COMPORTAMENTO DE BUSCA DO PREDADOR PHYTOSEIULUS MACROPILIS (ACARI: PHYTOSEIDAE) POR TETRANYCHUS URTICAE (ACARI: TETRANYCHIDAE) EM PLANTAS DE MORANGUEIRO SOB CONDIÇÕES SIMULADAS DE CAMPO Amanda Fialho(1), Madelaine Venzon(2), Marcos Antonio Matiello Fadini(2), Hamilton G. Oliveira(3), Ângelo Pallini(4) (1) (2) Bolsista PIBIC EPAMIG/FAPEMIG; Pesquisadores EPAMIG-Viçosa, MG, [email protected], [email protected]; (3) Doutorando UFV-Viçosa, MG; (4)Professor UFV-Viçosa, MG Introdução O comportamento de busca por alimento demanda custo energético e os animais devem otimizar esse comportamento, pré-avaliando a quantidade e a qualidade da fonte de alimento (GROSTAL; DICKE, 1999, 2000). Para tanto, os animais utilizam compostos químicos e estímulos visuais como pistas para avaliarem as fontes de alimento (DICKE; GROSTAL, 2001). As plantas, quando infestadas por ácaros-fitófagos, produzem voláteis que atraem inimigos naturais (SABELIS; BAAN, 1983, PALLINI et al., 1997). Os ácaros-predadores utilizam esses voláteis de plantas como pistas para localizarem suas presas. No entanto, a atração de ácaros-predadores deve ser diretamente proporcional à produção de voláteis pelas plantas para que o processo de defesa induzido seja benéfico para plantas e predadores (JANSSEN, 1999). Em testes de olfatômetro, o predador Phytoseiulus macropilis (Acari: Phytoseidae) foi atraído por plantas infestadas pelo ácarofitófago Tetranychus urticae (Acari: Tetranychidae) (FADINI et. al., dados não publicados). Este resultado evidencia que o predador P. macropilis é capaz de discernir, em laboratório, odores oriundos de plantas de morangueiro atacadas e não atacadas. Entretanto, outros testes devem ser realizados para avaliar a capacidade de busca de presas por predadores em condições mais próximas às encontradas em campo. Neste trabalho avaliou-se a capacidade de busca de P. macropilis por plantas de morangueiro atacadas pelo ácaro-rajado T. urticae em testes de liberação e recaptura em arenas, em condições simuladas de campo. 2 Material e Métodos O predador P. macropilis foi coletado em lavouras de morango nos municípios de Barbacena e de Caldas, ambos em Minas Gerais, em de agosto de 2003 e julho de 2004. Após as coletas, os ácaros foram levados para o laboratório de Acarologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa, MG. Parte dos predadores coletada foi criada sobre folhas de feijoeiro destacadas das plantas e colocadas sobre espuma plástica embebida em água, dentro de caixas do tipo Gerbox® (3,5 x 11,5 x 11,5 cm), com a face abaxial voltada para cima. Sobre as folhas foram adicionadas fêmeas de ácarorajado, T. urticae. Nas bordas das folhas foram colocadas faixas de algodão umedecido para impedir a fuga dos ácaros. As folhas de feijoeiro foram trocadas após a perda da turgidez. Durante o período de criação, as caixas Gerbox® foram mantidas em câmara climatizada, tipo B.O.D., à temperatura de 25oC, umidade relativa de 70 ± 1% e fotofase de 14 horas. A outra parte dos predadores coletada no campo foi criada sobre plantas de morangueiro var. Campinas (5 - 10 folhas por planta) no interior de casa de vegetação em gaiolas com estrutura de madeira telada com organza e dimensões de 100 x 50 x 90 cm. Os experimentos de liberação e recaptura com os ácaros-predadores foram realizados em casa de vegetação (PALLINI et al., 1997). Os predadores foram liberados no centro de um círculo (diâmetro = 1,09 m) formado por seis plantas de morango. Três dessas plantas foram infestadas com T. urticae e as outras três plantas permaneceram limpas. As plantas infestadas e limpas foram dispostas alternadamente no círculo. Após a liberação, cada planta foi checada em intervalos de uma hora e os predadores encontrados nas plantas foram contados e eliminados do ambiente. O experimento terminou ao final de um período de 96 horas desde a liberação dos predadores. Cada experimento teve duas repetições. As posições das plantas foram alternadas em cada repetição, ou seja, a posição ocupada por plantas de um tratamento em um experimento foi ocupada por plantas do outro tratamento no experimento seguinte. 3 Resultados e Discussão Das 120 fêmeas liberadas por repetição, foram recapturadas em média 48,0 ± 7,1, representando 40,0 ± 5,9% do total liberado. A média acumulada de recaptura do predador P. macropilis em plantas de morangueiro atacada pelo ácaro-rajado T. urticae foi de, aproximadamente, 17,7 ± 3,3 fêmeas, enquanto que nas plantas não atacadas a média acumulada de recaptura foi de 3,0 ± 1,4 fêmeas (Gráfico 1). A porcentagem de recaptura relativa do predador P. macropilis em plantas de morangueiro atacadas pelo ácaro-rajado T. urticae foi de 81,7 ± 6,1%, enquanto que nas plantas não atacadas a porcentagem de recaptura relativa foi de 18,3 ± 6,1% (Gráfico 2). Conclusões Neste trabalho ficou demonstrado que o predador P. macropilis é capaz de localizar plantas atacadas pelo ácaro rajado T. urticae em condições próximas as de campo. A localização dessa plantas pelo predador é, possivelmente, devido aos voláteis liberados pelas plantas atacadas (FADINI et. al., dados não publicados). A capacidade de localização a longa distância de plantas infestadas é uma característica favorável para agentes de controle biológico. Os resultados aqui obtidos confirmam o potencial do ácaro P. macropilis como promissor agente de controle biológico do ácaro rajado T. urticae em morangueiro. Agradecimento Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) pelo financiamento do projeto e pela concessão das bolsas. Referências DICKE, M.; GROSTAL, P. Chemical detection of natural enemies by arthropods: an ecological perspective. Annual Review Ecology and Systematic, v.32, p.1-23, 2001. 4 GROSTAL, P.; DICKE, M. Direct and indirect cues of predation risk influence behavior and reproduction of prey: a case for acarine interactions. Behavioral Ecology, v.10, p.422-427, 1999. _______; _______. Recognising one's enemies: a functional approach to risck assessment by prey. Behavioral Ecology Sociobiology, v.47, p.258-264, 2000. JANSSEN, A. Plants with spider-mite prey attract more predatory mites than clean plants under greenhouse conditions. Entomologia Experimentalis et Applicata, v.90, p.181-189, 1999. PALLINI, A.; JANSSEN, A.; SABELIS, M.W. Odour-mediated responses of phytophagous mites to conspecific and heterospecific competitors. Oecologia, v.110, p.179-185, 1997. SABELIS, M.W.; BAAN, H. E. van der. Location of distant spider mite colonies by phytoseiid predators: demonstration of specific kairomones emitted by Tetranychus urticae and Panonychus ulmi. Entomologia Experimentalis et Applicata, v.33, p.303-314, 1983. Média acumulada de predadores recapturados 21 18 15 12 9 6 3 0 0 24 48 72 96 tem p o (h o ras) Gráfico 1 - Média acumulada ± erro-padrão de recaptura do predador P. macropilis sobre plantas de morangueiro atacadas (•) e não atacadas (°) pelo ácaro-rajado T. urticae 5 Porcentagem relativa de recaptura 100 80 60 40 20 0 plantas atacadas plantas não atacadas Gráfico 2 - Porcentagem relativa de recaptura do predador P. macropilis sobre plantas de morangueiro atacadas e não atacadas pelo ácaro-rajado T. urticae