Ficha Catalográfica 2010 Oliveira, Maxwel Natalino Quando um estranho fala... 295 p. I. Nas ruinas de Karnak. 2. A Holambra dos meus sonhos... 3. Anjos do silêncio... Eis que rasga-se o véu... 4. Os sonhos: o prefácio da vida. 5. Cada segundo é precioso, pois, existem tempos que não retornam jamais. ISBN 5 978-51-6022-000-0 Para meus pais, que com amor e sabedoria me conduziram até onde estou hoje, exemplos de dedicação infinita para que pudesse alcançar um futuro promissor, cheio de desafios e inúmeras possibilidades; Albert Otoni de Souza, melhor amigo, que me demonstraste que o querer não é poder, mas o principio da realização... Aquele que me fez perceber que a família, às vezes, pode transcender os laços de sangue; 2 O presente é algo que vai além da esfera material, pois, ele simboliza o desejo de uma pessoa em tornar-se presente em nossas vidas. Maldito é o ser humano que desperta o amor de outro sem a intenção de amá-lo. Maxwel Natalino 3 Ainda que eu falasse a língua dos homens, que eu falasse a língua dos anjos, sem Amor nada seria... Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; Ainda que eu tenha tamanha fé ao ponto de transportar montes, se não tiver Amor nada serei... 1 Coríntios 13: 1 – 2. Nota do Autor 4 O amor é um sentimento atemporal, ou seja, está fora dos limites da razão. Entretanto, sua essência pode ser eternizada de acordo com as nossas ações materiais. No início, o sentimento é avassalador, é como as chamas de um fogaréu, que arde incessantemente enquanto houver combustível – a madeira, por exemplo. É neste ponto que temos a fase mais superficial do amor, a Paixão, sentimento este que despende mais aos desejos da carne, de satisfação dos anseios humanos mais primitivos, e quando na maioria das vezes não se pensa para agir, o impulso é quem nos orienta, muitas vezes movido pela atração, fascinação, o querer estar com alguém. É claro que este sentimento é inevitável, é o início para que se possa alcançar a serenidade do amor. A paixão, em muitos casos tem o seu início com a profundidade de um simples olhar, que age como combustível natural para que ela – a paixão cresça a tal ponto que, quando os apaixonados se encontram é como se tudo que os envolvessem perdessem a sua real importância e ocupação no tempo e espaço, apenas eles 5 existem e tudo mais cede lugar ao fascínio, a contemplação do ser. Entretanto a continuidade da paixão está intimamente ligada à resposta humana a tal sentimento, as reações, ou seja, é como se diz a resposta sábia nunca provém do ímpeto da pergunta, entretanto, ela se regozija nos andar dos minutos. É preciso tempo para compreender as transformações do coração, e decidir qual rumo você quer para sua vida, é claro, que quando há paixão, torna-se difícil manter a lucidez das aspirações futuras, geralmente você acha que a pessoa que despertou este sentimento em você é primordial para sua sobrevivência, é como ar que respiramos não se pode viver sem... Aqui, o medo da perda é grande, principalmente quando a paixão não é recíproca, ou até mesmo não tem a mesma intensidade do seu sentimento. Muitas pessoas às vezes me questionam se a paixão pode durar para sempre, eu reluto em responder, pois quando falamos ao coração das pessoas é preciso cuidado para não causar nenhuma ferida. É como eu sempre digo a paixão pode se manter inicialmente sem o 6 amor, apenas apoiada nas estruturas do desejo, contudo, após certo tempo, o desejo apenas não bastará, será preciso algo mais. Agora o amor sim, pode durar para sempre, é um sentimento desprendido de qualquer desejo mundano, é algo que preenche o nosso coração, trazendo consigo uma alegria sobrenatural, uma alegria que muitas vezes não sabemos de onde provém, apenas vivemos. O amor, que defino como sendo a continuidade duradoura da paixão, já é um sentimento completo, que só vem a acrescentar em nossas vidas, trazendo consigo a grandiosidade do ser. Quando não há amor, e sim paixão, as ações podem ser superficiais, apenas na matéria. Por exemplo, o perdão para alguém que está apaixonado muitas vezes pode ser dado por medo de perda, enquanto, o perdão, em alguém que ama verdadeiramente é profundo e não encontra barreiras para ser expresso. O amor pode ser entendido como o apogeu do afeto, e a dedicação obsoluta a outrem sem esperar nada em troca. É justamente neste ponto que o ser é engrandecido, e querer a felicidade da pessoa amada, mesmo que esta não esteja destinada a estar 7 ao nosso lado contrariando totalmente o desejo da posse. Amar é ceder, nas relações atuais o que mais acontece é o desgaste provocado pelo próprio cotidiano, pois, o ser humano muitas vezes é egoísta por natureza, sendo assim, não quer abrir mão de nenhuma de suas vontades, entretanto, quando se ama é preciso compreender o espaço da outra pessoa, ceder e reivindicar quando for preciso, é necessário que ambos se completem que se entendam. Mas não se preocupe, o amor constrói, e com o tempo, onde cada um sabe o seu lugar, sabe ceder e oferecer sem esperar nada em troca a relação ganhará maturidade, ou seja, a lapidação necessária para a durabilidade. Na Bíblia sagrada podemos encontrar várias definições para o Amor, mas, para mim, uma das mais tocantes está em I Coríntios 13: 4-7, onde o apóstolo Paulo define: “ O amor é sofredor, é benigno, o amor não é invejoso, o amor não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita o mal, não se regozija com a injustiça, mas sim na verdade, tudo sofre, tudo crê, 8 tudo espera, tudo suporta “. É como eu digo, a nossa vida e os rumos que completam sua esfera e uma escolha pessoal, feita por nós, se plantamos o ciúme doentio, se oprimimos, se mentimos para quem amamos é o que vamos colher em nossas relações no futuro, de quem não fomos leais, verdadeiros. O amor não é uma receita, cada um tem a sua maneira de amar, mas é preciso sabedoria, pois, quando conduzimos os sentimentos de maneira errônea, com certeza ele estará fadado ao fracasso, ao ódio, afinal, sentimento este que caminha em uma linha tênue com o amor, pois ambos são os extremos de nossas aspirações, o amor, como sendo o desejo extremo de dedicar-se e estar para alguém, e o ódio, que é a expressão máxima da raiva, da repulsa por outrem. Bem, acredito em algumas atitudes que podem contribuir para que as relações tenham maior durabilidade, lembrando que não quero pregar nenhum estilo de vida, está é minha opinião expressa nesta obra, cada um tem o seu próprio modo de vivência, este é o meu ponto de vista, que quero compartilhar com todos os leitores desta história. 9 Acredito que o saber ouvir e observar é um dos principais pontos de uma relação, pois o ouvir e observar são fundamentais para que possamos conhecer intimamente quem está ao nosso lado. Verbalize seus sentimentos, não pense que quem está ao nosso lado sabe o quão forte e verdadeiro é o seu sentimento ou até mesmo quais são seus sonhos, vontades e desejos, pois se você não expressa, não fala não há como saber, pois a mente humana é um oceano de mistérios, e os únicos que podem fornecer a chave para adentrá-lo é você e eu. Todos têm o querer, entretanto saiba compartilhá-lo de modo a exigir e ceder quando necessário, nem sempre podemos realizar somente nossas vontades, é preciso viver também as vontades de quem está ao nosso lado e vice-versa. Cultive o perdão verdadeiro, pois, se você perdoa apenas no externo da alma, você não esquecerá jamais a causa da raiva, sendo assim, o seu coração sempre terá que ceder um pouco de espaço para a desconfiança impedindo-o de amar de maneira simples e profunda. Nunca pense que o amor poderá sobreviver apenas de exigências, ou seja, você acha que a pessoa que 10 está a seu lado deve fazer todas as suas vontades porque você está amplamente segura da relação e de que nunca o outro deixará de amá-la e por isso cumprirá todas as suas determinações, não se engane, isto até poderá acontecer, mas por pouco tempo, pois o que existe aqui não é amor, é posse, sendo assim não é duradouro e logo seu companheiro se cansará, pois a opressão dos sentimentos tem vida curta, logo o ser se rebela contra seu opressor. Não meça forças, saiba-se impor, mas com humildade, serenidade, tenha sabedoria. Vários estudiosos sempre disseram, e concordo plenamente, quando recebemos uma resposta brusca o nosso coração se enche de soberba e a nossa reação é eminente, sem pensar, dissemos tudo o que não sentimos e achamos apenas para ferir, machucar o outro, tudo isso para não nos sentirmos fracos e nem inferiorizados, contudo, quando passado o tempo vêm o arrependimento, a culpa, tudo isso porque na maioria das vezes agimos sem pensar, não medimos o que falamos, sem saber o quão poderosas podem ser nossas palavras, por isso, quando isso ocorrer, pare um pouco, por alguns 11 segundos ou até mesmo minutos e pense bem no que vai dizer, com certeza você agirá sabiamente e sairá desta situação com a vitória. Enfim, estas são algumas das atitudes que acredito serem especiais para que o amor seja fortificado. “Quando um estranho fala “ é um livro que escrevi pensando em grandes amigos que fazem parte da minha vida. Sabe, às vezes, o sonho está a um passo de nos alcançar, mas sem saber fazemos com eles se tornem mais distantes, tornamos o fácil complicado. Um dia pensei “nossa tem pessoas que fazem o que gostam e se tornam felizes e bem sucedidas”, então pensei que poderia fazer algo de especial para mim, fazer a diferença..., mas meu coração estava cheio de dúvidas, afinal, o que fazer? Cheguei para meus amigos e disse “Vou mudar minha vida, o próximo ano será diferente, farei algo que eu realmente goste, mas ainda não consigo ver claramente o que é”, e às vezes é tão fácil visualizar os desejos e afinidades de outras pessoas, mas as nossas próprias aspirações ficam imersas no esquecimento, atrás do medo de nos analisarmos e saber 12 o que realmente vamos encontrar; Muitas vezes não sabemos o que queremos e nem para onde ir... Sempre gostei da língua escrita e falada, foi quando meus amigos foram primordiais e me disseram para escrever um livro, acatei a idéia, achei interessante e acreditei que poderia fazê-lo. Por isso sou imensamente grato a todos àqueles que contribuíram direta e indiretamente para composição desta obra, pois é resultado da força que me foi cedida por cada um. Quando comecei a escrever, queria compor uma história que pudesse ajudar muitas pessoas a compreender um pouco mais deste sentimento tão grandioso que é o Amor, entretanto, queria também mostrar que a vida pode ser bem mais empolgante em sua forma mais simples, que é expressa nas ações do cotidiano. Pois são nelas que muitas relações são desgastadas e findam-se. O amor é o principal alicerce desta história que é rodeada de mistérios, que nos intriga a repensar em nossos conceitos e perceber que a parte espiritual, ou seja, a mística também é importante, pois, o mundo em que vivemos, anseia cada vez mais pelo 13 cultivo dos sentimentos que são íntimos do Acreditar – que nos levam a Crer em algo ou em Alguém, como você quiser, afinal, existe o livre arbítrio, para que o ser humano determine se a sua vida vai ser ou não repleta de emoções e quais os rumos ela deverá percorrer. Espero sinceramente que estas palavras venham adentrar seus corações e lhe ser úteis em suas vidas. E desde já expresso minha gratidão pelo tempo dedicado a esta leitura, pois para mim é mais que um simples trabalho; É mais que o resultado de algumas horas sentado à frente do computador; Na verdade é muito mais do que eu possa esprimir em palavras... Acho que nem saberia dizê-las... A única coisa que realmente de concreto sei é posso falar é o seguinte: “Para mim, foi uma honra compor esta história”. Maxwel Natalino Índice 14 Capítulo I Nas ruínas de Karnak Capítulo II A Holambra dos meus sonhos... Capítulo III Anjos do Silêncio... Eis que rasga-se o véu Capítulo IV Os Sonhos: O Prefácio da Vida Capítulo V Cada Segundo é precioso, pois, existem tempos que não retornam jamais. 15 Um Romance baseado em uma das Lendas mais Secretas da História da Humanidade... 16 Na ausência de alguém em quem confiar e compartilhar um pouco dos meus segredos... Eis que escrevo estas páginas... Para trazer a tona uma história que vivi... Momentos que mudaram a minha vida para sempre... Pois, aprendi que o amor é um sentimento sobrenatural e que às vezes há mistérios que devem permanecer para sempre no infinito de nossas mentes; Não para capitalizar o saber no apogeu de uma ação egoísta, mas sim, para proteger a alma humana da cobiça... Capítulo I Nas ruínas de Karnak 17 O sol castigava bravamente os que participavam de uma expedição arqueológica no Egito – Era um grupo pequeno, liderado por um professor da Universidade de Paris; Aproximadamente umas dez pessoas, contando com alguns seguranças que ali foram contratados para manter a expedição livre de possíveis saqueadores que por algum motivo pudessem atacá-los, imaginando que tivessem encontrado algo que representasse valor no mercado negro de achados arqueológicos. Faziam parte do grupo, o professor Michael e seus assistentes Yorran, Larry, Matheus e Daniel. Yorran era um antigo aluno de Michael que agora trabalhava em um museu de Paris, o Museu de História Antiga - o mesmo que organizara a expedição; Era o mais novo entre os participantes, e tratado pelo professor como um filho, talvez pela semelhança no gênio forte, ambos se pareciam em suas atitudes... E por este motivo muitas vezes discordavam sobre vários assuntos, como as pequenas discussões entre pais e filhos; Larry, Matheus e Daniel eram representantes de um grupo de déspotas europeus que faziam constantes doações à Universidade de Paris e ao Museu; também tinham suas formações na área de estudos antigos, eram conhecedores exímios de várias culturas e sempre que havia alguma expedição eles atuavam como peritos auditores que 18 analisavam se o dinheiro doado estava sendo bem empregado... Bem ao menos essa era a explicação dada pelo grupo de mecenas para a presença de tais pessoas nas expedições arqueológicas, explicação esta que nunca foi questionada pelos beneficiados já que as doações eram constantes... Afinal, era normal que os colaboradores acompanhassem o andamento das atividades para estabelecer futuras remessas de dinheiro; extremamente sistemáticos, não eram de falar muito, entretanto sempre estavam por perto para catalogar quando algo de novo era encontrado. A expedição tinha o objetivo de coletar alguns artefatos, documentos, rochas, enfim, demonstrativos que iriam enriquecer o acervo de antiguidades das duas instituições, bem como adquirir maior lapidação sobre o conhecimento dos costumes da civilização egípcia. Já era fim de dia, por volta das cinco da tarde, e todos estavam sentados à sombra de um dos grandes pilares da formação originária do antigo templo de Karnak, conversando e aproveitando um pouco para descansar. Durante o dia o desgaste físico provocado pelo sol era grande, por isso sempre deixavam para explorar quando o sol começava a baixar no horizonte, quando as temperaturas se tornavam mais brandas – Fato bastante comum nas regiões desérticas, onde o dia é marcado pelo calor excessivo, 19 porém à noite, o frio é rigoroso, os extremos das estações expressas em um único local; o verão e o inverno separados por uma cronologia ínfima, apenas algumas horas. _Bem. Como vocês sabem amigos, o Egito é uma das civilizações mais antigas do mundo... Antes havia dois reinos por esta terra, o Alto e o Baixo Egito... O alto Egito era a parte mais pobre, enquanto o Baixo Egito podia se dispor dos privilégios oferecidos pelo rio Nilo... Havia mais chuvas e a temperatura era bem mais amena. Sei que há controvérsias, mas o fato é que um dia um rei chamado Menes, que vivera aproximadamente por volta de 3000 a.C., unificou os dois reinos e se tornou o soberano de todo o Egito, seria então o início da formação de uma dinastia unificada sob o comando de um só homem, que deveria dar prosseguimento ao reinando místico do deus Hórus... Era a humanificação da divindade, o que hoje denominamos de Faraó... Éh pessoal, vocês devem me agradecer por esta expedição, pois estão sentados sobre um solo sagrado que para muitos ainda hoje guarda vários segredos... -Realmente tenho que te agradecer... Até alguns dias atrás eu estava em Paris, em um clima completamente agradável e hoje estou aqui... Neste calor terrível, sentado em um pequeno banquinho nas ruínas de Karnak e para completar ouvindo um 20 pouco de história antiga com excelentíssimo senhor Michael Harrison, professor-doutor em civilizações antigas da Universidade de Paris... Vejam só amigos não é qualquer Universidade, é uma das mais antigas do mundo... Seja como for, quero terminar logo esta expedição e voltar para casa, estes ares não estão me fazendo muito bem. Se pelo menos houvéssemos encontrando algo que valesse a pena e nos rendesse algum mérito... Mas não, voltaremos com quase nada, apenas fatos que já foram descobertos, assim nunca deixarei de ser o assistente do Museu... -Yorran!? Não fale desta maneira, não gosto deste tipo de comportamento, você sabe disso... Acho que você já se esqueceu, mas devo lembrá-lo, você veio para esta expedição substituindo o curador do Museu de Antiguidades de Paris, que infelizmente está adoentado... Muitos dos assistentes do Museu gostariam de estar aqui em seu lugar, então aproveite a oportunidade que ele te deu, e o represente com categoria, quem sabe em um futuro que espero não estar muito distante você venha ser mais que o assistente... Talvez um diretor!? Respondeu Michael com um sorriso acanhado no rosto, porém com tom sério a voz. Realmente eu não entendo. Você já foi meu aluno no passado, era promissor, um dos meus melhores... E agora olha só em que se transformou... Um rapaz 21 mimado que só sabe reclamar desde que chegamos... É. Você não era assim, da última vez que o vi era bem aplicado, mas agora... -Está bem Michael... Peço desculpas, não devo falar com você desta maneira, afinal você é como se fosse o meu segundo pai, e pra variar não poderia faltar o sermão do Egito... Mas tudo bem, você sempre me ajudou no passado, inclusive quando fui trabalhar no museu ao terminar a graduação... No fundo Michael compreendia a atitude do amigo, ela também já estava ali há vários dias e conseguira poucos avanços, quase nada havia sido encontrado – apenas algumas fotos tiradas e poucas relíquias, os restos deixados por escavações anteriores à sua. Além do mais o sol escaldante alterava por completo o humor das pessoas... Bem, na verdade ele queria atribuir esta mudança ao clima, contudo, os vilarejos próximos sempre comentavam das maldições antigas que ainda hoje afirmavam ter poder para confundir as pessoas e mantê-las afastadas dos antigos segredos que há muito só era compartilhado com a figuração do deus na terra, o deus encarnado, o faraó... Todos já estavam esgotados e queriam voltar para casa. Sendo assim tomou sua última decisão: -Bem pessoal. Acho que já vimos tudo o que foi possível. Não nos resta fazer mais nada aqui. Hoje será nossa última exploração. Amanhã mesmo vamos partir. Todos estão de acordo? 22 -Estou em pleno acordo. Completou Yorran. -E vocês!? Larry!? ...Matheus!? ...Daniel!? -É... Todos estão de acordo. Conclui Larry. -Então está bem. Vocês podem pegar o seu material de escavação... Estarei aqui em vinte minutos para prosseguirmos com o plano. Já era possível ver o sol se esvair no horizonte, oferecendo lugar as estrelas quando eles retomaram as pesquisas. Continuaram a caminhada sobre as ruínas do complexo de Karnak, que já foi abrigo de vários templos, que juntamente com o de Luxor formavam uma parte da antiga Tebas – cidade que já foi conhecida como a das mil portas e também capital do antigo império. Enquanto vasculhavam os vestígios ouviam as explicações do professor em silêncio: -O que vemos hoje não é quase nada se comparado à grandiosidade desta obra no passado – Apenas dois hectares sobreviveram às intempéries do tempo, mas já foram trinta... Aqui havia vários templos, construções que levaram gerações para se findarem... Às vezes um faraó começava a erguer os alicerces e somente seus sucessores vinham a completá-los. O santuário de Amon é o maior entre os que fazem parte deste complexo – e grande foi sua importância, um deus que durante muito tempo, 23 principalmente no período do império novo foi cultuado como o principal da civilização egípcia sendo elevado a divindade solar; por isso o conhecemos como Amon-Rá – Este fato ocorria porque a agricultura era a principal atividade de sustentação do império, sendo assim a luz do sol era fundamental para a produção de alimentos... Desta maneira as divindades solares foram elevadas à supremacia do culto... E este não foi o único a ser adorado pelos egípcios, houve vários outros, o que daria para fazer uma aula bastante interessante... Mas o fato é que Karnak ainda consegue ser tão misteriosa quanto foi no passado, pois nos instiga a pensar em fatos que foram importantes para este povo que manteve sua hegemonia por vários séculos seguintes a sua construção... Uma civilização rica em detalhes... Que acreditava na transcendência da alma... A morte era apenas uma passagem... O início de uma nova vida... Em determinado momento Michael e Yorran continuaram sós, pois os outros ficaram a analisar algumas figuras encontradas, e depois de algum tempo, chegaram e um local ímpar, havia várias colunas monumentais – tão grandes que os colocavam na insignificância do tamanho. Ainda era possível ler suas inscrições deixadas pelos que ali residiram devido ao bom estado de conservação desta parte de Karnak. 24 -Que local é esse? Questionou Yorran com um olhar espantoso, nunca li nada sobre este parte do templo... Já haviam ido a vários lugares diferentes, mas aquele era especial, ele nunca vira tanta grandeza senão através dos livros. Nem se quer podia imaginar como povos tão antigos e desprovidos de qualquer avanço tecnológico pudessem sobrepor blocos de pedras tão grandes – seria necessário utilizar uma força descomunal para tal trabalho... Varias perguntas se formavam em seu interior. Michael rapidamente respondeu ao questionamento do amigo. _Bem, de acordo com os meus cálculos esta deve ser a sala Hipostila, que é composta por 134 colunas... Como pode ver são gigantescas... Uma das partes mais bem conservadas desta obra foram testemunhas de várias gerações de governantes faraônicos... Fascinante não é!? -É lindo, grandioso... Agora sim, esta visão compensou toda a viagem... Mas professor!? Sempre estudamos sobre este assunto e não entendo como povos tão antigos, que não possuíam ferramentas adequadas podiam erguer tais monumentos? -Agora sim. Você tocou em um ponto crucial da história cujo desperta grandes curiosidades... Várias teorias são defendidas, existem aquelas que falam da materialidade da obra, desprovidos de qualquer senso mítico, no entanto, alguns chegam a defender 25 teses que vão além das estruturas da ciência humana... A telecinésia, por exemplo – muitos mestres das práticas ocultas alegam que os egípcios conheciam o método que desenvolvia a habilidade da mente humana em mover objetos do mundo físico sem forças visíveis, o que resultou em trabalhos como as pirâmides e outros que vemos no Egito. É claro, todas as crenças e teorias devem ser respeitadas, pois não há provas contundentes de como foram construídos tais obras... Pelo menos é o que sei... Agora eu penso de maneira um pouco diferente... Quando analisamos as colunas de perto verificamos que a sua formação se dá por pequenos blocos e quando as tocamos é possível ver que o material usado é uma espécie de arenito, muitos falam que é o de Silsilis – Encontrado do sul do Egito. Olhando assim, eu não sei te falar qual é, afinal não sou nenhum perito em qualidades de pedras, mas o fato é que este arenito é um material de fácil manuseio, o que com certeza contribuiu para a construção destas colunas... Veja só. Chamou Michael a atenção de Yorran apontando para uma das colunas: pequenos blocos de arenito trabalhado dando forma à gigantesca coluna, é claro que deve ter sido um trabalho árduo e demorado, devem ter sido usados aqui milhares de trabalhadores, quem sabe milhões ao longo de várias gerações... Enfim meu caro, acredito que nunca vamos saber a real verdade sobre a técnica 26 arquitetônica usada nestes trabalhos, o Egito é mesmo uma terra de muitos segredos... _Professor!? Veja isto... O que é? Disse Yorran saindo em direção a uma estátua em tamanho natural. _Bem, não sei direito... É estranho... Esta estátua está entre os templos de Ramsés III e Séti I... Acho que é Bast, uma divindade adorada pelos Líbios no ínicio da XXII dinastia, cuja imagem era atribuída a uma gata. “Acredita-se que no fim da XXI dinastia havia dois governantes no Egito, dois Faraós, um em Tebas e outro em Tânis. Não havia divergências entre eles, entretanto o que permanecia em Tânis não possuía grande domínio sobre o Baixo Egito, o que facilitou a invasão dos Líbios à sua casa Real. Nem sempre o Egito fora conduzido por governantes nascidos de tuas entranhas... Eis que surgiu em Tânis um novo Faraó, Sheshonq I, um Líbio.“ Por isso creio que esta imagem é dedicada a Bast, e com certeza deve estar neste local em referência a Seti, que para eles era o deus protetor dos estrangeiros. _Mas Professor!? Este Faraó não é muito popular entre os estudiosos da área. Praticamente não o conhecia. _É verdade, os registros que falam de seu governo são poucos, quase inexistentes... Ao que me parece esta estátua também esteve por muitos anos esquecida, talvez pelo seu tamanho em relação aos 27 outros componentes do templo, geralmente as estátuas que exerciam algum poder ritualístico sobre os membros do império eram bem maiores para demonstrar sua importância. Vamos ver o que dizem as inscrições que estão na sua base. Sei que ando meio enferrujado, mas ainda consigo ler alguns hieróglifos, afinal, devo isso a minha tese de doutorado - Michael minuciosamente começou a analisar as inscrições deixadas na representação da deusa. _Bem, pelo que consegui decifrar parece-me que esta estatua foi trazida de Tânis, por um dos príncipes da casa Real de Sheshonq I, que atuou aqui como sumo sacerdote de Amon-Rá – Com certeza alguma estratégia para evitar-se a guerra entre as duas linhagens; Os hieróglifos indicam que certamente foi construída por egípcios e não por Líbios... Ainda, de acordo com os escritos, a estátua é guardiã da passagem do sumo sacerdote de Amon-Rá ao reino eterno. Nesta época os sacerdotes tinham grandes poderes, ficandose assim os faraós sucumbidos a suas instruções, alguns, figuramente falando governavam mais que o próprio rei. _Mas ainda sim Yorran... Será qual a intenção do Sumosacerdote em colocá-la neste local. _Bem professor... Se o senhor que é mais conhecedor não souber explicar, não serei eu que poderei fazê-lo... 28 Michael insistiu em examinar a estátua com cuidado, a presença dela naquele local o instigara bastante para que pudesse continuar pela busca de respostas – Veja aqui Yorran! Parece que esta parte do chão do templo esta bastante desgastada pelo tempo... Há algo aqui. Rápido – Pegue o meu pincel! _Yorran! Existe uma espécie de buraco nos pés da estátua. Venha rápido. Ajude-me a afastá-la um pouco. Mas cuidado... Esta estátua é milenar e não queremos quebrá-la. A estátua guardava a porta de uma passagem que levava a uma câmera oculta que estava sob os olhos do templo de Séti – o guardião dos estrangeiros. A escada íngrime e a luz escassa davam acesso ao salão principal. No centro do recinto sem grandes ornamentações havia um sarcófago. _Professor é o corpo de um faraó? _Não sei... Vamos ver o que diz às inscrições que estão na tampa do mortuário... De acordo com os registros não é o corpo de nenhum faraó, a inscrição diz: “_Guardado no interior da cripta, encontra-se o representante da sabedoria de Rá, conselheiro Real e Guardião da Paz entre os Povos.“ Yorran, acredito que é o próprio sacerdote de descendência Líbia, por isso está ao lado do templo de Seti, ele queria a proteção eterna para seu corpo – Um fato bastante comum entre os que viveram nesta época; a cultivação da 29 espiritualidade sempre teve um grande papel entre os povos antigos, muitos deles acreditavam que a vida era uma passagem, e que a morte era o principio para uma vida elevada, superior aos costumes mundanos. Por isso construíram-se as pirâmides, que são grandes túmulos, onde eram enterrados os membros da realeza e personalidades importantes do império, bem como seus tesouros que segundo a crença deles, poderiam ser levados para a eternidade. _Mas professor? Por que este sacerdote não ordenou que lhe fosse erguido sua própria pirâmide? _Este era um caso especial. Primeiro, mesmo que não houvesse a guerra entre as duas linhagens reais, este sacerdote era parente de Sheshonq I, rei que destituiu a própria governaça de Tânis, abalando as estruturas da monarquia, afinal, um estrangeiro estava em um dos tronos do Egito. Em segundo, ele – o sacerdote estava estabelecido na casa do “inimigo”, ou seja, em Tebas, onde estava a outra parte do governo monárquico... É claro que Tebas não concordava inteiramente com isto, mas a fim de evitar uma guerra civil e um maior desgaste do Egito resolveu ceder e permitir a permanecia do sumo-sacerdote na cidade. Entretanto, é possível que com a sua morte, o Faraó reinante de Tebas deva ter ordenado que os seguidores do sacerdote construíssem sua cripta para seu 30