Aquecimento Global e Agricultura Brasileira: vulnerabilidades, mitigação e adaptação Eduardo Delgado Assad Embrapa – GVAgro Campo Grande 01 de setembro de 2015 Tópicos frequentes na mídia em relação às mudanças globais • O IPCC NÃO faz ciência. É somente um compilador de trabalhos publicados na literatura científica... - A confusão sobre o papel do IPCC (quando é positivo, sem destaque; quando é negativo, IPCC errou etc.) • A recorrência ao termo "vilão" do aquecimento e de tudo... • - A confusão na divulgação de dados sobre desmatamento na Amazônia (que aí é problemático por parte dos órgãos de pesquisa também); • - "Ceticismo" é inadequado. Na verdade são “negacionistas”, o que é muito diferente. Há muito espaço dedicado os "céticos“, porque dá IBOPE, em geral sem suporte científico. Esta postura mais "desinforma" do que informa. EVIDÊNCIAS-BASE CIENTÍFICA DO AQUECIMENTO GLOBAL EVIDÊNCIAS-BASE CIENTÍFICA DO AQUECIMENTO GLOBAL EVIDÊNCIAS-BASE CIENTÍFICA DO AQUECIMENTO GLOBAL Evidência nº1 da Ação Humana A marca dos combustíveis fósseis no ar e nos corais Há diferentes tipos de carbono no ar, conhecidos como isótopos de carbono. O tipo mais comum é o carbono-12, mais leve, e preferido pelas plantas. Combustíveis fósseis, como carvão ou petróleo, vêm de plantas que viveram há milhões de anos. Então, quando os queimamos, nós estamos emitindo mais deste carbono-12 leve, o que deve causar a queda da relação com o carbono-13. Isso é o que se observa em medições na atmosfera, nos corais e nas esponjas marinhas. Esta é evidência forte de que o aumento do dióxido de carbono no ar está diretamente ligado às emissões humanas. Medições (relação entre o carbono-13 e o carbono-12) feitas na Grande Barreira de Corais. Guia Cientifico do Ceticismo quanto ao Aquecimento Global, 2010. Evidência nº2 Menos calor escapando para o espaço Satélites medem a radiação infravermelha que sai para o espaço, observando assim com clareza o efeito estufa. Uma comparação entre os dados dos satélites, de 1970 e 1996, verificou que há menos energia escapando para o espaço nos comprimentos de onda em que os gases de efeito estufa absorvem energia. Guia Cientifico do Ceticismo quanto ao Aquecimento Global, 2010. Evidência nº3 O padrão de aquecimento dos oceanos Os oceanos do mundo têm acumulado calor pelos últimos 40 anos. O padrão que se observa no aquecimento dos oceanos pode apenas ser explicado pelo aquecimento por efeito estufa. Calor acumulado da Terra desde 1950. A taxa de acúmulo de calor desde 1970 tem a energia equivalente a 2,5 bombas de Hiroshima por segundo. Média móvel de 12 meses das variações da temperatura global. Temperatura oceânica observada (vermelho) comparada com os resultados dos modelos que incluem aquecimento por efeito estufa (verde). Guia Cientifico do Ceticismo quanto ao Aquecimento Global, 2010 Evidência nº4 Noites mais quentes do que os dias... Um efeito estufa mais intenso implicaria que noites deveriam se aquecer mais rápido do que os dias. Durante o dia, o Sol aquece a superfície da Terra. À noite, a superfície resfria-se, irradiando calor para o espaço. Os gases estufa tornam esse processo mais lento. Se o aquecimento fosse causado pelo Sol, nós teríamos uma tendência mais forte de aquecimento durante o dia. Ao invés disso, o que observamos é o número de noites quentes vem aumentando mais rápido que o número de dias quentes. Variação de longo prazo no número anual de dias quentes (vermelho) e noites quentes (azul). Quente é definido aqui como os 10% mais quentes do período estudado. Guia Cientifico do Ceticismo quanto ao Aquecimento Global, 2010. Evidência nº5 Mais calor está retornando para a superfície Um efeito estufa mais intenso implica que deveríamos ver mais radiação de onda longa descendente (voltando da atmosfera para a superfície Terra). Isso foi observado diretamente. Destes resultados, concluiu-se: “Estes dados experimentais devem efetivamente encerrar a discussão de céticos de que não haveria evidência experimental da conexão entre o aumento de gases estufa na atmosfera e o aquecimento global.” Tendência da radiação de onda longa descendente de 1973 a 2008. A América do Norte está em branco porque os dados desta região não abrangem todo o período de 1973 a 2008. Guia Cientifico do Ceticismo quanto ao Aquecimento Global, 2010. Evidência nº6 Aquecimento observado mais no inverno que no verão Conforme o aquecimento por efeito estufa aumenta, prevê-se que os invernos se aqueçam mais rápido que os verões. Isso acontece porque o efeito estufa tem um efeito maior no inverno. É isso que se observa nos registros instrumentais. Variações de temperatura em média móvel para o inverno e verão, média apenas continental, de 1850 a 2009. Guia Cientifico do Ceticismo quanto ao Aquecimento Global, 2010. Evidência nº7 Resfriamento da alta atmosfera Conforme os gases estufa aprisionam mais calor na baixa atmosfera, menos calor alcança a alta atmosfera (estratosfera e camadas superiores). Assim, a ciência prevê que o efeito estufa provocaria um aquecimento da atmosfera baixa e um resfriamento da alta atmosfera. Isso está sendo observado por satélites e balões meteorológicos. Variações de temperatura (graus centígrados) nas atmosferas alta e baixa, medidas por satélites (RSS). Guia Cientifico do Ceticismo quanto ao Aquecimento Global, 2010. Os últimos 50 anos observamos: Dramática degradação do capital natural do Planeta • • • • • • • • 1900 Aumento de CO2, N2O, CH4 Aquecimento Global Degradação da terra Perda de Biodiversidade Eutrofização Poluição Extração de Água ….. 1950 2000 Rockstrom Impactos previstos para o Brasil • Intensificação das chuvas no Sul e Sudeste; • O Nordeste deverá se tornar mais árido; • Substituição gradual da floresta amazônica oriental por vegetação de savana; • Diminuição na disponibilidade de água no semiárido; • Aumento no nível do mar. (Fonte: Prof. Hernani Löebler, Dep. de Ciências Geográficas-UFPE) Principais ações • Estimar as vulnerabilidades • Estabelecer prioridades para mitigação • Buscar opções de adaptação • Transformar o aquecimento global num desafio de inovação e oportunidade de mercado • Buscar o equilíbrio entre segurança alimentar, segurança hídrica e segurança energética. Obs: Embrapa investe aproximadamente 30 milhões de reais ano em pesquisa em mudanças climáticas. 15 Variation of the contribution of each sector from 2005 to 2010 GHG Emission Inventory for Brazil Emissions of 2.03 billion ton of CO2eq in 2005 Emissions of 1.25 billion ton of CO2eq in 2010 16% 22% 2% 4% 57% 38% reduction 32% 22% 57% 20% 4% 35% Energy Waste Treatment Industrial Processes Agriculture Source: MCTI, 2013. Updating of GHG Inventory Data up to 2010. 7% Land use and forests Balanço de radiação Terrestre (Wm-²) Threnberg, BAMS 2009 Razões das incertezas : 1) Nuvens?; 2) variabilidade solar?; 3) aerosois? 4) Nossa ignorancia do Sistema terra. PIB per capita Mundial e Concentração de CO2 (ppm) 7 360 6 340 Concentração de CO2 320 4 300 1750 3 280 Concentração de CO2 PIB per capita mundial (US$ mil) 5 2 PIB per capita mundial * 260 1 0 240 1 1000 1500 1600 1700 1820 1870 1913 1950 1973 Fontes: Maddison, A. - The World Economy, 2003 (Dolar Internacional Geary-Khamis, US$ de 1990)/ MacKay, D. 2008. Elaboração: Idéias Consultoria 2001 19 Observed Emissions and Emissions Scenarios Emissions are on track for 3.2–5.4ºC “likely” increase in temperature above pre-industrial Large and sustained mitigation is required to keep below 2ºC Data: CDIAC/GCP/IPCC/Fuss et al 2014 Over 1000 scenarios from the IPCC Fifth Assessment Report are shown Source: Fuss et al 2014; CDIAC; Global Carbon Budget 2014 Vulnerabilidade climática Estudos do comportamento passado e de tendências futuras na temperatura Resultados iniciais obtidos com dados do modelo regional ETA inicializado com o modelo global do CMIP5, HadGen2ES RCP 4,5 e RCP8,5, no simulador para agricultura SCENAGRI-EMBRAPA Embrapa-INPE-MCT&I relatório Convenção Quadro 2014 * Baixa incerteza Análise do Passado Consequência: Morte de abelhas Fonte: Assad et al 2015 no prelo Análise do Passado Consequência: Morte de frangos e pintos de 1 dia Análise do Passado Consequência: Abortamento de flores de café, feijão, laranja, aborto de porcas, redução da Produção de leite. Tendências Futuras Segundo Modelo ETA-Hadgen2S IPCC 2014 Evolução das temperaturas Consequências • Alteração no Balanço hídrico (aumento do déficit hídrico) • Aumento do risco climático • Mudanças nas áreas preferenciais de produção (já observado no Brasil, Chile, Argentina, França, Colômbia, Guatemala, EUA) • Alterações no zoneamento agrícola de risco climático • Possível aumento de perdas de produtividade Impactos no milho safrinha RCP 4.5 Milho Safrinha Ano Base 2012 2025 ∆ (%) 2055 ∆ (%) 2085 ∆ (%) 2.143.341 -71,3 4.242.920 -43,2 2.214.010 -70,4 Área Plantada (ha) RCP 8.5 7.468.878 2025 ∆ (%) 2055 ∆ (%) 1.751.641 -76,5 1.128.835 -84,9 Fonte: Embrapa Informática- Laboratório de modelagem ambiental – MCT&I 2085 ∆ (%) 204.339 -97,3 Fonte: Embrapa Informática- Laboratório de modelagem ambiental – MCT&I Fonte: Embrapa Informática- Laboratório de modelagem ambiental – MCT&I Fonte: Embrapa Informática- Laboratório de modelagem ambiental – MCT&I Fonte: Embrapa Informática- Laboratório de modelagem ambiental – MCT&I Evolução da Chuva Modelos com alta incerteza Consequências • Observação de aumento da frequência de chuvas intensas • Fortes alterações na distribuição das chuvas • Alteração no balanço hídrico • Aumento na intensidade e frequência dos veranicos • Aumento da erosão • Não são resultados de modelos Carvallho et al 2014, Weather and Climate Extremes Carvallho et al 2014, Weather and Climate Extremes Carvallho et al 2014, Weather and Climate Extremes Ações de mitigação 47 Sistema ILPF com alta eficiência no sequestro de carbono Fonte :Embrapa agrobiologia 49 Observatório ABC GVagro BALANÇO DE EMISSÕES DE CO2 eq. ENTRE 2012/13 E 2022/23 DA AGROPECUÁRIA COM E SEM A ADOÇÃO DE TECNOLOGIAS DE BAIXA EMISSÃO DE CARBONO. Adaptação Mudanças Climáticas Célula/Tecido Organismo População Comunidade SNPs Expressão gênica Metaboloma Trocas gasosas Potencial hídrico Biomassa Crescimento variáveis nível de organização biológica Genoma Ciências genômicas para compreensão da resposta das plantas às mudanças climáticas Densidade de plantio Floração Diversidade O impacto das mudanças climáticas ocorre sobre os múltiplos níveis de organização biológica. Pouco se sabe ainda como esse impacto afeta os processos moleculares, bioquímicos e fisiológicos que determinam as respostas em uma cadeia que vai de indivíduos até ecossistemas globais. Dominância Por isso, é necessária a incorporação Ecossistema Produtividade Carbono no solo das ciências genômicas aos estudos ecológicos. Genômica visando adaptação de culturas agroflorestais a mudanças climáticas: objetivos Identificação de variedades mais adaptadas (resistentes/tolerantes) aos estresses abióticos decorrentes das mudanças climáticas: [CO2] atmosférica elevada, seca, calor, submergência etc, em condições controladas. Descoberta de mecanismos moleculares, bioquímicos e fisiológicos mediando respostas e adaptação a tais estresses. Desenvolvimento de marcadores moleculares (genéticos e bioquímicos) para seleção assistida de variedades mais adaptadas em programas de melhoramento genético. Descoberta de genes envolvidos em adaptação (resistência/tolerância) com valor biotecnológico. ( forte expressão na biodiversidade) Questões (1) Estresses/condições a serem testadas em cenários reproduzidos [CO2], temperatura (calor), disponibilidade hídrica (seca X submergência) UV? Frio? Quais outros são previstos nos modelos? Qual é a capacidade de reprodução em condições controladas? Escolha dependente da relevância para a espécie-alvo e de limitações do sistema de reprodução do cenário. Sistemas de reprodução (FACE, topo aberto, fitotron). Espécies-alvo algodão, arroz, braquiária, café , cana-de-açúcar, eucalipto, feijão, feijão-caupi, mandioca, milho, soja, sorgo, trigo, uva... Nativas florestais? Frutíferas? Oleaginosas Número de acessos e diversidade de germoplasma a ser testado. Safra 2011/12 Balanço hídrico decendial - Outubro/2013 a Março/2014 Embrapa Soja - Londrina/PR mm 140 Deficiência Retirada Precipitação ETP 120 100 80 ~50 dias c/ ~44mm 60 40 20 0 Out1 Out2 Out3 Nov1 Nov2 Nov3 Dez1 Dez2 Dez3 Jan1 Jan2 Jan3 Fev1 Fev2 Fev3 Mar1 Mar2 In the Laboratory more than 20 genes being tested >40oC 49days 44mm only BR16 Irri Gene y Irr BR16 N Irr Gene y N Irr Massa Raíz (g) Gene Y BR16 І Erro Padrão, n=4 Número de Nódulos Massa Nódulos (g) Anticarsia sp. desenvolvendo-se em folhas de BR16 e Gene Y durante 4 dias Gene Y BR16 Fotos: Dr Adeney F. Bueno, Embrapa Soja • Helicoverpa armigera Pesquisas em tolerância a seca • Soja • Milho • Cana • Feijão • Podemos fazer muito mais. Faixa potencial de utilização das “soluções genéticas” da biodiversidade do cerrado brasileiro Qual o valor disso? Obrigado [email protected]