PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM EM GEOGRAFIA: O ESTUDO DOS BIOMAS Airton Rosa Lucion Guites1 Denise Lenise Machado2 Gilda Maria Cabral Benaduce3 Resumo: Tendo em vista as mudanças na educação brasileira, a escola e os professores devem buscar novas ferramentas de ensino. Surgem, neste contexto, os recursos didáticos que auxiliam na construção do conhecimento conciliando teoria e prática. A Geografia Escolar deve, nesse sentido, apropriar-se destas mudanças a fim de instigar o aluno a se tornar um ser crítico e reflexivo sobre o espaço no qual está inserido. Desta maneira, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID) busca alternativas de ensino que façam a mediação do conhecimento entre o professor e o aluno, rompendo com o ensino tradicional. Propôs-se uma atividade sobre os Biomas do Brasil com o objetivo de salientar a diversidade de riquezas naturais ao longo do território nacional e a interação sociedade/natureza. Separou-se a turma em grupos e distribuíram-se cartelas com fotografias e características referentes aos principais Biomas do território brasileiro, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os alunos utilizaram de seu conhecimento empírico e o estudo anteriormente conduzido pela professora titular, para realizar a atividade proposta de forma adequada, a fim de relacionar as fotografias e as características com os tipos de biomas, bem como sua localização no mapa. Como resultados, observou-se que o conhecimento prévio foi reforçado com a dinâmica, proporcionando assim a interação entre os grupos e fazendo-os refletir sobre a interação sociedade/natureza dentro do contexto dos biomas. A atividade também fomentou a discussão sobre o bioma Pampa, no qual o município de Santa Maria está inserido e que os discentes não possuíam um conhecimento amplo. Palavras-chave: Biomas; Geografia; Educação. Introdução A função da escola é oferecer subsídios necessários para desenvolver o senso crítico e reflexivo dos alunos, auxiliando na construção do conhecimento, no despertar do aprender a aprender e na importância da vida em sociedade. Uma das formas de oferecer elementos que os permitam refletir e também construir novas interpretações da realidade são as experimentações concretas. Neste contexto, o presente trabalho busca a construção da sociabilidade por meio da integração Academia/Escola e tem como objetivo geral desenvolver 1 Graduando do curso de Geografia Licenciatura, Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected] 2 Graduanda do curso de Geografia Licenciatura, Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected] 3 Doutora em Geografia, Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected] 1 um recurso didático referente ao tema Biomas do Brasil, salientando a diversidade de riquezas naturais ao longo de seu território, verificando a interação sociedade/natureza e desta maneira contribuir para a construção do conhecimento. Busca-se também verificar a análise e interpretação dos alunos a partir de seu conhecimento prévio e desta maneira oferecer informações e dados que estimulem o trabalho em equipe, bem como a importância de conviver em sociedade respeitando as diferenças. O recurso confeccionado foi aplicado no terceiro ano do Ensino Médio do Instituto Estadual Luiz Guilherme do Prado Veppo, localizado no Bairro Tomazetti, no município de Santa Maria, Rio Grande do Sul, sendo parte do Subprojeto Geografia do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 1 Desenvolvimento A Geografia como ciência procura estabelecer relações entre a sociedade e a natureza, tendo como objetivo estudar, analisar e explicar o espaço produzido e reproduzido pelo homem. Desta forma entra em cena a educação, que exerce papel fundamental na formação da sociedade; logo, a Geografia trabalhada em sala de aula deve fornecer subsídios que desenvolvam uma visão crítica e cidadã a respeito do ambiente que o circunda, buscando no processo de ensino/aprendizagem ferramentas necessárias para se desenvolver a construção do conhecimento, bem como a formação do senso crítico e reflexivo, tanto para os professores como para os alunos. Segundo Paulo Freire (1996), ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção, observando que quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. É a partir da troca de saberes e experiências que ocorre a construção do conhecimento, buscando na interação escola/academia e professor/aluno a base desta construção. Baseado nisto, o PIBID insere-se dentro de sala de aula com uma proposta de ensino que rompa com a educação tradicional, superando as deficiências do mesmo. A escola tem papel fundamental na formação da sociedade, sendo responsável pela interação e sociabilidade, tornando-o sujeito do meio ao qual está inserido. Cabe a ela, como formadora crítica e reflexiva, proporcionar maneiras de instigar a construção do conhecimento pelo aluno, trazendo a realidade mais próxima de seu cotidiano. Logo, a Geografia Escolar exerce papel fundamental na formação social e intelectual dos mesmos, fornecendo os 2 elementos necessários para o desenvolvimento do conhecimento, tornando-os seres reflexivos e cidadãos a respeito do espaço ao qual estão inseridos. A Geografia ao estabelecer relações entre a sociedade e a natureza, busca entender e explicar como o espaço geográfico se constrói a partir da produção humana, sendo-o espaço de acumulação e reprodução do modo de vida da sociedade, refletindo este modo sobre a natureza. Natureza e espaço ao qual o homem pertence e está inserido, sendo ele um dos principais agentes da interação sociedade e natureza, produzindo e reproduzindo seu modo de pensar e agir como cidadão pensante e atuante, tal modo reflete diretamente nesta relação. A respeito deste contexto, Andreis (2012, p. 41) salienta “sendo o espaço geográfico uma produção da sociedade, relaciona-se diretamente com o conceito de cidadania. A Geografia escolar é, então, a ciência que se propõe a formar pessoas educadas, conscientes e, portanto cidadãos do espaço”. É no processo de ensino/aprendizagem em Geografia que ocorre a construção do conhecimento sobre o espaço geográfico ao qual estamos inseridos. É a partir da Geografia Escolar e do professor, sendo ele o alicerce da construção do conhecimento, que ocorre a transformação do ensino e a leitura sobre o mundo, realizada por meio da leitura do espaço. Conforme Callai: Ler o mundo da vida, ler o espaço e compreender que as paisagens que podemos ver são resultado da vida em sociedade, dos homens na busca da sua sobrevivência e da satisfação das suas necessidades. Em linhas gerais, esse é o papel da geografia na escola. Refletir sobre as possibilidades que representa, no processo de alfabetização, o ensino de geografia, passa a ser importante para quem quer pensar, entender e propor a geografia como um componente curricular significativo (2005, p. 227-247). Neste processo, uma forma de analisar o espaço produzido é a partir da utilização de recursos didáticos que auxiliem na formação e construção do conhecimento do aluno. A partir de recursos que visam à conscientização do espaço ao qual estamos inseridos, podem-se desenvolver maneiras que auxilie o trabalho em equipe, salientando a importância de conviver em sociedade e respeitando as diferenças, oportunizando a inclusão dos alunos com o meio ao qual pertencem, bem como da importância de se preservar este meio. A sociedade como agente da construção do espaço modifica a natureza conforme seus anseios e necessidades, não respeitando seu curso natural. Nesta perspectiva, afirma Callai (2000, p. 96): Ocorre que, na sua trajetória de vida, a sociedade constrói o espaço, subordinando cada vez mais a natureza às suas regras, devido aos avanços da tecnologia e pelas possibilidades de prevenção e planejamento, o que permite encurtar distâncias, alterar a qualidade dos solos, amainar as características do clima, reorientar o leito 3 dos rios, aumentar a extensão dos territórios, drenando áreas e aterrando-as, considerando essas apenas algumas das alterações que o homem faz no curso da natureza. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem seis principais biomas no território brasileiro: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Pampa. O território pode-se dividir em outros biomas, mas estes seis são os oficiais para serem trabalhados em sala de aula. O órgão governamental determina que Biomas são: Bioma é um conjunto de vida vegetal e animal, constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e que podem ser identificados nível regional, com condições de geologia e clima semelhantes e que, historicamente, sofreram os mesmos processos de formação da paisagem, resultando em uma diversidade de flora e fauna própria. (IBGE, s/a, s/p). Figura 1: Mapa dos Biomas Brasileiros. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) O estudo dos biomas no processo de ensino/aprendizagem em Geografia torna-se importante para entender como ocorre a interação sociedade e natureza, pela espacialização dos recursos naturais e da vegetação, de que forma a sociedade reproduz seu modo de pensar e atuar como cidadão sobre estes recursos, bem como ressaltar a grande diversidade de riquezas do território brasileiro. Salienta-se também o caráter interdisciplinar do estudo dos Biomas, visto que é objeto de análise científica tanto da Geografia quanto da Biologia. Os Biomas são o ambiente de interação social e espacial com uma riqueza de diversidade biológica e geográfica, cuja sociedade constrói seu modo de vida baseado nas características 4 ambientais referente a cada Bioma, retirando deste ambiente os recursos necessários para sua sobrevivência. Sendo que grande parcela da população brasileira depende diretamente dos recursos disponíveis encontrados nestes locais. Neste aspecto, Dajoz (1973 apud Coutinho 2006, p. 13-23): O bioma é um agrupamento de fisionomia homogênea e independente da composição florística. Estende-se por uma área bastante grande e sua existência é controlada pelo macroclima. Na comunidade terrestre os biomas correspondem às principais formações vegetais naturais (DAJOZ apud COUTINHO, 2006, p. 13-23). A dinâmica proposta sobre os Biomas do Brasil ocorreu da seguinte maneira: dividiuse a turma em três grupos de cinco alunos e cada grupo recebeu duas imagens referentes a Biomas diferentes. Os alunos deveriam relacionar as características da paisagem ao conhecimento prévio que possuíam sobre o tema, identificando o bioma. Após, distribuíramse cartelas com as características de cada Bioma, em que os alunos deveriam relacionar com as classificações existentes no território brasileiro segundo o IBGE. Por fim, os grupos deveriam localizar no mapa as imagens e suas respectivas características. 5 Figura 2: Alunos realizado a atividade. Fonte: Arquivo Pibid Considerações finais Como resultados da dinâmica, observou-se que o conhecimento prévio dos alunos foi reforçado, proporcionando assim a interação entre os componentes dos grupos e fazendo-os refletir sobre a interação sociedade/natureza dentro do contexto dos biomas. A atividade também fomentou a discussão sobre o bioma Pampa, no qual o município de Santa Maria está inserido e que os alunos não possuíam um conhecimento amplo. Os alunos puderam compreender a importância da preservação da natureza como parte do desenvolvimento da sociedade, visto que em cada bioma a população se desenvolve de uma forma específica, buscando usufruir dos recursos naturais oferecidos por cada bioma. O recurso didático modificou a aula em algo dinâmico e participativo, incentivando o interesse pela temática proposta, havendo assim o surgimento de curiosidades no qual os alunos possuíam. A relevância deste trabalho está na integração entre Academia e Escola, promovendo a construção do conhecimento indo além do senso comum. A partir da produção de uma aula que desperte a curiosidade e o interesse do aluno em aprender a aprender, conciliando teoria e prática e, desta forma, proporcionar ao aluno o trabalho em equipe, bem como a importância de se conviver em sociedade. Referências ANDREIS, Adriana Maria. Ensino de Geografia: Fronteiras e Horizontes. Porto Alegre: Compasso Lugar-Cultura: imprensa livre, 2012. CALLAI, Helena Copetti. Aprendendo a ler o mundo: a Geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 66, p. 227-247, maio/ago. 2005 247. Disponível em: http://www.cedes.unicamp.br. Acesso em: 09 de maio de 2016. CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos (org.), CALLAI, Copetti Helena, KAERCHER, Nestor André. Ensino de Geografia: práticas e textualização no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2000. DAJOZ, Roger. 1973. Ecologia Geral. Rio de Janeiro, Ed. Vozes. apud COUTINHO, Leopoldo Magno, 2006. O conceito de bioma. Disponível em: https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/recursos/Bioma_ConceitoID-M40xWuUZO1.pdf. Acesso em 09 de maio de 2016. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura). 6 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Biomas. Disponível em: http://7a12.ibge.gov.br/vamos-conhecer-o-brasil/nosso-territorio/biomas.html. Acesso em 09 de maio de 2016. 7