Adesão ao tratamento farmacológico dos pacientes com

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ARTIGO ORIGINAL
ADESÃO
PRESSÃO
AO
TRATAMENTO
ARTERIAL
E
FARMACOLÓGICO,
QUALIDADE
DE
VIDA
CONTROLE
EM
DA
PACIENTES
HIPERTENSOS
ADHERENCE TO PHARMACOLOGICAL TREATMENT, BLOOD PRESSURE
CONTROL AND QUALITY OF LIFE OF HYPERTENSIVE PATIENTS
Cícera Cristina Vidal Aragão1,2; Brigitte Rieckmann Martins dos Santos1;
Daniela Araujo de Sousa6; Natalia Barbosa Diniz6; Maria Lúcia Bueno Garcia4;
Alfésio Luís Ferreira Braga4; Lourdes Conceição Martins2,4.
1.Farmácia Escola – Universidade Municipal de São Caetano do Sul;
2.Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de
Medicina do ABC;
3.Disciplina de Clínica Geral, Departamento de Clínica Médica, Faculdade de
Medicina – Universidade de São Paulo
4. Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Católica
de Santos
5. Curso de Farmácia – Universidade Municipal de São Caetano do Sul;
Autor Correspondente: Lourdes Conceição Martins
Rua Abraham Bloemaert, 126
CEP: 05541-320
Jd. Das Vertentes – SP
E-mail: [email protected]
Fone: 11-35073790 ou 11-99680552
Título Abreviado: Qualidade de vida, adesão e hipertensão arterial
RESUMO
Introdução: A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é reconhecida como
principal fator de risco para doença cerebrovascular, doença arterial
coronariana, insuficiência renal crônica e doença vascular de extremidades. A
não adesão ao tratamento anti-hipertensivo aumenta o risco de eventos
adversos e pode acarretar uma pior qualidade de vida.
Objetivo: Avaliar a qualidade de vida e o nível de adesão ao tratamento
farmacológico de pacientes portadores de hipertensão arterial, usuários de uma
farmácia escola.
Casuística: Este é um estudo transversal, realizado através da aplicação de
três questionários: o questionário de Morisky & Green para verificar a adesão
ao tratamento medicamentoso, o questionário de qualidade de vida em
hipertensão
arterial
(MINICHAL-BRASIL),
e
o
questionário
de
dados
biodemográficos para o período de outubro de 2009 a agosto de 2010. Foi
realizada a análise descritiva de todas as variáveis, e os testes de Quiquadrado e U de Mann-Whitney.
Resultados: Participaram do estudo 190 pessoas, sendo 81 (42,6%) homens e
109 (57,4%) mulheres, 158 (83,1%) apresentavam níveis pressóricos
controlados e 32 (16,9%) não controlados. 32,8% dos entrevistados não
chegaram a completar o Ensino Fundamental, 62,1% eram casados, 9,5%
estavam tratando a hipertensão arterial há menos de 1 ano. 61,1% dos
pacientes foram considerados aderentes ao tratamento. Observou-se diferença
significativa entre os grupos para o domínio estado mental (Teste U de MannWhitney, p<0,05), onde o grupo não controlado apresentou um pior estado
mental do que o grupo controlado. Houve uma associação significativa entre
adesão ao tratamento e controle da pressão arterial (Teste de Qui-quadrado,
p<0,05).
Conclusão: Os pacientes que aderiram ao tratamento apresentaram melhor
controle de seu nível pressórico, e isso se refletiu também na qualidade de
vida.
Descritores: hipertensão arterial, adesão à medicação, qualidade de vida.
SUMMARY
Introduction: Hypertension is recognized as the leading risk factor for
cerebrovascular disease, coronary artery disease, chronic renal failure and
vascular disease of the extremities. A factor to be attributed to increased
hypertension is the non-adherence to antihypertensive treatment, often leading
to a worse quality of life in not controlled patients.
Objective: Evaluate the quality of life and the level of adherence to drug
therapy for patients with hypertension, users of pharmacy school.
Case: This is a cross-sectional study, conducted by applying a questionnaire
Mrorisky & Green to verify adherence to drug treatment, a quality of life
questionnaire
in
hypertension
(MINICHAL-BRAZIL),
and
a
descriptive
questionnaire data between September 2009 and June 2010. The descriptive
analysis was undertaken of all variables, and the chi-squared test and test U
Mann-Whitney.
Results: 190 people participated in the study, being 81 (42.6%) men and 109
(57.4%) women, 158 (83.1%) had controlled pressure levels and 32 (16.9%) not
controlled, 32.8% of respondents did not complete the elementary school,
62.1% were married, 9.5% were treating hypertension for less than 1 year.
61.1% of patients were considered to be adherent to treatment. There is a
significant difference between the groups for the mental state (U of MannWhitney, p<0,05), where the non control group presents a worst mental state.
Conclusion: Patients who adhere to pharmacological treatment showed better
pressure level control, and this was reflected also in the quality of life.
Descriptors: hypertension, medical adherence, quality of life.
1. INTRODUÇÃO
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é reconhecida como principal
fator de risco para doença cerebrovascular, doença arterial coronariana,
insuficiência renal crônica e doença vascular de extremidades. A correlação
positiva e direta entre pressão arterial (PA) aumentada e risco cardiovascular é
contínua, independente, preditiva, consistente e etiologicamente significativa
para indivíduos com ou sem doença arterial coronária. Ela tem sido identificada
em ambos os gêneros, diferentes faixas etárias, etnias e níveis sócioeconômico e cultural.15
Nos países em desenvolvimento, o crescimento da população idosa e o
aumento da longevidade, associados a mudanças nos padrões alimentares e
no estilo de vida, têm forte repercussão sobre o padrão de morbimortalidade.
Estima-se que cerca de 22% a 40% da população adulta seja portadora desta
doença.26 Cerca de 50% destes desconhecem que são hipertensos.22
No Brasil, a prevalência da hipertensão aumentou, sobretudo entre
mulheres, negros e idosos, sendo que nos idosos o sedentarismo, fortemente
relacionado ao envelhecimento, ocupa lugar de destaque entre os fatores de
risco, seguido por dislipidemia, obesidade, diabetes e tabagismo.5
A modificação dos hábitos de vida com a prevenção do aparecimento
dos fatores de risco e o seu tratamento adequado, farmacológico ou não,
podem modificar a história evolutiva desses agravos.12, 19
Um fator a ser atribuído ao aumento da HAS é a não adesão ao
tratamento anti-hipertensivo. Além do mais, a ausência de sintomas e o fato da
hipertensão ser uma doença crônica são dois aspectos que contribuem
fortemente para a baixa adesão ao tratamento.8
O médico deve manter o paciente bem informado acerca dos efeitos
decorrentes do uso de drogas anti-hipertensivas, principalmente quanto aos
efeitos negativos na qualidade de vida.
As consequências da não aderência incluem aumento dos sintomas,
falha em atingir metas terapêuticas, ajustes desnecessários ao tratamento,
insatisfação do paciente, frustração médica, e finalmente, maior impacto na
morbidade, mortalidade e custos em saúde pública.14
Portanto, quantificar a adesão ao tratamento medicamentoso pode
auxiliar a equipe multiprofissional de saúde a definir estratégias específicas
junto aos pacientes portadores de HAS, permitindo que este atinja melhores
níveis de qualidade de vida.
Apesar de relativamente recente, o interesse pela qualidade de vida tem
influenciado as políticas e as práticas do setor de saúde nas últimas décadas.
Qualidade de vida pode ser definida como o reflexo do impacto do estado de
saúde sobre a capacidade do indivíduo viver plenamente10, ou como a
percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e
dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações.
25
Portanto, a noção de qualidade de
vida transita entre condições e estilos de vida, incluindo idéias de
desenvolvimento sustentável e ecologia humana, relaciona-se ao campo da
democracia, do desenvolvimento e dos direitos humanos e sociais. No que
concerne à saúde, as noções se unem em uma resultante social da construção
coletiva dos padrões de conforto e tolerância que determinada sociedade
estabelece, como parâmetros entre si.10
Este estudo tem como objetivo avaliar o nível de adesão ao tratamento
farmacológico através do Teste de Morisky e Green e a qualidade de vida de
pacientes portadores de HAS através do questionário MINICHAL – Brasil, em
usuários de uma farmácia escola, estratificada por controle ou não da pressão
arterial.
2. CASUÍSTICA
Este é um estudo transversal, realizado através da aplicação de
questionários auto-explicativo e auto-aplicativo. Dos 300 pacientes portadores
de hipertensão arterial cadastrados no serviço 190 (66,3%) aceitaram participar
do estudo, por ocasião da retirada do medicamento e após a assinatura do
Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).
A Farmácia Escola da Universidade Municipal de São Caetano do Sul
(FarmaUSCS)
fornece,
gratuitamente,
tratamento
anti-hipertensivo
com
losartan, sempre seguindo a prescrição médica. O projeto foi aprovado pelo
Comitê de ética em pesquisa (CEP) da Faculdade de Medicina do ABC
(FMABC) sob nº 152/2008.
A coleta de dados foi realizada por farmacêutica, devidamente treinada
para garantir a homogeneidade nas entrevistas e para aferição da pressão
arterial, entre os meses de outubro de 2009 e agosto de 2010.
Foi utilizada uma amostra não probabilística por conveniência, onde
todos os pacientes hipertensos que assinaram o TCLE entraram para o estudo.
Foram obedecidos os seguintes critérios de inclusão: ser portador de HAS, com
diagnóstico estabelecido de acordo com os critérios clínicos propostos pela V
Diretrizes de Hipertensão Arterial (2007), idade igual ou superior a 18 anos; ser
cadastrado na FarmaUSCS para a retirada mensal de medicamentos há pelo
menos três meses; aceitar em participar do estudo de acordo com o disposto
na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS); de exclusão:
usuários com diagnóstico de HAS com idade inferior a 18 anos, mulheres
portadoras de doença hipertensiva específica de gestação, usuários portadores
de doenças crônico degenerativas debilitantes, ou sequelas neurológicas ou
doenças mentais, que apresentassem limitada autonomia e poder de decisão e
usuários que não concordassem ou desistissem de participar do estudo, em
qualquer fase da pesquisa.
Antes da tomada das aferições de pressão arterial para o estudo, foi
realizada uma aferição em cada membro superior do indivíduo por técnica
auscultatória e esfigmomanômetro aneróide, devidamente calibrado para
afastar a presença de valores divergentes entre os níveis pressóricos nos dois
membros superiores e para determinar qual o membro a ser utilizado nas
aferições para o estudo.
Considerou-se, ainda, o conceito de HAS descrito nas V Diretrizes de
Hipertensão Arterial1 (2007) que define hipertensão como níveis de pressão
arterial sistólica (PAS) igual ou superior a 140 mmHg ou de pressão diastólica
(PAD) igual ou superior a 90 mmHg, em pelo menos duas avaliações, com
intervalo mínimo de um a dois minutos entre elas. Sendo assim, foi
considerado hipertenso controlado o indivíduo com diagnóstico prévio de HAS,
que apresentou a média aritmética de duas ou três medidas de pressão arterial
em membro superior do paciente, na posição sentada, com intervalo mínimo de
V DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL. Sociedade Brasileira de
Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. Rio de
Janeiro: Arq Bras Cardiol, 2007;89(3):24-79.
1
cinco minutos entre elas, inferiores a 140 mmHg para a PAS e 90 mmHg para a
PAD. Considerou-se hipertenso não controlado o indivíduo que apresentou a
média dos níveis pressóricos iguais ou superiores a 140 mmHg para a PAS e
90 mmHg para a PAD. Os pacientes considerados hipertensos não controlados
foram classificados como portadores de hipertensão nível 1, 2 e 3 ou
hipertensão sistólica isolada.
A avaliação da adesão ao tratamento medicamentoso foi realizada a
partir da aplicação dos critérios propostos por Morisky et al18 (1986).
Esta classificação leva em consideração quatro itens: 1) ficar sem tomar
o medicamento por algum motivo, ou seja, inclui a obediência ao número de
medicamentos e número de tomadas ao dia; 2) atitude para não ficar sem o
medicamento, o que representa o grau de responsabilidade e compromisso
com o tratamento; 3) a frequência de esquecimento, o que equivale ao número
de vezes que esquece o horário do medicamento e revela o grau de
compromisso com a terapêutica, mas está sujeito à labilidade de memória e às
alterações de rotina que eventualmente podem contribuir para o esquecimento
e, 4) atitude ao esquecer o medicamento, o que representa o grau de
compromisso com o tratamento, considerando-se a possibilidade de reparar
uma atuação indevida, Para cada critério considerou-se pontuação favorável
(1) se houve identificação positiva da atitude do paciente, ou nenhum ponto (0),
se atitude foi negativa. Após a análise dos quatro critérios, os pacientes foram
distribuídos em três grupos: 1) adesão total (quatro pontos), 2) adesão parcial
(dois ou três pontos) e 3) nenhuma adesão (um ou nenhum ponto).18
O questionário de qualidade de vida em hipertensão arterial MINICHALBRASIL23 é um questionário traduzido e validado no Brasil com aspectos de
confiabilidade e validade adequados para a sua utilização como instrumento de
medida da qualidade de vida em pacientes adultos com hipertensão.
O MINICHAL-BRASIL é um questionário composto por 17 questões,
sendo 16 delas divididas em dois domínios, e uma questão (questão 17) para o
paciente avaliar como a sua hipertensão e o seu tratamento têm influenciado
na sua qualidade de vida.
Os dois domínios são a) Estado Mental e b) Manifestações Somáticas.
As respostas dos domínios estão distribuídas em uma escala de frequência do
tipo Likert e têm quatro opções de respostas de 0 (não, absolutamente) a 3
(sim, muito). Nessa escala, quanto mais próximo a 0 estiver o resultado, melhor
a qualidade de vida. O domínio Estado Mental compreende as questões de 1 a
9, sendo a pontuação máxima de 27 pontos. O domínio Manifestações
Somáticas compreende as questões de 10 a 16 e tem pontuação máxima de
21 pontos.
Para a determinação do peso os indivíduos foram pesados em balança
eletrônica da marca Plenna com capacidade para 150kg e precisão de 100g
descalços e com roupas leves. Para medir a altura, utilizou-se estadiômetro de
parede da marca Mogiglass, com precisão de 0,1 cm. O Índice de Massa
Corporal (IMC) foi obtido dividindo-se o peso em quilogramas pelo quadrado da
altura em metros. Os valores de IMC foram classificados em: IMC<18,5 kg/m2
(baixo peso); IMC de 18,5–24,9 kg/m2 (normal); IMC de 25-29,9 kg/m2
(sobrepeso) e IMC≥30 kg/m2 (obesidade). A medida da circunferência
abdominal (CA) foi realizada com fita métrica inextensível no ponto médio entre
a crista ilíaca anterior superior e a última costela. Uma CA<80cm, 80cm a 88cm
e ≥88cm para as mulheres e <94cm, 94cm a 102cm e ≥102cm para os homens
foi
classificada
em
adequada,
aumentada
e
muito
aumentada,
7
respectivamente.
Além do questionário de adesão ao tratamento medicamentoso, os
pacientes foram submetidos a questionário estruturado com questões
socioeconômicas (idade, estado civil, escolaridade), comorbidades existentes,
outros medicamentos utilizados, tabagismo, etilismo, tempo de diagnóstico e
tempo de tratamento de HAS.
Foi realizada a análise descritiva de todas as variáveis do estudo. As
variáveis qualitativas foram apresentadas em termos de seus valores absolutos
e relativos. As variáveis quantitativas foram apresentadas em termos de seus
valores de tendência central e de dispersão. 2 Para se verificar a associação
entre as variáveis qualitativas foi utilizado o teste de Qui-quadrado. Os dados
obtidos foram transcritos para meio eletrônico com auxílio do programa
estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS for Windows,
versão 17.0). Considerou-se nível de significância 5% ou 0,05.
CALLEGARI-JACQUES, S.M. Bioestatística: Princípios e Aplicações. Porto Alegre: Ed.
ARTMED, 2003.
2
3. RESULTADOS
Dos entrevistados, 158 (83,1%) e 32 (16,9%) possuíam seus níveis
pressóricos controlados e não controlados, respectivamente (tabela 1). A idade
média dos indivíduos controlados era de 64,4±10,9 anos, enquanto a dos não
controlados era de 64,5±10,3 anos. Não foram observadas diferenças entre as
idades dos grupos (teste U de Mann-whitney, p>0,05) (tabela 2), sendo que
3,2% tinham menos que 40 anos, 7,4% entre 41 e 50 anos, 18,6% tinham
idade compreendida entre 51 e 60 anos e 70,2% tinham mais de 61 anos
(tabela 1).
32,8% dos entrevistados não apresentaram nível de instrução, ou seja,
não chegaram a completar o Ensino Fundamental e 62,1% eram casados.
9,5% dos entrevistados estavam tratando a hipertensão arterial há menos de 1
ano, 26,5% e 64,0% estavam tratando-a entre 1 a 3 anos e mais que três anos,
respectivamente (tabela 1).
A tabela 2 apresenta a análise descritiva por grupo de estudo para as
variáveis idade, IMC, tempo de doença e tempo de tratamento. Observa-se que
o grupo não controlado apresenta um valor de IMC maior do que o grupo
controlado (Teste U de Mann-Whitney, p<0,05). Já para a idade, tempo de
tratamento e tempo de hipertensão não foram observadas diferenças
significativas.
A tabela 3 apresenta a análise descritiva para os domínios do
questionário de qualidade de vida de pacientes com hipertensão MINICHALBRASIL. Observa-se uma diferença significativa entre os grupos para o
domínio estado mental (Teste U de Mann-Whitney, p<0,05), onde o grupo não
controlado apresentou um pior estado mental do que o grupo controlado. Com
relação ao domínio manifestações somáticas e a pergunta sobre como a sua
hipertensão e o seu tratamento tem influenciado na sua qualidade de vida não
houve diferenças entre os grupos (Teste U de Mann-Whitney, p>0,05).
Observou-se uma associação entre grupos e níveis de adesão (Teste de
Qui-quadrado, p<0,05). Daqueles pacientes que apresentaram níveis de
pressão arterial controlados, 59,5% apresentaram níveis de adesão total e
40,5% níveis parciais de adesão. Já entre os não controlados 68,8% tinham
níveis de adesão total e 28,1% adesão parcial, ou seja, 61,1% dos pacientes
foram considerados aderentes (pontuação = 4). Apenas 01 (0,5%) entrevistado
apresentou nenhum grau de adesão ao tratamento farmacológico (tabela 4).
4. DISCUSSÃO
A qualidade de vida de pacientes em terapia anti-hipertensiva é uma
questão importante, considerando o longo tratamento, muitas vezes durante
décadas. Entretanto, as reações adversas e muitas vezes inevitáveis que
acompanham este tratamento, não deveriam interferir na qualidade de vida do
paciente.17, 8
Este foi um estudo transversal utilizando-se de questionários já
validados, apesar da limitação deste tipo de estudo este respondeu plenamente
aos nossos objetivos. A utilização de uma amostra não probabilística nos
permitiu que todos que utilizam a farmácia escola participassem do estudo que
foi totalmente baseado nas normas éticas do CEP.
Os grupos se mostraram homogêneos com relação à idade, tempo de
tratamento e tempo de hipertensão, porém apresentaram associação com
relação ao IMC onde o grupo não controlado apresenta níveis de IMC maior do
que o grupo controlado.
Com relação à qualidade de vida de pacientes hipertensos, observou-se
apenas uma associação para o domínio estado mental, mostrando ser este um
fator de suma importância para os portadores de hipertensão.
Para o controle da HAS são adotadas medidas como o uso contínuo de
terapia medicamentosa, modificações nos hábitos de vida e comparecimento
regular a serviços de saúde. No entanto, o desafio consiste na adesão do
paciente ao tratamento, pois frequentemente o hipertenso não faz nenhum
tratamento, ou quando o fazem são poucos os que têm a pressão arterial
controlada. 20
A adesão a um tratamento pode ser definida como o comportamento do
paciente em corresponder ao conselho do médico ou da equipe de saúde, pelo
comparecimento às consultas marcadas, às tomadas de prescrições ou pela
mudança de estilo de vida.3 Para Gusmão e Mion13 (2006), as definições de
adesão devem sempre abranger e reconhecer a vontade do indivíduo em
participar e colaborar com seu tratamento. Já para Araujo e Garcia2 (2006), o
conceito de adesão deve ser multidimensional, pois envolve diferentes
V DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL. Sociedade Brasileira de
Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. Rio de
Janeiro: Arq Bras Cardiol, 2007;89(3):24-79.
3
elementos que constituem o processo: portador de hipertensão, profissional de
saúde e sistema de saúde, sendo que o esforço desenvolvido por um
componente isolado desse conjunto certamente não conduzirá a bons
resultados, ou seja, é necessária a ação conjunta para que a adesão ao
tratamento antihipertensivo seja alcançada.
Segundo Barbosa e Lima4 (2006), é difícil detectar a falta de adesão, e
mais ainda quantificá-la. A adesão é frequentemente descrita como variável
dicotômica (adesão versus não adesão). Ela pode variar de zero a mais de
100% em pacientes que usam mais do que as medicações prescritas pelo
médico. Ainda não há consenso acerca do padrão que constitui a taxa de
adesão adequada para o tratamento de doenças crônicas, embora alguns
estudos relativos à hipertensão considerem taxas acima de 80%, como
aceitáveis. Estudos no Japão, Noruega, Estados Unidos, China, Alemanha,
Gâmbia, Seychelles, Grécia e Eslováquia apresentaram índices de adesão à
medicação de 65%, 58%, 51%, 43%, 32,3%, 26%, 15% e 7%, respectivamente.
Neste estudo em específico, o nível de adesão total ao tratamento
farmacológico foi de 61,1%.
38,4% apresentaram adesão parcial, porém
83,1% dos pacientes possuíam níveis pressóricos controlados. Esses
resultados se aproximam dos encontrados por Bovet et al6 (2002).
Estudos que utilizaram o Teste de Morisky e Green identificaram níveis
de adesão que variaram desde 13,3%9, 23%
24
, 48%16, 56%6, até 76,8%21,
porém os resultados do último autor foram comparados com a contagem de
comprimidos, ao invés do controle de pressão arterial.
Para Bovet et al6
(2002), a forma de avaliação dos critérios adaptados pelo Teste de Morisky e
Green é bastante rigorosa, haja vista que não admite nenhuma forma de
descuido ou esquecimento em relação ao horário de tomada de medicamentos,
pois episódios isolados de esquecimento até uma vez por semana relacionamse, de modo semelhante ao uso diário, resultando em redução dos níveis
pressóricos no período de doze meses. Portanto a utilização deste questionário
neste estudo para verificar a adesão se mostrou adequada e consistente.
O fato dos pacientes retirarem seus medicamentos gratuitamente em
uma farmácia escola pode ter contribuído favoravelmente nos índices de
adesão total ao tratamento, principalmente entre os mais idosos. De fato, um
dos princípios da farmácia escola é a da atenção farmacêutica, ou seja, o
paciente é considerado em seu conjunto, com necessidades gerais e
específicas
relacionadas
com
a
medicação.
A
atenção
farmacêutica
compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades e coresponsabilidade na prevenção de doenças, promoção e recuperação de
saúde, de forma integrada à equipe de saúde.4 Para Angonesi e Sevalho1
(2008), o farmacêutico deve ser de fato um dos responsáveis pela terapêutica,
não um mero subordinado à autoridade médica, ao atuar na promoção do uso
racional de medicamentos, transformando a farmácia em estabelecimento de
saúde. Portanto, a formação dos futuros profissionais e a capacitação dos
farmacêuticos devem ser voltadas para a prática clínica enfatizando a
necessidade de implantação da atenção farmacêutica como política de saúde
pública, contribuindo para a melhoria das condições de saúde e de utilização
dos medicamentos.
Somente 38,7% dos pacientes praticavam regularmente atividade física,
sendo que 44,3% dos pacientes que realizavam atividade física apresentaram
adesão total ao tratamento farmacológico. Além disso, 23,8% e 55,6%
apresentaram circunferência abdominal aumentada ou muito aumentada,
respectivamente. A participação ativa no tratamento, o que envolve o uso
correto dos medicamentos, monitoramento do tratamento e o comparecimento
às consultas, além de mudanças no estilo de vida (redução de peso corporal,
prática de atividade física) são considerados como a base de atributos do
conceito de adesão.2 Segundo Giorgi11 (2006), para haver adesão ao
tratamento o paciente deve conhecer a sua condição de saúde, a importância
do controle da pressão arterial, ter acesso aos serviços de saúde e esses
serviços devem ser capazes de manter o tratamento por toda a vida do
paciente. Quanto piores forem as condições socioeconômicas dos indivíduos
maiores serão as barreiras para que ele se mantenha em tratamento
adequado.
Finalizando, aspectos importantes devem ser observados para a
promoção de maior adesão ao tratamento, tais como, diferenças entre os
gêneros, análise da adequação da terapia medicamentosa, investigação de
4
BRASIL. Avaliação da Assistência farmacêutica no Brasil. Estrutura, processos e resultados.
Brasília: OPAS/ OMS/MS, 2005. 260
interações medicamentosas e de condições associadas, avaliação e correção
de esquemas terapêuticos, eliminação das razões de não controle relativas ao
prescritor e ao paciente, busca de causas secundárias, personalização do
atendimento ao paciente, auditoria de prescrição para identificar pacientes não
responsivos
a
um
determinado
medicamento
e,
por
último,
automonitorização.3,8 Para tanto, os serviços realizados por farmacêuticos,
principalmente aqueles que utilizam o conceito da atenção farmacêutica,
contribuem para a adesão ao tratamento farmacológico.8 Portanto, podemos
concluir que os pacientes que aderiram ao tratamento apresentaram melhor
controle de seu nível pressórico, e isso se refletiu também na qualidade de
vida.
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TABELA 1 – Distribuição dos pacientes hipertensos controlados e não
controlados de acordo com as características socioculturais e da doença.
Controlados
Não
Total
Nível de
N = 158
controlados
N = 190
significância
N = 32
N (%)
Gênero
N (%)
N (%)
Masculino
65 (41,1)
16 (50,0)
81 (42,6)
Feminino
93 (58,9)
16 (50,0)
109 (57,4)
Sem instrução
52 (33,1)
10 (31,3)
62 (32,8)
Com instrução
105 (66,9)
22 (68,8)
127 (67,2)
Solteiro
15 (9,5)
3 (9,4)
18 (9,5)
Casado
97 (61,4)
21 (65,6)
118 (62,1)
Viúvo
32 (20,3)
6 (18,8)
38 (20,0)
Separado
14 (8,9)
2 (6,3)
16 (8,4)
5 (3,2)
1 (3,2)
6 (3,2)
41 – 50
12 (7,6)
5 (6,5)
14 (7,4)
51 a 60
29 (18,5)
6 (19,4)
35 (18,6)
110 (70,1)
22 (71,0)
132 (70,2)
< 1 ano
14 (8,9)
4 (12,5)
18 (9,5)
1 a 3 anos
42 (26,8)
8 (25,0)
50 (26,5)
101 (64,3)
20 (62,5)
121 (64,0)
0,36
Escolaridade
0,84
Estado civil
0,96
Faixa etária
< 40 anos
>60 anos
0,99
Tempo de tratamento
> 3 anos
0,82
Circunferência abdominal
Adequada
21 (13,1)
12 (7,5)
33 (20,6)
Aumentada
20 (12,5)
18 (11,3)
38 (23,8)
Muito
44 (27,5)
45 (28,1)
89 (55,6)
aumentada
0,38
Continuação Tabela 1.
Controlados
Não
Total
Nível de
N = 158
controlados
N = 190
significância
N = 32
Ìndice de Massa corporal
Peso normal
Sobrepeso
8 (5,5,)
2 (7,4)
10 (5,8)
19 (13,0)
2 (7,4)
21 (12,1)
Obesidade grau I
7 (4,8)
0 (0)
7 (4,0)
Obesidade grau II
3 (2,1)
0 (0)
3 (1,7)
Obesidade grau III
3 (2,1)
2 (7,4)
5 (2,9)
> 60 anos
5 (3,4)
0 (0)
5 (2,9)
0,19
desnutrido
> 60 anos eutrófico
47 (32,2)
5 (18,5)
52 (30,1)
> 60 anos obeso
54 (37,0)
16 (59,3)
70 (40,5)
Níveis de pressão arterial*
Ótima
18 (11,4)
0 (0)
18 (9,5)
Normal
80 (50,6)
0 (0)
80 (42,1)
8 (5,1)
0 (0)
8 (4,2)
Limítrofe
Hipertensão nível 1
51 (32,3)
8 (25,0)
59 (31,1)
Hipertensão nível 2
1 (0,6)
23 (71,9)
24 (12,6)
Hipertensão nível 3
0 (0)
1 (3,1)
1 (0,5)
*: p< 0,05
<0,001
TABELA 2 – Análise descritiva para idade, IMC tempo de hipertensão e
tratamento por grupo de estudo
Controlado
Não controlado
Nível de
N = 158
N = 32
significância&
64,4 (10,9)
64,5 (10,3)
0,83
32 - 87
40 - 85
Média (dp)
28,4 (4,9)
31,6 (8,7)
Mínimo - Máximo
19,5 - 47
18,6 - 57,3
98,4 (98,8)
110,1 (101,7)
1 - 576
2 - 312
2,6 (0,7)
2,5 (0,7)
1-3
1-3
Idade (anos)
Média (dp)
Mínimo - Máximo
IMC*
0,02
Tempo de Hipertensão (meses)
Média (dp)
Mínimo - Máximo
0,70
Tempo de Tratamento (anos)
Média (dp)
Mínimo - Máximo
Onde: &: Teste U de Mann-Whitney; *: p<0,05
0,80
TABELA 3 – Análise descritiva para os domínios do questionário
MINICHAL-BRASIL
Nível
de
Controlado
Não controlado
significância&
Média (dp)*
4,1 (4,0)
6,6 (6,1)
<0,01
Mínimo - Máximo
0 - 19
0 - 27
Média (dp)
3,7 (3,4)
4,8 (4,5)
Mínimo - Máximo
0 - 18
0 - 18
Estado Mental
Manifestações Somáticas
0,20
Como a sua hipertensão e o seu tratamento tem influenciado na sua qualidade
de vida?
Média (dp)
0,2 (0,6)
0,3 (0,7)
Mínimo - Máximo
0-3
0-3
0,30
Onde: &: Teste U de Mann-Whitney; *: p<0,05
TABELA 4 – Análise descritiva da adesão pelo questionário de MORISKY
GREEN, por grupo de estudo
Controlados
Não
Total
Nível de
N = 158
controlados
N = 190
significância
N = 32
Níveis de adesão*
Adesão total
94 (59,5)
22 (68,8)
116 (61,1)
Adesão parcial
64 (40,5)
9 (28,1)
73 (38,4)
1 (3,1)
1 (0,5)
Não adesão
(0)
Teste Qui-quadrado ; *: p<0,05.
0,04
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