CENTRO CULTURAL PARADISÍACO MENTIRA NOS PODERES Charles Guimarães Filho Dezembro de 2016 1 2 ÍNDICE Na política: democracia só com eleição 05 Na economia: moeda só com dívida 23 Na ideologia: aquecimento global só com redução da poluição ambiental e emissão de gases na atmosfera 51 3 4 NA POLÍTICA: DEMOCRACIA SÓ COM ELEIÇÃO DEMOCRACIA Significado É um regime político em que todos os cidadãos elegíveis participam igualmente — diretamente ou através de representantes eleitos — na proposta, no desenvolvimento e na criação de leis, exercendo o poder da governação através do sufrágio universal. O termo origina-se do grego antigo ("governo do povo"), que foi criado no século V a.C. para denotar os sistemas políticos então existentes em cidades-Estados gregas, principalmente Atenas. O termo é um antônimo para "regime de uma aristocracia". Embora, teoricamente, estas definições sejam opostas, na prática, a distinção entre elas foi obscurecida historicamente. No sistema político da Atenas Clássica, por exemplo, a cidadania democrática abrangia apenas homens, filhos de pai e mãe atenienses, livres e maiores de 21 anos, enquanto estrangeiros, escravos e mulheres eram grupos excluídos da participação política. Em praticamente todos os governos democráticos em toda a história antiga e moderna, a cidadania democrática valia apenas para uma elite de pessoas, até que a emancipação completa foi conquistada para todos os cidadãos adultos na maioria das democracias modernas através 5 de movimentos por sufrágio universal durante os séculos XIX e XX. O sistema democrático contrasta com outras formas de governo em que o poder é detido por uma pessoa — como em uma monarquia absoluta — ou em que o poder é mantido por um pequeno número de indivíduos — como em uma oligarquia. No entanto, essas oposições, herdadas da filosofia grega são agora ambíguas porque os governos contemporâneos têm misturado elementos democráticos, oligárquicos e monárquicos em seus sistemas políticos. Karl Popper definiu a democracia em contraste com ditadura ou tirania, privilegiando, assim, oportunidades para as pessoas de controlar seus líderes e de tirá-los do cargo sem a necessidade de uma revolução. Democracia direta e democracia representativa Diversas variantes de democracias existem no mundo, mas há duas formas básicas, sendo que ambas dizem respeito a como o corpo inteiro de todos os cidadãos elegíveis executam a sua vontade. Uma das formas de democracia é a democracia direta, em que todos os cidadãos elegíveis têm participação direta e ativa na tomada de decisões do governo. Na maioria das democracias modernas, todo o corpo de cidadãos elegíveis permanece com o poder soberano, mas o poder político é exercido indiretamente por meio de representantes eleitos, o que é chamado de democracia representativa. O conceito de democracia representativa surgiu em grande parte a partir de ideias e instituições que se 6 desenvolveram durante períodos históricos como a Idade Média europeia, a Reforma Protestante, o Iluminismo e as revoluções Americana e Francesa. Problemas Pensadores italianos do século XX argumentaram que a democracia era ilusória, e servia apenas para mascarar a realidade da regra de elite. Na verdade, eles argumentaram que a oligarquia da elite é a lei inflexível da natureza humana, em grande parte devido à apatia e divisão das massas (em oposição à unidade, a iniciativa e a unidade das elites), e que as instituições democráticas não fariam mais do que mudar o exercício do poder de opressão à manipulação. Hoje todos os partidos políticos no Canadá são cautelosos sobre as críticas do alto nível de imigração, porque, como observou The Globe and Mail, "no início de 1990, o antigo Partido da Reforma foi marcado como 'racista' por sugerir que os níveis de imigração deveriam ser reduzidos de 250.000 a 150.000." "Em uma democracia liberal como o Canadá, o seguinte paradoxo persiste. Números de imigrantes continuam a subir até que um conjunto crítico de custos econômicos apareçam'". A ideia de “crise da democracia” vem ganhando repercussão na Teoria Política Contemporânea. Desde a década de 1970, autores da vertente participacionista associam a legitimidade dos regimes democráticos a fatores que vão além da mera possibilidade de exercício livre do voto. A demanda, nesse sentido, é por efetiva atuação na concepção das políticas públicas, o que causa resistência em agentes representativos receosos de compartilhar o poder que o design institucional moderno lhes conferiu. 7 SÓ COM ELEIÇÃO? Apresentam-se aqui algumas reflexões da dicotomia governamental entre eleição e sorteio, ou seja, do renascimento dos tribunos da plebe. A partir da análise bibliográfica, foi observado que as eleições sempre possuíram, historicamente, um caráter aristocrático, por serem relacionadas, de uma maneira ou de outra, à escolha dos melhores. Já o sorteio vem desde Atenas sendo considerado democrático, pois dá iguais chances a cada um dos cidadãos de contribuírem com sua comunidade. Por isso se tenta reconciliar o republicanismo com a democracia a partir da criação de uma magistratura que seleciona seus membros por sorteio; as elites já estão suficientemente representadas na câmara e no Senado, enquanto o povo continua sem poder político algum, à mercê da dominação. Introdução Já há algumas décadas se fala em “crise de representação” ou “crise do governo representativo”. Essa linha de raciocínio costuma argumentar que os representantes estão cada vez mais distantes dos representados, seja em ideias, perspectivas, interesses, dentre inúmeras outras questões, e por isso as decisões políticas não satisfazem o povo; há um hiato entre a elite e massa. É nesse hiato que surge a busca por 8 alternativas, como a democracia direta - ideia por muito tempo forte na academia -, cotas, reformas políticas e, mais recentemente, o sorteio – velho conhecido dos atenienses. É claro que essa não é a única perspectiva possível no âmbito acadêmico; bem pelo contrário, mesmo com uma maior insatisfação da população com relação ao governo representativo, os pesquisadores vêm aceitando cada vez mais o atual modelo como o melhor possível – admitindo suas falhas, é claro, mas as soluções seriam mais pontuais do que uma mudança drástica no sistema. Bernard Manin (1995), por exemplo, discorre sobre dois tipos de governos representativos: de partidos e de público. O que o autor aponta é que a crise, acusada em diversos países do globo, não seria do sistema em si, mas sim do tipo de governo representativo em vigor – uma transição da democracia de partido para a de público. É nesse contexto que John McCormick surge criticando o atual sistema democrático, que o mesmo afirma ser oligárquico. Ele entra na discussão com uma perspectiva em que o povo é que deve ser o detentor da liberdade, não os aristocratas. A intenção do autor é a de afirmar que acabaram por construir um republicanismo muito mais oligárquico do que popular. O próprio Manin, logo nos dois primeiros capítulos de The Principles of Representative Government (1997), já destacou que as eleições sempre foram um elemento característico de sistemas aristocráticos de governo, enquanto o sorteio foi, ao longo da história, relacionado à democracia. É baseado nas críticas ao governo representativo, bem como na milenar dicotomia entre eleição e sorteio (ou aristocracia e democracia), que o estadunidense John 9 McCormick encerra o livro buscando na história do pensamento político uma possível solução aos nossos problemas contemporâneos. O autor propõe, considerando um “exercício mental”, a recriação dos tribunos da plebe. Com o nome baseado na antiga instituição democrática de Roma, como aponta Políbio (1996), a nova casa política não surgiria para substituir as já existentes, mas sim para coexistir de forma a contrabalancear o sistema atual, trazendo mais força política para o povo – retirando um pouco o peso das elites, que não poderiam ser escolhidas como magistrado – e seus membros seriam selecionados por sorteio. Voto e loteria Como foi comentado anteriormente, Manin nos mostra que em toda história das ideias políticas o voto foi visto como um elemento aristocrático e o sorteio como democrático. O que ocasionou essa mudança? Não vejo um autor mais evidente para encetar os esforços nessa busca do que Platão. Como vivemos em um mundo em que a democracia está em alta estima, rapidamente nos chama atenção o que Platão fala acerca da democracia – que aparece como a segunda forma de governo mais degenerada, apenas melhor do que a tirania. O regime democrático seria o regime da liberdade e da igualdade dos cidadãos (PLATÃO, 1985, 557a), no entanto, o que há de mal nisso? Platão considera injusto tratar como iguais os desiguais e, além disso, como Leo Strauss comenta, “os clássicos rejeitavam a democracia, porque eles achavam que o objetivo da vida 10 humana, e, portanto, da vida social, não era a liberdade, mas sim a virtude”, e a liberdade não é virtuosa porque sua finalidade é ambígua, serve “para o mal assim como para o bem” (STRAUSS, 2011, p.23-4). O sorteio seria uma maneira de tratar todos igualmente, já que não há mecanismos de distinção entre os cidadãos nesse tipo de seleção. Avançando um pouco até Aristóteles, autor certamente mais simpático à democracia do que Platão. No livro III de A Política, Aristóteles, ao falar da aristocracia, que ele considerava um bom governo de poucos – em oposição a oligarquia, que seria ruim -, adianta que as aristocracias são “aquelas em que os magistrados são eleitos não apenas em razão de sua riqueza, mas pelo mérito”. Ainda um pouco mais a frente, ele enfatiza: “é democrático, por exemplo, escolher os magistrados por sorteio; oligárquico, elege-los”. O sorteio, como aponta Manin, não era uma instituição periférica na democracia ateniense, muito pelo contrário. Diversos magistrados e juízes, que tomavam importantes decisões políticas, ou que julgavam os crimes, eram costumeiramente escolhidos por sorteio. Muito mais do que uma simples formalidade, a loteria permitia não uma distribuição igualitária do poder, mas chances iguais de se atingir o poder. Eram poucos realmente os cargos para os quais os atenienses admitiam a necessidade de indivíduos especializados, como os de alto escalão do exército. Já em Roma o sorteio passou a ser mais desestimado. Não se tem documentos que provem a existência de algum magistrado escolhido seguindo esses critérios. Uma explicação plausível seria a de que Roma não era uma cidade democrática, 11 mas sim uma república, e, dentro dos moldes republicanos, Além disso, Roma sempre possuiu um caráter deveras aristocratizante, preferindo as eleições ao sorteio, sendo este último rechaçado por Cícero enquanto o mesmo usava a famosa metáfora de Platão, que compara o governante a um capitão de um navio. Como escolher quem deve tomar o leme? “se o fizer por sorteio, afundar-se-á tão depressa como o navio que, tirado à sorte, um dos passageiros toma o leme”. Apesar disso, o sorteio continuou a ser associado à democracia por um longo tempo, sendo utilizado, por exemplo, nas repúblicas renascentistas, como Veneza. Entre os autores modernos o mesmo aconteceu. Como aponta Montesquieu: “O sufrágio pelo sorteio é da natureza da democracia; o sufrágio pela escolha é da natureza da aristocracia. O sorteio é uma maneira de eleger que não aflige ninguém; deixa a cada cidadão uma esperança razoável de servir sua pátria.” As mesmas tratativas aparecem com o republicano britânico James Harrington. Ambos confiavam na eleição como um modelo aristocrático, pois acreditavam que os eleitores naturalmente escolheriam indivíduos superiores. Na própria teoria política de Rousseau, há um espaço reservado para o sorteio, mesmo reconhecendo que pessoas incapacitadas poderiam ocupar o cargo. O ponto de vista da superioridade da eleição acaba transparecendo nos Artigos Federalistas de Madison, Hamilton e Jay, alguns dos pais fundadores do governo representativo. Madison, no artigo federalista número 10, deixa claro que, ao tratar de representação, que ele chama de “governo republicano”, eles não pretendiam criar uma forma de 12 democracia, mas sim um governo superior à democracia. Inclusive durante o décimo artigo ele vai citando, ponto por ponto, os motivos da superioridade da representação em comparação com a democracia. Mas como, então, o governo representativo passou a ser considerado democrático? Na geração seguinte à de Montesquieu, o sorteio nem sequer passou a ser citado como uma possibilidade política. Nem mesmo os mais radicais membros da revolução francesa, em algum momento, falaram em sorteio. Não se sabe ao certo a razão desse sumiço repentino, mas se atenta que a primeira vez que democracia e representação apareceram de forma análoga foi com Robespierre, em um dos seus célebres discursos revolucionários, de 5 de fevereiro de 1794: “Só o governo democrático ou republicano; essas duas palavras são sinônimas. A democracia é um estado em que o povo é soberano, guiado por leis que são sua obra, faz ele mesmo tudo o que pode fazer, e através de delegados faz tudo aquilo que não pode fazer por si só.”. Como se pode notar, Robespierre articulou, em apenas um discurso, as ideologias representativas (quando se refere aos delegados), republicanas e democráticas. A visão contemporânea que interpreta comumente os três termos quase como sinônimos pode ter nascido nesse momento. Mas na academia contemporânea o debate sobre o caráter aristocrático do voto ainda prossegue, inclusive entre grandes estudiosos do governo representativo. Bernard Manin (1997) apresenta o que ele chama de democracia aristocrática. Ele considera inegável que a maneira moderna de fazer política 13 tenha composição aristocratizante, no sentido de selecionar, de alguma maneira, os melhores para a política – fugindo de características como a nobreza, pois, na teoria, qualquer um pode se candidatar e ser eleito. O que é “ser melhor” aqui é que atinge uma caracterização ambígua. Cada cidadão tem o direito de escolher o que ele considera bom para ser seu governante, seja partindo de critérios “virtuosos”, como a habilidade com as finanças públicas, ou até mesmo características físicas – ser bonito – ou partindo de preconceitos – ser branco ou homem. “Eles podem decidir votar em quem atende alguns critérios gerais e abstratos (por exemplo, de orientação política, competência, honestidade), mas eles também podem decidir eleger alguém só porque eles gostam mais desse do que do outro indivíduo. Se a eleição é livre, nada pode impedir eleitores de discriminar os candidatos com base em características individuais.”. Contudo, além desse tratamento desigual dos eleitos para com os candidatos, Manin assegura que há uma tendência na política representativa em continuar elegendo indivíduos que já estão eleitos, formando, dessa maneira, uma elite política aristocrática. Sabia-se que o governo representativo seria de poucos, mas aqui são os mesmos poucos sempre. As características mais fortes, capazes de dar ao atual sistema político seu elemento democrático, são o sufrágio universal e a ausência de impedimentos à eleição; “Estas duas alterações deram origem à crença de que a representação foi progredindo em direção a um governo popular”. Nadia Urbinati, uma teórica italiana do liberalismo e grande defensora do atual sistema político, argumenta que a 14 representação não apenas não é aristocrática, como é, de fato, democrática. Ela aponta que a democracia se recria de tempos em tempos e, com isso, vai se aperfeiçoando. Para embasar seu argumento, a autora compara o atual sistema com a democracia direta ateniense. Sabe-se que mesmo em Atenas, onde todos tinham o direito de ser ativos politicamente, apenas um pequeno número de cidadãos costumava se manifestar na assembleia, enquanto todos os outros iam apenas para votar – ou seja, até mesmo naquele contexto havia certa “elitização”. Basicamente, poucos cidadãos se manifestavam e a grande massa apenas ouvia e votava. O que Urbinati (2010) argumenta é que isso não se difere do que acontece na política contemporânea: um grupo de cidadãos delibera – só que profissionalmente -, enquanto todo o resto, o povo, dentre outras funções, vota em quem deve deliberar. Nesse sentido, “a representação política não elimina o centro de gravidade da sociedade democrática (o povo)”. Como se pode ver, mesmo com opiniões distintas sobre o estilo aristocrático da representação, Manin e Urbinati acabam concordando em um ponto: há democracia no governo representativo, pois o centro da força política é o povo. E é exatamente aí que John McCormick discorda. Ele considera o nosso atual sistema político uma república oligárquica centrada nas eleições: “o sufrágio universal adulto pode justificar a designação ‘governo popular’ para tal regime, mas não é legítimo considerá-lo uma ‘democracia’”. Ele argumenta que não há controle para o efeito aristocrático da política em nenhum nível, além de pré-requisitos que um sistema democrático exige: assembleias e sorteios. 15 O renascimento dos tribunos da plebe A ideia política de John McCormick propõe, como um “exercício mental”, o renascimento dos tribunos da plebe. A proposta surge como uma resposta á tal crise de representação que muitos autores alegam existir na democracia contemporânea. Muitos autores já observaram problemas no atual sistema representativo. A maior parte das casas políticas é formada por homens brancos, o que faz notar a ausência de grupos marginalizados, sejam étnicos, como afrodescendentes e indígenas, sejam de gênero – as mulheres – ou outros inferiorizados devido à discrepância socioeconômica. Por isso surgiram teorias tentando minimizar esse abismo. Entre estas, as propostas da volta dos sorteios são ainda minoritárias, muito embora já se façam notar. Em contrapartida, autores da ciência política empírica constatam que, mesmo com essas discrepâncias representativas – como a exclusão de minorias -, as ideias apresentadas e votadas pelas câmaras legislativas não se diferem muito do que o povo pensa, num âmbito geral. Andeweg (2011) demonstra um alto grau de congruência entre representantes e representados nos países baixos, e as mesmas conclusões são encontradas em outros sistemas democráticos, como demonstram Powell (2000) e Dalton et al. (2011). Uma série de estudos segue essa mesma linha, conforme apresenta Carreirão (2013). Mas se a congruência é tão alta, por que há, aparentemente, um crescente grau de insatisfação com o modelo representativo? 16 A proposta de McCormick (2011) se dá a partir de sua análise de que vivemos em uma república oligárquica, como já foi observado anteriormente. Esse tipo de república se caracteriza pela escolha de magistrados exclusivamente por eleições, enquanto em uma democracia haveria de ter sorteio – unido à assembleia. Uma república democrática, no entanto, seria uma miscelânea de eleições e sorteios. E é isso que McCormick propõe no que ele chama de tribunos do povo: as atuais instituições eletivas e oligárquicas continuariam existindo, mas os tribunos se formariam como um “contraponto” popular; não apenas como uma magistratura a mais na política, ela serviria como um poder usado para refrear as imposições aristocráticas. McCormick compartilha o conceito de liberdade que os neorrepublicanos recuperaram recentemente, a liberdade como não-dominação, livre é aquele que não sofre interferência arbitrárias de outrem, ou que nem mesmo tenha a possibilidade de sofrer tal interferência. Um escravo, por exemplo, mesmo que seu mestre nunca interfira em sua vida, jamais poderia ser considerado livre, pois está sempre a mercê de seu dominador. “Se considerarmos os objetivos dos nobres e dos plebeus, veremos naqueles grande desejo de dominar e nestes somente o desejo de não ser dominado e, por conseguinte, maior vontade de viver livre [...] de tal modo que, sendo os populares encarregados da guarda de uma liberdade é razoável que tenham mais zelo e que, não podendo eles mesmo apoderar-se dela, não permitirão que outros se apoderem.” Ou seja, o elemento democrático de uma república popular deve trazer a todo o povo as mesmas chances de 17 participar do governo. Por esse motivo é que os tribunos do povo de McCormick (2011) seriam escolhidos por sorteio, podendo trazer ao âmbito político qualquer um que se candidatasse. Além disso, poder-se-ia acabar com os problemas de representação de minorias se esses grupos marginalizados fossem incentivados à candidatura, pois num sorteio é possível retirar um grupo amostral que seria, em teoria, um correspondente percentual ao de todo povo. Não haveria campanha política, excluindo do processo a situação monetária de cada um dos candidatos. Ter mais ou menos dinheiro não seria importante – também impossibilitando o processo de reeleição. As atribuições políticas dos tribunos emergem de maneira negativa, no sentido de que nada propõem, apenas vetam. Como “guardiões da liberdade”, eles assumem a posição para impedir que a elite política domine o povo com propostas que não correspondem aos interesses da população, e para isso podem realizar referendos e consultar especialistas – que não sejam os próprios políticos. Por exemplo: uma proposta de aumento de salários dos deputados, que eles mesmos propõem e votam, poderia ser barrada pelos tribunos de povo se assim achassem necessário – com votos, no tribunato, de uma maioria simples. Como se vê, a teoria de McCormick prevê um constante conflito entre os tribunos e os políticos profissionais, presumindo, dessa maneira, que o povo consiga conter as elites e salvaguardar sua liberdade, impedindo a dominação. Uma das principais críticas existentes ao sorteio parte de Luis Felipe Miguel (2000). Com magistrado sorteados, não há nenhum controle do povo sobre aqueles que exercem o cargo: os indivíduos podem ser escolhidos sem nenhuma interferência 18 da população, fazendo com que não criem compromisso com os outros cidadãos. Além disso, não há nenhuma prestação de contas, o sorteio impedia que o indivíduo ocupasse o cargo mais de uma vez. Em alguns casos pela improbabilidade de ser sorteado duas vezes para o mesmo cargo, entre milhões, em outros realmente por ser proibido se candidatar ao sorteio novamente. Mas especificamente com os tribunos do povo há uma particularidade: os magistrados que vierem a seguir podem abrir processos de irregularidades com os que atuaram no ano anterior, fazendo com que o próprio povo (tribunos) se controle. O tribunato ainda pode, inclusive, auxiliar na prestação de contas dos políticos eleitos, abrindo investigações e até mesmo processos de impeachment. Há uma tentativa de minimizar a falta de prestação de contas. É perceptível que existe sim um caráter democrático no sorteio. Os indivíduos são escolhidos independentemente do grupo étnico, monetário, ou de qualquer outra particularidade que poderia barrar sua entrada na política. O que não dá para esperar de um mecanismo de sorteio como o tribunato é a representatividade – no sentido de governo representativo. Aquelas pessoas escolhidas não estariam, de fato, representando ninguém além deles mesmos; em contrapartida há representatividade amostral, fazendo com que, mesmo que um tribuno não represente de fato ninguém, o pensamento conjunto do tribunato esteja possivelmente semelhante ao do conjunto da população. Mas McCormick nem propõe que seja algo representativo, mas sim democrático e com grande força popular. Por isso Nadia Urbinati observa que “McCormick quer reconciliar democracia e republicanismo” com “um tipo 19 democrático de republicanismo, em que a liberdade é baseada na atribuição de poder político aos socialmente desiguais”. Considerações finais Nos primórdios do pensamento político já havia uma distinção bem clara entre sorteio e eleição, sendo o primeiro costumeiramente atribuído aos governos democráticos, e o segundo, às aristocracias. Isso se torna mais claro quando lemos os próprios clássicos. Aristóteles, Maquiavel, Rousseau, Harrington, e Montesquieu claramente atribuem o sorteio às democracias, motivo pelo qual tal prática era muito comum para ocupação de cargos em Atenas e Veneza (república que possuía um elemento democrático), enquanto em cidades mais aristocratas, como Roma, era uma ideia constantemente rechaçada. Com Robespierre a democracia se uniu, de alguma maneira, à representação e ao republicanismo, tornando os três termos quase sinônimos por algum tempo. Ainda hoje em dia há uma forte discussão sobre o governo representativo ser democrático ou aristocrático, embora não haja fortes conclusões a respeito. Manin, por um lado, coloca-o como uma democracia aristocratizada, enquanto Nadia Urbinati reafirma as características democráticas da representação. McCormick se distancia um pouco, assegurando que vivemos em uma república oligárquica, que pode até ter algo de popular, mas não de democrática. É importante voltarmos ao passado para ver o que era democracia em seus primórdios, como fizemos aqui; entretanto, pelo que retiramos de escritos antigos, afirmar que 20 não vivemos em uma democracia é uma conclusão muito forte. É inegável que os conceitos evoluem com o tempo, tomando significações distintas das que possuíam antigamente. O mesmo aconteceu com a democracia. Foi nesse contexto que McCormick propôs os tribunos do povo, como a da plebe ser guardiã da liberdade, ele criou uma magistratura em que seus membros seriam selecionados por sorteio, tentando fugir dos malefícios que uma eleição traria (financiamentos, etc.). Os tribunos do povo surgiriam para a guarda da liberdade, tentando conter a intimidação da elite, barrando suas propostas que nada interessam ao povo e deixando passar apenas o que a população realmente almeja. Para McCormick essa é a solução que temos para que os grupos mais poderosos percam seu caráter dominante e, sendo a liberdade dos neorrepublicanos conceituada como nãodominação, o povo se libertaria das elites. É claro que há diversos problemas na teoria mccormickiana, como o caso da prestação de contas, que ele inclusive tenta contornar, ou a ausência de representação política, mas ela cumpre sua principal meta: tentar trazer um pouco de democracia a uma república, nos termos do autor, oligárquica. 21 22 NA ECONOMIA: MOEDA SÓ COM DÍVIDA SISTEMA ESCRAVIZAÇÃO FINANCEIRO: SISTEMA MODERNO DE Introdução Em um mundo onde 1% da população possui 40% da riqueza do planeta. Em um mundo onde 34 mil crianças morrem diariamente de pobreza e doenças evitáveis, 50% da população vivem com menos de dois dólares por dia (cerca de cinco reais), uma coisa está clara: "Algo está muito errado". Estejamos cientes disso ou não, o sangue nas veias de todas as nossas instituições estabelecidas, e, portanto da sociedade em si, é o dinheiro. Logo, entender essa instituição de política monetária é essencial para entender porque nossas vidas são como são. A complexidade associada ao sistema financeiro é somente uma máscara criada para ocultar uma das estruturas mais socialmente estagnante que a humanidade já tolerou. Vamos colaborar para desmascarar tal ocultamento. Nesta palestra abordaremos quinze tópicos: Dinheiro; Juro; Escravização; Escravizador; Assassino econômico; Seus começos; A corporatocracia; Globalização; Banco Mundial e o FMI; EUA e democracia não existem; Terrorismo; Os verdadeiros terroristas; Egoísmo, apego, lucro e materialismo; Indústria; Política. 23 Dinheiro O governo dos EUA decide que precisa de dinheiro. Então ele fala com a Reserva Federal (RF) e pede, digamos 10 bilhões de dólares. O RF responde: “Claro, vamos comprar 10 bilhões em títulos públicos de vocês”. Aí o governo pega alguns papéis, coloca símbolos neles que os fazem parecer oficiais, e os chama de títulos do Tesouro. Ele atribui a esses papéis o valor de 10 bilhões de dólares e os envia para a RF. Em troca, o pessoal da RF imprime uma quantia de papéis deles próprios. Só que desta vez, com o nome de notas da Reserva Federal. Também atribuindo o valor de 10 bilhões a esses papéis, a RF pega essas notas e as troca pelos títulos. Assim que a transação é concluída, o governo pega os 10 bilhões em notas da Reserva Federal, e deposita em uma conta bancária. E com esse depósito, as notas de papel passam oficialmente a ter valor de moeda, adicionando 10 bilhões ao suprimento monetário dos EUA. E aí está! Foram criados 10 bilhões novinhos em dinheiro. Claro, este exemplo é uma generalização, pois na realidade essa transação ocorreria eletronicamente sem nenhum uso de papel. Na verdade, só 3% do suprimento monetário dos EUA existem em moeda física. Os outros 97% existem somente nos computadores. Então, títulos públicos são, por definição, instrumentos de endividamento e quando a RF compra esses títulos com dinheiro criado basicamente do nada, o governo está na verdade prometendo devolver esse dinheiro a RF. Em outras palavras, o dinheiro foi criado a partir de uma dívida. Esse paradoxo estarrecedor, de como o dinheiro ou o valor pode ser criado, ficará mais claro à medida que continuamos esse exercício. Bem, a troca foi realizada e agora 10 bilhões de dólares estão em uma conta bancária comercial. Pelas normas vigentes, a reserva exigida para a maioria das contas correntes é de 10%. Assim dos 10 Bilhões depositados 10%, ou um bilhão, é guardado como a reserva 24 exigida enquanto os outros nove bilhões são considerados excedentes de reserva e podem ser usados como base para novos empréstimos. Agora vamos imaginar que alguém entra nesse banco e toma emprestados os nove bilhões recém-disponibilizados. Eles provavelmente vão pegar esse dinheiro e depositá-lo em sua própria conta bancária. O processo então se repete já que esse depósito se torna parte das reservas do banco. 10% são isolados e em seguida 90% dos 9 bilhões, ou 8,1 bilhões, tornam-se dinheiro recém-criado, disponível para mais empréstimos. E claro, esses 8,1 podem ser emprestados e redepositados criando mais 7,2 bilhões mais 6,5 bilhões … mais 5,9 bilhões… etc. Este ciclo de criação de dinheiro pode se tornar tecnicamente infinito. O cálculo médio é de que cerca de 90 bilhões de dólares podem ser criados a partir dos 10 bilhões originais. Em outras palavras: para cada depósito que é feito no sistema bancário, pode-se criar nove vezes esse valor a partir do nada. Mas o que está dando valor a esse dinheiro recémcriado? A resposta: o dinheiro que já existe. O dinheiro novo basicamente tira valor do suprimento monetário já existente já que o montante total de dinheiro está aumentando independente da produção por bens e serviços. E como a oferta e a demanda definem o equilíbrio, os preços sobem, reduzindo o poder de compra de cada dólar. Isso é normalmente chamado de inflação e a inflação é basicamente um imposto oculto cobrado das pessoas. Eles dizem: “inflacione a moeda”. Eles não falam: “depreciem a moeda”. Eles não falam: “desvalorizem a moeda”. Eles não falam “enganem quem já está garantido”; eles dizem “reduza as taxas de juros”. A verdadeira fraude ocorre quando distorcemos o valor do dinheiro. Quando criamos dinheiro do nada, não temos economias. Minha pergunta se resume a: como é que podemos esperar resolver os problemas da inflação, ou seja, o aumento 25 da oferta de dinheiro com mais inflação? Claro que não podemos. O sistema de reservas fracionadas para expansão monetária é inflacionário por si só uma vez que o ato de aumentar a oferta de dinheiro sem que haja uma expansão proporcional de bens e serviços na economia sempre vai depreciar uma moeda. Para se dar uma ideia: 1$ em 1913 valia o equivalente a 21,60$ em 2007. Isso é uma desvalorização de 96% desde que a Reserva Federal passou a existir. Logo, se todos no país pudessem pagar todas as suas dívidas, incluindo o governo, não haveria um único dólar em circulação. “Se não houvesse dívidas em nosso sistema financeiro, não haveria dinheiro”. Juro Ainda falta um elemento que omitimos desta equação, e é esse elemento da estrutura que revela a natureza fraudulenta inerente ao sistema: a cobrança de juros. Quando o governo toma dinheiro emprestado da RF, ou quando uma pessoa toma um empréstimo de um banco, ele quase sempre deve ser devolvido com juros pesados. Em outras palavras, quase todos os dólares que existem um dia terão que ser devolvidos a um banco com pagamento de juros embutidos. Porém, se todo o dinheiro é emprestado do Banco Central, e expandido pelos bancos comerciais através de empréstimos, então, onde está o dinheiro para cobrir os juros que são cobrados? Em lugar nenhum. Ele não existe. As ramificações disso são inacreditáveis, pois a quantia de dinheiro devida aos bancos sempre será maior que a quantia de dinheiro em circulação. É por isso que a inflação é uma constante na economia, pois o dinheiro novo é sempre necessário para ajudar a cobrir o déficit embutido no sistema, causado pela necessidade de se pagar juros. 26 Isso também significa que, matematicamente, a inadimplência e as falências são literalmente partes do sistema. E será sempre a parte mais pobre da sociedade que sofrerá com isso. Uma analogia seria a dança das cadeiras: quando a música para, sempre sobra alguém de fora. E a ideia é essa. As riquezas verdadeiras são invariavelmente transferidas das pessoas para os bancos, pois se você não puder pagar sua hipoteca, eles tomarão sua propriedade. Karl Marx, há 142 anos, disse: “Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros como casas e, fazendo-a dever cada vez mais, até que se torne insuportável.” Isso é particularmente revoltante quando você percebe não só que a inadimplência é inevitável devido à prática de reservas fracionadas, mas também porque o dinheiro que o banco lhe emprestou nem mesmo chegou a existir legalmente. Durante a Guerra Civil americana, o presidente Lincoln rejeitou os empréstimos com altos juros oferecidos pelos bancos europeus e decidiu fazer o que os patriarcas fundadores defendiam que era criar uma moeda independente e livre de dívidas. Escravização A política de reservas fracionadas praticada pela Reserva Federal que se espalhou como prática da maioria dos bancos do mundo é na verdade um sistema moderno de escravidão. Pense nisso: o dinheiro é criado a partir de dívidas. O que as pessoas fazem quando possuem dívidas? Eles buscam empregos para poder pagá-las. Mas se o dinheiro só pode ser criado a partir de empréstimos, como a sociedade vai ficar livre de dívidas algum 27 dia? Ela não pode, e essa é a questão. E é o medo da perda de bens, junto com a luta para se manter com dívidas perpétuas e inflação como parte do sistema, composto pela escassez inevitável característica da oferta de dinheiro, criados pelos juros que nunca poderão ser pagos que mantém o escravo do salário na linha correndo sem sair do lugar, com milhões de outros. Efetivamente, fortalecendo um império que só beneficia a elite no topo da pirâmide. No fim das contas, para quem você realmente trabalha? Escravizador Você trabalha, em última instância, para os bancos. O dinheiro é criado no banco e acaba invariavelmente de volta ao banco. Eles são os verdadeiros senhores, junto com as corporações e governos que apoiam. A escravidão física exige moradia e comida para os trabalhadores. A escravidão econômica exige que as pessoas consigam sua própria moradia e comida. Esse é um dos engodos mais engenhosos para manipulação social já criado. E em sua essência está em uma guerra invisível contra a população. A dívida é a arma usada para conquistar e escravizar sociedades, e os juros são sua munição principal. Enquanto a maioria de nós circula sem saber dessa realidade, os bancos, associados aos governos e corporações continuaram a aperfeiçoar e expandir suas táticas de guerra econômica, implantando novas bases como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional [FMI], enquanto também inventava um novo tipo de soldado: o nascimento do assassino econômico. Assassino econômico "Há dois modos de subjugar e escravizar uma nação. Um é pela força, o outro é pelas dívidas". Os assassinos econômicos 28 são os responsáveis pela criação desse novo império realmente global. Eles trabalham de muitas maneiras diferentes. Talvez a mais comum seja identificar um país que tem recursos, como petróleo. E em seguida, conseguir um empréstimo enorme para esse país através do Banco Mundial ou uma de suas organizações irmãs. Só que o dinheiro nunca vai realmente para o país. Ele acaba indo para as grandes corporações para criar projetos de infraestrutura nesse país. Usinas de energia, parques industriais, portos, coisas que beneficiam uns poucos ricos desse país e também as corporações, mas não a maioria das pessoas. Entretanto, essas pessoas, o país inteiro acaba ficando com uma enorme dívida. A dívida é tão grande que eles não conseguem pagá-la, e isso é parte do plano. Eles não podem pagá-la! Então, num certo ponto, os assassinos econômicos vão lá e dizem “ouça, você perdeu muito dinheiro, não vai conseguir pagar sua dívida, então venda seu petróleo bem barato para nossas petroleiras, deixe-nos construir uma base militar no seu país, envie tropas para apoiar uma das nossas, em algum lugar do mundo como o Iraque ou vote na gente na próxima cúpula da ONU". Pedem para privatizar sua companhia elétrica e vender seu sistema de água e esgoto para corporações americanas ou outras corporações multinacionais. Então é uma coisa que só cresce, e é tão típico, esse modo como o FMI e o Banco Mundial operam. Eles colocam um país em uma dívida, Aí eles se oferecem para refinanciar a dívida e cobram mais juros. E eles exigem esse “escambo” que é chamado de boa governança que basicamente significa que eles têm que vender seus recursos incluindo muitos serviços sociais, suas empresas de serviços básicos, às vezes seus sistemas educacionais, seus sistemas penitenciários, seus sistemas previdenciários para corporações estrangeiras. Isso é um ganho duplo, triplo, quádruplo! 29 Seus começos A introdução do Assassino Econômico começou mesmo no início dos anos 50 quando Mossadegh, escolhido democraticamente, foi eleito no Irã. Ele era considerado “A Esperança da Democracia” no Oriente Médio ou do mundo. Ele foi o Homem do Ano da revista Time. Porém, uma das questões que ele trazia e queria implementar era a ideia de que as petroleiras internacionais deveriam pagar muito mais ao povo iraniano pelo petróleo que estavam retirando do Irã e de que o povo iraniano deveria se beneficiar de seu próprio petróleo. "Política estranha?" Claro que os novos senhores não gostaram disso, mas tiveram medo de fazer o que estavam fazendo, que era enviar os militares, em vez disso enviaram um agente da CIA, Kermit Roosevelt, parente de Teddy Roosevelt e com alguns milhões de dólares, ele mostrou-se muito eficiente e em pouco tempo Mossadegh foi deposto e foi substituído pelo xá do Irã, que sempre foi favorável ao petróleo barato, e isso funcionou muito bem. Derrubaram e no processo se criaram contratos de construção civil muito lucrativo para reconstruir o país que tinham destruído, o que é um ótimo negócio se você é uma empresa do ramo de construção. Então o Iraque ilustra as três etapas, os assassinos econômicos que falharam, os chacais que falharam e, por fim, o exército foi enviado. E assim criaram um império mundial, mas isso foi feito muito sutilmente, clandestinamente. A corporatocracia Então nos perguntamos: se isso é um império, quem é o imperador? Obviamente, não são os presidentes dos EUA. Um imperador não é eleito, não tem tempo de mandato e não dá satisfações a ninguém. Não podemos classificar os presidentes 30 assim, mas temos o que consideramos um equivalente, que é o chamado de “Corporatocracia”. A corporatocracia é liderada por um grupo de indivíduos que gerenciam as grandes empresas, e eles realmente agem como os imperadores, desse império. Eles controlam a mídia, direta ou indiretamente através da publicidade, controlam a maioria dos políticos, pois financiam suas campanhas tanto através das corporações quanto por doações pessoais. As corporações não são eleitas, não cumprem um tempo de mandato ou dão satisfações, e no topo da corporatocracia, você não consegue saber se os líderes trabalham para as corporações ou para o governo, pois eles sempre estão trocando de posição. Você tem alguém que uma hora é o presidente de uma grande construtora, como a Halliburton, e em seguida ele é o vicepresidente dos EUA, ou um presidente que vem do ramo petroleiro. Isso vale para republicanos e democratas, pois ambos têm líderes indo e vindo entre as áreas. Globalização De certa forma, nosso governo é invisível a maior parte do tempo, mas suas políticas são aplicadas pelas corporações, em um nível ou outro, e novamente as políticas do governo basicamente são criadas pela corporatocracia e apresentadas pelos líderes políticos, criando uma relação muito profunda. Isso não é uma teoria de conspiração, essas pessoas não se reúnem e ficam tramando. Todos eles trabalham a partir de uma premissa básica, que é a maximização de lucros sem considerar os custos sociais e ambientais. "Maximizar lucros, independente do impacto social e ambiental". Esse processo de manipulação corporativa através de dívidas, corrupção e golpes também é chamado de GLOBALIZAÇÃO. Assim como a RF mantém o povo americano em uma posição de servidão incondicional através de 31 dívidas infinitas, inflação e juros, o Banco Mundial e o FMI cumprem esse papel em nível global. Banco Mundial e o FMI A farsa é simples Coloque um país em dívida, seja por sua própria imprudência ou pela corrupção do líder desse país e então imponha “condicionalidades” ou “políticas de ajuste estrutural” que frequentemente consistem em: Desvalorização da moeda; Quando o valor de uma moeda cai, o mesmo vale para tudo avaliado através dela. Isso torna os recursos nativos disponíveis para países predadores por uma parcela de seu valor real. Cortes no financiamento de programas sociais, que normalmente incluem educação e saúde, comprometendo o bem-estar e a integridade da sociedade e deixando as pessoas vulneráveis à exploração. Privatização de empresas públicas; Isso significa que sistemas com importância social podem ser comprados e controlados por corporações estrangeiras que visam lucro. Por exemplo, em 1999 o Banco Mundial insistiu que o governo boliviano vendesse o sistema de água e esgoto da terceira maior cidade a uma subsidiária da americana Bechtel. Assim que isso aconteceu, as contas de água dos moradores locais já empobrecidos dispararam. Em 1960, a desigualdade de renda entre o quinto mais rico e o mais pobre do mundo era de 30 para 1. Em 1998, era de 74 para 1. Enquanto o PIB global cresceu 40% entre 1970 e 1985, a margem de pessoas na faixa de pobreza cresceu 17%. Entre 1985 e 2000, o número de pessoas vivendo com menos de um dólar por dia cresceu 18%. No fim dos anos 60, o Banco Mundial interveio no Equador, com grandes empréstimos. Nos 30 anos seguintes, a pobreza cresceu de 50 para 70%. O sub ou o desemprego foi de 15 para 70%. A dívida pública saltou de 240 milhões para 16 bilhões, enquanto a parcela de recursos destinados aos pobres 32 caiu de 20 para 6%. Em 2000, 50% do orçamento nacional do Equador estava sendo alocado para pagamento de dívidas. É importante entendermos que o Banco Mundial é na verdade um banco americano, atendendo a interesses americanos, pois os EUA têm poder de veto sobre as decisões, já que é o maior fornecedor de capital. E de onde eles tiraram esse dinheiro? Acertou: ele foi criado do nada pelo sistema bancário de reservas fracionadas. Das 100 maiores economias do mundo, com base no PIB, 51 são corporações, das quais 47 ficam nos EUA. A Wal-Mart, a General Motors e a Exxon têm mais poder econômico que a Arábia Saudita, a Polônia, a Noruega, África do Sul, Finlândia, Indonésia e muitos outros. EUA e democracia não existem O Messias Meishu-Sama diz: “Não sou o único, entretanto, a pensar que a democracia ainda não criou raízes firmes.” “A bela capa da democracia oculta à exploração dos impostos e o sofrimento do povo sob a opressão do poder burocrático.” “Não se trata de comunismo, nem tampouco de socialismo, capitalismo ou democracia.” Você fica diante de sua telinha de televisão e reclama sobre os EUA e a democracia. Os EUA não existem, nem a democracia. Existem apenas a IBM, a ITT e AT&T, DuPont, Dow, Union Carbide e a Exxon. Estas são as nações do mundo de hoje. Do que você acha que os russos falam em seus conselhos de estado, falam de Karl Marx? Eles pegam seus gráficos de planejamento linear, teorias de decisão estatísticas, soluções mínimas e máximas, e calculam as probabilidades de custobenefício de suas transações e investimentos, como nós. Não vivemos mais em um mundo de nações e ideologias. O mundo é um grupo de corporações, inevitavelmente determinadas pelas regras imutáveis dos negócios. O mundo é um negócio. Tomadas de modo crescente, as integrações do mundo como um todo, 33 especialmente no quesito qualidades de capitalismo de “mercado livre”, representa um verdadeiro “império” no seu direito. Terrorismo Meishu-Sama: “Há tempo, estou alertando para a chegada de um período de terror. Agora sinto que está próximo. O povo, contudo, ainda não percebeu as mudanças que começam a ocorrer.” O resultado final do capitalismo de “mercado livre” será um monopólio mundial, baseado não na vida humana, mas em poder corporativo e financeiro. Conforme a desigualdade cresce, claro, mais e mais pessoas se desesperam. Então o sistema foi forçado a criar um novo modo de lidar com quem desafia este sistema. Assim nasceu o "Terrorista". O termo terrorista é uma descrição vazia, dada a qualquer pessoa ou grupo que escolhe desafiar o "establishment". Isso não deve ser confundido com a fictícia Al Qaeda, que é na verdade o nome de um banco de dados criado pelo Mujahadeen com apoio americano nos anos 80. “Na verdade não existe nenhum exército terrorista islâmico chamado Al Qaeda e qualquer oficial da inteligência bem informado sabe disso. Mas existe uma campanha de propaganda para que o povo acredite na presença de uma entidade identificada, o país por trás dessa propaganda é os EUA”. Em 2007, o Departamento de defesa recebeu 161,8 bilhões de dólares para a chamada guerra global contra o terrorismo. De acordo com o centro nacional antiterrorismos, em 2004 cerca de 2000 pessoas tinham sido mortos intencionalmente em razão de supostos atos terroristas. Desse número, 70 eram americanos. Usando esse número como uma média, o que já é muito generoso, é interessante notar que o dobro de pessoas morre de alergia a amendoim por ano, comparado com o terrorismo. Ao mesmo tempo, a causa 34 principal de mortes nos EUA são doenças coronárias, que matam cerca de 450 mil por ano. Em 2007, os fundos destinados pelo governo para pesquisa nessa área foram de cerca de três bilhões de dólares. Isso quer dizer que em 2007, o governo dos EUA gastou 54 vezes mais dinheiro prevenindo o terrorismo do que gastou prevenindo a doença que mata 6600 vezes mais pessoas por ano do que o terrorismo. Ainda assim os nomes terrorismo e Al Qaeda estão obrigatoriamente estampados em todos os jornais ligados a qualquer ato realizado contra interesses dos EUA o mito se expande! No meio de 2008, o Procurador Geral dos EUA chegou a propor que o congresso americano declarasse oficialmente guerra à fantasia, para não falar que até julho de 2008 existia mais de um milhão de pessoas na lista de terroristas monitorados dos EUA. Os verdadeiros terroristas Eles usam ternos de cinco mil dólares e trabalham nos mais altos cargos das finanças, do governo e das empresas. E então, o que fazer? Como paramos um sistema de ganância e corrupção que tem tanto poder e impetuosidade? Como paramos esse comportamento grupal aberrante, que não tem compaixão por, digamos, os milhões massacrados no Iraque e no Afeganistão para que a corporatocracia controle recursos energéticos e a produção de ópio e gere lucro em Wall Street? Antes de 1980, o Afeganistão produzia 0% do ópio mundial Depois que o Mujahadeen ganhou a guerra com a URSS com apoio da CIA e dos EUA, eles passaram a produzir 40% da heroína mundial em 1986. Em 1999, eles estavam produzindo 80% do total no mercado. Mas então, algo inesperado aconteceu. Os talibãs subiram ao poder e em 2000, já haviam destruído a maioria dos campos de ópio. A produção caiu de três mil toneladas para apenas 185, uma redução de 94%. Em 9 de setembro de 2001, os planos de invasão do Afeganistão estavam 35 na mesa do presidente Bush. Dois dias depois, eles tinham uma desculpa. Hoje, a produção de ópio no Afeganistão controlado pelos EUA fornece mais de 90% da heroína do mundo, quebra recorde de produção todo ano. Egoísmo, apego, lucro e materialismo Para encontrar a resposta, primeiro devemos encontrar a causa principal, pois o fato é que os grupos egoístas, corruptos e famintos de lucro não são a fonte do problema. Eles são sintomas. A ganância e a competição não são o resultado de um temperamento humano imutável. Ganância e medo da escassez na verdade são criados e ampliados. A consequência direta disso é que temos que lutar uns com os outros para sobreviver. A característica mais fundamental de nossas instituições sociais é a necessidade de autopreservação. Isso vale para as corporações, as religiões, ou um governo o interesse principal é a preservação da própria instituição. Por exemplo, a última coisa que uma petroleira quer é o uso de energia não controlada por ela, já que isso a torna menos importante para a sociedade. Assim, fica naturalmente difícil que instituições baseadas em lucro mudem, pois isso ameaça não só a sobrevivência de grupos de pessoas, mas também o estilo de vida materialista associado aos poderosos. A necessidade paralisante de preservar as instituições - independente de seu impacto social – está fortemente baseada na necessidade de dinheiro, ou lucro. Indústria “O que ganho com isso?” é o que as pessoas pensam, então se alguém ganha dinheiro vendendo certo produto, naturalmente ele vai combater quem trabalha com outro produto que possa ameaçar sua instituição. Por isso, as pessoas não podem ser justas, e as pessoas não confiam umas nas 36 outras. Alguém te diz: “eu tenho a casa que você procura!”, mas ele é um vendedor! Um médico te diz: “Temos que retirar seu rim”, não sei se ele precisa pagar por seu iate ou se meu rim realmente está doente. É difícil, no sistema monetário, confiar nas pessoas. Se você viesse à minha loja e eu dissesse: “esse abajur é muito bom, mas o da loja seguinte é muito melhor” eu não duraria muito no mercado, não daria certo. Então, quando dizem que “a indústria se importa com as pessoas”, isso não é verdade! Elas não podem ser éticas. O sistema não foi projetado para servir ao bem-estar das pessoas. Se você não entendeu isso, não haveria terceirização de empregos, se eles se importassem com as pessoas. A indústria não se importa com as pessoas, ela só continua contratando porque ainda não automatizaram tudo. É importante destacar que independente do sistema financeiro, seja ele fascista, socialista, capitalista ou comunista, o mecanismo por trás disso ainda é dinheiro, trabalho e competição. A China comunista não é menos capitalista que os EUA. A única diferença é o grau de interferência do governo nas empresas. A realidade é que o monetarismo, por assim dizer, é o verdadeiro mecanismo que guia os interesses de todos os países no planeta. A mais agressiva, e, portanto, dominante variação desse monetarismo é o sistema de livre comércio. A perspectiva fundamental apresentada pelos economistas anteriores ao livre comércio, como Adam Smith, é de que auto-interesse e competição levam a prosperidade social, já que o ato de competir gera incentivo e motiva as pessoas a ir adiante. Porém, o que não é falado é como uma economia baseada em competição acaba levando a corrupção estratégica, consolidação de poder e riquezas, camadas sociais, paralisia tecnológica, abuso de mão de obra e finalmente, a uma forma encoberta de ditadura governamental pela elite rica. 37 A palavra “corrupção” costuma ser definida como perversão moral. Se uma empresa joga lixo tóxico no mar para economizar dinheiro as pessoas reconhecem isso como um “comportamento corrupto”. De um modo mais sutil, quando a Wal-Mart se muda para uma cidade pequena e força as lojas pequenas a fecharam por não poderem competir, caímos em uma zona de dúvida: Afinal, o que exatamente a Wal-Mart está fazendo de errado? Por que eles se importariam com as organizações que destroem? Porém, mais discretamente ainda, quando alguém perde o emprego porque uma nova máquina foi criada, que pode fazer seu trabalho por um custo menor, as pessoas tendem a aceitar isso como “o jeito que as coisas são” sem ver a desumanidade corrupta que existe nesse gesto. O fato é: Seja despejando lixo tóxico, possuindo um monopólio ou reduzindo a força de trabalho, o motivo é sempre o mesmo! Lucro. Todos são estágios diferentes do mesmo mecanismo de auto-preservação, que sempre coloca o bem-estar do povo atrás da necessidade de ganho monetário. Portanto, a corrupção não é um subproduto do Monetarismo. Ela é a sua base! Enquanto algumas pessoas reconhecem essa tendência em algum nível, a maioria continua sem saber das amplas consequências de termos em um mecanismo tão egoísta como mentalidade principal. “Documentos internos mostram que depois que essa empresa soube que tinham uma medicação que estava infectada com o vírus da AIDS, eles tiraram o produto do mercado americano e o mandaram para os mercados da Europa, Ásia e América Latina. O governo dos EUA permitiu que acontecesse, o FDA permitiu que isso acontecesse e agora o governo está fingindo ignorar o caso. Milhares de hemofílicos inocentes morreram de AIDS e essa empresa sabia que os medicamentos estavam infectados com o vírus. Eles mandaram para outros lugares porque queriam transformar esse desastre em lucro”. Veja só, você tem a corrupção como parte do sistema. Estamos 38 tirando proveito uns dos outros, e não se pode esperar muita decência a essa altura. Política Sinto que as pessoas não sabem quem eleger. Elas pensam em termos de democracia, o que não é possível em uma economia baseada em moeda. Se elas dão dinheiro para a campanha do candidato que querem eleger, isso não é democracia. Eles servem pessoas em posições de vantagem. Então, sempre temos a ditadura das elites, dos ricos. É interessante observar como personalidades aparentemente desconhecidas aparecem, como mágica, como candidatos a presidente. Antes que você perceba, de algum modo você precisa escolher entre um pequeno grupo de pessoas muito ricas que suspeitamente têm as mesmas visões sociais amplas. Obviamente, isso é uma piada. As pessoas que concorrem à eleição estão ali porque foram definidas como aceitáveis pelo poder financeiro estabelecido que toma as decisões. Ainda assim, muitos que entendem a ilusão da democracia pensam: “que bom seria se pudéssemos ter nosso candidato honesto no poder, aí tudo ficaria bem”. Bem, essa ideia parece ter sentido dentro da nossa visão de mundo guiada pelo establishment, mas infelizmente ela é outra mentira, pois quando o assunto é aquilo que realmente importa, a instituição da política, assim como os políticos, não tem nenhuma relevância no que diz respeito às coisas que fazem nosso mundo e nossa sociedade funcionarem. A pergunta que interessa aos políticos é: Quanto um projeto vai custar? A questão não é quanto ele vai custar, mas sim se temos os recursos. E hoje nós temos os recursos para dar moradia a todos, para construir hospitais no mundo todo, construir escolas no mundo todo, financiar laboratórios e equipamentos para o ensino e pesquisa em medicina. Vejamos, 39 nós temos tudo isso, mas estamos no sistema monetário, e nesse sistema, o que interessa é o lucro. E qual é o mecanismo principal que orienta o sistema baseado em lucro, além de interesse próprio? O que exatamente mantém essa competição como sua essência? Eficiência e sustentabilidade? Não. Isso não é parte de seu projeto. Nada produzido na nossa sociedade voltada ao lucro é de alguma forma sustentável ou eficiente. Se houvesse, não haveria uma indústria milionária de serviços automotivos, ou a vida média dos equipamentos eletrônicos seria maior que três meses, antes de ficarem obsoletos. Abundância? De modo algum. A abundância se baseia nas leis de oferta e procura, e na verdade é algo negativo. Se uma mineradora de diamantes encontrarem uma quantidade dez vezes maior que o normal, isso quer dizer que a oferta de diamantes aumenta, e logo o preço e o lucro por diamante caem. O fato é que sustentabilidade, eficiência e abundância são inimigas do lucro. Resumindo, é o mecanismo de escassez que aumenta os lucros. A escassez mantém os produtos como valiosos; reduzir a produção de petróleo eleva o preço. A escassez de diamantes mantém o preço deles alto. Eles queimam diamantes na mina e o transformam em carbono para manter o preço alto. Então o que significa para a sociedade que a escassez, produzida naturalmente ou por manipulação, seja uma condição positiva para a indústria? Isso quer dizer que sustentabilidade e abundância jamais irão acontecer num sistema de lucro, pois simplesmente vão contra a natureza dessa estrutura. Portanto, é impossível termos um mundo sem guerras ou pobreza. É impossível continuar avançando tecnologicamente até seus níveis mais eficientes e produtivos. E, mais dramaticamente, é impossível esperar que o ser humano comporte-se de modo realmente ético e decente. 40 Finalização Só há uma escolha: medo ou coragem, Eles ou Nós. Mas, uns Eles ou Nós verdadeiros. Eles, são aqueles que querem o Inferno causado pelo egocentrismo que leva muitas pessoas a praticarem atos incorretos visando a lucros exagerados, como fazem, por exemplo, os presidentes de grandes companhias, os gerentes de bancos, os políticos, dando origem a falências, ocasionando danos incalculáveis, e sofrimentos a muita gente. Nós, somos aqueles que queremos o Céu na Terra causado pelo altruísmo, gratidão, cooperação e espiritualismo dando origem a alegria e a felicidade. A Revolução é agora, insiste-se que só há uma escolha: Eles ou Nós. MOEDAS SOCIAIS Elas são moedas complementares, utilizadas por certo grupo, como um clube, ou por participantes de eventos, geralmente para troca de serviços ou produtos. Surgem na economia solidária como alternativa ao escambo, e possuem características próprias. Uma moeda social é considerada um instrumento de desenvolvimento local, destinada a beneficiar o mercado de trabalho dos grupos que participam da economia da localidade. Seu uso é restrito, e a sua circulação beneficia a redistribuição dos recursos na esfera da própria comunidade. O aumento da quantidade de moeda social corresponde ao aumento das transações realizadas pelos participantes da economia local. Sempre observando o lastro (para cada moeda social uma moeda oficial do mesmo valor). 41 Sua criação se inspira nos conceitos da economia solidária de articulação e trocas da economia, na produção e comercialização de produtos que vai além da lógica capitalista, por beneficiar a comunidade local e trazer desenvolvimento. A moeda social, por sua circulação restrita, auxilia a diminuir o poder centralizador da economia capitalista globalizada, e promove a inclusão social. Banco Palmas É um banco comunitário brasileiro, conhecido formalmente como um "banco comunitário de desenvolvimento" ou BCD, fundado em 1998 no Conjunto Palmeira, um bairro de 32.000 habitantes localizado na periferia de Fortaleza - Ceará, Brasil. Opera sob o princípio da economia solidária. Ele é o primeiro dos 52 (em março de 2011) bancos comunitários com estruturas semelhantes em todo o Brasil. É gerido localmente pela Associação dos Moradores do Conjunto Palmeira, conhecido por sua sigla ASMOCONP, de que a maioria da equipe é voluntária. A missão do Banco é implementar projetos de trabalho e geração de renda através de sistemas de economia solidária, primariamente focada na superação da pobreza urbana e rural. O objetivo é garantir microcréditos para produção e consumo local, com taxas de juros mínimos e sem requisitos para inscrição, comprovante de renda, ou fiador (a confiabilidade do tomador é garantida por vizinhos). A missão é também para fornecer acesso a serviços bancários para os moradores das comunidades mais pobres, que normalmente 42 não teriam acesso a eles nos bancos tradicionais, com base na falta de histórico de crédito ou de garantia financeira e/ou distância física. Aqui se compreende: 1. História; 2. Teoria; 3. Moeda social; Serviços microfinanceiros (microcrédito; microseguro; correspondente bancário); Instituto Palmas; Marco legal; Rede Brasileira de Bancos Comunitários; Projetos sociais (Bairro Escola de Trabalho; Incubadora Feminina; Companhia Bate Palmas; Curso de consultores comunitários; Academia de Moda Periferia; Palma Tech; Escola Popular Cooperativa Palmas; 1.000 Jovens, 10 Ideias); 9. Empreendimentos solidários produtivos da rede (Palma Tur; Palma Fashion; Palma Limpe; Loja Solidária; PalmaNatus); 10. Fecol. Apenas alguns serão tratados. Sobre história. A origem do Conjunto Palmeira remonta à década de 1970. Devido às iniciativas de remodelação da beira mar de Fortaleza decretadas pelo governo municipal, as comunidades de pescadores e outros habitantes foram forçadas a se mudar para o interior. O distrito do interior, hoje conhecido como Conjunto Palmeira, era desprovida de infraestrutura básica como água, estradas, e eletricidade, deixando o bairro vulnerável a inundações e outros problemas de estabilidade natural e econômico. Além disso, a mudar para o interior deixou a comunidade principalmente de pescadores sem uma fonte estável de renda. Em 1981, os moradores se uniram para melhorar a comunidade, criando assim ASMOCONP. Em janeiro de 1998, ASMOCONP criou o Banco Palmas como uma estratégia para enfrentar o desemprego, criando trabalho e oportunidades de renda para os moradores. Como tal, o Banco Palmas foi criado como uma ferramenta popular de financiamento sob os princípios e valores da economia solidária. Em 2000, o Banco Palmas criou a moeda social “palmas” que circula no comércio local. 43 Em março de 2003, ASMOCONP também estabeleceu o Instituto Palmas de Desenvolvimento e Socioeconômica Solidária (também conhecido como Instituto Palmas), uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos criada da experiência de ASMOCONP. Em 2003, a metodologia de finanças solidárias dos BCDs estava sendo discutida em vários municípios como um instrumento eficaz na geração de renda para os pobres. Um ano depois, em setembro de 2004, o segundo BCD abriu sob o nome Banco Par, no município de Paracuru, no Ceará, a 70 quilômetros de Fortaleza. Em 2005, mais dois bancos foram criados no estado do Espírito Santo: Banco Bem (município de Vitória) e Banco da Terra (município de Vila Velha). Até 2008, havia 34 bancos comunitários em operação. Em fevereiro de 2011, existiam 52 bancos comunitários em 12 estados do Brasil. Em janeiro de 2006, o Banco Popular do Brasil se tornou um dos parceiros da Rede Brasileira de Bancos Comunitários de Desenvolvimento como avalista de linhas de crédito para os BCDs, através um convênio da Secretaria Nacional de Economia Solidária do MTE. O acordo permitiu não só o Banco Palmas, mas toda a rede de bancos comunitários para ter acesso ao crédito e para atuar como correspondentes bancários do Banco Popular do Brasil. Durante esse mesmo ano, a Petrobras decidiu apoiar a criação de novos BCDs em dois outros municípios, somando a um total de doze BCDs funcionando no Brasil até o final de 2006. Recentemente, os bancos Caixa Econômica Federal (também conhecido simplesmente como “Caixa”) e BNDES tornaram-se as principais parcerias do Banco Palmas - a Caixa oferece serviços de correspondente bancário e de crédito limitado, e BNDES oferece crédito e apoio desenvolvimento institucional a partir de 2011. Zurich Brasil também tem tomado um papel importante no desenvolvimento da nova linha de produtos de seguros do Banco, começando com seguro de vida (lançado em setembro 44 de 2010) e se expandindo para outros programas nos próximos anos. A partir de 2008, o Programa Nacional de Bancos Comunitários - lançado pela Secretaria Nacional de Economia Solidária - tornou-se responsável pelo crescimento da Rede Brasileira de Bancos Comunitários. Sobre teoria. A teoria principal do Banco Palmas, suas ações, suas realizações e sua história, é que não existe nenhum território inerentemente pobre (seja uma região, bairro, nem município). Territórios ficam pobres depois de perder, várias vezes, a própria poupança. Apesar do nível de pobreza de um território, será sempre capaz de alcançar o desenvolvimento econômico. Esse desenvolvimento deve ser autônomo, do dentro; se não, nunca será sustentável. Sobre moeda social. Moeda social local em circulação, também chamada de "moeda local" ou "moeda social", é uma moeda complementar ao real do Brasil e criada por cada banco comunitário. Os bancos oferecem empréstimos em quantidades pequenas em reais e também na moeda local, que circula somente dentro do bairro. (A moeda social do Banco Palmas é a "palma", por exemplo. Cada comunidade tem as próprias moedas com os próprios nomes.) Uma unidade de moeda local é igual a um real, e ambas as moedas podem ser trocadas livremente a qualquer hora. Incentivos locais para comerciantes e consumidores existem para usar a moeda local (por exemplo, a oferta dos descontos aos usuários.) A moeda social dirige a fazer o "dinheiro" circular na comunidade, ampliando o poder do comércio local, aumentando a riqueza da comunidade, e gerando emprego e renda no total. A moeda social, portanto, torna-se um componente essencial nas estratégias dos bancos comunitários. Os créditos podem ajudar no crescimento econômico do distrito ou região através da criação da nova riqueza. As moedas locais garantem 45 desenvolvimento, promovendo que a riqueza circule na própria comunidade. Sobre Rede Brasileira de Bancos Comunitários. O Banco Palmas integra a Rede Brasileira de Bancos Comunitários, a Rede Cearense de Socioeconômica Solidária (RCSES), do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES). Rede Brasileira de Bancos Comunitários inclui atualmente 52 bancos (em março de 2011) em todo o Brasil. Cada um foi criado com a experiência e o apoio do Banco Palmas. Um banco comunitário não é uma divisão de um banco central; é parte de uma rede, segundo a referência e os métodos de trabalho comuns definidos pela Rede Brasileira de Bancos Comunitários. Veja as informações básicas seguintes sobre os bancos comunitários de desenvolvimento: O que é um banco comunitário de desenvolvimento? Bancos Comunitários de Desenvolvimento (BCDs) fornecem serviços de finanças solidárias em uma rede associativa e comunitária, voltada para a geração de emprego e renda, tendo em base os princípios da economia solidária. Quais são as características principais de um BCD? 1) A comunidade mesmo decide criar o banco, agindo como o seu próprio gerente e proprietário; 2) Sempre atua com duas linhas de crédito: uma em reais (R$) e outra em moeda social circulante; 3) Suas linhas de crédito estimulam a criação de redes de consumo e produção locais, promovendo o autodesenvolvimento do bairro; 4) Suporta as empresas como uma estratégia de comercialização (lojas solidárias, feiras solidárias, escritório central de comercialização, etc.); 46 5) Atua em áreas caracterizadas por exclusão e desigualdade social; 6) É destinado para um público caracterizado por vulnerabilidade social, em particular os beneficiários dos programas governamentais; 7) Tem ter a intenção de tornar-se sustentável financeiramente em curto prazo, obtendo subsídios justificados pela sua utilidade social. Qual é o objetivo de um BCD? Para promover o desenvolvimento de áreas de baixa renda através da criação de redes locais de produção e consumo. Ele opera com o apoio das iniciativas econômicas da economia solidária, tais como empresas sócio-produtivas, provedores de serviços, apoio para iniciativas sócio-comerciais (mercados, feiras de solidariedade), e organizações de consumidores. Qual é a estrutura de gestão de um BCD? CDBs são gerenciados dentro das estruturas das organizações comunitárias (associações, conselhos, fóruns, etc.) e outros tipos de iniciativas da sociedade civil que são reconhecidos dentro da comunidade, tais como sindicatos, ONGs, e igrejas. Sua gestão envolve uma dimensão compartilhada com componentes fortes de controle social local, com base nos mecanismos da democracia direta. Como é que o financiamento de um BCD? O financiamento dos BCDs é feito através do acesso a recursos públicos, bem como um fundo de solidariedade para investimentos comunitários. Este fundo é formado a partir de várias fontes: privado, doações pessoais ou de fontes legais; taxas de adesão (de entidades privadas ou legais), serviços comerciais (desde que eles não enfrentam nenhuma concorrência); e outros tipos de serviços fornecidos. 47 Quem são os clientes potenciais principais dos BCDs? Devido à sua condição como uma iniciativa de cidadãos voltada para o desenvolvimento do bairro, BCDs são destinados a um público caracterizado por vulnerabilidade social, em particular incluindo (mas não limitado a): mulheres, jovens, comerciantes, empreendedores, etc. Qual é a capacidade dos BCDs? Para permitir que a metodologia funcionasse corretamente, BCDs operam principalmente nas comunidades de até 50.000 habitantes. É possível ter mais de um BCD funcionando na mesma comunidade ou bairro. Economia solidária É definida como o "conjunto de atividades econômicas – de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito – organizadas sob a forma de autogestão." Compreende uma variedade de práticas econômicas e sociais organizadas sob a forma de cooperativas, associações, clubes de troca, empresas autogestionárias, redes de cooperação, entre outras, que realizam atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas, comércio justo e consumo solidário. Trata-se de uma forma de organização da produção, consumo e distribuição de riqueza centrada na valorização do ser humano e não do capital, caracterizada pela igualdade. "A economia solidária é uma alternativa inovadora na geração de trabalho e na inclusão social, na forma de uma corrente do bem que integra quem produz, quem vende, quem troca e quem compra. Seus princípios são autogestão, democracia, solidariedade, cooperação, respeito à natureza, comércio justo e consumo solidário." 48 A economia solidária preconiza o entendimento do trabalho como um meio de emancipação humana dentro de um processo de democratização econômica, criando uma alternativa à dimensão alienante e assalariada das relações de trabalho capitalistas. Além disso, a economia solidária possui uma finalidade multidimensional, isto é, envolve a dimensão social, econômica, política, ecológica e cultural. Isto porque, além da visão econômica de geração de trabalho e renda, as experiências de economia solidária se projetam no espaço público, tendo como perspectiva a construção de um ambiente socialmente justo e sustentável. Vale ressaltar que a economia solidária não se confunde com o chamado "terceiro setor", que substitui o Estado nas suas obrigações legais e inibe a emancipação de trabalhadoras e trabalhadores, enquanto sujeitos protagonistas de direitos. A economia solidária reafirma, assim, a emergência de atores sociais, ou seja, a emancipação de trabalhadoras e trabalhadores como sujeitos históricos. 49 50 NA IDEOLOGIA: AQUECIMENTO GLOBAL SÓ COM REDUÇÃO DA POLUIÇÃO AMBIENTAL E EMISSÃO DE GASES NA ATMOSFERA DEZ MITOS O clima mudou antes O mito: Mesmo antes do efeito estufa e dos gases liberados por ações humanas, o clima da Terra já estava mudando, e por isso nós não somos responsáveis pelo aquecimento global atual. A ciência: As mudanças climáticas passadas sugerem que o clima reage de acordo com a energia colocada e retirada, de maneira que se o planeta acumular mais calor do que libera, as temperaturas globais vão subir. No momento, o CO2 está gerando um desequilíbrio energético que aumenta o efeito estufa. Mudanças climáticas antigas mostram evidências de que nosso clima é sensível ao gás carbônico. 51 Mas está frio lá fora! O mito: O planeta não pode estar esquentando, pois o último inverno foi um dos mais frios, como é possível o aquecimento global? A ciência: Temperaturas locais, medidas de forma individual, não têm nada a ver com o aquecimento global de longo termo. As mudanças de estação locais podem esconder o movimento climático planetário. Para encontrar tendências climáticas, é preciso analisar as mudanças de temperatura por um longo período de tempo. O clima está esfriando O mito: O aquecimento global parou e a Terra está começando a esfriar. A ciência: A última década, entre 2000 e 2009, foi a mais quente já registrada. Mas o aquecimento global é compatível com climas mais frios. Novamente, o que vale são os registros de longo termo. E nesse caso, infelizmente, a Terra está aquecendo. A culpa é do sol O mito: Na última centena de anos, a atividade solar tem aumentando, gerando o aquecimento global. 52 A ciência: Nos últimos 35 anos de aquecimento global, o sol mostrou uma tendência de se resfriar, enquanto o clima tem esquentado. Para o último século, o sol pode sim explicar um pouco do aumento das temperaturas, mas apenas uma pequena parcela. Um estudo publicado no ano passado mostrou que mesmo durante um período de baixa atividade solar, a Terra continuou a esquentar. Nem todos concordam O mito: Não há consenso de que o planeta esteja realmente aquecendo. A ciência: A maior parte dos cientistas climáticos concorda que o aquecimento global “humano” está acontecendo. Você pode ver essa tendência na diminuição das notícias sobre discussões a respeito disso. Não há mais argumentação. O dióxido de carbono (CO2) não é um poluente O mito: “Os perigos do dióxido de carbono? Diga isso para uma planta, o quão perigoso é”. A ciência: Apesar do gás ser realmente fundamental para a fotossíntese das plantas, ele é um poluente (por exemplo, na 53 acidificação dos oceanos) e seriamente ligado ao efeito estufa. Quando o calor é liberado da superfície terrestre, parte da radiação fica presa por gases estufa, como o CO2. Esse efeito é que está aumentando as temperaturas globais. Cientistas estão conspirando O mito: Milhares de e-mails entre cientistas climáticos vazaram em novembro de 2009, e revelaram dados encobertos que conflitavam com as pesquisas que afirmavam o aquecimento global. A ciência: Sim, um hacker teve acesso e divulgou os emails e documentos. Mas não existe conspiração, já que diversas outras pesquisas foram feitas, não necessariamente envolvendo esses cientistas. Não se preocupe, não é tão ruim O mito: Alguns apontam que há evidência histórica de que períodos mais quentes são bons para a humanidade, enquanto o frio é catastrófico. A ciência: Os cientistas climáticos afirmam que os pontos positivos do aquecimento são esmagados pelos negativos, na agricultura, na saúde humana, na economia e no meio ambiente. Por exemplo, um estudo de 2007 mostra que um planeta mais 54 quente aumentaria a propagação da vegetação na Groenlândia; mas isso também significaria mais escassez de água, mais e maiores queimadas e maior desertificação. Não parece muito bom. A Antártida está com mais gelo O mito: O gelo que cobre a Antártida está expandindo, ao contrário da crença de que está derretendo devido ao aquecimento global. A ciência: O argumento de que o gelo está expandindo na Antártida omite a diferença entre o gelo terrestre e o marítimo. “Se você estiver falando do lençol de gelo, nós esperamos ganho no interior do território, mas perda do gelo periférico”, afirma o cientista Michael Mann. Medições atuais mostram que a camada de gelo da Antártida está diminuindo, em saldo negativo, e contribuindo para o aumento do nível dos oceanos. No caso do gelo marítimo, as tendências variam muito, por isso é complicado chegar a um dado exato. Os modelos climáticos não são de confiança O mito: Os modelos são repletos de pressupostos para que se encaixem nos dados coletados. Não há forma de saber se eles são de confiança. 55 A ciência: Modelos já conseguiram reproduzir com sucesso as temperaturas globais de 1900, na terra, no ar e nos oceanos. “Modelos são simplesmente uma formalização para que possamos entender melhor os processos que governam a atmosfera, os oceanos, etc.”, afirma Mann. Ele adiciona que certos processos, como a maneira com a qual as nuvens respondem às mudanças atmosféricas, são incertos, e diferentes modelos já foram apresentados. Mesmo assim, afirma Mann, certas previsões são baseadas na física e química fundamentais (como as feitas para o efeito estufa), o que resulta em previsões robustas, independentes dos pressupostos. ENTREVISTA COM O PROFESSOR DE CLIMATOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), RICARDO AUGUSTO FELICIO. Ele é um dos poucos céticos quanto ao aquecimento global no Brasil. Para o docente, o fenômeno não passa de uma mentira, já que não existem provas científicas de que a Terra está aquecendo. Nesta entrevista exclusiva ao Diário Regional, o professor defende sua tese, além de atacar o RIO+20, o Protocolo de Kyoto e afirmar que o documentário “Uma verdade inconveniente”, do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, é um filme de ficção científica. 56 Por que o senhor afirma que o aquecimento global não existe? Quando o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) quer dizer que a Terra esquentou 0,74ºC em 150 anos é o mesmo que contar uma piada aos climatologistas sérios. As temperaturas já variaram muito mais do que 3ºC ou 5ºC há cerca de 5 mil anos atrás. Em outros períodos, a Geologia nos retrata valores de mais de 8ºC. Ao mesmo tempo, dependendo da escala verificada, as variações podem ser grandes ou pequenas e não ocorrem ao mesmo tempo, nos mesmos lugares. Em certas partes, pode-se observar que as temperaturas subiram, em outras, que baixaram. Falar em média é uma verdadeira abstração, que esconde uma gama rica de fenômenos e variações. Não se pode entender clima assim. Só no último século, as temperaturas subiram e desceram duas vezes. Isso faz parte da variabilidade climática e não há nada de errado. Existem provas que o aquecimento global existe? Mostrar coisas derretendo não é prova de aquecimento global, pois, do contrário, mostrar coisas congelando seria prova de resfriamento global. Confunde-se as observações localizadas dos fenômenos e extrapola-se isso para o globo. Não é assim. É importante ressaltar que mostrar os fenômenos, observá-los, relatá-los, são etapas do conhecimento científico. Agora, atribuir causa a eles assim do nada é que se torna estranho demais. Note que não é porque observamos melhor o planeta e seus fenômenos, através do nosso aparato tecnológico, que provamos que mudaram, pois as séries são muito pequenas, e muito menos que é o homem a sua causa. Nesses termos, podem apenas achar, supor, imaginar que aconteceu “aquecimento global” pela observação dos dados. Porém, pior 57 ainda, só poder acreditar, crer, ter fé, que foi causado pela atividade dos humanos no planeta. Não há prova que o homem fez alguma alteração climática global. Qualquer afirmação desse tipo não passa de uma distorção do método científico consagrado. Se o aquecimento global não existe, quais são as consequências do efeito estufa? O “efeito estufa” é uma física planetária impossível. Em uma estufa, o ar está sob controle, ficando aquecido e não se misturando com o ar externo. É aprisionado e não consegue criar os vórtices, turbilhões e movimentos. Ao mesmo tempo, se tiver vapor d’água, este fica aprisionado. Na atmosfera real, o ar quente sobe, provoca convecção, fenômenos, a dinâmica de fluidos está liberada. É o mesmo exemplo de se estar dentro do carro com tudo fechado e exposto ao Sol. O calor é infernal, mas ao abrir as janelas, imediatamente libera-se a dinâmica de fluidos e as temperaturas caem. Gás em sistemas abertos não fica aprisionando calor. Ainda por cima, a física da re-emissão de infravermelho pregada como religião é absurda, porque se essas moléculas emitissem a energia absorvida, isto ocorreria de maneira isotrópica, sendo a superfície da Terra um dos menores alvos. O CO², gases como o clorofluorcarbono (CFC) e o desmatamento destroem a camada de Ozônio? Não. Não existe esta coisa de “camada de ozônio”, que já parece uma entidade religiosa. Ozônio é um gás de formação transitória, proveniente do segundo maior constituinte atmosférico, o gás oxigênio (chamado molecular) que só se forma com energia. Assim, necessita-se da energia do Sol, em seus raios ultravioleta da banda C, para que as nuvens ozônicas 58 se formem na baixa e média estratosfera (terceira camada atmosférica de baixo para cima). As nuvens ozônicas surgem e desaparecem, mas em quantidades espetacularmente grandes. Essas variações foram descritas por Gordon Dobson (cientista britânico) e outros cientistas já de longa data, e nada tinham a ver com a hipótese fraudulenta da presença de cloro derivado de CFCs na estratosfera. Aliás, de fato, nunca se provou essa hipótese, nem mesmo em laboratório. Também omitiram durante o período de assinatura do outro protocolo, o de Montreal, que as fontes de cloro naturais, que lançam cloro na estratosfera são 80 mil vezes maiores que as humanas, mas é claro, venderam bem a ideia de que é a sua geladeira que destrói uma coisa que não existe: a tal “camada de ozônio”. Na questão do desmatamento, alguns estudos sugeriram que os incêndios florestais seriam uma fonte de cloro para a atmosfera, mas apenas isto. Deve-se ressaltar que a quantidade de incêndios florestais é imensamente superior ao número de queimadas, que são fogos de origem antrópica. Os incêndios florestais fazem parte do ciclo natural das florestas, como processo de renovação da biomassa. Esta cresce nos períodos chuvosos e se desfaz em períodos de estiagens. Assim, de novo, essa outra fonte de cloro seria pelo menos 10 mil vezes maior que os gases refrigerantes. O desmatamento pode alterar o clima local e global? O desmatamento altera o clima local, por um período de tempo curto, onde a superfície fica desprotegida. Se abandonada, em menos de 20 dias já aparece uma cobertura vegetal rasteira, reiniciando o processo de retomada pela natureza. Nota-se que esta “alteração climática” não enquadra regime de chuvas e outros fenômenos, porque estes pertencem a outra escala. Assim, as alterações vão refletir na absorção, reflexão e emissão de energia, saldo de evaporação (se nenhum 59 outro fenômeno estiver atuando) e temperatura, embora esta última seja o pior parâmetro para referenciar qualquer coisa. Quanto ao global, nada interfere. Se o aquecimento global não existe, qual foi a importância do RIO+20, ECO 92 e de outros eventos semelhantes? O que foi realmente discutido no RIO+20? Algo de importante? São todos eventos de carnaval fora de época, em que se discutem negócios, ou seja, quanto vai se levar nesse mercado fraudulento do carbono. Todos os países querem participar disto. Agora tem o lado obscuro de tudo isso, pois os direitos civis das pessoas começaram a entrar no jogo, bem como a criação de mais impostos e a formação de algo que ainda não conseguimos definir muito bem, entre um “eco-imperialismo” ou um “eco-totalitarismo”. Veja bem, teve brasileiro querendo que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente tivesse “dentes”, a fim de manipular as nações que se não adequassem ao status quo colocado. Já daria para saber quem tomaria a mordida destes dentes, não? Dessa forma, estamos abrindo precedentes perigosos para a vida da humanidade e ninguém está percebendo isto? Dizem que o nível do mar está subindo devido o derretimento das calotas polares, é verdade? Não. O nível do mar apresenta flutuações normais devido à dilatação térmica dos oceanos, movimentos de ciclos lunares entre outros. De fato, os oceanos variam 15 a 25 centímetros por causa desses fenômenos e ainda podem variar até meio metro em fenômenos como La Niña ou El Niño. Em eventos extremos, que não devem ser confundidos aqui, o mar pode 60 subir um ou dois metros, mas isto devido aos ventos, ciclones tropicais e extratropicais. Quando terminam, o mar volta. Quanto aos polos, o Ártico é um oceano congelado que pode variar de dois a cinco metros de espessura, que derrete e congela normalmente durante as estações de verão e inverno, em que por um longo período congela mais do que derrete (saldo positivo) e depois inverte (saldo negativo). Em 2012 voltou a sua média normal, que leva em conta os dados dos anos de 1970 até 2000. Assim, gelo dentro da água, quando derrete vira água, não alterando em nada. Quanto à costa da Groenlândia, esta também apresenta alta variação de degelo e congelamento muito conhecida, fazendo parte do ciclo natural. O interior da Groenlândia dificilmente é afetado e não derrete há mais de 10 mil anos. O polo Sul é bem diferente do Norte, pois possui um continente de 14 milhões de quilômetros quadrados, cuja quantidade de gelo passa os 27 milhões de quilômetros cúbicos. Lá não tem como derreter sem que a Terra eleve suas temperaturas acima de 20ºC. Não há uma marca que o Capitão Cook fez no século XIX como medição do nível do mar? Como que essa marca está? Levando em conta a fase lunar certa, para não dar distorção entre as marés, o nível do mar está na mesma marca feita em 1841, ou seja, os oceanos, pelo menos em nível médio, continuam do mesmo jeito que estavam há mais de 170 anos. Qual a sua opinião do famoso documentário “Uma verdade inconveniente”, do ex-vice-presidente dos EUA Al Gore? É um grande filme… de ficção científica, apenas isto. Deveria ser dito isto para todos de modo que não achassem que o documentário seja verdade. Veja bem, se tem gente que com filmes como o tal 2012 e acham que o mundo vai acabar mesmo 61 em dezembro deste ano, o que imaginariam daquilo (documentário)? Enfim, o filme tem diversos erros científicos ou chamadas inverdades, como a morte dos ursos polares afogados, a subida do mar, o furacão Katrina, entre outros. Qual a sua opinião sobre o Protocolo de Kyoto? É o mercado da fumaça. Não serve para nada a não ser manter os países em desenvolvimento presos nos seus grilhões de pobreza. Criaram-se mecanismos burocráticos sem fim para solucionar um problema que não existe. Muita gente ganhou rios de dinheiro com a permanência da pobreza de outros. Porém, não parou por aí, porque esse dinheiro de créditos de carbono voltou aos seus emissores, por meio da compra de produtos por eles vendidos. Enfim, é um esquema fiducitário da pior espécie, em que se vende débitos e grilhões ao mesmo tempo. O protocolo precisa acabar e nunca mais voltar. Por ser uma minoria nessa questão ambiental, já pensou que pode estar errado? Exatamente por sofrer todas as sanções e perseguições possíveis e imagináveis, dentro e fora do trabalho, tenho absoluta certeza de estar correto. Ainda mais quando toda essa turma evoca o princípio da precaução, a minha certeza é plena. Quer dizer que sem certeza científica de nada, precisamos pagar uma conta sobre clima e ambiente? E se tivéssemos a certeza, pagaríamos também. Para que a ciência se todas as decisões já foram tomadas? 62 O senhor é um dos poucos brasileiros que defendem que o aquecimento global não existe, por quê? Porque é muito mais fácil para vida, em todos os sentidos, dizer que ele existe. Poderia pegar um trecho da minha pesquisa antártica e dizer que o número de ciclones aumentou, portanto, é prova de que o aquecimento global existe e que o homem fez isto. Agora dizer a verdade dá trabalho. Assim, termino com o pensamento do Dr. Ivar Giaever, Prêmio Nobel em Física. Ele diz ser um cético ao “aquecimento”, porque está se tornando uma religião onde não se admite questionamentos. Ainda completa que não interessa o número de cientistas que seguem esta falácia. O que interessa é se os cientistas estão corretos. 63 64