Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS Rio de Janeiro, 11 de setembro de 2002 FOLHAS INFORMATIVAS é uma coleção originalmente criada pela organização não-governamental InfoRed SIDA, do Novo México, para dar informações gerais sobre a epidemia de HIV/AIDS. A ABIA, por entender que o material pode ser de grande utilidade no país, estabeleceu parceria com a ONG mexicana para divulgar esses conteúdos no Brasil. Você está recebendo a primeira série da coleção (chamada série A), que contém informações sobre: o que é AIDS, o teste anti-HIV, medicamentos, análises de laboratório, bioquímica do sangue, açúcar sangüíneo e gorduras do sangue, como deter a expansão do HIV, sexo seguro e protegido, drogas injetáveis e HIV, profilaxia pós-exposição e preservativos. Em breve, você estará recebendo outras séries da coleção. Essa iniciativa da ABIA faz parte do projeto “AIDS: políticas de saúde e a democratização da informação no Brasil – Fase II”, financiado pela EED Evangelischer Entwicklungsdienst e V. As FOLHAS INFORMATIVAS encontramse também disponíveis na homepage da ABIA (www.abiaids.org.br) e da InfoRed SIDA (www.aidsinfonet.org/infored.html). Atenciosamente Maria Cristina Pimenta Coordenadora-Geral da ABIA Juan Carlos Raxach Coordenador de Folhas Informativas Rua da Candelária, 79/10º andar CEP 20091-020 Rio de Janeiro/RJ E-mail: [email protected] site: www.abiaids.org.br Tel.: (21) 2223-1040 Fax: (21) 2253-8495 Folhas Informativas + InfoRed SIDA Nuevo México O que é AIDS O que significa AIDS? AIDS, do inglês Acquired Immunodeficiency Syndrome, é a sigla para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida: Síndrome é um conjunto de sintomas e sinais que constitui uma doença; Imunodeficiência é uma debilidade no sistema de defesa (imunológico) do nosso corpo que combate doenças; Adquirida significa que você a adquire durante a vida, ou melhor, você não nasce com ela por herança genética. A AIDS ou SIDA é causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Caso você seja infectado pelo HIV, seu corpo tentará atacar a infecção desenvolvendo anticorpos (moléculas especiais que combatem os microorganismos estranhos que entram em nosso corpo, no caso, o HIV). Ao fazer um exame de sangue para saber se você é soropositivo, o teste detecta esses anticorpos (teste anti-HIV). Se existem anticorpos em seu sangue, significa que você está infectado pelo HIV. A pessoa que possui anticorpos contra o HIV é denominada HIV positivo, soropositiva, portadora do HIV ou pessoa vivendo com HIV. Ser HIV positivo ou estar infectado pelo vírus não significa o mesmo que ter AIDS (estar doente). Muitas pessoas soropositivas vivem bem por anos sem apresentar sintomas da doença. Existe um ataque progressivo e constante ao sistema imunológico pelo HIV. Quando o sistema imunológico fica enfraquecido (imunodepressão), os vírus, parasitas, protozoários, fungos e bactérias que normalmente não causam nenhum problema podem produzir doenças. Essas enfermidades são conhecidas como infecções oportunistas. Como se contrai o HIV? O sangue, o fluido vaginal, o présêmen (fluido seminal), o sêmen e o leite materno de pessoas com HIV 1 Série A possuem vírus suficientes para infectar outras pessoas. Você pode receber o HIV de uma pessoa infectada, mesmo que ela não esteja doente, ou mesmo ainda, antes que ela tenha sido diagnosticada como HIV positivo. mortalidade, além de reduzir em 80% as internações hospitalares por infecções oportunistas. Além disso, novos tratamentos contra as infecções oportunistas contribuíram para a redução da mortalidade por HIV/AIDS. A maioria das pessoas contrai o HIV das seguintes formas: Como saber se sou soropositivo para o HIV? Mantendo relações sexuais desprotegidas, sem o uso do preservativo, com alguém infectado; Compartilhando a mesma agulha ou seringa, ao consumir drogas injetáveis, com pessoa infectada, por não esterilizar o material utilizado no pico, ou ainda quando compartilha o canudo para cocaína; Por nascer de mãe infectada. O bebê pode ser infectado antes, durante ou depois do parto, como, por exemplo, ao ser amamentado com o leite de uma mulher soropositiva. Antigamente, outra forma de infecção por AIDS era através de transfusão (recebimento) de sangue de um doador infectado, mas atualmente o fornecimento de sangue é examinado cuidadosamente. Mesmo assim, não deixe de verificar se o sangue que você, alguém de sua família ou um amigo irão receber (transfusão), foi testado para o HIV, sífilis, hepatite (A, B e C), HTLV e doença de Chagas (transmitida pelo inseto barbeiro). O mesmo vale para casos de transplante de órgãos. Não existe nenhum caso documentado de transmissão do HIV pela lágrima ou saliva. No início dos anos 90, a AIDS passou a estar entre as principais causas de morte no mundo. Entretanto, em 1996 surgiu um novo tratamento com combinação de três drogas, denominado terapia anti-retroviral altamente potente (HAART, sigla em inglês) mais conhecido como coquetel. Esse tratamento reduziu em torno de 50% as taxas de É muito difícil para você saber quando se infectou pelo HIV porque a maioria dos sintomas iniciais da infecção se confunde com os de outras doenças. Algumas pessoas têm febre, sentem dor de cabeça, de estômago, nos músculos ou nas articulações e são acometidas de inchaço nos gânglios linfáticos (ínguas) ou rash cutâneo (coloração avermelhada da pele) durante uma ou duas semanas. A maioria das pessoas pode pensar que é uma gripe. Outras pessoas não sentem nenhum sintoma. Portanto, o teste anti-HIV é o único meio eficaz e seguro de você saber se é HIV positivo ou não. O vírus multiplica-se em seu corpo por semanas, ou até meses, antes que seu sistema imunológico responda efetivamente. Durante esse tempo, o resultado do teste pode ser negativo para o HIV (janela imunológica), mas você pode infectar outras pessoas. Quando seu sistema imunológico começa a responder e a criar anticorpos (e o seu teste dá positivo), você torna-se soropositivo para o HIV ou HIV positivo. É o que chamamos de soroconversão. Mesmo apresentando ou não os primeiros sintomas (síndrome de soroconversão), algumas pessoas se sentem saudáveis durante muitos anos. Mas durante esse tempo, o HIV continua multiplicando-se e danificando progressivamente o sistema imunológico. Uma maneira de medir o quanto danificado está o seu sistema imunológico é fazer uma contagem de suas células CD4+ . Também conhecidas como células T auxiliadoras, elas são partes importantes de seu Folhas Informativas sistema imunológico. Normalmente, a pessoa HIV negativo possui entre 500 e 1.500 células CD4+ por milímetro cúbico de sangue. Sem o tratamento adequado, a quantidade de células CD4+ irá diminuir progressivamente e você poderá desenvolver sinais da doença, tais como febre, emagrecimento, suores noturnos, diarréia ou ínguas que se situam na cabeça, pescoço, axilas, região genital etc. Caso não esteja em acompanhamento, é hora de procurar um médico experiente em assistência a pacientes com HIV/AIDS . Como eu sei se tenho AIDS? A infecção por HIV converte-se em AIDS quando você faz um exame de células de defesa CD4+ e o resultado é abaixo de 200 células por mililitro cúbico de sangue, ou quando você apresenta sintomas e desenvolve uma infecção oportunista. Existe uma lista das infecções oportunistas que é publicada pelo Centro de Controle de 1 Série A Doenças dos Estados Unidos (em inglês, Centers for Disease Control ou CDC). As mais comuns são: Pneumonia por pneumocistis carini ou pneumocistose, uma infecção pulmonar (sigla em inglês, PCP); Sarcoma de Kaposi, um câncer que ataca mais comumente a pele, mas pode afetar outros órgãos (sigla em inglês, KS); CMV (citomegalovirose), uma infecção que normalmente afeta os olhos, mas também pode atacar outras partes do corpo; Candidíase, uma infecção que pode causar placas brancas na boca ou problemas na garganta, na vagina e no pênis. A AIDS também inclui em seu quadro a perda de peso corporal, tumores no cérebro (estágio avançado) e outros problemas de saúde, além das infecções oportunistas. Sem tratamento, a AIDS pode levá-lo à morte. Lembre-se de que, desde 1996, a terapia anti-retrov iral altamente potente reduziu em torno de 50% o número de mortes por AIDS. A síndrome manifesta-se de forma diferente em cada pessoa infectada. Existe cura para a AIDS? Atualmente, não existe cura para a AIDS. Existem medicamentos denominados anti-retrovirais que podem retardar o progresso da doença e reduzir a velocidade do dano ao seu sistema imunológico. Esses medicamentos diminuem a replicação viral, mas não conseguem tirar todo o vírus do seu corpo. Também existem medicamentos para prevenir e tratar infecções oportunistas, que, na maioria dos casos, funcionam bem. Projeto original: InfoRed SIDA Nuevo México (www.aidsinfonet.org/infored.html). Adaptação: Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (www.abiaids.org.br) . ABIA Coordenação-Geral: Maria Cristina Pimenta Coordenação das Folhas Informativas: Juan Carlos Raxach Assessoria Técnica: Debora Fontenelle Tradução: Marclei Guimarães. Financiado por EED Evangelischer Entwicklungsdienst e V. Tiragem: 3 mil exemplares/setembro de 2002 Folhas Informativas + InfoRed SIDA Nuevo México O teste anti-HIV O que é o teste anti-HIV? O teste anti-HIV indica se a pessoa está infectada, ou não, com o vírus da imunodeficiência humana, que causa a AIDS. Esse teste detecta os anticorpos contra o HIV que são produzidos pelo nosso corpo. Os anticorpos são proteínas produzidas pelo nosso sistema imunológico (de defesa) na luta contra um germe (microorganismo) específico. Onde fazer o teste anti-HIV? Você pode solicitar o teste anti-HIV no consultório de seu médico, mas também pode ser realizado sem prescrição médica nos centros de testagem e aconselhamento (CTAs). Aqui no Brasil, você pode saber os locais de testagem anônima e gratuita navegando pelo site do Ministério da Saúde: <http:// www.aids.gov.br>. Clique em prevenção, depois em teste de AIDS, ou faça uma busca com a palavra CTA. Na cidade do Rio de Janeiro, existem CTAs em: Botafogo (tel.: 21 2295-2295 R: 234) Centro (tel.: 21 2293-2255) Tijuca (tel.: 21 2569-9615) Madureira (tel.: 21 3390-0180 R: 225) No Estado do Rio de Janeiro, existem CTAs em: São João de Meriti (tel.: 21 2756-8504) Duque de Caxias (tel.: 21 2671-7659 R:204) Os contatos dos CTAs em Nova Iguaçu, Niterói, Volta Redonda, Campos e Macaé podem ser obtidos junto à Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, pelo telefone (21) 22402588/2533/4226. O resultado do teste nos serviços públicos, em média, está disponível entre três e quatro semanas após a coleta de sangue. Na rede particular, o tempo é menor. O teste anti-HIV mais comum é o exame de sangue. Entretanto, já existem novos testes que podem detectar anticorpos contra o HIV, na saliva e na urina (testes rápidos), mas que ainda não estão disponíveis no Brasil para a população em geral. Como é a testagem anônima? Você pode e tem o direito de fazer o teste anti-HIV de forma anônima e gratuita, e o ideal é que faça um primeiro teste para se certificar de sua sorologia. Para a realização do teste gratuito, existem os CTAs, que têm como objetivo atender a todo e qualquer cidadão com dúvidas em relação à sua condição sorológica para o HIV. Esses centros são unidades de saúde que oferecem o diagnóstico sorológico da infecção pelo HIV, de forma gratuita, atendendo à demanda tanto espontânea quanto referida. O sigilo e o aconselhamento pré e pós-teste são oferecidos nessas unidades, que podem contar com médicos, enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos que acompanham a pessoa antes e depois da testagem. Na primeira coleta de sangue, dois tipos de testagem são realizados: Elisa 1 e Elisa 2. Esses testes são menos específicos, pois podem detectar anticorpos de outras infecções que não necessariamente por HIV. As primeiras versões desse teste eram muito lentas e freqüentemente davam resultados falsos positivos. As novas versões são muito mais rápidas e exatas. Já na segunda coleta, para confirmação de resultado positivo anterior, realizam-se mais dois tipos de testagem: o Western Blot, por detectar anticorpos específicos para o HIV, e a Imunofluorescência. Persistindo dúvidas, um outro procedimento para confirmar a soropositividade para o HIV é utilizar o método PCR (reação da cadeia polimerase) que é bem específico mas também muito caro. Não é necessário repetir várias vezes o teste anti-HIV, pois os resultados são confiáveis em mais 2 Série A de 99,5% dos casos. O ideal é você passar a se prevenir, de modo a não ficar recorrendo sempre aos testes nos CTAs porque são anônimos e gratuitos. Caso receba um diagnóstico de soropositividade para o HIV num CTA, você terá informações sobre direitos, atendimentos psicológico e médico. E se você precisar de qualquer serviço médico para tratamento de infecções relacionadas ao HIV, ou seja, em virtude de um quadro de AIDS, seu caso será informado às autoridades competentes. Tal informação tem por objetivo rastrear e acompanhar a epidemia, e não perseguir as pessoas infectadas. Os relatórios fornecidos pelos boletins de epidemiologia não incluem nomes. O que significa um resultado positivo? Caso tenha um primeiro resultado positivo, você terá direito de fazer uma segunda coleta de sangue para a confirmação do diagnóstico de soropositividade. Se sua primeira testagem for negativa, e não estando no período de janela imunológica, ou seja, caso não tenha praticado ou sofrido comportamento de risco até três meses antes do teste, você, provavelmente, não está infectado, mas só uma segunda coleta confirmatória lhe dará maior certeza. Se você recebe um resultado negativo, significa que você não entrou em contato com o HIV, desde que tenha adotado corretamente as medidas preventivas para o ato sexual e/ou para outras situações de potenciais riscos: uso de drogas e recepção de sangue, por exemplo. Caso tenha adotado ou sofrido comportamento de risco, mesmo com o resultado negativo, você pode estar em período de janela imunológica, quando o corpo ainda está produzindo anticorpos contra o HIV que não estão em quantidade suficiente para serem detectados pelo teste. Além disso, o resultado do teste, sendo negativo, não significa que você é imune ao vírus. Portanto, continue se protegendo da infecção por HIV, usando Folhas Informativas preservativo, não compartilhando seringas e estando atento às transfusões (recepção) de sangue. Receber o resultado positivo não significa que você tem AIDS. Muitas pessoas que recebem o resultado positivo do teste anti-HIV vivem bem e com boa saúde por anos e nem todos os recém-diagnosticados necessitam começar imediatamente o tratamento anti-HIV (terapia antiretroviral). Lembre-se de que a AIDS é uma doença de evolução demorada e também um processo lento, cuja progressão é marcada por uma série de doenças, denominadas infecções oportunistas. Os testes são confiáveis? Existem duas circunstâncias especiais que podem levar a resultados falsos: 1) As crianças nascidas de mãe HIV positiva podem receber resultados falsos positivos do teste anti-HIV, porque as mães passam a seus filhos recém-nascidos seus anticorpos para que esses lutem contra as infecções. Mesmo quando as crianças não estão infectadas com o vírus, elas possuem os anticorpos contra o HIV que lhes foram doados pela mãe. Então, como o teste detecta os anticorpos, o resultado nessas crianças é positivo, mas não significa que elas tenham o vírus, mas, sim, os anticorpos que eram da mãe. Portanto, devem-se utilizar outros testes para o diagnóstico do HIV em crianças. Será considerada infectada, segundo a Coordenação Nacional de DST/AIDS, do Ministério da Saúde do Brasil, a 2 Série A criança de até 24 meses que apresentar resultado positivo em duas amostras testadas pelos seguintes métodos: cultivo de vírus, detecção de RNA ou DNA viral, ou antigenemia p 24 com acidificação. Os primeiros testes devem começar a ser realizados após duas semanas de vida do bebê. A técnica da antigenemia p 24 com acidificação somente poderá ser utilizada como critério de diagnóstico se associada a um dos demais métodos citados. 2) As pessoas recentemente infectadas, há menos de três meses quando da realização do teste antiHIV, podem receber um resultado falso negativo. É necessário entre três semanas e três meses para nosso corpo produzir os anticorpos contra o HIV. Durante esse período de incerteza (janela imunológica), a pessoa pode receber um resultado negativo, porém já é capaz de transmitir o vírus, se estiver infectada. Saber sobre a sua sorologia para o HIV é uma medida importante, pois hoje em dia existem recursos para o diagnóstico precoce e para o tratamento e controle do vírus que oferecem uma melhor qualidade de vida às pessoas vivendo com HIV/AIDS. Outros casos de resultados falsonegativos podem ocorrer devido à sensibilidade dos testes e a causas técnicas: troca de amostras, uso de reagentes fora do prazo de validade, utilização de equipamentos desajustados, pipetagem incorreta e por conta do transporte e armazenamento inadequado das amostras ou kits. Resumindo O teste anti-HIV procura anticorpos no sangue, na saliva e na urina. O sistema imunológico produz esses anticorpos para lutar contra o HIV, mas essa produção pode demorar até três meses para que sua quantidade seja detectada pelo teste anti-HIV. Durante esse período de incerteza (janela imunológica), você pode receber um resultado negativo ou indeterminado, mesmo já estando infectado. Os testes anti-HIV mais comuns para o diagnóstico de infecção por HIV não funcionam para os bebês recém-nascidos de mãe HIV positiva. Você pode fazer o teste anti-HIV de forma anônima, gratuita e sem prescrição médica. Com o resultado positivo confir mado, não significa que você tem AIDS (esteja doente), mas, sim, que está infectado (soropositivo). Se você tem o resultado positivo confirmado, deve conhecer mais sobre o HIV e decidir como cuidar melhor da sua saúde. Projeto original: InfoRed SIDA Nuevo México (www.aidsinfonet.org/infored.html). Adaptação: Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (www.abiaids.org.br) . ABIA Coordenação-Geral: Maria Cristina Pimenta Coordenação das Folhas Informativas: Juan Carlos Raxach Assessoria Técnica: Debora Fontenelle Tradução: Marclei Guimarães. Financiado por EED Evangelischer Entwicklungsdienst e V. Tiragem: 3 mil exemplares/setembro de 2002 Folhas Informativas + a aprovação dos medicamentos contra o HIV Por que demora tanto aprovar novos medicamentos? Quando um medicamento é identificado como promissor, ou seja, que pode ser benéfico no tratamento do HIV/AIDS, ele passa por uma primeira fase de comprovação pré-clínica, que envolve testes de laboratório em animais, para mostrar se o medicamento funciona contra o HIV. Nessa fase, o objetivo é descobrir o modo de funcionamento, a forma mais adequada de fabricação e o limite de segurança, isto é, o grau de toxicidade das substâncias. A partir dessa fase pré-clínica, já na chamada fase I (ver abaixo), a indústria farmacêutica entrega uma amostra do medicamento para uma nova análise (sigla em inglês: IND = nova droga em investigação), iniciando os estudos em seres humanos (ensaios clínicos). Quando se completam vários ensaios clínicos, o fabricante submete uma amostra desse novo medicamento (sigla em inglês: NDA = nova droga para aprovação) ao órgão norte-americano de Administração de Alimentos e Drogas (sigla em inglês: FDA Food and Drugs Administration), referência mundial para aprovação. Caso a FDA aprove o NDA, o medicamento é liberado para o tratamento das doenças, sob condições médicas específicas. O tempo ideal para desenvolver um novo medicamento para o combate ao HIV é de sete anos ou mais, pois as companhias farmacêuticas, a princípio, precisam encontrar substâncias originais com novos princípios ativos seguros (não tóxicos) e eficazes. Hoje, a maioria dos medicamentos anti-HIV é criada experimentando-se substâncias com atividade anti-HIV já conhecida. Tradicionalmente, uma droga para ser aprovada precisa mostrar benefícios clínicos e reduzir mortes e doenças. Porém, a partir da pressão de ativistas norte-americanos pela liberação rápida de drogas contra o HIV, o FDA adotou em 1989 o parallel track, que podemos traduzir, literalmente, como caminho ou conduta paralelos. Essa 3 InfoRed SIDA Nuevo México Série A conduta paralela também é conhecida como acesso expandido e amplia a disponibilidade de drogas em investigação para pessoas com AIDS sem opções terapêuticas e que não podem participar de pesquisas clínicas controladas. Em 1991, o FDA instituiu a aprovação acelerada para drogas usadas no tratamento de condições sérias e com risco de vida. Já em 1997, aprovou os marcadores CD4 e carga viral para a liberação das drogas anti-HIV, não mais se restringindo apenas aos ganhos clínicos. Quais são as fases dos ensaios clínicos? Existem quatro fases de ensaios clínicos (em humanos), que são aplicadas para os medicamentos em geral e não somente para os de HIV/AIDS. Se os resultados de qualquer fase de comprovação não são bons suficientemente, o laboratório deixa de desenvolver o medicamento. Mas se o problema não estiver no princípio ativo, a indústria farmacêutica pode tentar reformular a medicação. Os ensaios da fase I provam se é seguro administrar o medicamento em seres humanos. Esses ensaios estudam a ação metabólica e farmacológica das drogas e mostram os efeitos secundários que ocorrem nas diferentes dosagens do medicamento. Todos os participantes num ensaio de fase I recebem o novo medicamento, mas ele é administrado em dosagens diferenciadas para cada grupo de participantes. Normalmente, menos de 100 pessoas estão envolvidas na fase I e os ensaios têm uma duração menor que um ano. As pessoas que participam dessa fase enfrentam os riscos mais altos, comparados com os possíveis benefícios, já que um novo medicamento está sendo testado pela primeira vez em humanos. Os ensaios da fase II podem incluir centenas de pessoas e levar entre um e dois anos. Eles estudam se o medicamento é eficaz contra a infecção pelo HIV e tentam obter mais informações sobre os efeitos secundários (adversos ou colaterais). Esses ensaios geralmente são aleatórios. Isso significa que os participantes são divididos em dois grupos semelhantes no que se refere a sexo, idade e saúde. Um grupo recebe o medicamento em estudo e o outro fica como grupo de referência ou de controle. As pessoas do grupo de referência recebem um tratamento anterior, já comprovadamente eficaz. Se não existe nenhum tratamento anterior e mais eficaz, então recebem uma imitação do medicamento (placebo) que é uma substância que não produz nenhum efeito. Quando nem os participantes do ensaio nem seus médicos sabem quem está recebendo o medicamento em investigação e quem está tomando o placebo, o estudo é do tipo duplo-cego. O que se busca em um estudo duplo-cego é uma avaliação totalmente objetiva dos médicos sobre a saúde dos pacientes em investigação. Os ensaios da fase III coletam mais dados da eficácia do medicamento e de seus efeitos secundários a longo prazo. Esses ensaios podem envolver milhares de pessoas, pois objetivam generalizar os dados para a população em geral e, com freqüência, têm duração maior que um ano. Os ensaios da fase III normalmente são aleatórios e duplos-cegos. Alguns participantes podem não receber o medicamento em estudo. Obtendo bons resultados nesses ensaios, o fabricante pode solicitar a aprovação ao FDA para comercialização do novo medicamento. Os ensaios da fase IV são chamados de pós-comercialização. As diretrizes para esses ensaios ainda não estão bem definidas e eles não são realizados com freqüência. Esses ensaios podem monitorar a efetividade a longo prazo de um novo medicamento e os seus efeitos secundários e de comercialização. Eles também podem comparar, sob Folhas Informativas as mesmas condições, os novos remédios com outros medicamentos já aprovados. Em virtude da aprovação acelerada dos medicamentos anti-HIV, alguns efeitos secundários mais graves de longo prazo foram descobertos pelo próprio uso médicoclínico da terapia anti-retroviral na população em geral. Preocupado com a continuidade dos estudos de longo prazo, diante da aprovação acelerada, o FDA vem tentando negociar com as indústrias farmacêuticas a realização de pesquisas, após a liberação da comercialização, com o objetivo de conhecer mais sobre a resistência viral e a resistência cruzada com outros anti-retrovirais, e também, para que melhor possam ser definidas as dosagens dessas novas drogas na combinação com os inibidores de protease e/ou inibidores da transcriptase reversa não nucleosídeos. Como sabemos se um medicamento funciona? O ideal é a solicitação, por exemplo, pelo FDA, dos ensaios que avaliaram os resultados clínicos, antes de se aprovar um novo medicamento contra o HIV. Esses ensaios confirmam a efetividade do medicamento e são baseados na estatística, ao contabilizarem quantas pessoas ficam doentes (desenvolvem infecções oportunistas), quantas morrem e quantas permanecem saudáveis. 3 Série A No entanto, esses ensaios levam um longo tempo e são muito caros. Uma forma mais rápida e barata de testar novos medicamentos é utilizar medidas indiretas na avaliação da saúde do paciente. Por exemplo, através de exames de laboratório, como a carga viral ou a contagem das células de defesa T (CD4+ ). Em 1997, o FDA aprovou a utilização desses parâmetros para a aprovação e liberação de novos medicamentos contra o HIV. É possível usar medicamentos sem aprovação? Existem três formas legais de utilizar medicamentos que o FDA ainda não aprovou para tratar um problema de saúde específico: 1- O acesso expandido é um programa para proporcionar medicamentos não aprovados às pessoas que não podem participar de um ensaio clínico, mas que cumprem com as condições impostas pelo fabricante. Esses medicamentos normalmente são oferecidos gratuitamente, e seu médico terá que coletar informações sobre a resposta de seu organismo a eles (medicamentos). Não caracteriza pesquisa clínica. que estão muito doentes e não têm outras opções, pois já não se beneficiam dos tratamentos mais eficazes disponíveis. Esse procedimento é conhecido como uso concedido ou protocolo de tratamento de IND (nova droga em investigação) e tem o caráter de um tratamento emergencial. 3- Caracteriza-se pelo ajuste da dosagem de um medicamento pelo médico. Para mais informação O centro para a avaliação e estudo de medicamentos do FDA possui um site informativo: <http://www.fda.gov/ cder/handbook/ develop.htm>. 2- O fabricante, às vezes, proporciona novos medicamentos às pessoas Projeto original: InfoRed SIDA Nuevo México (www.aidsinfonet.org/infored.html). Adaptação: Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (www.abiaids.org.br) . ABIA Coordenação-Geral: Maria Cristina Pimenta Coordenação das Folhas Informativas: Juan Carlos Raxach Assessoria Técnica: Debora Fontenelle Tradução: Marclei Guimarães. Financiado por EED Evangelischer Entwicklungsdienst e V. Tiragem: 3 mil exemplares/setembro de 2002 Folhas Informativas + InfoRed SIDA Nuevo México as análises de LABORATÓRIO O que é um hemograma completo? O exame de laboratório mais comum é a recontagem sangüínea completa (hemograma completo) que examina os componentes do sangue, incluindo os glóbulos vermelhos, os glóbulos brancos e as plaquetas. Os resultados são informados dividindo-se a amostra de sangue em quantidades (por exemplo, células por mililitro) e/ou também em porcentagem. Todos os glóbulos são produzidos na medula óssea, dentro dos ossos grandes. Alguns medicamentos ou doenças podem danificar a medula, o que pode reduzir a quantidade de vários tipos de glóbulos. Os laboratórios têm diferentes valores normais para os resultados de cada exame, que variam de acordo com a técnica utilizada para a contagem das células. Os resultados dos laboratórios mostram a faixa normal das taxas e indicam qualquer resultado fora do normal. O que é um eritrograma? O eritograma analisa a série vermelha do sangue. Como sabemos, os glóbulos vermelhos levam oxigênio dos pulmões para as células de todo o corpo. Existem três tipos de contagens principais para esses glóbulos. A contagem dos glóbulos vermelhos (hemácias) é o número total das células vermelhas do sangue. Uma contagem alta de glóbulos vermelhos é comum nas pessoas que vivem na altitude. Assim, o corpo se ajusta aos baixos níveis de oxigênio do ambiente. A hemoglobina é uma proteína das células vermelhas do sangue que leva oxigênio dos pulmões para o resto do corpo. O hematócrito mede a porcentagem do volume do sangue que corresponde aos glóbulos vermelhos. Um valor muito baixo na contagem de glóbulos vermelhos, de hemoglobina e do hematócrito pode indicar anemia. Na anemia, as células não conseguem oxigênio suficiente para ser transportado para as células de nosso corpo. As pessoas com anemia se sentem constantemente cansadas e podem ficar pálidas. O volume globular médio mede o volume (o tamanho) dos glóbulos vermelhos. Um volume globular médio baixo indica células menores que o normal. Isso é geralmente causado por deficiência de ferro ou por uma doença crônica (que já se tem há algum tempo). Muitas pessoas com HIV têm um volume globular médio alto (macrocitose) causado pelos medicamentos anti-HIV. Não é algo perigoso. A hemoglobina globular média e a concentração de hemoglobina globular média medem a quantidade e a concentração de hemoglobina na célula. A hemoglobina globular média é calculada dividindo-se a hemoglobina total pelo número total de glóbulos vermelhos. As plaquetas ajudam a formar o coágulo e as cascas das feridas. O número insuficiente de plaquetas pode ocasionar hemorragias (sangramento) internas ou o desenvolvimento mais fácil de contusões ou ferimentos. As pessoas vivendo com HIV/AIDS às vezes têm uma quantidade baixa de plaquetas, também denominada de trombocitopenia. Tomar os medicamentos anti-HIV (anti-retrovirais) normalmente corrige esse problema. O que é um leucograma completo? O lecucograma completo analisa a série branca do sangue. São os glóbulos brancos (também chamados de leucócitos) que ajudam o nosso corpo a lutar contra as infecções. A contagem total de glóbulos brancos é o número total de células brancas do sangue. Uma contagem acima do normal indica que o corpo está lutando contra uma infecção. Uma contagem abaixo do normal pode ser causada por problemas na medula, con- 4 Série A dição chamada de citopenia ou leucopenia e que indica que o corpo está menos capacitado para lutar contra as infecções. O leucograma diferencial identifica cinco tipos de glóbulos brancos: neutrófilos, linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos. Os resultados de cada um desses cinco tipos de leucócitos são obtidos através de suas porcentagens em relação à contagem total de glóbulos brancos. As porcentagens obtidas multiplicadas pelo número total de leucócitos e, após esse resultado, a divisão por 100, origina os números absolutos de cada grupo de glóbulos brancos. Por exemplo, se a porcentagem de linfócitos é 30% e a contagem total de leucócitos é 10.000, o número absoluto de linfócitos é 30% de 10.000, ou seja, 3.000. Os neutrófilos também denominados de células polimorfonucleares lutam contra as infecções bacterianas e constituem normalmente cerca de 55% a 70% da contagem total de leucócitos. Você pode desenvolver uma infecção bacteriana se tiver uma contagem muito baixa desse tipo de célula. A baixa na quantidade dessas células se denomina neutropenia. A infecção por HIV em estágio avançado pode ocasionar neutropenia, assim como alguns medicamentos, incluindo o ganciclovir, usado no tratamento da citomegalovirose, e o AZT, um remédio anti-retroviral. Há dois tipos principais de linfócitos. As células T que atacam e matam os germes e ajudam a controlar o sistema imunológico. As células B que produzem os anticorpos, proteínas especiais que atacam os germes. Os linfócitos geralmente são entre 20% a 40% da contagem total dos glóbulos brancos. O leucograma completo é um exame diferente da contagem de células T. A maioria das pessoas com infecção por HIV faz exame especial para a contagem exata de células T (T8 e T4, também conhecidas como CD8 e CD4). Contudo, são necessários os resultados de um leucograma completo para se calcular a quantidade de células T. Portanto, ambas as contagens são feitas ao mesmo tempo. Folhas Informativas Monócitos também denominados de macrófagos constituem cerca de 2% a 8% do leucograma completo e lutam contra as infecções fagocitando (comendo) os germes e informando ao sistema imunológico quais os tipos de germes encontrados. Os monócitos circulam no sangue e quando se encontram em vários tecidos do nosso corpo são denominados de macrófagos. Uma contagem alta geralmente significa que você está lutando contra uma infecção bacteriana. Os eosinófilos normalmente são entre 4 Série A 1% e 4% do leucograma completo e estão associados ao combate das alergias e às reações aos parasitas. Às vezes, a infecção por HIV pode causar uma alta nos números de eosinófilos. Caso você apresente uma alta na quantidade desses glóbulos, somada à diarréia ou a estômago inchando, seu médico provavelmente o examinará tentando determinar se existe a presença de parasita. alérgicas de longo prazo, como asma ou alergias da pele. Essas células normalmente constituem menos de 1% do leucograma completo. Quanto aos basófilos, ainda não se entende bem a sua função, mas estão associados ao combate de reações Projeto original: InfoRed SIDA Nuevo México (www.aidsinfonet.org/infored.html). Adaptação: Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (www.abiaids.org.br) . ABIA Coordenação-Geral: Maria Cristina Pimenta Coordenação das Folhas Informativas: Juan Carlos Raxach Assessoria Técnica: Debora Fontenelle Tradução: Marclei Guimarães. Financiado por EED Evangelischer Entwicklungsdienst e V. Tiragem: 3 mil exemplares/setembro de 2002 Folhas Informativas + InfoRed SIDA Nuevo México a BIOQUÍMICA do sangue O que é e para que serve a bioquímica do sangue? encontrados na insuficiência renal e na insuficiência da glândula paratireóide. As provas bioquímicas do sangue fornecem informações subsidiárias para a prática clínica. A interpretação clínica de alterações bioquímicas faz parte do acompanhamento de pacientes com HIV/AIDS. A glicose é o açúcar usado pelas células para a produção de energia. Na Folha A6, você encontra informações sobre os exames de dosagem sangüínea da glicose. Esses exames dosam várias substâncias químicas do sangue. O funcionamento adequado do organismo pressupõe um equilíbrio delicado e rigoroso entre várias funções. Os laboratórios possuem diferentes valores de normalidade para os resultados de cada exame. Isso depende do tipo de método de exame que foi utilizado. Nos resultados laboratoriais, constam os valores considerados como normais e a técnica utilizada para a realização do exame. O cálcio é encontrado principalmente nos ossos e dentes. O cálcio também é necessário para o funcionamento dos nervos e músculos e das reações bioquímicas nas células. Fatores de natureza endócrina, renal, digestiva e metabólica são importantes para a regulação do teor de cálcio no organismo. A quantidade das proteínas no sangue (proteínas plasmáticas) afeta a concentração sangüínea do cálcio, que apresenta uma fração ligada às proteínas, especialmente a albumina. A causa mais comum de diminuição na dosagem de cálcio em pessoa HIV+ é a diminuição das proteínas devido à desnutrição ou ao desgaste físico. O fósforo, assim como o cálcio, é um importante componente dos ossos. O seu teor no organismo é influenciado pelo metabolismo ósseo, absorção intestinal, função renal e hormônio da glândula paratireóide. A diminuição do fosfato tem entre as causas a ingestão deficiente e a perda renal excessiva. Níveis baixos de fósforo por um longo prazo podem danificar os ossos, nervos e músculos. Os níveis altos de fosfato são E quanto aos eletrólitos? Os eletrólitos são importantes para o equilíbrio dos líquidos corporais intracelular e extracelulares. Quando alterações provocadas por agressões ao organismo não conseguem ser superadas pelos mecanismos homeostáticos (de equilíbrio interno), surgem modificações no volume dos líquidos corporais os chamados distúrbios hidroeletrolíticos. Os níveis de sódio refletem o equilíbrio de sal e água no organismo. Quando há aumento de sódio (hipernatremia), significa que o teor de sódio no organismo é alto em relação à água corporal. Isso ocorre mais freqüentemente devido à perda excessiva de água. Nos casos de hiponatremia, o sódio total do corpo está baixo em relação à água total do corpo. Entre as causas, encontram-se a dieta pobre em sódio, perdas digestivas (vômitos e diarréia), insuficiência renal e insuficiência de glândulas supra-renais. A concentração de potássio é importante para a atividade muscular e neuromuscular. As alterações dos níveis de potássio prejudicam a capacidade de contração muscular, inclusive a miocárdica (musculatura cardíaca). O aumento do teor do potássio (hiperpotassemia ou hipercalemia) tem entre suas causas a ingestão excessiva, a insuficiência renal e a insuficiência supra-renal. A diminuição da concentração de potássio (hipopotassemia ou hipocalemia) acontece nos casos de ingestão insuficiente, perdas digestivas (vômito ou diarréia) e perdas renais excessivas (por exemplo com uso excessivo de diuréticos). 5 Série A Os nível de cloreto, juntamente com o sódio, tem papel importante no equilíbrio da osmolaridade dos líquidos corporais. Freqüentemente, os níveis de cloreto variam em proporção direta com o teor de sódio. A falta de ingestão de sal e a diarréia intensa estão entre as causas de diminuição do teor de cloreto. O aumento de cloreto acontece, por exemplo, quando ocorre ingestão excessiva de sal na presença de doença renal. O bicarbonato ou HCO3 mede um sistema de controle do pH sangüíneo. Um nível normal de CO2 mantém a acidez do sangue num nível adequado. Quais são as provas da função dos rins? A avaliação básica da função renal é realizada através da dosagem do nitrogênio da uréia do sangue (BUN ou simplesmente uréia) e da creatinina. Os níveis sangüíneos anormais de fósforo, sódio ou ácido úrico também podem ser causados por alteração da função renal. A uréia representa a principal forma de excreção do nitrogênio resultante do metabolismo das proteínas. É um produto residual que normalmente é eliminado através da urina. O aumento da uréia acontece nos casos de doenças renais, dieta rica em proteínas, desidratação, insuficiência cardíaca e obstrução acentuada do trato urinário. A creatinina é um indicador da função dos rins. Níveis sangüíneos de creatinina elevados estão relacionados à alteração da função renal. Quais são as provas da função do fígado? As provas de laboratórios denominadas as provas da função do fígado (hepatograma) medem, entre outros, os níveis de enzimas encontrados no fígado (também existentes no coração e nos músculos) e de bilirrubina. Folhas Informativas Enzimas são proteínas que desencadeiam reações bioquímicas nos organismos vivos. O aumento dessas enzimas podem indicar dano ao fígado causado por alguns medicamentos, álcool, hepatites virais ou o uso de drogas recreativas, como álcool, cocaína etc. Bilirrubina é um pigmento resultante do catabolismo da hemoglobina (pigmento respiratório do sangue encontrado nas hemácias) que surge após a destruição das hemácias. O aumento das bilirrubinas implica a existência de doença do fígado, doença das vias biliares ou aumento da produção de bilirrubina. As provas de função hepática incluem: · ALT (aminotransferase de alanina), anteriormente denominada de transaminase glutâmico-pirúvica ou TGP; · AST (aminotransferase de aspartato), anteriormente chamada transaminase glutâmico-oxaloacética ou TGO; · Bilirrubinas direta e indireta; Obs.: O medicamento indinavir (Crixivan) pode aumentar os níveis de bilirrubina; · Fosfatase alcalina; 5 Série A · Gama GT (ou GGTP - Gamagluatamil-transpeptida Existem outras provas de laboratório? O ácido úrico é o produto final do metabolismo das purinas (nucleoproteínas). Sua excreção acontece principalmente pelos rins. O aumento da concentração de ácido úrico (hiperuricemia) acontece quando existe aumento no metabolismo das purinas (leucemias) ou quando há diminuição da excreção renal do ácido úrico (insuficiência renal). A albumina é uma proteína plasmática (junto com a globulina), importante na preservação e distribuição da água corporal em seus compartimentos. Também leva os nutrientes às células e retira os produtos residuais. Sua produção acontece no fígado. As alterações das concentrações das proteínas plasmáticas assumem importância nos distúrbios de nutrição, doenças hepáticas, doenças renais e infecções crônicas. A diminuição da albumina geralmente é um sinal de problemas com a nutrição. resultados baixos incorretos para outras provas, sobretudo o cálcio ou a testosterona. A globulina mede a proteína nos anticorpos produzidos pelo sistema imunológico. A infecção por HIV causa um nível anormalmente alto de globulina. A velocidade de hemossedimentação (VHS) mede a velocidade com que os glóbulos vermelhos descem (sedimentam) num tubo de sangue. É um indicador da presença de severa reação inflamatória local ou sistêmica. Um valor alto indica algum tipo de inflamação. No entanto, o valor não identifica se a inflamação é crônica (de longo prazo), como a artrite, ou se é aguda (aparece de repente e com forte intensidade). Uma vez que a albumina transporta várias substâncias no sangue, uma diminuição da albumina pode causar Projeto original: InfoRed SIDA Nuevo México (www.aidsinfonet.org/infored.html). Adaptação: Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (www.abiaids.org.br) . ABIA Coordenação-Geral: Maria Cristina Pimenta Coordenação das Folhas Informativas: Juan Carlos Raxach Assessoria Técnica: Debora Fontenelle Tradução: Marclei Guimarães. Financiado por EED Evangelischer Entwicklungsdienst e V. Tiragem: 3 mil exemplares/setembro de 2002 Folhas Informativas + InfoRed SIDA Nuevo México o açúcar sangüíneo e as gorduras do sangue O que é o açúcar sangüíneo? A glicose é um açúcar. É utilizada pelas células na produção de energia. O açúcar sangüíneo aumenta após a ingestão de comida ou bebida (exceto água). Uma taxa alta de glicose (hiperglicemia) pode ser um indicativo de diabetes. Taxas altas de açúcar no sangue por longo tempo podem danificar o funcionamento dos olhos, nervos, rins e coração. Taxas de glicose elevadas podem ser um efeito secundário (colateral) de um inibidor de protease, que é um tipo de medicamento anti-HIV. Taxas baixas de açúcar (hipoglicemia) podem acarretar sudorese, tremores, perda da consciência e fadiga. A insulina, hormônio produzido pelo pâncreas, é responsável pelo controle das taxas de glicose no sangue. A insulina transporta a glicose do sangue até as células para que essas produzam energia. Taxas altas de açúcar no sangue podem significar que o pâncreas não está produzindo insulina suficiente. No entanto, algumas pessoas produzem quantidade suficiente de insulina, mas o corpo não responde normalmente. Esse fenômeno se denomina resistência à insulina. Em ambos os casos, as células não obtêm glicose suficiente para a produção de energia e, então, a glicose se acumula no sangue (hiperglicemia). Algumas pessoas que tomam os inibidores de protease desenvolvem resistência à insulina e podem ter taxas altas de glicose no sangue. Essa condição, às vezes, é tratada com os mesmos medicamentos utilizados para diabetes. Há três formas de quantificar as taxas de glicose no sangue: 1) O exame de glicemia de jejum é a coleta de uma amostra de sangue após, pelo menos, oito horas de jejum, ou seja, sem ingestão de nenhuma refeição e bebida (exceto água). 2) O exame glicemia pós-prandial consiste em dosar a glicose numa amostra de sangue colhida após uma refeição que contenha pelo menos 50 gramas de carboidratos. 3) A curva glicêmica ou teste de tolerância à glicose oral (TTGO) consiste em colher amostra de sangue em jejum e depois administrar glicose por via oral. Repete-se a coleta de sangue uma, duas e três horas depois. As taxas de glicose demasiadamente altas sugerem um quadro de diabetes. O tratamento para diabetes envolve redução de peso, dieta, exercícios físicos e, também, medicamentos orais ou injeções de insulina. O que são as gorduras do sangue? (O exame de lipidograma) As gorduras (lipídeos) são fontes de energia e transportam algumas vitaminas através do nosso corpo. São utilizadas para a produção de hormônios e de membranas das células. Protegem os órgãos e lubrificam algumas partes móveis de nosso corpo. Os lipídeos são representados principalmente pelo colesterol, triglicerídeos e fosfolipídeos. Altas taxas de lipídeos (hiperlipidemia) no sangue aumentam o risco de pancreatite e de doenças cardiovasculares. As lipoproteínas são responsáveis pelo transporte dos lipídeos nos meios orgânicos. As lipoproteínas são de vários tamanhos. As lipoproteínas menores são conhecidas como lipoproteínas de baixa densidade (LDL, sigla em inglês) ou como lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL, sigla em inglês). Taxas altas de LDL ou VLDL podem causar acúmulo de gorduras nas paredes das artérias, o que pode reduzir o fornecimento de oxigênio 6 Série A para o músculo do coração e causar doenças do coração ou um ataque cardíaco. As lipoproteínas maiores são conhecidas como lipoproteínas de alta densidade (HDL). São reconhecidas como boas lipoproteínas porque retiram as gorduras das artérias e as devolvem ao fígado para que sejam metabolizadas novamente. Taxas altas de HDL parecem oferecer proteção contra as doenças cardiovasculares. Como medir os triglicerídeos? Os níveis de triglicerídeos no sangue aumentam rapidamente após a ingestão de comidas. Por isso, você não pode comer, pelo menos, nas oito horas que antecedem a coleta de uma amostra de sangue. Ou seja, você precisa de um jejum de pelo menos oito horas. Muitas pessoas com HIV têm níveis extraordinariamente altos de triglicerídeos. Isso é especialmente verdade para quem toma os inibidores de protease. Níveis de triglicerídeos maiores que 1.000 mg/dl podem causar pancreatite. Como medir o colesterol? O colesterol total inclui tanto o mau colesterol de densidade baixa como as boas lipoproteínas de densidade alta. O colesterol total não aumenta tão rapidamente após a ingestão de alimentos. Portanto, você pode fazer um exame de sangue para quantificálo sem necessitar de jejum. O HDL é o bom colesterol. Pode ser quantificado coletando-se uma amostra de sangue e não necessita de jejum. Níveis elevados de colesterol HDL são benéficos (níveis de colesterol HDL acima de 35 mg/dl conferem proteção contra doenças cardiovasculares). O LDL é o mau colesterol. As taxas de LDL são calculadas através de uma fórmula que inclui os níveis de triglicerídeos. É necessário jejum para fazer um exame de quantificação das taxas de triglicerídeos ou Folhas Informativas de colesterol LDL no sangue. Taxas abaixo de 130 são consideradas boas e acima de 160 são consideradas um risco alto para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Os médicos (infectologistas e clínicos, 6 Série A por exemplo) que atendem a pacientes com HIV/AIDS muitas vezes também diagnosticam seus pacientes com níveis elevados de colesterol e triglicerídeos. Esse acompanhamento é muito importante para pessoas com histórico familiar de doença cardio- vascular. Caso você tenha níveis altos de colesterol e/ou triglicerídeos, converse e discuta com seu médico as opções de tratamento. Projeto original: InfoRed SIDA Nuevo México (www.aidsinfonet.org/infored.html). Adaptação: Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (www.abiaids.org.br) . ABIA Coordenação-Geral: Maria Cristina Pimenta Coordenação das Folhas Informativas: Juan Carlos Raxach Assessoria técnica: Debora Fontenelle Tradução: Marclei Guimarães. Financiado por EED Evangelischer Entwicklungsdienst e V. Tiragem: 3 mil exemplares/setembro de 2002 Folhas Informativas Como você contrai e transmite o HIV? + InfoRed SIDA Nuevo México como ajudar a deter a expansão do HIV O vírus da imunodeficiência humana (HIV) não se transmite pelo relacionamento social na escola e no trabalho. O HIV não se transmite pela picada de pernilongo; por tosse ou espirro; por aperto de mão, abraço, beijo; por compartilhamento de artigos como toalhas, roupas; por se nadar na mesma piscina com alguém infectado; por beber no mesmo copo, comer no mesmo prato ou com o mesmo talher que um HIV+ tenha usado; por sentar no mesmo sanitário ou banco que uma pessoa soropositiva tenha utilizado; ou por você morder o mesmo alimento que uma pessoa HIV positiva tenha mordido. O HIV é transmitido pela entrada em nosso corpo de sangue ou de fluidos sexuais tanto do homem quanto da mulher soropositiva (sêmen ou présêmen e secreções vaginais ou sangue menstrual com HIV, por exemplo). Para alguém ficar infectado, o vírus deve atravessar as defesas do corpo, incluindo a pele e a saliva. Se a pele não apresenta cortes ou feridas, significa que ela o protege contra infecções por sangue ou fluidos sexuais. A saliva contém substâncias químicas que podem ajudar a matar o HIV na boca, mas se estiver com feridas, cortes ou com doenças e entrar em contato com sangue ou fluido sexual com HIV, você pode se infectar. Ferimentos durante o ato sexual e ao compartilhar seringas ou agulhas para injetar drogas também podem ser uma porta de entrada para a infecção por HIV. O HIV também pode ser transmitido de mãe para filho durante a gravidez e o parto. Essa via de infecção é conhecida como transmissão vertical. O bebê também pode ser infectado por mamar no peito de sua mãe infectada ou de qualquer outra mulher HIV positiva. Portanto, segundo o consenso pediátrico de 2001, da Coordenação Nacional de DST/AIDS, o bebê nascido de mãe HIV+ não deve ser amamentado, de modo algum, nem mesmo por outra mulher, com o objetivo de se zerar a possibilidade de transmissão por essa via. A administração de fórmulas ou de leite pasteurizado de bancos de leite (para prematuros ou bebês abaixo do peso) é uma das alternativas. Como posso me proteger e proteger os outros? A menos que esteja completamente seguro que você e seu companheiro ou companheira não têm HIV, você deve seguir as recomendações para prevenir a infecção por HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Ato sexual: A melhor maneira de você evitar a infecção por HIV durante o ato sexual é usando os preservativos para homens ou para mulheres (verificando a data de vencimento e se tem o certificado de qualidade do INMETRO), que, utilizados corretamente, previnem não só a transmissão do HIV, mas também de outras DSTs. Alguns homens pensam que podem não transmitir o HIV se retirarem o pênis antes de alcançar o gozo (orgasmo), prática sexual denominada coito interrompido, quando o pênis é retirado antes da ejaculação. Isso não funciona porque o HIV pode estar no fluido que sai do pênis antes do gozo que é denominado de pré-sêmen e funciona como lubrificante natural. O sexo oral é menos arriscado que o sexo vaginal ou anal, mas existe ainda algum risco de infecção pelo HIV através de sua prática. Para evitar o risco de infecção por HIV ou por outras DSTs, você pode praticar sexo seguro e protegido, como beijo, abraço, massagem erótica, masturbação em si próprio ou no parceiro ou parceira e uso do preservativo para penetração oral, anal e vaginal. Compartilhamento de seringas: O HIV também pode ser transmitido 7 Série A quando as pessoas compartilham seringas ou agulhas para injeção de drogas porque o sangue fica na agulha, especialmente quando o sangue de uma pessoa infectada fica na agulha. Para evitar a infecção, não compartilhe agulhas, seringas ou outro material perfurante ou cortante. Se você precisa compartilhar seu kit, esterilize o material (seringa e agulha) para reduzir o risco da infecção, com hipoclorito de sódio a 5,25% ou água sanitária. Existem alguns locais no Brasil que implementaram programas de troca de agulhas, doando seringas limpas (novas), sem custo, com o objetivo de que não haja compartilhamento de materiais. Esses programas são conhecidos como programas de redução de danos. O Núcleo de Estudos e Atenção ao Uso de Drogas, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Nepad/Uerj) é uma unidade de referência desse tipo de programa (telefone: (21) 2589-3269 ramal: 33 ou 34). Porto Alegre, Corumbá, Santos e Salvador também possuem programas que são referências. Para mais informações, consulte o site da Associação Brasileira de Redutores de Danos (Aborda):<www.aborda.org.br>. O telefone da Associação Carioca de Redutores de Danos é (21) 2552-2761. O endereço e correio eletrônicos da Rede Brasileira de Redutores de Danos são: <www.reduc.org> e [email protected]. E o endereço e correio eletrônicos da Rede LatinoAmericana de Redutores de Danos são: <www.relard.net> e flama51@ terra.com.br. Transmissão vertical: Sem tratamento, aproximadamente 25% dos bebês de mulheres HIV positivas nascem infectados. O risco diminui, até aproximadamente 2%, se a mulher tomar AZT durante a gravidez, submeter-se na hora do parto a uma cesariana e se o recém-nascido também tomar AZT. Segundo normas do consenso pediátrico de 2001, na avaliação, após oito meses de gestação, se a carga viral da mulher for maior ou igual a 1.000 cópias ou desconhecida, o procedimento deve ser a cesariana eletiva, que é aquela Folhas Informativas realizada antes do início do trabalho de parto, quando as membranas amnióticas ainda estão íntegras. Caso a mulher, nessa avaliação, tenha carga viral indetectável ou menor que mil cópias o parto pode ser vaginal. Aproximadamente 14% dos bebês que mamam no seio de uma mulher HIV positiva são infectados. Recomendase o uso de mamadeira com leite industrializado. O melhor procedimento é não amamentar nem procurar outra mulher para tal, com o objetivo de zerar a possibilidade de transmissão vertical. Contatos com sangue: O HIV é somente uma das muitas doenças que podem ser transmitidas por meio do sangue. Caso você precise ajudar alguém que tenha sofrido um acidente na rua, no local de trabalho ou em outro lugar, e essa pessoa esteja sangrando, proteja qualquer corte ou ferida que você tenha e lembre-se de que sua pele saudável já funciona como uma barreira natural de proteção. O profissional de saúde, além de adotar as medidas anteriores, deve usar equipamento de proteção para olhos (óculos) e boca (máscara). A empresa de saúde tem o dever de oferecer ao trabalhador da rede de saúde luvas, máscaras para o rosto, assim como outros materiais de proteção (óculos, por exemplo) para o trabalho cotidiano e para treinamentos preventivos contra doenças que se transmitem por meio do sangue. E se eu me expuser? Se você acha que se expôs ao HIV, fale com o seu médico e peça orientação. Mas para realizar o teste anti-HIV, tanto no laboratório particular quanto na rede pública (CTA, por exemplo), você não precisa necessariamente de um pedido do médico, basta a sua própria solicitação. 7 Série A Se você tem certeza que foi exposto ao HIV em situação de trabalho na área da saúde, por ter sido vítima de violência sexual ou estupro, ou por ter entrado em contato com pessoa sabidamente HIV+ e que não tenha adotado as medidas preventivas ou forçado um ato, intencionalmente, com o intuito de provocar uma infecção, ou mesmo com o objetivo de praticar o sexo sem camisinha, consulte rapidamente um médico experiente e pergunte sobre o procedimento a ser realizado. Se você acha que pode ter sofrido uma possível exposição quando esteve ajudando alguém acidentado e sangrando na rua ou em outro local, tal situação também pode ser avaliada pelo seu médico em conjunto com você. Em todas essas situações, as medidas podem ir desde esperar três meses para fazer o teste anti-HIV até a administração da profilaxia pós-exposição ou PEP (sigla em inglês), que deve ser iniciada entre uma e 72 horas após o contato. Caso seu médico e você decidam pela PEP, você será orientado a tomar medicamentos anti-retrovirais durante quatro semanas, conforme a gravidade da situação. Os medicamentos têm alguns efeitos secundários sérios que podem ocorrer ou não com você. Lembrese: não existe nenhuma solução mágica para evitar a infecção. Portanto, você deve continuar a tomar os remédios, mesmo na presença de alguns efeitos colaterais ou adversos, menos sérios e suportáveis. Caso ocorram efeitos mais graves, comunique-se imediatamente com o seu médico. Resumindo Você não contrai o HIV pelo relacionamento social na escola, no trabalho, no clube ou em outros locais. Para você se infectar com o HIV, o sangue, os fluidos sexuais de homens ou mulheres ou o leite da mulher (com HIV) precisam entrar em seu corpo. Lembre-se de que mulheres grávidas infectadas por HIV podem passar o vírus a seus filhos na gestação, no parto e na amamentação. Para evitar a transmissão do HIV: Use sempre preservativo durante cada ato sexual; Não compartilhe agulha ou seringa para injetar drogas nem canudo para cocaína; Toda mulher grávida deve fazer o pré-natal e o teste anti-HIV, entre outros exames. Se estiver infectada pelo HIV, o médico deve orientar o que fazer para diminuir o risco de transmitir o vírus para o bebê; Se for uma mulher infectada, não permita que nenhum bebê mame em seu peito nem leve seu filho para ser amamentado por outra mulher; Proteja todos os cortes, as feridas abertas, os olhos e a boca do contato com o sangue. Em situação de trabalho, os profissionais de saúde devem se proteger também em relação a outras secreções. Projeto original: InfoRed SIDA Nuevo México (www.aidsinfonet.org/infored.html). Adaptação: Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (www.abiaids.org.br) . ABIA Coordenação-Geral: Maria Cristina Pimenta Coordenação das Folhas Informativas: Juan Carlos Raxach Assessoria técnica: Debora Fontenelle Tradução: Marclei Guimarães. Financiado por EED Evangelischer Entwicklungsdienst e V. Tiragem: 3 mil exemplares/setembro de 2002 Folhas Informativas + 8 InfoRed SIDA Nuevo México Série A Orientações para sexo seguro e protegido Como você contrai ou transmite o HIV durante o sexo? Você não pode transmitir o HIV se não tem a infecção por tal vírus. Caso seu companheiro ou companheira não seja infectado com o HIV, mas você sim, mesmo assim, não há risco algum de infecção por HIV para ele ou ela, desde que não exista nenhum contato deles com o seu sangue ou com os seus fluidos sexuais, seja por práticas sexuais seguras ou protegidas (uso do preservativo masculino ou feminino), seja por práticas sem penetração, pois a pele, caso esteja sã, é uma barreira natural que impede a entrada do sangue e de outras secreções no seu corpo. Lembre-se: não entrando em contato com fluido sexual de homem ou de mulher ou com sangue, de modo a não deixá-los entrar em seu corpo, você não tem possibilidade de estar infectado por HIV pela via sexual. Praticar sexo seguro e protegido é uma forma de reduzir o risco de você contrair o HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) durante o ato sexual. Mas o quanto é arriscado? Existem práticas que vão desde as mais até as menos seguras. No quadro abaixo, mostramos o modelo hierárquico em ordem crescente de risco. 1 MAIOR RISCO MENOR RISCO Abstinência sexual Sexo não-penetrativo (masturbação, carícias etc.) Sexo com camisinha Sexo oral sem camisinha: boca/pênis insertivo Sexo oral sem barreira: boca/ânus receptivo Sexo penetrativo sem camisinha vaginal insertivo receptivo anal insertivo receptivo MENOR RISCO Para ocorrer transmissão do HIV durante o sexo, é necessário que uma das pessoas seja soropositiva, tendo o vírus no sangue e nos fluidos sexuais. Os fluidos sexuais vêm do pênis (pré-sêmen ou sêmen) e da vagina (sangue menstrual, líquido lubrificante), seja antes, durante ou depois do orgasmo. Você pode contrair o HIV quando os fluidos sexuais do homem ou da mulher (ou o sangue) infectado entram no seu corpo por prática sexual com penetração e sem o uso do preservativo masculino ou feminino. Modelo hierárquico de prevenção de DSTs/AIDS para diferentes tipos de práticas sexuais1 MAIOR RISCO Fantasias, masturbação, conversas eróticas e massagem sexual são consideradas práticas seguras. Essas atividades evitam o contato com o sangue ou com os fluidos sexuais de homens ou de mulheres HIV+, inexistindo risco de infecção pelo HIV. Não podemos saber se alguém está infectado somente observando a sua aparência. Além disso, as pessoas podem esconder e até mesmo não saberem de sua condição sorológica. E lembre-se: basta uma única relação sexual com penetração sem o uso do preservativo (sexo desprotegido ou inseguro) para se correr o risco de infecção pelo HIV. Algumas pessoas que já obtiveram o resultado negativo no teste anti-HIV acham que são imunes ao vírus e continuam praticando sexo desprotegido e inseguro (sexo oral, anal e vaginal sem uso do preservativo). Tal postura é um engano. O correto é, após o resultado negativo, continuar se protegendo ou passar a adotar tal comportamento de proteção usando preservativo em todas as relações sexuais com penetração, se antes não o fazia. Além disso, as pessoas com resultado negativo podem ter se infectado depois de terem feito o teste ou podem ter feito o teste bem no início da exposição e infecção pelo HIV, podendo estar em período de janela imunológica. Esse período, que gira em torno de três meses, é o tempo que seu corpo demora em produzir anticorpos contra o HIV em quantidade suficiente para ser detectada pelo teste anti-HIV. Portanto, se você se expôs ou sofreu um comportamento de risco (sexo desprotegido, por exemplo), há menos de três meses de um teste anti-HIV, significa que o resultado de tal teste não é conclusivo nem totalmente confiável. Você deve fazer um novo teste, pelo menos depois de três meses passados de uma exposição arriscada. Se você pratica sexo inseguro e/ou desprotegido, é um erro achar que após o resultado negativo de um teste anti-HIV você é imune ao vírus. O teste negativo não garante imunidade à infecção pelo HIV. Para sua proteção, pratique sexo seguro e lembre-se de que ao se proteger você está protegendo os demais. Praticar sexo inseguro ou desprotegido, o que significa penetração com ou sem ejaculação e sem o uso do preservativo, acarreta um risco muito alto de você contrair ou transmitir o HIV. O risco mais alto é quando o sangue ou os fluidos sexuais de homens ou mulheres HIV+ tocam as áreas suaves e úmidas (membranas ou mucosas) dentro do reto, da vagina, da boca ou na cabeça do pênis. Essas partes sofrem facilmente Fonte: Guia de prevenção das DST/AIDS e cidadania para homossexuais. Coordenação Nacional de DST e AIDS/Ministério da Saúde. Série Manuais (no prelo). Folhas Informativas ferimentos ou traumatismos durante o ato sexual, o que aumenta a possibilidade da entrada do HIV no corpo. O contato sexual vaginal ou anal sem a proteção adequada é muito arriscado. Quando o pênis penetra a vagina, o ânus ou a boca, pode causar pequenas irritações ou ferimentos que aumentam o risco de infecção por HIV. O parceiro receptivo tem, provavelmente, o risco mais alto de ser infectado, ainda que o HIV também possa entrar pelo pênis, principalmente se existem quaisquer feridas ou se teve contato durante muito tempo com o sangue ou com os fluidos vaginais infectados por HIV. Quais são as práticas mais seguras e/ou protegidas? Seja consciente com o seu corpo e com o seu companheiro ou companheira. Os cortes, as feridas ou os sangramentos nas gengivas aumentam o risco de infecção pelo HIV. O ato sexual com movimentos fortes (sexo violento) também oferece risco, pois pode produzir pequenas lesões e ferimentos que são portas de entrada para o HIV penetrar em seu corpo. Use barreiras para evitar o contato com sangue ou fluidos sexuais. Lembre-se de que a barreira natural do corpo é a pele. Se ela não apresentar cortes ou feridas, significa que está mantendo sua função natural de barreira e proteção, além de estar protegendo-o contra infecções via sangue ou outras secreções. O risco de você contrair o HIV é muito maior se existem feridas nas membranas ou mucosas, antes ou durante o ato sexual. A barreira artificial mais comumente utilizada é o preservativo masculino ou feminino. O preservativo feminino pode ser usado tanto para a proteção da vagina quanto do reto durante o ato sexual. No caso de penetração anal, recomenda-se retirar previamente o anel interno. 8 Série A Os lubrificantes podem aumentar o estímulo sexual. Eles também reduzem a possibilidade de rompimento dos preservativos e de outras barreiras porque diminuem o atrito. Os lubrificantes à base de óleo, como a vaselina, os óleos e os cremes danificam e rompem os preservativos ou outras barreiras de látex. Portanto, você não deve usar esses tipos de lubrificação. Assegure-se de estar usando lubrificantes à base de água, tais como KY, Preserv gel ou glicerina. O sexo oral oferece algum risco de você contrair ou transmitir o HIV, principalmente se a boca não saudável com gengiva sangrando e/ ou com feridas entrar em contato com fluidos sexuais ou sangue infectados. Pedaços de látex ou de plástico (PVC que é um tipo usado para embalagens de alimentos) utilizados para colocar em cima da vagina ou o preservativo no pênis podem ser usados como barreiras durante o sexo oral. Os preservativos sem lubrificantes e com sabores (odores) são melhores para o sexo oral, pois a maioria dos lubrificantes tem um sabor desagradável. E se ambas as pessoas já estão infectadas? Algumas pessoas infectadas por HIV não vêem a necessidade de seguirem as orientações para o sexo seguro ou protegido com outras pessoas também infectadas. No entanto, ainda é necessário proteger você mesmo e o outro. Pois sem proteção (sem uso das barreiras), você pode se expor a outras infecções, como, por exemplo, herpes, sífilis, hepatite etc. Quando você já tem o HIV, essas doenças podem ser mais complicadas de tratar, além de poderem complicar o seu estado de saúde futuro. Também pode ser possível a reinfecção com uma cepa diferente de HIV, ou ainda, com HIV já resistente a alguns medicamentos antiretrovirais. Coloque seus limites Decida quanto risco deseja correr. Conheça qual proteção quer usar durante os diferentes tipos de atividade sexual. Antes de ter relações sexuais: pense no sexo mais seguro e protegido (e pratique-o); coloque seus limites; consiga lubrificante à base de água, preservativo ou outras barreiras e tenha certeza que eles estarão à mão quando necessitar; fale com seu companheiro ou companheira para que busque e conheça seus próprios limites. Mantenha seus limites. Não permita que o álcool, as drogas e os companheiros ou companheiras atraentes façam esquecer que você deve proteger a si e aos outros. Resumindo Você pode se infectar com o HIV durante o ato sexual desprotegido. O sexo é protegido (e também seguro) se o sangue ou o fluido sexual com HIV não entra em seu corpo de modo algum por conta do uso do preservativo masculino ou feminino em qualquer forma de penetração: oral, anal e vaginal. Projeto original: InfoRed SIDA Nuevo México (www.aidsinfonet.org/infored.html). Adaptação: Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (www.abiaids.org.br) . ABIA Coordenação-Geral: Maria Cristina Pimenta Coordenação das Folhas Informativas: Juan Carlos Raxach Assessoria técnica: Debora Fontenelle Tradução: Marclei Guimarães. Financiado por EED Evangelischer Entwicklungsdienst e V. Tiragem: 3 mil exemplares/setembro de 2002 Folhas Informativas + InfoRed SIDA Nuevo México o uso das drogas e o HIV Como se relacionam o uso de drogas e o HIV? O uso de drogas é um fator de grande risco na transmissão do HIV. O material (agulha ou seringa) compartilhado para injetar as drogas pode conter HIV e também transmitir outras infecções, como, por exemplo, as hepatites B e C. Além disso, você, ao usar drogas, pode praticar sexo inseguro e/ou desprotegido. É importante destacar que drogas como cocaína, LSD, ecstasy e heroína podem ser perigosas para as pessoas que estão tomando os antiretrovirais (medicamentos anti-HIV), devido às interações dessas drogas com os medicamentos. Como a injeção de drogas pode causar a infecção? O sangue infectado que foi aspirado pela seringa de um primeiro usuário pode ficar na agulha e na própria seringa. Assim, a próxima pessoa a se picar com a mesma seringa ou agulha estará injetando junto com a droga o sangue contaminado com HIV do usuário anterior. Essa é uma das maneiras mais fáceis de você contrair o HIV porque o sangue infectado entra diretamente na corrente sangüínea. Um estudo recente mostrou que o HIV pode sobreviver numa seringa usada, durante, pelo menos, quatro semanas. Se tiver que usar o material mais de uma vez, você pode reduzir o risco de infecção limpando a agulha e a seringa entre um uso e outro. Nessa situação, o mais recomendado é reutilizar sua própria seringa e não a compartilhar com ninguém. Porém, mesmo não havendo compartilhamento, a seringa reutilizada também deve ser limpa porque as bactérias podem crescer dentro dela. O método mais eficaz de limpar uma seringa é utilizar, primeiramente, água, depois cloro e, novamente, uma enxaguada final. Tente tirar todo o sangue da seringa agitando-a vigorosamente durante 30 segundos. Use água fria porque a água quente pode fazer o sangue coagular-se. Para matar a maioria do HIV e dos vírus da hepatite C, deixe o cloro na seringa durante dois minutos. Mas isso nem sempre mata todos os HIV ou todos os vírus da hepatite. Sempre que possível troque sua seringa usada por uma nova. Para reduzir o risco de infecção por HIV ou pelo vírus da hepatite, nunca compartilhe material (agulha ou seringa) usado para injetar drogas, lave freqüentemente as mãos e limpe com cuidado o material e a parte do corpo que você usa para a injeção. Como funcionam os programas de troca de seringas? No Brasil, já existem alguns programas que trocam seringas usadas por seringas novas que são distribuídas gratuitamente às pessoas, com objetivo de que não haja compartilhamento do material. Esses programas são denominados de redução de danos. O Núcleo de Estudos e Atenção ao Uso de Drogas, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Nepad/Uerj) é uma unidade de referência (telefone: (21) 25893269 ramal: 33 ou 34). Porto Alegre, Corumbá, Santos e Salvador também possuem programas de referência. Para mais informações consulte o site da Associação Brasileira de Redutores de Danos (Aborda): <www. aborda.org.br>. O telefone da Associação Carioca de Redutores de Danos é (21) 2552-2761. O endereço e correio eletrônicos da Rede Brasileira de Redutores de Danos são <www.reduc.org> e [email protected]. E o endereço e correio eletrônicos da Rede Latino-Americana de Redutores de Danos são <www.relard.net> e [email protected]. 9 Série A Qual a relação do uso de drogas e a prática de sexo desprotegido? Para muitas pessoas, drogas e sexo andam juntos. Alguns usuários trocam sexo por drogas. Outras pessoas pensam que o ato sexual é mais agradável quando usam drogas. O uso de drogas, inclusive álcool e maconha, aumenta a probabilidade de você não se proteger durante o ato sexual. Por isso, cuidado ao consumir álcool ou maconha, por exemplo, pois tal consumo pode se associar com comportamento sexual de risco (sexo com penetração sem preservativo). Além disso, pode ser difícil colocar limites na atividade sexual de alguém que troca sexo por drogas. Com o uso de drogas, é mais provável que você esqueça de se proteger e de proteger a outra pessoa. Qual a relação dos medicamentos e as drogas? O fígado metaboliza alguns medicamentos contra o HIV, principalmente os inibidores de protease e também algumas drogas “recreativas”, inclusive o álcool. Quando drogas e medicamentos são consumidos simultaneamente, pode ocorrer uma lentidão no metabolismo de ambos. Tal processo pode levar a uma concentração inadequada e, em alguns casos, grave, do medicamento e/ou da droga “recreativa” em nosso corpo, podendo ocasionar uma overdose que, em muitos casos, é fatal. Uma concentração inadequada de medicamento anti-retroviral pode causar efeitos sérios, desde resistência viral até transtornos metabólicos graves. Está documentado um caso de morte de pessoa HIV positiva que misturou um inibidor de protease (ritonavir) com a droga “recreativa” denominada ecstasy. Folhas Informativas 9 Série A Resumindo O uso de drogas é uma das maiores causas de novas infecções por HIV. O material compartilhado (agulha, seringa ou canudo para cocaína) pode transmitir o vírus da imunodeficiência humana e das hepatites B e C. Ao usar qualquer droga “recreativa”, inclusive álcool ou maconha, você pode se esquecer de praticar o sexo seguro e/ou protegido. Para se proteger da infecção e proteger os outros, o ideal é nunca utilizar material (agulha e seringa ou canudo) já usado. Ainda que reutilize suas próprias seringas, limpe-as bem, cada vez que forem utilizadas. Limpar o material (agulha e seringa ou canudo) é apenas, parcialmente, eficaz. Os programas de troca de seringas disponibilizam gratuitamente novas seringas. Esses programas reduzem a proporção de novas infecções por HIV. Existem vacinas contra a hepatite A e B que você pode tomar como forma de prevenção. Misturar drogas “recreativas” e medicamentos anti-HIV (anti-retrovirais) pode ser perigoso. Interações entre essas drogas e esses medicamentos podem causar efeitos sérios e uma dose inadequada e perigosa, tanto da medicação quanto da droga, respectivamente, uma superdosagem ou uma overdose. Projeto original: InfoRed SIDA Nuevo México (www.aidsinfonet.org/infored.html). Adaptação: Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (www.abiaids.org.br) . ABIA – Coordenação-Geral: Maria Cristina Pimenta Coordenação das Folhas Informativas: Juan Carlos Raxach Assessoria técnica: Debora Fontenelle Tradução: Marclei Guimarães. Financiado por EED Evangelischer Entwicklungsdienst e V. Tiragem: 3 mil exemplares/setembro de 2002 10 profilaxia pós-exposição (PEP) Folhas Informativas O que é o tratamento pós- exposição? Profilaxia significa prevenção de doenças. O tratamento ou a profilaxia pós-exposição (ou PEP, sigla em inglês) quer dizer a administração de medicamentos anti-retrovirais o mais rápido possível depois da exposição ao HIV (até 72 horas, no máximo), para que tal exposição não resulte em infecção pelo HIV. Esses medicamentos somente estão disponíveis por receita médica. Quem deve usar a PEP? A exposição no local de trabalho: A PEP tem sido procedimento de rotina desde 1996 para os profissionais de saúde expostos ao HIV durante o trabalho. A indicação para a PEP deve ser avaliada com cuidado, considerando-se, principalmente, o risco do paciente-fonte estar, ou não, infectado pelo HIV. Tais profissionais começam com os anti-retrovirais após algumas horas da exposição (até 72 horas, no máximo). Normalmente, a exposição é por picada de agulha, quando alguém se fere acidentalmente com agulha que contém sangue infectado por HIV. A PEP, segundo pesquisas, reduz a proporção de infecção por HIV em exposições no local de trabalho em até 79%. No entanto, alguns trabalhadores da saúde que se submeteram ao procedimento PEP desenvolveram a infecção por HIV. Outros tipos de exposição: nos últimos anos, ativistas comunitários e pesquisadores começaram a questionar por que o procedimento PEP não pode ser usado depois de exposições ao HIV não relacionadas a acidentes de trabalho. Questionam por que a PEP não pode ser estendida a pessoas que se expõem durante o ato sexual por atividade insegura e desprotegida ou por rompimento não intencional do preservativo. Perguntam ainda por que a PEP não é prescrita a pessoas que compartilham agulhas para injetar drogas e para + InfoRed SIDA Nuevo México bebês que mamam no seio de uma mulher infectada. A PEP deve ser usada para a exposição não profissional? A exposição ao HIV no trabalho normalmente é um acidente único. Outras exposições ao HIV devem-se a condutas inseguras (desprotegidas) que podem ocorrer muitas vezes. Alguns entendem que a PEP pode induzir a comportamentos sexuais inseguros, pois as pessoas pensariam que tal procedimento é uma maneira fácil de evitar a infecção por HIV. Há outras razões para que a PEP não seja um bom procedimento após exposição não relacionada a acidente de trabalho: Não existe nenhum estudo mostrando que a PEP funciona para exposição não relacionada a acidente de trabalho de profissionais de saúde. Não sabemos ao certo quanto tempo depois da exposição ao HIV e da possibilidade de infecção a pessoa deve começar a PEP; A PEP não é uma solução mágica. É um programa que inclui a administração de medicamentos anti-retrovirais, duas ou três vezes ao dia, durante, ao menos, 30 dias; Para melhores resultados, as doses dos medicamentos da PEP devem ser tomadas, estritamente, conforme prescrição médica, ou seja, na quantidade e nos horários certos. As doses que não forem tomadas podem resultar no desenvolvimento de infecção por HIV. Também podem permitir ao vírus desenvolver resistência aos medicamentos. Se isso acontecer, os medicamentos antiretrovirais tomados deixam de funcionar; Os medicamentos têm efeitos secundários sérios. Soman- Série A do-se a isso, 40% dos profissionais de saúde não completam a PEP devido a esses mesmos ou a outros efeitos adversos ou colaterais. Além disso, a PEP não é 100% eficaz. O consenso brasileiro para terapia anti-retroviral em adolescentes e adultos recomenda a PEP em situações de acidente no local de trabalho para profissionais de saúde. O Ministério da Saúde do Brasil/ Coordenação Nacional de DST/AIDS está implantando uma rede de serviços para atender e avaliar as recomendações para a PEP nos casos de violência sexual e estupro, tanto em homens quanto em mulheres, e de rompimento de preservativos na relação de casais (independentemente de sexo) sorodiscordantes (quando um é HIV+ e outro é HIV-). Como se administra a PEP? A PEP deve ser iniciada o mais rápido possível depois da exposição ao HIV (até 72 horas, no máximo). Os medicamentos usados na PEP dependem do tipo de exposição ao HIV. As seguintes exposições são consideradas como sérias: exposição a uma quantidade grande de sangue; sangue entrando em contato com cortes ou feridas abertas na pele; o sangue sendo visível numa agulha que picou alguém; a exposição ao sangue de alguém sabidamente soropositivo, conhecendo-se também que essa pessoa tem alta carga viral (quantidade grande de HIV no sangue). Para exposições sérias (ou de maior risco), o consenso brasileiro recomenda usar uma combinação de três drogas anti-retrovirais aprovadas (incluindo um inibidor de protease), durante quatro semanas. O esquema AZT + 3TC + Inibidor de protease é considerado o ideal para esses casos. Folhas Informativas Para exposições menos sérias (de menor risco), recomenda-se quatro semanas de tratamento com dois medicamentos preferenciais: AZT e 3TC. Em janeiro de 2001, o Centro para Controle de Doenças dos Estados Unidos advertiu sobre o uso da nevirapina (viramune) para a PEP, devido ao risco de dano ao fígado. O consenso brasileiro sobre terapia anti-retroviral em adultos e adolescentes também adverte e não recomenda o seu uso. Quais são os efeitos secundários? Os efeitos colaterais ou adversos mais comuns dos medicamentos da PEP são náuseas e sensação de mal-estar. Outros possíveis efeitos secundários incluem: dor de cabeça, fadiga, vômitos e diarréia. Por esse e outros fatores, é importante o médico e o profissional de saúde (exposto) monitorarem a toxicidade e a adesão aos anti-retrovirais. 10 Série A Resumindo A profilaxia depois da exposição (PEP) é o uso de medicamentos anti-retrovirais, o mais rápido possível (até 72 horas, no máximo), após provável exposição do profissional de saúde ao HIV, com o objetivo de impedir a infecção. A PEP pode reduzir a proporção de infecção em profissionais de saúde expostos ao HIV em até 79%. Os benefícios da PEP para a exposição fora do ambiente de trabalho de profissionais de saúde não têm sido estudados e sistematizados. O uso da PEP é polêmico porque algumas pessoas entendem que tal procedimento pode incentivar atos sexuais inseguros e desprotegidos (comportamentos de risco). A PEP é um programa de administração de dois ou três medicamentos anti-retrovirais (conforme a gravidade da exposição), por quatro semanas, duas ou três vezes ao dia, seguindo-se prescrição médica. Tais medicamentos podem provocar sérios efeitos secundários que dificultam ou mesmo impedem o cumprimento correto da prescrição médica, ou seja, das tomadas dos remédios, o que leva à interrupção do procedimento e ao fracasso do programa de profilaxia pós-exposição. Portanto, é importante monitorar a toxicidade e a adesão aos medicamentos. A PEP não é totalmente eficaz, pois não pode garantir com certeza absoluta que uma real e não provável exposição ao HIV torne-se um caso de infecção. Para mais informações Para mais detalhes sobre a PEP, consulte o novo consenso brasileiro de 2001, disponível na página da Internet do Ministério da Saúde: <http://www.aids.gov.br>. Clique em assistência e depois em consensos de terapia. Então, procure pelo consenso de terapia anti-retroviral para adolescentes e adultos. Projeto original: InfoRed SIDA Nuevo México (www.aidsinfonet.org/infored.html). Adaptação: Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (www.abiaids.org.br) . ABIA Coordenação-Geral: Maria Cristina Pimenta Coordenação das Folhas Informativas: Juan Carlos Raxach Assessoria técnica: Debora FontenelleTradução: Marclei Guimarães. Financiado por EED Evangelischer Entwicklungsdienst e V. Tiragem: 3 mil exemplares/setembro de 2002 Folhas Informativas + InfoRed SIDA Nuevo México PRESERVATIVOS O que é um preservativo? Um preservativo, também conhecido como camisinha ou condom, é um tubo feito de material fino e flexível fechado em um dos extremos. Foi usado durante séculos para prevenir gravidez, evitando a entrada do sêmen na vagina. Os preservativos também previnem as doenças que se transmitem por meio do sêmen ou por contato com feridas infectadas na área genital. Ou seja, os preservativos previnem doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), inclusive, a infecção por HIV. Grande parte dos preservativos é usada para cobrir o pênis. Um novo tipo de preservativo foi desenhado para encaixar-se na vagina. Esse preservativo feminino também está sendo usado para a prática do sexo anal. De que são feitos os preservativos? Tempos atrás, os preservativos eram feitos de pele natural (inclusive pele de carneiro) ou de borracha. Atualmente, a maioria é feita de látex ou de poliuretano. Qualquer preservativo que não seja de látex ou poliuretano não oferece proteção contra o HIV. O látex é o material mais comum utilizado na fabricação dos preservativos, e os vírus (entre eles o HIV) não conseguem ultrapassá-lo. Lembre-se: você deve sempre usar lubrificante à base de água: KY, glicerina, Preserv gel, pois os lubrificantes à base de óleo danificam e rompem os preservativos. Caso você seja alérgico ao látex, existem preservativos de poliuretano, como, por exemplo, o feminino. Como usar os preservativos? Os preservativos podem protegê-lo do HIV e de outras DSTs durante o contato com pênis, boca, vagina e reto, desde que usados corretamente: Guarde-os onde não exista excesso de calor, frio ou fricção. Não os guarde em carteiras ou no porta-luva do seu automóvel; Verifique a data de vencimento. Não use preservativo fora da validade ou sem o selo do INMETRO; Não abra o pacote de preservativos com os dentes nem com tesouras. Tenha cuidado para que unhas ou jóias (bijuterias) não rasguem o preservativo. Os piercings no pênis ou na vagina também podem rasgar o preservativo; Use um preservativo novo a cada vez que mantiver relações sexuais ou quando o pênis for movido, por exemplo, do reto (ânus) para a vagina ou para a boca; Verifique o preservativo durante o ato sexual, principalmente ao sentir algo diferente, para assegurar que ainda esteja no lugar e intacto; Não use o preservativo masculino e o preservativo feminino ao mesmo tempo; Use, junto com preservativo de látex, lubrificante à base de água (KY, glicerina, Preserv gel) e não à base de óleo. As loções oleosas, a vaselina e os cremes hidratantes ou de limpeza danificam e rompem o látex; Use preservativo sem lubrificante e com sabor (aroma) para o sexo oral, pois a maioria dos lubrificantes tem sabor desagradável. Para sexo anal, você pode usar preservativo masculino mais resistente ou o preservativo feminino, feito de poliuretano que também é mais resistente que o látex. Nesse caso, retire o anel interno; Não jogue o preservativo na privada. Ele pode entupir o encanamento. 11 Série A Como usar o preservativo masculino? Coloque o preservativo quando o pênis estiver ereto e antes que ele entre em contato com a boca, vagina ou reto de seu companheiro ou companheira, pois o líquido que sai do pênis antes do orgasmo, conhecido como présêmen e que funciona como lubrificação natural pela excitação, pode conter HIV; Se quiser, use algum lubrificante à base de água dentro da ponta do preservativo ou por sobre ele após ter vestido o pênis; Se não tiver feito circuncisão, empurre o prepúcio (pele que encobre a cabeça do pênis) para trás, antes de colocar o preservativo. Isso permite que o prepúcio se mova sem romper o preservativo; Aperte a ponta do preservativo de modo a não deixar o ar entrar, pois essa ponta sem ar servirá de reservatório para o sêmen após o orgasmo (gozo). Em seguida, desenrole o preservativo ao longo do pênis; Não use dois preservativos ao mesmo tempo. A fricção entre os dois pode fazer com que ambos se rompam; Depois do orgasmo, segure na base e na ponta do preservativo e retire-o antes que o pênis perca a ereção (amoleça); Tenha cuidado para não derramar o sêmen dentro de seu companheiro ou companheira quando tirar o preservativo. Como usar o preservativo feminino? O preservativo feminino é uma bolsa de poliuretano com dois extremos: um fechado e outro aberto. Existe um anel flexível em cada extremo, sendo um anel Folhas Informativas fixo no extremo maior e aberto, e outro anel móvel no extremo fechado e menor; Coloque o preservativo em seu lugar antes que o pênis toque a vagina ou o reto. O preservativo pode ser colocado até oito horas antes do ato sexual e não atrapalha a atividade de urinar; Para o uso na vagina, aperte o anel menor e o introduza como fosse um diafragma. O anel maior e fixo cobre a abertura da vagina e protege de infecções os órgãos sexuais externos da mulher; Para o uso no reto, retire o anel menor. Coloque o preservativo em cima do pênis ereto. O preservativo será introduzido no reto junto com o pênis; Guie o pênis ao anel grande para evitar o contato não protegido entre o pênis e o reto ou a vagina; Tire o preservativo antes de ficar de pé. Gire o anel exterior e maior para guardar e isolar o sêmen dentro do preservativo. Suavemente, retire o preservativo e jogue-o em local apropriado (não em vasos sanitários); O preservativo não pode ser reutilizado com diferentes pessoas, mas suporta até três orgasmos de um mesmo parceiro. Muitas mulheres dizem que o anel maior que protege a parte externa da vagina, ao friccionar o clitóris, ajuda no alcance do orgasmo (gozo) feminino. 11 Série A O que é nonoxinol-9? O nonoxinol-9 é uma substância química que mata o esperma (um espermicida). Pode ajudar a prevenir gravidez, quando usado na vagina junto com preservativos ou com outros métodos contraceptivos. O nonoxinol-9 não deve ser usado na boca ou no reto. O nonoxinol-9, por ter matado o HIV em laboratório, foi considerado uma forma de prevenção contra a infecção por HIV durante a relação sexual. Mas estudos realizados na África atestaram que muitas mulheres eram alérgicas ao nonoxinol-9. De fato, pênis, vagina e reto podem sofrer irritações e desenvolver pequenas feridas que acabam facilitando a transmissão do HIV que deveria evitar. Portanto, o nonoxinol-9 não é recomendado como prevenção da infecção pelo HIV. Quais são os mitos dos preservativos? Os preservativos não servem. Os preservativos funcionam muito bem se usados corretamente cada vez que você tiver relações sexuais. Os preservativos se rompem facilmente. Menos de 2% dos preservativos se rompem quando usados corretamente. Não use lubrificantes à base de óleo com preservativo de látex, dois preservativos ao mesmo tempo nem preservativo fora da data de validade ou sem o selo do INMETRO. Resumindo Usado corretamente, o preservativo é a melhor maneira de você se prevenir da infecção por HIV durante o ato sexual. Os preservativos podem proteger a boca, a vagina e o reto do sêmen ou sangue com HIV. Também podem proteger o pênis do HIV presente nos fluidos vaginais ou no sangue dentro da boca, da vagina e do reto, além de prevenirem outras DSTs. Os preservativos devem ser armazenados, usados e jogados fora corretamente. Você pode usar o preservativo feminino tanto na vagina quanto no reto (nesse caso é recomendado retirar previamente o anel interno). Lembre-se: é melhor prevenir do que remediar, como diz o ditado popular. Ou seja, a prevenção ainda é o melhor remédio na luta contra o HIV. O HIV pode atravessar os poros dos preservativos. O HIV não pode ultrapassar nem látex nem preservativos de poliuretano. Projeto original: InfoRed SIDA Nuevo México (www.aidsinfonet.org/infored.html). Adaptação: Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (www.abiaids.org.br) . ABIA Coordenação-Geral: Maria Cristina Pimenta Coordenação das Folhas Informativas: Juan Carlos Raxach Assessoria técnica: Debora Fontenelle Tradução: Marclei Guimarães. Financiado por EED Evangelischer Entwicklungsdienst e V. Tiragem: 3 mil exemplares/setembro de 2002