QUEM É ESSE DNA? - Biblioteca da Univap

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QUEM É ESSE DNA?
A INCRÍVEL MOLÉCULA DA VIDA!
Lívia Fernandes Cantisani1, Adolfo José da Mota1, Maria Gabriela Mamede1,
Professora Dra Maria Angélica Gargione Cardoso2
1
Universidade do Vale do Paraíba/Faculdade de Educação, Av. Shishima Hifumi, 2911
[email protected]
2
Universidade do Vale do Paraíba/Faculdade de Educação, Av. Shishima Hifumi, 2911
[email protected]
Resumo- Esse trabalho tem como objetivo principal buscar a interação entre a Ciência e o Ensino da
Genética através do uso de experiências didáticas, teóricas e práticas, que unam a realidade social e as
descobertas científicas atuais, contribuindo para que a compreensão de conceitos genéticos tais como:
DNA, cormossomos, genes, herança genética, código genético, se torne acessível aos alunos do Ensino
Médio e Fundamental, de escolas públicas e privadas, possibilitando que os estudantes desenvolvam
habilidades que os capacitem a se posicionarem frente a questões que envolvam a Genética e suas
tecnologias.
Palavras-chave: Células, Cromossomo, DNA, Educação, Extração.
Área do Conhecimento: VII Ciências Humanas
Introdução
Por milhares de anos o ser humano busca
respostas para as dúvidas sobre a hereditariedade
e estas só foram possíveis há cerca de 130 anos
desde que o trabalho de Gregor Mendel, sobre as
leis da herança, foi descoberto pelo mundo
científico. Desde então a Genética cresceu com
uma velocidade explosiva, exemplo disso foi a
descoberta da estrutura da molécula do ácido
desoxirribonucléico (DNA) por James Watson e
Francis Crick em 1953.
Hoje, a tecnologia molecular abriu uma visão
inteiramente nova de como os genes, “fatores” de
Mendel, funcionam. Clones, células-tronco, Projeto
Genoma, bioética, PCR, terapia gênica, é todo um
vocabulário de conceitos genéticos que, de tão
repetidos, se tornaram familiares. Raramente se
passa uma semana sem o surgimento de algum
item na mídia sobre uma nova descoberta
genética e como ela se aplica às nossas vidas. Por
isso, esta ciência, que faz parte do currículo
escolar do ensino fundamental e médio, tem
grande importância para a formação de
estudantes que se deparam com numerosos
debates sociais, envolvendo a pesquisa científica,
necessitando se posicionar frente a eles como
cidadãos.
A questão é que as situações de
aprendizagem, devido aos diversos conceitos
genéticos, acabam sendo abordadas de modo
descontextualizado e não como um instrumento de
interpretação da realidade [1]. Garton (2000)
assegura que estudantes que desenvolvem um
entendimento adequado dos conceitos e
processos da genética serão capazes de entender
assuntos discutidos na mídia e estarão melhor
preparados para participar de discussões maiores
[2]. Fisher (1992) e Kindfield (1992) acreditam na
importância dos professores enfatizarem a
conexão entre a genética e o cotidiano para que
os alunos sejam capazes de lidar com os
problemas éticos que poderão surgir. De acordo
com Fisher e Kindfield, ensinar genética deste
modo poderá aumentar a motivação dos
estudantes em aprendê-la [3].
O nosso desafio, foi então, organizar o
conhecimento a partir de situações de
aprendizagem que tenham sentido para o aluno e
que sejam capazes de gerar uma participação
social e uma atitude de permanente aprendizado.
Materiais e Métodos
Para atender melhor aos objetivos do nosso
trabalho, utilizamos uma metodologia do tipo
descritivo-exploratória,
com
abordagem
quantitativa.
As pesquisas foram desenvolvidas nos meses
de Abril e Maio do ano vigente, em duas escolas
públicas e uma escola privada da cidade de São
José dos Campos.
IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e
V Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba
1090
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da Univap. Os participantes
concordaram em contribuir com a pesquisa
respondendo um questionário e assinando o
“Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”,
após terem sido previamente orientados sobre os
objetivos da pesquisa e de como este seria
desenvolvida, obedecendo a Resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde .
Utilizou-se
dois
questionários
como
instrumentos de coleta, os quais foram elaborados
a partir de dados da literatura específica. O
primeiro questionário foi um “teste diagnóstico”
para identificar o nível de conhecimento dos
alunos das diferentes escolas, e o segundo, uma
avaliação do trabalho por parte desses alunos.
Para o primeiro questionário optamos por
questões do tipo fechada e para o segundo,
questões do tipo aberta, o que melhor
correspondeu às necessidades das avaliações.
Estruturamos o teste diagnóstico para que
pudéssemos testar o nível de conhecimento dos
alunos, e exploramos tópicos relacionados à célula
como: membrana plasmática, citoplasma, núcleo e
DNA [4].
Utilizamos para o desenvolvimento desse
trabalho duas horas-aula para cada turma, em um
total de oito turmas, sendo três do ensino médio e
cinco do ensino fundamental. Todas as atividades
foram agendadas previamente para não prejudicar
o desenvolvimento das atividades previstas para
cada turma nas respectivas escolas.
No início da aula fazíamos a apresentação dos
alunos-pesquisadores,
assim
como
a
apresentação do projeto de pesquisa e as
atividades que seriam desenvolvidas.
Aplicamos,
em
seguida,
o
primeiro
questionário, com um tempo médio de resolução
de
quinze
minutos.
Seguimos
com
o
desenvolvimento da aula teórico-prática, na qual
incluímos a demonstração da extração do DNA do
morando e da laranja (Protocolo da Carnegie
Academy for Science Education, Washington DC,
EUA). Em seguida os próprios alunos realizaram a
experiência da extração do DNA das frutas sob a
orientação dos alunos-pesquisadores [5].
Após a aula prática aplicamos o segundo
questionário, para que a atividade fosse avaliada
pelos alunos das escolas.
O presente estudo preocupou-se em colher
dados da forma mais representativa possível.
Assim, conforme a Tabela 1, do total de alunos
que participaram do trabalho, houve um gradiente
de idade entre 12 e acima de 35 anos, sendo 57
anos o aluno com maior idade.
Os alunos de 12 a 16 anos estavam
matriculados no ensino regular, médio ou
fundamental. Os alunos com idade superior a 17
anos, estavam matriculados no ensino supletivo,
equivalentes ao ensino médio e ensino
fundamental.
Foram entrevistados professores que de
acordo com sua área de formação (Tabela 2) se
relacionam de alguma forma com o ensino da
genética. Segundo esses professores (Tabela 3) a
falta de recursos é o maior problema no ensino da
genética, seguido da falta de capacitação dos
professores
de
Ensino
Fundamental
e
desinteresse dos alunos. Oito dos 12 professores
não opinaram.
Tabela 1. Distribuição do total de alunos que
responderam os questionários, por idade
Idade
12 a 14 anos
14 a 16 anos
16 a 18 anos
18 a 25 anos
25 a 35 anos
Acima de 35
Total
Número de
alunos
42
49
31
26
33
15
196
Tabela 2. Total de professores entrevistados,
distribuídos pela área de formação
Formação dos Professores Entrevistados
Biologia
3
Ciências Sociais
1
Filosofia
2
Geografia
1
Letras
1
Matemática
1
Pedagogia
3
Total
12
Resultados
Esses questionários foram aplicados a um
total de 196 alunos e 12 professores, sempre na
presença de pelo menos um aluno-pesquisador,
para facilitar o seu entendimento e garantir a
máxima credibilidade à coleta de dados.
Os resultados obtidos foram analisados e
expressos em gráficos na forma de números
absolutos e/ou porcentagem mostrados a seguir:
IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e
V Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba
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Tabela 3. Principais problemas apresentados
pelos professores no ensino da Genética
Dificuldades no Ensino da Genética Apontadas
Pelos Professores*
Falta de Recursos
3
Desinteresse dos alunos
1
Assunto elitizado
1
Falta de capacitação dos
1
professores do ensino
fundamental
Não opinaram
8
*os professores podiam indicar mais de um problema.
Acesso dos alunos a assuntos como transgênicos,
células-tronco e clonagem
trabalho com perguntas direcionadas às turmas.
De posse dos questionários respondidos
observou-se um gradiente de conhecimento entre
os alunos. Alguns não conseguiram responder
nem o mínimo esperado, sendo classificados
como ABE. Outros responderam satisfatoriamente
às questões, sendo classificados como E. E
poucos responderam acima do esperado, pois
sabiam sobre divisão celular e a relação entre
DNA e herança genética, sendo classificados
como ACE.
Os dados (Gráfico 2) demonstram uma
defasagem de conhecimento entre os alunos do
ensino particular e do ensino público.
Aprovação dos alunos pela atividade prática no
processo de aprendizagem
3%
19%
37%
20%
97%
Sim
24%
Televisão
Na escola durante as aulas
Internet
Jornais e Revistas
Gráfico 1. Demonstração de como os alunos
Não
Gráfico 3. Opinião dos alunos sobre a
implementação de atividades práticas durante o
processo de aprendizagem
Alunos que pretendem repetir a extração
12%
Desempenho dos alunos no teste diagnóstico
Alunos
60
Público
Privado
88%
40
Sim
20
0
ABE
E
ACE
Não
Gráfico 4. Alunos que pretendem fazer a extração
de DNA de frutas em suas casas
Discussão
acessam assuntos relacionados à genética
ABE – Abaixo do Esperado; E – Esperado; ACE – Acima do
Esperado
Gráfico 2. Demonstração dos desempenhos dos
alunos de Escolas Públicas e Particulares
Os dados relacionados ao nível de
conhecimento dos alunos foram obtidos através do
teste diagnóstico e durante a apresentação do
Em geral, a reclamação da falta de recursos
envolve, não somente o recurso financeiro mas, a
falta de televisão, vídeo-cassete, computadores
conectados à Internet e sala ambiente. Com esse
trabalho foi possível demonstrar que, com o
mínimo de recursos é possível ministrar uma aula
de ótima qualidade. Cada extração do DNA do
morango custou em média R$ 0,30.
IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e
V Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba
1092
Com a atividade prática solucionamos a outra
problemática que era o desinteresse dos alunos.
Praticamente todos se interessaram pela aula,
como pode ser observado no Gráfico 3.
A baixa qualificação dos professores
realmente chamou a atenção dos alunospesquisadores. Uma proposta para solucionar
essa defasagem foi a viabilização de uma página
na Internet que reúne várias informações a
respeito da Genética e do ensino. A página já está
acessível desde abril de 2005 no endereço
www.geneticalinks.all.at [6]. Esta página contém
vários links, nacionais e internacionais, de alto
nível e confiabilidade, contendo ainda, vários
filmes didáticos que auxiliam no entendimento da
disciplina. Um dos links a ser destacado é o do site
da Organização não-governamental “o DNA vai à
escola” que disponibiliza: textos para debates,
vídeos, ilustrações e noticias, através de um
boletim semanal com informações sobre
biotecnologia, biomedicina, genética e educação.
Além de ministrar oficinas o projeto inclui cursos
de capacitação de professores e de laboratório
para alunos do ensino médio visando tornar
acessível as informações sobre os avanços
científicos e tecnológicos [7].
Preocupou-se também em identificar a forma
com que os alunos tinham acesso às informações
relacionadas com a Genética (Gráfico 1). A
televisão está em primeiro lugar como fonte de
informação, seguida de longe pela escola, que
focou no mesmo patamar da Internet e jornais e
revistas.
Esse dado é preocupante, pois a maioria dos
programas de televisão, que os alunos se
referiram, não estão baseados na realidade
científica e sim estão voltados para o
sensacionalismo. Diante disso, a Escola não pode
abrir mão do seu espaço como divulgadora do
conhecimento científico sempre focando na
realidade social.
Já
que
existe
uma defasagem
de
conhecimento entre o Ensino Público e Privado
(Gráfico 2), a atividade prática desenvolvida em
sala de aula para complementação do
aprendizado, resultou numa aceitação de quase
100% pelos alunos (Gráfico 3), demonstrando,
como já citado, que com poucos recursos é
possível ministrar uma aula que contribua para o
sucesso da aprendizagem.
Acreditamos que dessa forma, a Escola e o
professor assumem seu real papel intervencionista
na sociedade, contribuindo não apenas para a
formação psico-social dos alunos, mas também na
formação do cidadão consciente. Esta vertente
pode ser observada no Gráfico 4, onde a maioria
dos alunos pretende levar a experiência de sala de
aula para demonstrações em sua comunidade.
Conclusão
Boa parte dos professores ainda não possui
qualificação para trabalhar adequadamente com a
disciplina de genética por desconhecerem técnicas
de ensino que facilitem a aprendizagem e
despertem o interesse do aluno. Com isso, a
escola está perdendo espaço para os meios de
comunicação, principalmente para a televisão.
Referências
[1] BRASIL. Ministério da Educação e Cultura.
Parâmetros curriculares nacionais do Ensino
médio.
Brasília
,2001
Disponível
em:
http://www.mec.gov.br/seb/ensmed/pcn.shtm.
Acesso em: 15. jun.2005.
[2] MARBACH-Ad G. Attempting to break the code
student comprehension of genetic concepts.
School of Education, Tel Aviv University, Israel. p.
1, 2001
[3] FISHER K M. Improving high school genetics
instruction.
In
Teaching
genetics:
Recommendations and research proceedings of a
national conference, eds. p. 24-28, 1992
[4] SNUSTAD; SIMMONS. Fundamentos de
Genética. 2a edição. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2001.
[5] LORETO, Élcio L. S; SEPEL, Lenira M. N.
Atividades Experimentais e Didáticas de Biologia
Molecular e Celular. 2a edição. São Paulo:
Sociedade Brasileira de Genética, 2003.
[6] Genética Links, Internet site address:
www.geneticalinks.all.at acessado em: 25/06/2005
[7] O DNA vai à escola, Internet site address:
http://www.odnavaiaescola.com acessado em
25/06/2005.
IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e
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