Filosofia 2 SUMÁRIO DO VOLUME FILOSOFIA FILOSOFIA POLÍTICA 1. Introdução 2. Ética e política em Platão 2.1 A ética em Platão 2.2 Filosofia Ética e política em Platão 3. A ética de Aristóteles 3.1 A Ideia do Bem 3.2 As virtudes e o justo meio 3.3 Textos Filosóficos 4. Maquiavel e o príncipe político: atenção à realidade 4.1 Razão do Estado 4.2 Maquiavel e o Maquiavelismo 4.3 Leituras Filosóficas 5. Contratualismo 5.1 “O homem é o lobo do homem”: a visão pessimista de Thomas Hobbes 5.2 O Liberalismo Lockeano 5.3 “Isto é meu” - Rousseau e a crítica à propriedade privada 5.4 O Marxismo 5 5 7 7 9 11 11 12 13 15 16 17 17 20 20 23 26 29 Filosofia SUMÁRIO COMPLETO VOLUME 1 UNIDADE: FILOSOFIA POLÍTICA 1. Introdução 2. Ética e política em Platão 3. A ética em Aristóteles 4. Maquiavel e o príncipe político: atenção à realidade 5. Contratualismo VOLUME 2 6. Introdução ao estudo da estética: a filosofia e o problema do belo 7. As diversas concepções estéticas VOLUME 3 8. A filosofia contemporânea e seus principais temas 3 4 Filosofia Filosofia Introdução FILOSOFIA POLÍTICA 1. INTRODUÇÃO Disponível em: <www.ilnegoziogiuridico.it>. Acesso em: 23 dez. 2013. Entenderemos por política o conjunto dos esforços que se faz em vista de participar do poder ou influência. A divisão do poder entre os Estados ou entre os diversos grupos no interior de um mesmo Estado (Max Weber). A Filosofia Política trabalha com as questões que giram em torno do poder. Para tanto, filósofos elaboraram inúmeras teorias tentando explicar esse tema. No afresco acima, vemos uma obra de Ambrogio Lorenzetti intitulada Efeitos do Bom Governo na Cidade. A Filosofia Política trata das questões relacionadas à forma como os homens se organizam socialmente e buscam soluções para seus conflitos sociais, promovendo ações cujo objetivo é o bem comum. O campo da política pertence às reflexões sobre as diversas formas de poder, sobre os regimes políticos e as formas de governo. Segundo José Auri Cunha (2000, p. 125): O espaço da pólis era comum e público e incluía os costumes, as leis, os templos, os deuses e os heróis, as muralhas, o erário público, a administração dos serviços públicos, a organização da guerra, as atividades comerciais e a àgora, a praça onde se discutia e deliberava sobre todos os assuntos. Foi na pólis que existiu a primeira e talvez a única instituição de democracia direta na história. A ideia de poder é, portanto, inerente à ideia de política. Na verdade, não podemos entender o que seja política sem investigarmos o conceito de poder. Façamos uma reflexão acerca do poder na sociedade contemporânea. 5 Filosofia 6 Introdução Leiam a letra da música Toda Forma de Poder, de Humberto Gessinger: Eu presto atenção No que eles dizem Mas eles não dizem nada Fidel e Pinochet Tiram sarro de você Que não faz nada E eu começo achar normal Que algum boçal Atire bombas na embaixada Se tudo passa Talvez você passe por aqui E me faça Esquecer tudo que eu vi Se tudo passa Talvez você passe por aqui E me faça esquecer... Toda forma de poder É uma forma de morrer Por nada Toda forma de conduta Se transforma Numa luta armada A história se repete Mas a força deixa A história mal contada Se tudo passa Talvez você passe por aqui E me faça Esquecer tudo que eu vi Se tudo passa Talvez você passe por aqui E me faça esquecer... E o fascismo é fascinante Deixa a gente ignorante E fascinada E é tão fácil ir adiante Se esquecer Que a coisa toda tá errada. Pode-se dizer que o conceito de poder está associado ao de força? E o de política, pode estar associado ao de arbítrio? Outra questão: aquele que detém o poder pode usá-lo para alcançar seus próprios interesses? Como o poder se estabelece? Ele se amolda a outros componentes da vida humana como, por exemplo, a economia? Para responder a essas questões, vamos conhecer as principais teorias políticas e como os filósofos que as pensaram sustentaram as suas ideias. Começaremos por dois filósofos da Idade Antiga: Platão e Aristóteles. O primeiro afirmava que a cidade deve ser justa e que a justiça é o mais importante bem disponível ao homem. O segundo, que a nossa vida coletiva é fruto da própria natureza humana e que somos, por conseguinte, animais políticos. Maquiavel nos apresenta a política por ela mesma. Ao refutar as éticas grega e cristã, o filósofo de Florença funda a ciência política, pois lhe confere leis próprias. Sua obra O Príncipe, que acaba de completar 500 anos, é um dos mais conhecidos textos de filosofia. Depois, veremos como os contratualistas explicam a noção de governabilidade, escancarando, cada um ao seu modo, suas ideias e reflexões acerca do exercício do poder. Privilegiaremos os ingleses Thomas Hobbes e John Locke, ambos do século XVII, e o franco-suíço Jean-Jacques Rousseau, teórico do século XVIII. No último capítulo, teceremos considerações acerca do pensamento marxista e a sua crítica ao modelo liberal-burguês de fazer política. Centraremos atenção na plataforma metodológica do Materialismo Dialético para tentarmos ver como Karl Marx produziu seus principais conceitos. Filosofia Ética e política em Platão 2. ÉTICA E POLÍTICA EM PLATÃO Na filosofia platônica, pode ser ético apenas aquele que é sábio. Afinal, é o conhecimento, ao qual se chega pela razão, que leva o homem a ser virtuoso, isto é, a controlar seus desejos e sua ira. É esse controle que o leva a praticar o bem. Platão nasceu em uma família abastada e teria recebido uma educação totalmente voltada para a formação política. Na juventude, seu encontro com Sócrates foi determinante para que ele se tornasse filósofo. Pedro Berruguete (ca 1450-1504) – ‘Plato’ óleo sobre madeira -ca 1477, Paris Musée du Louvre. Disponível em: <http://viticodevagamundo.blogspot. com.br>. Acesso em: 13 dez. 2013. 2.1 A ética em Platão A ética platônica está ligada à ideia de virtude. Para Platão, apenas o homem virtuoso pode praticar o bem. E o que é o homem virtuoso? É aquele capaz de controlar, por intermédio da razão, as partes da alma responsáveis pela concupiscência e pela raiva. Platão justifica essa necessidade de predominância da parte racional da alma de duas maneiras. Uma delas relaciona-se ao fato de o filósofo entender que o desejo e a cólera, por despertarem os impulsos violentos do corpo, cegam a razão, que então se torna incapaz de conhecer e de distinguir a virtude do vício. A outra diz respeito à noção platônica de justiça, segundo a qual o melhor e o superior devem comandar o pior e o inferior. Como o elemento racional da alma é superior aos demais, é ele que prevalece. A razão, porém, não age diretamente sobre a concupiscência. Ela age sobre a parte irascível da alma, fazendo com que esta saiba o que é bom ou ruim para o corpo. De posse desse conhecimento, essa parte conduzirá a concupiscência a selecionar aquilo que for bom para o corpo. A alma colérica, quando conduzida pela razão, tem, como virtudes, a honra ou coragem e a prudência. O homem virtuoso é aquele que consegue harmonizar todas as partes de sua alma. Somente depois que essa harmonia for estabelecida é que a pessoa poderá agir virtuosamente. 7 8 Filosofia Ética e política em Platão Vejamos o próprio Platão: Depois de ter posto a sua casa em ordem, no verdadeiro sentido, de ter autodomínio, de se organizar, de se tornar amigo de si mesmo, de ter reunido harmoniosamente três elementos diferentes e de ligá-los a todos, tornando-os, de muitos que eram, numa perfeita unidade, temperante e harmoniosa, só então [o homem] se ocupe ou da aquisição de riquezas, ou dos cuidados com o corpo, ou da política ou de contratos particulares chamando justa e bela a ação que mantenha e aperfeiçoe estes hábitos, e denominando de sabedoria a ciência que preside esta ação. PLATÃO, A República. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 254. Nesse trecho, Platão declara que só depois de pôr a “casa em ordem” o homem é plenamente capaz de participar da vida coletiva. Não se deve pensar, no entanto, que o homem chegue a isso sozinho, em isolamento, para depois atuar comunitariamente. Para Platão, o mais sábio deveria governar a cidade. Este argumento está defendido no livro VII de A República, mais conhecido como o Mito da Caverna. Pieter Janszoon Saenreda (1597-1625), de acordo com Cornelis van Haarlem (1562-1630) — Alegoria da caverna (República) -desenho-1604 Wien-Graphische Sammlung Albertina ‘Plato’. Disponível em: <http://viticodevagamundo.blogspot.com.br>. Acesso em: 13 dez. 2013. A moderação dos apetites só se realiza na vida coletiva, isto é, na cidade, na pólis. Isso significa que a vida ética, no sentido verdadeiro do termo, somente tem a possibilidade de existir dentro da comunidade, nas relações estabelecidas entre os cidadãos. Filosofia Ética e política em Platão Anselm Feuerbach Friedrich (1829-1880) — Simpósio de Platão des ‘Plato’ óleo Gastmahl sobre tela-1869 Berlin-Alte Nationalgalerie. Disponível em: <http://viticodevagamundo.blogspot.com>. Acesso em: 13 dez. 2103. Essa noção conduz à conclusão de que a ética pública é superior à ética particular. Entender essa ideia é fundamental para compreender o modo como Platão define a política e o Estado. 2.2 Filosofia Ética e política em Platão Platão propõe a construção de um modelo em que a cidade, assim como o homem, deve ser justa. A política tem como finalidade a justiça, porque só assim se chegará ao bem comum. As duas obras mais extensas do filósofo, A República e Leis, levantam essas questões. O empenho em melhorar os cidadãos que moram em uma cidade justa concretiza-se em uma série de teses, a primeira das quais poderia ser a base de todas elas. Vejamos novamente Platão: Estamos modelando a cidade feliz, não para que um pequeno número chegue a esse estado, mas para que a cidade inteira o alcance. PLATÃO, A República. São Paulo: Abril Cultural, p. 129. Para isso, são necessários alguns requisitos. • Ter uma ideia clara da justiça, tal como é explicitada, por exemplo, na Apologia de Sócrates e, principalmente, nos dois primeiros livros de A República. • Superar a concepção tirânica da política, na qual alguns cidadãos impõem, pela força ou pelo engano, seu egoísmo. • Educar os homens, desde meninos, para a cidadania. Uma educação desse tipo levará os mais inteligentes e generosos ao poder. 9 Filosofia 10 Ética e política em Platão Exercícios de sala 1 Leia este texto, que se refere à ideia de cidade justa de Platão. “Como a temperança, também a justiça é uma virtude comum a toda a cidade. Quando cada uma das classes exerce a sua função própria, ‘aquela para a qual a sua natureza é a mais adequada’, a cidade é justa. Esta distribuição de tarefas e competências resulta do fato de que cada um de nós não nasceu igual ao outro e, assim, cada um contribui com a sua parte para a satisfação das necessidades da vida individual e coletiva. (...) Justiça é, portanto, no indivíduo, a harmonia das partes da alma sob o domínio superior da razão; no estado, é a harmonia e a concórdia das classes da cidade.” PIRES, Celestino. Convivência política e noção tradicional de justiça. In: BRITO, Adriano N. de; HECK, José N. (Orgs.). Ética e política. Goiânia: Editora da UFG, 1997. p. 23. Sobre a cidade justa, na concepção de Platão, é correto afirmar: a) Nela todos satisfazem suas necessidades mínimas, e inexistem funções como as de governantes, legisladores e juízes. b) É governada pelos filósofos, protegida pelos guerreiros e mantida pelos produtores econômicos, todos cumprindo sua função própria. c) Seus habitantes desejam a posse ilimitada de riquezas, como terras e metais preciosos. d) Ela tem como principal objetivo fazer a guerra com seus vizinhos para ampliar suas posses através da conquista. e) Ela ambiciona o luxo desmedido e está cheia de objetos supérfluos, tais como perfumes, incensos, iguarias, guloseimas, ouro, marfim etc. 2 Leia atentamente este texto: Mas a cidade pareceu-nos justa, quando existiam dentro dela três espécies de naturezas, que executavam cada uma a tarefa que lhe era própria; e, por sua vez, temperante, corajosa e sábia, devido a outras disposições e qualidades dessas mesmas espécies. — É verdade. — Logo, meu amigo, entenderemos que o indivíduo que tiver na sua alma estas mesmas espécies merece bem, devido a essas mesmas qualidades, ser tratado pelos mesmos nomes que a cidade. PLATÃO. A república. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. 7 ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993. p. 190. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a justiça em Platão, é correto afirmar: a) As pessoas justas agem movidas por interesses ou por benefícios pessoais, havendo a possibilidade de ficarem invisíveis aos olhos dos outros. b) A justiça consiste em dar a cada indivíduo aquilo que lhe é de direito, conforme o princípio universal de igualdade entre todos os seres humanos, homens e mulheres. c) A verdadeira justiça corresponde ao poder do mais forte, o qual, quando ocupa cargos políticos, faz as leis de acordo com os seus interesses e pune a quem lhe desobedece. d) A justiça deve ser vista como uma virtude que tem sua origem na alma, isto é, deve habitar o interior do homem, sendo independente das circunstâncias externas. e) Ser justo equivale a pagar dívidas contraídas e restituir aos demais aquilo que se tomou emprestado, atitudes que garantem uma velhice feliz. Filosofia 11 A ética de Aristóteles ÉTICA DE ARISTÓTELES Disponível em: <www.amaculahumana.blogger.com.br>. Acesso em: 13 nov. 2013. 3. A O tema principal da ética de Aristóteles é delimitar o que é o bem e o significado que ele tem para o homem. Somente quem conhece o bem é capaz de encontrar a felicidade, que, na filosofia aristotélica, não é um sentimento passageiro, e sim “obra de uma vida inteira”. Segundo Aristóteles, as ações políticas devem, sempre, privilegiar a busca da felicidade e do bem. Na imagem, vemos Aristóteles contemplando o busto de Homero. 3.1 A Ideia do Bem Aristóteles começa o mais importante de seus textos sobre o bem e sobre o comportamento dos homens, Toda arte estuda saber, assim como tudo que fazemos e escolhemos parece visar algum bem. Por isso, foi dito, com razão, que o bem é aquilo a que todas as coisas tendem. Mas há uma diferença entre os fins: alguns são atividades, ao passo que outros são produtos à parte das atividades que os produzem. Aristóteles, Ética a Nicômano, p. 128. Um dos pressupostos básicos da filosofia de Aristóteles defende que a vida atinge sua plenitude quando vivemos em comunidade. O homem é, segundo o aristotelismo, um ser naturalmente sociável. Na figura ao lado, vemos a capa do livro de Aristóteles A Política. Disponível em: <http://isuba.s8.com.br>. Acesso em: 13 nov. 2013. Ética a Nicômaco – provavelmente dedicado a seu filho –, com estas palavras: Filosofia A ética de Aristóteles Essa afirmação contém duas teses fundamentais da ética aristotélica: • Todas as coisas tendem ao bem, o que significa, na doutrina do filósofo, que o bem é a finalidade de todas as coisas. A segunda: chega-se ao bem por dois caminhos: a) pelas atividades práticas, isto é, aquelas que contêm seus próprios fins (ética e política); b) pelas atividades produtivas (artes ou técnicas). • Em relação à ética, o bem leva cada indivíduo a ser capaz de viver com os outros, na pólis. Em outras palavras, a ética, no campo individual, prepara terreno para a política, no campo coletivo. Para Aristóteles, a finalidade da política é a busca do bem de todos os homens. • E qual é o bem de todos os homens? “A felicidade”, responde Aristóteles. A felicidade, porém, não é um sentimento que aparece, instala-se e vai embora; ao contrário, é obra de uma vida inteira. Vejamos o que afirma sobre isso Marilena Chauí, uma das mais importantes comentadoras da obra de Aristóteles: O bem ético pertence ao gênero da vida excelente, e a felicidade é a vida plenamente realizada em sua excelência máxima. Por isso, não é alcançável imediata nem definitivamente, mas é um exercício cotidiano que a alma realiza durante toda a vida, de acordo com a sua excelência mais completa, a racionalidade. Marilena Chauí, Introdução à história da Filosofia, p. 442. 3.2 As virtudes e o justo meio Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com>. Acesso em: 16 dez. 2013. 12 A Ágora Grega era, na Grécia Antiga, o espaço destinado à vida pública e onde eram debatidos os assuntos relativos à política. Na foto acima, vemos as ruínas de uma praça pública em Atenas. A virtude (Areté) é a expressão maior da excelência de uma pessoa, de sua integridade, de sua identidade. A paixão, por outro lado, torna-a confusa, dividida entre desejos contrários, conflitantes, opostos. Alguém sob o domínio da paixão pode inclinar-se ao vício, que é o excesso ou a falta da paixão. A virtude é encontrar, pelo uso da razão, o meio-termo entre esses extremos, que Aristóteles chamou de justo meio. Suponha-se alguém dominado pelo prazer (que, para Aristóteles, é uma paixão). Esse alguém pode ser libertino (um dos extremos do prazer) ou insensível (o extremo oposto: falta de prazer). O justo meio, aqui, é a temperança, à qual se chega pelo uso da razão. A virtude, assim, está ligada à razão. E, como todo homem é dotado de razão, todo homem pode alcançar a virtude. Basta identificar a paixão que o domina, reconhecer seus extremos e procurar, racionalmente, seu justo meio. Filosofia 13 A ética de Aristóteles Disponível em: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com>. Acesso em: 16 dez. 2013. Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com>. Acesso em: 16 dez. 2013. A maior de todas as virtudes, diz Aristóteles, é a justiça. Sua força sobre as demais consiste em sua perfeição, porque quem é justo se projeta mais para o outro do que para si mesmo. Em outras palavras, tudo que protege o conjunto dos indivíduos (a sociedade) é mais importante do que aquilo que protege somente um dos membros dessa sociedade. Por isso, dos males, a injustiça é o maior, pois destrói o tecido social. Para Aristóteles era impossível separar a ideia de justiça, como a mais importante virtude, da prática da política, pois essa era o aprimoramento daquela. 3.3 Textos Filosóficos 3.3.1 A busca do bem O que é isso que dizemos ser o objetivo da Ciência Política, e o que é o bem supremo, alcançado pela atividade humana? Sobre seu nome, quase todo o mundo está de acordo, porque todos dizem — que é a felicidade e identificam o bem viver e o agir bem com o ser feliz. Porém diferem sobre o que é a felicidade, e o vulgo e os sábios não a explicam da mesma maneira. Porque o vulgo pensa que se trata de algo tangível e visível, como o prazer, a riqueza ou as honras; diferem, entretanto, uns dos outros — e frequentemente um mesmo homem a identifica com coisas diversas, com a saúde se está doente; com a riqueza se é pobre; Filosofia 14 A ética de Aristóteles De acordo com o texto de Aristóteles, é correto afirmar que a pólis: a) é instituída por uma convenção entre os homens. b) existe por natureza e é da natureza humana buscar a vida em sociedade. c) passa a existir por um ato de vontade dos deuses, alheia à vontade humana. d) é estabelecida pela vontade arbitrária de um déspota. e) é fundada na razão, que estabelece as leis que a ordenam. mas, conscientes de sua ignorância, admiram os que proclamam algum grande ideal que está acima de sua compreensão. Entretanto alguns pensam que, à parte desses muitos bens, existe outro que subsiste por si mesmo e que é causa de todos. 3.3.2 A Filosofia como conhecimento superior Aquilo que é o mais científico que existe é constituído por princípios e causas. Por meio deles, conhecemos as demais coisas. Porque a ciência soberana, a ciência superior a todas as demais é aquela que conhece para que cada coisa deve ser feita. E para saber que é o bem, o supremo bem em toda a natureza. De tudo o que acabamos de dizer sobre a própria ciência, vem a definição de filosofia que buscamos: é imprescindível que seja a ciência teórica dos primeiros princípios e das primeiras causas, porque uma das causas é o bem, a razão final. Que [a filosofia] não é uma ciência prática prova-o o exemplo dos primeiros que filosofaram. O que, no princípio, moveu os homens a fazer as primeiras perguntas filosóficas foi, como hoje, o espanto. Entre os objetos que lhes causavam espanto, voltaram-se primeiro aos que estavam a seu alcance; depois, avançando passo a passo, quiseram explicar fenômenos maiores, como as diversas fases da Lua, a trajetória do Sol e dos astros e, por último, a formação do Universo. Ir em busca de uma explicação é admirar-se, é reconhecer o que se ignora. Exercícios de sala 1 Leia este texto: Toda cidade [pólis], portanto, existe naturalmente, da mesma forma que as primeiras comunidades; aquela é o estágio final destas, pois a natureza de uma coisa é seu estágio final. (...) Estas considerações deixam claro que a cidade é uma criação natural, e que o homem é por natureza um animal social, e um homem que por natureza, e não por mero acidente, não fizesse parte de cidade alguma, seria desprezível ou estaria acima da humanidade. ARISTÓTELES. Política. 3. ed. Trad. De Mário da Gama Kuri. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1997. p. 15. 2 Observe esta imagem acompanha: e leia o texto que a Disponível em: <www.laerte.com.br>. Acesso em: 23 dez. 2013. “É evidente, pois, que a cidade faz parte das coisas da natureza, que o homem é naturalmente um animal político, destinado a viver em sociedade, e que aquele que, por instinto, e não porque qualquer circunstância o inibe, deixa de fazer parte de uma cidade, é um ser vil ou superior ao homem [...].” ARISTÓTELES. A política. Trad. de Nestor Silveira Chaves. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. p. 13. Com base no texto de Aristóteles e na charge, é correto afirmar: a) O texto de Aristóteles confirma a ideia exposta pela charge de que a condição humana de ser político é artificial e um obstáculo à liberdade individual. b) A charge apresenta uma interpretação correta do texto de Aristóteles segundo a qual a política é uma atividade nociva à coletividade devendo seus representantes ser afastados do convívio social. c) A charge aborda o ponto de vista aristotélico de que a dimensão política do homem independe da convivência com seus semelhantes, uma vez que o homem bastasse a si próprio. d) A charge, fazendo alusão à afirmação aristotélica de que o homem é um animal político por natureza, sugere uma crítica a um tipo de político que ignora a coletividade privilegiando interesses particulares e que, por isso, deve ser evitado. e) Tanto a charge quanto o texto de Aristóteles apresentam a ideia de que a vida em sociedade degenera o homem, tornando-o um animal. Filosofia Maquiavel e o príncipe político: atenção à realidade 4. MAQUIAVEL E O PRÍNCIPE POLÍTICO: ATENÇÃO À REALIDADE O saber político de Nicolau Maquiavel baseia-se na atenção à realidade, sem ilusões ou autoenganos. Ele se baseia nas coisas como são e no homem como este é, não nas coisas como deveriam ser e no homem como este deveria ser e atuar. Assim, Maquiavel abandona uma concepção normativa da política, habitual nos tratados anteriores e baseada na norma moral da razão ou no preceito da religião, para construir uma política positiva, empírica. A Vecchia Firenzi, óleo sobre tela de Daniel Ricci. Florença proporcionou a Maquiavel uma intensa vida política. Ocupando o cargo de Chanceler da cidade, o filósofo pôde vivenciar várias facetas da vida pública, que iria, posteriormente, incorporar nas suas análises de O Príncipe. Disponível em: <www.danielericci.com>. Acesso em: 16 dez. 2013. Trento D. DE SAVOYA TURÍN SALUZZO ASTI M. DE SALUZZO Bérgamo MILÁN D. DE MILÁN REP. DE GÉNOVA Trieste Verona Brescia VENECIA Padua MANTUA MÓDENA GÉNOVA Belluno REP. DE VENECIA IMPÉRIO OTOMANO FERRARA Parma M. DE MONFERRATO Niza Carintia Tirol Bolzano SUIZA Bolonia Rávena D. DE Forlì MÓDENA REP. DE FLORENCIA Lucca Livorno FLORENCIA SIENA REP. DE SIENA Ancona Perugia Foligno Terni L'Aquila Mar Adriático Pescara ESTADOS PONTIFICIOS Córcega Tremiti ROMA Foggia Latina Andria Asinara Sassari Isquia Salerno Potenza REINO DE NÁPOLES Mar Tirreno Cagliari Cerdeña Lipari (Territorio español) Mesina PALERMO Mar Mediterrâneo Sicilia REINO DE SICILIA Ragusa Reggio Catania Siracusa Pantelaria 0 0 50 100 Bari NÁPOLES 150 km 20 40 60 mi Lampedusa MALTA Monopoli Assim como o homem tem uma natureza fixa e permanente, a legalidade política também é constante, e o saber político pode ter valor universal. É por esse motivo que a história antiga e a realidade contemporânea podem extrair, da experiência, normas de comportamento político. Segundo Maquiavel, o homem é mau; suas paixões, em especial a ambição, levam-no, inevitavelmente, ao enfrentamento sempre disposto a se manifestar na ocasião oportuna; é o princípio do cálculo político. Brindisi Lecce Mar Jônico A Península Itálica no tempo de Maquiavel, século XVI. Observe a grande quantidade de reinos; cada um deles tinha um governante, que comandava seu próprio exército, seguia suas próprias leis e tinha seu sistema econômico. Essa intensa fragmentação impedia a península de se transformar em um território unificado. 15 Prezado leitor, Agradecemos o interesse em nosso material. Entretanto, essa é somente uma amostra gratuita. Caso haja interesse, todos os materiais do Sistema de Ensino CNEC estão disponíveis para aquisição através de nossa loja virtual. loja.cneceduca.com.br