Universidade Federal Fluminense ÉRICK BARBOSA DE SOUZA Otimização do plano de tratamento por radioterapia em pacientes com gliomas via algoritmos genéticos. Volta Redonda 2015 ÉRICK BARBOSA DE SOUZA Otimização do plano de tratamento por radioterapia em pacientes com gliomas via algoritmos genéticos. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Modelagem Computacional em Ciência e Tecnologia da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Modelagem Computacional em Ciência e Tecnologia. Área de Concentração: Modelagem Computacional. Orientador: Prof. Tiago Araújo Neves, D.Sc. Coorientador: Prof. Gustavo Benitez Alvarez, D.Sc. Universidade Federal Fluminense Volta Redonda 2015 S719 Souza, Erick Barbosa de. Otimização do plano de tratamento por radioterapia em pacientes com gliomas via algoritmos genéticos. / Érick Barbosa de Souza. – Volta Redonda, 2015. 69 f. il. Dissertação (Mestrado em Modelagem Computacional) – Universidade federal Fluminense. Orientador: Tiago Araújo Neves. Coorientador: Gustavo Benitez Alvarez. 1. Otimização. 2. Algoritmos genéticos. 3. Métodos de diferenças finitas. 4. Câncer. 5. Modelo glioma. 5. Radioterapia. I. Neves, Tiago Araújo. II. Alvarez, Gustavo Benitez. III. Título. CDD 519.4 À minha mãe, senhora Isabete. Agradecimentos A Deus, por tudo que sou e tudo que tenho. A minha família, meus pais e irmãos e a todos a quem considero como tal. Em especial, agradeço minha noiva, Núbia, por todos os anos de companheirismo. Aos professores da UFF que me deram a base fundamental para minha vida acadêmica e prossional. Além do conhecimento técnico, eles me passaram valores e inspiração. Ao programa Altos Estudos e a todos os envolvidos em sua construção e manutenção. Neste programa tive uma das melhores experiências acadêmicas. Aos amigos que estiveram comigo durante minha jornada na UFF. Em geral, a todos que se envolveram direta ou indiretamente em minha formação e na concretização deste trabalho. Resumo Gliomas são tumores cerebrais altamente agressivos, eles invadem extensivamente o tecido normal antes do aparecimento de qualquer sintoma. Este trabalho tem como proposta construir um algoritmo genético capaz de encontrar o melhor tratamento por radioterapia através de um simulador que avalia o crescimento do raio do glioma ao longo do tempo, considerando os efeitos da radiação. Na construção deste simulador foi necessário implementar o método de diferenças nitas para resolver numericamente a equação que modela o fenômeno em questão. O simulador construído serve como função objetivo do algoritmo genético implementado, visto que o algoritmo irá escolher o melhor plano de tratamento com base no tamanho do raio do glioma no nal de um determinado período. O algoritmo genético proposto teve sua convergência testada, encontrando o melhor tratamento conhecido na literatura. Foram feitos testes com 15 instâncias diferentes e os resultados encontrados são compatíveis com os descritos pela literatura. Todo o trabalho baseia-se na premissa de que os pacientes estão em estágio terminal, logo a otimização teve como objetivo encontrar o tratamento que reduz ao máximo o tamanho do glioma e, consequentemente, aumentando seu tempo de sobrevida. Abstract Gliomas are highly aggressive brain tumors, they invade normal tissue extensively before the pacient feel any symptoms. This paper aims to build a genetic algorithm able to nd the best radiation therapy plan for the treatment of glioma through a simulator that evaluates the glioma growth over time considering the eects of radiation. In the construction of this simulator it was necessary to implement the nite dierence method to numerically solve the equation that governs the phenomenon. The glioma growth simulator is objective function of genetic algorithm implemented to choose the best treatment plan based on glioma radius at the end of a given period. The convergence of the proposed genetic algorithm was tested by nding the best treatment known in the literature. Tests were done using 15 dierent instances and the results are consistent with those described in the literature. All work is based on the premise that patients are terminally ill, so the goal of this optimization is to nd the treatment that cause the maximum reduction of glioma size and consequently increasing the survival time. Palavras-chave 1. Otimização 2. Algoritmos Genéticos 3. Método de Diferenças Finitas 4. Câncer 5. Modelo Glioma 6. Radioterapia Glossário α : Sensibilidade aos efeitos da radioterapia ρ : Coeciente de proliferação A.G. : Algoritmo genético c1 : Coeciente de saturação Cik : Concentração de células cancerígenas no tempo k, posição i no domínio discretizado d : Dose aplicada D : Coeciente de difusão DW : Coeciente de difusão sob a matéria branca do cérebro DG : Coeciente de difusão sob a matéria cinza do cérebro F : Matriz formada por indivíduos gerados Gy : Quantidade total de radiação absorvida pelo tecido biológico m : Número de nós no domínio espacial nAG : Número de lhos gerados nd : Número de frações N : Número de indivíduos na população do algoritmo genético P : Matriz formada pela população inicial q : Medida de ecácia do tratamento por quimioterapia R : Probabilidade de morte das células cancerígenas Rd : Razão entre a dose nal e inicial do tratamento RM in : Raio mínimo no processo de descartar as melhores soluções S : Probabilidade de sobrevivencia das células cancerígenas w : Número de nós no domínio temporal Sumário 1 2 3 4 Introdução 10 1.1 Metodologia e Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.2 Organização do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Câncer e radioterapia 13 2.1 Câncer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2.2 Radioterapia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Trabalhos relacionados 17 3.1 Algoritmos genéticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 3.2 Modelagem matemática do câncer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Metodologia 29 4.1 Algoritmo genético proposto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 4.1.1 32 Função Objetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.1.1.1 Modelo de crescimento do câncer com radioterapia . . . . 32 4.1.1.2 Método de diferenças nitas . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 4.1.1.3 Estudo prévio da função objetivo . . . . . . . . . . . . . . 38 4.1.2 População inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 4.1.3 Seleção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 4.1.4 Crossover . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 4.1.5 Mutação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 4.1.6 Reposição 48 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sumário ix 5 51 6 Resultados e discussões 5.1 Vericação da convergência do algoritmo genético . . . . . . . . . . . . . . 51 5.2 Algoritmo aplicado as instâncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 5.2.1 Instâncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 5.2.2 Otimização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 Conclusões e trabalhos futuros Referências 62 65 Capítulo 1 Introdução Mais de 100 doenças são chamadas de câncer, tendo em comum o crescimento desordenado de células que invadem tecidos e órgãos. Pelo fato de se dividirem rapidamente, células cancerígenas tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores malignos, que podem se espalhar para outras regiões do corpo [1]. No ano 2000, 10 milhões de pessoas ao redor do mundo foram diagnosticadas com câncer. Estima-se que o câncer é responsável por cerca de 10% das mortes em todo o mundo, sendo a segunda maior causa de morte após doenças cardiovasculares. O câncer na língua, na mama, no intestino grosso, estômago e fígado estão entre os tipos de câncer de maior ocorrência, em ordem decrescente, no mundo [2]. Dentre os diferentes tipos de câncer, gliomas são tumores cerebrais capazes de invadir extensivamente o tecido normal antes do aparecimento de qualquer sintoma. Glioblastomas pertencem a classe de gliomas altamente agressivos, caracterizados por seu rápido crescimento e alta taxa de invasão. Na maioria dos casos chega-se a óbito com um tempo médio de sobrevivência de 10 a 12 meses depois do diagnóstico e do tratamento [3]. Na suspeita de um tumor cerebral recomenda-se o uso de imagens de ressonância magnética para denir características como tamanho e localização, informações que auxiliam o diagnóstico do câncer [4]. A radioterapia é um tratamento de câncer que faz uso de altas doses de radiação para eliminar células cancerígenas e mitigar seus danos no organismo [5, 6]. Mas junto ao benefício oferecido pelo tratamento, o paciente pode sofrer os efeitos colaterais provenientes da exposição do organismo à radiação. Os efeitos colaterais da radioterapia ocorrem devido à aplicação de altas doses de radiação em células sadias causando ao paciente reações como náusea, fadiga, inchaço e alterações urinárias, sendo que tais efeitos estão diretamente relacionados a área de aplicação da radiação. O tratamento pode ser realizado com o ob- 1.1 Metodologia e Objetivos 11 jetivo de curar, interromper ou diminuir o crescimento do tumor. Quando não é possível haver cura, o tratamento pode ser utilizado para diminuir o volume do tumor e controlar os sintomas causados pelo câncer. Este trabalho aborda a otimização do plano de tratamento por radioterapia em pacientes com glioma e que se encontram em estágio terminal. São utilizadas simulações computacionais para avaliar o crescimento do glioma ao longo do tempo e um algoritmo genético é proposto para encontrar o plano de tratamento que reduza ao máximo o raio do glioma. A relevância desde trabalho se dá pelo fato de não haver necessidade de expor pacientes reais a diferentes tratamentos que poderiam causar danos irreversíveis à saúde. A disponibilidade de modelos matemáticos que descrevem o crescimento do glioma e de ferramentas de otimização compatíveis a abordagem foi a grande motivação deste trabalho, cujo resultado pode trazer informações importantes ao planejamento do tratamento. 1.1 Metodologia e Objetivos O principal objetivo desta dissertação é encontrar o melhor plano de tratamento por radioterapia para um paciente. O melhor plano será aquele capaz de reduzir ao máximo o tamanho do tumor de um paciente em estado terminal e, desta forma, trazendo um aumento do tempo de sobrevida deste. Para tanto, será utilizado um algoritmo genético [7], ferramenta de otimização que busca no conjunto de soluções possíveis a melhor solução segundo critério(s) estabelecido(s). Todos os dados relacionados ao crescimento do tumor são gerados através da simulação computacional. A grande vantagem da simulação é que seu uso dispensa a utilização de pacientes reais para realizar os inúmeros testes que poderiam causar danos irreversíveis a saúde do paciente, ao invés disso pacientes virtuais são submetidos a análise. Vale ressaltar que o estudo realizado com as simulações não é conclusivo, desta forma a conrmação experimental se faz necessária. Os algoritmos apresentados neste trabalho foram implementados no ambiente MatLab R da MathWorks. 1.2 Organização do trabalho Este trabalho está dividido em seis capítulos, o primeiro e atual capítulo dá ao leitor a introdução ao trabalho escrito, oferecendo uma idéia inicial do conteúdo geral da obra. Há também a descrição dos objetivos e a metodologia utilizada. Os demais capítulos são 1.2 Organização do trabalho 12 descritos com maiores detalhes a seguir: • Capítulo 2: Este capítulo apresenta a contextualização do problema de forma que o leitor conheça um pouco mais sobre os conceitos relacionados ao câncer e à radioterapia. • Capítulo 3: Os trabalhos relacionados são descritos neste capítulo. Eles estão divididos em algoritmos genéticos e modelagem matemática do câncer. A primeira seção descreve os algoritmos genéticos e a utilização destes em problemas de otimização. Na segunda parte do capítulo são apresentados trabalhos na literatura que contém o modelo reativo difusivo do crescimento do glioma. • Capítulo 4: O algoritmo genético proposto é descrito em detalhes neste capítulo. Para a compreensão da função objetivo, é necessário descrever o modelo do crescimento do glioma, que através de uma equação diferencial parcial modela o fenômeno de crescimento. Além da descrição do modelo, o capítulo também apresenta o método utilizado para resolver numericamente a equação e, também, um estudo do comportamento da função objetivo na vizinhança do melhor valor conhecido. • Capítulo 5: Este capítulo inicia com a vericação da convergência do algoritmo proposto, onde é apresentado um teste que verica a capacidade do algoritmo genético progredir na busca pela melhor solução. A segunda parte contém os resultados obtidos e uma discussão a respeito dos mesmos. • Capítulo 6: neste capítulo. As conclusões e propostas para trabalhos futuros são apresentadas Capítulo 2 Câncer e radioterapia Este capítulo explora os conceitos relacionados ao câncer e a radioterapia. Estes dois temas serão apresentados pelos principais conceitos relacionados a cada um, utilizando uma linguagem simples que será de fácil compreensão para os leitores não familiarizados com termos e conceitos referentes à oncologia. 2.1 Câncer O câncer pode ser denido como uma população de células anormais demonstrando preferência de crescimento temporário e irrestrito, aumentando continuamente o número de células na população [8]. Mais de 100 doenças são chamadas de câncer, tendo em comum o crescimento desordenado de células. Pelo fato de se dividirem rapidamente, células cancerígenas tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores malignos, que podem espalhar-se para outras regiões do corpo [1]. Estatísticas revelam que a cada três pessoas uma desenvolve câncer. Do grupo formado por pessoas que desenvolvem câncer, um quarto dos homens e um quinto das mulheres chegam a óbito. Alguns fatores que inuenciam o desenvolvimento do câncer no organismo são o tabagismo, agentes infecciosos e hábitos alimentares [9]. Dados de 2003 [9] relatam que o tabagismo é responsável por cerca de 4 milhões de mortes por ano, sendo considerado a maior causa de morte devido ao câncer. Há uma forte relação entre o tabagismo e câncer de língua. Em segundo lugar, os agentes infecciosos são os maiores causadores de morte por câncer, aproximadamente 1,6 milhões de casos por ano. Dentre estes agentes estão o HPV, a Hepatite B e o HIV. A relação entre câncer e os hábitos alimentares foi notada na década de 70, quando percebeu-se que a população ocidental, que possui uma dieta rica em subprodutos animais, gordura 2.1 Câncer 14 e açúcar, apresentava altas taxas de câncer no intestino, na mama e na próstata. Outros fatores relacionados à saúde como obesidade e ingestão de álcool também contribuem para o surgimento do câncer no organismo. Alguns conceitos importantes relacionados ao câncer são listados a seguir [10]: 1. Neoplasia: No organismo estão presentes o crescimento celular controlado e o não controlado. As neoplasias correspondem às formas de crescimento não controladas e, na prática, são chamadas de tumores. 2. Tumor: Corresponde ao aumento do volume dos tecidos, é comumente classicado como benigno ou maligno. Em um tumor benigno, as células mutantes perma- necem contidas em um local cercado por uma fronteira bem denida de células sadias. Mesmo sendo considerado benigno, eles podem causar danos como pressão e obstrução, porém não se espalham para locais distantes. Na ocorrência de um tumor maligno as células mutantes se misturam com células normais, situação que caracteriza o câncer. 3. Metástase: É a formação de um novo tumor a partir de outro, sem haver continuidade física entre os sítios tumorais. O tratamento de câncer, que geralmente envolve cirurgias seguidas de radioterapia e quimioterapia, torna-se menos efetivo após células do tumor se espalharem para outros sítios. A indeterminação da localização da migração de células cancerígenas faz com que a metástase seja um grande responsável pelo insucesso do tratamento. O diagnóstico de um tumor geralmente ocorre quando este produz certos efeitos no organismo do paciente. Em sua maioria, mesmo possuindo um tamanho consideravelmente pequeno, provocam perda de peso e falta de apetite. Tumores em órgãos que podem ser facilmente examinados, como a mama, frequentemente apresentam uma perceptível protuberância. No intestino ou no sistema urinário, o câncer pode ser detectado pelo aparecimento de sangue nas fezes ou na urina. A maioria dos efeitos produzidos pelos tumores são devido a sua posição no organismo, ocorrendo situações em que o tumor pode pressionar ou até mesmo destruir tecidos que o circundam [9]. Em muitos casos o paciente não chega a óbito por uma consequência direta do câncer, mas sim devido a consequentes doenças do coração ou infecções acidentais. O câncer pode ter relação direta com a morte do paciente dependendo de sua localização e do alcance de sua metástase. A causa mais comum de morte devido ao câncer é o envolvimento de órgãos vitais tanto pela invasão direta ao órgão quanto por metástases [9]. 2.2 Radioterapia 15 Dentre os diferentes tipos de câncer, gliomas são tumores cerebrais altamente agressivos que invadem extensivamente o tecido normal antes do aparecimento de qualquer sintoma. São classicados numa escala de quatro níveis de agressividade(I-IV) de acordo com sua característica histológica. Glioblastomas, mais comuns em adultos, são gliomas do nível mais alto de agressividade, caracterizados por seu rápido crescimento e alta taxa de invasão. Do que se conhece sobre pacientes com glioblastoma, somente um grupo muito pequeno de pacientes sobrevive mais de três anos. Na maioria dos casos chega-se a óbito com um tempo médio de sobrevivência de cerca de 10 a 12 meses depois do diagnóstico e do tratamento [3]. Algumas circunstâncias como convulsões e disfunção cognitiva, levam ao diagnóstico independente da classicação do tumor. O aumento da pressão intracraniana, em geral, causa um rápido crescimento tumoral seguido de uma sobrecarga do mecanismo que regula a pressão nesta região fazendo com que o paciente desenvolva progressivas dores de cabeça, náuseas, vômitos, sonolência e anormalidades na visão. Na suspeita de um tumor cerebral recomenda-se o uso de imagens de ressonância magnética para denir características como tamanho e localização [3, 4]. 2.2 Radioterapia A radioterapia [5, 6] é um tratamento de câncer que faz uso de altas doses de radiação para eliminar células cancerígenas e mitigar seus danos. A radiação emitida ataca diretamente o DNA das células, que é responsável por controlar o crescimento e a divisão celular. Em doses menores a radiação pode ser utilizada na obtenção de imagens médicas. A quantidade total de radiação absorvida por um tecido biológico, no sistema internacional de medidas, é dada pela unidade de medida chamada Gray(Gy)[11]. Um tratamento de câncer ideal tem como objetivo de eliminar todas as células cancerígenas, até mesmo em áreas onde há a predisposição do aparecimento destas células. A quimioterapia, radioterapia e cirurgia são tratamentos de câncer utilizados há décadas [9]. Na quimioterapia os medicamentos são levados a todas as partes do corpo através da corrente sanguínea, destruindo células doentes que estão formando o tumor e impedindo que elas se espalhem pelo corpo. A remoção por cirurgia tem maior ecácia quando, logo após a remoção do tumor, utiliza-se a quimioterapia ou radioterapia. Devido ao crescimento exponencial da população de células cancerígenas, que é observado nos estágios iniciais da formação do tumor, aplicando a radioterapia após a remoção por cirurgia é 2.2 Radioterapia 16 possível atingir um maior número de células que se proliferam mais rapidamente [10]. O tratamento pode ser realizado com o objetivo de curar, interromper ou diminuir o crescimento do câncer. No caso de remoção do tumor, a radiação pode ser aplicada antes ou após a cirurgia. A aplicação da radiação que antecede a cirurgia tem como objetivo diminuir o volume do tumor para facilitar a remoção. Já a aplicação posterior à cirurgia, tem como objetivo prevenir o ressurgimento do tumor. Quando não é possível haver cura, o tratamento pode ser utilizado para diminuir o volume do tumor e controlar os sintomas causados pelo câncer. A radiação pode ser emitida por uma fonte externa, interna ou por radiofármacos. No primeiro caso, o tratamento é realizado por meio de uma fonte externa que emite um feixe de radiação diretamente nas células cancerígenas. No segundo caso, também chamado de braquiterapia, uma fonte de radiação é inserida no corpo do paciente de forma que a fonte que próxima ao tumor, possibilitando a aplicação de altas doses de radiação sem causar elevados danos aos tecidos sadios. Os radiofármacos são drogas contendo material radioativo que podem circular por diferentes partes do corpo e, desta forma, tratando o câncer e amenizando seus sintomas. Tendo a radioterapia o poder de eliminar células cancerígenas utilizando altas doses de radiação, seria razoável pensar que quanto mais radiação maior a ecácia do tratamento. Porém, a radiação também atinge células sadias e isto pode causar sérios danos a saúde. A relação entre radiação e câncer vem sendo estudado ao longo dos anos através de milhares de estudos feitos com os sobreviventes das bombas atômicas que atingiram o Japão, com pessoas cujo trabalho requer exposição à radiação e de pacientes que tratam o câncer e outras doenças através da radioterapia [6, 9]. Devido ao estresse causado pelas circunstâncias da presença do câncer e de seu tratamento, o paciente pode experimentar sentimentos como ansiedade, depressão, medo e raiva. Os efeitos colaterais da radioterapia acontecem devido à aplicação de altas doses de radiação em células sadias, causando ao paciente reações como náusea, fadiga, inchaço e alterações urinárias. Há a possibilidade destas reações serem potencializadas se a quimioterapia for realizada em conjunto com a radioterapia. Todos estes efeitos estão diretamente relacionados à área de aplicação da radiação, ou seja, a reação depende da atividade que a região afetada executa na manutenção do organismo. Capítulo 3 Trabalhos relacionados A literatura apresenta diferentes trabalhos relacionados aos modelos matemáticos que descrevem o crescimento do glioma, aplicações de algoritmos genéticos e otimização do tratamento de câncer. Com a evolução dos modelos matemáticos, pesquisas estão sendo realizadas com o objetivo de otimizar tratamentos de câncer. O modelo padrão de um algoritmo genético terá sua descrição complementada com exemplos de artigos. Serão apresentados três trabalhos sobre a utilização de algoritmos genéticos em problemas de otimização, os dois primeiros estão relacionados ao tratamento do câncer e o terceiro utiliza um simulador como função objetivo, abordagem semelhante a utilizada nesta dissertação. Também serão apresentados trabalhos sobre a modelagem matemática do câncer abordando a equação reativa difusiva que, dentre outras possíveis aplicações, descreve o crescimento do glioma. 3.1 Algoritmos genéticos Os algoritmos genéticos foram desenvolvidos por J. Holland na década de 1970 para a compreensão dos processos de adaptação dos sistemas da natureza. Mais tarde, na década de 1980, estes algoritmos foram aplicados à problemas de otimização e aprendizagem de máquina [7]. Eles pertencem a classe de algoritmos iterativos e estocásticos na qual não se pode garantir a convergência. Os termos solução e indivíduo são utilizados como sinônimos. O processo de busca por uma solução ótima inicia através da geração de uma população de soluções candidatas e tem seu término quando o algoritmo atinge seu critério de parada. Toda solução na população possui um grau de adaptação atribuído pela função objetivo e, baseado neste atributo, indivíduos são selecionados para formar a próxima geração. Desta forma, quanto maior o grau de adaptação, maiores as chances de 3.1 Algoritmos genéticos 18 permanecer na população [12]. Os principais conceitos de um algoritmo genético [7] são descritos a seguir: 1. Representação: Toda solução possui uma representação segundo a natureza do problema, podendo ser binária ou real num problema numérico e permutação de símbolos em problemas de ordenação. Os algoritmos genéticos codicam as soluções de um problema em strings ou vetores de forma similar a organização da informação genética nos cromossomos dos seres vivos, devido a esta similaridade as soluções de um problema também são chamadas de indivíduos [13]. A Figura 3.1 ilustra a representação de uma solução através da representação de um número inteiro por um vetor preenchido com valores binários. Figura 3.1: Representação binária 2. População inicial: Pode ser gerada de forma heurística, baseado em experiências prévias, ou aleatória. Em [14] os autores iniciam a população de indivíduos através da geração randômica de números reais entre um limite inferior e superior atribuindo estes valores gerados a cada cromossomo da população. Diferentes estratégias podem ser exploradas na busca pela melhor solução, em [15] a população inicial é gerada em diferentes ilhas, ou seja, população dividida em diferentes grupos, realizando primeiramente uma busca pela solução ótima local em cada ilha aumentando a convergência da otimização global. Na Figura 3.2, o círculo maior representa o espaço de busca e as soluções são representadas pelos pontos. A Figura 3.2(b), diferente da Figura 3.2(a), exibe o caso de geração de um conjunto de soluções abrangendo boa parte do espaço de busca. (a) (b) Figura 3.2: Geração da população inicial 3.1 Algoritmos genéticos 19 3. Função objetivo: O grau de adaptação de uma solução é medido utilizando uma função objetivo. É através desta medida que o algoritmo é capaz de denir quais soluções tem maiores chances de continuar na população. Sem o grau de adaptação não haveria um critério de comparação entre soluções. 4. Estratégia de seleção: Este é um dos principais componentes do algoritmo genético. Toda estratégia de seleção segue o princípio de que quanto mais adaptado é o indivíduo maiores as chances dele ser selecionado. Em [16] são utilizados seleção por torneio, pelo método da roleta e seleção estocástica uniforme. Na seleção por torneio indivíduos são escolhidos randomicamente para participar de um torneio onde os vencedores serão os indivíduos mais adaptados do grupo selecionado. No método da roleta os indivíduos são dispostos numa roleta de forma que as chances de cada um ser escolhido seja proporcional ao grau de adaptação. Ao girar a roleta um seletor xo irá escolher o indivíduo que estiver sendo apontado no momento em que a roleta pára de girar. A seleção por torneio em relação ao método da roleta, na maioria dos casos, conserva melhor a diversidade das soluções e não requer a ordenação das soluções segundo o grau de adaptação [17]. As Figuras 3.3 e 3.4 representam, respectivamente, a selação por torneio e o método da roleta. Figura 3.3: Seleção por torneio. Figura 3.4: Método da roleta. A seleção estocástica uniforme tem seu funcionamento similar ao método da roleta. Os indivíduos são dispostos numa linha onde cada um toma uma porção proporcional ao grau de adaptação, em seguida um seletor move sobre a linha em passos iguais a partir de um ponto inicial, escolhido randomicamente, de forma que os indivíduos por onde o seletor passar, serão selecionados. A Figura 3.5 faz uma breve ilustração 3.1 Algoritmos genéticos 20 do funcionamento da seleção estocástica uniforme. Figura 3.5: Seleção estocástica uniforme. 5. Estratégia de reprodução: A reprodução é responsável pela formação de novas soluções e é realizada através dos operadores de crossover : (a) Operador crossover e mutação. Opera sob dois ou mais indivíduos, tendo o objetivo de combinar características dos pais para gerar lhos. Em [16] há a descrição crossover. São eles crossover de um ponto, crossover de dois pontos e crossover disperso. A Figura 3.6 exibe o crossover de três maneiras de realizar um de um ponto. Crossover Figura 3.6: de um ponto O primeiro determina um ponto qualquer do cromossomo que será dividido em duas partes, tendo o cromossomo resultante a primeira parte de um pai e a segunda de outro. O crossover de dois pontos é análogo ao primeiro. Neste operador, dois pontos dividem o cromossomo em três partes e estas serão combinadas para formar o cromossomo do lho. A Figura 3.7 exibe o crossover de dois pontos. Figura 3.7: O terceiro crossover Crossover de dois pontos descrito opera de forma que após a seleção de dois in- divíduos para o acasalamento, um cromossomo de mesmo tamanho é criado 3.1 Algoritmos genéticos 21 e preenchido com valores binários. Neste novo cromossomo, se dada posição contiver o valor 1, a posição correspondente no cromossomo do lho herdará o valor do primeiro indivíduo, e herdará do segundo indivíduo caso esta posição contenha o valor 0. A Figura 3.8 exibe um exemplo de Figura 3.8: Crossover crossover disperso. disperso Na literatura encontra-se também operadores de crossover mais simples de serem implementados numa representação real. Neste caso, cada posição do cromosso do lho é dado pela média aritmética dos valores das posições correspondentes nos cromossos dos pais [18]. A Figura 3.9 exibe o crossover de média ponderada. Figura 3.9: Crossover de média ponderada (b) Operador mutação: Este opera sob um único indivíduo, geralmente realizando pequenas modicações. Existem diferentes tipos de mutação, eles variam do mais simples onde um cromossomo tem certo valor alterado ao mais complexo, como a mutação gaussiana, sendo que a escolha deste operador deve ser feita de modo a assegurar a diversidade genética da população [19]. 6. Estratégia de reposição: A fase de reposição consiste em selecionar os indivíduos que irão compor a população da próxima geração. Considerando os extremos, de um lado as estratégias de reposição podem substituir toda a população pelos novos indivíduos gerados e, por outro lado, a cada geração um lho é gerado com o propósito de substituir o pior indivíduo da população. Na estratégia de elitismo [20] o melhor indivíduo é mantido durante as gerações até que um novo indivíduo mais adaptado seja gerado para permanecer na população. 3.1 Algoritmos genéticos 22 7. Critério de parada: Pode estar relacionado à critérios como a estipulação de um número máximo de gerações, no encontro de uma solução desejável ou no tempo máximo de execução do algoritmo. O critério de um determinado número de gerações sem o aparecimento de um indivíduo mais bem adaptado também é utilizado [19]. O Algoritmo 1 representa um Algoritmo Genético padrão [21]. Este inicia com a geração da população inicial e logo em seguida entra numa repetição que só se encerra quando a condição de parada é atendida. Dentro desta repetição principal, outra repetição se inicia com o papel de gerar novas soluções. O processo de criação de uma nova solução se dá pelo cruzamento de soluções existentes na população, em seguida a aplicação do operador mutação, com probabilidade igual à taxa de mutação, e nalmente a nova solução tem seu grau de adaptação avaliado por uma função objetivo. Estes novos indivíduos gerados são inseridos na população segundo a estratégia de reposição e uma nova geração é iniciada. Após o critério de parada ser atingido, o algoritmo retorna o(s) melhor(es) indivíduo(s). Algoritmo 1 Algoritmo Genético Padrão 1: Gerar uma população inicial 2: 3: 4: enquanto A condição de parada não for satisfeita faça repita se A condição de crossover for satisfeita então 5: Selecione os pais 6: Escolha os parâmetros do 7: Realize o 8: 9: crossover crossover m se se A condição de mutação for satisfeita então 10: Selecione os pontos de mutação 11: Realize a mutação 12: m se 13: Avalie o grau de adaptação dos lhos gerados 14: até A quantidade total de lhos seja gerada 15: Selecione a nova população 16: m enquanto 17: Retorne o(s) melhor(es) indivíduo(s) 3.1 Algoritmos genéticos 23 Diversos trabalhos apresentam propostas de otimização do tratamento por radioterapia utilizando diferentes modelagens de crescimento de tumor em conjunto com um algoritmo genético [22, 23, 24, 25]. A medicina conta atualmente com equipamentos que permitem a entrega da radiação na região do tumor de forma acurada, protegendo as regiões onde se situam os tecidos sadios. Em [23] encontra-se a otimização de um tratamento de radioterapia conformal tridimensional [6, 26] utilizando algoritmos genéticos multiobjetivo. Trata-se do problema de seleção das direções de feixes em teleterapia, tratamento que envolve a aplicação da radiação no tumor por meio de uma fonte radioativa externa ao paciente, tais direções devem ser escolhidas de forma que o tumor receba altas doses de radiação e os tecidos sadios sejam preservados. Para este problema, a função objetivo possui uma parcela para cada classe de tecido, ela considera o tecido tumoral, tecidos nobres e tecidos saudáveis, e o problema possui restrições relativas a dosagem máxima a todos os tecidos e uma dosagem mínima no tumor. No algoritmo genético implementado a representação de um cromossomo é composto por um ponto alvo no corpo do paciente e um conjunto de direções. Em [27] os autores trabalharam na proposta de encontrar um plano de tratamento para um paciente especíco e compará-lo com o protocolo padrão de atendimento, que são 35 doses diárias de 1.8 Gy, totalizando 63 Gy independente das características do paciente. Para isso foi utilizado a Equação 3.1 em conjunto com um algoritmo evolucionário multiobjetivo de forma a aumentar o controle do tamanho do tumor, tendo um consequente aumento de sobrevida do paciente, e simultaneamente reduzir a dose em tecidos saudáveis. Foi estabelecido a minimização de duas funções objetivo, a primeira corresponde a quantidade de dose aplicada no tecido sadio e a outra, a quantidade de células tumorais em 7 dias de simulação da Equação 3.1. ∂c c c = ∇(D∇c) + ρc 1 − − R(α, d(x, t))c 1 − ∂t c1 c1 (3.1) A utilização combinada da Equação 3.1 e do algoritmo evolucionário multiobjetivo encontra não somente um bom tratamento, mas um conjunto de tratamentos que exibem os melhores tradeos entre as soluções encontradas e estes são escolhidos de acordo com objetivos especícos do tratamento [28]. A utilização de um algoritmo evolucionário em conjunto com um simulador também é encontrado em [29]. Neste artigo os autores apresentam um ambiente para simulação 3.2 Modelagem matemática do câncer 24 da operação em minas a céu aberto. A ferramenta desenvolvida pelos autores, baseada em eventos discretos, permite a criação de cenários de operação, simulação e o uso de algoritmos de otimização mono ou multiobjetivo. Variáveis envolvidas na simulação, tais como o teor de características químicas, tempo de la, distância percorrida pelos equipamentos de transporte são utilizados na geração de cenários. Os autores trabalharam na otimização do problema utilizando um algoritmo genético levando em consideração dois objetivos conitantes. São eles a minimização do número de caminhões em operação na mina, tendo como benefício a diminuição do custo de transporte e da manutenção preventiva, e a maximização da produção na mina. Esta foi a modelagem escolhida para o aumento da eciência da operação. 3.2 Modelagem matemática do câncer O complexo processo de crescimento tumoral envolve fenômenos que ocorrem em diferentes escalas. Do ponto de vista da modelagem, tal processo ocorre em escalas microscópica, mesoscópica e macroscópica [30]. Na escala microscópica ocorrem processos a nível sub celular, como a absorção de nutrientes. A nível celular ocorrem os processos na escala mesoscópica, tais como as interações entre células cancerígenas e outros tipos de células. A escala macroscópica está relacionada aos processos a nível tecidual, tais como migração de células, respostas mecânicas e interação com tecidos externos. Pelo fato dos eventos em diferentes escalas possuírem dependência mútua, a total descrição de um fenômeno é feita considerando todas as escalas. A modelagem destes fenômenos geralmente é desenvolvida por um processo contínuo de renamento até alcançar os resultados desejáveis. O processo começa com a observação do fenômeno biológico e com a tentativa de encontrar um modelo matemático para explicá-lo a partir das observações feitas. Se o modelo explica satisfatoriamente o fenômeno observado, o processo de modelagem está concluído. Caso contrário, deve-se buscar os erros cometidos nos passos anteriores investigando se a observação foi realizada corretamente e se o modelo matemático segue as propriedades qualitativas da solução observada, se existem problemas de ordem numérica ou se o próprio modelo matemático está correto [30]. A Figura 3.10 apresenta o uxograma do processo de modelagem de fenômenos descrita. Os modelos matemáticos em conjunto com a simulação computacional fornecem sights in- sobre o mecanismo que controla o crescimento e evolução do tumor, sugerindo 3.2 Modelagem matemática do câncer 25 Figura 3.10: Processo de modelagem de fenômenos direções para o tratamento do câncer. O desenvolvimento de modelos matemáticos para o crescimento tumoral requer conhecimento em diferentes áreas, em particular na compreensão dos fenômenos biológicos envolvidos e na habilidade de utilizar diversas ferramentas matemáticas para obter resultados quantitativos e qualitativos. Segundo [3, 31], na década de 1990 o professor J. D. Murray trabalhou na questão de como medir o crescimento do glioma. Em seu trabalho, formulou o problema através de uma equação de conservação que diz que a taxa de variação da população das células tumorais é igual à soma da difusão e da proliferação destas células. Este conceito foi expresso por uma equação diferencial parcial, Equação 3.2, assumindo que a difusão de células tumorais é descrita pela Lei de Fick [32]. ∂c = ∇.(D∇c) + ρc ∀x ∈ B ∂t ( Sendo c = c(x, t) c0 (x) (3.2) c(x, 0) = c0 (x) ∀x ∈ B, → − n .∇c = 0 ∀x ∈ ∂B. cm2 dia−1 e ρ, x e tempo o coeciente de proliferação em de um problema unidimensional e B seu domínio. onde t>0 a concentração de células tumorais na posição coeciente de difusão em c(x, 0) = c0 (x) e dia−1 , t, D o no caso A condição inicial deste modelo é dene a concentração inicial de células tumorais. A condição de contorno impõe a não migração de células tumorais além das fronteiras do cérebro. 3.2 Modelagem matemática do câncer 26 Uma propriedade característica deste modelo é a aproximação de Fisher [32], que estabelece uma simetria esférica no crescimento do tumor e torna possível a comparação do crescimento de células tumorais detectadas por imagens de ressonância magnética à propagação de uma onda. Duas imagens tiradas de um paciente num determinado período sem intervenção cirúrgica são sucientes para obter uma aproximação da velocidade de crescimento do tumor, que é dada por √ v = 2 Dρ [3]. Em [31] é descrito um modelo que leva em consideração a estrutura heterogênea do cérebro, a mobilidade do glioma difere quando este se encontra na matéria branca e na matéria cinza do cérebro, permitindo escrever o coeciente de difusão em função da posição D(x) D(x). Desta forma a Equação 3.2 pode ser reescrita como a Equação 3.3, onde assume dois valores em seu domínio, cinza e DG quando x corresponde a região de matéria DW , quando x corresponde a região de matéria branca, sendo DW > DG a relação entre as duas constantes. ∂c = ∇.(D(x)∇c) + ρc ∀x ∈ B ∂t ( e t>0 (3.3) c(x, 0) = c0 (x) ∀x ∈ B, → − n .∇c = 0 ∀x ∈ ∂B. Swanson et al. [33] propõem um modelo de crescimento do glioma considerando os efeitos da radioterapia. Este novo modelo adiciona à Equação 3.3 o termo R(α, d(x, t)), que representa a probabilidade de morte das células tumorais e o efeito da radioterapia na posição x no tempo t, e α representa a sensibilidade do paciente aos efeitos da radioterapia. Considerando T o conjunto de dias de tratamento, o termo ( R(α, d(x, t)) = O termo 0, se t∈ / T, 1 − S(α, d(x, t)), se t ∈ T. (3.4) S(α, d(x, t)), dado por (3.4), representa a probabilidade de sobrevivência das células cancerígenas, onde α/β R(α, d(x, t)) é dado por (3.4). n representa o número de frações, uma constante que, na prática, assume o valor de −αBED S(α, d(x, t)) = e , onde 10 Gy d(x, t) a dose fracionada e [33]. d(x, t) BED = nd(x, t) 1 + α/β (3.5) Adicionando o termo (3.4) na Equação 3.3 obtém-se a Equação 3.6 sujeita a uma 3.2 Modelagem matemática do câncer 27 condição inicial e a mesma condição de contorno da Equação 3.2. ∂c = ∇.(D(x)∇c) + ρc − R(α, d(x, t))c ∀x ∈ B ∂t ( e t>0 (3.6) c(x, 0) = c0 (x) ∀x ∈ B, → − n .∇c = 0 ∀x ∈ ∂B. Em relação aos tratamentos de câncer, a literatura [31] apresenta uma modelagem do crescimento do glioma considerando os efeitos da quimioterapia. Sendo referente ao perl temporal do tratamento por quimioterapia, há e G(t) = 0 quando não há terapia. sendo que q >ρ A constante q G(t) o termo G(t) = q é constante quando é a medida de ecácia do tratamento, representa a condição para a diminuição da proliferação do tumor, ou seja, numericamente o termo G(t)c deve ser maior que o termo ρc. A Equação 3.7 modela o crescimento do glioma sob efeito da quimioterapia. ∂c = ∇.(D(x)∇c) + ρc − G(t)c ∀x ∈ B ∂t ( t>0 e (3.7) c(x, 0) = c0 (x) ∀x ∈ B, → − n .∇c = 0 ∀x ∈ ∂B. Em [3] é encontrado um modelo que considera que o tumor não cresce indenidamente. Matematicamente é inserido na Equação 3.3 um coeciente de saturação valor aproximado em 8 10 tendo seu células/cm . Este modelo é dado pela Equação 3.8. ∂c c = ∇.(D(x)∇c) + ρc 1 − ∂t c1 ( Em Junior et al. c1 , 3 ∀x ∈ B e t>0 (3.8) c(x, 0) = c0 (x) ∀x ∈ B, → − n .∇c = 0 ∀x ∈ ∂B. [34] a Equação 3.6 foi utilizada para simular o crescimento de um glioma, discretizando o domínio espacial através do método de diferenças nitas e o domínio temporal pelos métodos implícitos de Euler e Crank-Nicolson [35]. Foi realizada a simulação de cinco esquemas de fracionamento de dose que foram validados ao encontrar resultados próximos aos apresentados por Swanson et al. [33]. Os casos unidimensional e bidimensional do problema foram resolvidos, sendo o primeiro caso resolvido pelo método 3.2 Modelagem matemática do câncer 28 de Euler e Cranck-Nicolson e o segundo caso somente pelo método de Crank-Nicolson, por apresentar precisão superior a do primeiro método. O trabalho desenvolvido por Juliana et al. [36] consiste na utilização de séries temporais via suavização exponencial para prever a taxa de crescimento do glioma de um paciente submetido a um tratamento por radioterapia. Neste estudo, a série temporal tem como dados de entrada os resultados obtidos na resolução numérica da Equação 3.6. Assim como em [34], o estudo em [36] oferece uma forma de auxiliar a tomada de decisão no planejamento do tratamento por radioterapia sem causar danos, que poderiam ser irreversíveis, ao paciente diagnosticado com câncer. No presente trabalho será utilizada a Equação 3.6 com coeciente de difusão constante, ou seja, D é constante em todo o domínio [33]. O Capítulo 4 fará uma discussão acerca da equação utilizada e de que maneira esta será utilizada na busca pelo melhor plano de radioterapia. Apesar da literatura apresentar outras modelos relacionados ao crescimento do câncer, Equações 3.7 e 3.8, estes não foram utilizados neste trabalho pelo fato do autor não ter encontrado dados que poderiam validar o trabalho que seria desenvolvido nesta dissertação. Capítulo 4 Metodologia Neste capítulo, um algoritmo genético é proposto para encontrar a distribuição de doses que minimize o raio do glioma. Adotou-se como padrão o período de avaliação de oitenta dias de tratamento [33]. O processo de otimização considera este período para encontrar a melhor distribuição de doses. Logo, a comparação dos raios resultantes de cada tratamento é feita no último dia deste período. Neste trabalho, os termos plano tratamento e distribuição de doses ao longo do tempo serão utilizados como sinônimos. A Seção 4.1.1.1 apresenta, de forma mais detalhada em relação ao Capítulo 3, o modelo de Swanson para crescimento de gliomas na presença da radioterapia [33]. Esta apresentação se faz necessária para a compreensão da função objetivo do algoritmo genético proposto, que avalia uma solução e atribui um grau de adaptação. A função objetivo é composta por um simulador que resolve numericamente a Equação 4.1 pelo método de diferenças nitas e, desta forma, é capaz de atribuir o raio do glioma no nal do período de tratamento para cada plano de tratamento, ou seja, atribui o grau de adaptação a cada solução avaliada. 4.1 Algoritmo genético proposto Esta seção contém a descrição completa do Algoritmo Genético(A.G.) proposto para a otimização do plano de tratamento de câncer presente neste trabalho. Para melhor organização do texto, foi descrito no Algoritmo 2 a estrutura geral do A.G. com as chamadas das funções necessárias à realização do processo de otimização, sendo que cada função especíca é descrita posteriormente. A função objetivo é determinada pelo uso dos algoritmos 3 e 4 apresentados na Seção 4.1.1.2. 4.1 Algoritmo genético proposto 30 Figura 4.1: Vetor solução Um vetor de oitenta e uma posições foi utilizado para representar uma solução. A primeira posição do vetor está relacionada ao primeiro e a octagésima posição ao último dia de tratamento, cada posição do vetor armazena o valor da dose de radiação aplicada no dia correspondente. A última posição do vetor armazena o valor do raio do glioma, em milímetros, no último dia de tratamento. representa o grau de adaptação. Para o A.G. proposto, o raio do glioma Portanto, a população de soluções do A.G. proposto utiliza a estrutura descrita pela Figura 4.1. Algoritmo 2 Algoritmo Principal 1: Gere uma população inicial de 256 indivíduos 2: Avalie o grau de adaptação de cada indivíduo da população 3: Ordene a população segundo o grau de adaptação 4: 5: enquanto Número de gerações sem melhora < 300 faça repita 6: Selecione 2 pais pela Seleção por Torneio 7: Realize o 8: Corrija a solução de modo a não exceder a dose total 9: se 10: crossover A condição de mutação for atendida então Realize a mutação 12: m se até Até que 10 lhos sejam gerados 13: Avalie o grau de adaptação dos lhos gerados 14: Introduza os lhos gerados na população e ordene-a 11: 15: 16: se Em 60 gerações não houver o aparecimento de um indivíduo mais bem adaptado então Substitua 1/4 dos piores indivíduos por novos indivíduos gerados aleatoriamente 17: m se 18: Selecione a nova população 19: m enquanto 20: Retorne o(s) melhor(es) indivíduo(s) 4.1 Algoritmo genético proposto 31 No Algoritmo 2 pode-se vericar os passos seguidos na otimização do plano de tratamento de câncer. Inicia-se com a geração de N indivíduos através do Algoritmo 5 seguido de sua avaliação através dos algoritmos 3 e 4. Após esta geração, o algoritmo entra numa repetição onde a condição de parada é o não surgimento de uma solução mais bem adaptada em 300 gerações. Dentro desta repetição há uma estrutura de repetição que gera nAG novos indivíduos. Tal processo tem início com a seleção de dois indivíduos pelo Algoritmo 6 e em seguida, realiza o crossover pelo Algoritmo 7 gerando um novo indivíduo. Cada indivíduo gerado tem 20% chance de sofrer mutação, processo descrito pelo Algoritmo 9. Vale lembrar que neste trabalho, os termos indivíduo e solução são utilizados como sinônimos. Após a geração de nAG indivíduos, cada um é avaliado pelos algoritmos 3 e 4. Em seguida estes são inseridos na população inicial segundo o Algoritmo 10. Para que o algoritmo não que com soluções muito semelhantes, situação que pode levar a convergência prematura, foi proposto um mecanismo de diversicação. Se em 60 gerações não houver o surgimento de uma solução mais adaptada que o melhor indivíduo da população, então 1/4 da população, correspondente aos piores indivíduos, é substituída por novos indiví- duos gerados pelo Algoritmo 5. Após esta última etapa o algoritmo refaz todos estes passos até que a condição de parada seja atendida. A Figura 4.2 ilustra o funcionamento do Algoritmo 2. Figura 4.2: Fluxograma do algoritmo principal 4.1 Algoritmo genético proposto 4.1.1 32 Função Objetivo A função objetivo é composta por um simulador que resolve numericamente a Equação 4.1 pelo método de diferenças nitas. O simulador tem como dados de entrada a distribuição de doses ao longo do tratamento. A partir desta informação ele é capaz de calcular a evolução da concentração de células cancerígenas ao longo do tempo e, desta forma, atribuir o raio do glioma no nal do tratamento para cada solução do algoritmo genético. 4.1.1.1 Modelo de crescimento do câncer com radioterapia O modelo representado pela Equação 4.1 consiste na modicação da Equação 3.6 considerando o coeciente de difusão constante B = [0, 200] D(x) = D. O conjunto de números reais representa o domínio da Equação 4.1. ∂c ∂ 2c = D 2 + ρc − R(α, d(x, t))c ∀x ∈ B ∂t ∂x e t>0 (4.1) x 2 c(x, 0) = L3 e−100( L ) , ∂c(x, t) − → = 0 ∀x ∈ ∂B. n. ∂x Seja T o conjunto de dias de tratamento, o termo R(α, d(x, t)) representa a probabi- lidade de morte das células tumorais e é dado pela Equação 4.2. ( R(α, d(x, t)) = 0, se t∈ / T, 1 − S(α, d(x, t)), se t ∈ T. (4.2) Quando não houver terapia a Equação 4.2 terá seu valor nulo, pois sem aplicação da radiação a probabilidade de eliminar células cancerígenas do organismo é zero. Os eventos de morte e de sobrevivência de células cancerígenas são complementares, por esta razão o termo S(α, d(x, t)), dado pela Equação 4.3, representa a probabilidade de sobrevivência destas células. −αBED S(α, d(x, t)) = e , Dos termos presentes em (4.3), considerado uma constante de valor d(x, t) BED = nd(x, t) 1 + α/β (4.3) representa a quantidade de doses, o quociente α/β onde n 10 Gy e d(x, t) a dose fracionada [33]. O parâmetro α 4.1 Algoritmo genético proposto 33 representa a sensibilidade do paciente ao tratamento, um valor alto para este parâmetro corresponde a um maior número de células cancerígenas eliminadas durante o tratamento. A Equação 4.1 permite simular a evolução da concentração de células cancerígenas no tecido cerebral ao longo do tempo. Pode-se aplicar em um paciente virtual diferentes tratamentos variando a distribuição das doses no tempo. Este modelo permite a criação de um cenário com innitas possibilidades de planos de tratamento, o que sugere a utilização de ferramentas de otimização para encontrar planos que possam minimizar o tamanho do glioma presente no tecido cerebral do paciente. A determinação do raio do glioma é de fundamental importância para este trabalho. É através desta medida que o algoritmo genético irá selecionar, dentre os diversos planos de tratamento, o plano que minimize o raio do glioma. A Figura 4.3 exibe a concentração inicial de células cancerígenas, representada pela linha contínua, e a concentração após três dias, representada pela linha tracejada não horizontal. A linha horizontal representa a margem detectável, valor obtido por meio da simulação dos tratamentos descritos em [33]. Desta forma, toda concentração abaixo de 5 x 106 3 células/mm não é detectável e o raio do glioma pode ser obtido através da interseção das curvas concentração de células cancerígenas e margem detectável. Assim, o glioma não pode ser visualizado em toda sua extensão e o coeciente de invisibilidade, dado por D/ρ, determina numericamente quão invisível um glioma pode ser [27]. 6 18 x 10 Concentração de células cancerígenas ( células/mm³ ) 16 Concentração em 3 dias Concentração inicial Margem detectável 14 12 10 8 6 4 2 0 0 10 20 30 40 50 Cérebro ( mm ) Figura 4.3: Concentração de células cancerígenas em 1/4 do domínio. 4.1 Algoritmo genético proposto 34 4.1.1.2 Método de diferenças nitas Considere o problema de encontrar as derivadas parciais de uma função de duas variáveis t, ψ = f (x, t). Para encontrar as derivadas em relação ao espaço x e o tempo o método de diferenças nitas propõe a discretização do domínio da função Esta discretização pode ser representada por um plano, ou malha, pequenos retângulos de dimensões 4x e 4t x−t ψ(x, t). subdividido em como mostrado na Figura 4.4 [37]. Figura 4.4: Domínio discretizado Um ponto P qualquer dos nós desta malha possui coordenadas onde i, k = 0, 1, 2, ..., i4x, t = k4t). desta forma os valores de ψ (x = i4x, t = k4t) podem ser expressos por ψ = f (x = As derivadas de primeira ordem avançada no espaço e no tempo, corres- pondente as equações 4.4 e 4.5 respectivamente, e de segunda ordem centrada no espaço e no tempo, correspondendo as equações 4.6 e 4.7 respectivamente, da função ψ = ψ(x, t) em seu domínio discretizado são obtidas utilizando a Série de Taylor e o Teorema do Valor Médio [38]. ∂ψ ψ(xi+1 , tk ) − ψ(xi , tk ) 4x ∂ψ(x∗i , tk ) (xi , tk ) = − ∂x 4x 2 ∂x2 onde x∗i ∈ [xi , xi+1 ] (4.4) ∂ψ ψ(xi , tk+1 ) − ψ(xi , tk ) 4t ∂ψ(xi , t∗k ) (xi , tk ) = − ∂t 4t 2 ∂t2 onde t∗k ∈ [tk , tk+1 ] (4.5) 4.1 Algoritmo genético proposto 35 ∂ 2ψ ψ(xi+1 , tk ) − 2ψ(xi , tk ) + ψ(xi−1 , tk ) 4x2 ∂ 4 ψ ∗ (x , t ) = − (x , tk ) i k ∂x2 4x2 12 ∂x4 i x∗i ∈ [xi−1 , xi+1 ] onde (4.6) ψ(xi , tk+1 ) − 2ψ(xi , tk ) + ψ(xi , tk−1 ) 4t2 ∂ 4 ψ ∂ 2ψ (x , t ) = − (xi , t∗k ) i k ∂t2 4t2 12 ∂t4 onde t∗k ∈ [tk−1 , tk+1 ] (4.7) O método de Crank-Nicolson [35, 39] consiste em tomar a derivada do espaço como a média aritmética nos tempos k e k + 1. Utilizando a função ψ = ψ(x, t) como exemplo, as derivadas (4.4) e (4.6) pelo método de Crank-Nicolson seriam representadas pelas aproximações 4.8 e 4.9, respectivamente. ∂ψ 1 ≈ ∂x 2 1 ∂ 2ψ ≈ 2 ∂x 2 k+1 k (ψi+1 − ψik+1 ) (ψi+1 − ψik ) + 4x 4x ! + O(4x2 ) k+1 k+1 k k (ψi+1 − 2ψik+1 + ψi−1 ) (ψi+1 ) − 2ψik + ψi−1 + 2 2 4x 4x Discretizando o domínio da Equação 4.1 em m (4.8) ! + O(4x2 ) nós espaciais e w (4.9) temporais, pelo método de Crank-Nicolson temos a Equação 4.10. Cik+1 − Cik 1 =D 4t 2 ! k+1 k+1 k k Ci+1 − 2Cik+1 + Ci−1 Ci+1 − 2Cik + Ci−1 + + 4x2 4x2 1 1 + ρ Cik+1 + Cik − R Cik+1 + Cik 2 2 (4.10) A comparação termo a termo da Equação 4.1 com a Equação 4.10 é feita pelas aproximações 4.11, 4.12, 4.13 e 4.14. ∂c C k+1 − Cik ≈ i + O(4t2 ) ∂t 4t (4.11) 4.1 Algoritmo genético proposto ∂ 2c 1 D 2 ≈D ∂x 2 36 k+1 k+1 k k Ci+1 − 2Cik+1 + Ci−1 − 2Cik + Ci−1 Ci+1 + 4x2 4x2 ρc ≈ ρ ! + O(4x2 ) 1 k+1 Ci + Cik 2 R(α, d(x, t))c ≈ R (4.13) 1 k+1 Ci + Cik 2 Com a Equação 4.10 não é possível determinar a solução nó do domínio discretizado, pois haverão m−2 (4.12) (4.14) Cik+1 para o primeiro e último equações e m incógnitas. Para resolver este problema a condição de contorno (4.15) discretizada pelo método de Crank-Nicolson é representada pelas equações 4.16 e 4.17. ∂c → − =0 n. ∂x (4.15) 1 −3C1k+1 + 4C2k+1 − C3k+1 −3C1k + 4C2k − C3k (−1) + =0 2 24x 24x (4.16) k+1 k+1 k+1 k k k 3Cm − 4Cm−1 + Cm−2 − 4Cm−1 + Cm−2 1 3Cm + =0 2 24x 24x (4.17) As Equações 4.10, 4.16 e 4.17 formam um sistema de equações lineares com e m incógnitas. A identidade (4.18) apresenta este sistema como um produto de matrizes, onde A e B são matrizes formadas pelos coecientes de AC k+1 = BC k Onde, m equações Cik+1 e Cik respectivamente. (4.18) 4.1 Algoritmo genético proposto 37 A= 1 0 ··· 0 0 A1 A2 A3 0 ··· 0 0 A1 A2 A3 · · · 0 0 . . . . . . 3 0 −4 . . . . . . . . . . . . .. 0 0 0 0 ··· 0 0 0 0 ··· 0 A1 0 0 0 0 ··· 0 1 . A1 A2 0 0 0 0 0 . . . . . . A3 0 A2 A3 −4 3 0 C k+1 , B= A1 = −3 −1 0 ··· 0 0 0 B1 B2 B3 0 ··· 0 0 0 B1 B2 B3 · · · 0 0 0 . . . . . . . . . 0 4 . . . . . . . . . . . . .. 0 0 0 0 ··· 0 0 0 0 ··· 0 B1 B2 0 0 0 0 ··· 0 −1 −D∆t 2∆x2 B1 = −A1 , , A2 = 1 + . B1 B2 B3 4 0 0 . . . 0 B3 −3 D∆t ∆t − (R − ρ) ∆x2 2 B2 = 2 − A2 e 0 , , k C = A3 = A1 C2k+1 C3k+1 C4k+1 . . . k+1 Cm−3 k+1 Cm−2 k+1 Cm−1 k+1 Cm C1k C2k k C3 C4k . . . k Cm−3 k Cm−2 k Cm−1 k Cm = C1k+1 , , , B3 = −A1 Para encontrar a solução da concentração de células cancerígenas na posição tempo k+1 o sistema (4.18) deve ser resolvido. Na primeira iteração o vetor a solução inicial. O Algoritmo 3 apresenta o cálculo do vetor Ck i e no representa C k+1 . Algoritmo 3 Resolver EDP(ρ, D, R, tempo de tratamento, m, 4x, 4t ) 1: 2: C k=0 ← condição inicial enquanto O número de passos não alcançar tempo de tratamento Calcule os elementos da matriz 4: Calcule os elementos da matriz k Multiplique as matrizes B e C , retornando D = k+1 Resolva o sistema AC = D por Gauss-Seidel 5: 6: 7: faça A B 3: B.C k m enquanto 8: Retorne o raio nal do glioma Para iniciar o Algoritmo 3 é necessário carregar os parâmetros relacionados ao paciente, tratamento e ao método numérico. Tais parâmetros indicam qual problema o algoritmo está resolvendo, ou seja, qual paciente está sendo simulado e qual o plano 4.1 Algoritmo genético proposto 38 de tratamento por radioterapia está sendo aplicado. Após carregar estes parâmetros o algoritmo faz a leitura da condição inicial, que fornece o tamanho inicial do glioma, indispensável para iniciar o processo de simulação. O algoritmo entra na repetição responsável por calcular C k+1 , ou seja, a concentração de células cancerígenas no próximo passo de tempo. Nesta repetição ocorre o cálculo das A e B, matrizes parâmetros Ck D onde o elementos destas matrizes estão em função de constantes como os e ρ e da função R(α, d(x, t)). são multiplicados dando origem ao vetor Depois deste cálculo, a matriz B D, AC k+1 = D tal vetor compõe o sistema e o vetor e este é resolvido pelo método de Gauss-Seidel. Algoritmo 4 Determinação do raio do glioma(mdet, 4x) 1: Seja 2: 3: 4: 5: 6: 7: 8: 9: i=1 enquanto C k (i) > mdet faça i=i+1 m enquanto se i < 3 então Raio do glioma = 0 senão Raio do glioma = (i − 2).4x m se 10: Retorne Raio do glioma O cálculo do raio do tumor é feito considerando a margem detectável(mdet) de 106 mm3 k = 0. ou 61,25% do valor correspondente à primeira posição do vetor Conhecendo este valor o Algoritmo 4 percorre as posições do vetor um valor menor que mdet. 5 x Ck no tempo Ck buscando Ao encontrar este valor o algoritmo interrompe a estrutura de repetição e calcula o valor do raio através da relação entre o índice da posição do vetor Ck e a medida 4x 4.1.1.3 Estudo prévio da função objetivo Neste trabalho, a função objetivo do algoritmo genético será a medida do raio do glioma no nal do período do tratamento e o plano de tratamento será a solução do problema de otimização. O melhor plano de tratamento conhecido na literatura é a aplicação de cinco doses iguais em dias consecutivos. Com a nalidade de buscar uma melhor compreensão da função objetivo em torno da melhor solução conhecida na literatura, foi realizado um estudo para avaliar a medida do raio do glioma em diferentes planos de tratamento utilizando dados de um paciente de parâmetros α = 0.0305 Gy −1 D = 1.43 cm2 /ano, ρ = 16.25 /ano e [33]. Neste estudo, o período de tratamento corresponde a oitenta dias. 4.1 Algoritmo genético proposto 39 A Tabela 4.1 exibe as medidas que serão analisadas neste estudo. nd = 2 nd = 3 nd = 4 nd = 5 nd = 6 nd = 7 nd = 8 nd = 9 nd = 10 nd = 11 nd = 12 nd = 13 nd = 14 nd = 15 Rd = 1 Rd = 2 Rd = 3 Rd = 4 Rd = 5 Rd = 6 24.2242 24.8248 25.6256 26.2262 26.8268 27.2272 20.4204 21.2212 22.0220 22.6226 23.0230 23.4234 18.6186 19.2192 19.8198 20.4204 20.6206 20.8208 18.0180 18.4184 18.8188 19.2192 19.4194 19.4194 18.2182 18.4184 18.6186 18.8188 18.8188 18.8188 18.4184 18.6186 18.6186 18.6186 18.8188 18.8188 18.8188 18.8188 18.8188 18.8188 18.8188 18.8188 19.2192 19.2192 19.2192 19.2192 19.0190 19.0190 19.6196 19.6196 19.4194 19.4194 19.4194 19.2192 20.0200 19.8198 19.8198 19.6196 19.6196 19.6196 20.2202 20.2202 20.0200 20.0200 19.8198 19.8198 20.4204 20.4204 20.2202 20.2202 20.0200 20.0200 20.6206 20.6206 20.4204 20.4204 20.4204 20.2202 20.8208 20.8208 20.6206 20.6206 20.6206 20.4204 Tabela 4.1: Raio do glioma em diferentes planos de tratamento Na Tabela 4.1 as linhas representam o fracionamento da dosagem máxima aplicada em dias consecutivos, por exemplo, a primeira linha contém diversas medidas do raio do glioma em milímetros, em tratamentos onde a dose máxima foi dividida em duas partes e aplicadas em dias consecutivos. As doses são aplicadas de forma linear e crescente, de forma que é possível determinar sua distribuição conhecendo somente a primeira e a última dose. Desta forma, os valores que identicam as colunas representam a razão entre a última e a primeira dose. Por exemplo, o valor correspondente a terceira linha e segunda coluna representa o raio do glioma medindo 19.2192 mm num tratamento onde a dosagem máxima foi dividida em quatro doses, aplicadas em dias consecutivos, e a última dose é o dobro da primeira. A Figura 4.5 ilustra a distribuição de doses em diferentes tratamentos. Em 4.5(a) é possível visualizar o tratamento onde é aplicado doses iguais em cinco dias consecutivos. Nos tratamentos das Figuras 4.5(b) e 4.5(c) a dose total é aplicada em quatro dias consecutivos e a dose nal é igual a 2 vezes e 6 vezes, respectivamente, à dose inicial. A Figura 4.5(d) exibe uma distribuição na qual aplica-se a dose máxima em oito dias consecutivos, sendo que a última dose é igual a 4 vezes o valor da primeira. A representação gráca dos valores contidos na Tabela 4.1 é dada pela Figura 4.6. Nesta representação é possível identicar a região de mínimo local, visualização que fornece um conhecimento importante para a implementação do Algoritmo Genético proposto na resolução deste problema. 4.1 Algoritmo genético proposto 40 (a) Tratamento 1 (b) Tratamento 2 (c) Tratamento 3 (d) Tratamento 4 Figura 4.5: Distribuição de doses em diferentes tratamentos 6 27 28 26 5 25 26 24 Dose final / Dose inicial 24 22 20 4 23 22 3 21 18 6 15 4 20 2 10 2 Dose final / Dose inicial 19 5 0 0 (a) Superfície 1 Número de frações 3 5 7 9 Número de frações 11 (b) Curva de nível Figura 4.6: Raio do glioma em diferentes tratamentos 13 15 4.1 Algoritmo genético proposto 41 Com a visualização da Figura 4.6 e da Tabela 4.1 é possível vericar a existência de um mínimo local no tratamento de cinco dias consecutivos com aplicação de doses iguais. Na Figura 4.6(b) é possível notar que Rd glioma, ou seja, o aumento de Rd é diretamente proporcional ao raio do leva ao aumento do raio do glioma. Há um decréscimo seguido de um acréscimo do raio do glioma aumentando o fracionamento da dose máxima e aplicando em dias consecutivos. A região mais escura contém o menor valor do raio enquanto a região mais clara apresenta o maior raio desta amostra. É necessário compreender de que maneira a Equação 4.19 pode ser útil no processo de otimização que objetiva encontrar o melhor plano de tratamento, aquele que reduza ao máximo o raio do glioma avaliado no nal do período de tratamento. ∂c ∂ 2c =D + ρc − Rc ∂t ∂x c = c(x, t) Na Equação 4.19, a função genas e R = R(α, d(x, t)) (4.19) representa a concentração de células cancerí- uma função que depende da distribuição das doses ao longo do tempo, referente ao tratamento por radioterapia. O raio do glioma (Raio) pode ser colocado em função de Raio = f (D, ρ, R). D, ρ e R. Tendo o objetivo de encontrar o melhor tratamento para um paciente especíco, os parâmetros que a distribuição de R D e ρ R. Sabendo Raio = f (R) será feita são xos e o raio ca em função apenas de altera o raio do glioma, a minimização de selecionando a melhor distribuição de 4.1.2 Desta forma, o objetivo será minimizar a função R. População inicial A população inicial, gerada pelo Algoritmo 5, inicia denindo um parâmetro relativo a dose máxima que pode ser aplicada no tratamento por radioterapia. A literatura estabelece uma dose máxima de de 65 Gy 61, 2 Gy + 5%[33]. Todavia a aproximação para o valor não alterou os aspectos quantitativos das soluções encontradas. de dimensões 81 x N A matriz P é criada para armazenar todas as soluções geradas. O número de linhas é suciente para armazenar as doses aplicadas ao longo do tratamento e o raio do glioma no nal deste período. As colunas da matriz armazenam soluções distintas, ou seja, diferentes planos de tratamento. 4.1 Algoritmo genético proposto 42 Algoritmo 5 População Inicial( Inteiro N ) 1: Denir 2: Seja 3: P DOSEM AX ← 65 uma matriz 81 x N para i = 1 até N faça 4: dose ← DOSEM AX 5: enquanto dose > 0 faça 6: choose ← randi(80) 7: f rac ← dose ∗ rand() 8: P (choose, i) ← P (choose, i) + f rac 9: dose ← dose − f rac se dose < 1 então 10: 11: P (choose, i) ← P (choose, i) + dose 12: dose ← 0 13: 14: 15: m se m enquanto m para 16: Retorne a matriz P Para gerar uma solução o algoritmo seleciona aleatoriamente uma das primeiras oitenta posições do vetor e posteriormente atribui um percentual da dose máxima, repetindo este processo até que a soma das doses seja igual a dose máxima denida inicialmente. A construção das N soluções da população segue este mesmo processo. O algoritmo naliza retornando a matriz P, ou seja, os N Para um paciente de parâmetros planos de tratamento gerados aleatoriamente. ρ = 16.25 /ano e D = 1.43 cm2 /ano a Figura 4.7 mostra o histograma do raio do glioma para uma população de 256 indivíduos gerados pelo Algoritmo 5, cada imagem corresponde a uma população gerada. Por serem geradas de forma aleatória, as Figuras 4.7(a) e 4.7(b) representam populações diferentes geradas pelo mesmo algoritmo. A distribuição dos raios tem uma amplitude de aproximadamente 10 mm e cada intervalo do histograma possui no mínimo quinze indivíduos. 4.1 Algoritmo genético proposto 43 40 45 35 40 35 30 Quantidade de indivíduos Quantidade de indivíduos 30 25 20 15 25 20 15 10 10 5 5 0 18 20 22 24 26 Raio do glioma (mm) 28 0 18 30 20 22 24 26 Raio do glioma (mm) (a) 28 30 (b) Figura 4.7: Histograma do raio da população gerada em 2 execuções do Algoritmo 5 4.1.3 Seleção A seleção por torneio utilizada é descrita pelo Algoritmo 6. Este possui como entradas as soluções contidas na matriz P e um inteiro s, representando o tamanho do grupo formado, e naliza retornando duas soluções como saídas do algoritmo. Duas matrizes são necessárias para a realização do torneio, a matriz raio de todas as T armazena os índices e o respectivo s soluções escolhidas aleatoriamente da população e a matriz AU X serve de matriz auxiliar. O Algoritmo 6 promove um torneio entre as restarem apenas 2 soluções. população de N torneio entre as soluções e I1 s soluções escolhidas inicialmente até soluções são escolhidas aleatoriamente na indivíduos para preencher a matriz s R1, R2 seus respectivos raios. R2/(R1 + R2), Em seguida, é promovido um T AU X . As chances que a solução isto é, quanto maior o raio de ser escolhida. Após a matriz iteração, a matriz T. soluções e logo são armazenadas na matriz é dada pela relação de Inicialmente s AU X ser preenchida com recebe todas as soluções de quando 2 soluções são atribuídas a matriz T. AU X . Sejam I1, I2 duas I1 tem de ser escolhida I2, s/2 maiores as chances soluções na primeira Este processo iterativo termina A Figura 4.8 ilustra o processo de seleção descrito para o caso do grupo inicial ser composto por oito indivíduos, ou seja, s = 8. 4.1 Algoritmo genético proposto 44 Algoritmo 6 Seleção por Torneio( População P , Inteiro s ) 1: Seja T 2: Seja AU X 3: uma matriz 2 x s uma matriz 2 x s/2 G ← s/2 4: Escolha aleatoriamente 5: 6: s soluções para compor as colunas de enquanto s>2 faça para i = 1 até G faça 7: Escolha aleatoriamente duas soluções da matriz 8: AU X(:, i) ← 10: 11: T (:, i) ← AU X(:, i) 12: m para 13: G ← G/2 14: s ← s/2 15: T Solução mais adaptada m para para i = 1 até G faça 9: T m enquanto 16: Retorne as duas primeiras soluções de É necessário que o inteiro T s seja uma potência de dois, pois todo o processo se baseia em dividir por dois o primeiro grupo formado até restarem apenas duas soluções. Seguindo os passos descritos, em todo caso em que s > 8 o algoritmo chegará nos passos descritos pela Figura 4.8. O algoritmo retorna as duas primeiras soluções da matriz T, correspondendo aos dois indivíduos selecionados. (a) Primeira (b) Última etapa etapa Figura 4.8: Comportamento dos conjuntos T e AU X no processo de seleção 4.1 Algoritmo genético proposto 4.1.4 45 Crossover As duas soluções escolhidas pela seleção por torneio, Algoritmo 6, são as entradas do Algoritmo 7 que é responsável pela geração de uma nova solução a partir do duas soluções. O valor de cada posição do vetor F crossover entre é gerado a partir da média ponderada dos valores das posições correspondentes dos vetores I1 e I2. As cinco primeiras posições recebem 80% do maior valor e 20% do menor valor, e a partir da sexta posição a regra é invertida, cada posição recebe 20% do maior valor e 80% do menor valor. A Figura 4.9 exibe os critérios seguidos pelo operador (a) Crossover Crossover. para as cinco primeiras posi- ções do vetor solução (b) Crossover para as demais posições do ve- tor solução Figura 4.9: Formação de uma nova solução pelo Crossover. Este processo não garante que a soma das doses da solução gerada seja igual ou inferior a 65 Gy, ou seja, o crossover pode gerar uma solução cuja soma das doses exceda a dose máxima estabelecida para o tratamento. correção é aplicado. Para resolver este problema um algoritmo de 4.1 Algoritmo genético proposto 46 Algoritmo 7 Crossover( Solução I1, Solução I2 ) 1: Seja 2: 3: F (i) ← 0.8 ∗ I1(i) + 0.2 ∗ I2(i) senão 5: F (i) ← 0.2 ∗ I1(i) + 0.8 ∗ I2(i) 6: 8: 9: 10: m se m para para i = 6 até 80 faça se I1(i) > I2(i) então F (i) ← 0.2 ∗ I1(i) + 0.8 ∗ I2(i) 11: senão 12: F (i) ← 0.8 ∗ I1(i) + 0.2 ∗ I2(i) 13: 14: 15: um vetor de 81 posições para i = 1 até 5 faça se I1(i) > I2(i) então 4: 7: F m se m para 16: Retorne a solução F Crossover Os critérios seguidos pelo descrito estão fundamentados na análise reali- zada na Seção 4.1.1.3. O algoritmo contribui para que haja maiores dosagens nos cinco primeiros dias do tratamento. A correção de uma solução gerada ocorre no caso da mesma exceder 65 Gy na soma de suas doses ao longo do período de tratamento. Este excesso será chamado de dif f . Para cumprir seu propósito o Algoritmo 8 verica cada posição do vetor F, iniciando a vericação a partir da última posição até que o vetor se corrigido. Se a posição analisada contiver um valor não nulo, o algoritmo verica se este valor é maior ou menor que dif f . Se for menor, o valor F (i) Caso contrário, basta subtrair corrigido. dif f é subtraído de de F (i) dif f e logo é atribuído zero a F (i). que o algoritmo encerra retornando o vetor 4.1 Algoritmo genético proposto Algoritmo 8 Correção( Solução F 1: Seja SomaD 47 ) a soma das doses em 2: se SomaD > 65 então 3: dif f ← somaD − 65 4: i ← 80 F 7: enquanto i ≥ 0 e dif f > 0 faça se F (i) > 0 então se F (i) < dif f então 8: dif f ← dif f − F (i) 9: F (i) ← 0 5: 6: senão 10: 11: F (i) ← F (i) − dif f 12: dif f ← 0 13: 14: 15: 16: m se m se m enquanto m se 17: Retorne 4.1.5 F Mutação A mutação descrita pelo Algoritmo 9 ocorre com taxa de 20%, isto é, ao ser gerada uma nova solução esta possui 20% de chance de sofrer mutação. Quando aplicado, o algoritmo de mutação possui a probabilidade de 25% de atribuir valor a uma das cinco primeiras posições do vetor F quando a soma de suas doses não exceder 65 Gy, 50% de chance de um valor não nulo a partir da sexta posição ser realocado para uma das cinco primeiras posições e 25% de chance de haver um valor não nulo zerado a partir da sexta posição. Assim como o Crossover, este operador também está fundamentado na estudo realizado na Seção 4.1.1.3. A Figura 4.10 apresenta o principal comportamento do Algoritmo 9, neste algoritmo as cinco primeiras posições serão referenciadas como primeira parte e as demais como segunda parte do vetor solução. 4.1 Algoritmo genético proposto 48 Figura 4.10: Algoritmo de mutação Algoritmo 9 Mutação( Solução F 1: tipomut ← rand() 2: dif f ← 65 − sum(F ) 3: 4: se tipomut ≤ 0.25 então se dif f > 0 então Atribua 5: 6: 7: 8: ) dif f a uma das cinco primeiras posições do vetor F m se senão se tipomut > 0.25 e tipomut ≤ 0.75 então Realoque um valor não nulo da segunda parte para uma nova posição correspondente a primeira parte do vetor. 9: 10: 11: senão Atribua o valor nulo numa posição do vetor, sendo esta posição > 6 m se 12: Retorne F 4.1.6 Reposição O Algoritmo 10 e a Figura 4.11 descrevem como as novas soluções geradas, representadas pela matriz F , são inseridas na população, matriz P . A reposição é feita de forma a evitar que soluções iguais, ou com valores muito próximos, sejam inseridas na população. O funcionamento deste algoritmo consiste em duas estruturas de repetição dispostas de forma que cada solução gerada seja imediatamente comparada com cada uma das soluções existentes na população, que será referenciada nesta seção como vetor I. Para uma nova solução ser inserida na população é necessário que elas sejam diferentes tanto em relação ao grau de adaptação quanto na distribuição das doses ao longo do tratamento. 4.1 Algoritmo genético proposto 49 (a) Comparação com toda (b) Comparação indivi- população dual Figura 4.11: Algoritmo de reposição Para testar se duas soluções são diferentes, primeiramente é vericada a diferença entre o grau de adaptação. Se estes forem diferentes, conclui-se que as soluções são diferentes. No caso do grau de adaptação das duas soluções comparadas sejam iguais, é feita a comparação da distribuição das doses ao longo do tratamento. Esta comparação é feita em cada respectiva posição dos vetores solução, sendo que deve haver uma diferença de ±2 unidades para que os valores sejam considerados diferentes. Por exemplo, o número 3 seria considerado igual ao número 4.2, pois eles não diferem em 2 unidades. Neste mesmo exemplo, para que um número seja considerado diferente de 3, ele deverá ser maior que 5 ou menor que 1. Este critério de diferenciação foi determinado empiricamente, valores menores como ±0.1, ±0.5 e ±1 também foram testados porém não contribuíram tão signicativamente na diversidade da população quanto ao valor escolhido. Desta forma, duas soluções são consideradas iguais quando possuem o mesmo grau de adaptação e mesma distribuição de doses ao longo do tratamento. 4.1 Algoritmo genético proposto 50 Algoritmo 10 Reposição( População P , Soluções geradas F ) 1: Seja P de dimensão 81 x N uma matriz composta pela população de soluções 2: Seja F de dimensão 81 x 3: 4: 5: 6: 7: 8: 9: 10: nAG uma matriz composta pelas soluções geradas para i = 1 até nAG faça para j = 1 até N faça Compare o grau de adaptação e a distribuição das doses de F (:, i) e P (:, j) m para se A solução F (:, i) for diferente de todas as soluções da matriz P então Substitua a pior solução da antiga população por m se m para 11: Retorne P F (:, i) Capítulo 5 Resultados e discussões Neste capítulo serão apresentados os resultados obtidos no desenvolvimento do trabalho. A Seção 5.1 aborda a vericação de convergência do algoritmo genético proposto, pois é necessário certicar se o algoritmo é capaz de encontrar soluções de qualidade equiparável à literatura. O processo de otimização e simulação de crescimento do glioma foi implementado em ambiente MatLab R da MathWorks. O ambiente de desenvolvimento possui a seguinte conguração: • Sistema Operacional: Fedora 14; • Processador: Intel Core I7-2600 (8M Cache L3, 3.4 GHz); • Memória RAM: 8Gb DDR3 1333 MHz; O parâmetro Gy −1 α, sensibilidade ao tratamento por radioterapia, será igual a [33] para todas as instâncias utilizadas neste capítulo. 0.0305 A distribuição das doses aplicadas terá valor nulo em todas as posições múltiplas de 6 e 7 do vetor solução, tais posições correspondem aos nais de semana quando não ocorre tratamento. Todo plano de tratamento utilizará até 65 Gy distribuídos em oitenta dias. 5.1 Vericação da convergência do algoritmo genético Na vericação da convergência será considerado o paciente estudado no artigo de Swanson et al. [33], o mesmo utilizado na análise realizada na Seção 4.1.1.3, cujos parâmetros mede D e ρ 14 mm. são 1.43 cm2 /ano e 16.25 /ano respectivamente e o raio inicial do glioma Naquele artigo os autores simularam a aplicação de seis tratamentos com 5.1 Vericação da convergência do algoritmo genético 52 diferentes fracionamentos de dose, aplicando a dose total em uma ou até quarenta e cinco frações em dias consecutivos e excluindo os nais de semana. A Figura 5.1 exibe a evolução do raio do glioma em seis tratamentos diferentes. Ela mostra que o melhor tratamento é dado pelo fracionamento da dose total em cinco doses iguais, um fracionamento maior ou menor causa um aumento signicativo do raio do glioma, tal comportamento também foi observado no estudo realizado na Seção 4.1.1.3. A simulação necessário para a obtenção dos dados da Figura 5.1 foi realizada utilizando o método das diferenças nitas descrito na Seção 4.1.1.2. Diferentes dosagens 30 1 Dose 5 Doses 15 Doses 25 Doses 35 Doses Raio do glioma ( mm ) 25 20 15 10 5 0 0 10 20 30 40 50 Tempo ( Dias ) 60 70 80 Figura 5.1: Evolução do raio do glioma em diferentes tratamentos A convergência do A.G. proposto foi testada da seguinte forma: Conhecido o melhor plano de tratamento e seu respectivo raio, o algoritmo deverá ser capaz de convergir para este resultado a partir de uma população inicial que não contenha a melhor solução conhecida. Para o paciente escolhido na realização deste teste, a submissão ao melhor plano de tratamento conhecido resulta no raio do glioma medindo aproximadamente mm 18 no nal do tratamento. O Algoritmo 5 gera a população inicial, mas como não há garantia de que a melhor solução conhecida não esteja presente nesta população, o Algoritmo 11 é capaz de retirar da população inicial toda solução cujo raio é menor que RM in . 5.1 Vericação da convergência do algoritmo genético 53 Algoritmo 11 Piorar raio( Soluções P, Inteiro RM in ) 1: Ordene as soluções da população segundo o grau de adaptação 2: Identique a n-ésima solução com raio igual a RM in 3: Seja c1 o número da coluna da solução identicada 4: Seja c2 o número da coluna da última solução 5: Seja 6: i←1 enquanto i < c1 faça P (:, i) ← Alteracao(P (:, c2)) 7: Realize 8: Avalie a solução 9: i←i+1 10: c2 ← c2 − 1 11: se c2 ← 12: 13: 14: c2 = c1 três vezes P (:, i) então o índice da última coluna de P m se m enquanto 15: Retorne a matriz P O Algoritmo 11 garante que após sua aplicação na população contenha apenas soluções com o raio maior que titui todas as soluções de raio menor que raio maior que RM in . RM in RM in . a nova população Este algoritmo basicamente subs- por outras menos adaptadas, ou seja, com Em execução o algoritmo divide a população em duas partes, a primeira contendo soluções com raio menor ou igual a com raio maior a P, RM in . RM in e a segunda contém soluções Para cada solução a ser substituída da primeira parte, uma solução da segunda parte é modicada pelo Algoritmo 12. Esta modicação consiste em realocar doses para posições aleatórias seguindo a regra de que 80% é realocado e 20% é perdido. 5.1 Vericação da convergência do algoritmo genético 54 Algoritmo 12 Alteração( Solução I ) 1: Sejam 2: Seja a1, a2 ∈ [1, 80] ok ← 0 números aleatórios tal que uma variável auxiliar 4: enquanto ok = 0 faça se I(a1) 6= 0 então 5: I(a2) ← 0.8 ∗ I(a1) 6: ok ← 1 3: 7: m se 8: Gere novos valores para 9: a1 6= a2 a1 e a2 atendendo a condição imposta inicialmente m enquanto 10: Retorne I A Figura 5.2 exibe a convergência do melhor raio da população ao melhor raio conhecido. A linha contínua no gráco mostra o melhor raio da população enquanto a linha tracejada exibe o pior raio. 30 Pior Raio Raio Medio Melhor Raio Raio do glioma ( mm ) 28 26 24 22 20 18 0 100 200 300 Geracoes 400 500 600 Figura 5.2: Convergência do raio da população A linha tracejada oscila periodicamente devido a constante substituição de 1/4 da população por novos indivíduos gerados pelo Algoritmo 5 com o objetivo de proporcionar o aumento da diversidade da população. Para o caso em questão, uma possível explicação da rápida convergência do algoritmo por volta da centésima geração foi a substituição 5.1 Vericação da convergência do algoritmo genético 55 de 1/4 da população, o aumento da diversidade genética pode ter favorecido o rápido surgimento de uma solução mais bem adaptada. A distribuição do raio da população da 250 250 200 200 150 150 Individuos Individuos primeira e última geração são exibidas na Figura 5.3 100 100 50 50 0 18 20 22 24 Raio (mm) 26 28 0 30 18 20 (a) População inicial 22 24 Raio (mm) 26 28 30 (b) Última geração Figura 5.3: Distribuição dos raios da população A população inicial modicada pelo Algoritmo 11 não apresenta raios maiores que 22 mm em valores inteiros, ou seja, o maior raio da nova população não alcança nem mesmo o valor de 23 mm. A população nal possui alta concentração de indivíduos com raio próximo ao melhor valor conhecido. Desta forma, o algoritmo foi capaz de gerar indivíduos mais bem adaptados em aproximadamente 650 gerações. Foram realizados 10 testes de convergência para a mesma instância do artigo [33], a média e o desvio padrão dos raios encontrados são apresentados na Tabela 5.1. Qtd. de Testes 10 Raio do glioma Média Desvio Padrão 18.1782 0.08441 Tabela 5.1: Resultado de 10 testes de convergência Em todos os casos, o algoritmo encontrou somente as soluções cujo raio mede mm ou 18.2182 mm, tal resultado evidencia a robustez do A.G. proposto. 18.0180 Portanto, através deste experimento é possível armar que o A.G. apresentou uma boa convergência, pois este foi capaz de encontrar tratamentos que reduzem o raio do glioma a valores próximos do melhor conhecido na literatura. 5.2 Algoritmo aplicado as instâncias 56 5.2 Algoritmo aplicado as instâncias Esta seção contém informações sobre as instâncias que serão submetidas ao processo de otimização do plano de tratamento por radioterapia, bem como uma discussão dos resultados obtidos. A avaliação do raio do glioma é sempre realizada no nal do período de tratamento. 5.2.1 Instâncias As instâncias utilizadas neste trabalho são descritas na Tabela 5.2, nela estão contidos os parâmetros D e ρ de cada instância [40]. Neste trabalho, todas as instâncias possuem o raio inicial medindo 14 mm. Instância 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 D (mm2 /ano) 19.4 316.7 5.1 17.4 11.5 1.3 50.7 21.0 3.9 0.3 15.2 47.1 13.0 29.4 5.0 ρ (1/ano) 57.3 173.6 12.3 15.4 64.0 272.7 13.9 18.8 5.5 81.7 26.7 17.3 15.8 5.1 7.3 D/ρ 33.9% 182.4% 41.5% 113.0% 18.0% 0.5% 364.7% 111.7% 70.9% 0.4% 56.9% 272.3% 82.3% 576.5% 68.5% Tabela 5.2: Instâncias utilizadas no estudo A razão D/ρ também pode ser chamada de índice de invisibilidade. Quanto maior esta razão mais difusivo é o tumor, característica que o torna perigoso pelo fato das imagens detectarem apenas a ponta do iceberg, ou seja, apenas a parte superior da concentração de células cancerígenas [27]. O coeciente de proliferação ρ inuencia signicativamente o crescimento do raio do glioma, na Tabela 5.3 é possível observar a correlação entre ρ do glioma após oitenta dias sem aplicação de nenhuma terapia. e a variação do raio As instâncias 2 e 6 possuem os maiores coecientes de proliferação e também a maior variação do raio do glioma. Apesar da instância 6 possuir maior índice de proliferação, a instância 2 combina a alta proliferação com alta difusão levando a um crescimento superior a instância 6. As instâncias com os menores índices de proliferação apresentaram, sem exceção, as menores variações do raio de todo o grupo. As Figuras 5.4(a) e 5.4(b) apresentam os grácos do crescimento do glioma das ins- 5.2 Algoritmo aplicado as instâncias Instância 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 57 D (mm2 /ano) 19.4 316.7 5.1 17.4 11.5 1.3 50.7 21.0 3.9 0.3 15.2 47.1 13.0 29.4 5.0 ρ (1/ano) 57.3 173.6 12.3 15.4 64.0 272.7 13.9 18.8 5.5 81.7 26.7 17.3 15.8 5.1 7.3 4r (mm) 38.9 99.7 13.0 15.8 41.3 96.1 15.4 18.4 6.8 47.3 23.2 17.8 16.0 6.6 8.6 Tabela 5.3: Variação do raio do glioma em oitenta dias sem tratamento tâncias 6 e 14 em oitenta dias sem a presença de nenhuma terapia, estas instâncias foram escolhidas por apresentarem o maior e o menor coeciente de proliferação respectivamente. Instância 6 Instância 14 120 21 20 100 Raio do glioma ( mm ) Raio do glioma ( mm ) 19 80 60 40 18 17 16 20 0 15 0 10 20 30 40 50 Tempo ( Dia ) 60 70 80 (a) Instância 6 14 0 10 20 30 40 50 Tempo ( Dia ) 60 70 80 (b) Instância 14 Figura 5.4: Crescimento do raio do glioma sem terapia Na Figura 5.4, enquanto o raio do glioma da Instância 6 apresenta um crescimento exponencial, a Instância 14 apresentam um crescimento quase linear. Isso acontece pelo fato da variação do raio da Instância 6 ser dezesseis vezes maior que o da Instância 14. Enquanto no mesmo horizonte de tempo visualizamos a variação de visualizamos uma variação de apenas 5.2.2 6.6 mm 96 mm de uma, da outra instância. Otimização Num tratamento por radioterapia o objetivo é maximizar os efeitos da radiação no tumor e minimizar os efeitos nocivos aos tecidos sadios. Em geral, estes dois objetivos 5.2 Algoritmo aplicado as instâncias 58 são alcançados aplicando-se diariamente doses de 1 a 2.5 Gy [33]. Porém o objetivo deste trabalho é aumentar o tempo de sobrevida de um paciente em estágio terminal, reduzindo ao máximo o tamanho do tumor. Neste caso os efeitos nocivos aos tecidos sadios são negligenciados, tal consideração também feita em [33]. A otimização utilizou um tratamento no qual são aplicadas doses apenas em dias de semana e que tem como único objetivo diminuir o raio do tumor, sendo que a dose máxima aplicada em todo o tratamento possui um limite superior. autores utilizaram 61, 2 Gy +5% da(s) semana(s) de tratamento e como dose máxima, sendo 5% 61, 2 Gy No artigo [33] os distribuído ao longo deste valor aplicado como dose de reforço no último dia. A aproximação feita nesta otimização foi que a dosagem máxima deveria ser 65 Gy . Os resultados encontrados pela otimização foram comparados com o melhor tratamento conhecido, que é a aplicação de 61, 2 Gy +5%, sendo 61, 2 Gy fracionado em cinco doses iguais aplicados de segunda a sexta-feira e a dose de reforço aplicado na segunda-feira da semana seguinte. A Tabela 5.4 exibe a comparação entre o raio do glioma no melhor tratamento conhecido e o raio do tratamento encontrado pelo A.G. proposto. A coluna MTL apresenta os raios do melhor tratamento conhecido na literatura, as colunas Média e D. Padrão apresentam a média e o desvio padrão, respectivamente, dos raios do glioma em 5 execuções do algoritmo. O erro percentual entre a Média e MTL é apresentado na última coluna da tabela. Instância 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 MTL 46.65 109.31 11.81 16.62 49.45 107.31 14.41 20.82 0.00 56.26 28.03 19.22 17.22 0.00 0.00 A.G. D. Padrão 46.65 0.00 109.71 0.00 11.41 0.00 16.42 0.00 49.45 0.00 107.71 0.00 14.21 0.00 20.62 0.00 0.00 0.00 56.26 0.00 27.99 0.09 19.06 0.09 17.02 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 Média Erro(%) 0.00% 0.36% 3.51% 1.22% 0.00% 0.37% 1.39% 0.97% 0.00% 0.00% 0.14% 0.84% 1.18% 0.00% 0.00% Tabela 5.4: Comparação dos raios do glioma para o melhor tratamento encontrado na literatura(MTL) e para o tratamento encontrado pelo A.G. Os números em negrito representam os melhores valores da comparação. Cada execução do A.G. durou aproximadamente 4 horas. A cada geração, cada uma das 10 soluções geradas deve ser avaliada pela função objetivo, assim como toda a população de 256 soluções teve que ser avaliada inicialmente. Esta avaliação equivale a simular o crescimento o tumor sob um determinado plano de tratamento. A simulação do fenômeno 5.2 Algoritmo aplicado as instâncias 59 é a parte do processo de otimização que demanda maior tempo de processamento. O fracionamento de doses que minimizou o raio do glioma foi igual para todas as instâncias, a dose total sendo fracionada em cinco doses e aplicada em cinco dias consecutivos. A exceção acontece para as instâncias 9, 14 e 15 que pelo fato de possuírem as menores taxas de crescimento, estas permitem a máxima redução do glioma através de maiores combinações de fracionamentos da dose total. As Figuras 5.5(a) e 5.5(b) exibem a distribuição da média das doses ao longo do tempo da população do A.G., para a Instância 3 o menor raio ocorreu com o melhor tratamento encontrado na literatura e para a Instância 14, devido a sua baixa velocidade de crescimento, o melhor raio ocorreu para 12 12 10 10 8 8 Dose (Gy) Dose (Gy) tratamentos diferentes do melhor conhecido. 6 6 4 4 2 2 0 10 20 30 40 Tempo (dia) 50 (a) Instância 3 60 70 80 0 10 20 30 40 Tempo (dia) 50 60 70 80 (b) Instância 15 Figura 5.5: Distribuição da média das doses ao longo do tratamento Para algumas instâncias o tratamento apresentou elevada ecácia no objetivo de reduzir ao máximo o raio do glioma. Na Tabela 5.5 é possível ver a comparação entre o raio do glioma com e sem tratamento, sendo que o raio sempre é menor na presença da radioterapia. A última coluna da tabela apresenta o índice que mede o quão inecaz foi o tratamento para determinada instância, ou seja, quanto maior este índice menor é a variação entre o raio do glioma com e sem aplicação da radioterapia. O índice de inecácia é dado pela razão entre raio do glioma com e sem a aplicação do melhor plano de tratamento. Na visualização da evolução do crescimento do raio do glioma com e sem radioterapia é possível observar as informações contidas na Tabela 5.5. As Figuras 5.7(a), 5.6 e 5.7(b) exibem a evolução do raio do glioma ao longo do tempo das instâncias 2, 3 e 9, respectivamente. 5.2 Algoritmo aplicado as instâncias 60 Raio do glioma Sem tratamento Média A.G. 52.85 46.65 113.71 109.71 27.03 11.41 29.83 16.42 55.26 49.45 110.11 107.71 29.43 14.21 32.43 20.62 20.82 0.00 61.26 56.26 37.24 27.99 31.83 19.06 30.03 17.02 20.62 0.00 22.62 0.00 Instância 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Redução 6.21 4.00 15.62 13.41 5.81 2.40 15.22 11.81 20.82 5.00 9.21 12.61 13.01 20.62 22.62 Inecácia 88% 96% 42% 55% 89% 98% 48% 64% 0% 92% 75% 60% 57% 0% 0% Tabela 5.5: Inecácia da terapia em cada instância A evolução do raio do glioma da Instância 3 é semelhante a maior parte das instâncias do grupo. Como pode ser visto na Figura 5.6, o melhor plano de tratamento faz com que o glioma atinja um valor abaixo da margem detectável por um período de aproximadamente 60 dias e, em seguida, assume valores detectáveis e, a partir destes valores, é possível acompanhar o crescimento do glioma. No caso da Instância 3 o raio do glioma assume o valor inicial em pouco mais que 80 dias após a primeira dose administrada. Instância 3 30 Sem radioterapia Com radioterapia Raio do glioma ( mm ) 25 20 15 10 5 0 0 10 20 30 40 50 Tempo ( Dia ) 60 70 80 Figura 5.6: Crescimento do raio do glioma com e sem terapia para a instância 3. Tal comportamento é semelhante para a maioria das instâncias( 1, 4, 5, 7, 8, 10, 11, 12, 13 ) O melhor plano de tratamento encontrado para a Instância 2 teve sua ineciência avaliada em 96%, ou seja, o raio atingido pelo glioma no melhor tratamento corresponde a 96% do raio do glioma sem a aplicação de nenhum tratamento. Na Figura 5.7(a) é possível vericar que, para esta instância, o crescimento do glioma é muito similar com ou sem tratamento. Neste caso, o raio do glioma atinge seu tamanho inicial em menos de dez dias. A Instância 6 possui comportamento similar, a variação do raio do glioma para esta é ainda menor. Estas duas instâncias possuem os maiores coecientes de proliferação 5.2 Algoritmo aplicado as instâncias 61 Instância 2 Instância 9 120 25 Sem radioterapia Com radioterapia Sem radioterapia Com radioterapia 20 Raio do glioma ( mm ) Raio do glioma ( mm ) 100 80 60 40 10 5 20 0 15 0 10 20 30 40 50 Tempo ( Dia ) 60 70 80 0 0 (a) Instância 2 10 20 30 40 50 Tempo ( Dia ) 60 70 80 (b) Instância 9 Figura 5.7: Crescimento do raio do glioma com e sem terapia para as instâncias com maior( 2, 6 ) e menor( 9, 14, 15 ) taxa de crescimento e difusão de todo o grupo. O comportamento do raio do glioma assumido pela Instância 9 na Figura 5.7(b) é semelhante ao das instâncias 14 e 15. Para estas instâncias, não é possível visualizar o crescimento do glioma em oitenta dias após a primeira dose administrada. Estas instâncias possuem os menores coecientes de proliferação e difusão, e consequentemente as menores taxas de crescimento em relação ao grupo estudado. No período observado, o melhor tratamento para estas instâncias possui índice de inecácia 0%. Logo, pode-se armar que estes tratamentos foram capazes de reduzir o raio do glioma em sua totalidade. Capítulo 6 Conclusões e trabalhos futuros Este trabalho apresentou uma otimização do plano de tratamento por radioterapia para pacientes com glioma. Para tanto, foi utilizado um modelo matemático que descreve o fenômeno para gerar simulações do crescimento do glioma submetido a diferentes planos de tratamento. Como ferramenta de otimização, foi proposto um algoritmo genético. O processo de busca pelo plano de tratamento que reduz ao máximo o raio do tumor resultou no encontro do melhor plano de tratamento conhecido na literatura. A equação reativa difusiva proposta por Swanson et al. [33], que descreve o crescimento do glioma em resposta a radioterapia, foi fundamental na construção do ambiente de simulação. A grande vantagem deste modelo é a pequena quantidade de parâmetros que descreve um único paciente, permitindo que a comunidade cientíca utilize o modelo sem depender de uma grande quantidade de dados especícos. As simulações de crescimento do glioma em resposta a radioterapia foram realizadas utilizando o modelo de Swanson [33], que é um modelo contínuo. Para resolvê-lo nu- mericamente, foi necessário transformar o modelo original num modelo discreto e para isso foi utilizado o método de Crank-Nicolson implementado no ambiente MathWorks. MatLab R da O código implementado foi validado com os resultados obtidos em [33]. Para encontrar o melhor plano de tratamento foi proposto um algoritmo genético. Foram necessários vários testes de renamento para que se encontrasse os operadores de crossover e mutação além dos parâmetros como taxa de mutação, número de indivíduos na população, número de lhos a cada geração, tamanho do grupo selecionado, algoritmos de reposição e seleção, como também os critérios de parada e diversicação. A determinação destes parâmetros e critérios foi realizada através de testes com uma única instância pelo fato de a literatura apresentar dados sucientes para comparações apenas 6 Conclusões e trabalhos futuros 63 para esta instância, de acordo com o conhecimento do autor. Foi realizado um estudo do comportamento da função objetivo na vizinhança do melhor resultado conhecido na literatura, neste estudo foi possível extrair informação suciente para auxiliar a construção dos operadores de crossover e mutação. A convergência do algoritmo genético foi testada de maneira que, conhecido o melhor plano de tratamento e seu respectivo raio para um certo paciente, o algoritmo deve ser capaz de encontrar a melhor solução conhecida a partir de uma população inicial que não contenha esta solução. Para isto foi proposto um algoritmo que retira as soluções mais bem adaptadas da população inicial. Partindo de uma população com soluções menos adaptadas em relação à melhor conhecida, o algoritmo foi capaz de encontrar a melhor solução de que se tem conhecimento. O algoritmo genético proposto foi capaz de encontrar os melhores planos de tratamento para 15 instâncias com características diversas. Para algumas instâncias o melhor plano de tratamento trás, relativamente, pequenas alterações para a evolução do raio do glioma, neste caso vale ponderar se os efeitos benécos da radioterapia superam os possíveis efeitos colaterais. Outras instâncias tiveram um comportamento particular na presença da radioterapia, devido à baixa velocidade de crescimento elas tiveram seu tumor reduzido ao máximo quando submetidas a tratamentos diferentes do melhor conhecido. Para pacientes com tumor exibindo tal comportamento a redução da dose máxima pode ser benéco aos tecidos sadios que circundam o tumor, possibilitando a redução dos efeitos colaterais. A maioria das instâncias investigadas apresentou signicativa redução do raio do glioma no período observado, trazendo aumento no tempo de sobrevida para um paciente cujo tumor exibe comportamento similar aos que foram simulados. Como trabalho futuro, os modelos matemáticos mais precisos como a equação reativa difusiva não linear apresentada na Seção 3.2, podem ser usados com o propósito de encontrar o melhor tratamento por radioterapia. Modelos mais avançados podem fazer com que as pesquisas alcancem resultados mais precisos. Ainda como trabalho futuro, a otimização pode ser feita também, com este mesmo framework, para diferentes tipos de tratamentos de câncer, bem como combinações destes. Já existe modelo de crescimento de glioma incluindo efeitos da quimioterapia, este pode ser um importante ponto de partida para a otimização de outros tipos de tratamento de câncer. Outro possível trabalho futuro está relacionado à otimização do plano de tratamento de câncer considerando também os efeitos nocivos do tratamento utilizando a otimização 6 Conclusões e trabalhos futuros 64 multiobjetivo, como foi feito pelos autores em [27] para o caso da radioterapia. Neste caso o melhor tratamento será aquele que minimize os danos da radiação em tecidos sadios e que maximize os efeitos da radiação em células cancerígenas. Referências [1] INCA. World Wide Web, www2.inca.gov.br. Acessado em 05/2015. [2] Parkin, D. M., Bray, F., Ferlay, J., Pisani, P. Estimating the world cancer burden: Globocan 2000. International Journal of Cancer 94, 2 (2001), 153156. Selected Topics in Cancer Modeling: Genesis, Evolution, Immune Competition and Therapy. Birkhäuser, New York, NY, [3] Bellomo, N., Chaplain, M., Angelis, E. D. 2008. 473p. [4] Behin, A., Hoang-Xuan, K., Carpentier, A. F., Delattre, J.-Y. Primary brain tumours in adults. The Lancet 361, 9354 (2003), 323331. [5] Institute, N. C. Radiation therapy and you, 2012. [6] Society, A. C. The science behind radiation therapy, 2014. [7] Talbi, E.-G. Metaheuristics: from design to implementation. John Wiley & Sons, Hoboken, New Jersey, 2009. 593p. [8] Clark, W. Tumour progression and the nature of cancer. 64, 4 (1991), 631644. [9] Knowles, M., Selby, P. cancer. Introduction to the cellular and molecular biology of Oxford University Press, New York, NY, 2005. 552p. [10] Rodrigues, D. S., Mancera, P. F., Pinho, S. T. em câncer e quimioterapia: Uma introdução. Aplicada e Computacional Modelagem matemática Sociedade Brasileira de Matemática (2011), 22365915. [11] Ippolito, G. D., Medeiros, R. B. Brasil British Journal of Cancer Exames radiológicos na gestação. SciELO (2005), 447450. Genetic algorithms and genetic programming: modern concepts and practical applications, vol. 6 em Numerical Insights. Crc Press, New York, NY, 2009. 394p. [12] Affenzeller, M., Wagner, S., Winkler, S., Beham, A. [13] de Oliveira, R. A., de Medeiros Júnior, M. F., Menezes, R. F. A. Application of genetic algorithm for optimization on projects of public illumination. Power Systems Research 117 Electric (2014), 8493. [14] de Magalhães, C. S., Almeida, D. M., Barbosa, H. J. C., Dardenne, L. E. A dynamic niching genetic algorithm strategy for docking highly exible ligands. Information Sciences 289 (2014), 206224. Referências 66 [15] Lin, B., Yu, Q., Li, Z., Zhou, X. Research on parametric design method for energy eciency of green building in architectural scheme phase. Research 2, 1 (2013), 1122. [16] Gopalakrishnan, H., Kosanovic, D. Frontiers of Architectural Operational planning of combined heat and power plants through genetic algorithms for mixed 01 nonlinear programming. Computers & Operations Research (2014), 5167. [17] Chen, C.-H., Liu, T.-K., Chou, J.-H., Tasi, C.-H., Wang, H. Optimization of teacher volunteer transferring problems using greedy genetic algorithms. Systems with Applications 42, 1 (2015), 668678. Expert [18] Restrepo, S. E., Giraldo, S. T., Thijsse, B. J. A genetic algorithm for gene- Modelling and Simulation in Materials Science and Engineering 21, 5 (2013), 55017. rating grain boundaries. [19] Groba, C., Sartal, A., Vázquez, X. H. Solving the dynamic traveling salesman problem using a genetic algorithm with trajectory prediction: An application to sh aggregating devices. Computers & Operations Research [20] Gorman, C., Valova, I. (2014), 2232. Optimizations of the gravitationally organized related Procedia Computer Science 36 mapping ann through genetic algorithms. (2014), 529534. Handbook of metaheuristics, vol. 146 em International Series in Operations Research & Management Science. Springer, New York, [21] Gendreau, M., Potvin, J.-Y. NY, 2010. 648p. [22] de Araújo, F. S. L. N. Um estudo algorítmico para otimização do plano de tratamento da radioterapia conformal. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2006. [23] Goldbarg, M. C., Goldbarg, E. F. G., Mendes, C. R. d. A., Araújo, F. S. L. N. d., Corso, G., Osti, N. M. Algoritmo evolucionário para otimização do plano de tratamento em radioterapia conformal 3D. Pesquisa Operacional 29, 2 (2009), 239267. [24] Holdsworth, C., Kim, M., Liao, J., Phillips, M. H. A hierarchical evolutionary algorithm for multiobjective optimization in IMRT. Medical Physics 37, 9 (2010), 49864997. [25] Li, Y., Yao, J., Yao, D. Genetic algorithm based deliverable segments optimization for static intensity-modulated radiotherapy. Physics in Medicine and Biology 48, 20 (2003), 33533374. [26] Zelefsky, M. J., Fuks, Z., Hunt, M., LEE, H. J., LOMBARDI, D., LING, C. C., REUTER, V. E., Venkatraman, E. S., Leibel, S. A. High dose radiation delivered by intensity modulated conformal radiotherapy improves the outcome of localized prostate cancer. The Journal of Urology 166, 3 (2001), 876881. Referências 67 [27] Corwin, D., Holdsworth, C., Rockne, R. C., Trister, A. D., Mrugala, M. M., Rockhill, J. K., Stewart, R. D., Phillips, M., Swanson, K. R. Toward patient-specic, biologically optimized radiation therapy plans for the treatment of glioblastoma. Plos ONE 8(11): e79115. doi:10.1371/journal.pone.0079115 (2013), 19. [28] Holdsworth, C., Corwin, D., Stewart, R., Rockne, R., Trister, A., Swanson, K., Phillips, M. Adaptive IMRT using a multiobjective evolutionary algorithm integrated with a diusioninvasion model of glioblastoma. Medicine and Biology 57, 24 (2012), 82718284. Physics in [29] Alexandre, R. F., Mendes, J. B., Campelo, F., Vasconcelos, J. A. SIMMIM: Uma ferramenta para simulação, otimização e auxílio à tomada de decisões em ambientes de minas a céu aberto. [30] Preziosi, L. XLVI SBPO (2014), 17401751. Cancer modelling and simulation. CRC Press, Boca Raton, Florida, 2003. 454p. [31] Swanson, K. R., Bridge, C., Murray, J., Alvord Jr, E. C. Virtual and real brain tumors: using mathematical modeling to quantify glioma growth and invasion. Journal of the Neurological Sciences 216, 1 (2003), 110. Mathematical Biology I: An Introduction, vol. 17 em Interdisciplinary Applied Mathematics. Springer, New York, NY, 2002. 576p. [32] Murray, J. D. [33] Rockne, R., Alvord Jr, E., Rockhill, J., Swanson, K. A mathematical model for brain tumor response to radiation therapy. Journal of Mathematical Biology 58, 4 (2009), 561578. [34] da Silva, J. J. Modelagem computacional aplicada ao tratamento de câncer via medicina nuclear. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal Fluminense, 2014. [35] Pletcher, R. H., Tannehill, J. C., Anderson, D. nics and heat transfer. [36] de Jesus, J. C. Computational uid mecha- CRC Press, Boca Raton, Florida, 2012. 774p. Modelagem do crescimento de glioma por séries temporais em resposta à radioterapia. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal Fluminense, 2014. [37] Enns, R. H., McGuire, G. C. and engineers. Nonlinear physics with Mathematica for scientists Birkhäuser, New York, NY, 2001. 695p. [38] Burden, R. L., Faires, J. D. Numerical Analysis. Cengage Learning, Boston, Massachusetts, 2011. 888p. [39] Yang, W. Y., Cao, W., Chung, T.-S., Morris, J. using MATLAB. Applied numerical methods John Wiley & Sons, Hoboken, New Jersey, 2005. 528p. [40] Wang, C. H., Rockhill, J. K., Mrugala, M., Peacock, D. L., Lai, A., Jusenius, K., Wardlaw, J. M., Cloughesy, T., Spence, A. M., Rockne, R., others. Prognostic signicance of growth kinetics in newly diagnosed glioblastomas revealed by combining serial imaging with a novel biomathematical model. Research 69, 23 (2009), 91339140. Cancer