ARTIGO ORIGINAL ADESÃO PRESSÃO AO TRATAMENTO ARTERIAL E FARMACOLÓGICO, QUALIDADE DE VIDA CONTROLE EM DA PACIENTES HIPERTENSOS ADHERENCE TO PHARMACOLOGICAL TREATMENT, BLOOD PRESSURE CONTROL AND QUALITY OF LIFE OF HYPERTENSIVE PATIENTS Cícera Cristina Vidal Aragão1,2; Brigitte Rieckmann Martins dos Santos1; Daniela Araujo de Sousa6; Natalia Barbosa Diniz6; Maria Lúcia Bueno Garcia4; Alfésio Luís Ferreira Braga4; Lourdes Conceição Martins2,4. 1.Farmácia Escola – Universidade Municipal de São Caetano do Sul; 2.Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina do ABC; 3.Disciplina de Clínica Geral, Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina – Universidade de São Paulo 4. Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Católica de Santos 5. Curso de Farmácia – Universidade Municipal de São Caetano do Sul; Autor Correspondente: Lourdes Conceição Martins Rua Abraham Bloemaert, 126 CEP: 05541-320 Jd. Das Vertentes – SP E-mail: [email protected] Fone: 11-35073790 ou 11-99680552 Título Abreviado: Qualidade de vida, adesão e hipertensão arterial RESUMO Introdução: A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é reconhecida como principal fator de risco para doença cerebrovascular, doença arterial coronariana, insuficiência renal crônica e doença vascular de extremidades. A não adesão ao tratamento anti-hipertensivo aumenta o risco de eventos adversos e pode acarretar uma pior qualidade de vida. Objetivo: Avaliar a qualidade de vida e o nível de adesão ao tratamento farmacológico de pacientes portadores de hipertensão arterial, usuários de uma farmácia escola. Casuística: Este é um estudo transversal, realizado através da aplicação de três questionários: o questionário de Morisky & Green para verificar a adesão ao tratamento medicamentoso, o questionário de qualidade de vida em hipertensão arterial (MINICHAL-BRASIL), e o questionário de dados biodemográficos para o período de outubro de 2009 a agosto de 2010. Foi realizada a análise descritiva de todas as variáveis, e os testes de Quiquadrado e U de Mann-Whitney. Resultados: Participaram do estudo 190 pessoas, sendo 81 (42,6%) homens e 109 (57,4%) mulheres, 158 (83,1%) apresentavam níveis pressóricos controlados e 32 (16,9%) não controlados. 32,8% dos entrevistados não chegaram a completar o Ensino Fundamental, 62,1% eram casados, 9,5% estavam tratando a hipertensão arterial há menos de 1 ano. 61,1% dos pacientes foram considerados aderentes ao tratamento. Observou-se diferença significativa entre os grupos para o domínio estado mental (Teste U de MannWhitney, p<0,05), onde o grupo não controlado apresentou um pior estado mental do que o grupo controlado. Houve uma associação significativa entre adesão ao tratamento e controle da pressão arterial (Teste de Qui-quadrado, p<0,05). Conclusão: Os pacientes que aderiram ao tratamento apresentaram melhor controle de seu nível pressórico, e isso se refletiu também na qualidade de vida. Descritores: hipertensão arterial, adesão à medicação, qualidade de vida. SUMMARY Introduction: Hypertension is recognized as the leading risk factor for cerebrovascular disease, coronary artery disease, chronic renal failure and vascular disease of the extremities. A factor to be attributed to increased hypertension is the non-adherence to antihypertensive treatment, often leading to a worse quality of life in not controlled patients. Objective: Evaluate the quality of life and the level of adherence to drug therapy for patients with hypertension, users of pharmacy school. Case: This is a cross-sectional study, conducted by applying a questionnaire Mrorisky & Green to verify adherence to drug treatment, a quality of life questionnaire in hypertension (MINICHAL-BRAZIL), and a descriptive questionnaire data between September 2009 and June 2010. The descriptive analysis was undertaken of all variables, and the chi-squared test and test U Mann-Whitney. Results: 190 people participated in the study, being 81 (42.6%) men and 109 (57.4%) women, 158 (83.1%) had controlled pressure levels and 32 (16.9%) not controlled, 32.8% of respondents did not complete the elementary school, 62.1% were married, 9.5% were treating hypertension for less than 1 year. 61.1% of patients were considered to be adherent to treatment. There is a significant difference between the groups for the mental state (U of MannWhitney, p<0,05), where the non control group presents a worst mental state. Conclusion: Patients who adhere to pharmacological treatment showed better pressure level control, and this was reflected also in the quality of life. Descriptors: hypertension, medical adherence, quality of life. 1. INTRODUÇÃO A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é reconhecida como principal fator de risco para doença cerebrovascular, doença arterial coronariana, insuficiência renal crônica e doença vascular de extremidades. A correlação positiva e direta entre pressão arterial (PA) aumentada e risco cardiovascular é contínua, independente, preditiva, consistente e etiologicamente significativa para indivíduos com ou sem doença arterial coronária. Ela tem sido identificada em ambos os gêneros, diferentes faixas etárias, etnias e níveis sócioeconômico e cultural.15 Nos países em desenvolvimento, o crescimento da população idosa e o aumento da longevidade, associados a mudanças nos padrões alimentares e no estilo de vida, têm forte repercussão sobre o padrão de morbimortalidade. Estima-se que cerca de 22% a 40% da população adulta seja portadora desta doença.26 Cerca de 50% destes desconhecem que são hipertensos.22 No Brasil, a prevalência da hipertensão aumentou, sobretudo entre mulheres, negros e idosos, sendo que nos idosos o sedentarismo, fortemente relacionado ao envelhecimento, ocupa lugar de destaque entre os fatores de risco, seguido por dislipidemia, obesidade, diabetes e tabagismo.5 A modificação dos hábitos de vida com a prevenção do aparecimento dos fatores de risco e o seu tratamento adequado, farmacológico ou não, podem modificar a história evolutiva desses agravos.12, 19 Um fator a ser atribuído ao aumento da HAS é a não adesão ao tratamento anti-hipertensivo. Além do mais, a ausência de sintomas e o fato da hipertensão ser uma doença crônica são dois aspectos que contribuem fortemente para a baixa adesão ao tratamento.8 O médico deve manter o paciente bem informado acerca dos efeitos decorrentes do uso de drogas anti-hipertensivas, principalmente quanto aos efeitos negativos na qualidade de vida. As consequências da não aderência incluem aumento dos sintomas, falha em atingir metas terapêuticas, ajustes desnecessários ao tratamento, insatisfação do paciente, frustração médica, e finalmente, maior impacto na morbidade, mortalidade e custos em saúde pública.14 Portanto, quantificar a adesão ao tratamento medicamentoso pode auxiliar a equipe multiprofissional de saúde a definir estratégias específicas junto aos pacientes portadores de HAS, permitindo que este atinja melhores níveis de qualidade de vida. Apesar de relativamente recente, o interesse pela qualidade de vida tem influenciado as políticas e as práticas do setor de saúde nas últimas décadas. Qualidade de vida pode ser definida como o reflexo do impacto do estado de saúde sobre a capacidade do indivíduo viver plenamente10, ou como a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. 25 Portanto, a noção de qualidade de vida transita entre condições e estilos de vida, incluindo idéias de desenvolvimento sustentável e ecologia humana, relaciona-se ao campo da democracia, do desenvolvimento e dos direitos humanos e sociais. No que concerne à saúde, as noções se unem em uma resultante social da construção coletiva dos padrões de conforto e tolerância que determinada sociedade estabelece, como parâmetros entre si.10 Este estudo tem como objetivo avaliar o nível de adesão ao tratamento farmacológico através do Teste de Morisky e Green e a qualidade de vida de pacientes portadores de HAS através do questionário MINICHAL – Brasil, em usuários de uma farmácia escola, estratificada por controle ou não da pressão arterial. 2. CASUÍSTICA Este é um estudo transversal, realizado através da aplicação de questionários auto-explicativo e auto-aplicativo. Dos 300 pacientes portadores de hipertensão arterial cadastrados no serviço 190 (66,3%) aceitaram participar do estudo, por ocasião da retirada do medicamento e após a assinatura do Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). A Farmácia Escola da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (FarmaUSCS) fornece, gratuitamente, tratamento anti-hipertensivo com losartan, sempre seguindo a prescrição médica. O projeto foi aprovado pelo Comitê de ética em pesquisa (CEP) da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) sob nº 152/2008. A coleta de dados foi realizada por farmacêutica, devidamente treinada para garantir a homogeneidade nas entrevistas e para aferição da pressão arterial, entre os meses de outubro de 2009 e agosto de 2010. Foi utilizada uma amostra não probabilística por conveniência, onde todos os pacientes hipertensos que assinaram o TCLE entraram para o estudo. Foram obedecidos os seguintes critérios de inclusão: ser portador de HAS, com diagnóstico estabelecido de acordo com os critérios clínicos propostos pela V Diretrizes de Hipertensão Arterial (2007), idade igual ou superior a 18 anos; ser cadastrado na FarmaUSCS para a retirada mensal de medicamentos há pelo menos três meses; aceitar em participar do estudo de acordo com o disposto na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS); de exclusão: usuários com diagnóstico de HAS com idade inferior a 18 anos, mulheres portadoras de doença hipertensiva específica de gestação, usuários portadores de doenças crônico degenerativas debilitantes, ou sequelas neurológicas ou doenças mentais, que apresentassem limitada autonomia e poder de decisão e usuários que não concordassem ou desistissem de participar do estudo, em qualquer fase da pesquisa. Antes da tomada das aferições de pressão arterial para o estudo, foi realizada uma aferição em cada membro superior do indivíduo por técnica auscultatória e esfigmomanômetro aneróide, devidamente calibrado para afastar a presença de valores divergentes entre os níveis pressóricos nos dois membros superiores e para determinar qual o membro a ser utilizado nas aferições para o estudo. Considerou-se, ainda, o conceito de HAS descrito nas V Diretrizes de Hipertensão Arterial1 (2007) que define hipertensão como níveis de pressão arterial sistólica (PAS) igual ou superior a 140 mmHg ou de pressão diastólica (PAD) igual ou superior a 90 mmHg, em pelo menos duas avaliações, com intervalo mínimo de um a dois minutos entre elas. Sendo assim, foi considerado hipertenso controlado o indivíduo com diagnóstico prévio de HAS, que apresentou a média aritmética de duas ou três medidas de pressão arterial em membro superior do paciente, na posição sentada, com intervalo mínimo de V DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL. Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. Rio de Janeiro: Arq Bras Cardiol, 2007;89(3):24-79. 1 cinco minutos entre elas, inferiores a 140 mmHg para a PAS e 90 mmHg para a PAD. Considerou-se hipertenso não controlado o indivíduo que apresentou a média dos níveis pressóricos iguais ou superiores a 140 mmHg para a PAS e 90 mmHg para a PAD. Os pacientes considerados hipertensos não controlados foram classificados como portadores de hipertensão nível 1, 2 e 3 ou hipertensão sistólica isolada. A avaliação da adesão ao tratamento medicamentoso foi realizada a partir da aplicação dos critérios propostos por Morisky et al18 (1986). Esta classificação leva em consideração quatro itens: 1) ficar sem tomar o medicamento por algum motivo, ou seja, inclui a obediência ao número de medicamentos e número de tomadas ao dia; 2) atitude para não ficar sem o medicamento, o que representa o grau de responsabilidade e compromisso com o tratamento; 3) a frequência de esquecimento, o que equivale ao número de vezes que esquece o horário do medicamento e revela o grau de compromisso com a terapêutica, mas está sujeito à labilidade de memória e às alterações de rotina que eventualmente podem contribuir para o esquecimento e, 4) atitude ao esquecer o medicamento, o que representa o grau de compromisso com o tratamento, considerando-se a possibilidade de reparar uma atuação indevida, Para cada critério considerou-se pontuação favorável (1) se houve identificação positiva da atitude do paciente, ou nenhum ponto (0), se atitude foi negativa. Após a análise dos quatro critérios, os pacientes foram distribuídos em três grupos: 1) adesão total (quatro pontos), 2) adesão parcial (dois ou três pontos) e 3) nenhuma adesão (um ou nenhum ponto).18 O questionário de qualidade de vida em hipertensão arterial MINICHALBRASIL23 é um questionário traduzido e validado no Brasil com aspectos de confiabilidade e validade adequados para a sua utilização como instrumento de medida da qualidade de vida em pacientes adultos com hipertensão. O MINICHAL-BRASIL é um questionário composto por 17 questões, sendo 16 delas divididas em dois domínios, e uma questão (questão 17) para o paciente avaliar como a sua hipertensão e o seu tratamento têm influenciado na sua qualidade de vida. Os dois domínios são a) Estado Mental e b) Manifestações Somáticas. As respostas dos domínios estão distribuídas em uma escala de frequência do tipo Likert e têm quatro opções de respostas de 0 (não, absolutamente) a 3 (sim, muito). Nessa escala, quanto mais próximo a 0 estiver o resultado, melhor a qualidade de vida. O domínio Estado Mental compreende as questões de 1 a 9, sendo a pontuação máxima de 27 pontos. O domínio Manifestações Somáticas compreende as questões de 10 a 16 e tem pontuação máxima de 21 pontos. Para a determinação do peso os indivíduos foram pesados em balança eletrônica da marca Plenna com capacidade para 150kg e precisão de 100g descalços e com roupas leves. Para medir a altura, utilizou-se estadiômetro de parede da marca Mogiglass, com precisão de 0,1 cm. O Índice de Massa Corporal (IMC) foi obtido dividindo-se o peso em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Os valores de IMC foram classificados em: IMC<18,5 kg/m2 (baixo peso); IMC de 18,5–24,9 kg/m2 (normal); IMC de 25-29,9 kg/m2 (sobrepeso) e IMC≥30 kg/m2 (obesidade). A medida da circunferência abdominal (CA) foi realizada com fita métrica inextensível no ponto médio entre a crista ilíaca anterior superior e a última costela. Uma CA<80cm, 80cm a 88cm e ≥88cm para as mulheres e <94cm, 94cm a 102cm e ≥102cm para os homens foi classificada em adequada, aumentada e muito aumentada, 7 respectivamente. Além do questionário de adesão ao tratamento medicamentoso, os pacientes foram submetidos a questionário estruturado com questões socioeconômicas (idade, estado civil, escolaridade), comorbidades existentes, outros medicamentos utilizados, tabagismo, etilismo, tempo de diagnóstico e tempo de tratamento de HAS. Foi realizada a análise descritiva de todas as variáveis do estudo. As variáveis qualitativas foram apresentadas em termos de seus valores absolutos e relativos. As variáveis quantitativas foram apresentadas em termos de seus valores de tendência central e de dispersão. 2 Para se verificar a associação entre as variáveis qualitativas foi utilizado o teste de Qui-quadrado. Os dados obtidos foram transcritos para meio eletrônico com auxílio do programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS for Windows, versão 17.0). Considerou-se nível de significância 5% ou 0,05. CALLEGARI-JACQUES, S.M. Bioestatística: Princípios e Aplicações. Porto Alegre: Ed. ARTMED, 2003. 2 3. RESULTADOS Dos entrevistados, 158 (83,1%) e 32 (16,9%) possuíam seus níveis pressóricos controlados e não controlados, respectivamente (tabela 1). A idade média dos indivíduos controlados era de 64,4±10,9 anos, enquanto a dos não controlados era de 64,5±10,3 anos. Não foram observadas diferenças entre as idades dos grupos (teste U de Mann-whitney, p>0,05) (tabela 2), sendo que 3,2% tinham menos que 40 anos, 7,4% entre 41 e 50 anos, 18,6% tinham idade compreendida entre 51 e 60 anos e 70,2% tinham mais de 61 anos (tabela 1). 32,8% dos entrevistados não apresentaram nível de instrução, ou seja, não chegaram a completar o Ensino Fundamental e 62,1% eram casados. 9,5% dos entrevistados estavam tratando a hipertensão arterial há menos de 1 ano, 26,5% e 64,0% estavam tratando-a entre 1 a 3 anos e mais que três anos, respectivamente (tabela 1). A tabela 2 apresenta a análise descritiva por grupo de estudo para as variáveis idade, IMC, tempo de doença e tempo de tratamento. Observa-se que o grupo não controlado apresenta um valor de IMC maior do que o grupo controlado (Teste U de Mann-Whitney, p<0,05). Já para a idade, tempo de tratamento e tempo de hipertensão não foram observadas diferenças significativas. A tabela 3 apresenta a análise descritiva para os domínios do questionário de qualidade de vida de pacientes com hipertensão MINICHALBRASIL. Observa-se uma diferença significativa entre os grupos para o domínio estado mental (Teste U de Mann-Whitney, p<0,05), onde o grupo não controlado apresentou um pior estado mental do que o grupo controlado. Com relação ao domínio manifestações somáticas e a pergunta sobre como a sua hipertensão e o seu tratamento tem influenciado na sua qualidade de vida não houve diferenças entre os grupos (Teste U de Mann-Whitney, p>0,05). Observou-se uma associação entre grupos e níveis de adesão (Teste de Qui-quadrado, p<0,05). Daqueles pacientes que apresentaram níveis de pressão arterial controlados, 59,5% apresentaram níveis de adesão total e 40,5% níveis parciais de adesão. Já entre os não controlados 68,8% tinham níveis de adesão total e 28,1% adesão parcial, ou seja, 61,1% dos pacientes foram considerados aderentes (pontuação = 4). Apenas 01 (0,5%) entrevistado apresentou nenhum grau de adesão ao tratamento farmacológico (tabela 4). 4. DISCUSSÃO A qualidade de vida de pacientes em terapia anti-hipertensiva é uma questão importante, considerando o longo tratamento, muitas vezes durante décadas. Entretanto, as reações adversas e muitas vezes inevitáveis que acompanham este tratamento, não deveriam interferir na qualidade de vida do paciente.17, 8 Este foi um estudo transversal utilizando-se de questionários já validados, apesar da limitação deste tipo de estudo este respondeu plenamente aos nossos objetivos. A utilização de uma amostra não probabilística nos permitiu que todos que utilizam a farmácia escola participassem do estudo que foi totalmente baseado nas normas éticas do CEP. Os grupos se mostraram homogêneos com relação à idade, tempo de tratamento e tempo de hipertensão, porém apresentaram associação com relação ao IMC onde o grupo não controlado apresenta níveis de IMC maior do que o grupo controlado. Com relação à qualidade de vida de pacientes hipertensos, observou-se apenas uma associação para o domínio estado mental, mostrando ser este um fator de suma importância para os portadores de hipertensão. Para o controle da HAS são adotadas medidas como o uso contínuo de terapia medicamentosa, modificações nos hábitos de vida e comparecimento regular a serviços de saúde. No entanto, o desafio consiste na adesão do paciente ao tratamento, pois frequentemente o hipertenso não faz nenhum tratamento, ou quando o fazem são poucos os que têm a pressão arterial controlada. 20 A adesão a um tratamento pode ser definida como o comportamento do paciente em corresponder ao conselho do médico ou da equipe de saúde, pelo comparecimento às consultas marcadas, às tomadas de prescrições ou pela mudança de estilo de vida.3 Para Gusmão e Mion13 (2006), as definições de adesão devem sempre abranger e reconhecer a vontade do indivíduo em participar e colaborar com seu tratamento. Já para Araujo e Garcia2 (2006), o conceito de adesão deve ser multidimensional, pois envolve diferentes V DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL. Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. Rio de Janeiro: Arq Bras Cardiol, 2007;89(3):24-79. 3 elementos que constituem o processo: portador de hipertensão, profissional de saúde e sistema de saúde, sendo que o esforço desenvolvido por um componente isolado desse conjunto certamente não conduzirá a bons resultados, ou seja, é necessária a ação conjunta para que a adesão ao tratamento antihipertensivo seja alcançada. Segundo Barbosa e Lima4 (2006), é difícil detectar a falta de adesão, e mais ainda quantificá-la. A adesão é frequentemente descrita como variável dicotômica (adesão versus não adesão). Ela pode variar de zero a mais de 100% em pacientes que usam mais do que as medicações prescritas pelo médico. Ainda não há consenso acerca do padrão que constitui a taxa de adesão adequada para o tratamento de doenças crônicas, embora alguns estudos relativos à hipertensão considerem taxas acima de 80%, como aceitáveis. Estudos no Japão, Noruega, Estados Unidos, China, Alemanha, Gâmbia, Seychelles, Grécia e Eslováquia apresentaram índices de adesão à medicação de 65%, 58%, 51%, 43%, 32,3%, 26%, 15% e 7%, respectivamente. Neste estudo em específico, o nível de adesão total ao tratamento farmacológico foi de 61,1%. 38,4% apresentaram adesão parcial, porém 83,1% dos pacientes possuíam níveis pressóricos controlados. Esses resultados se aproximam dos encontrados por Bovet et al6 (2002). Estudos que utilizaram o Teste de Morisky e Green identificaram níveis de adesão que variaram desde 13,3%9, 23% 24 , 48%16, 56%6, até 76,8%21, porém os resultados do último autor foram comparados com a contagem de comprimidos, ao invés do controle de pressão arterial. Para Bovet et al6 (2002), a forma de avaliação dos critérios adaptados pelo Teste de Morisky e Green é bastante rigorosa, haja vista que não admite nenhuma forma de descuido ou esquecimento em relação ao horário de tomada de medicamentos, pois episódios isolados de esquecimento até uma vez por semana relacionamse, de modo semelhante ao uso diário, resultando em redução dos níveis pressóricos no período de doze meses. Portanto a utilização deste questionário neste estudo para verificar a adesão se mostrou adequada e consistente. O fato dos pacientes retirarem seus medicamentos gratuitamente em uma farmácia escola pode ter contribuído favoravelmente nos índices de adesão total ao tratamento, principalmente entre os mais idosos. De fato, um dos princípios da farmácia escola é a da atenção farmacêutica, ou seja, o paciente é considerado em seu conjunto, com necessidades gerais e específicas relacionadas com a medicação. A atenção farmacêutica compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades e coresponsabilidade na prevenção de doenças, promoção e recuperação de saúde, de forma integrada à equipe de saúde.4 Para Angonesi e Sevalho1 (2008), o farmacêutico deve ser de fato um dos responsáveis pela terapêutica, não um mero subordinado à autoridade médica, ao atuar na promoção do uso racional de medicamentos, transformando a farmácia em estabelecimento de saúde. Portanto, a formação dos futuros profissionais e a capacitação dos farmacêuticos devem ser voltadas para a prática clínica enfatizando a necessidade de implantação da atenção farmacêutica como política de saúde pública, contribuindo para a melhoria das condições de saúde e de utilização dos medicamentos. Somente 38,7% dos pacientes praticavam regularmente atividade física, sendo que 44,3% dos pacientes que realizavam atividade física apresentaram adesão total ao tratamento farmacológico. Além disso, 23,8% e 55,6% apresentaram circunferência abdominal aumentada ou muito aumentada, respectivamente. A participação ativa no tratamento, o que envolve o uso correto dos medicamentos, monitoramento do tratamento e o comparecimento às consultas, além de mudanças no estilo de vida (redução de peso corporal, prática de atividade física) são considerados como a base de atributos do conceito de adesão.2 Segundo Giorgi11 (2006), para haver adesão ao tratamento o paciente deve conhecer a sua condição de saúde, a importância do controle da pressão arterial, ter acesso aos serviços de saúde e esses serviços devem ser capazes de manter o tratamento por toda a vida do paciente. Quanto piores forem as condições socioeconômicas dos indivíduos maiores serão as barreiras para que ele se mantenha em tratamento adequado. Finalizando, aspectos importantes devem ser observados para a promoção de maior adesão ao tratamento, tais como, diferenças entre os gêneros, análise da adequação da terapia medicamentosa, investigação de 4 BRASIL. Avaliação da Assistência farmacêutica no Brasil. Estrutura, processos e resultados. 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Controlados Não Total Nível de N = 158 controlados N = 190 significância N = 32 N (%) Gênero N (%) N (%) Masculino 65 (41,1) 16 (50,0) 81 (42,6) Feminino 93 (58,9) 16 (50,0) 109 (57,4) Sem instrução 52 (33,1) 10 (31,3) 62 (32,8) Com instrução 105 (66,9) 22 (68,8) 127 (67,2) Solteiro 15 (9,5) 3 (9,4) 18 (9,5) Casado 97 (61,4) 21 (65,6) 118 (62,1) Viúvo 32 (20,3) 6 (18,8) 38 (20,0) Separado 14 (8,9) 2 (6,3) 16 (8,4) 5 (3,2) 1 (3,2) 6 (3,2) 41 – 50 12 (7,6) 5 (6,5) 14 (7,4) 51 a 60 29 (18,5) 6 (19,4) 35 (18,6) 110 (70,1) 22 (71,0) 132 (70,2) < 1 ano 14 (8,9) 4 (12,5) 18 (9,5) 1 a 3 anos 42 (26,8) 8 (25,0) 50 (26,5) 101 (64,3) 20 (62,5) 121 (64,0) 0,36 Escolaridade 0,84 Estado civil 0,96 Faixa etária < 40 anos >60 anos 0,99 Tempo de tratamento > 3 anos 0,82 Circunferência abdominal Adequada 21 (13,1) 12 (7,5) 33 (20,6) Aumentada 20 (12,5) 18 (11,3) 38 (23,8) Muito 44 (27,5) 45 (28,1) 89 (55,6) aumentada 0,38 Continuação Tabela 1. Controlados Não Total Nível de N = 158 controlados N = 190 significância N = 32 Ìndice de Massa corporal Peso normal Sobrepeso 8 (5,5,) 2 (7,4) 10 (5,8) 19 (13,0) 2 (7,4) 21 (12,1) Obesidade grau I 7 (4,8) 0 (0) 7 (4,0) Obesidade grau II 3 (2,1) 0 (0) 3 (1,7) Obesidade grau III 3 (2,1) 2 (7,4) 5 (2,9) > 60 anos 5 (3,4) 0 (0) 5 (2,9) 0,19 desnutrido > 60 anos eutrófico 47 (32,2) 5 (18,5) 52 (30,1) > 60 anos obeso 54 (37,0) 16 (59,3) 70 (40,5) Níveis de pressão arterial* Ótima 18 (11,4) 0 (0) 18 (9,5) Normal 80 (50,6) 0 (0) 80 (42,1) 8 (5,1) 0 (0) 8 (4,2) Limítrofe Hipertensão nível 1 51 (32,3) 8 (25,0) 59 (31,1) Hipertensão nível 2 1 (0,6) 23 (71,9) 24 (12,6) Hipertensão nível 3 0 (0) 1 (3,1) 1 (0,5) *: p< 0,05 <0,001 TABELA 2 – Análise descritiva para idade, IMC tempo de hipertensão e tratamento por grupo de estudo Controlado Não controlado Nível de N = 158 N = 32 significância& 64,4 (10,9) 64,5 (10,3) 0,83 32 - 87 40 - 85 Média (dp) 28,4 (4,9) 31,6 (8,7) Mínimo - Máximo 19,5 - 47 18,6 - 57,3 98,4 (98,8) 110,1 (101,7) 1 - 576 2 - 312 2,6 (0,7) 2,5 (0,7) 1-3 1-3 Idade (anos) Média (dp) Mínimo - Máximo IMC* 0,02 Tempo de Hipertensão (meses) Média (dp) Mínimo - Máximo 0,70 Tempo de Tratamento (anos) Média (dp) Mínimo - Máximo Onde: &: Teste U de Mann-Whitney; *: p<0,05 0,80 TABELA 3 – Análise descritiva para os domínios do questionário MINICHAL-BRASIL Nível de Controlado Não controlado significância& Média (dp)* 4,1 (4,0) 6,6 (6,1) <0,01 Mínimo - Máximo 0 - 19 0 - 27 Média (dp) 3,7 (3,4) 4,8 (4,5) Mínimo - Máximo 0 - 18 0 - 18 Estado Mental Manifestações Somáticas 0,20 Como a sua hipertensão e o seu tratamento tem influenciado na sua qualidade de vida? Média (dp) 0,2 (0,6) 0,3 (0,7) Mínimo - Máximo 0-3 0-3 0,30 Onde: &: Teste U de Mann-Whitney; *: p<0,05 TABELA 4 – Análise descritiva da adesão pelo questionário de MORISKY GREEN, por grupo de estudo Controlados Não Total Nível de N = 158 controlados N = 190 significância N = 32 Níveis de adesão* Adesão total 94 (59,5) 22 (68,8) 116 (61,1) Adesão parcial 64 (40,5) 9 (28,1) 73 (38,4) 1 (3,1) 1 (0,5) Não adesão (0) Teste Qui-quadrado ; *: p<0,05. 0,04