Uma matéria escura do B? Os modelos atuais apontam que cerca de grupo de astrofísicos da Universidade exemplo do que ocorre com a matéria 23% do Universo é formado por uma Harvard, comandado por Matthew Reece, visível no processo de formação das ga- componente invisível, de natureza des- sustenta que a realidade do Universo pode láxias. Seria ainda composta de versões conhecida, denominada matéria escura. ser ainda mais complexa (Physical Review “escuras” de partículas semelhantes aos Essa componente de difícil detecção seria Letters, 23 de maio). Existiria, segundo prótons e elétrons que apresentariam constituída de matéria fria, com tão pou- os pesquisadores, um segundo tipo de algum nível de interação em razão da ca energia que suas partículas escuras matéria escura que poderia ter um com- hipotética presença de uma “força ele- raramente se chocariam. Ela se manifes- portamento mais parecido com o da ma- tromagnética escura”. O possível novo taria na forma de um halo em torno das téria visível. Essa forma alternativa de tipo de matéria escura teria uma presen- galáxias feitas de matéria visível, conven- matéria escura teria um tipo de força ça importante, mas minoritária no Uni- cional, que representa apenas 5% do gravitacional que faria suas partículas se verso: responderia por apenas 5% de toda Cosmos. No entanto, um estudo de um juntarem e originarem discos escuros, a a matéria escura existente no Cosmos. Mosca inspira olho artificial Matéria escura (em tons azul e verde) em um aglomerado: mais de um tipo pode existir no Cosmos Uma tecnologia uma visão panorâmica chamada Curvace (sigla e sem distorções, com em inglês de Curved resolução idêntica artificial compound eye, à obtida pelo olho ou componente ocular do inseto, mas com artificial curvo), que capacidade de capturar reproduz a arquitetura imagens três vezes dos olhos das moscas mais rapidamente. drosófilas, foi A inclusão de desenvolvida por fotorreceptores grupos de pesquisa neuromórficos – que ligados a institutos e simulam os circuitos universidades europeias, cerebrais – permite a sob a coordenação detecção de imagens em Pesquisadores da A combinação de grafeno da Escola Politécnica diferentes intensidades Universidade Purdue, e nanofios de prata Federal de Lausanne, de luz do ambiente. Estados Unidos, supera as limitações na Suíça. O olho das A tecnologia pode ser criaram um novo tipo de de cada material: drosófilas é composto usada em aplicações eletrodo transparente, isoladamente, ambos por centenas de da área de defesa, como que poderia ser usado são maus condutores detectores de luz que veículos aéreos não em células solares, de eletricidade e têm permitem ao inseto tripulados (Vants) dispositivos para resistência alta para acompanhar, e em sistemas de computadores e serem usados em simultaneamente, uma segurança e vigilância sensores (Advanced eletrodos transparentes. série de movimentos (Proceedings of the Functional Materials, Lâminas de grafeno rápidos em várias National Academy of maio). Os eletrodos são são feitas de segmentos direções. O olho artificial Sciences, 20 de maio). feitos com nanofios de individuais chamados prata cobertos com uma grãos, em cujas bordas camadas: microlentes fina camada de grafeno, a resistência é grande. dispostas em superfícies uma forma de carbono. Nanofios de prata curvas e flexíveis, O material híbrido é um apresentam alta detectores de luz que candidato a substituir o resistência porque imitam os circuitos óxido de índio-estanho são orientados de forma neurais da mosca e um (caro e de baixa aleatória como um circuito embutido que resistência mecânica), emaranhado de palitos, permite programar usado atualmente em dispostos em diferentes o tratamento dos monitores, telefones direções. Mas a junção sinais luminosos. Sua celulares e televisores dos dois materiais de tela plana. contorna esse obstáculo. é composto por três arquitetura proporciona 2 Novo eletrodo transparente Olho artificial, baseado na arquitetura da anatomia da drosófila: visão panorâmica e sem distorções 3 PESQUISA FAPESP 208 | 13 Artemísia contra malária 1 A irmã mais velha do Sol Representação da gêmea solar CoRoT Sol 1: 6,7 bilhões de anos de idade A empresa de ano em países pobres. biotecnologia Amyris, O projeto teve como com sede em Emeryville, base um trabalho de na Califórnia, e o biologia sintética laboratório francês conduzido pelo Sanofi desenvolveram professor Jay Keasling um novo processo de na Universidade da síntese da artemisinina Califórnia em Berkeley. – substância usada no O processo industrial para tratamento da malária –, produção da artemisinina que permitirá sua semissintética consiste produção em larga na produção do ácido escala e sem artemisínico por meio interrupção. A alteração de fermentação e sua genética de células de transformação sintética uma levedura fez com por via fotoquímica. que ela conseguisse O novo sistema de processar a artemisinina, síntese, aprovado pela ingrediente ativo obtido Organização Mundial Ela tem mais ou menos espelho de 8,2 metros. a mesma massa e “É como se essa estrela até agora apenas a partir da Saúde (OMS), é feito composição química do fosse o Sol no futuro”, diz da planta artemísia em cerca de três meses, Sol. Seu período de José Dias do Nascimento, (Artemisia annua), de um quinto do tempo rotação também é da Universidade Federal maneira eficaz, com gasto pelo método semelhante, em torno de do Rio Grande do altíssimo rendimento. convencional de origem 30 dias. Mas sua idade Norte (UFRN), líder da A produção tradicional apenas vegetal. A Sanofi é de 6,7 bilhões de anos, equipe que descobriu e depende da colheita anunciou que produzirá cerca de 2 bilhões de caracterizou a CoRoT e extração do composto ainda este ano na fábrica anos a mais do que a Sol 1, ao lado de Jorge da planta, sujeita de Garessio, na Itália, estrela que ilumina o Melendez, da à sazonalidade e 60 milhões de doses da nosso sistema. Assim é a Universidade de São flutuações do preço artemisinina, um terço CoRoT Sol 1, nome com Paulo (USP), e Gustavo de mercado, o que da demanda mundial. que foi batizada por um Porto de Mello, da prejudicava o Em 2014 a produção grupo de astrofísicos Universidade Federal tratamento da doença, atingirá cerca de 80 brasileiros, com a do Rio de Janeiro (UFRJ). que mata anualmente a 150 milhões de doses. colaboração de um Embora o Sol seja o 650 mil pessoas por A pesquisa, que durou colega do Japão, a objeto celeste mais nove anos, foi financiada gêmea solar mais velha estudado da galáxia, pela Fundação Bill e e distante identificada pouco se sabe sobre Melinda Gates (SciDev. até hoje na Via Láctea o seu processo de Net de 13 de maio). (Astrophysical Journal evolução e o quão único Letters, no prelo). (ou não) ele pode ser Localizada na em relação às demais constelação de estrelas. Segundo as Unicórnio, a irmã mais teorias de evolução velha do Sol é cerca estelar mais aceitas, de 200 vezes menos o Sol se tornará 33% luminosa do que a mais luminoso daqui a gêmea solar mais 3 bilhões de anos, o que brilhante que se esquentaria a Terra e conhece, a 18 Scorpii. faria a água dos oceanos Foi descoberta pelo evaporar. Estudando satélite francês CoRoT mais a fundo a CoRoT e estudada agora em Sol 1, os pesquisadores detalhes com o auxílio esperam produzir do telescópio japonês elementos que Subaru, que possui um confirmem essa teoria. 14 | junho DE 2013 fotos 1 Jose Dias do Nascimento 2 Embrapa Cerrados 3 Léo ramos ilustraçãO daniel bueno Um maracujá mais nutritivo Surpresas supercondutoras Uma nova e promissora alta pelos pesquisadores classe de materiais (−264,3ºC). O mais Uma nova variedade supercondutores foi interessante, porém, de maracujá silvestre, descrita em artigo é que os valores de chamada BRS Pérola publicado em maio na energia dos elétrons do do Cerrado, foi lançada revista Physical Review B. material não conseguem pela Embrapa Cerrados, Em condições normais, ser descritos pela teoria unidade da Empresa o composto diboreto mais aceita. “Isso se Brasileira de Pesquisa de zircônio (ZrB2) não é deve a outro mecanismo Agropecuária com sede supercondutor. Mas o ainda não explicado”, em Planaltina (DF), doutorando Sérgio diz Machado. Outra no final de maio. Foram Renosto, orientado pelo propriedade incomum necessários 20 anos de engenheiro de materiais é o campo magnético melhoramento genético Jefferson Machado, da crítico superior do novo para se chegar ao Escola de Engenharia material. Quanto mais cultivar. Nesse período, de Lorena da USP, alto seu valor, menos a produtividade do Pérola descobriu que o ZrB2 do material é necessário foi triplicada e seu se transforma em para gerar campos um supercondutor magnéticos elevados. de propriedades Seu campo crítico é extraordinárias, quando de 16, 5 teslas, maior 0,4% do zircônio é que os 10 teslas das substituído por átomos ligas supercondutoras tamanho aumentado. 2 Durante o processo de Pérola do Cerrado: mais rico em enxofre, cálcio, boro e manganês seleção, propriedades de diâmetro, o Pérola nutricionais diferenciadas, atinge no máximo como a presença de 6 centímetros. “Ele é antioxidantes, foram mais rico em enxofre, de vanádio. Sua de nióbio e titânio privilegiadas no cultivar. cálcio, boro e manganês supercondutividade se empregadas em bobinas “Embora seja da família em comparação com manifesta a uma das máquinas de dos maracujás, o novo o maracujá comercial”, temperatura considerada ressonância magnética. fruto apresenta coloração, ressalta. “O consumo sabor e aroma bem de 100 gramas de polpa, distintos”, diz a equivalente a dois copos pesquisadora Ana Maria diluídos em água, garante Costa, que coordena a em torno de 34% a 39% rede de desenvolvimento da necessidade diária tecnológico para uso de ferro.” Por ser rústica, funcional do fruto a planta é resistente silvestre. Enquanto um a pragas e responde maracujá tradicional tem muito bem ao sistema cerca de 10 centímetros de produção orgânica. Anticorpos monoclonais da Recepta em testes no Instituto Butantan Resposta imunológica global 3 Pequenas empresas aliadas a grandes tecnologia chamada Medarex, e a par- que tem como diretor-presidente o pro- indústrias farmacêuticas estão contri- ceria da britânica GlaxoSmithKline com fessor José Fernando Perez, ex-diretor buindo para aumentar os estudos com duas instituições americanas, o Centro científico da FAPESP, possui acordos de possíveis medicamentos imunoterápicos de Câncer MD da Universidade do Texas cooperação com o paulistano Instituto contra o câncer. Um perfil desse setor e a empresa Amplimmune. A brasileira Butantan e com o Instituto Ludwig de em âmbito mundial foi mostrado pela Recepta Biopharma também foi citada Pesquisa sobre o Câncer, de Nova York. revista Nature Biotechnology (março pelo periódico por desenvolver anticor- No início deste ano a Recepta firmou 2013). Entre as empresas destacadas pos monoclonais imunomoduladores, uma parceria com a 4-Antibody AG, em- pela revista estão os esforços da norte- que promovem o aumento da resposta presa suíça que tem tecnologia para -americana Bristol-Myers Squibb, que imunológica do paciente contra a doen- gerar e reproduzir anticorpos humanos adquiriu uma pequena empresa de bio- ça. A empresa sediada em São Paulo, de forma mais rápida e segura. PESQUISA FAPESP 208 | 15