NOVAS TECNOLOGIAS, NOVOS ALUNOS, NOVOS

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NOVAS TECNOLOGIAS, NOVOS ALUNOS, NOVOS PROFESSORES?
REFLETINDO SOBRE O PAPEL DO PROFESSOR NA CONTEMPORANEIDADE
ALDA, Lucía Silveira
Mestranda em Linguística Aplicada
Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada
Universidade Católica de Pelotas (UCPel)
[email protected]
Resumo: Diante da crescente difusão e renovação das tecnologias no contexto social pós-moderno,
não se pode ignorar a nova realidade imposta dentro da sala de aula. Cada vez mais as tecnologias
digitais tornam-se presentes em todos os ambientes, modificando a maneira como ensinamos e
aprendemos. As novas tecnologias estão integrando-se ao nosso cotidiano, e o acesso à informação
está tornando-se cada vez mais natural. Além disso, as mudanças tecnológicas também modificam
as novas gerações que surgem, e por conseguinte, surge um novo contexto educacional que exige
uma nova postura por parte do professor. Desse modo, este artigo objetiva discorrer acerca desse
novo contexto educacional que surge, visando esclarecer qual é o papel que o professor deveria
assumir na contemporaneidade.
Palavras-chave: papel do professor; contexto escolar; contemporaneidade.
INTRODUÇÃO
A evolução é inerente ao ser humano. Á medida que a sociedade se desenvolve,
esta também se transforma e porquanto, se adapta. Levando em consideração essa
afirmação, a sociedade, hoje, é diferente da sociedade de alguns anos atrás, onde algumas
idéias, sistemas, costumes e hábitos eram diferentes das atuais. Vivemos na pósmodernidade, e tratando-se do ambiente escolar, as mudanças não são fáceis de aceitar.
Segundo Finch (2006), a educação tem sido notável pela sua resistência às idéias pósmodernas, já que escolas e universidades têm sido tradicionalmente agentes superiores das
idéias iluministas.
No entanto, essas mudanças geradas na sociedade devem ser examinadas, a fim de
buscar adaptações para a situação social atual e em relação à educação, isto deve ser
necessariamente considerado.
Os próprios professores estão sentindo as mudanças, mais do que em
qualquer tempo anterior. Se o trabalho dos professores já está mudando,
isto é porque o mundo no qual eles trabalham também está mudando; e
dramaticamente. Ás vezes descrito em termos pós-modernos, este mundo
social mutante é caracterizado por flexibilidade econômica, complexidade
tecnológica, diversidade cultural e religiosa. Para os professores, a
mudança é então obrigatória. Apenas o progresso é opcional.
(HARGREAVES, 1993, p.95)
Desse modo, pretende-se com esta proposta discutir sobre o papel do professor na
contemporaneidade, a fim de refletir sobre a formação de professores e os novos caminhos
do ensino e aprendizagem nesta nova realidade tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS, NOVOS ALUNOS, NOVOS PROFESSORES
A educação e o sistema educativo sofreram grandes mudanças nos últimos tempos.
A partir do século XX, os avanços tecnológicos popularizaram o acesso à informação,
modificando a maneira como vivemos e, consequentemente, a maneira como aprendemos.
A nossa sociedade, atualmente, está em rede; e isso provocou mudanças marcantes. A
aprendizagem não é mais individual, mas sim coletiva. O conhecimento é construído em
grupo e incontestavelmente está mais acessível. Logo, qual é o papel do professor hoje?
Qual é o impacto do professor numa sociedade em rede, com tantas oportunidades de
aprendizagem?
Anteriormente, o professor era o único participante ativo da sala de aula; aquele que
detinha o conhecimento e que transmitia para os alunos todo o seu estudo e sabedoria de
forma linear, passando apenas do professor para os alunos, sem grandes reflexões ou visão
crítica dos conteúdos. A educação tradicional era centrada no professor, fundamentalmente
baseada em texto e excessivamente expositiva. Porém, a nova geração está acostumada a
agir em vez de passivamente assistir. Com a evolução das tecnologias e da sociedade, além
das oportunidades de aprendizagem, os alunos também mudaram.
Os alunos hoje são diferentes, e por isso, a era tecnológica necessita de um sistema
educacional reformulado voltado para esses novos alunos, os “nativos digitais”:
Eles passaram a vida inteira cercados por e utilizando computadores,
videogames, reprodutores de música digital, câmeras de vídeo, celulares, e
todos os outros brinquedos e ferramentas da era digital. [...] Jogos de
computador, e-mail, internet, celulares e mensagens instantâneas são
partes integrais de suas vidas. (PRENSKY, 2001, p.1)
Esta nova geração esta acostumada a dividir a sua atenção entre diferentes tarefas
ao mesmo tempo, utilizando diferentes tipos de tecnologias e inseridos em diferentes tipos
de contexto; o conteúdo acessado e produzido pelos nativos digitais não se limita apenas a
textos, abrange também imagens, sons, vídeos e multimídias.
Segundo Prensky (2001), os alunos de hoje não são mais as pessoas para as quais
o nosso sistema educacional foi projetado para ensinar; alguns professores supõem que os
alunos são os mesmos de sempre, e que os mesmos métodos que funcionaram para os
professores quando estes eram alunos irão funcionar para os seus alunos hoje. Muitos
professores mantêm o mesmo método de ensino durante toda a carreira, e sustentam-se em
discursos antiquados e inadequados ao contexto dos alunos de hoje. De acordo com Taylor
(2005), muitos educadores ainda aspiram tais modelos, sendo o professor o único detentor
do conhecimento e único identificador do que é (ou não) importante, determinando os
conteúdos, os procedimentos, a natureza de suas aulas, geralmente com pouca, ou
nenhuma, contribuição exterior.
A suposição de que os métodos que funcionaram para os professores na sua época
irão funcionar hoje não é mais válida; a nova geração necessita que os professores adotem
uma nova postura frente às mudanças que vem transformando a sociedade. Segundo Linda
Harasim (apud Revista Veja Educação, 2009),
a tecnologia faz parte do cotidiano de todos os jovens. Os alunos esperam
que o professor se utilize disso em sala de aula. Seu papel mudou
completamente, mas continua essencial. Ele guia o processo de
aprendizagem, sendo o elo entre o aluno e a comunidade científica.
Logo, confirma-se que as mudanças sofridas pela sociedade exigem uma nova
postura por parte do professor em sala de aula. É absolutamente necessária uma mudança
de um ambiente centrado no professor para um ambiente centrado no aluno. Em um mundo
conectado em rede, com inúmeras trocas de informação e rapidez de interação, o papel do
professor, em suma, é auxiliar o aluno na busca pelo conhecimento, ser um mediador entre
o aluno e a aprendizagem. O professor pós-moderno deve estar em sincronia com a
contemporaneidade, saber utilizar as tecnologias em prol de um ensino mais eficiente e
eficaz, trabalhar em parceria com o aluno e, além de tudo isso, ser consciente de que não é
o detentor de todo o conhecimento. Hoje, é necessário ensinar nossos alunos a refletir,
questionar, raciocinar e compreender a nossa realidade, para que possam contribuir com a
sociedade e construir opiniões próprias.
Levando em consideração que as possibilidades de aprendizagem atuais são
ilimitadas, percebemos que a aprendizagem pode ocorrer a qualquer momento, e não
apenas com o professor e dentro da sala de aula. Com esse aluno desenvolvendo o hábito
da pesquisa e o interesse pela informação, naturalmente desenvolverá a necessidade da
aprendizagem, tornando-se um ser questionador e crítico da realidade que o cerca. Cabe ao
professor aguçar e explorar essa habilidade, mediar esse conhecimento e oferecer ao aluno
novas possibilidades de ensino, ampliando a gama de recursos disponíveis. Enfim, o
professor torna-se facilitador da aprendizagem e tem como principal função, em sala de
aula, dar significação ao processo pedagógico.
SER PROFESSOR TAMBÉM É SER ALUNO
É evidente que os professores necessitam acompanhar as mudanças a fim de
adaptar-se. Porém, tendo em vista que a maioria dos professores está acostumada com o
ensino tradicional, linear, baseado em textos, prováveis desafios podem vir a ser
enfrentados por professores, entre os quais, destacam-se a necessidade de letramento
digital, a resistência ao uso de novas tecnologias e à formação continuada. Por isso, é de
suma importância para o professor buscar um aperfeiçoamento contínuo, a fim de adaptarse ás novas metodologias que surgem para auxiliar o processo de ensino e aprendizagem.
Devemos sempre acompanhar a evolução, a fim de buscar o conhecimento para
compartilhá-lo.
Os professores precisam desenvolver conhecimento e habilidades continuamente
durante as suas carreiras. Segundo Beard (2008), evidências comprovam que investir em
professores é o investimento mais produtivo para aumentar a eficácia e a melhora na
escola. É essencial refletir em como ensinar tanto quanto o que ensinar. Dessa forma, é
necessário pensar em novas metodologias de ensino e apoiar-se nas ferramentas que
surgem a fim de melhorar a qualidade de ensino, ao invés de refutar as qualidades que
estas oferecem.
Para progredir, o professor deve ser um aluno constante, não só com o objetivo de
buscar conhecimento, mas também para perceber a perspectiva dos seus alunos:
Quando pensamos em educação costumamos pensar no outro, no aluno,
no aprendiz e esquecer como é importante olharmo-nos os que somos
profissionais do ensino como sujeitos e objetos também de aprendizagem.
Ao focarmo-nos como aprendizes, muda a forma de ensinar. Se me vejo
como aprendiz, antes do que professor, me coloco numa atitude mais
atenta, receptiva, e tenho mais facilidade em estar no lugar do aluno, de
aproximar-me a como ele vê, a modificar meus pontos de vista. (MORAN,
2007)
Hoje, o professor deve ser facilitador da aprendizagem e deve também ser aluno.
Estar em formação contínua traz vantagens não apenas para a escola e alunos, mas para o
professor. Moran (2009) afirma que, como professores, “ensinaremos melhor se
mantivermos uma atitude inquieta, humilde e confiante com a vida, com os outros e
conosco, tentando sempre aprender, comunicar e praticar o que percebemos até onde nos
for possível em cada momento”. Ainda, é de suma importância refletir criticamente e levantar
questionamentos sobre as práticas pedagógicas no contexto de atuação.
Por estar sempre em busca de desafios na sua (auto)formação profissional
e intelectual, o professor descobre que não precisa temer os conflitos e as
transformações advindos de uma postura dialética no exercício do seu ofício
pois, assim como é na vida real das pessoas, não há receita de sucesso
sempre, não há imunidade contra lutas e conflitos; é experimentando e
passando por tantos que ele constrói, desconstrói, reconstrói, não apenas
uma vez, mas quantas vezes for necessário, o conhecimento e o
amadurecimento do seu papel como mediador, formador de uma práxis
social mais justa e mais solidária com seus alunos, colegas e quem mais
estiver ao seu redor. (ALMEIDA, 2005)
Por fim, para exercer devidamente o nosso papel de professores, devemos levar em
consideração algumas atitudes, que embora simples, muitas vezes passam despercebidas.
Segundo Moran (2007), para sermos bons profissionais hoje, precisamos crescer
profissionalmente, sempre atentos as mudanças e abertos à atualizações. Além disso,
também é importante participar de atividades e projetos da escola e orientar a prática de
acordo com as características e realidade dos alunos e sua comunidade. Também devemos
escolher didáticas que promovam a aprendizagem de todos os alunos, evitando qualquer
tipo de exclusão e respeitando as particularidades de cada aluno; e por fim, utilizar
diferentes estratégias de avaliação de aprendizagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, independente da época, dos ideais, dos avanços e das mudanças, o papel
fundamental do professor é o de ensinar. Primeiramente, para acompanhar toda a evolução
que a sociedade vem sofrendo, é necessário buscar o conhecimento por si só, ter o
interesse em se tornar um professor melhor e admitir que é impossível deter todo o
conhecimento, pois este está em eterna construção. Além disso, também é importante
aproximar-se dos alunos, compartilhar os seus interesses e sua realidade, interagir e trocar
idéias objetivando construir um significado para aprendizagem. Ainda, é preciso procurar
entender as novas tecnologias, para que servem, por que estão disponíveis, como podem
contribuir para o ensino. Essas visam apenas ajudar o professor, fornecendo novas
ferramentas e novos métodos que se adaptam a novos contextos; resistir à estas mudanças
acaba tornando-se uma forma de exclusão. Dessa forma, podemos afirmar que mudanças
são sempre necessárias, pois nos coagem a refletir sobre nossas ações. Logo, o professor
deve exercer o papel de um ser evolutivo, que pensa, reflete, analisa e busca sempre o
aperfeiçoamento a fim de facilitar a aprendizagem e adaptar-se ao meio.
REFERÊNCIAS
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pedagógica crítica e reflexiva. In: XVe Congrès Brésilien des Professeurs de
Français. Belo Horizonte, 9-13 de outubro, 2005. Disponível em: <http://www.fbpf.
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2012.
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<http://www.eppgroup.eu/press/peve08/docs/081113rogerbeard-lecture-en.pdf>.
Acesso em 23 maio 2012.
FINCH, A. E. The postmodern language teacher: The future of task-based teaching.
Março, 2006. Disponível em: <http://www.finchpark.com/arts/Postmodern_Language
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<http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/0260747930190411#preview>. Acesso
em: 23 maio 2012.
MORAN, J. M. Educar o educador. MORAN, J. M., MASETTO, M. e BEHRENS, M.
Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 16ª ed. Campinas: Papirus, 2009, p.1217.
MORAN, J. M. Novos desafios para o educador. In: A educação que desejamos:
Novos desafios e como chegar lá. P. Campinas: Papirus, 2007
PRENSKY, Marc. Digital natives, digital immigrants. Disponível em: <http://www.
albertomattiacci.it/docs/did/Digital_Natives_Digital_Immigrants.pdf>. Acesso em: 11
dez. 2011.
REVISTA VEJA EDUCAÇÃO. O papel do professor: guiar o aprendizado. Disponível
em: <http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/papel-professor-manter-se-antenado>.
Acesso em 11 dez. 2011.
SACCOL, Amarolinda; SCHLEMMER, Eliane; BARBOSA, Jorge. M-learning e ulearning: novas perspectivas da aprendizagem móvel e ubíqua. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2011.
TAYLOR, Mark. Postmodern pedagogy: teaching and learning with generation neXt.
2005. Disponível em: <http://www.mcli.dist.maricopa.edu/forum/spr05/mcliForumV9
Sp05.pdf>. Acesso em: 22 maio 2012.
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