ISBN 5 978-51-6022-000-0

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Ficha Catalográfica
2010
Oliveira, Maxwel Natalino
Quando um estranho fala...
295 p.
I. Nas ruinas de Karnak. 2. A
Holambra dos meus sonhos... 3.
Anjos
do silêncio... Eis que rasga-se o véu... 4. Os
sonhos: o prefácio da vida. 5. Cada segundo é
precioso, pois, existem tempos que não
retornam jamais.
ISBN 5 978-51-6022-000-0
Para meus pais, que com amor e sabedoria me conduziram até onde
estou hoje, exemplos de dedicação infinita para que pudesse
alcançar um futuro promissor, cheio de desafios e inúmeras
possibilidades;
Albert Otoni de Souza, melhor amigo, que me demonstraste que o
querer não é poder, mas o principio da realização... Aquele que me
fez perceber que a família, às vezes, pode transcender os laços de
sangue;
2
O presente é algo que vai além da esfera material, pois, ele simboliza
o desejo de uma pessoa em tornar-se presente em nossas vidas.
Maldito é o ser humano que desperta o amor de outro sem a
intenção de amá-lo.
Maxwel Natalino
3
Ainda que eu falasse a língua dos homens, que eu falasse a língua
dos anjos, sem Amor nada seria... Ainda que eu tenha o dom de
profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; Ainda que
eu tenha tamanha fé ao ponto de transportar montes, se não tiver
Amor nada serei...
1 Coríntios 13: 1 – 2.
Nota do Autor
4
O amor é um sentimento atemporal, ou seja, está fora
dos limites da razão. Entretanto, sua essência pode ser
eternizada de acordo com as nossas ações materiais. No
início, o sentimento é avassalador, é como as chamas de um
fogaréu, que arde incessantemente enquanto houver
combustível – a madeira, por exemplo. É neste ponto que
temos a fase mais superficial do amor, a Paixão, sentimento
este que despende mais aos desejos da carne, de satisfação
dos anseios humanos mais primitivos, e quando na maioria
das vezes não se pensa para agir, o impulso é quem nos
orienta, muitas vezes movido pela atração, fascinação, o
querer estar com alguém. É claro que este sentimento é
inevitável, é o início para que se possa alcançar a
serenidade do amor. A paixão, em muitos casos tem o seu
início com a profundidade de um simples olhar, que age
como combustível natural para que ela – a paixão cresça a
tal ponto que, quando os apaixonados se encontram é como
se tudo que os envolvessem perdessem a sua real
importância e ocupação no tempo e espaço, apenas eles
5
existem e tudo mais cede lugar ao fascínio, a contemplação
do ser.
Entretanto a continuidade da paixão está intimamente
ligada à resposta humana a tal sentimento, as reações, ou
seja, é como se diz a resposta sábia nunca provém do
ímpeto da pergunta, entretanto, ela se regozija nos andar
dos minutos. É preciso tempo para compreender as
transformações do coração, e decidir qual rumo você quer
para sua vida, é claro, que quando há paixão, torna-se
difícil manter a lucidez das aspirações futuras, geralmente
você acha que a pessoa que despertou este sentimento em
você é primordial para sua sobrevivência, é como ar que
respiramos não se pode viver sem... Aqui, o medo da perda
é grande, principalmente quando a paixão não é recíproca,
ou até mesmo não tem a mesma intensidade do seu
sentimento. Muitas pessoas às vezes me questionam se a
paixão pode durar para sempre, eu reluto em responder,
pois quando falamos ao coração das pessoas é preciso
cuidado para não causar nenhuma ferida. É como eu
sempre digo a paixão pode se manter inicialmente sem o
6
amor, apenas apoiada nas estruturas do desejo, contudo,
após certo tempo, o desejo apenas não bastará, será preciso
algo mais. Agora o amor sim, pode durar para sempre, é
um sentimento desprendido de qualquer desejo mundano, é
algo que preenche o nosso coração, trazendo consigo uma
alegria sobrenatural, uma alegria que muitas vezes não
sabemos de onde provém, apenas vivemos.
O amor, que defino como sendo a continuidade
duradoura da paixão, já é um sentimento completo, que só
vem a acrescentar em nossas vidas, trazendo consigo a
grandiosidade do ser. Quando não há amor, e sim paixão,
as ações podem ser superficiais, apenas na matéria. Por
exemplo, o perdão para alguém que está apaixonado muitas
vezes pode ser dado por medo de perda, enquanto, o
perdão, em alguém que ama verdadeiramente é profundo e
não encontra barreiras para ser expresso. O amor pode ser
entendido como o apogeu do afeto, e a dedicação obsoluta
a outrem sem esperar nada em troca. É justamente neste
ponto que o ser é engrandecido, e querer a felicidade da
pessoa amada, mesmo que esta não esteja destinada a estar
7
ao nosso lado contrariando totalmente o desejo da posse.
Amar é ceder, nas relações atuais o que mais acontece é o
desgaste provocado pelo próprio cotidiano, pois, o ser
humano muitas vezes é egoísta por natureza, sendo assim,
não quer abrir mão de nenhuma de suas vontades,
entretanto, quando se ama é preciso compreender o espaço
da outra pessoa, ceder e reivindicar quando for preciso, é
necessário que ambos se completem que se entendam. Mas
não se preocupe, o amor constrói, e com o tempo, onde
cada um sabe o seu lugar, sabe ceder e oferecer sem
esperar nada em troca a relação ganhará maturidade, ou
seja, a lapidação necessária para a durabilidade.
Na
Bíblia
sagrada
podemos
encontrar
várias
definições para o Amor, mas, para mim, uma das mais
tocantes está em I Coríntios 13: 4-7, onde o apóstolo Paulo
define: “ O amor é sofredor, é benigno, o amor não é
invejoso, o amor não se vangloria, não se ensoberbece, não
se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios
interesses, não se irrita, não suspeita o mal, não se regozija
com a injustiça, mas sim na verdade, tudo sofre, tudo crê,
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tudo espera, tudo suporta “. É como eu digo, a nossa vida e
os rumos que completam sua esfera e uma escolha pessoal,
feita por nós, se plantamos o ciúme doentio, se oprimimos,
se mentimos para quem amamos é o que vamos colher em
nossas relações no futuro, de quem não fomos leais,
verdadeiros.
O amor não é uma receita, cada um tem a sua maneira
de amar, mas é preciso sabedoria, pois, quando conduzimos
os sentimentos de maneira errônea, com certeza ele estará
fadado ao fracasso, ao ódio, afinal, sentimento este que
caminha em uma linha tênue com o amor, pois ambos são
os extremos de nossas aspirações, o amor, como sendo o
desejo extremo de dedicar-se e estar para alguém, e o ódio,
que é a expressão máxima da raiva, da repulsa por outrem.
Bem, acredito em algumas atitudes que podem
contribuir para que as relações tenham maior durabilidade,
lembrando que não quero pregar nenhum estilo de vida,
está é minha opinião expressa nesta obra, cada um tem o
seu próprio modo de vivência, este é o meu ponto de vista,
que quero compartilhar com todos os leitores desta história.
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Acredito que o saber ouvir e observar é um dos principais
pontos de uma relação, pois o ouvir e observar são
fundamentais para que possamos conhecer intimamente
quem está ao nosso lado. Verbalize seus sentimentos, não
pense que quem está ao nosso lado sabe o quão forte e
verdadeiro é o seu sentimento ou até mesmo quais são seus
sonhos, vontades e desejos, pois se você não expressa, não
fala não há como saber, pois a mente humana é um oceano
de mistérios, e os únicos que podem fornecer a chave para
adentrá-lo é você e eu. Todos têm o querer, entretanto saiba
compartilhá-lo de modo a exigir e ceder quando necessário,
nem sempre podemos realizar somente nossas vontades, é
preciso viver também as vontades de quem está ao nosso
lado e vice-versa. Cultive o perdão verdadeiro, pois, se
você perdoa apenas no externo da alma, você não
esquecerá jamais a causa da raiva, sendo assim, o seu
coração sempre terá que ceder um pouco de espaço para a
desconfiança impedindo-o de amar de maneira simples e
profunda. Nunca pense que o amor poderá sobreviver
apenas de exigências, ou seja, você acha que a pessoa que
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está a seu lado deve fazer todas as suas vontades porque
você está amplamente segura da relação e de que nunca o
outro deixará de amá-la e por isso cumprirá todas as suas
determinações, não se engane, isto até poderá acontecer,
mas por pouco tempo, pois o que existe aqui não é amor, é
posse, sendo assim não é duradouro e logo seu
companheiro se cansará, pois a opressão dos sentimentos
tem vida curta, logo o ser se rebela contra seu opressor.
Não meça forças, saiba-se impor, mas com humildade,
serenidade, tenha sabedoria. Vários estudiosos sempre
disseram, e concordo plenamente, quando recebemos uma
resposta brusca o nosso coração se enche de soberba e a
nossa reação é eminente, sem pensar, dissemos tudo o que
não sentimos e achamos apenas para ferir, machucar o
outro, tudo isso para não nos sentirmos fracos e nem
inferiorizados, contudo, quando passado o tempo vêm o
arrependimento, a culpa, tudo isso porque na maioria das
vezes agimos sem pensar, não medimos o que falamos, sem
saber o quão poderosas podem ser nossas palavras, por
isso, quando isso ocorrer, pare um pouco, por alguns
11
segundos ou até mesmo minutos e pense bem no que vai
dizer, com certeza você agirá sabiamente e sairá desta
situação com a vitória. Enfim, estas são algumas das
atitudes que acredito serem especiais para que o amor seja
fortificado.
“Quando um estranho fala “ é um livro que escrevi
pensando em grandes amigos que fazem parte da minha
vida. Sabe, às vezes, o sonho está a um passo de nos
alcançar, mas sem saber fazemos com eles se tornem mais
distantes, tornamos o fácil complicado. Um dia pensei
“nossa tem pessoas que fazem o que gostam e se tornam
felizes e bem sucedidas”, então pensei que poderia fazer
algo de especial para mim, fazer a diferença..., mas meu
coração estava cheio de dúvidas, afinal, o que fazer?
Cheguei para meus amigos e disse “Vou mudar minha vida,
o próximo ano será diferente, farei algo que eu realmente
goste, mas ainda não consigo ver claramente o que é”, e às
vezes é tão fácil visualizar os desejos e afinidades de outras
pessoas, mas as nossas próprias aspirações ficam imersas
no esquecimento, atrás do medo de nos analisarmos e saber
12
o que realmente vamos encontrar; Muitas vezes não
sabemos o que queremos e nem para onde ir... Sempre
gostei da língua escrita e falada, foi quando meus amigos
foram primordiais e me disseram para escrever um livro,
acatei a idéia, achei interessante e acreditei que poderia
fazê-lo. Por isso sou imensamente grato a todos àqueles que
contribuíram direta e indiretamente para composição desta
obra, pois é resultado da força que me foi cedida por cada
um.
Quando comecei a escrever, queria compor uma
história que pudesse ajudar muitas pessoas a compreender
um pouco mais deste sentimento tão grandioso que é o
Amor, entretanto, queria também mostrar que a vida pode
ser bem mais empolgante em sua forma mais simples, que é
expressa nas ações do cotidiano. Pois são nelas que muitas
relações são desgastadas e findam-se. O amor é o principal
alicerce desta história que é rodeada de mistérios, que nos
intriga a repensar em nossos conceitos e perceber que a
parte espiritual, ou seja, a mística também é importante,
pois, o mundo em que vivemos, anseia cada vez mais pelo
13
cultivo dos sentimentos que são íntimos do Acreditar – que
nos levam a Crer em algo ou em Alguém, como você quiser,
afinal, existe o livre arbítrio, para que o ser humano
determine se a sua vida vai ser ou não repleta de emoções e
quais os rumos ela deverá percorrer. Espero sinceramente
que estas palavras venham adentrar seus corações e lhe ser
úteis em suas vidas. E desde já expresso minha gratidão
pelo tempo dedicado a esta leitura, pois para mim é mais
que um simples trabalho; É mais que o resultado de
algumas horas sentado à frente do computador; Na verdade
é muito mais do que eu possa esprimir em palavras... Acho
que nem saberia dizê-las... A única coisa que realmente de
concreto sei é posso falar é o seguinte: “Para mim, foi uma
honra compor esta história”.
Maxwel Natalino
Índice
14
Capítulo I
Nas ruínas de Karnak
Capítulo II
A Holambra dos meus sonhos...
Capítulo III
Anjos do Silêncio... Eis que rasga-se o véu
Capítulo IV
Os Sonhos: O Prefácio da Vida
Capítulo V
Cada Segundo é precioso, pois, existem tempos
que não retornam jamais.
15
Um Romance baseado em
uma das Lendas mais
Secretas da História da
Humanidade...
16
Na ausência de alguém em quem confiar e compartilhar um
pouco dos meus segredos... Eis que escrevo estas páginas... Para
trazer a tona uma história que vivi... Momentos que mudaram a
minha vida para sempre... Pois, aprendi que o amor é um sentimento
sobrenatural e que às vezes há mistérios que devem permanecer para
sempre no infinito de nossas mentes; Não para capitalizar o saber no
apogeu de uma ação egoísta, mas sim, para proteger a alma humana
da cobiça...
Capítulo I
Nas ruínas de Karnak
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O sol castigava bravamente os que participavam de uma
expedição arqueológica no Egito – Era um grupo pequeno, liderado
por um professor da Universidade de Paris; Aproximadamente
umas dez pessoas, contando com alguns seguranças que ali foram
contratados para manter a expedição livre de possíveis saqueadores
que por algum motivo pudessem atacá-los, imaginando que
tivessem encontrado algo que representasse valor no mercado
negro de achados arqueológicos. Faziam parte do grupo, o
professor Michael e seus assistentes Yorran, Larry, Matheus e
Daniel. Yorran era um antigo aluno de Michael que agora
trabalhava em um museu de Paris, o Museu de História Antiga - o
mesmo que organizara a expedição; Era o mais novo entre os
participantes, e tratado pelo professor como um filho, talvez pela
semelhança no gênio forte, ambos se pareciam em suas atitudes... E
por este motivo muitas vezes discordavam sobre vários assuntos,
como as pequenas discussões entre pais e filhos; Larry, Matheus e
Daniel eram representantes de um grupo de déspotas europeus que
faziam constantes doações à Universidade de Paris e ao Museu;
também tinham suas formações na área de estudos antigos, eram
conhecedores exímios de várias culturas e sempre que havia
alguma expedição eles atuavam como peritos auditores que
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analisavam se o dinheiro doado estava sendo bem empregado...
Bem ao menos essa era a explicação dada pelo grupo de mecenas
para a presença de tais pessoas nas expedições arqueológicas,
explicação esta que nunca foi questionada pelos beneficiados já que
as doações eram constantes... Afinal, era normal que os
colaboradores acompanhassem o andamento das atividades para
estabelecer
futuras
remessas
de
dinheiro;
extremamente
sistemáticos, não eram de falar muito, entretanto sempre estavam
por perto para catalogar quando algo de novo era encontrado. A
expedição tinha o objetivo de coletar alguns artefatos, documentos,
rochas, enfim, demonstrativos que iriam enriquecer o acervo de
antiguidades das duas instituições, bem como adquirir maior
lapidação sobre o conhecimento dos costumes da civilização
egípcia.
Já era fim de dia, por volta das cinco da tarde, e todos estavam
sentados à sombra de um dos grandes pilares da formação
originária do antigo templo de Karnak, conversando e aproveitando
um pouco para descansar. Durante o dia o desgaste físico
provocado pelo sol era grande, por isso sempre deixavam para
explorar quando o sol começava a baixar no horizonte, quando as
temperaturas se tornavam mais brandas – Fato bastante comum nas
regiões desérticas, onde o dia é marcado pelo calor excessivo,
19
porém à noite, o frio é rigoroso, os extremos das estações expressas
em um único local; o verão e o inverno separados por uma
cronologia ínfima, apenas algumas horas.
_Bem. Como vocês sabem amigos, o Egito é uma das
civilizações mais antigas do mundo... Antes havia dois reinos por
esta terra, o Alto e o Baixo Egito... O alto Egito era a parte mais
pobre, enquanto o Baixo Egito podia se dispor dos privilégios
oferecidos pelo rio Nilo... Havia mais chuvas e a temperatura era
bem mais amena. Sei que há controvérsias, mas o fato é que um dia
um rei chamado Menes, que vivera aproximadamente por volta de
3000 a.C., unificou os dois reinos e se tornou o soberano de todo o
Egito, seria então o início da formação de uma dinastia unificada
sob o comando de um só homem, que deveria dar prosseguimento
ao reinando místico do deus Hórus... Era a humanificação da
divindade, o que hoje denominamos de Faraó... Éh pessoal, vocês
devem me agradecer por esta expedição, pois estão sentados sobre
um solo sagrado que para muitos ainda hoje guarda vários
segredos...
-Realmente tenho que te agradecer... Até alguns dias atrás eu
estava em Paris, em um clima completamente agradável e hoje
estou aqui... Neste calor terrível, sentado em um pequeno
banquinho nas ruínas de Karnak e para completar ouvindo um
20
pouco de história antiga com excelentíssimo senhor Michael
Harrison, professor-doutor em civilizações antigas da Universidade
de Paris... Vejam só amigos não é qualquer Universidade, é uma
das mais antigas do mundo... Seja como for, quero terminar logo
esta expedição e voltar para casa, estes ares não estão me fazendo
muito bem. Se pelo menos houvéssemos encontrando algo que
valesse a pena e nos rendesse algum mérito... Mas não, voltaremos
com quase nada, apenas fatos que já foram descobertos, assim
nunca deixarei de ser o assistente do Museu...
-Yorran!? Não fale desta maneira, não gosto deste tipo de
comportamento, você sabe disso... Acho que você já se esqueceu,
mas devo lembrá-lo, você veio para esta expedição substituindo o
curador do Museu de Antiguidades de Paris, que infelizmente está
adoentado... Muitos dos assistentes do Museu gostariam de estar
aqui em seu lugar, então aproveite a oportunidade que ele te deu, e
o represente com categoria, quem sabe em um futuro que espero
não estar muito distante você venha ser mais que o assistente...
Talvez um diretor!? Respondeu Michael com um sorriso acanhado
no rosto, porém com tom sério a voz. Realmente eu não entendo.
Você já foi meu aluno no passado, era promissor, um dos meus
melhores... E agora olha só em que se transformou... Um rapaz
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mimado que só sabe reclamar desde que chegamos... É. Você não
era assim, da última vez que o vi era bem aplicado, mas agora...
-Está bem Michael... Peço desculpas, não devo falar com você
desta maneira, afinal você é como se fosse o meu segundo pai, e
pra variar não poderia faltar o sermão do Egito... Mas tudo bem,
você sempre me ajudou no passado, inclusive quando fui trabalhar
no museu ao terminar a graduação...
No fundo Michael compreendia a atitude do amigo, ela
também já estava ali há vários dias e conseguira poucos avanços,
quase nada havia sido encontrado – apenas algumas fotos tiradas e
poucas relíquias, os restos deixados por escavações anteriores à
sua. Além do mais o sol escaldante alterava por completo o humor
das pessoas... Bem, na verdade ele queria atribuir esta mudança ao
clima, contudo, os vilarejos próximos sempre comentavam das
maldições antigas que ainda hoje afirmavam ter poder para
confundir as pessoas e mantê-las afastadas dos antigos segredos
que há muito só era compartilhado com a figuração do deus na
terra, o deus encarnado, o faraó... Todos já estavam esgotados e
queriam voltar para casa. Sendo assim tomou sua última decisão:
-Bem pessoal. Acho que já vimos tudo o que foi possível. Não
nos resta fazer mais nada aqui. Hoje será nossa última exploração.
Amanhã mesmo vamos partir. Todos estão de acordo?
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-Estou em pleno acordo. Completou Yorran.
-E vocês!? Larry!? ...Matheus!? ...Daniel!?
-É... Todos estão de acordo. Conclui Larry.
-Então está bem. Vocês podem pegar o seu material de
escavação... Estarei aqui em vinte minutos para prosseguirmos com
o plano.
Já era possível ver o sol se esvair no horizonte, oferecendo
lugar as estrelas quando eles retomaram as pesquisas. Continuaram
a caminhada sobre as ruínas do complexo de Karnak, que já foi
abrigo de vários templos, que juntamente com o de Luxor
formavam uma parte da antiga Tebas – cidade que já foi conhecida
como a das mil portas e também capital do antigo império.
Enquanto vasculhavam os vestígios ouviam as explicações do
professor em silêncio:
-O que vemos hoje não é quase nada se comparado à
grandiosidade desta obra no passado – Apenas dois hectares
sobreviveram às intempéries do tempo, mas já foram trinta... Aqui
havia vários templos, construções que levaram gerações para se
findarem... Às vezes um faraó começava a erguer os alicerces e
somente seus sucessores vinham a completá-los. O santuário de
Amon é o maior entre os que fazem parte deste complexo – e
grande foi sua importância, um deus que durante muito tempo,
23
principalmente no período do império novo foi cultuado como o
principal da civilização egípcia sendo elevado a divindade solar;
por isso o conhecemos como Amon-Rá – Este fato ocorria porque a
agricultura era a principal atividade de sustentação do império,
sendo assim a luz do sol era fundamental para a produção de
alimentos... Desta maneira as divindades solares foram elevadas à
supremacia do culto... E este não foi o único a ser adorado pelos
egípcios, houve vários outros, o que daria para fazer uma aula
bastante interessante... Mas o fato é que Karnak ainda consegue ser
tão misteriosa quanto foi no passado, pois nos instiga a pensar em
fatos que foram importantes para este povo que manteve sua
hegemonia por vários séculos seguintes a sua construção... Uma
civilização rica em detalhes... Que acreditava na transcendência da
alma... A morte era apenas uma passagem... O início de uma nova
vida...
Em determinado momento Michael e Yorran continuaram sós,
pois os outros ficaram a analisar algumas figuras encontradas, e
depois de algum tempo, chegaram e um local ímpar, havia várias
colunas monumentais – tão grandes que os colocavam na
insignificância do tamanho. Ainda era possível ler suas inscrições
deixadas pelos que ali residiram devido ao bom estado de
conservação desta parte de Karnak.
24
-Que local é esse? Questionou Yorran com um olhar
espantoso, nunca li nada sobre este parte do templo... Já haviam ido
a vários lugares diferentes, mas aquele era especial, ele nunca vira
tanta grandeza senão através dos livros. Nem se quer podia
imaginar como povos tão antigos e desprovidos de qualquer avanço
tecnológico pudessem sobrepor blocos de pedras tão grandes –
seria necessário utilizar uma força descomunal para tal trabalho...
Varias perguntas se formavam em seu interior.
Michael rapidamente respondeu ao questionamento do amigo.
_Bem, de acordo com os meus cálculos esta deve ser a sala
Hipostila, que é composta por 134 colunas... Como pode ver são
gigantescas... Uma das partes mais bem conservadas desta obra
foram testemunhas de várias gerações de governantes faraônicos...
Fascinante não é!?
-É lindo, grandioso... Agora sim, esta visão compensou toda a
viagem... Mas professor!? Sempre estudamos sobre este assunto e
não entendo como povos tão antigos, que não possuíam
ferramentas adequadas podiam erguer tais monumentos?
-Agora sim. Você tocou em um ponto crucial da história cujo
desperta grandes curiosidades... Várias teorias são defendidas,
existem aquelas que falam da materialidade da obra, desprovidos
de qualquer senso mítico, no entanto, alguns chegam a defender
25
teses que vão além das estruturas da ciência humana... A
telecinésia, por exemplo – muitos mestres das práticas ocultas
alegam que os egípcios conheciam o método que desenvolvia a
habilidade da mente humana em mover objetos do mundo físico
sem forças visíveis, o que resultou em trabalhos como as pirâmides
e outros que vemos no Egito. É claro, todas as crenças e teorias
devem ser respeitadas, pois não há provas contundentes de como
foram construídos tais obras... Pelo menos é o que sei... Agora eu
penso de maneira um pouco diferente... Quando analisamos as
colunas de perto verificamos que a sua formação se dá por
pequenos blocos e quando as tocamos é possível ver que o material
usado é uma espécie de arenito, muitos falam que é o de Silsilis –
Encontrado do sul do Egito. Olhando assim, eu não sei te falar qual
é, afinal não sou nenhum perito em qualidades de pedras, mas o
fato é que este arenito é um material de fácil manuseio, o que com
certeza contribuiu para a construção destas colunas... Veja só.
Chamou Michael a atenção de Yorran apontando para uma das
colunas: pequenos blocos de arenito trabalhado dando forma à
gigantesca coluna, é claro que deve ter sido um trabalho árduo e
demorado, devem ter sido usados aqui milhares de trabalhadores,
quem sabe milhões ao longo de várias gerações... Enfim meu caro,
acredito que nunca vamos saber a real verdade sobre a técnica
26
arquitetônica usada nestes trabalhos, o Egito é mesmo uma terra de
muitos segredos...
_Professor!? Veja isto... O que é? Disse Yorran saindo em
direção a uma estátua em tamanho natural.
_Bem, não sei direito... É estranho... Esta estátua está entre os
templos de Ramsés III e Séti I... Acho que é Bast, uma divindade
adorada pelos Líbios no ínicio da XXII dinastia, cuja imagem era
atribuída a uma gata. “Acredita-se que no fim da XXI dinastia
havia dois governantes no Egito, dois Faraós, um em Tebas e outro
em Tânis. Não havia divergências entre eles, entretanto o que
permanecia em Tânis não possuía grande domínio sobre o Baixo
Egito, o que facilitou a invasão dos Líbios à sua casa Real. Nem
sempre o Egito fora conduzido por governantes nascidos de tuas
entranhas... Eis que surgiu em Tânis um novo Faraó, Sheshonq I,
um Líbio.“ Por isso creio que esta imagem é dedicada a Bast, e
com certeza deve estar neste local em referência a Seti, que para
eles era o deus protetor dos estrangeiros.
_Mas Professor!? Este Faraó não é muito popular entre os
estudiosos da área. Praticamente não o conhecia.
_É verdade, os registros que falam de seu governo são poucos,
quase inexistentes... Ao que me parece esta estátua também esteve
por muitos anos esquecida, talvez pelo seu tamanho em relação aos
27
outros componentes do templo, geralmente as estátuas que
exerciam algum poder ritualístico sobre os membros do império
eram bem maiores para demonstrar sua importância. Vamos ver o
que dizem as inscrições que estão na sua base. Sei que ando meio
enferrujado, mas ainda consigo ler alguns hieróglifos, afinal, devo
isso a minha tese de doutorado - Michael minuciosamente começou
a analisar as inscrições deixadas na representação da deusa. _Bem,
pelo que consegui decifrar parece-me que esta estatua foi trazida de
Tânis, por um dos príncipes da casa Real de Sheshonq I, que atuou
aqui como sumo sacerdote de Amon-Rá – Com certeza alguma
estratégia para evitar-se a guerra entre as duas linhagens; Os
hieróglifos indicam que certamente foi construída por egípcios e
não por Líbios... Ainda, de acordo com os escritos, a estátua é
guardiã da passagem do sumo sacerdote de Amon-Rá ao reino
eterno. Nesta época os sacerdotes tinham grandes poderes, ficandose assim os faraós sucumbidos a suas instruções, alguns,
figuramente falando governavam mais que o próprio rei.
_Mas ainda sim Yorran... Será qual a intenção do Sumosacerdote em colocá-la neste local.
_Bem professor... Se o senhor que é mais conhecedor não
souber explicar, não serei eu que poderei fazê-lo...
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Michael insistiu em examinar a estátua com cuidado, a
presença dela naquele local o instigara bastante para que pudesse
continuar pela busca de respostas – Veja aqui Yorran! Parece que
esta parte do chão do templo esta bastante desgastada pelo tempo...
Há algo aqui. Rápido – Pegue o meu pincel!
_Yorran! Existe uma espécie de buraco nos pés da estátua.
Venha rápido. Ajude-me a afastá-la um pouco. Mas cuidado... Esta
estátua é milenar e não queremos quebrá-la.
A estátua guardava a porta de uma passagem que levava a
uma câmera oculta que estava sob os olhos do templo de Séti – o
guardião dos estrangeiros. A escada íngrime e a luz escassa davam
acesso ao salão principal. No centro do recinto sem grandes
ornamentações havia um sarcófago.
_Professor é o corpo de um faraó?
_Não sei... Vamos ver o que diz às inscrições que estão na
tampa do mortuário... De acordo com os registros não é o corpo de
nenhum faraó, a inscrição diz: “_Guardado no interior da cripta,
encontra-se o representante da sabedoria de Rá, conselheiro Real e
Guardião da Paz entre os Povos.“ Yorran, acredito que é o próprio
sacerdote de descendência Líbia, por isso está ao lado do templo de
Seti, ele queria a proteção eterna para seu corpo – Um fato bastante
comum entre os que viveram nesta época; a cultivação da
29
espiritualidade sempre teve um grande papel entre os povos
antigos, muitos deles acreditavam que a vida era uma passagem, e
que a morte era o principio para uma vida elevada, superior aos
costumes mundanos. Por isso construíram-se as pirâmides, que são
grandes túmulos, onde eram enterrados os membros da realeza e
personalidades importantes do império, bem como seus tesouros
que segundo a crença deles, poderiam ser levados para a
eternidade.
_Mas professor? Por que este sacerdote não ordenou que lhe
fosse erguido sua própria pirâmide?
_Este era um caso especial. Primeiro, mesmo que não
houvesse a guerra entre as duas linhagens reais, este sacerdote era
parente de Sheshonq I, rei que destituiu a própria governaça de
Tânis, abalando as estruturas da monarquia, afinal, um estrangeiro
estava em um dos tronos do Egito. Em segundo, ele – o sacerdote
estava estabelecido na casa do “inimigo”, ou seja, em Tebas, onde
estava a outra parte do governo monárquico... É claro que Tebas
não concordava inteiramente com isto, mas a fim de evitar uma
guerra civil e um maior desgaste do Egito resolveu ceder e permitir
a permanecia do sumo-sacerdote na cidade. Entretanto, é possível
que com a sua morte, o Faraó reinante de Tebas deva ter ordenado
que os seguidores do sacerdote construíssem sua cripta para seu
30
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