ATUAÇÃO DOS ENFERMEIROS NO CONTROLE DE UM SURTO DE DENGUE NO MUNICÍPIO DE PIRIPIRI-PI INTRODUÇÃO A dengue é uma doença infecciosa febril aguda benigna na maior parte dos casos. É causada pelo vírus do grupo Flavivírus, transmitida ao homem através da picada do mosquito vetor Aedes aegypti. Existem três sorotipos virais (DENV1, DENV2 e DENV3) e vulnerabilidade para a introdução do sorotipo DENV4. Após a transmissão, existe um período de incubação de dois a sete dias; o ciclo de multiplicação viral dura em media 18 horas (FIGUEIREDO, 2005). Os primeiros registros de dengue no mundo foram feitos no fim do século XVIII, no Sudeste Asiático, em Java e nos Estados Unidos, na Filadélfia. Mas não se atribuiu ao dengue a importância conferida a outras doenças topicais, coma a febre amarela o à malária. A Organização Mundial da Saúde (OMS) só o recebeu como doença no século XX, quando houve vários índices epidêmicos no Sudeste Asiático e o aparecimento da forma hemorrágica da doença. O aumento do numero de casos deu-se principalmente por causa das alterações demográficas – crescimento populacional incontrolado, intensa urbanização, abastecimento de água precário, reservatórios de água domésticos e recolhimento de lixo inadequado. Atualmente mais de 2,5 bilhões de pessoas vivem em áreas com risco de transmissão (VIANA et al, 2010). Ainda de acordo com Viana et al (2010), depois da malária, a dengue é considerada a doença mais importante transmitida por artrópodes. Registros atuais indicam como regiões mais acometidas a Ásia, as ilhas do Pacífico, a Índia, a China, a África, o norte da Austrália e a América Latina. O Aedes aegypti, inseto transmissor da doença ao homem, tem origem africana. Na verdade, quem contamina é a fêmea, pois o macho se alimenta apenas de seivas de plantas. A fêmea precisa da albumina (substância do sangue) para completar o processo de amadurecimento de seus ovos. O mosquito apenas transmite a doença, mas não sofre sés efeitos (FIGUEIREDO, 2008). O mesmo cita que seu aspecto é parecido com o do pernilongo, mas possui listras brancas em seu corpo e só pica durante o dia. Ele desenvolve sua fase larvária em coleções de água como poço, caixas d’água, vasos de jardins, tambores, pneus e outros recipientes. No entanto, esses ovos podem resistir por mais de seis meses nas paredes secas dos recipientes até ter contato com água e se transformar em mosquito. Dessa forma, sua disseminação pelo planeta foi possibilitada pelo comercio internacional, já que o mosquito tem autonomia de vôo muito limitada. A transmissão pode dar-se também pelo Aedes albopictus espécie que se produz no mesmo tipo de reservatório e também em coleções naturais de água o em ambiente silvestre. O seu papel na transmissão da dengue é secundário, mas representa uma ameaça por sua capacidade de adaptar-se às regiões temperadas (VIANA et al, 2010). O vírus do dengue precisa de tempo para se manifestar no homem ou mesmo para infectar o mosquito transmissor. A idade ideal para o mosquito transmitir a doença é após trinta dias de vida – seu ciclo total demora 45 dias (VIANA et al, 2010). Segundo Figueiredo (2005), uma vez contaminado, um ser humano passa de 2 a 15 dias até sentir os sintomas da doença. Não ocorre infecção de pessoa a pessoa. Os clientes são infectantes para o mosquito até o quinto dia da doença. O período de incubação varia de três a seis dias, podendo estender-se até o 15º dia. A suscetibilidade é geral, e a imunidade é de longa duração e sorotipo específica. De acordo com Brasil (2002), “surto epidêmico é a ocorrência de dois ou mais casos epidemiologicamente relacionados”. As epidemias caracterizam-se pelo aumento do número de casos, principalmente no verão, quando as condições ambientais favorecem a proliferação dos transmissores. Em certos casos, em especial em situação de hiperendemia, com circulação simultânea de mais de um sorotipo, pode haver aumento de casos de evolução mais grave, chamando de dengue hemorrágico. O município de Piripiri situa-se na Região Norte do Estado do Piauí, micro-região econômica do baixo Parnaíba, apresentando uma área geográfica de 1.286.46 Km2. Faz limites ao norte com Brasileira, ao sul com Capitão de Campos, ao leste com Pedro II, Lagoa de São Francisco e Domingos Mourão e a Oeste com Barras, Boa Hora e Batalha. A sua população residente, de acordo com estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para o ano de 2009 é de 62.110 habitantes. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Piripiri - Pi, citado no plano de contingência, o município tem apresentado índices de notificação oscilantes nos últimos cinco anos. A dengue tem se apresentado em grande parte dos casos confirmados na forma clássica, entretanto, houve casos de dengue hemorrágica e de dengue com complicação hemorrágica em âmbito municipal. O município de Piripiri apresenta cerca de 60% de sua população em zona urbana e o Brasil 80%. De acordo com a infra-estrutura, o país apresenta importantes aspectos como dificuldade para garantir o abastecimento regular e contínuo de água e a coleta e o destino adequado dos resíduos sólidos. E ainda, outro aspecto de grande relevância é a presença de condições climáticas favoráveis. OBJETIVOS Geral: -Realizar uma exposição da situação e da atuação dos enfermeiros no município de Piripiri frente a um surto de dengue; Específicos: -Avaliar a relação entre o risco de ocorrência do dengue e as relações climáticas no município; -Descrever a distribuição de acordo com os fatores mais importantes dos casos de dengue no município; -Observar as ações implementadas pelos gestores do município com o intuito de controlar o surto; -Disseminar informações sobre o surto do município; METODOLOGIA Trata-se de um trabalho descritivo de abordagem quantitativa realizado no município de Piripiri, localizado na região norte do Piauí, distante 165 Km da capital Teresina. Apresenta uma população de 62.291 habitantes conforme a estimativa do censo de 2000 do IBGE, distribuída em 64% na zona urbana e 36% na zona rural. Esse contingente populacional é assistido com os serviços oferecidos por um hospital geral de médio porte, um centro de saúde e 19 unidades básicas, onde funcionam 23 equipes de saúde da família. Todos são unidades notificadoras para o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). A porta de entrada preferencial para atendimento da pessoa com suspeita de dengue é a Atenção Primária, ou seja, a unidade básica de saúde, porém, todos os serviços de saúde devem acolher os casos, classificar o risco, atender, e, se necessário, encaminhar para o serviço compatível com a complexidade e necessidade do paciente, responsabilizando-se por sua transferência. No município de Piripiri, a Secretaria Municipal de Saúde é o órgão gestor das ações básicas de saúde e, por meio da Divisão de Vigilância Epidemiológica, gerencia o SINAN. A vigilância é um importante instrumento para o planejamento, organização e operacionalização dos serviços de saúde, executa funções de forma contínua que possibilita conhecer o comportamento epidemiológico da doença ou agravo como alvo das ações e que as medidas de intervenção sejam desencadeadas com oportunidade e eficácia. E com a análise e interpretação dos dados processados recomenda as medidas de controle apropriadas. De forma rotineira, as Estratégias de Saúde da Família encaminham suas informações sobre ocorrência de agravos para a DVE, e suas amostras de sangue para o laboratório local, onde são centrifugadas e armazenadas para que toda quinta-feira, em carro próprio da SMS, sejam encaminhadas ao Laboratório Central (LACEN) em Teresina. O que é importante, pois vai confirmar os casos suspeitos ou descartá-los laboratorialmente. Outro fator fundamental na conclusão dos casos notificados é o retorno oportuno dos resultados ao município. O município de Piripiri, considerando os índices de incidência de dengue em sua área, elaborou, de forma pioneira, no ano de 2007 seu primeiro Plano de Contingência para a Dengue. Como já citado, a cidade apresenta condições epidemiológicas que favorecem a reprodução do vetor e a conseqüente proliferação da dengue. RESULTADOS E DISCUSSÃO Gráfico 1. Número de casos notificados, confirmados e óbitos da dengue no município de Piripiri - Pi no período de 2007 a 2011. Monitoramento do Dengue 1000 928 900 800 700 600 515 500 400 Confirmados Óbitos 350 300 Notificados 200 100 96 0 2007 142 5 2008 111 5 2009 138 79 2010 0 2011 O gráfico 01 nos mostra que nos anos de 2007 a 2010 houve um declínio no número de notificações, o que indica a falta de atenção à doença. Já a partir do ano de 2010 a 2011 houve um acréscimo nas notificações, um indicador de que todos estão mais sensíveis ao problema, o que é muito bom para o município que pode vim a estar buscando alternativas de prevenção e controle da dengue. O mesmo pode ser percebido nos casos confirmados. Isso demonstra que a atuação do enfermeiro a cerca dessa problemática no nosso município foi e continua sendo de grande valia, pois essa categoria recebe o cliente/paciente nas Estratégias Saúde da Família (ESF) para realização da consulta e nos casos de suspeita da doença é feita a notificação da mesma, além disso o paciente é encaminhado para realização de exames laboratoriais, para a confirmação da doença. O gráfico nos mostra ainda que esses números de notificação aumentaram pelo fato do enfermeiro se mostrar cada vez mais atuante, já que o mesmo é titulado como coordenador da unidade básica de saúde, e também realiza o atendimento dos casos suspeitos da doença, como já citado acima, dando a devida importância para a notificação que é um documento obrigatório. Os enfermeiros além de presentes nas ESF, ainda tem participação ativa na elaboração da estratégia para o controle do surto dentro da vigilância epidemiológica. É importante ressaltar que não houve encerramento de casos por óbito e que poucos casos foram encerrados com classificação final ignorada. Gráfico 02. Número de casos na zona urbana e na zona rural Observando o gráfico 02, vemos que a população da zona urbana é mais acometida pela doença, o que pode ser um sinal de que a população dessa área precisa dar mais importância aos cuidados relacionados aos criadouros em seu domicílio. Gráfico 03. Número de casos confirmados de acordo com o grau de escolaridade O gráfico 03 nos mostra que a população com um grau de escolaridade mais baixo é que tem o maior número de casos da doença. Isso pode se dá pelo fato de que essa parte da população tem pouco conhecimento acerca da doença, das medidas de prevenção e cuidados em relação a mesma, acarretando a disseminação da doença. Sem deixar de ressaltar que muitas vezes a doença é negligenciada pela população. O aumento do numero de casos se deu também pelo crescimento populacional incontrolado, pela intensa urbanização e abastecimento de água precário, reservatórios de água domésticos, recolhimento de lixo inadequado, fatores mais freqüentes em residentes de baixa escolaridade, assim tudo isso aumenta o risco de transmissão da dengue. Gráfico 04. Número de casos confirmados por faixa etária; Analisando o gráfico 04, percebemos que as faixas etárias mais acometidas pela dengue no município de Piripiri - Pi são os adultos (19 a 59 anos), seguidos pelas crianças (0 a 12 anos). Isso pode ser explicado pelo fato de que os adultos são mais ativos, socializam-se com diferentes tipos de lugares (casa, trabalho, lazer, escola e viagens), tornando-se assim pessoas mais suscetíveis. Já as crianças, podem se encaixar nessa problemática por terem uma deficiência no sistema imunológico, fato esse que propicia um grande nível de suscetibilidade. Porém, apesar de na análise percebemos que algumas faixas etárias apresentaram mais casos que as demais, a dengue é uma doença multicausal, que não escolhe faixa etária para seu acometimento. Gráfico 05: Tipos de complicações que mais acometem os pacientes de dengue no município de Piripiri - Pi Hemorragia digetiva; 1 Derrame cavitario; 2 O gráfico 05 nos mostra que as complicações da doença foram muito poucas, manifestando-se apenas em dois tipos, e totalizando apenas 3 casos em todo o total geral de casos confirmados. O que é de grande valia tanto para a recuperação da própria pessoa acometida pela doença, quanto para a saúde municipal. Gráfico 06. Número de complicações segundo faixa etária COMPLICAÇÕES (IDADE) 1 1 1 1 7 8 1 1 1 11 16 63 Observando o gráfico 06, pode-se perceber que a dengue é uma doença multicausal, e que não escolhe faixa etária para acometer ou gerar complicações. Gráfico 07. Número de complicações de acordo com o grau de escolaridade COMPLICAÇÕES (GRAU DE ESCOLARIDADE) Analfabeto 1 1 1 1 2 1ª a 4ª série incompleta do EF 5ª à 8ª série incompleta do EF Ensino fundamental completo O gráfico 07 evidencia que a população menos esclarecida, que nunca estudou ou que não conclui nem sequer o ensino fundamental menor é que mais tem casos de dengue com complicações. Talvez pelo fato da falta de esclarecimentos, e de que cuidados tomar no tratamento da doença. Gráfico 08. Número de internações por dengue INTERNAÇÕES 600 500 498 400 300 Internçoes 200 100 0 16 Casos confirmados Internações por denge Analisando o gráfico 08, podemos perceber que em relação ao número de casos confirmados de dengue, o número de internações foi mínimo. O que pode ser um demonstrativo de que a maioria das pessoas acometidas pela doença seguiram a risca o tratamento e conseguiram êxito no mesmo apenas a nível domiciliar. Gráfico 09. Número de casos confirmados que tiveram cura ou não EVOLUÇÃO DOS CASOS 600 500 400 300 200 100 0 498 498 Evolução dos casos 0 4 O gráfico 09 nos deixa bem claro que houve cura em 100% dos casos confirmados de dengue no município, e que não aconteceu nenhum óbito. Isso é de grande relevância a âmbito de saúde municipal. CONCLUSÃO Diante do que foi exposto, pode-se concluir, que na tomada de decisões é importante obter conhecimento sobre a situação de saúde e seus fatores determinantes, para que se possa planejar e organizar as ações. Através do acompanhamento dos serviços de saúde e da ação dos enfermeiros, pode-se detectar um surto de dengue no município, e com medidas implementadas pelos profissionais e pelos gestores, formular um plano para que a doença fosse controlada e para que nos próximos anos não ocorresse novamente outro surto. Com isso foi criada uma rede assistencial, que tem o objetivo de organizar a assistência e a logística de contingência para a dengue no nível municipal, de forma que os mesmos possam responder rapidamente diante de uma situação de risco de ocorrência e vigência de epidemia, proporcionando o atendimento adequado aos pacientes. Através do plano de contingência criado pela gestão e plenamente implementado pelas equipes de saúde da família coordenadas pelos enfermeiros do município, foram criadas algumas metas a serem alcançadas, como: desenvolvimento de ações de comunicação e de mobilização social que devem ser conduzidas de forma intersetorial, com apoio de entidades da sociedade organizada; estabelecimento de estratégias e mecanismos de capacitação pela SMS, a fim de garantir que os profissionais de saúde envolvidos nas áreas de assistência, vigilância epidemiológica, controle vetorial, comunicação e mobilização social sejam preparados para o enfrentamento da dengue; supervisões às ESF e reuniões periódicas de monitoramento; apoio e realização de capacitação dos profissionais de saúde envolvidos nas atividades de assistência, vigilância epidemiológica, controle de vetores e comunicação e mobilização; e garantia de acesso dos pacientes aos serviços sob gestão municipal conforme plano, incluindo suporte laboratorial. Assim, espera-se que com a execução dessas ações a dengue seja controlada no município de Piripiri, a fim de que não venham a ocorrer mais surtos. REFERÊNCIAS Figueiredo NMA. Ensinando a cuidar em saúde pública. São Caetano do Sul: Yendis Editora; 2005. Figueiredo NMA, Viana DL, Machado WCA. Tratado prático de enfermagem. 2. Ed. São Caetano do Sul: Yendis Editora; 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Diretrizes nacionais para prevenção e controle de epidemias de dengue. Brasília: Ministério da Saúde; 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. Ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2010. Viana DL, Leão ER, Almeida de Figueiredo NM. Especializações em enfermagem: atuação, intervenção e cuidados de enfermagem. Volume II. São Caetano do Sul: Yendis Editora; 2010. BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica. 5 ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2002.