Sexta-feira, 09 de dezembro de 2016 / Valor Econômico Novo status da China na OMC eleva incerteza na indústria brasileira Por Assis Moreira | De Genebra Enquanto a China terá a partir de segunda-feira o status de economia de mercado na Organização Mundial do Comércio (OMC), a indústria brasileira não tem clareza do que vai ocorrer na prática da defesa comercial do país para enfrentar enxurradas de produtos baratos chineses no novo cenário. O novo status de Pequim significa que as autoridades de investigação nos países parceiros perdem a flexibilidade, que tiveram durante 15 anos, para proteger a indústria doméstica contra produtos chineses com preços considerados deslealmente baixos. Agora precisarão usar a mesma metodologia usada para os outros países. Isso deve resultar em sobretaxa bem menor contra os produtos de Pequim, elevando a competitividade no mercado global. www.funcex.org.br [email protected] Tel.: (55.21) 2509.7000, 2509-2662 Página: 1/2 Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o impacto na economia nacional será sentido dentro de algum tempo, quando as indústrias começarem a constatar que o comércio está comprando menos seus produtos e substituindo pelos chineses mais baratos. "Os estragos da competição com a China, quando se trata de entrar de forma desleal, são até difíceis de imaginar'', diz Carlos Abjaoudi, diretor de desenvolvimento industrial da CNI. Um estudo da BarralMJorge Consultores Associados, encomendado pelo setor siderúrgico, estima que as importações originárias da China poderão ter aumento de US$ 21, bilhões já em 2017, se o governo brasileiro não utilizar método alternativo nas investigações contra produtos chineses. Isso representa quase o dobro das importações vindas da China entre janeiro e novembro deste ano, algo política e economicamente explosivo. ''Seria uma catástrofe'', disse Abjaoudi, ao citar estudo da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), calculando que o reconhecimento da China como economia de mercado poderá acarretar perdas diretas e indiretas de US$ 18 bilhões para a indústria brasileira e destruição de 66 mil empregos no primeiro ano. Durante 15 anos, os outros 160 membros da OMC puderam fazer investigações de defesa comercial usando preços e custos de terceiros países para calcular margem de dumping de produtos chineses. A metodologia flexível usada até agora contra a China sempre ajudou a inflar o cálculo de dumping e das sobretaxas contra importações procedentes daquele país. Dumping diz respeito a uma situação na qual o produto é exportado a preço abaixo do valor normal vendido no mercado doméstico. Se a empresa vende na China a US$ 10 e exporta a US$ 5, é dumping. O país importador pode então aplicar uma sobretaxa contra o produto que causa, ou ameaça, causar danos ao produtor local. Essa taxação adicional deve ser igual à diferença entre o preço de exportação e seu valor normal. Pelo exemplo acima, a sobretaxa seria de US$ 5 por unidade. A China é o país mais acusado de dumping em todo o mundo. E é de longe, sem surpresa, o principal alvo das investigações e medidas de defesa comercial brasileira. De 358 medidas antidumping aplicadas pelo país desde 1988, 106 foram contra exportações chinesas, ou cerca de 30% do total. No Brasil, nas investigações apenas contra produtos chineses, a margem de dumping, e portanto a sobretaxa aplicada, chega a ser o triplo daquela de outros países - de 121% ante 35,5%, conforme levantamento da BarralMJorge. Quando são investigadas tanto empresas chinesas quanto de outros membros da OMC, a diferença é menor, de 12 pontos percentuais. Agora, Pequim avisa que, a partir de segunda-feira, devem vigorar as regras normais do Acordo de Antidumping da OMC, usando efetivamente preços e custos chineses - e que os parceiros em geral consideram que são dopados por generosos subsídios estatais. A inegável conclusão, como destaca o estudo, é que a alteração do status da China reduzirá as margens de dumping contra seus produtos, já que as distorções. ou flexibilidades, provadas pela utilização de dados de terceiros países deixarão de existir. Considera que a tendência é de o impacto do reconhecimento ser maior, porque ainda há diversas investigações contra os chineses - em 61% dos casos atualmente. Leia matéria completa em: http://www.valor.com.br/brasil/4800383/novo-status-da- china-na-omc-eleva-incerteza-na-industria-brasileira www.funcex.org.br [email protected] Tel.: (55.21) 2509.7000, 2509-2662 Página: 2/2