CARDOSO AI; PAVAN MA; SAKATE RK; FATTORI K. 2008. Herançaao daZYMV tolerância ao ZYMV em pepino. Horticultura Brasileira 26: S311Herança da tolerância em pepino S315. HERANÇA DA TOLERÂNCIA AO ZYMV EM PEPINO 1 1 1 Antonio Ismael Inácio Cardoso ; Marcelo Agenor Pavan ; Renate Krause Sakate ; 1 Karina Fattori 1 UNESP-FCA-Departamento de Produção Vegetal, C. Postal 237, 18603-970, Botucatu-SP. E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Com o objetivo de estudar a herança genética da tolerância ao ZYMV em pepino cultivar Formosa, esta cultivar foi cruzada, separadamente, com duas linhagens de pepino, uma do tipo caipira (L ) e outra c japonês (L ), ambas suscetíveis ao vírus. j Foram realizados dois experimentos em separado, um com cada linhagem, onde foram avaliados 6 tratamentos (os genitores, as gerações F1, F2 e F1RC1 para ambos os genitores), em um delineamento em blocos ao acaso com 5 repetições. As plantas foram inoculadas com o ZYMV ao emitirem a primeira folha definitiva. Apenas as plantas que não apresentaram sintomas até 62 dias após a inoculação foram consideradas tolerantes. 2 Realizou-se o teste do qui-quadrado (X ) em função das segregações obtidas nas gerações F2 e retrocruzamentos e concluiuse que a herança da tolerância observada na cultivar Formosa é determinada por um gene recessivo. Tolerance inheritance to ZYMV in cucumber. With the objective of studying tolerance inheritance to ZYMV in cucumber cultivar Formosa, this cultivar was crossed, separately, to two cucumber lines, one from “caipira” type (L ) and another from Japanese c type (L ), both susceptible to this virus. Two j experiments were carried out separately, one with each line, with 6 treatments (two parents, generations F1, F2 and F1RC1 for both parents), in a randomized blocks design and 5 replicates. Plants were inoculated with ZYMV at first leaf stage. Only plants without symptoms till 62 days after inoculation were 2 considered tolerants. Qui-square (X ) test was applied in function of segregation obtained in generations F2 and backcrossings and it was concluded that tolerance inheritance observed in cultivar Formosa is determined by one recessive gene. PALAVRAS CHAVE: Cucumis sativus, vírus, melhoramento, genética KEYWORDS: Cucumis sativus, virus, breeding, genetic INTRODUÇÃO Assim como a maioria das culturas, as cucurbitáceas estão sujeitas a diversas adversidades, dentre as quais várias viroses, que podem reduzir substancialmente a produtividade. Estudos sobre a incidência de viroses em cucurbitáceas no estado de São Paulo confirmaram que o PRSV-W é o vírus predominante, constatado em 48,3% das amostras analisadas, seguido pelo ZYMV que foi encontrado em 24,5% das amostras (Yuki et al., 2000). Hortic. bras., v. 26, n. 2 (Suplemento - CD Rom), jul-ago. 2008 S 311 Herança da tolerância ao ZYMV em pepino Portanto, os programas de melhoramento de cucurbitáceas no país deverão considerar a ocorrência do ZYMV e do PRSV-W nas regiões produtoras, tanto de maneira isolada como em infecções mistas (Sittolin et al., 2000). Existem poucos relatos de resistência de pepino a estas viroses. A cultivar de pepino Taichung Mou Gua (TMG), proveniente da China, foi descrita como resistente a ZYMV (Providentti, 1985), ao CMV (Providentti, 1987) e ao PRSV-W (Wai & Grumet, 1995). Silva & Costa (1978) verificaram que a cultivar Formosa mostrou tolerância múltipla ao PRSV-W e ao CMV. A resistência ao PRSV-W na cultivar Formosa é devido a três pares de genes recessivos e com interação não alélica. Porém, não estudaram o ZYMV por não ser um vírus importante no Brasil na época. Este trabalho teve como objetivo estudar a herança genética da tolerância ao ZYMV em pepino cv. Formosa. MATERIAL E MÉTODOS Os experimentos foram conduzidos na Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da UNESP de Botucatu-SP em estruturas de proteção, tipo arco (7,0m de largura e 20,0m de comprimento), cobertas com plástico e, fechando as laterais, com tela anti-afídeos, visando impedir a entrada de insetos vetores de viroses. Como fonte de tolerância ao ZYMV foi utilizada a cultivar Formosa (tipo Aodai). Foram estudadas duas linhagens de pepino suscetíveis ao ZYMV. A primeira é do tipo caipira, denominada de L , e a segunda do tipo japonês, denominada de L , sendo que estas linhagens c j não apresentam parentesco entre si, com origens bem distintas. Estas linhagens foram cruzadas com a cultivar Formosa, obtendo-se duas populações F1: F1 (Formosa x L ) e F1 (Formosa x L ). Plantas de cada uma destas gerações F1 foram c c j j intercruzadas ao acaso obtendo-se as gerações F2 (F2 e F2 , para a linhagem do tipo caipira c j - L - e do tipo japonês - L , respectivamente). Plantas destas gerações F1 também foram c j retrocruzadas com seus respectivos genitores, obtendo-se as gerações F1RC1 para ambos os genitores, totalizando quatro populações de retrocruzamento (F1 RC1 , F1 RC1 , c Lc c Form F1 RC1 , F1 RC1 ). j Lj j Form Foram realizados dois experimentos simultâneos, porém separados: a) avaliação da tolerância ao ZYMV em ‘Formosa’ quando cruzada com a linhagem L , tipo caipira; b) avaliação c da tolerância ao ZYMV em ‘Formosa’ quando cruzada com a linhagem L , tipo japonês. Nos j dois experimentos foram avaliados seis tratamentos: as duas populações progenitores (‘Formosa’ e L ou L ), as gerações F1 e F2 entre estes genitores e os retrocruzamentos para j c ambos os genitores (F1 RC1 , F1 RC1 , F1 RC1 , F1 RC1 ). c Lc c Form j Lj j Form O objetivo de se realizar estes dois experimentos separadamente foi avaliar se a herança genética da tolerância ao ZYMV não “varia” quando em cruzamento com linhagens muito distintas. Silva & Costa (1978) observaram variação na herança da tolerância ao PRSV-W em ‘Formosa’ em função do genitor suscetível utilizado. Em ambos experimentos, o delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com cinco repetições. O número de plantas por parcela foi diferente para cada geração de acordo com a variabilidade genética esperada dentro de cada uma. Hortic. bras., v. 26, n. 2 (Suplemento - CD Rom), jul-ago. 2008 S 312 Herança da tolerância ao ZYMV em pepino Portanto, as linhagens e a geração F tiveram um número inferior de plantas (10 plantas) 1 em relação a geração F (20 plantas) e aos retrocruzamentos (20 plantas) devido estes 2 apresentarem uma maior variabilidade genética. A semeadura foi realizada em 5 de setembro de 2006 e em 18 de setembro as plântulas foram inoculadas manualmente nas folhas cotiledonares. Apenas as plantas que permaneceram com ausência de sintomas de mosaico 62 dias após a inoculação (20 de novembro de 2006) foram consideradas resistentes ou tolerantes. Para verificar se o que estava sendo observado é resistência (sem multiplicação do vírus) ou tolerância (com multiplicação do vírus, mas sem manifestação de sintomas) (Zambolim & Dusi, 1995), todas as plantas assintomáticas foram submetidas ao teste de ELISA Indireta – PTA-ELISA. Para isto, foram coletadas duas folhas totalmente expandidas por planta próximas ao ápice. Como a segregação da geração F2 e dos retrocruzamentos assemelhou-se a uma distribuição descontínua, pode-se inferir um controle oligogênico, sendo utilizado o teste qui2 quadrado (c ) para testar esta hipótese. RESULTADOS E DISCUSSÃO Todas as plantas de pepino inoculadas que não apresentaram sintomas tinham o vírus ZYMV em seus tecidos conforme confirmou o teste ELISA realizado. Portanto, a inexistência de sintomas com a presença do vírus caracteriza tolerância (Zambolim & Dusi, 1995). Confirmou-se que a cultivar Formosa é tolerante e a linhagem L é suscetível, pois não c foram observados sintomas em todas as 40 plantas da cultivar Formosa e todas as plantas da linhagem L apresentaram sintomas de mosaico (Tabela 1). Todas as 40 plantas da geração c F1 do cruzamento entre Formosa e L foram suscetíveis, indicando que a tolerância ao ZYMV c c em Formosa deve ser condicionada por gene(s) recessivo(s). Também a suscetibilidade de todas as plantas do retrocruzamento para o progenitor suscetível (F1 RC1 ) confirma esta c Lc tese de ser(em) gene(s) recessivo(s). Nas gerações F2 e retrocruzamento para o genitor resistente (F1 RC1 ), houve c c Form segregação de plantas tolerantes e suscetíveis. Na geração F2 observou-se uma segregação próxima de 3 plantas suscetíveis para 1 tolerante, enquanto que para o retrocruzamento para ‘Formosa’ (F1 RC1 ) observou-se uma segregação próxima de 1:1. Baseado nos resultados c Form das segregações obtidas, percebe-se que a tolerância ao ZYMV na cultivar Formosa deve ser 2 condicionada por um gene recessivo. Para testar esta hipótese, utilizou-se o teste do X , obtendo-se valores de 0,07 e 0,12 para as gerações F2 e F1 RC1 , respectivamente, valores c c Form não significativos, confirmando a hipótese. Resultados semelhantes foram obtidos quando do cruzamento da cultivar Formosa com a linhagem de pepino tipo japonês L (Tabela 2), ou seja, todas as plantas da cultivar Formosa j foram tolerantes, as da linhagem L foram suscetíveis, assim como as das gerações F1 e j j retrocruzamento para a linhagem L (F1 RC1 ). Já nas gerações F2 e retrocruzamento para o j j Lj j genitor resistente (F1 RC1 ), houve segregação de plantas tolerantes e suscetíveis. Baseado j Form nos resultados das segregações obtidas, percebe-se que a tolerância ao ZYMV na cultivar Formosa, neste cruzamento, também deve ser condicionada por um gene recessivo. Para 2 testar esta hipótese, utilizou-se o teste do X , obtendo-se valores de 0,27 e 0,11 para as gerações F2 e F1 RC1 , respectivamente, valores não significativos, confirmando a hipótese. j j Form Hortic. bras., v. 26, n. 2 (Suplemento - CD Rom), jul-ago. 2008 S 313 Herança da tolerância ao ZYMV em pepino Este resultado é semelhante ao relatado por Provvidenti (1987) que concluiu que a “resistência” ao ZYMV observada na cultivar Taichung Mou Gua (TMG) é condicionada por um gene recessivo. Também Ullah & Grummet (2002) relataram resistência ao ZYMV na linhagem Dina-1 condicionada Dina por um gene recessivo, denominado de zym , localizado no mesmo locus do gene relatado na TMG cultivar TMG (alelo zym ). Porém, estes autores relataram que a “resistência” observada em ‘Dina1’ ocorre ao nível do bloqueio do movimento do vírus na planta, ocorrendo clorose nas nervuras da folha inoculada, sem que o vírus infecte outras áreas da planta, caracterizando resistência, o que não foi observado em ‘Formosa’ onde o vírus se multiplicou e foi encontrado nas folhas totalmente expandidas no ápice das plantas com 62 dias após a inoculação, caracterizando tolerância. Conclui-se que a cultivar Formosa é tolerante ao ZYMV e a herança genética nos cruzamentos estudados é devido a 1 (um) gene recessivo. AGRADECIMENTOS À FAPESP, pela concessão de auxílio à pesquisa (Processo 05/55645-0) e ao CNPq pelas bolsas. LITERATURA CITADA PROVVIDENTI R. 1985. Sources of resistance to viruses in two accessions of Cucumis sativus. Cucurbit Genetic Cooperative Reporter 8: 12. PROVVIDENTI R. 1987. Inheritance of resistance to a strain of zucchini yellow mosaic virus in cucumber. HortScience 22: 102-103. SILVA N; COSTA CP. 1978. Triagem de cultivares e híbridos de pepino (Cucumis sativus L.) para a resistência a WMV-1 (Watermelon Mosaic Vírus-1). Summa Phytopathologia 4: 71-75. SITTOLIN IM; PAVAN MA; SILVA N. 2000. Inheritance of tolerance of watermelon to zucchini yellow mosaic virus and watermelon mosaic virus-2. Summa Phytopathologica 26: 210-214. ULLAH Z; GRUMET R. 2002. Localization of Zucchini yellow mosaic virus to the veinal regions and role of viral coat protein in veinal chlorosis conditioned by the zym potyvirus resistance locus in cucumber. Physiological and Molecular Plant Pathology 60: 79-89. YUKI VA; REZENDE JAM; KITAJIMA EW; BARROSO PAV; KUNIYUKI H; GROPPO GA; PAVAN MA. 2000. 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São Manuel, FCA, 2007. c Geração Cultivar ou Cruzamento P1 P2 F1 c F2 c F1 RC1 c Lc F1 RC1 Formosa L c Formosa x L c F1 x F1 c c F1 x L c c F1 x Formosa c Form Número de plantas Sem sintomas Com sintomas 40 0 0 21 0 36 0 39 40 59 78 39 Total 40 39 40 80 78 75 2 X ns 0,07 0,12 ns c 2 X = qui-quadrado (qui-square) ns = não significativo (not significant) Tabela 2. Reação ao ZYMV em gerações F1, F2 e retrocruzamentos do cruzamento entre a cultivar Formosa, tolerante, e a linhagem tipo japonês L , suscetível (Reaction to ZYMV in generations F1, F2 and backcrosses in j the cross between cultivar Formosa, tolerant, and Japanese type line L , susceptible). São Manuel, FCA, 2007. j Geração Cultivar ou cruzamento P1 P2 F1 j F2 j F1 RC1 j Lj F1 RC1 Formosa L j Formosa x L j F1 x F1 j j F1 x L j j F1 x Formosa j Form Número de plantas Sem sintomas Com sintomas 40 0 0 22 0 41 0 38 40 58 77 38 Tota l 40 38 40 80 80 79 2 X 0,27 0,11 ns ns j 2 X = qui-quadrado (qui-square) ns = não significativo (not significant) Hortic. bras., v. 26, n. 2 (Suplemento - CD Rom), jul-ago. 2008 S 315