PERFURAÇÃO INTESTINAL POR ARMA DE FOGO

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PERFURAÇÃO INTESTINAL POR ARMA DE FOGO:
relato de caso
Tatiana Bedran1
Bruna Lívia Bento2Camila Daiana2
Claudiomara Kelly Camargo2
Cibelle Martinez Carneiro Araújo2
Daniel Arthur Sales2
Glauciane Oliveira Magalhães Carvalho2
Jakeline Gomes Alves2
Kênia Fernanda Oliveira2
RESUMO: A violência tem crescido no país elevando os indicadores de morbidade e mortalidade por causas externas. O abdome representa o terceiro lugar da
região corporal mais atingida por trauma e a lesão por projétil de arma de fogo é a causa mais comum lesando órgãos ou estruturas vitais. O objetivo desse
trabalho foi descrever com base na literatura e no caso estudado, os cuidados de enfermagem ao paciente vítima de perfuração intestinal e suas complicações.
Trata-se de um estudo de caso de paciente admitido em um hospital público da região metropolitana de Belo Horizonte vítima de perfuração por arma de fogo
em abdome. Conclui-se que a perfuração intestinal por arma de fogo é um trauma comum, de difícil resolução e requer cuidados intensivos de enfermagem
para evitar maiores complicações que podem levar o paciente a óbito.
PALAVRAS-CHAVE: Perfuração abdominal. Laparotomia. Cuidados de Enfermagem.
INTRODUÇÃO
versos órgãos e estruturas intra-abdominais, levando a ruptura
Observa-se, cada vez mais, o aumento do número de pes-
de vísceras ocas, o que causa liberação de secreções digestivas
soas, especialmente jovens, vítimas de violência, principalmente
como suco gástrico ou intestinal, bile, fezes e urina, podendo
pelo uso de arma de fogo. “O crescimento exponencial da violên-
levar à peritonite (DRUMOND, 2010).
cia no Brasil nas últimas décadas vem ocupando cada vez mais
O atendimento inicial aos pacientes com trauma abdominal
espaço nos meios de comunicação e fazendo parte do cotidiano
é diretamente proporcional à gravidade do trauma, sendo que
da população brasileira” (SANCHES; DUARTE; PONTES, 2009).
as avaliações laboratoriais e radiológicas dependem das condi-
Essa violência se reflete no âmbito hospitalar, através das
lesões por arma de fogo que constituem, entre as internações
ções e necessidades de cada doente e, muitas vezes, a laparotomia exploradora se impõe de imediato (RIBAS-FILHO, 2008).
por causas externas, a maior taxa de mortalidade com aproxi-
Os ferimentos por arma de fogo podem resultar em vítimas
madamente 10 óbitos por 100 internações e com o custo 34%
com lesões irreversíveis, inaptas ao trabalho ou que necessitem
mais elevado em relação aos outros tipos de agressões devido
de cuidados com a saúde por meio de internação hospitalar,
às complicações que podem surgir (SOUZA, 2005).
uso de medicações, reabilitação física e mental (SANCHES; DU-
De acordo com Onofre, Torres e Aguilar (2006) o abdome
ARTE; PONTES, 2009).
representa o terceiro lugar da região corporal mais atingida por
Considerando que este tipo de trauma é a segunda causa
trauma, sendo que as lesões por projétil de arma de fogo são a
de morte no país, muitas vezes evitáveis quando o indivíduo re-
causa mais comum de trauma penetrante e sua gravidade é de-
cebe atendimento adequado, nota-se a necessidade de mais
terminada pela lesão de órgãos ou estruturas vitais do abdome.
estudos relativos ao tema para subsidiar a assistência da equi-
O sucesso no atendimento do trauma abdominal é caracte-
pe de enfermagem para prestar um atendimento de qualidade
rizado pela eficiência da abordagem inicial que permite instituir
capaz de reduzir o risco de complicações e atingir o restabele-
o diagnóstico precoce e o tratamento oportuno das lesões intra-
cimento de suas funções vitais de forma que proporcione uma
-abdominais, quando presente (JUNIOR; LOVATO; CARVALHO;
maior qualidade de vida, uma vez que a incidência desse tipo de
HORTA, 2007).
trauma tem aumentado em nosso meio.
Com o abdome traumatizado, podem ocorrer lesões nos di-
Diante do exposto e da importância de uma adequada assis-
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tência de enfermagem ao paciente com complicações decorren-
transferido para a clínica cirúrgica onde evoluiu com febre e leu-
tes da perfuração intestinal, julgou-se oportuna à realização do
cocitose. Realizou-se exame de Tomografia Computadorizada
presente trabalho que teve como objetivo descrever, com base
do abdome que não apresentou alterações importantes, iniciou-
na literatura e no caso estudado, os cuidados de enfermagem
-se tratamento com oxacilina, gentamicina e metronidazol. Seu
ao paciente vítima de perfuração intestinal e suas complicações.
quadro evoluiu para inapetência, dor abdominal e secreção fecalóide no dreno. Foi realizada nova laparotomia com visualiza-
2 METODOLOGIA
ção de três fístulas, realizado ileostomia, anastomose do jejuno
Trata-se de estudo de caso de um paciente admitido em
proximal com inserção de novo dreno, fechamento primário de
um hospital público da Região Metropolitana de Belo Horizonte,
sigmóide e confecção de bolsa de bogotá. Em seguida foi admi-
vítima de Perfuração por Arma de Fogo (PAF) em abdome. Após
tido no CTI onde permaneceu por 11 dias.
realização de anamnese e exame físico do paciente em ques-
Outras duas revisões se fizeram necessárias para direcio-
tão, realizou-se a consulta no prontuário médico para coleta de
namento de fístula, lavagem da cavidade abdominal devido se-
dados significativos sobre a evolução de seu quadro de saúde.
creção de aspecto bilioso. Sua dieta iniciou-se por jejunostomia
No período de março a abril de 2011 foi realizada a pesquisa
na admissão no CTI. Em 31/01, foi prescrito NPT. Coletou-se he-
bibliográfica, com recorte temporal no período de 06 anos, de
mocultura dia 11/02 cujo resultado em 21/02 detectou presença
2005 a 2011.
da bactéria multirresistente Klebsiella pneumoniae, o quadro foi
Como fonte de consulta utilizou-se periódicos nacionais e
atribuído à peritonite / sepse abdominal por esse microrganismo
internacionais indexados nas bases de dados MEDLINE, SCIE-
e iniciado tratamento antimicrobiano, instituiu-se a partir de en-
LO E LILACS. Foram selecionados artigos em língua portuguesa
tão, medidas de precaução por contato.
e espanhola, por serem as línguas de domínio dos estudantes.
EXAME FÍSICO: 28/03/2011
Após a consulta aos bancos de dados, os artigos foram lidos e
Neurológico: Paciente consciente, bem orientado no tem-
analisados, considerando-se principalmente os que abordavam
po e espaço. Estado geral: Ictérico, acianótico, hipocorado
a perfuração abdominal por projétil de arma de fogo e suas com-
(+3/+4), desidratado, temperatura axilar 38,5°, pupilas isocó-
plicações, intervenções realizadas e o cuidado de enfermagem
ricas e fotorreativas. Habito alimentar: Dieta administrada por
ao paciente com abdome aberto. Dos 30 artigos analisados, 11
jejunostomia. Higienização corporal e bucal adequada realizada
foram excluídos - 07 por serem de data anterior a 2005 e 4 por
no leito pela equipe de enfermagem. Aparelho Respiratório: Ex-
se tratar de estudo de caso diferente do tema abordado. Foi
pansividade torácica simétrica, frequência respiratória (FR): 21
necessário também a consulta a livros das áreas médica e de
incursões respiratórias por minuto (irpm), ausência de ruídos ad-
enfermagem, da Biblioteca da Faculdade Newton Paiva, Cam-
ventícios. Aparelho cardiovascular: taquicárdico (103 batimentos
pus Silva Lobo para definição de conceitos.
por minuto), hipertenso (PA: 160 x 110 mmHg), Bulhas cardíacas
normo rítmicas e normo foneticas (BNRNF), ausência de sopros.
Abdome: não foi realizado o exame físico do abdome devido
3 CASO CLÍNICO
Trata-se de J.L.S., 28 anos, sexo masculino, faiodermo, solteiro residente em Contagem – MG, admitido em um hospital
municipal da região metropolitana de Belo Horizonte vítima de
Perfuração por Arma de Fogo (PAF). História da Moléstia Atual:
Paciente apresentou lesões em mão esquerda, ombro e região
às condições do paciente: ferida operatória (laparotomia), dreno
tubular em região epigástrica. Habito urinário preservado. Habito
intestinal: utilização de bolsa de colostomia. Membros: acesso
venoso periférico em membro superior esquerdo. Extremidades
hipotérmicas e perfusão capilar normal (3 segundos).
para lombar direitos (nível de L5 ao RX). História Familiar: Nega
qualquer tipo de doenças hereditárias e / ou crônicas na família.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
História Pregressa: Nega ser portador de Hipertensão Arterial e
O paciente acompanhado apresentou lesões por projétil de
Diabetes Mellitus. Moradia: Reside em uma casa (barraco) nos
arma de fogo, que é o tipo mais comum de trauma penetrante
fundos da casa da tia.
de abdômen (ONOFRE; TORRES; AGUILAR, 2006). Segundo Ri-
Em 20/01/2011, o paciente foi submetido à laparotomia exploradora de emergência onde encontrou-se lesões de delgado
bas-Filho, et al (2008), as vísceras mais atingidas nesses casos
são intestino delgado, seguido de cólon, fígado e rins.
e sigmóide que foram rafiadas e lesões de ureter D que levaram
“Os ferimentos abdominais por arma de fogo comportam
à ureterectomia e anastomose após passar cateter duplo J. Foi
uma taxa de lesão interna de até 97% [...] deste modo, a lapa-
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rotomia exploradora é mandatória neste tipo de trauma, para o
controle de sangramentos e contaminação intestinal.” (JUNIOR;
LOVATO; CARVALHO; HORTA, 2007).
da mucosa do trato intestinal (TRABULSI; ALTERTHUM, 2005).
A infecção causada por essa bactéria multirresistente está
associada com significante morbimortalidade. Devido à resistên-
Esta cirurgia consiste na abertura do abdome, tendo como
cia a numerosos agentes antimicrobianos, o tratamento pode
finalidade sua exploração exame e/ou tratamento. O procedi-
ser desafiador, pois há uma limitada opção de tratamento dispo-
mento consiste na realização de uma incisão mediana xifopu-
nível. Os carbapenêmicos (Imipenem e Meropenem) geralmente
biana que permite o acesso à cavidade peritonial. Após esse
se mostram seguros e eficazes (TRABULSI; ALTERTHUM, 2005).
acesso, faz-se a evisceração do intestino para avaliação e repa-
O tratamento para sepse abdominal é prioritariamente cirúr-
ração de danos (JÚNIOR; LOVATO; CARVALHO; HORTA, 2007).
gico e visa controlar a fonte de infecção, remover e drenar seus
Segundo Junior, Lovato, Carvalho e Horta (2007) a lapa-
produtos, aliado a antibioticoterapia e suporte ventilatório que
rotomia é indicada também nas seguintes situações durante a
promovem um estado hemodinâmico adequado (INAGUAZO;
evolução de pacientes com ferimentos penetrantes: instabilida-
ASTUDILLLO, 2002).
de hemodinâmica, sinais evidentes de irritação peritoneal, lesão
Neste caso, como abordagem cirúrgica foi realizada em
de víscera oca, sangramento evidente e hipotensão recorrente
J.L.S. peritoneostomia com confecção de Bolsa de Bogotá para
apesar da reposição de fluidos.
tratamento da infecção intra-abdominal.
Alguns indivíduos podem evoluir para sepse abdominal de-
A Bolsa de Bogotá é uma técnica utilizada para cobrir tem-
pendendo de fatores como: condições gerais, conteúdo intesti-
porariamente a cavidade abdominal com o objetivo de promo-
nal no momento da lesão, tempo decorrido entre o ferimento e
ver o seu fechamento mais precocemente. De acordo com Dru-
o tratamento recebido, choque ou instabilidade hemodinâmica,
mond (2010) a utilização desde dispositivo é indicado devido
grau de contaminação peritoneal, lesão do cólon e de múltiplos
ao baixo custo, proteção adequada da cavidade abdominal e
órgãos (JUNIOR, 2002).
por permitir a visualização de acúmulo de sangue e secreção na
O termo “sepse ou septicemia designa a presença de organismos e de lipolissacarídeo bacteriano – LPS (endotoxinas) no
sangue e associa-se mais frequentemente a infecção por bactérias gram-negativas” (PORTH; KUNERT, 2004, p. 548).
cavidade, além de evitar o aumento da pressão intra-abdominal
causado pelo edema das alças intestinais.
Sua confecção consiste no posicionamento de um grande
plástico sobre a parede abdominal aberta sem fixação. Sobre
Quando uma infecção bacteriana grave leva a essa condi-
este plástico, é colocado um dreno para aspiração contínua, e
ção, os níveis de citocinas circulantes aumentam e a forma do
em seguida outro plástico deve ser suturado à pele utilizando fio
hospedeiro responder é alterada, uma vez que o LPS estimula
de nylon, garantido que a bolsa fique presa sobre o abdômen
diretamente a liberação de diversas citocinas, tais como inter-
(DRUMOND, 2010).
leucina 1 (IL-1) e fator de necrose tumoral (TNF) além de ativar
Algumas complicações decorrentes da utilização deste mé-
diretamente os macrófagos (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2008).
todo são: evisceração, dificuldade de mobilização do paciente,
As alterações sistêmicas observadas nesses pacientes, al-
surgimento de fístulas devido à aderência das vísceras ao peri-
gumas vezes denominadas Síndrome de Resposta Inflamatória
tônio e a retração da fáscia se as bordas da parede abdominal
Sistêmica - SIRS são reações a essas citocinas: neutrofilia, febre
não se aproximarem após um período de sete a dez dias (DRU-
e elevação nos reagentes de fase aguda no plasma que pode
MOND, 2010).
resultar em coagulação intravascular disseminada (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2008).
Com a ocorrência de sepse, ocorre aumento da proteólise
muscular esquelética, mobilização de aminoácidos da periferia
O microrganismo identificado no paciente em estudo, iso-
para as vísceras para gliconeogênese, além do aumento de ca-
lado na cultura coletada em 11/02/2011 – Klebsiella pneumo-
tabolismo em 3 a 5 vezes. Por isso, é necessário a implantação
niae – é um bastonete gram-negativo anaeróbico facultativo da
de uma terapia nutricional efetiva para preservar ou recuperar o
família enterobacteriaceae (entérica) que faz parte da microbiota
estado nutricional e as reservas corporais do paciente além de
endógena do cólon intestinal (TORTORA; CASE, 2000).
diminuir o hipercatabolismo evitando, assim, um quadro de des-
Numerosos fatores de virulência têm sido descritos na Klebsiella sendo o principal a cápsula extracelular que cobre a super-
nutrição que leva ao agravamento do estado geral do paciente
(MARTINS; CARDOSO, 2000).
fície da bactéria protegendo-a da fagocitose. Além da cápsula,
O manejo nutricional desses pacientes é complexo e, ao
há por volta de 5 antígenos somáticos e adesinas - como as
estimar as suas necessidades deve ser levado em considera-
fimbrias - que mediam a ligação do microorganismo nas células
ção fatores diversos como resposta ao estresse, processo de
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cicatrização e infecções associadas (VELAZQUEZ; et al, 2007).
hematúrias, sangramento gengival, ferida operatória ou catete-
Quando o trato intestinal não pode ser utilizado de maneira
res, derrame de esclerótica, petéquias, hematoma e enterorra-
segura e efetiva, é indicado a nutrição parenteral (NP) que é o
gias; utilizar decúbito a 45º; controle rigoroso do gotejamento
fornecimento de nutrientes por via endovenosa. Essa via deve
dos soros, drogas vasoativas e hemoderivados; profilaxia de
ser utilizada em pacientes com sepse devido ao alto catabolis-
trombose venosa profunda; atentar para a integridade da pele
mo e, assim, tentar melhorar as condições nutricionais e imuno-
e das mucosas: edemas, hiperemia, icterícia, lesões ou palidez;
lógicas do paciente. Concomitantemente pode-se iniciar dieta
avaliação quanto a possibilidade de mudança de decúbito a
enteral (se o paciente não apresenta íleo paralítico) pela sonda
cada duas horas; manter precaução de contato; monitorização
de jejunostomia, reduzindo-se assim a chance de translocação
cardíaca: atentar às alterações do traçado; observar distensão
bacteriana. Após a adequação da dieta enteral em relação as
abdominal; administração de medicamentos seguindo os horá-
necessidades energéticas e proteicas do paciente retira-se a NP
rios prescritos; atentar para controle da administração da dieta e
(WAITZBERG, 2009).
verificar a fixação da sonda; limpeza da região em volta da bolsa
A via enteral apresenta algumas limitações como distúrbios
de motilidade intestinal devido ao edema, diminuição da absor-
de bogotá. Esses cuidados foram dispensados ao paciente permitindo a melhora de seu quadro clínico.
ção pela isquemia das vísceras e alteração no transporte intra-
Para prestar uma adequada assistência de enfermagem ao
celular. Apesar de todos esses fatores limitantes, deve-se tentar
paciente em questão, elaborou-se um plano de cuidados com
priorizar esta opção devido aos benefícios principalmente no pa-
os principais diagnósticos de enfermagem a fim de fornecer cui-
pel à ressposta inflamatória sistêmica (VELAZQUEZ; et al 2007).
dados integrais e individuais a ele baseando-se na sistematiza-
Segundo Inaguazo e Astudillo (2009) existem duas estra-
ção da assistência de enfermagem – SAE.
tégias atualmente disponíveis para o tratamento das infecções
A SAE constitui um meio para o enfermeiro aplicar seus
intra-abdominais: a utilização do abdome aberto (bolsa de bo-
conhecimentos técnico-científicos, caracterizando sua prática
gotá) ou a lavagem diária da cavidade peritoneal até a esteriliza-
profissional. É através do processo de enfermagem - PE que
ção da mesma aliado à antibioticoterapia que utiliza esquemas
as ações são desenvolvidas visando assistência ao ser humano
de amplo espectro visando gram-positivos, gram-negativos e
(TANNURE; GONÇALVES, 2010).
anaeróbios (NETO, et al. 2007).
De acordo com as autoras, o PE é dividido em quatro fases
Foram utilizados no paciente diversos esquemas de antimi-
que, primeiramente, identifica os problemas do paciente através
crobianos variando de acordo com a persintência ou reicidiva de
da investigação do caso e em uma segunda fase, evidencia as
infecção, foi administrado metronidazol da classe dos imidazóis
suas necessidades ao formular os diagnósticos de enfermagem
sendo um anaerobicida de primeira escolha que altera a perme-
adequados ao paciente. Em um terceiro momento, com o plane-
abilidade celular das bactérias, mostrando muita eficácia por via
jamento, são traçados os resultados esperados a partir dos pro-
oral, ampicilina uma penicilina semi-sintética, vancomicina um
blemas reais ou potencias e na implementação são prescritas
antimicrobiano da classe dos betalactâmicos, glicopeptídicos e
ações para que os resultados esperados sejam atingidos. Por
meropenem um betalactâmico carbapênico de largo espectro
fim, a fase de avaliação consiste em perceber e contabilizar as
todos atuam inibindo a síntese da parede celular bacteriana.
respostas do cliente às intervenções de Enfermagem.
Além destes, a oxacilina uma penicilina semi-sintética betalac-
Cada indivíduo reage de uma maneira ao ambiente em que
tamase, gentamicina um antimicrobiano da classe aminoglico-
está inserido, e por isso, o cuidado de enfermagem deve ser
sídeos que inibe a síntese protéica bacteriana e ceftriaxona da
uma ação planejada, individualizada, deliberada do enfermeiro
classe cefens betalactâmicos e subclasse cefalosporina de ter-
resultante da percepção, observação e analise da condição do
ceira geração (TORTORA, 2000).
paciente.
De acordo com o Instituto Neurológico, Cardiológico e de
Diante do que foi exposto, foram elaborados alguns diag-
Terapia Intensiva (2010), os principais cuidados de enfermagem
nósticos e prescrições de enfermagem relacionados ao estado
em relação ao paciente com sepse são: avaliação do padrão
de saúde do paciente em questão visando minimizar os descon-
respiratório, saturação de oxigênio, coloração da pele; solicita-
fortos vivenciados pelo mesmo. Os referidos diagnósticos são
ção do laboratório, quando necessário, coleta de amostra para
descritos a seguir:
exames laboratoriais e culturas; controle do balanço hídrico, si-
1. Integridade da pele prejudicada relacionada com fa-
nais vitais e PAM (65mmHg); observar sinais de sangramento:
tores mecânicos (PAF) caracterizado por invasão de estru-
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turas do corpo e destruição de todas as camadas da pele,
dade, desconforto, desnutrição diminuição da massa mus-
seguido de perfuração do peritônio com lesão em intestino
cular, dor, medicamentos e metabolismo celular alterado
delgado e cólon (NANDA, 2010).
caracterizado por amplitude limitada de movimento, capa-
1.1 Resultado esperado:
cidade limitada para desempenhar as habilidades motoras
O paciente apresentará melhora da integridade de pele
e dificuldade para mover-se.
após 60 dias.
Prescrições de enfermagem:
Fazer higiene no local da ferida operatória, inserção do dreno e acesso venoso quatro vezes ao dia avaliando a cor e odor
4.1 Resultado esperado:
O paciente apresentará melhora da mobilidade física após
30 dias.
Prescrições de enfermagem:
da ferida e se há presença de secreção, anotar e comunicar
Realizar massagem de conforto nos membros superiores e
qualquer alteração. Cuidado a ser realizado pelo técnico de en-
inferiores 1 vez ao dia no mínimo. Cuidado a ser realizado pelo
fermagem ou enfermeiro;
enfermeiro.
Utilizar coxins e travesseiros para aliviar as áreas de proemi-
Realizar exercícios passivos nos membros. Fazer os exercí-
nências ósseas do trocanter, tornozelo e calcâneo. Cuidado a
cios lentamente, para permitir que os músculos tenham tempo
ser realizado pelo Técnico de Enfermagem.
de relaxar e apoiar extremidades acima e abaixo da articulação
para prevenir lesões nas articulações e nos tecidos. Cuidado a
2. Dor aguda relacionada a perfuração abdominal por
ser realizado pelo enfermeiro.
arma de fogo com o desenvolvimento de sepse caracterizada por relato verbal da dor, taquipnéia (21 irpm), taquicardia (103 bpm) e expressão facial de dor.
5. Nutrição desequilibrada: menos que as necessidades corporais relacionada à capacidade prejudicada de
2.1 Resultado esperado:
absorver alimentos caracterizada por lesão abdominal,
O paciente apresentará diminuição da intensidade da dor
relato de ingestão inadequada de alimentos menor que a
(relatando uma pontuação menor do que 10 na escala de avaliação da dor) em até 1 hora.
Prescrições de enfermagem:
Administrar medicamento analgésico conforme a prescrição
médica e avaliar se houve melhora do quadro. Cuidado a ser
realizado pelo técnico de enfermagem.
Manter o paciente em posição confortável e observar melhora
do quadro. Cuidado a ser realizado pelo técnico de enfermagem.
PDR e mucosas pálidas.
5.1 Resultado esperado:
O paciente apresentará melhora da nutrição desequilibrada
após início da dieta por via oral, enteral ou parenteral.
Prescrições de enfermagem:
Encaminhar para nutricionista avaliar o quadro e solicitar à
equipe médica a prescrição de dieta enteral em até 24 h. Checar
as solicitações. Cuidado a ser realizado pelo enfermeiro.
Verificar se a sonda (jejunostomia) está fixada corretamente
3. Hipertermia relacionada ao processo inflamatório
(sepse), aumento da taxa metabólica, desidratação e ex-
e se a dieta está sendo administrada corretamente. Cuidado a
ser realizado pelo enfermeiro.
posição a ambiente quente caracterizado por taquicardia
(103 bpm) e aumento da temperatura corporal (38,5ºC).
3.1 Resultado esperado:
O paciente apresentará normalização da temperatura corporal em até 1 hora.
Prescrições de enfermagem:
Administrar antipirético conforme prescrição médica e avaliar
melhora do quadro comunicando qualquer anormalidade ao enfermeiro. Cuidado a ser realizado pelo técnico de enfermagem.
Fazer o controle dos sinais vitais avaliando possíveis alterações
em FC, FR e no pulso. Cuidado a ser realizado pelo enfermeiro.
4. Mobilidade física prejudicada relacionada a ansie-
5 CONCLUSÃO
A perfuração intestinal por arma de fogo é um trauma muito
comum e de difícil resolução, pois o derramamento do conteúdo
intestinal no peritônio pode levar a complicações como a sepse e
isso requer uma série de cuidados intensivos de enfermagem para
evitar maiores complicações que podem levar o paciente a óbito.
Após três meses de internação pode-se observar melhora
do quadro clinico do paciente que já estava se alimentando por
via oral, não sentia dor e deambulava pela enfermaria assumindo ações para seu autocuidado.
As intervenções aplicadas no tratamento do paciente estudado foram de suma importância para a recuperação o que
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culminou na alta hospitalar.
Conseguiu-se o controle da infecção intra-abdominal, com
o uso da bolsa de Bogotá, um método com risco de complicações e com elevados índices de mortalidade não apenas devido
à utilização da cirurgia, mas também a complicações locais ou
gerais devidas à gravidade desse tipo de paciente.
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NOTAS DE RODAPÉ
1 Mestre em Enfermagem. Especialista em Nefrologia e Terapia Intensiva.
Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Newton Paiva.
Endereço eletrônico: [email protected]
2 Acadêmicos do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Newton
Paiva
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PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2012/2 - EDIÇÃO 6 - ISSN 2176 7785 l 145
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