De olho no aquecimento global

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Prática Pedagógica
De olho no aquecimento
global
Ao mostrar que o calor exagerado, as enchentes e as
secas podem ser obra do tão falado efeito estufa, você
desperta a atenção da turma para a poluição, que está
destruindo o planeta
Lucita Briza
Carlos Eduardo Matos
Mesmo vivendo num país
tropical, a maioria dos
brasileiros se preparou para
este verão com certa cautela
ao se lembrar de 2004. No
ano passado, a estação mais
quente do ano surpreendeu
a todos com temperaturas
baixas no Sudeste, secas no Sul e enchentes no Nordeste. Meses antes, os
europeus haviam enfrentado um calor recorde, que matou milhares de
pessoas, e, na Ásia, chuvas torrenciais deixaram milhares de vítimas. A ciência
diz que alguns fenômenos naturais, como flutuações periódicas do brilho
solar ou erupções vulcânicas têm efeito temporário sobre o clima. Mas há
fortes indícios, afirmam cientistas, de que o clima está mudando mesmo por
causa do crescente aquecimento global.
Se de um lado temos de enfrentar as conseqüências ameaçadoras desse
aquecimento, de outro convivemos agradavelmente no nosso dia-a-dia com
suas potenciais causas. Afinal, nós andamos de carro, ônibus ou avião, que
consomem combustíveis. Petróleo também foi queimado para produzir o
telefone, o computador, o aparelho de TV ou de som que usamos
diariamente. Assim, direta ou indiretamente, colaboramos para o aumento da
emissão de gases poluentes, que aceleram o chamado efeito estufa (veja
infográfico).
Pequenas forças que causam mudanças
A equipe do pesquisador James Hansen, da Nasa, a agência espacial norteamericana, calculou que a temperatura da Terra aumentou na proporção de
quase 2 watts por metro quadrado. Sabendo que uma pequena lâmpada de
árvore de Natal consome cerca de 1 watt, escreveu Hansen na revista
Scientific American, podemos imaginar que o aquecimento global equivale à
colocação de duas dessas lampadazinhas sobre cada metro quadrado da
superfície terrestre, acesas dia e noite, gerando um calor quase
imperceptível. Mas, advertiu ele, a história do clima terrestre revela que
pequenas forças, mantidas por longo tempo, podem causar grandes
mudanças climáticas.
Não foi por acaso que esquentaram as discussões sobre o aquecimento
global: na última década, uma média de 210 milhões de pessoas por ano
foram vítimas de catástrofes causadas por fenômenos naturais associados ao
clima, como ondas de calor, enchentes, incêndios florestais, furacões,
tornados e ciclones, revelou a Organização Meteorológica Mundial. O prejuízo
anual causado por esses desastres chegou perto de 40 bilhões de dólares, e
98% da população atingida vive em países em desenvolvimento.
Os perigos do aumento da temperatura
Ainda há muitas divergências sobre as previsões de transformação do clima e
as causas do aquecimento global, mas alguns números merecem destaque.
Dados do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), da
Organização das Nações Unidas (ONU), mostram que a temperatura global
aumentou em média 0,6 grau Celsius ao longo do século 20 e que a maior
parte desse aumento, 0,5 grau, ocorreu após 1950, sendo que os anos 1990
foram os mais quentes de toda a história.
As projeções do IPCC indicam que até o ano 2100 a temperatura da Terra
poderá esquentar entre 1,4 e 5,8 graus Celsius. Dependendo do ritmo e da
intensidade com que isso ocorrer, revelam as estimativas, dentro de décadas
ou séculos pode haver o derretimento gradual das calotas polares. Em
conseqüência, o nível do mar se elevará, fazendo submergir ilhas e colocando
em risco a população das zonas costeiras dos continentes, incluindo a das
grandes cidades. Com o planeta mais aquecido, prevê o IPCC, grandes
alterações climáticas se tornarão mais freqüentes. Mudanças nos padrões de
secas e chuvas acarretarão graves prejuízos para a agricultura; algumas áreas
de preservação ambiental entrarão em colapso e crescerão os riscos de
disseminação de epidemias em escala mundial.
Solução pode começar com o Protocolo de Kyoto
Em vista de tantos riscos, partiram da ONU propostas para estabilizar a
composição atmosférica sem causar um colapso na economia global. Uma
delas é o Protocolo de Kyoto, assinado no Japão em 1997, que entra em vigor
neste mês. O tratado prevê a diminuição de 5,2%, entre 2008 e 2012, no
lançamento dos gases causadores do efeito estufa na atmosfera. Foi decidido
que o documento só viraria lei depois que fosse aprovado por 55 países,
contanto que entre eles estivessem os responsáveis por pelo menos 55% da
emissão total de carbono na atmosfera global. Esse índice foi ultrapassado e
atingiu 61,6% em outubro, com a adesão da Rússia - que sozinha responde
por 17,4% da poluição mundial.
Já os Estados Unidos - estima-se que venha de lá cerca de 30% de todos os
poluentes lançados na atmosfera - não assinaram o protocolo, alegando que
a adaptação de suas empresas às normas ambientais resultaria em altos
índices de desemprego e que preferem tentar convencer as indústrias
poluidoras a adotar novas tecnologias. "Sem a participação dos Estados
Unidos, o protocolo fica enfraquecido e seu impacto será mais político do que
prático", avalia José William Vesentini, professor de Geografia da
Universidade de São Paulo. Para ele, é possível que o país só assuma esse
compromisso quando puder substituir o petróleo por outro combustível.
Teme-se que mesmo países desenvolvidos que assinaram o acordo, como a
Alemanha, não consigam cumprir as metas mínimas de controle ambiental
previstas para até 2012. Nesse ano, entra em vigor uma nova fase do tratado,
que atinge os países em desenvolvimento. O Brasil poderá então ser
pressionado em virtude do desflorestamento da Amazônia, que já é
responsável por 3% de todos os gases-estufa emitidos. A China, por sua vez,
deverá responder pela poluição industrial, que afeta seriamente suas cidades.
Brasil e China já se articularam em defesa do Protocolo de Kyoto.
Uso de energia não-poluidora é tendência
Em todos os países, é importante poupar energia. Isso inclui desligar a luz,
fechar rapidamente a porta da geladeira e até optar sempre que possível
pelo transporte coletivo. Também é necessário recuperar áreas degradadas: o
tratamento do lixo e do esgoto, além de evitar a poluição do solo e dos rios,
evita a concentração de metano na atmosfera. Outra idéia é baratear o uso,
na indústria e nos serviços, de energia limpa - a que não causa impacto no
ambiente para ser produzida ou consumida. Nas próximas décadas, diz
Vesentini, a tendência é diversificar as fontes de energia: biocombustível
(feito de álcool, mamona, babaçu etc.) para os veículos, talvez de início
misturados ao óleo diesel e, depois, puro; para usinas de eletricidade, energia
solar ou das marés.
Uma experiência desse tipo, relata o professor, já está sendo implantada na
Alemanha, onde o governo isenta de impostos consumidores que utilizam
energia solar em casa. As sobras do consumo doméstico vão para as
correntes públicas de energia e os donos das residências são pagos por isso.
Segundo o professor de Química Roosevelt K. Fujikawa, de São Paulo,
indústrias automobilísticas, prevendo o esgotamento do petróleo, vêm
desenvolvendo uma alternativa limpa. "Células de combustível - uma espécie
de pilha - geram eletricidade pela reação química entre o gás hidrogênio e o
oxigênio do ar", explica. O automóvel é movido por um motor elétrico que
tem como produto apenas a água.
Plano de aula
Progresso pode trazer benefício e poluição
Se ninguém defende a destruição da natureza ou o aquecimento do nosso
planeta, por que é tão difícil resolver os problemas ambientais que nós
mesmos causamos? A pergunta pode levar os alunos da 8ª série a se
conscientizar das questões econômicas e ambientais e a perceber como é
difícil opinar sobre elas. A sugestão de atividade para as aulas de Geografia e
Ciências é de Antônio Carlos de Carvalho, professor de Geografia do Colégio
Equipe, em São Paulo.
Raramente as pessoas se dão conta de que o acesso a bens e produtos hoje é
bem maior que antigamente e de que esse consumo exagerado leva à
exploração de recursos naturais finitos e à queima de combustíveis. Para
levantar essa discussão, você, professor de Geografia, pode pedir aos
estudantes que elaborem três listas: a primeira, com jogos, brinquedos e
eletrodomésticos que têm em casa; as demais com o que seus pais e avós
possuíam quando eram adolescentes. As relações devem ser comparadas e
discutidas em classe. Em seguida, oriente os alunos a estudar quais são e de
onde vêm os principais recursos naturais (matérias-primas e fontes de
energia) utilizados na fabricação de alguns dos produtos enumerados. Peça
ao professor de Ciências para discutir com a turma sobre os principais
poluentes gerados na fabricação desses produtos e as conseqüências disso
para as pessoas e o meio ambiente.
Análise de caso ajuda a classe a refletir
Os problemas ambientais têm a ver com o nosso modo de vida e para
resolvê-los é necessário mudar hábitos de consumo. O atual modelo de
desenvolvimento trouxe benefícios e bem-estar, e é difícil a maioria abrir mão
de serviços e produtos com os quais os avós nem sonhavam quando eram
jovens.
Para que os estudantes percebam isso, reúna-os em grupos e apresente a
seguinte questão: numa cidade (real ou fictícia) de cerca de 50 mil habitantes,
com sérios problemas de infra-estrutura e alto índice de desemprego, surge a
proposta de instalação de uma usina siderúrgica, um dos tipos de indústria
que mais poluem a atmosfera. Elabore e distribua aos alunos um texto
caracterizando a cidade. Baseie-se em seu município ou pesquise dados como renda per capita, escolas e hospitais, saneamento básico, população
urbana/rural, arrecadação - de uma cidade desse porte no Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE).
Ressalte no texto os benefícios econômicos que a empresa poderá trazer.
Cada grupo discutirá os prós e contras da instalação da indústria e decidirá se
é favorável ou não a ela. Reúna a turma e o professor de Ciências para um
debate em que representantes dos grupos apresentarão um relatório
resumindo os argumentos a favor e contra a instalação da usina. Conclua
com um plebiscito.
Para avaliar, solicite a cada grupo um relatório apresentando as justificativas
para a decisão. Dessa maneira, você verifica como as etapas anteriores foram
desenvolvidas e se a questão proposta foi ou não bem respondida. O
plebiscito também permite avaliar coletivamente a resposta da 8ª série, além
de apontar a necessidade de posicionamentos individuais e coletivos para
que ocorram mudanças efetivas.
Quer saber mais?
Contatos
Antônio Carlos de Carvalho, e-mail: [email protected]
Bibliografia
Atualidades Vestibular 2005, 242 págs., Ed. Abril, tel. (11) 3037-6049, 16,90 reais
Revista Scientific American Brasil, nº 23 (abril de 2004), Ed. Duetto, tel. (11) 3039-5633, 8,90 reais
Sociedade e Espaço, J. William Vesentini, 384 págs., Ed. Ática, tel. (11) 3346-3000, 69 reais
Endereço da página:
https://novaescola.org.br/conteudo/1067/de-olho-no-aquecimento-global
Links da página
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0179/aberto/aquecimento_pop.htm
Publicado em NOVA ESCOLA 01 de Fevereiro de 2005
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