população composta por imigrantes, que por sua vez, encontraram grandes dificuldades para se instalar tendo de ocupar as antigas casas coloniais, denominadas de conventillos.
Essas casas foram ocupadas por um número muito grande de famílias; cada uma
morava em um dos quartos dessas casas, tendo algumas áreas de uso coletivo. No Brasil
essas casas receberam o nome de cortiços, local onde habitavam as pessoas pobres das
cidades.
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Seção 3.2
A Era do Populismo
A crise de 1929 interferiu em todo o sistema produtivo na América Latina, o modelo
primário exportador enfrentou a sua pior crise, e a incipiente indústria também sofreu um
abalo significativo, ou seja, a crise afetou todos os segmentos das sociedades, originando
um verdadeiro caos social e econômico. Nesse período os movimentos sociais atingiram um
grau de maturidade invejável, lutando por melhores condições de vida, desafiando os novos
regimes.
Isso ocorreu num momento em que as atividades produtivas mostravam-se arrasadas,
o desemprego crescia muito nas cidades e no campo os trabalhadores afetados pela crise
migravam para as cidades, criando um problema social sem precedentes. O sindicalismo
avançou muito nesse período, sofrendo influência do comunismo como ideologia. Este fato
revelava-se um problema para as classes dominantes, que se viam ameaçadas, e os regimes
políticos responderam de forma repressiva, mas apontavam para a possibilidade de integrar
as camadas populares.
Em meio a esse contexto de crise surge uma nova ideologia, o populismo, constituindo uma resposta política para o caos social, especialmente na Argentina, no Brasil e no
México. Foi uma tentativa das classes dominantes de combater as ideologias das classes
médias, que poderiam ameaçar seu poder e legitimidade. No populismo ocorreu uma tentativa de construir um novo modelo político, procurando incorporar os segmentos mais afetados pela crise, os quais apoiaram incondicionalmente alguns governantes com um projeto
ideológico de linhas um tanto quanto confusas. Nesse novo projeto populista não ficava
claro qual o papel que cada um dos segmentos sociais iria exercer na vida política e social.
Na Argentina o populismo atingiu o seu auge, além de em outros países da América
Latina, revelando-se uma tentativa desesperadora de incorporação e cooptação da classe trabalhadora, mas o projeto populista visava mesmo a proteger a ordem política estabelecida. O
populismo nos anos 30 e 40 foi extremamente contraditório, pois se tratava de preservar a ordem
oligárquica, a qual foi questionada pela crise do modelo exportador, não reprimindo, mas tentando incorporar as classes populares aos regimes políticos. Tudo era feito com o propósito de
evitar a revolução, e para isso foi criada uma série de símbolos para manipular a população,
como “nação”, “povo”, tudo isso em contrapartida às mudanças que não ocorriam.
O discurso populista substituía a ação, e era utilizado para manipular a massa, que se
sentia incorporada ao projeto político. O termo populista definia um estilo de exercício de
poder, o qual era impregnado pelo paternalismo de demagogia e nacionalismo. A Argentina,
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o Brasil, o Equador e o México foram os exemplos mais evidentes de experiências do
populismo, com diversas interpretações, mas todas procuravam trazer para o seu lado os
segmentos populares, gerando um compromisso com a burguesia de criar uma ideologia
nacional-popular.
Vamos tomar como exemplo o peronismo na Argentina, o qual foi um dos maiores
representantes do populismo, ao lado do getulismo, no Brasil. Perón foi uma experiência
emblemática para a Argentina, e tudo começou com sua atuação política nas décadas de 40
e 50, pois exatamente em 1945 Perón foi preso, quando as Forças Armadas deram um golpe
de Estado. Este foi um momento de grande comoção, pois alguns segmentos sociais apoiavam Perón e outros eram favoráveis ao golpe. A atriz Eva Duarte, “Evita”, fez uma campanha popular pela libertação de Perón, conseguindo apoio das classes populares, que ocuparam as ruas.
Esse movimento foi tão forte que obteve vitória no mesmo ano da prisão. Perón lançou-se candidato a presidente da República pelo Partido Lavorista, com o apoio dos populares, conseguiu uma vitória estrondosa e absoluta sobre os segmentos antiperonistas, elegendo também senadores, deputados federais e governadores.
Perón assume o seu primeiro governo (1946-1955), iniciando um período de muitas
transformações na Argentina, modernizando vários setores, tais como: energia, transportes,
agricultura e outros, além de elaborar projetos quinquenais para modernizar a economia.
Seu plano de governo também previa a nacionalização de empresas, bancos e outras de
infraestrutura, como as ferrovias.
O Estado passou a investir na indústria de base, como a siderurgia e energia elétrica.
A agricultura não sofreu grandes mudanças, pois não ocorreu a reforma agrária, e o latifúndio agroexportador continuou sendo a unidade produtiva dominante.
A política de Perón beneficiou as classes populares, que se viam incorporadas em seu
governo; os operários urbanos começaram a obter ganhos reais em seus salários, contando
com o apoio do exército e das classes populares, permitindo ao governo construir um modelo de Estado semitotalitário, de repressão, sem ferir a imensa maioria da população.
Todos os segmentos sociais que o apoiavam ficavam sob o seu controle, mas mantevese autoritário em relação aos comunistas, socialistas e mesmo à burguesia, segmentos que
foram perseguidos durante o seu governo. A censura imperava e os meios de comunicação
passaram a ser monopólio do Estado.
A figura de Perón passou a ser venerada por toda a Argentina, nas escolas, nos clubes,
nos campos de futebol, nas casas, enfim, por todos os lugares. Sua mulher, Eva Perón, também passou a ser cultuada, dedicando-se à assistência social. Conhecida como “senhora da
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esperança”, tornou-se amada pelos trabalhadores, e seu fascínio crescia muito, juntamente
com o de Perón. O popularismo de Perón era tanto que se difundiam por todo o país palavras
de ordem tais como: “Perón é tudo”, “Perón, todos nos alimentamos de sua luz”, o que
mostrava a sua aceitação popular.
Em quase todas as casas da Argentina havia um retrato de Perón, considerado a alma
e o defensor do povo argentino. Tinha o propósito de modernizar a Argentina apresentandose como o maior defensor dos trabalhadores.
A Argentina passou por essa fase do populismo como uma etapa em que as forças
populares foram incorporadas ao modelo político, mas essas massas peronistas eram na
realidade objetos de manipulação do governo, não tinham o direito de serem verdadeiros
sujeitos da História.
A Argentina chegou a um colapso no governo de Perón, pois o país entrava em retrocesso, o Tesouro Nacional encontrava-se à beira da falência, ressurgia a inflação galopante,
corroendo os salários, atingindo diretamente os trabalhadores, que eram a sua base de apoio.
O exército, que antes fora seu aliado, já não apoiava Perón, que em 1955 foi deposto por um
golpe militar.
Essa onda populista que atingiu países da América Latina no século 20 foi muito
marcante na política, constituindo-se numa tentativa de integrar os segmentos populares
ao projeto do governo. Essa experiência foi marcante por permitir, pelo menos num sentido
ideológico, incorporar os interesses dos populares nas políticas públicas. Isso aconteceu nas
legislações trabalhistas, que foram feitas para permitir incorporar algumas reivindicações
que os movimentos operários lutavam há muito tempo.
Essas reivindicações trabalhistas permitiram os direitos mínimos dos trabalhadores, pois estes, até então, não dispunham de uma legislação que pudesse garantir minimamente os seus direitos. Muito embora manipuladores, esses governos populistas fizeram alguma coisa pelos populares, mas eles representavam um imaginário idealizado de
governo.
Esse imaginário foi construído a partir de alguns símbolos que se tornaram nacionais.
O próprio fato de exibirem em suas casas os retratos dos governantes já significa que estes
faziam parte do imaginário dos populares. Esses governos populistas foram tão significativos que permaneceram durante muito tempo como símbolos de homens públicos comprometidos com os trabalhadores.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
Seção 3.3
Aspectos das Ditaduras Militares na América Latina
As ditaduras militares na América Latina foram extremamente autoritárias e condenaram um número muito grande de pessoas à prisão, à tortura e também à morte. Foi um
período negro da História recente, no qual o autoritarismo foi utilizado como forma de justificar as ações dos militares.
Os estudos sobre as ditaduras na América Latina são muito recentes, inclusive muitos
torturadores ainda estão vivos, sem pagar pelos seus crimes, causando certo receio em algumas pessoas, que foram torturadas, de falar sobre o que sofreram nesse período. Grande parte
da documentação ainda está nas mãos dos militares, não disponíveis aos pesquisadores.
A partir do momento em que esta documentação estiver acessível ao público, será
possível construir uma história mais próxima à realidade dos acontecimentos. Vamos abordar alguns aspectos desse período autoritário na Argentina, no Paraguai e no Uruguai.
Seção 3.4
As Ditaduras Militares na Argentina
Os governos militares ou influenciados por militares foram os que sucederam Perón,
todos procurando acabar com qualquer resquício do peronismo, mas apesar de todo o seu
empenho a influência do peronismo continuou alta em toda a Argentina.
Em 1973 ocorreu uma eleição na qual foi candidato Héctor Cámpora, o qual renunciou, assumindo Perón em seu lugar. Nesse novo governo Perón propôs uma política de
reconciliação, tentando aproximar o patronato e os trabalhadores, firmou relações com Cuba
e demais países do Leste Europeu, todos socialistas. O país, porém, foi atingido pela crise
econômica mundial, como também pelas divergências internas do seu governo, que enfrentava a oposição direitista e dos militares, enfraquecendo sua posição. Perón morreu em 1974,
aos 78 anos. Deixou o poder para sua então esposa, Maria Estela Martinez de Perón, conhecida como Isabelita Perón.
Assumindo o poder, Isabelita pactuou com a tendência direita do peronismo, mas não
tinha o carisma de Perón. O grande destaque do governo era um bruxo, chamado López
Rega, um esotérico, que assumiu o cargo de ministro do Bem-Estar Social, formando uma
aliança (Aliança Anticomunista Argentina).
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Esta aliança tinha um caráter extremamente autoritário, pois defendia o assassinato
da esquerda peronista, dos comunistas, dos socialistas e dos guerrilheiros, deixando claro o
autoritarismo do governo de Isabelita. Com isso, continuaram as lutas internas dos setores
peronistas, a inflação voltou a crescer, a corrupção do governo levou à desmoralização do
peronismo. Em 1976 Isabelita Perón foi deposta e presa pelos militares, reiniciando-se então
um novo período de ditaduras militares.
Os militares assumem novamente o poder e agora, com mais força de coerção, estavam
mais preparados para reprimir qualquer forma de oposição ao governo. Esses militares também tinham formação para a administração civil, e a partir daí os oficiais argentinos estiveram sempre à frente das iniciativas e projetos de desenvolvimento industrial do país. Os
militares também possuíam formação política, pois desde o Estado oligárquico sempre tiveram alguma forma de participação nos governos. Destaque-se que no primeiro governo de
Perón havia inclusive uma aliança com os militares.
Após o primeiro governo de Perón os militares exerceram o poder ou controlavam presidentes civis. Assumiram uma posição ambígua: ou aceitavam e negociavam com os
peronistas, ou reprimiam o peronismo. Pode-se destacar que os militares argentinos estavam
mais preocupados com o antiperonismo do que com o anticomunismo.
Os militares argentinos tinham mais ligações com a Europa do que com os Estados
Unidos. Isso mostrou o caráter religioso destes, que eram extremamente católicos, mantendo o vínculo com o catolicismo retrógrado e autoritário. A Igreja Católica argentina era
antirreformista, promovia constantemente cursilhos de cristandade, dos quais os militares
sempre participavam e pregava a cristandade contra o moderno anticristo, o comunismo.
Convém ressaltar, porém, que o seu inimigo número um era o peronismo, pois procuravam
estabelecer relações entre este e o comunismo. Essa relação, contudo, não existia, porque o
peronismo era também anticomunista.
Havia uma divisão bem clara entre os militares: de um lado estavam os colorados, que
eram os mais extremistas, os chamados gorilas do poder militar, partidários da destruição do
peronismo e defendiam apenas um governo militar. De outro lado estavam os azuis, considerados os mais moderados, que argumentavam que os militares deveriam defender a legalidade do regime militar.
Na tomada do poder os militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica dividiram
entre si os cargos e ministérios, mas cada um dos segmentos fazia a sua própria política.
Todas essas juntas militares denominaram o seu governo de movimento de Processo de Reorganização Nacional. Isso tudo teve um grande impacto na vida política nacional, pois o
Legislativo foi fechado, os partidos políticos acabaram e os militares ocuparam todos os
cargos políticos e administrativos. Os militares tinham ainda, como objetivo, exterminar a
esquerda e principalmente o peronismo.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
A repressão foi extremamente violenta durante o período militar, pois cada uma das
armas e a própria Polícia Federal era comandada por militares. Utilizando os seus próprios
métodos, torturaram e assassinaram milhares de pessoas, o que revela o caráter autoritário
e repressor do regime. A Marinha matava as pessoas queimando-as vivas nos seus fornos da
Escola de Mecânica da Armada. A Aeronáutica costumava jogar no mar as pessoas para
serem comidas pelos tubarões; os filhos das prisioneiras eram doados para famílias desconhecidas; os bens dos presos eram saqueados pelos militares e bandidos, era uma autêntica
forma de banditismo. Sabe-se inclusive de casos de militares que mandavam matar pessoas
ricas para ficarem com seus bens.
Durante a ditadura militar ocorreu um dos movimentos que chamou a atenção no
mudo inteiro: as mães e avós dos desaparecidos políticos formaram o que se denominou de
“As loucas da Praça de Maio”.
Estas mães ficavam o dia todo circulando pela praça na tentativa de obter informações sobre os parentes desaparecidos. Ficavam juntas, com medo de que desaparecessem
com elas. Em 1983 os militares declararam mortos todos os desaparecidos, gerando muitos
protestos na Argentina e no exterior. O resultado final do período da ditadura foi desastroso,
pois os militares arrocharam os salários e abriram o mercado para as importações.
A administração foi um fracasso, as empresas estatais eram dirigidas por militares, que
formavam um antro de corrupção. Houve um sucateamento da indústria, juntando isso com
o aumento da dívida externa, os empréstimos externos foram desviados para a corrupção e
não utilizados nas obras. O saldo final da ditadura na Argentina foi um desastre, com milhares de mortos e desaparecidos, foi uma das ditaduras mais cruéis da América Latina.
Seção 3.5
A Ditadura de Stroessner no Paraguai (1954-1989)
A ditadura de Stroessner no Paraguai foi uma das mais longas de toda a América
Latina. Ele se manteve por muito tempo como ditador absoluto, e no começo de seu governo já tomou medidas repressivas, como acabar como toda a oposição, pois queria poder
absoluto para governar. Suas medidas também acabaram com as greves e tentou suspender todas as garantias constitucionais. O país passou a viver em constante estado de sítio,
com o poder absoluto nas mãos do governante e dos chefes militares. O Congresso Nacional perdeu o seu poder representativo, passando a ser meramente cumpridor das medidas
do ditador.
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No começo de seu governo, ainda nos anos 60, o ditador enfrentou uma série de protestos das guerrilhas camponesas, mas todas elas foram massacradas, revelando para a oposição que o governo não admitia contestações ao seu poder. Stroessner cooptou o Exército
e não permitiu nenhuma forma de oposição, por mais branda que fosse, consolidando-se no
poder. Essa repressão foi tão intensa que ele conseguiu se reeleger presidente por oito vezes
seguidas.
Essa forma de cooptação política possibilitou que o ditador legitimasse o seu poder
nos diferentes segmentos sociais, mas isso foi feito a partir de medidas totalmente autoritárias, ou seja, não havia democracia na sociedade, todos deviam obedecer as suas medidas
governamentais ao longo de seus mandatos.
O partido do governo era o Colorado, o qual controlava todos os cargos, e os funcionários públicos civis e militares deveriam ser filiados ao partido, como forma de manter a sua
hegemonia política. Eram os militares que ocupavam os melhores cargos, o que lhes assegurava uma excelente fonte de renda, pois eles controlavam tudo, até os cassinos, as empresas estatais, as alfândegas e demais órgão públicos.
Essa hegemonia dos militares, no entanto, também deu espaço para a corrupção.
Era comum o contrabando, o tráfico de drogas, as quadrilhas de roubo de carros brasileiros e argentinos, e tudo com o aval dos militares, que ocupavam cargos de comando e
permitiam todas essas atividades ilícitas. O dinheiro que Stroessner obti nha com a
corrupção e o contrabando era aplicado na compra de fazendas, mansões e gado de raça
no Brasil.
Em 1968 Stroessner permitiu que os partidos de oposição lançassem candidatos aos
postos legislativos, mas a máquina estatal corrupta, a Justiça e o Exército controlados pelo
partido Colorado violaram as eleições e deram maioria absoluta ao presidente da República,
ou seja, ao ditador. Muitas organizações internacionais acusavam o ditador de dar tratamento desumano aos presos políticos, não admitindo contestações ao seu poder.
Nos anos 70 e 80 os partidos de oposição se reuniram para tentar acabar com a
ditadura, apoiados pelos Estados Unidos. Já em 1986 alguns líderes de oposição tentaram retornar ao país, mas foram inclusive espancados e barrados no aeroporto, tendo de
voltar ao exílio. A Igreja Católica era a grande opositora ao regime. A partir de 1987
começou a brotar uma série de manifestações religiosas, sindicais e estudantis, todas
pedindo o fim do governo do ditador e a volta do regime democrático. Enfim, em 1989 o
governo não conseguiu se manter no poder, chegando ao fim o longo período de ditadura no Paraguai.
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Seção 3.6
A Ditadura no Uruguai
O Uruguai passou, na década de 60, por um longo período de estancamento da atividade econômica em todos os campos fundamentais, o que causou uma interferência na
política também. O Partido Colorado deteve a hegemonia política por muito tempo, e nas
eleições de 1958 a vitória foi do Partido Nacional (Blanco).
O Partido Blanco, então, no governo não conseguia manter a cooptação dos setores
médios e populares. A política econômica instaurada visava a manter as atividades
agroexportadoras favorecendo o capital monopolista, permitindo também a entrada de capital externo, ou seja, sua política tinha a intenção de diminuir o papel do Estado na economia.
Essas medidas afastavam ainda mais os trabalhadores, os grupos médios e o funcionalismo público dos partidos políticos tradicionais, e com isso aumentou muito o número de protestos e também a repressão às manifestações. Nesse cenário de repressão foi realizada a Convenção Nacional dos Trabalhadores reunindo a esquerda, quando também surgiu o Movimento de
Libertação Nacional (Tupamaros), os quais adotavam a tática da guerrilha urbana.
Em 1966 os colorados voltaram ao poder elegendo para presidente Gestido, que morreu em 1967. No seu lugar assumiu Pacheco Areco, e a partir daí começou um ciclo de
autoritarismo no Uruguai. O novo governo concentrou o poder no Executivo, adotando
medidas de segurança, reprimindo não apenas manifestações nas ruas, mas também as lideranças políticas e sindicais, além da imprensa ligada à esquerda.
Tentou-se acabar com a guerrilha urbana, buscando apoio dos EUA e do Brasil. Por
outro lado, a economia não estava nada bem, havendo suspensão das convenções coletivas
de trabalho, pois a inflação levou à redução brutal dos salários dos trabalhadores. A esquerda, no entanto, permanecia ativa, criando a Frente Ampla em 1971, a qual congregava os
partidos de esquerda, os comunistas e socialistas, constituindo-se numa força política e
ameaçando a hegemonia dos partidos tradicionais. Foram, porém, duramente reprimidos
pelo governo, que ameaçado também pelas guerrilhas urbanas, pelos tupamaros, combateu-os com os militares, desta forma iniciando a participação do Exército na vida política.
Nas novas eleições saiu vitorioso o candidato de Pacheco, o colorado Bordaberry, e ao
longo de seu governo ampliaram-se as manifestações populares, crescendo também a guerrilha urbana. O autoritarismo de Estado se instalou e foi criado o Conselho de Segurança
Nacional, permitindo aos militares participarem diretamente das decisões do governo, instituindo-se medidas de combate às insurreições.
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O presidente era apenas o governante, tornando-se um mero fantoche dos militares.
Em 1973 consumou-se o golpe de Estado, que dissolve o Parlamento. A esquerda manifestou-se na defesa dos valores democráticos, convocando greve geral.
Os anos de ditadura militar de definiram pela defesa do capital monopolista e pelo
autoritarismo do Estado. Os partidos de esquerda foram extintos, desaparecendo os partidos tradicionais, e os militares assumiram funções executivas, constituintes, legislativas e
judiciárias, reprimindo ferozmente qualquer movimento de oposição.
As prisões e torturas tornaram-se constantes no governo, transformando o Uruguai
em um dos campeões na violação dos direitos humanos. As medidas econômicas revelaramse desastrosas, pois liberaram a economia para o capital externo, impedindo a participação
do Estado nas ações que previam e promoviam o Estado de bem-estar social.
SÍNTESE DA UNIDADE 3
No decorrer desta Unidade você pôde perceber algumas dimensões
do longo século 20 na América Latina. Realmente foi um período
muito movimentado, que passou por várias fases. No início do século ocorreu o triunfo do Estado oligárquico, que imperou durante muitos anos, no qual a classe dominante estava ligada ao modelo primário exportador, que era a base do desenvolvimento econômico, e o poder estava concentrado nas mãos da oligarquia rural. Esse modelo de desenvolvimento vigorou até praticamente
1930, quando foi brutalmente atingindo pela crise econômica de
1929. Já na segunda fase temos como característica o populismo,
uma forma de governo que tentou incorporar os segmentos populares nas ações políticas. A eles foram dados alguns direitos, na
tentativa de cooptá-los e torná-los massa de manobra desses governos com cunhos autoritários. O populismo foi um fenômeno tão
marcante que a maioria da população cultuava esses governos com
símbolos sagrados, extremamente aceitos no imaginário popular.
A terceira fase do século foi o período negro, quando ocorreram as
experiências das ditaduras militares que deixaram feridas que permanecem até os dias atuais. Foi um período de torturas, prisões e
mortes, marcado pelo autoritarismo dos militares, os quais não tinham a menor habilidade para comandar os países, apelando para
a força e a coerção. É uma fase muito recente da nossa História, e
ainda temos muito para escrever sobre este período.
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Saiba Mais
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDION AL
CACERES, Florival. História da América. São Paulo: Editora Moderna, 1992.
CAMPOS, Raymundo. História da América. São Paulo: Editora Atual, 1991.
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