A INCIDÊNCIA DA DENGUE NO MUNICÍPIO DE ITABUNA EM 2009 TRANZILLO, Eliene Maria dos Santos1 MARTINS, Inatiane Campos Lima 2 BATISTA, Gustavo Silva 3 1. Introdução A dengue é um dos principais problemas de saúde pública no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 50 a 100 milhões de pessoas se infectem anualmente, em mais de 100 países, de todos os continentes, exceto a Europa. Cerca de 550 mil doentes necessitam de hospitalização e 20 mil morrem em consequência da doença. BRASIL, (2010). No Brasil, as condições socioambientais favoráveis à expansão do Aedes aegypti, tem disseminado a doença nas cidades brasileiras, de um lado o crescimento populacional desordenado e aumento das desigualdades entre os indivíduos, por outro, a falta de saneamento básico, agrava a situação e possibilita a dispersão do vetor desde sua reintrodução em 1976, e o avanço da doença. Todavia, o Programa de combate a dengue na cidade de Itabuna não é diferente do aplicado no País. Onde é, essencialmente centrado no combate químico, com baixíssima ou mesmo nenhuma participação da comunidade, sem integração inter-setorial e com pequena utilização do instrumental epidemiológico, mostrando-se incapaz de conter um vetor com altíssima capacidade de adaptação ao novo ambiente, altamente degradado, onde encontramos esgotos a céu aberto, muitas vezes, passando por dentro das residências ou ao lado destas, sendo jogados nos rios e mares sem tratamento e lixões a céu aberto ou jogados nas ruas, pessoas tendo que armazenar água potável em recipientes inadequados, pois, falta esse recurso natural para muitas famílias. É nesse ambiente, fruto da urbanização acelerada e desordenada, encontrada nas cidades brasileira, que o vetor tem encontrado as condições favoráveis para sua proliferação. Enfermeira. Auditora do HMN. Sanitarista. Mestre em Saúde Coletiva. Professora da Faculdade de Ilhéus - CESUPI. End: T, 170, Loteamento Vitória Loup Soares, Itabuna-Ba. CEP:45.604-815. Tel. (73) 3214-4412. E-mail: [email protected] 2 Enfermeira. Sanitarista. Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. Professora da Universidade Estadual de Santa Cruz. 3 Graduando do 9º Semestre do Curso de Enfermagem da Faculdade de Ilhéus – CESUPI. 1 A disseminação desse agravo, não conseguiu ser controlada com os métodos tradicionalmente empregados no combate às doenças, transmitidas por vetores. Contudo, para que esse controle seja efetivo torna-se necessário que os governos façam investimentos em saneamento básico, melhorando a infra-estrutura das cidades e possibilitando ao indivíduo uma educação de qualidade, para que este, desperte a consciência da necessidade de participação ativa junto aos órgãos de saúde local, através de medidas simples, porém, primordiais, como não deixando água parada no domicílio, acondicionando o lixo em recipientes adequados, a fim de conter o avanço da doença. Coadunando com Freire, (1987) quando diz que através da educação, deve-se fazer um instrumento de conscientização, libertação e transformação, favorecendo a compreensão dos indivíduos, que as condições de vida e moradia tem relação direta com a saúde da população, subsidiando movimentos de lutas, em defesa da qualidade de vida, com o exercício pleno da cidadania, pois, quando os atores sociais tomam consciência crítica das causas mais profundas dos problemas de saúde e das relações sociais que permeiam, podem utilizá-las como instrumento de luta política, podendo construir, a partir de um processo educativo, uma ação transformadora, que conscientize a população para reivindicar intervenções inter-setoriais para melhorar as condições de saúde, ficando também comprometida com a saúde da comunidade na qual está inserido. 2. Os aspectos socioambientais e o ciclo de vida do vetor A dengue é uma enfermidade viral aguda que se caracteriza por início súbito com febre alta, que dura de três a cinco dias (raramente mais que sete), cefaléia intensa, mialgias, artralgias, dor retro orbitárias, anorexia, alterações do aparelho gastrointestinal e exantema. A infecção é causada por quatro sorotipos de Flavivírus: 1, 2, 3 e 4, e produz imunidade sorotípicos específica. É transmitida pela picada de fêmeas do mosquito Aedes aegypti. Esse mosquito se alimenta de néctar e sulcos vegetais. Porém, após o acasalamento a fêmea passa a se alimentar de sangue, que fornece as proteínas necessárias para o desenvolvimento dos ovos. O reservatório é o conjunto homem-mosquito. Os pacientes são infetantes para o mosquito desde o dia anterior até o quinto dia de doença. O mosquito torna-se infectante 8-12 dias depois de alimentar-se com sangue contaminado, e continua assim pelo resto da vida. Podendo, inclusive, transmitir a infecção, por via transovariana a seus ovos. Milhões de pessoas vivem em áreas sob risco de transmissão de dengue. Em vários países da África ela é endêmica. No Brasil surto de uma doença semelhante à dengue foi descrito no século XIX e no início do século XX. Com as campanhas de combate a febre amarela a dengue desapareceu do país. Porém, com a redução do trabalho de erradicação do vetor fez a doença ressurgir em 1981, quando foram isolados os sorotipos 1 e 2. Em 1986 houve uma grande epidemia pelo sorotipo 1 no Rio de Janeiro, que disseminou para os estados do Nordeste. Em 1990 o sorotipo 2 foi isolados em alguns estados do Brasil. Segundo Martins (1998), citado por Rouquayrol (2003), quatro anos após, o sorotipo 2 causou grande epidemia no Ceará inclusive com casos de dengue hemorrágica. De acordo com informes do Ministério da Saúde, em 1998 foi isolado o sorotipo 3 em São Paulo, de um paciente procedente da Nicarágua. O período de incubação da doença é de 3-6 dias, podendo estender até 15 dias. O aspecto clínico da infecção é contínuo, variando desde infecção assintomática, passando por quadros de infecção viral inespecífica, dengue clássico, até dengue hemorrágica e choque. O quadro de dengue hemorrágica está relacionado com aumento da permeabilidade vascular, podendo ocorrer derrame pleural, ascite e sangramentos. O surgimento de quadros de dengue hemorrágica está relacionado com fenômenos imunológicos. É mais freqüentes em áreas onde há circulação de vários sorotipos do vírus e em pessoas que têm infecções subseqüentes por sorotipos diferentes (Rouquayrol, 2003). É possível que haja cepas mais patogênicas e pessoas geneticamente mais susceptíveis. 3. Metodologia Estudo de natureza quantitativo, de caráter descritivo e de corte transversal. Realizado no primeiro semestre de 2010 na cidade de Itabuna-Ba. Objetivando descrever a incidência da dengue no município de Itabuna em 2009. Os dados foram coletados a partir das informações do Sistema de Informação dos Agravos Notificáveis – SINAN (2009). Para a análise dos dados foi utilizada a estatística descritiva, pois permite resumir, e apresentar os dados de maneira organizada. As ferramentas utilizadas para demonstrar os dados foram gráficos e medidas de síntese (porcentagem), tomando-se o cuidado de adequar os dados de acordo com as variáveis e as ferramentas de melhor compatibilidade, para facilitar o entendimento. 4. Dengue: o caso do município de Itabuna-Ba. Itabuna é uma cidade do interior da Bahia com uma área territorial de 443 km², cuja população é estimada em 213.656 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), (BRASIL, 2009). De acordo com os dados coletados, do Sistema de Informação dos Agravos Notificáveis - SINAN (2009), tivemos uma grande epidemia de dengue no município. Com 14.933 casos notificados em 2009. Destes, 146 casos foram descartados, pois a sorologia foi negativa. Entretanto, apenas 298 foram submetidos a exames laboratoriais, caracterizando que apenas 2,06% das pessoas com suspeita de dengue tiveram uma investigação adequada, para caracterizar a doença laboratorialmente, o que caracteriza que essa epidemia foi muito maior, do que os números apresentados pelo município. Gráfico 01 - Casos graves notificados no município de Itabuna-Ba em 2009 Fonte:SINAN Da totalidade dos casos notificados, tomando como parametro os casos graves, nove pessoas evoluíram para óbito. Percebe-se que o município é extremamente vulnerável, pois falta infra-estrutura na cidade e uma rede de serviços de atenção à saúde hierarquizada com referência e contra-referência funcionante, o que ficou evidenciado nessa epidemia, foi um elevado número, principalmente de crianças, com outras doenças associadas, sendo acometida principalmente pelas formas graves da enfermidade. Segundo BRASIL, (2008) o agravamento da dengue na criança geralmente é súbito, onde os sinais de alarme não são facilmente identificados. Gráfico 02 - Casos notificados no município de Itabuna-Ba em 2009 Fonte: SINAN Ao observar o gráfico acima, evidenciou-se que, embora, 69% dos casos, foram concluídos, sejam classificando as formas da doença ou descartando a mesma, ainda temos um índice elevado de casos sem a devida conclusão do diagnóstico, o que nos deixa inseguros, quanto à efetividade das ações de saúde no município, pois, no caso da dengue, quanto mais precoce se estabelece o diagnóstico, melhor será a tomada de decisão e a implementação de medidas oportunas, a fim de evitar a gravidade da doença e consequentimente o óbito do indivíduo. 5. Desafios e perspectivas para o controle da doença A dengue representa uma das grandes preocupações da OMS, em virtude do grande número de notificação e de está disseminada em praticamente todas as nações. A principal medida de prevenção é o combate ao vetor, que deve ser realizado através da participação ativa da população para eliminar os possíveis reservatórios, que muitas vezes, está dentro das residências ou circunvizinhas a estas; aplicação de larvicidas pelo poder público municipal em depósitos de água que possam servir para a proliferação do vetor; em casos de epidemias a dispersão aérea de inseticidas para eliminar o mosquito adulto; e ainda medidas individuais, como o uso de repelentes, mosquiteiros e roupas que evitem a picada do mosquito, que tem atividade diurna; a notificação dos casos suspeitos favorece a mobilização de esforços para conter a epidemia; a vigilância sobre o vetor, para determinar o índice de infestação, a vigilância virológica para detecção de novos sorotipos do vírus na região, e o investimento em saneamento básico, são também importantes para o controle da epidemia. 6. Considerações Finais A dengue, é um problema de saúde pública mundial, e para conter essa epidemia, fazse necessário, ações conjuntas de ordem inter-setorial. É imprescindível que haja investimentos não apenas do setor saúde, mais sobretudo, na infra-estrutura das cidades, principalmente, através do saneamento básico, contribuindo para quebrar a cadeia epidemiológica de transmissão da doença, favorecendo desta forma, para a erradicação dessa, e de outras enfermidades, que encontram condições salutares para o seu desenvolvimento. Outro investimento importante, para conter doenças de diversas ordens, deve-se fazer na educação das pessoas, para que estas compreendam a responsabilidade que tem com a sua saúde e com a do próximo, de forma que, venha a favorecer, a compreensão dos indivíduos, que as ações individuais influenciam no coletivo, contribuindo de forma positiva ou negativa para a saúde da comunidade na qual está inserida. O município de Itabuna ainda é extremamente vulnerável à dengue, pois falta efetividade das ações de saúde e investimentos em infra-estrutura, capaz de conter a disseminação da doença na população. Espera-se portanto, que este artigo, venha despertar na comunidade e no meio acadêmico, a importância da participação dos mesmos, junto ao poder público municipal, como instrumento de controle social, favorecendo através das reivindicações, intervenções inter-setoriais a fim de melhorar as condições de vida e de saúde da população. 7. Referências Bibliográficas BRASIL, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?uf=ba>, acessado em set. 2010. BRASIL, Ministério da Saúde. Programa Nacional de Controle de Dengue. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=23614>, acessado em set. 2010. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Diretoria Técnica de Gestão. Dengue: Manual de Enfermagem - adulto e criança. Brasília, 2008. BRASIL, Prefeitura Municipal de Itabuna. Secretaria de Vigilância em Saúde. Investigação de Dengue no município de Itabuna. Sistema de Informação dos Agravos Notificáveis – SINAN. Itabuna, 2010. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido, 17ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia & Saúde. 6ª ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 2003.