“RECUPERAÇÃO DE ZINCO, CÁDMIO E COBRE DE LICORES SULFÚRICOS PROVENIENTES DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS DA METALURGIA EXTRATIVA DO ZINCO” Ligiane Rios Gouvea Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Ciência e Tecnologia das Radiações, Minerais e Materiais 2008 Comissão Nacional de Energia Nuclear CENTRO DE DESENVOLVIMENTO DA TECNOLOGIA NUCLEAR Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia das Radiações, Minerais e Materiais “RECUPERAÇÃO DE ZINCO, CÁDMIO E COBRE DE LICORES SULFÚRICOS PROVENIENTES DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS DA METALURGIA EXTRATIVA DO ZINCO” Ligiane Rios Gouvea Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia das Radiações, Minerais e Materiais, como requisito parcial à obtenção do Grau de Mestre Área de concentração: Ciência e Tecnologia dos Minerais Orientador: Dr. Carlos Antônio de Morais Belo Horizonte 2008 COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR CENTRO DE DESENVOLVIMENTO DA TECNOLOGIA NUCLEAR Curso de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia das Radiações, Minerais e Materiais Ligiane Rios Gouvea “RECUPERAÇÃO DE ZINCO, CÁDMIO E COBRE DE LICORES SULFÚRICOS PROVENIENTES DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS DA METALURGIA EXTRATIVA DO ZINCO” Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia das Radiações, Minerais e Materiais do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear Área de concentração: Ciência e Tecnologia dos Minerais Orientador: Dr. Carlos Antônio de Morais Belo Horizonte 2008 I “A Deus, aos meus pais, a Ane Laura e ao grande amor da minha vida: Thiago.” II AGRADECIMENTOS À Deus O principal responsável por este trabalho. Ao meu orientador Prof. Dr. Carlos Antônio de Morais, Pela experiência, apoio e dedicação no desenvolvimento de todas as etapas desta jornada. Aos professores da pós-graduação Pelo conhecimento transmitido, em especial a Ana Cláudia Queiroz Ladeira e Vanusa Maria Feliciano Jacomino. À FAPEMIG Pela concessão da bolsa de pesquisa. À CNEN e ao CDTN Por permitir o uso das instalações para a realização deste trabalho. À Companhia Paraibuna de Metais – CPM Pelo fornecimento das amostras necessárias à realização deste trabalho. III As secretárias Aparecida (Cida), Andréa e Roseli. Pela convivência amiga e pelas conversas calorosas. Aos Funcionários do CDTN Pela colaboração no desenvolvimento de todas as etapas deste trabalho. Em especial: Eugênio Miranda, grande colaborador nos testes de laboratório. Marcos Antônio, responsável pela montagem e operação dos testes contínuos. Luis Carlos, responsável pelo laboratório de análise química. Elizabeth Kerpe e Ester Figueiredo, pelo apoio na correção deste texto. Liliane Pacheco Tavares, por todas as análises realizadas com competência e dedicação e pela convivência amiga. A todos os colegas da pós-graduação Pois juntos trilhamos uma etapa importante de nossas vidas. Aos meus pais e irmã Pela confiança e apoio. Ao Thiago Pela motivação, força e paciência. Aos amigos e colegas Pela vibração em relação a esta jornada. IV RECUPERAÇÃO DE ZINCO, CÁDMIO E COBRE DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS GERADOS NA METALURGIA EXTRATIVA DO ZINCO. Ligiane Rios Gouvea RESUMO Este trabalho apresenta o desenvolvimento de técnicas hidrometalúrgicos para o tratamento de licores gerados a partir de resíduos industriais da metalurgia extrativa do zinco. Um dos licores (ZnCu) contém teores significativos de zinco e cobre (29,6 g/L Zn e 37,4 g/L Cu) e o outro licor (ZnCd) contém elevados teores de zinco e cádmio (141 g/L Zn e 53,4 g/L Cd). A recuperação dos metais Zn e Cd, a partir da amostra ZnCd, foi realizada pela técnica de cementação. As variáveis de processo investigadas foram: temperatura, pH inicial do licor, tempo de reação e o excesso de pó de zinco metálico. Após a definição das melhores condições, foi obtida uma solução de sulfato de zinco com teor de 150 g/L de Zn e 0,005 g/L de Cd, passível de alimentar a etapa de eletrólise para a obtenção do zinco metálico. O cádmio metálico obtido apresentou pureza superior a 90% com uma recuperação de 99,9%. No estudo com a amostra ZnCu utilizou-se a técnica de extração por solventes (extração líquido-líquido). Foram realizados experimentos descontínuos e contínuos. Nos experimentos descontínuos, investigou-se as seguintes variáveis de processo: tipo e concentração do agente extratante, acidez da fase aquosa, relação volumétrica entre as fases e concentração do agente reextratante (solução de ácido sulfúrico). Os experimentos foram realizados em temperatura ambiente, (25 ± 2oC) e velocidade de agitação de 500 rotações por minuto (rpm). Foram testados seis extratantes trocadores catiônicos. Três da classe dos extratantes ácidos (D2EHPA, IONQUEST®801 e CYANEX®272) e três da classe dos extratantes quelantes (LIX®63, LIX®984N e LIX®612N-LV). Todos os extratantes apresentaram elevados fatores de separação, indicando alta potencialidade de obtenção dos metais zinco e cobre, separadamente, em elevada pureza. Com os extratantes D2EHPA, IONQUEST e CYANEX, os fatores de separação Zn/Cu foram 296, 323 e 361, respectivamente. Com o LIX®612N-LV, obteve-se um fator de separação Cu/Zn 94, enquanto para o LIX®63 e o LIX®984N este fator foi de 62 e 37, respectivamente. Dentre os extratantes testados, foi selecionado o D2EHPA para o estudo das variáveis de processo e realização dos experimentos contínuos. O melhor resultado foi obtido com o D2EHPA V 1 mol/L em pH de equilíbrio próximo de 2, em uma relação de fases A/O igual a 1 e tempo de contato de 10 minutos. Os ensaios de reextração foram realizados com solução de H2SO4. Os resultados mostraram que o cobre co-extraído, juntamente com o zinco, pode ser removido da fase orgânica através de uma etapa de lavagem utilizando solução diluída de ácido sulfúrico e o zinco reextraído com uma solução de H2SO4 mais concentrada (2 mol/L). Depois de selecionadas as melhores condições de processo, foram realizados cinco ensaios contínuos, até se atingir a condição ótima de separação dos metais Zn e Cu. Os experimentos de 1 a 4 foram realizados com uma solução preparada no laboratório, simulando o licor industrial. O experimento contínuo 5 foi realizado com a solução original, gerada na lixiviação do resíduo industrial, contendo 29,6 g/L Zn, 37,4 g/L Cu, 1,94 g/L Cd, 0,127 g/L Co e 0,100 g/L Ni. O experimento foi realizado nas mesmas condições operacionais do experimento 4, onde foi obtido o melhor resultado. O circuito de extração constou de 3 estágios de extração, 3 estágios de lavagem e 5 estágios de reextração. Neste experimento foi obtido um reextrato com 125 g/L Zn, 0,05 g/L Cu e teores de Cd, Co e Ni menores que 0,005 g/L. A concentração dos metais no rafinado foi de 28,6 g/L Cu, 0,49 g/L Zn, 1,48 g/L Cd, 0,080 g/L Ni e 0,098 g/L Co. VI RECORY OF ZINC, CADMIUM AND COPPER FROM INDUSTRIAL RESIDUES IN THE ZINC EXTRACTION MATALLURGY Ligiane Rios Gouvea Abstract This paper presents a development of hydrometallurgic techniques for the treatment of liquors obtained from industrial residues generated in the zinc extractive metallurgy. One of the liquors (ZnCu) contains significant amounts of zinc and copper (29.6 g/L zn and 37.4 g/L Cu) and the other (ZnCd) containing high levels of zinc and cadmium (141 g/L Zn and 53.4 g/L Cd). The recovery of the Zn and Cd metals from the ZnCd sample was carried out using the cementation technique. The process variables investigated were: temperature, initial pH of the liquor, reaction time and the metallic zinc powder excess. After establishing the best conditions, a zinc sulphate solution containing 150 g/L of Zn and 0.005 g/L of Cd was obtained. This solution is capable of feeding the electrolysis stage in order to obtain metallic zinc. The level of purity of the metallic cadmium obtained by the cementation technique was higher than 90%, and the recovery rate was 99.9%. The separation of zinc and copper from the ZnCu sample was carried out using the solvent extraction technique. Non-continuous and continuous experiments were done. In the non-continuous experiment, the following process variables were investigated: type and concentration of the extractants, acidity of the aqueous phase, volume relation between the phases and the stripping agent concentration (sulphur acid solution). The experiments were carried out in a room temperature (25 ± 2oC), and with an agitation of 500 rpm. Six cationic extractants were investigated - three acid extractants (D2EHPA, IONQUEST®801 and CYANEX®272) as well as three chelating extractants (LIX®63, LIX®984N and LIX®612N-LV). All extractants presented a high separation factor and could be used in the separation process. The Zn/Cu separation factor obtained with D2EHPA, IONQUEST and CYANEX was 296, 323 and 361 respectively. The Cu/Zn separation factor obtained with LIX®612N-LV was 94, whereas the one obtained for LIX®63 and LIX®984N was 62 and 37 respectively. Amongst the extractants tested, the D2EHPA was the one selected for the study of the variables of this process. The best result was attained with the D2EHPA 1 mol/L at an equilibrium pH near 2, and contact VII time of 10 minutes. The metal stripping was carried out with H2SO4. The results showed that the co-extracted copper may be scrubbed from the organic phase through a diluted sulphuric acid solution, and the zinc can be stripped with a more concentrated H2SO4 solution (2mol/L). Fifth continuous experiments were realized until an optimal condition for the separation of the metals Zn and Cu was achieved. The experiments from 1 to 4 were carried out with a solution prepared in a laboratory simulating the industrial liquor. Experiment 5, was carried out with the industrial liquor, in the same conditions of the experiment 4, which presented the best results. It was carried out in three extraction stages, three scrubbing stages and 5 stripping stages. In this experiment, a pregnant strip solution containing 125 g/L Zn, and 0.050 g/L Cu, with less than 0.005 g/L Cd, Co and Ni, from a solution containing 29.6 g/L Zn, 37.4 g/L Cu, 1.94 g/L Cd, 0.127 g/L Co and 0.100 g/L Ni was obtained. The concentration of the metals in the raffinate was 28.6 g/L Cu, 0.49 g/L Zn, 1.48 g/L Cd, 0.080 g/L Ni and 0.098 g/L Co. VIII LISTA DE FIGURAS FIGURA 3.1. Diagrama da produção de Zn metálico por via úmida............................................11 FIGURA 3.2. Tanques de rotação (Alemanha).............................................................................15 FIGURA 3.3. Processo de cementação em bateias (Anaconda)....................................................16 FIGURA 3.4. Reatores de precipitação (Kennecott).....................................................................17 FIGURA 3.5. Cementação do Cd..................................................................................................17 FIGURA 3.6. Esquema do processo de extração por solvente......................................................20 FIGURA 3.7. Diagrama de McCabe-Thiele para a extração.........................................................27 FIGURA 3.8 Extração por solvente em células de misturador-decantador em um sistema contracorrente.................................................................................................................................28 FIGURA 3.9 Estrutura do D2EHPA.............................................................................................29 FIGURA 3.10 Estrutura molecular do dímero-D2EHPA..............................................................30 FIGURA 3.11 Extração de alguns metais com D2EHPA em soluções sulfatadas........................31 FIGURA 3.12 Estrutura do IONQUEST.......................................................................................33 FIGURA 3.13 Estrutura do CYANEX 272...................................................................................34 FIGURA 3.14 Extração de alguns metais com CYANEX 272 em soluções sulfatadas...............35 FIGURA 3.15 Estrutura do LIX 63...............................................................................................36 FIGURA 3.16 Extração de alguns metais com LIX 63.................................................................37 FIGURA 3.17 Formas isoméricas do LIX 63................................................................................38 FIGURA 4.1. Esquema utilizado em laboratório para a cementação do Cd.................................41 IX FIGURA 4.2. Esquema utilizado em laboratório para a extração por solvente do Zn. ................43 FIGURA 4.3. Bateria de células misturador/ decantador usadas nos testes contínuos.................44 FIGURA 4.4. Circuito usado nos ensaios contínuos.....................................................................46 FIGURA 5.1. Influência da temperatura na cementação do Cd....................................................51 FIGURA 5.2. Influência do pH inicial do licor na cementação do Cd..........................................52 FIGURA 5.3. Influência do excesso de zinco em pó na cementação do Cd.................................54 FIGURA 6.1. Influência do pH de equilíbrio na extração de Zn e Cu..........................................59 FIGURA 6.2. Influência da concentração do D2EHPA na extração de Zn e Cu..........................60 FIGURA 6.3. Influência da relação de fases do Aquoso/ D2EHPA na extração de Zn e Cu.......61 FIGURA 6.4. Isoterma de extração do zinco; E = estágios teóricos de extração..........................62 FIGURA 6.5. Influência da concentração de H2SO4 na reextração de Zn e Cu............................63 FIGURA 6.6. Isoterma de reextração do zinco; E = estágios teóricos de extração.......................65 FIGURA 7.1. Instalação micro-piloto para a realização dos experimentos contínuos..................66 FIGURA 7.2. Esquema do circuito do ensaio contínuo 1.............................................................69 FIGURA 7.3. Perfil de extração e reextração de zinco no ensaio contínuo 1...............................70 FIGURA 7.4. Perfil de extração e reextração de cobre no ensaio contínuo 1...............................70 FIGURA 7.5. Esquema do circuito do ensaio contínuo 2.............................................................72 FIGURA 7.6. Perfil de extração e reextração de zinco no ensaio contínuo 2...............................74 FIGURA 7.7. Perfil de extração e reextração de cobre no ensaio contínuo 2...............................74 FIGURA 7.8. Perfil de extração e reextração de zinco no ensaio contínuo 3...............................77 X FIGURA 7.9. Perfil de extração e reextração de cobre no ensaio contínuo 3...............................77 FIGURA 7.10. Perfil de extração e reextração de zinco no ensaio contínuo 4.............................80 FIGURA 7.11. Perfil de extração e reextração de cobre no ensaio contínuo 4.............................80 FIGURA 7.12. Perfil de extração e reextração de zinco no ensaio contínuo 5.............................82 FIGURA 7.13. Perfil de extração e reextração de cobre no ensaio contínuo 5.............................83 FIGURA 7.14. Extração por solvente multi-estágio em contracorrente no EC1..........................85 FIGURA 7.15. Extração por solvente multi-estágio em contracorrente no EC2..........................88 XI LISTA DE TABELAS TABELA 3.1. Composição química típica de uma solução purificada.........................................12 TABELA 3.2. Extratantes utilizados na Extração por Solventes..................................................23 TABELA 5.1. Caracterização química dos principais constituintes da amostra ZnCd.................50 TABELA 5.2. Caracterização química dos principais constituintes da amostra ZnCd diluída.....51 TABELA 5.3. Influência do tempo na cementação do cádmio.....................................................53 TABELA 5.4. Variação do potencial (Eh) em função do tempo ..................................................55 TABELA 6.1. Caracterização química dos principais constituintes da amostra ZnCu. ...............57 TABELA 6.2. Influência do agente extratante na extração de zinco e cobre. ..............................58 TABELA 6.3. Caracterização química dos principais constituintes do orgânico carregado.........63 TABELA 7.1. Caracterização química dos constituintes da fase de alimentação.........................67 TABELA 7.2. Condições operacionais do experimento contínuo 1 (EC1)...................................69 TABELA 7.3. Resultados obtidos após 30 horas de operação no experimento contínuo 1..........71 TABELA 7.4. Condições operacionais do experimento contínuo 2 (EC2)...................................73 TABELA 7.5. Resultados obtidos após 32 horas de operação no experimento contínuo 2......... 75 TABELA 7.6. Condições operacionais do experimento contínuo 3 (EC3). .................................76 TABELA 7.7. Resultados obtidos após 19 horas de operação no experimento contínuo 3..........78 TABELA 7.8. Condições operacionais do experimento contínuo 4 (EC4)...................................79 TABELA 7.9. Resultados obtidos após 13 horas de operação no experimento contínuo 4......... 81 TABELA 7.10. Resultados obtidos após 13 horas de operação no experimento contínuo 5........84 XII TABELA 7.11. Comparação dos resultados obtidos no experimento contínuo 1.........................88 TABELA 7.12. Comparação dos resultados obtidos no experimento contínuo 2.........................91 TABELA 7.13. Comparação dos resultados obtidos no experimento contínuo 3.........................94 TABELA 7.14. Comparação dos resultados obtidos no experimento contínuo 4.........................96 TABELA 7.15. Comparação dos resultados obtidos no experimento contínuo 5.........................99 XIII SUMÁRIO DEDICATÓRIA ...........................................................................................................................I AGRADECIMENTOS ................................................................................................................. II RESUMO ................................................................................................................................ IV ABSTRACT ............................................................................................................................. VI LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................. VIII LISTA DE TABELAS ................................................................................................................ XI SUMÁRIO ............................................................................................................................. XII 1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 1 2. OBJETIVO E RELEVÂNCIA .......................................................................................... 5 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................... 6 3.1. Zinco .......... ............................................................................................................ 6 3.2. Cádmio e Cobre... ................................................................................................... 8 3.3. Produção de Zinco... ............................................................................................. 10 3.4. Processos de Separação e Purificação... ............................................................... 13 3.4.1. Cementação ......................................................................................................... 14 3.4.1.1. Cementação do Cádmio ........................................................................... 17 3.4.2. Extração Líquido - Líquido................................................................................. 18 3.4.2.1. Extração metálica por Extração Líquido - Líquido ................................. 20 3.4.2.2. Parâmetros para o controle do processso................................................. 24 3.5. Extração de Zinco utilizando a Técnica de Extração por Solvente ... .................. 28 3.5.1. Sistema Zn- D2EHPA ......................................................................................... 29 3.5.2. Sistema Zn- IONQUEST .................................................................................... 33 3.5.3. Sistema Zn- CYANEX 272 ................................................................................ 34 3.5.4. Sistema Zn- LIX ................................................................................................. 36 TRABALHO EXPERIMENTAL .................................................................................... 40 4. 4.1. Metodologia ........ ................................................................................................. 40 4.1.1. Cementação ......................................................................................................... 40 4.1.2. Extração po Solvente .......................................................................................... 42 4.2. Soluções e reagentes... .......................................................................................... 46 4.2.1. Cementação ......................................................................................................... 46 XIV 4.2.2. Extração po Solvente .......................................................................................... 47 4.3. Materiais e Equipamentos .................................................................................... 47 4.3.1. Cementação ......................................................................................................... 47 4.3.2. Extração po Solvente .......................................................................................... 48 4.4. 5. Métodos Analíticos... ............................................................................................ 48 ENSAIOS DE CEMENTAÇÃO ..................................................................................... 50 5.1. Cementação ........ ................................................................................................. 50 5.1.1. Efeito da Temperatura......................................................................................... 51 5.1.2. Efeito do pH ........................................................................................................ 52 5.1.3. Efeito do Tempo ................................................................................................. 53 5.1.4. Efeito do Excesso de Pó de Zinco Metálico ....................................................... 53 ENSAIOS DESCONTÍNUOS DE EXTRAÇÃO POR SOLVENTE ....................................... 56 6. 6.1. Extração Líquido - Líquido ........ ......................................................................... 56 6.1.1. Ensaios de Extração ............................................................................................ 56 6.1.1.1. Definição do Agente Extratante .............................................................. 57 6.1.1.2. Variação do pH de equilíbrio................................................................... 58 6.1.1.3. Variação da concentração do extratante .................................................. 60 6.1.1.4. Variação da relação de fases .................................................................... 61 6.1.1.5. Curva de Equilíbrio ................................................................................. 61 6.1.2. Ensaios de Reextração ........................................................................................ 63 6.1.2.1. Variação da concentração do extratante .................................................. 63 6.1.2.2. Curva de Equilíbrio ................................................................................. 64 7. ENSAIOS CONTÍNUOS DE EXTRAÇÃO POR SOLVENTE ............................................. 66 7.1. Experimento Contínuo 1....................................................................................... 68 7.2. Experimento Contínuo 2....................................................................................... 71 7.3. Experimento Contínuo 3....................................................................................... 75 7.4. Experimento Contínuo 4....................................................................................... 78 7.5. Experimento Contínuo 5....................................................................................... 81 7.6. Balanço de Massas........ ....................................................................................... 84 7.6.1. Experimento Contínuo 1 ..................................................................................... 84 7.6.2. Experimento Contínuo 2 ..................................................................................... 88 7.6.3. Experimento Contínuo 3 ..................................................................................... 92 7.6.4. Experimento Contínuo 4 ..................................................................................... 94 7.6.5. Experimento Contínuo 5 ..................................................................................... 96 XV 8. CONCLUSÕES ........................................................................................................ 100 9. SUGESTÕES PARA OS TRABALHOS FUTUROS ......................................................... 102 10. PUBLICAÇÕES RELACIONADAS AO PRESENTE TRABALHO ..................................... 103 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................104 INTRODUÇÃO 1 CAPÍTULO 1 1. INTRODUÇÃO A Metalurgia Extrativa é responsável pela obtenção do metal puro a partir dos seus minérios e é dividida em três eixos: a Hidrometalurgia, a Pirometalurgia e a Eletrometalurgia. A Hidrometalurgia é definida como um conjunto de processos realizados em soluções aquosas com o objetivo de extrair metais a partir de minérios, concentrados minerais e resíduos industriais. O processo hidrometalúrgico é eficiente, ambientalmente satisfatório e pode ser usado até para tratar resíduos com baixos teores e em pequena escala (HABASHI, 1993; JHA, KUMAR e SINGH, 2001). A primeira etapa do processo é o beneficiamento físico do minério. Esta etapa pode envolver tratamentos físicos como britagem, moagem, classificação, separação gravimétrica, flotação e outros, além de processos pirometalúrgicos como ustulação (ZnS → ZnO ) e préredução. Estes processos visam dar forma física, granulométrica e composição química adequada a processos de extração posteriores. A segunda etapa do processo é a lixiviação (dissolução) do minério, realizada em meio aquoso contendo ácidos, bases ou agentes complexantes e em condições variadas de pressão e temperatura. A terceira etapa é o tratamento do licor através de técnicas como precipitação, troca iônica, adsorção e extração por solvente. Finalmente, os íons metálicos são reduzidos e recuperados na forma de metal puro, por meio dos processos de eletrólise, redução por hidrogênio e cementação (CIMINELLI, 2004). Em geral, os processamentos hidrometalúrgicos geram resíduos que, devido a alta concentração de metais pesados, não podem ser descartados para o meio ambiente. Na indústria de zinco, estes resíduos podem apresentar teores próximos de 22 % de zinco, 14% de cádmio e 5% de cobre. Tais resíduos permanecem acondicionados em barragens, gerando um grande volume de passivo ambiental e de total responsabilidade da indústria. Teores tão elevados fazem destes sítios de disposição valiosas fontes de metais sendo denominadas fontes secundárias. Segundo Habashi (1997), podem ser citados como fontes secundárias de zinco: poeiras da produção de aço (20 a 30% Zn), licor residual proveniente da eletrólise (25 a 30% Zn), escórias geradas na fundição do chumbo (10 a 15% Zn), resíduos da produção térmica de zinco (8 a 12% INTRODUÇÃO 2 Zn), resíduos da planta de galvanização (50 a 80% Zn), catalisadores exauridos (50 a 60% Zn), poeiras da produção de latão (60 a 75% Zn). O zinco está presente nas fontes secundárias na forma de metal, óxidos e/ou ligas. O reaproveitamento destas fontes, contendo altos teores de zinco, cobre, cádmio, cobalto, entre outros, tem sido conduzido através de técnicas de lixiviação com ácidos, oxidantes, cianeto e amônia. Posteriormente, os metais são recuperados através das técnicas de extração por solventes, cementação e/ou precipitação. Estas técnicas podem, além de minimizar o impacto ambiental, trazer um retorno econômico para as indústrias, já que existe uma crescente demanda por metais de elevada pureza e uma contínua redução de minérios com elevados teores dos minerais de interesse (JHA, KUMAR e SINGH, 2001; OWUSU, 1998). A única produtora de zinco metálico do país é a Votarantim Metais Zinco S/A (VM), empresa de capital nacional integrante do Grupo Votarantim, cujas unidades industriais estão localizadas no Estado de Minas Gerais. Há dois empreendimentos mineiros, em Vazante e Paracatu, e duas usinas metalúrgicas, em Três Marias e Juiz de Fora. A produção do metal começou em 1956 com a criação da Companhia Mineira de Metais (CMM), em Três Marias, Minas Gerais. Em 2002, o grupo ampliou sua atuação com a aquisição da Companhia Paraibuna de Metais (CPM), instalada em Juiz de Fora. Em 2006, a produção da VM foi de 402,5 mil toneladas de zinco (BRASIL - DNPM-MG, 2001). O processo de produção de zinco na VM começa com a extração do minério, que é realizada tanto a céu aberto como em mina subterrânea. O minério extraído é britado para reduzir a granulometria e, posteriormente, é submetido a um processo denominado flotação. Neste processo, são adicionados reagentes e ar para se concentrar o zinco. Em seguida, há um processo de separação sólido/ líquido (espessamento) da solução formada na etapa anterior. Nesta etapa é formado o concentrado sulfetado de zinco. O concentrado é calcinado (queimado a 950°C) para a obtenção do óxido, que é lixiviado com ácido sulfúrico. A lixívia obtida é purificada para a separação dos diferentes componentes, principalmente o sulfato de zinco. Esta etapa é realizada pela técnica de cementação, mediante adição de zinco metálico em pó. Após a cementação, o cádmio é recuperado em forma de esponja e a partir da solução purificada de zinco, a solução de INTRODUÇÃO 3 sulfato é submetida a um processo de eletrólise para a formação das placas de zinco. O zinco obtido é fundido e transformado em lingotes para sua comercialização. Para a realização deste trabalho, a CPM forneceu duas amostras de resíduos sólidos industriais. Uma delas com alta concentração de Zn e Cd e outra com alta concentração de Zn e Cu, ambas com traços de níquel e cobalto. As amostras são provenientes da purificação do licor, gerado na etapa de lixiviação do minério de zinco. Em estudos anteriores de lixiviação dos resíduos, produziram-se dois licores sulfúricos, com elevados teores dos metais em questão (GOUVEA e MORAIS, 2005; MORAIS et al, 2005). Com o intuito de recuperar o zinco metálico em ambas as amostras, além de diminuir o impacto ambiental, foram selecionadas duas técnicas hidrometalúrgicas. Com o licor rico em Zn e Cd utilizou-se a técnica de cementação. Com o licor rico em Zn e Cu utilizou-se a técnica de extração por solventes. Nos ensaios de cementação do cádmio foram investigados o efeito da temperatura, o pH inicial do licor, o tempo de reação e o excesso de pó de zinco metálico utilizado como agente redutor. Estes experimentos visaram: a recuperação do cádmio metálico com o maior grau de pureza possível e uma solução de sulfato de zinco passível de retornar para a etapa de eletrólise para a obtenção do zinco metálico. Os ensaios descontínuos de extração por solventes, inicialmente, visaram à definição do extratante mais adequado para a separação do zinco e cobre. Foram testados os extratantes D2EHPA, IONQUEST®801, CIANEX®272, LIX®63, LIX®948N e LIX®612N-LV. Dentre este, optou-se por utilizar o D2EHPA como agente extratante. Em seguida, foram investigadas as variáveis de processo, ou seja, concentração do extratante e reextratante, pH de equilíbrio da fase aquosa e relação entre os volumes das fases aquoso/orgânico. Posteriormente, foram construídas as curvas de equilíbrio – diagrama de McCabe-Thiele para determinar a relação volumétrica entre as fases aquosa e orgânica, bem como o número teórico de estágios das etapas de extração e reextração, necessários para a realização dos ensaios contínuos. Para confirmar e otimizar as condições definidas em laboratório, foram realizados 5 experimentos contínuos em circuito micro piloto. O circuito foi montado com baterias de células INTRODUÇÃO 4 misturador/ decantador, construídas em policarbonato, com capacidade de 70 mL no misturador e 260 mL no decantador, com operação em sistema de contra-corrente e constou das etapas de extração, lavagem e reextração. Os experimentos de 1 a 4 foram realizados com uma solução preparada no laboratório, simulando o licor industrial. O experimento contínuo 5 foi realizado com a solução original, gerada na lixiviação do resíduo industrial, utilizando as condições do experimento 4. OBJETIVO E RELEVÂNCIA 5 CAPÍTULO 2 2. OBJETIVO E RELEVÂNCIA O objetivo geral deste trabalho é a recuperação seletiva dos metais zinco, cádmio e cobre, presentes em licores sulfúricos, gerados a partir da lixiviação de resíduos industriais. Estes resíduos são provenientes do processamento hidrometalúrgico do concentrado de minério de zinco (esfarelita). A recuperação dos metais presentes agrega valor a estes resíduos e reduz o impacto ambiental causado por eles. O trabalho tem como objetivo específico o desenvolvimento de dois processos: um de separação dos metais Zn e Cd, utilizando a técnica de cementação, e outro de separação dos metais Zn e Cu, pela técnica de extração por solventes. A destinação de efluentes líquidos e resíduos sólidos, gerados pelas indústrias, e a preservação ambiental está presente em discussões em todo o mundo. Conforme estimativa da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento, Recuperação e Disposição de Resíduos Especiais (ABETRE), dos 2,9 milhões de toneladas de resíduos industriais perigosos gerados anualmente no Brasil, somente 600 mil toneladas, cerca de 22%, recebem tratamento adequado. Os 78% restantes são depositados indevidamente em lixões, sem qualquer tipo de tratamento. Tratar efluentes e resíduos sólidos, gerados por indústrias mineradoras e outras, em geral, reduz o volume de passivo ambiental, diminuindo o impacto causado no meio ambiente pelos metais presentes nestes resíduos. Além disso, através de técnicas hidrometalúrgicas adequadas, são possíveis a recuperação e utilização posterior destes metais. Os licores estudados neste trabalho são provenientes da lixiviação de resíduos sólidos da Companhia Paraibuna de Metais – CPM. Estes resíduos são gerados na purificação do licor, proveniente da lixiviação do concentrado de zinco, que alimenta a etapa de eletrólise para a obtenção do zinco metálico. Porém, as técnicas aplicadas podem ser estendidas a outros tipos de licores e efluentes industriais, gerados por mineradoras, indústrias hidrometalúrgicas, químicas e siderúrgicas. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 6 CAPÍTULO 3 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1. Zinco O zinco elementar (Zn) é um metal branco azulado brilhante de forma cristalina hexagonal, massa molecular 65,38 g/mol e número atômico 30. Na natureza são encontrados vários isótopos: 64 Zn (48,89%), 66 Zn (27,81%), 68 Zn (18,57%), 67 Zn (4,11%) e 70 Zn (27,81%), presentes em vários sais de zinco como: acetato de zinco, cloreto de zinco, estearato de zinco, sulfato de zinco, sulfeto de zinco e óxido de zinco. A densidade do zinco, a 25°C, é 7,14 g/cm3 e a dureza, na escala de Mohs, é de 2,5 (AZEVEDO e CHASIN, 2003; BRASIL – DNPM - MG, 2001; BRASIL – DNPM – RJ, 1973). O zinco é estável ao ar seco, porém é recoberto de carbonato básico quando exposto ao ar úmido. Apresenta ponto de fusão de 419,5°C e ebulição de 920°C e ocorre principalmente no estado de oxidação +2. A 100 – 150°C torna-se maleável e a 210°C torna-se quebradiço e pulverizável. É solúvel em ácidos e é um dos metais pesados mais eletropositivo. Com exceção de poucos metais como manganês, ferro e níquel, o Zn pode provocar a redução de outros metais em solução (AZEVEDO e CHASIN, 2003; BRASIL – DNPM - MG, 2001; BRASIL – DNPM – RJ, 1973). O zinco é um nutriente essencial para os organismos vivos. É responsável pelo controle dos sistemas imunológico, digestivo, e nervoso; diminui o risco de hemorragias; ajuda no crescimento; controla diabetes, além de ser um importante constituinte das enzimas. Na agricultura, o zinco é usado como suplemento nutritivo para promover o crescimento das plantas. Embora o elemento não seja considerado tóxico, existem certos sais de zinco cuja ingestão provoca náuseas e diarréia. A inalação de óxido de zinco pode provocar lesões em todo o sistema respiratório (AZEVEDO e CHASIN, 2003; BRASIL – DNPM - MG, 2001). A primeira extração e fundição do zinco impuro ocorreram na China, por volta do ano 1000 d.C. Existem ornamentos de zinco que datam de 2500 anos com cerca de 80 a 90 % de zinco, contendo impurezas de ferro e antimônio. Como produto industrial, só começou a ser REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 7 produzido, em 1740, na Inglaterra (AZEVEDO e CHASIN, 2003; BRASIL – DNPM – RJ, 1973). O zinco metálico é usado na produção de ligas ou na galvanização de estruturas de aço. Utiliza-se a galvanização para dar resistência mecânica às estruturas de edifícios, partes constituintes de automóveis, barcos e eletrodomésticos, chapas, tubos, entre outros materiais. O zinco é também um aditivo de certas borrachas e tintas. Uma das ligas mais importantes de zinco é o bronze, que consiste na mistura deste elemento com o cobre. O zinco pode ainda ser utilizado como eletrodo nas pilhas secas (AZEVEDO e CHASIN, 2003; BRASIL – DNPM - MG, 2001). Os compostos de zinco possuem diversas aplicações industriais, não são explosivos ou inflamáveis. O óxido de zinco (ZnO) é utilizado nas indústrias cerâmicas, de borrachas e tintas. O sulfato de zinco (ZnSO4) tem aplicação na indústria têxtil e no enriquecimento de solos pobres em zinco. O cloreto de zinco é usado para preservar madeiras, como desodorizante em diversos fluidos, em pilhas secas, tintas e herbicidas. Os compostos de zinco são também usados na indústria de medicamentos (AZEVEDO e CHASIN, 2003; BRASIL – DNPM - MG, 2001). O zinco é um dos elementos mais abundantes encontrados na Terra e pode ser encontrado no ar, solo e água. É naturalmente encontrado nos alimentos. Distribui-se como resultado de atividades como mineração; purificação do zinco, chumbo e cádmio; produção do aço; queima de carvão e de lixo. Estes processos podem aumentar a concentração do metal na atmosfera e a indisposição inadequada de resíduos industriais contendo o metal pode contaminar o solo e as águas. Em geral, os minérios de zinco possuem baixos teores de Zn e diferentes impurezas. Portanto, antes de produzir o zinco metálico, o minério passa por diversos tratamentos físicos e químicos para concentrar (AZEVEDO e CHASIN, 2003). Os minerais de zinco encontram-se na crosta terrestre, associado a outros metais como o cobre, o chumbo, a prata e o ferro, sendo que os principais minerais são a blenda ou esfalerita (ZnS), willemita (Zn2SiO4), smithsonita (ZnCO3), calamina ou hemimorfita (2ZnO.SiO2.H2O), wurtzita (Zn,Fe)S, franklinita (Zn,Mn)Fe2O4, hidrozincita [2ZnO3.3Zn(OH)2] e zincita (ZnO). A esfalerita ocorre em depósitos na forma de filões, sendo uma das fontes primárias mais significativas de Zn no Brasil com, aproximadamente, 67% de Zn. Outros minérios importantes são a calamina (54% de Zn) e willemita (59% de Zn) (BRASIL – DNPM - MG, 2001; BRASIL – DNPM – RJ, 1973). REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 8 O zinco é obtido, principalmente, de concentrados sulfetados de zinco mas, também, pode ser obtido de fontes secundárias. A obtenção do zinco metálico por fontes secundárias é possível já que o metal ao ser reciclado não perde suas propriedades físicas e químicas. No entanto, no Brasil, o mercado de metal secundário não é significativo (JHA, KUMAR e SINGH, 2001; BRASIL – DNPM - MG, 2001). 3.2. Cádmio e Cobre O cádmio (Cd) e o cobre (Cu) e são importantes impurezas em licores gerados a partir de minérios de zinco, sendo essencial a remoção de ambos os metais, antes da produção de zinco metálico. O cobre é um metal marrom avermelhado de massa molecular 63,55 g/mol e número atômico 29. Possui quatro estados de oxidação: metálico (Cu0), íon cuproso (Cu+), íon cúprico (Cu2+) e íon trivalente (Cu3+). Apresenta dois isótopos: 63 Cu (69,17%) e 65 Cu (30,83%). Como propriedades físicas importantes, podem ser citadas a elevada condutividade térmica e elétrica, maleabilidade e resistência à corrosão. O cobre no estado elementar é distribuído na natureza como sulfetos, arsenitos, cloretos e carbonatos (AZEVEDO e CHASIN, 2003; BRASIL – DNPM - DF, 1982). Em ambientes secos, o cobre metálico é estável mas reage lentamente com a umidade do ar, sendo coberto por uma camada verde de carbonato hidratado. No meio ambiente, o cobre monovalente ou está complexado ou é rapidamente oxidado por qualquer agente oxidante. Poucos compostos cuprosos são estáveis em água, porém são extremamente insolúveis. Por isso, no meio ambiente aquático, o estado de oxidação bivalente é o normalmente encontrado. Os compostos cúpricos e complexos de cobre são, geralmente, solúveis em água com coloração azul ou verde. O cobre trivalente é um forte oxidante e ocorre em poucos compostos (AZEVEDO e CHASIN, 2003; BRASIL – DNPM - DF, 1982). O cobre é necessário para um bom crescimento das plantas e animais, sendo essencial na atividade de algumas enzimas e proteínas. Nas enzimas, o cobre é responsável pela catálise de reações de oxidação-redução. No metabolismo animal, a falta de cobre pode provocar anemia, REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 9 diarréia e distúrbios nervosos. Por outro lado, a ingestão excessiva do elemento pode causar vômitos, cãibras, convulsões ou mesmo a morte (AZEVEDO e CHASIN, 2003). Os compostos cuprosos (Cu+) e cúpricos (Cu2+) são diversos e com muitas aplicações. O óxido de cobre é utilizado como catalisador, corante de cerâmicas, em baterias, eletrodos e inseticidas. O cloreto cuproso é usado como desinfetante, na preservação da madeira, desodorante e desulfurizante em destilados de petróleo, em fotografia, na purificação da água e como aditivo alimentar. O cloreto cúprico é usado na tinturaria têxtil, como agente oxidante em corantes e como fungicida. O nitrato cúprico é usado para sensibilizar superfícies à luz e o fluoreto se utiliza como o pacificador em esmaltes, vidros e cerâmicas. O sulfato de cobre é usado em fungicidas, inseticidas e como aditivo dos solos. O metal é utilizado na cunhagem de moedas, fabricação de tubos de canalização, peças decorativas, etc. (AZEVEDO e CHASIN, 2003). O cobre é, raramente, encontrado no estado puro. Normalmente, está associado a outros elementos químicos, formando diversos minerais. Os minerais de cobre podem dividir-se em dois grupos distintos: os primários ou sulfetados e os secundários ou oxidados. Os minerais primários são depositados a grande profundidade e possuem origem ígnea. Os mais importantes são a calcopirita (CuFeS2) com 34,6% de Cu e a calcocita (Cu2S) com 79,9%. Outros exemplos de minerais sulfetados são a bornita (Cu5FeS4) com 63,3% e a enargita (Cu3As5S4) com 48,3%. O segundo grupo é composto por minerais secundários resultantes da oxidação de sulfetos de cobre, tais como a cuprita (Cu2O) com 88,8% de Cu, a malaquita (CuCO3.Cu(OH)2) com 57,5% e a azurita (2CuCO3.Cu(OH)2) com 55,3%. Os minerais com maior interesse comercial são a malaquita, a calcocita e a calcopirita (AZEVEDO e CHASIN, 2003; BRASIL – DNPM - DF, 1982). O cádmio é um metal branco acinzentado de massa molecular 112,41 e número atômico 48. Pode se apresentar na cor prata esbranquiçada, azulada ou metálica. É dúctil e mole à temperatura ambiente. É um elemento raro e não é encontrado na natureza em estado puro. A sua abundância na crosta é estimada em torno de 0,1 a 0,2 partes por milhão. Possui oito isótopos estáveis: 113 106 Cd (1,21%), 108 Cd (0,88%), 110 Cd (12,39%), 111 Cd (12,75%), 112 Cd (24,07%), Cd(12,26%), 114Cd (28,86%), 116Cd (7,58%) e dois radioisótopos: 109Cd e 115Cd (AZEVEDO e CHASIN, 2003). O cádmio apresenta propriedades físico-químicas semelhantes ao zinco, porém é menos reativo – não reage com o oxigênio do ar, mas forma o óxido quando aquecido. Esse metal não REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 10 reage com bases, porém reage com ácido clorídrico e sulfúrico a quente, sendo que apresenta grande mobilidade na água (AZEVEDO e CHASIN, 2003). A principal aplicação do cádmio consiste na eletrodeposição de uma película protetora em torno de diversos objetos, aumentando a sua resistência à corrosão atmosférica. É também utilizado na fabricação de pilhas e baterias de níquel-cádmio, com uma vida útil superior às tradicionais. As principais ligas de cádmio são feitas com prata, cobre e zinco. Estas ligas são usadas em trabalhos de solda, em condutores elétricos e em joalharia (AZEVEDO e CHASIN, 2003). Não existem minérios que contenham cádmio em quantidades comerciais, obtendo-se sempre como produto secundário da extração de zinco. A ocorrência dos dois metais juntos na natureza deve-se ao fato de ambos possuírem propriedades físico-químicas semelhantes. Devido ao exposto, o cádmio segue os níveis de produção do zinco. Quase todos os depósitos de zinco contêm cádmio, apesar de a concentração deste elemento não ultrapassar cerca de 1%. (AZEVEDO e CHASIN, 2003). O cádmio é um metal altamente tóxico, sendo esta característica uma grande preocupação das indústrias que utilizam este elemento ou um minério que o contenha. Em meios industriais ricos em fumos e poeiras de cádmio, a principal via de absorção é a inalação. Uma pequena exposição a elevadas concentrações de óxido de cádmio pode causar graves irritações pulmonares ou mesmo a morte. Devem ser tomados cuidados especiais em ambientes industriais que utilizam este elemento (AZEVEDO e CHASIN, 2003). 3.3. Produção de Zinco A produção do zinco começa com a extração do minério que pode ser realizada a céu aberto ou em minas subterrâneas. Os minérios extraídos são triturados e submetidos a um processo, denominado flotação, para a obtenção do minério concentrado. Normalmente, os minérios com altos teores de ferro são tratados por via seca. O concentrado é calcinado para transformar o sulfeto em óxido (ustulação). O óxido obtido é reduzido, a 1100°C, para produzir Zn metálico (AZEVEDO e CHASIN, 2003). REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 11 Na produção de zinco por via úmida (FIG. 3.1), o minério é calcinado para a obtenção do óxido. Posteriormente, é lixiviado com ácido sulfúrico. O licor gerado, além do zinco, contém outros metais como cádmio, cobre, níquel e cobalto. Para se obter o sulfato de zinco, livre de impurezas, a lixívia obtida passa por uma etapa de purificação. Esta etapa é geralmente realizada pela técnica de cementação, mediante adição de zinco metálico em pó e de sais de tartarato de sódio e antimônio. A TAB. 3.1 contém a composição típica da solução purificada de usinas hidrometalúrgicas de zinco. FIGURA 3.1. Diagrama da produção de Zn metálico por via úmida. Na etapa de cementação, o cádmio é recuperado em forma de esponja e a partir da solução purificada, o zinco metálico é produzido por eletrorefino. O zinco obtido é fundido na REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 12 forma de lingotes, produto pronto para ser comercializado (PINA et al, 2002; AZEVEDO e CHASIN, 2003). TABELA 3.1 Composição química típica de uma solução purificada Elemento Concentração Elemento Concentração Zn 128 - 177 g/L Ni 0,004 - 0,2 mg/L Cu 0,01 - <0,5 mg/L Co <0,01 - 0,3 mg/L Cd 0,01 - <1,0 mg/L Mg 3 -12 mg/L Fe 0,1 - 7,2 mg/L Cl 29 - 420 mg/L Fonte: FEIJÓ, 2005. Os tipos de zinco obtidos na produção do metal se classificam segundo a norma ASTM (American Society for Testing and Materials) em função da sua pureza: • SHG, Special High Grade (99,99%) • HG, High Grade (99,90%) • PWG Prime Western Grade (98%) Como subprodutos, diferentes metais são obtidos, como mercúrio, cádmio, ouro, prata, cobre e chumbo, em função da composição dos minérios. O dióxido de enxofre obtido na calcinação é usado para produzir o ácido sulfúrico utilizado na lixiviação. O excedente pode ser comercializado. O resíduo sólido gerado na etapa de purificação do eletrólito, geralmente contém grandes quantidades de Zn, Cd, Cu, além de outros metais, como Pb, Ni, Co, etc. Esse resíduo é uma fonte secundária de Zn que após lixiviado com ácido sulfúrico, gera um licor que, se purificado, pode retornar ao circuito de lixiviação (JHA, KUMAR e SINGH, 2001). REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 13 3.4. Processos de Separação e Purificação O processo de purificação e separação escolhido para gerar os eletrólitos livres de contaminantes ou para tratar os resíduos industriais deve consumir pouca energia, ser fácil de controlar e remover freqüentemente as espécies metálicas que não interessam e impedem a formação do metal puro. Um método comum, muito utilizado, é a precipitação. A precipitação é um processo de separação que ocorre, em geral, devido à supersaturação de uma solução e pode ser afetada por fenômenos cinéticos. A precipitação pode ser física ou química. (HABASHI, 1993). Na precipitação física, nenhum reagente é adicionado. A concentração e a temperatura são ajustadas para ocorrer a cristalização do soluto. Este tipo de processo é comum para a obtenção de sais puros (EQ. 3.1) (HABASHI, 1993). yMx+ (aq) + xAy- (aq) + nH2O (l) → MyAx.nH2O (s) (3.1) A precipitação química pode ser iônica ou de redução. Neste caso, um reagente é adicionado para precipitar um composto específico. A precipitação iônica baseia-se nas diferenças de solubilidade entre as espécies presentes em solução. Em geral, após a adição de precipitantes e/ou após a modificação de pH, os contaminantes são precipitados sob a forma de sais, óxidos e hidróxidos. Já a precipitação por redução consiste na redução espontânea de um íon metálico em solução. A reação decorrente do processo é denominada reação de oxi-redução. Um exemplo desse processo é a cementação do cádmio e cobre com pó de zinco metálico na purificação de licor de zinco. No entanto, a precipitação muitas vezes não consegue purificar a solução lixiviada que produzirá o zinco metálico, sendo necessárias outras técnicas (HABASHI, 1993; REDDY e PRIYA, 2005). Outro processo de purificação e/ou concentração eficiente é a extração líquido-líquido ou extração por solventes. O processo, em geral, é eficaz na extração seletiva de metais pesados de resíduos industriais e muito utilizado comercialmente (ALAMDARI et al, 2004; REDDY e PRIYA, 2005). REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 14 Neste trabalho, foram avaliadas a precipitação por redução e a extração líquido-líquido. Ambos os processos foram utilizados para a purificação de licores de zinco. A precipitação por redução foi utilizada para a precipitação do cádmio a partir do licor rico em Zn e Cd. A extração líquido-líquido foi utilizada para a separação do Zn/Cu a partir do licor rico em zinco e cobre. 3.4.1. Cementação A técnica de cementação é uma reação de redução heterogênea e espontânea de um íon metálico em solução na presença de um metal mais eletropositivo. Para que a reação ocorra, é necessário que a diferença de potencial seja positiva. Assim, o cádmio e cobre podem ser extraídos da solução com o uso de metal de zinco (EQ. 3.2). A recuperação do Cd é de primordial importância devido, além suas aplicações industriais, de sua alta toxicidade. Já o cobre é um importante contaminante de eletrólitos de zinco (JHA, KUMAR, e SINGH, 2001; HABASHI, 1993; AUROUSSEAU et al, 2004). Zn (s) + M2+(aq) → Zn2+(aq) + M (s) (3.2) onde M (cemento) = Cu, Pb, Cd, Ni e Ag. O processo eletroquímico de cementação é utilizado para a remoção de íons metálicos nobres ou tóxicos de soluções e na purificação de eletrólitos. Posteriormente, a solução purificada obtida pode ser usada para a obtenção do metal puro através de eletrorefino ou por cristalização (JHA, KUMAR e SINGH, 2001; AUROUSSEAU et al, 2004). Vários aspectos devem ser observados durante as reações de precipitação por redução (HABASHI, 1993): • O metal que sofrerá precipitação pode se dissolver devido a reações secundárias, afetando a precipitação; • Após a precipitação do metal de interesse, pode ocorrer a re-dissolução do precipitado; REVISÃO BIBLIOGRÁFICA • 15 O pH da solução deve ser controlado para evitar a precipitação de hidróxidos que podem contaminar o metal precipitado; • Podem ser formados gases tóxicos; • Dependendo das condições, várias impurezas não desejadas podem ser formadas. As reações de cementação em pequena escala são conduzidas em tanques com agitação mecânica ou tanques de rotação (FIG.3.2). O licor é misturado, continuamente, a uma determinada quantidade de pó metálico. Após o término da reação, o produto é filtrado para a recuperação do metal. Este método é usado na recuperação de cádmio de soluções sulfúricas com pó de zinco (HABASHI, 1993). FIGURA 3.2. Tanques de rotação (Alemanha). Fonte: HABASHI, 1993. Em larga escala, reações de cementação são conduzidas, principalmente, em bateias ou reatores para a recuperação de cobre em soluções diluídas, utilizando pó de ferro metálico. O processo é considerado barato e rápido com ambos os equipamentos. No entanto, a recuperação do metal é mais eficiente ao se usar reatores (HABASHI, 1993). Nas bateias (FIG. 3.3), o pó metálico é continuamente adicionado e a alimentação por gravidade flui por todo o tanque. Bombas hidráulicas são usadas para agitar o sistema e para REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 16 bombear a lama com o metal de interesse ao longo da bateia até o tanque de sedimento, onde é coletado o cemento (HABASHI, 1993). FIGURA 3.3. Processo de cementação em bateias (Anaconda). Fonte: HABASHI, 1993. Nos reatores (FIG.3.4), o suporte cônico possui uma série de esguichos de pressão de forma a criar um remoinho quando a alimentação é adicionada. A pressão e a velocidade da solução no cone movem o precipitado para cima e para fora da seção cônica até o tanque de sedimento, onde é coletado o cemento (HABASHI, 1993). REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 17 FIGURA 3.4. Reatores de precipitação (Kennecott). Fonte: HABASHI, 1993. 3.4.1.1. Cementação do Cádmio A cinética da reação da cementação do cádmio é controlada pelo transporte de massa das espécies cimentadas (FIG.3.5). O equilíbrio termodinâmico é atingido, a 25°C, quando a constante de equilíbrio é igual a 1,5x1012 (KARAVASTEVA, 1997; AUROUSSEAU et al, 2004). FIGURA 3.5. Cementação do Cd. Fonte: HABASHI, 1993. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 18 Pina et al (2002) realizaram ensaios de eletrodeposição com o intuito de separar zinco, cobre e cádmio. Em uma primeira etapa, os autores separaram o cobre. O metal, por ser mais eletropositivo, precipita primeiro. Em seguida, o cádmio foi reduzido utilizando pó de zinco. O Cd obtido apresentou 99% de pureza. Na cementação do Cd, os íons Cd2+ são reduzidos e recuperados na forma de Cd metálico, pela adição de zinco metálico em pó de acordo com a EQ. 3.3 (PINA et al, 2002). De acordo com Karavasteva (1997), a presença de cobre em uma solução de ZnSO4 pode melhorar a cementação do Cd. Cd2+(aq) + Zn (s) Cd (s) + Zn2+(aq) ΔE0298K = 0,36V (3.3) Em solução ácida, o controle do pH é extremamente importante na cementação do cádmio, devido a reação secundária de redução do íon H+ pelo Zn metálico, o que contribui para uma menor recuperação do Cd metálico (EQ.3.4). A produção de hidrogênio gasoso é favorecida em pH baixo, provocando um aumento no consumo do agente redutor e uma elevação no pH da solução de sulfato de zinco resultante. 2H+(aq) + Zn (s) H2 (g) + Zn2+(aq) ΔE0298K = 0,76V (3.4) 3.4.2. Extração Líquido - Líquido A extração líquido-líquido ou extração por solventes está se tornando uma técnica hidrometalúrgica indispensável, devido a crescente necessidade de metais com elevada pureza para atender o mercado; as leis ambientais cada vez mais exigentes; a necessidade de custos de fabricação baixos e a redução contínua de minérios com elevados teores metálicos, que resultou no tratamento dos minérios de teores baixos e com uma grande complexidade (OWUSU, 1998). A extração por solvente é um processo de equilíbrio, que pode ser representada pela EQ. 3.5: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ME M+E 19 (3.5) onde: M é a espécie metálica na fase aquosa, E é o extratante orgânico e ME é o complexo formado. Para uma eficiente extração, é necessário que o equilíbrio esteja deslocado para a direita. Posteriormente, a espécie metálica extraída é transferida da fase orgânica para uma fase aquosa. Nesta fase, denominada reextração, o equilíbrio deve estar deslocado para a esquerda (RITCEY e ASHBROOK, 1984). A técnica consiste em contatar uma fase aquosa (licor de alimentação) e uma fase orgânica (solvente extrator), imiscíveis entre si. A contactação ocorre, sob agitação, até que o equilíbrio ou uma condição próxima seja atingido. Sendo assim, para ocorrer uma extração ou reextração eficiente deve-se haver superfície de contato suficiente entre a fase aquosa e orgânica, o que exige uma quantidade razoável de ambas as fases (RITCEY e ASHBROOK, 1984). A extração líquido-líquido constitui-se basicamente de três etapas: extração, lavagem, reextração, sendo que a etapa de lavagem pode ser dispensada. A extração consiste na passagem da espécie a ser recuperada da fase aquosa para a fase orgânica. A fase orgânica saturada (carregada) com o soluto de interesse e a fase aquosa, empobrecida do mesmo, são denominadas extrato e rafinado, respectivamente. O rafinado, após a extração, pode ser descartado ou pode retornar ao licor de alimentação e o extrato segue para a etapa de lavagem. A lavagem é a etapa em que uma solução de lavagem é contatada com o solvente carregado para a remoção de impurezas e espécies indesejadas co-extraídas da fase orgânica, durante a etapa de extração. A fase aquosa resultante é denominada rafinado de lavagem, que pode ser descartada ou retornar ao circuito de extração. Após a lavagem, o extrato lavado passa para a etapa de reextração, na qual a espécie de interesse é transferida da fase orgânica para a fase aquosa. Nesta etapa, o extrato lavado é contatado com uma solução reextratante ou de reextração. A fase aquosa, denominada reextrato, é coletada. A fase orgânica é, finalmente, recuperada para ser reutilizada no processo (FIG.3.6). REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 20 FIGURA 3.6. Esquema do processo de extração por solvente. Fonte: RITCEY e ASHBROOK, 1984. 3.4.2.1. Separação metálica por Extração Líquido-Líquido A separação de metais utilizando extração por solventes envolve uma reação química entre íons metálicos ou espécies neutras, na fase aquosa, e uma espécie reativa na fase orgânica. A fase orgânica (solvente) é constituída por uma mistura de 3 componentes: extratante, diluente e modificador (HABASHI, 1993). Extratante O extratante é o componente ativo do solvente, responsável pela extração do soluto. Possuem massa molecular entre 200 - 450 e são praticamente insolúveis em água (5 – 50 ppm). REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 21 Um extratante adequado deve possui os seguintes requisitos (RITCEY e ASHBROOK, 1984; CERNA, 1995): • Ser seletivo para as espécies a serem extraídas; • Ter alta capacidade de extração; • Permitir facilmente a reextração das espécies extraídas; • Baixa viscosidade e pouca solubilidade em água; • Ser solúvel em diluentes alifáticos e aromáticos; • Fácil coalescência (separação de fases); • Não formar emulsão com a fase aquosa; • Ser quimicamente estável nas condições de processo, ou seja, não sofrer degradação ou poder ser reciclado; • Não ser tóxico ou cancerígeno; • Não ser volátil ou inflamável; • Baixo custo e disponibilidade no mercado. A reação química entre íons metálicos ou espécies neutras, na fase aquosa, com o extratante, na fase orgânica, pode ocorrer na interface líquido-líquido ou em qualquer região de ambas as fases, próximas à interface. A reação depende da interação entre metal e extratante. Normalmente, os extratantes são agrupados com base nesta interação (RITCHEY E ASHBRROK, 1984; THORTON, 1992): • Extratantes catiônicos: atuam segundo o mecanismo de formação de compostos que envolve a troca de cátions entre a molécula do extratante e o metal presente na fase aquosa (troca iônica): - Extratantes ácidos: extraem espécies metálicas carregadas positivamente por uma reação química em que ocorre a substituição de prótons de sua molécula por cátions metálicos presentes na fase aquosa. Neste caso, o extratante forma complexos com a espécie a ser extraída. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 22 - Extratantes quelantes: extratantes com capacidade de se ligar ao metal, formando complexos multidentados com os íons metálicos. • Extratantes de solvatação: promovem a extração pela solvatação do íon doador de elétrons, formando complexos neutros. Neste mecanismo, as moléculas de água de hidratação, que envolvem as espécies metálicas na fase aquosa, são substituídas por compostos polares do extratante (EQ.3.6). Normalmente, os extratantes de solvatação são menos seletivos, extraindo um grande número de complexos neutros e ácidos livres. (3.6) onde: M é a espécie metálica, X é o ânion, MXp(H2O) é o sal hidratado e S é o extratante de solvatação. • Extratantes aniônicos ou básicos, que envolvem a associação de íons: extração em que há a associação do extratante com a espécie a ser extraída por forças atrativas entre espécies de cargas opostas (EQ.3.7). Neste caso, não há troca iônica. (3.7) onde: n é a carga do ânion X, M é a espécie metálica, MY é o complexo metálico e P é a carga do complexo aniônico MY. Há um número muito grande de extratantes disponíveis no mercado (FLETT, 2005). A opção pelo extratante deve considerar os requisitos citados e a eficiência de extração e reextração do metal/ espécie a ser removida. Na TAB. 3.2 são apresentados alguns extratantes, sua utilização comercial e exemplos. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 23 TABELA 3.2 Extratantes utilizados na Extração por Solventes Classes de Extratantes Tipo Exemplos Ácidos Carboxílicos Ácido Naftênico e Ácido Versático Ácidos Fosfóricos M2EHPA, D2EHPA, OPPA Ácidos Fosfônicos PC-88A Extratantes Ácidos Ácido Fosfínicos Ácidos Sulfônicos Hidroxioximas β - dicetonas Extratantes Quelantes Ácidos Hidroxâmicos Aminas Primárias Aminas Secundárias Extratantes de Associação Iônica Aminas Terciárias Aminas Quaternárias Ésteres Fosfóricos, Fosfônicos e Fosfínicos Extratantes de Solvatação Álcoois, Cetonas, Ésteres e Éteres, etc. Fonte: GARDUCCI, 2006. Uso Comercial - Separação Cu/Ni - Extração de Ni - Recuperação de Y - Extração de U - Extração de Terras Raras - Separação Co/Ni - Extração de Zn, etc. - Separação Co/Ni - Extração de Zn e Fe - Separação Co/Ni - Separação de Terras Raras - Extração de Mg - Extração de Cu LIX 63 - Extração de Ni - Extração de Cu de soluções LIX 54 amoniacais - Proposto para o reprocessamento de combustível nuclear LIX 1104 - Extração de Fe Primene JMT, Primane - Nenhum uso comercial 81R conhecido - Extração de U Amberlite LA-1 e LA-2 - Proposto para a extração de VeW - Extração de U Várias Alaminas em - Extração de Co em meio particular a Alamina 336 clorídrico - Extração de W, etc. - Extração de V Aliquat 336 - Separação Ir/Rh - Refino de U3O8 - Reprocessamento de combustível nuclear - Extração de Fe TBP, DBBP, TOPO, Separação Zr/Hf CYANEX 921, Separação Nb/Ta CYANEX 923, Separação de Terras Raras CYANEX 471X - Extração de Au - Separação de Nb/Ta MIBK, etc. - Separação de Zr/Hf CYANEX 272, CYANEX 301 e 302, P229 DNNSA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 24 Diluente O diluente é um líquido orgânico, que dissolve o extratante e o modificador. Para a escolha do diluente deve-se considerar os seguintes requisitos (RITCEY e ASHBROOK, 1984): • Solubilidade do extratante; • Viscosidade; • Ponto de fulgor; • Volatilidade; • Toxicidade; • Baixo custo e disponibilidade no mercado. Modificador O modificador é uma substância que, às vezes, são adicionados ao solvente, para evitar a formação de emulsão (dispersão de difícil separação) e aumentar a solubilidade do extratante. (RITCEY e ASHBROOK, 1984). 3.4.2.2. Parâmetros para o controle do processo Na aplicação da técnica de extração por solventes, alguns parâmetros são utilizados para o controle do processo, como coeficiente de distribuição, porcentagem de extração e fator de separação. Coeficiente de Distribuição ou Coeficiente de Extração (D) O coeficiente de distribuição, DM+, expressa a facilidade de transferência dos íons metálicos para a fase orgânica e pode ser calculada de acordo com a EQ. 3.8: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DM n + = [ M n + ] org [ M n + ] aq 25 (3.8) onde DM é o coeficiente de distribuição do metal extraído entre o orgânico e fase aquosa e [Mn+] é a concentração do metal em uma das fases. O coeficiente de distribuição é um número, não possui unidade e não é uma constante. O valor de D depende do pH, da temperatura, da concentração do extratante e da espécie metálica na fase aquosa, da relação de fases aquoso/ orgânico, etc. Para aplicações industriais, o coeficiente de distribuição não é muito útil porque o valor de DM depende da concentração de íons do metal na solução e, durante o carregamento do extratante, a concentração de íons do metal no solvente orgânico não muda enquanto a concentração da fase aquosa aumenta. Para o cálculo do coeficiente de extração, é necessário que não ocorra variações de volume das fases aquosa e orgânica após o contato, formação de terceira fase ou acúmulo de partículas sólidas na interface que se encontram inicialmente suspensas no licor (“crud”) (OWUSU, 1998; RITCEY e ASHBROOK, 1984). Fator de Separação (SM1/M2) O fator de separação (EQ. 3.9), SM1/M2, expressa a seletividade de um metal em relação a outro (RITCEY e ASHBROOK, 1984). S M1/ M 2 = DM 1 DM 2 (3.9) onde DM1 é o coeficiente de distribuição do metal 1 (em geral, o metal de interesse) e DM2 é o coeficiente de distribuição do metal 2 (contaminante). Na indústria, o fator da separação é uma variável mais útil que o coeficiente de distribuição, pois indica a facilidade relativa de extração seletiva de um determinado metal. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 26 Quanto maior o fator da separação, mais fácil é executar a extração seletiva e menor é o número de estágios teóricos requeridos para conseguir a concentração desejada no solvente carregado (OWUSU, 1998). Porcentagem de Extração (%E) A porcentagem de extração é a quantidade relativa da espécie que é transferida da fase aquosa para a fase orgânica e indica a eficiência de extração do metal de interesse. Pode ser calculada de acordo com a EQ.3.10 (RITCEY e ASHBROOK, 1984): %E = 100× DM 1 V DM 2 + a Vb (3.10) onde Va e Vb são os volumes das fases aquosa e orgânica, respectivamente. DM1 é o coeficiente de distribuição do metal 1 (em geral, o metal de interesse) e DM2 é o coeficiente de distribuição do metal 2 (contaminante). Curvas de Equilíbrio ou Isotermas de Extração e Reextração Os dados experimentais de extração e reextração podem ser representados por dois tipos de gráficos. Em uma das representações, a porcentagem de extração é uma função de uma variável como pH, concentração do extratante ou reextratante, tempo, etc. Outra representação são as isotermas ou curvas de equilíbrio (HABASHI, 1993). As isotermas de extração são representações gráficas das concentrações de equilíbrio de um soluto nas fases aquosa e orgânica sob determinadas condições de extração ou reextração. Para a construção da curva de equilíbrio de extração é necessário carregar o orgânico até sua saturação, ou seja, contactar sucessivamente o orgânico com a fase aquosa até a máxima extração do metal de interesse (esgotamento do aquoso). Para a isoterma de reextração é necessário carregar o aquoso (saturar o aquoso) e esgotar o orgânico. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 27 Diagrama de McCabe-Thiele O diagrama é a representação gráfica das concentrações de equilíbrio de um soluto nas fases aquosa e orgânica sob determinadas condições de extração ou reextração. É construído a partir da curva de equilíbrio. Para tal, adiciona-se uma linha de operação baseado na capacidade de saturação do solvente na extração e do reextrato na reextração (FIG.3.7). Através deste é possível se determinar a relação volumétrica entre as fases aquosa e orgânica (relação entre as fases) e o número de estágios teóricos necessários nos experimentos contínuos em células de misturador-decantador em um sistema contracorrente (FIG.3.8) (HABASHI, 1993). FIGURA 3.7. Diagrama de McCabe-Thiele para a extração. Fonte: HABASHI, 1993. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 28 FIGURA 3.8 Extração por solvente em células de misturador-decantador em um sistema contracorrente. Fonte: HABASHI, 1993. 3.5. Extração de Zinco utilizando a Técnica de Extração por Solvente Extração por solvente é um processo muito utilizado para a purificação de licores contendo zinco. Para a extração deste metal, é muito comum a utilização do D2EHPA como extratante, sendo possível também a utilização de outros reagentes orgânicos como o CYANEX 272, CYANEX 301, CYANEX 302, IONQUEST, entre outros (ALAMDARI et al, 2004). De acordo com JHA e colaboradores (2001), a técnica pode ser empregada para a purificação de licor de sulfato obtido de fontes secundárias, sendo que o zinco é seletivamente extraído do licor (EQ.3.11). Posteriormente, o zinco é reextraído do extrato orgânico carregado por um eletrólito de zinco, regenerando o orgânico (EQ.3.12). 2 (RH) (org) + Zn2+ (aq) (R2Zn) (org) + 2H+ (aq) (3.11) (R2Zn) (org) + 2H+ (aq) 2 (RH) (org) + Zn2+ (aq) (3.12) REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 29 Diaz e Martin recomenda a utilização da extração líquido-líquido com várias fontes secundárias e descreve a extração seletiva de zinco como tecnologicamente possível e satisfatório. 3.5.1. Sistema Zn-D2EHPA O ácido di-2-etilhexil fosfórico, D2EHPA (FIG. 3.9), é um líquido incolor viscoso, imiscível em água, solúvel em éter, álcool, tolueno e hidrocarbonetos. É considerado um bom extratante devido a sua estabilidade química, a sua boa cinética de extração, baixa solubilidade na fase aquosa, além de ser relativamente barato. Foi usado pela primeira vez em 1949 e, desde então, é extensivamente usado na indústria nuclear para a extração de urânio. Industrialmente, é utilizado para extrair urânio, terras raras, zinco, vanádio, berílio, molibdênio e na separação de cobalto e níquel. (MELLAH e BENACHOUR, 2006; MORAIS e MANSUR, 2003). FIGURA 3.9 Estrutura do D2EHPA. Fonte: THORNTON, 1992. O mecanismo de extração do D2EHPA e a natureza da formação dos complexos metálicos dependem da concentração dos cátions metálicos, da natureza do solvente orgânico e da acidez da fase aquosa. No entanto, o principal mecanismo de extração é a troca iônica. Neste caso, o D2EHPA forma complexos com a espécie a ser extraída devido à substituição de prótons da sua molécula com os íons metálicos presentes no meio aquoso (EQ. 3.13 e EQ. 3.14). Devido a baixa solubilidade do extratante na solução aquosa, a reação entre D2EHPA e íons do metal ocorre na interface líquido-líquido (THORNTON, 1992; MORAIS e MANSUR, 2003). REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 30 (3.13) (3.14) onde: Mn+ é o íon metálico, R é o radical orgânico e RH é ácido orgânico. A EQ. 3.13 representa as moléculas do D2EHPA na forma de monômeros, predominantes em diluentes aromáticos, e a EQ.3.14 na forma dimérica, predominantes quando diluído em compostos alifáticos. Os dímeros são formados nas moléculas de D2EHPA devido a ligações de hidrogênio (FIG. 3.10) (MORAIS e MANSUR, 2003). FIGURA 3.10 Estrutura molecular do dímero-D2EHPA. Fonte: Morais e Mansur, 2004. Os diluentes alifáticos (querosene purificado) são mais usados devido a sua menor toxicidade. No entanto, os monômeros formados com estes diluentes são espécies menos ativas interfacialmente com o D2EHPA (MORAIS e MANSUR, 2003). Pode se observar pela EQ. 3.13 e EQ. 3.14, que a condição de equilíbrio do sistema depende diretamente do pH da fase aquosa, ou seja, o equilíbrio é deslocado para a direita, favorecendo a reação de extração, com o aumento do pH (menor concentração de H+). Portanto, aumentar a concentração hidrogênica (menor pH) favorece a reação de extração, deslocando o equilíbrio para a esquerda. No entanto, em um sistema complexo, vários íons metálicos são encontrados e a extração seletiva destes íons depende da faixa de pH utilizada. A FIG. 3.11 mostra a extração de alguns metais, ao contatar o D2EHPA com uma solução sulfatada, em REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 31 função do pH. A ordem de extração dos íons neste sistema é: Fe3+> Zn2+> Cu2+> Co2+> Ni2+> Mn2+> Mg2+> Ca2+. Observa-se que o Zn é extraído entre pH 1 e 2,5, aproximadamente, enquanto o Cu é removido a partir do pH 2 (RITCEY e ASHBROOK, 1984). FIGURA 3.11 Extração de alguns metais com D2EHPA em soluções sulfatadas. Fonte: RITCEY e ASHBROOK, 1984. Encontra-se na literatura muitos trabalhos de extração de Zn utilizando D2EHPA como extratante. A extração da espécie metálica depende de diversos fatores como a composição da amostra, o pH da fase aquosa, a concentração do extratante, a agitação, o tempo, entre outros. Abaixo está apresentada uma descrição breve de alguns experimentos utilizando D2EHPA como extratante para a extração de Zn. Owusu (1998) estudou a extração seletiva de Zn e Cd de uma solução sulfatada contendo 83,2 g/L de Zn, 52,8 g/L de Cd, 2 g/L de Co e 0,10 g/L de Ni usando D2EHPA como extratante para gerar um eletrólito de sulfato de cádmio puro para o eletrorefino. Com o controle do pH da extração, o zinco e o cádmio podem ser extraídos seletivamente em frações individuais, permanecendo o cobalto e níquel no refinado. O autor extraiu seletivamente zinco em pH 2,0 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 32 seguido da extração de cádmio em pH 3,7. O orgânico carregado de Zn foi contactado com solução de ZnSO4 para remover todos os contaminantes co-extraídos de cádmio e cobalto em pH 2 - 2,2. Observou-se que as co-extrações insignificantes de cobalto e cádmio ocorrem em pH < 3. Assim, em pH < 3, o zinco pode ser extraído da solução eletrolítica com pouca contaminação. A fase orgânica rica em Cd foi contatada com solução de CdSO4 para remover qualquer espécie coextraída de cobalto e níquel em pH 3,6-3,7. Em 3 < pH < 4,5, a extração do cádmio é significativa mas a co-extração de cobalto é insignificante. O objetivo original era extrair simultaneamente o zinco e o cádmio e, posteriormente, extrair seletivamente o Cd para gerar a solução de CdSO4. No entanto, a concentração do zinco era muito elevada o que causava um grande consumo do extratante orgânico. A extração simultânea de Zn e Cd de uma solução sulfatada contendo 5 g/L de ambos os metais também foi estudada por Alamdari et al (2004). Os autores utilizaram D2EHPA e MEHPA como extratantes. Foi observado que com o aumento do pH há um aumento na extração de zinco e cádmio com ambos os extratantes. De acordo com os autores, em condições fortemente ácidas, durante o processo de extração, há a decomposição do extratante D2EHPA, diminuindo a eficiência do processo. De acordo com os autores, para ser observado repetibilidade nos testes de extração, as condições experimentais devem ser mantidas, pois a decomposição do extratante causa problemas no processo de extração. Mella e Benachour (2006) estudaram a extração de Zn e Cd de uma solução fosfórica utilizando D2EHPA como extratante, diluído em querosene. Foram investigadas a concentração do extratante, o pH de equilíbrio e a razão de fases aquoso/ orgânico. Os autores observaram que a porcentagem de extração aumenta com o pH de equilíbrio, com a concentração do extratante e com o tempo de contato, atingindo o equilíbrio depois de 25 minutos. Em 30 minutos, foram obtidas 95,38% de extração de Zn e 65,46% de Cd, com uma razão de fases A/O de 1/1 e uma concentração de 0,50 M de D2EHPA em pH 2 à temperatura ambiente. Neste trabalho foi investigada a ordem de importância dos parâmetros para a extração de zinco e cádmio, sendo obtida a seguinte ordem: concentração de D2EHPA > pH do equilíbrio > a relação de fase A/O. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 33 3.5.2. Sistema Zn-IONQUEST O IONQUEST 801 (FIG. 3.12), ácido 2-etilhexilfosfônico mono-2-etilhexil ester, é um líquido incolor, viscoso e imiscível em água. Assim como o D2EHPA, o IONQUEST é um composto organofosforado com ligações fósforo-oxigênio (P=O). A extração metálica ocorre devido à substituição de prótons da sua molécula com os íons metálicos presentes no meio (mecanismo de troca iônica). No entanto, o IONQUEST é um extratante menos ácido que o D2EHPA e, por isso, extrai menos a espécie metálica nas mesmas condições operacionais. Tal fato ocorre porque o D2EHPA possui dois átomos de oxigênio presentes nos radicais R da molécula do D2EHPA (FIG.3.9), enquanto o IONQUEST possui apenas um (FIG.3.12). Assim, os oxigênios presentes no D2EHPA atraem os elétrons com uma maior força, o que facilita a dissociação do íon hidrogênico. FIGURA 3.12 Estrutura do IONQUEST. De acordo com Silva e colaboradores (2005) é possível a extração de Zn, em pH 4, utilizando IONQUEST como extratante. No entanto, o D2EHPA apresenta maior eficiência para extração do metal. Apesar da possibilidade de extrair Zn com IONQUEST, o extratante é, principalmente, usado na separação de cobalto e níquel, terras raras e extração de chumbo (SOLE et al, 2005; NOGUEIRA e DELMAS, 2005; DRAA e BENAMOR, 2004, FLETT, 2005). REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 34 3.5.3. Sistema Zn-CYANEX 272 O CYANEX 272 (FIG.3.13), ácido bis-2,4,4-trimetilpentil-fosfínico, é um líquido incolor viscoso e imiscível em água. Tem sido utilizado para a extração de muitos metais e pode ser utilizado com soluções sulfúricas ou clorídricas. Industrialmente, é utilizado para extrair zinco e ferro, separação de cobalto/ níquel e separação de terras raras (ALI, AHMAD e DAOUD, 2006; RITCEY e ASHBROOK, 1984). FIGURA 3.13 Estrutura do CYANEX 272. Fonte: HABASHI, 1993. Assim como o D2EHPA e o IONQUEST, o CYANEX 272 é um composto organofosforado ácido. No entanto, o CYANEX 272 é um extratante menos ácido que os dois e, por isso, extrai menos a espécie metálica nas mesmas condições operacionais. Tal fato ocorre devido aos dois átomos de oxigênio presentes nos radicais R da molécula do D2EHPA (FIG.3.9), que o CYANEX 272 não possui (FIG.3.12). Estes oxigênios exercem uma forte atração nos elétrons, devido a sua alta eletronegatividade, o que facilita a dissociação do íon hidrogênico. A FIG. 3.14 mostra a extração de alguns metais utilizando o CYANEX como extratante com uma solução sulfatada, em função do pH. Observa-se que o Zn é extraído entre pH 1 e 3,0, aproximadamente, enquanto o Cu é removido a partir do pH 3,5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 35 FIGURA 3.14 Extração de alguns metais com CYANEX 272 em soluções sulfatadas. Fonte: HABASHI, 1993. Assim como o D2EHPA, o CYANEX 272 tem sido utilizado a décadas como extratante para a extração de zinco e há vários trabalhos experimentais disponíveis na literatura. Um resumo de alguns experimentos encontra-se descrito abaixo. Silva et al (2005) estudaram a separação de zinco e níquel de uma solução sulfúrica com zinco, cobre, cádmio e crômio. Os autores testaram dois extratantes ácidos organofosforados: D2EHPA e CYANEX 272. Foram testados o pH, o tempo de contato e a concentração do extratante. Observou-se que ambos os extratantes são eficientes para a extração de Zn, mas a extração do metal com o D2EHPA é maior. De acordo com os autores, o CYANEX extrai Fe, Zn, Cr, Cu e Ni de soluções sulfúricas ou sulfatadas em pH 1,6, 3,0, 4,5, 4,6 e 7,05, respectivamente. Ali e colaboradores (2006) investigaram a extração de Zn, utilizando CYANEX 272, de soluções sulfatada, clorídrica e nítrica. A reextração do metal foi realizada com H2SO4, HCl e HNO3, respectivamente. Com a solução sulfatada, a extração aumentou com a concentração do extratante, e diminui com as demais soluções. A reextração do Zn foi eficiente com todos os reextratantes. Experimentos variando a temperatura indicaram que a extração de Zn, neste sistema, é um processo exotérmico. A eficiência de extração de Zn foi de 97% para uma solução REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 36 sulfúrica preparada artificialmente e 94% para a solução real, gerada na indústria metalúrgica. A reextração teve eficiência de 96%. 3.5.4. Sistema Zn-LIX Os reagentes da série LIX são extratantes quelantes, que contém grupos doadores capazes de formar complexos multidentados com o metal. Esses extratantes, assim como os ácidos, formam compostos solúveis em meio orgânico ao extrair o metal na troca de cátions entre as fases líquidas. O principal uso industrial destes reagentes é na extração de Cu (EQ.3.15). Pode-se citar como exemplos de extratantes LIX: LIX 63, LIX 984N e LIX 612N-LV. Estes extratantes são aromáticos e sofrem degradação com calor (RITCEY e ASHBROOK, 1984). (3.15) LIX 63 (FIG.3.15) é uma α-hidroxioxima com o componente ativo 5,8-dietil-7hidroxidodecano-6-oxima. É um líquido amarelo claro, viscoso e imiscível em água. Forma complexos com vários cátions metálicos e pode ser usado na extração de germânio e molibdênio ou como aditivo cinético para outros reagentes quelantes (CHENG, 2006; RITCEY e ASHBROOK, 1984). FIGURA 3.15 Estrutura do LIX 63. Fonte: HABASHI, 1993. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 37 O LIX 63 foi usado pela primeira vez, comercialmente, em 1963. Apesar de grande seletividade, em relação ao Cu, o extratante possui duas desvantagens (RITCEY e ASHBROOK, 1984): • Para haver uma significativa extração de Cu, o pH da fase aquosa deve ser maior que 2 (FIG. 3.15); • Caso haja na solução o íon férrico, o Fe3+ também será extraído (FIG. 3.15). A FIG. 3.16 mostra a extração de alguns metais, ao se utilizar o LIX 63, em função do pH. A ordem de extração dos íons neste sistema é: Cu2+> Fe3+> Ni+> Co2+> Zn2+. Observa-se que o Zn é extraído a partir do pH 5, enquanto o Cu é completamente removido até pH 3. Portanto, para a separação Zn/ Cu, o LIX 63 pode ser uma excelente escolha. FIGURA 3.16 Extração de alguns metais com LIX 63. Fonte: HABASHI, 1993. O LIX 984N é uma mistura de LIX 860N (5-nonalsalicilaldoxima) e LIX 84-I (2-hidroxi5-nonalacetofenona), que forma complexos com vários cátions metálicos, de forma similar ao REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 38 complexo formado com o Cu (EQ.3.13). Assim como o LIX 984N, o LIX 612N-LV é um reagente de cor âmbar que pode ser utilizado para a extração de cobre. Todos os extratantes LIX são capazes de existir em duas formas isoméricas: “cis” e “trans” (FIG.3.17). No entanto, somente o isômero “cis” forma um complexo metálico em quantidade considerável em soluções ácidas. Em soluções alcalinas, o isômero trans reage mais rápido com os íons metálicos (RITCEY e ASHBROOK, 1984). FIGURA 3.17 Formas isoméricas do LIX 63. Fonte: RITCEY e ASHBROOK, 1984. Encontra-se na literatura muitos trabalhos de extração de Cu utilizando LIX 63, mas vários derivados dele foram sintetizados com o intuito de melhorar a extração do metal (HABASHI, 1993). Abaixo está apresentada uma descrição breve de alguns experimentos utilizando reagentes da série LIX como extratante para a extração de Cu. A separação de cobre, zinco e cobalto de resíduos industriais foi estudada por Banza e colaboradores (2000). Segundo Banza e colaboradores, o cobre pode ser extraído separadamente do zinco a partir de solução sulfúrica com 1,99 g/L de Cu, 1,04 g/L de Co, 12,58 g/L de Zn e 2,57 g/L de Fe. O LIX 984 foi utilizado como agente extratante para o Cu e o D2EHPA para o Zn e Co. Após a extração do cobre, o ferro foi removido com carbonato de cálcio. Posteriormente, o zinco foi extraído simultaneamente com o cobalto e separados durante a etapa de reextração. Foram obtidos 80% de recuperação de Cu e 90% de recuperação de Co e Zn. Reddy e Priya (2005) desenvolveram um processo de separação seletiva de Cu (II), Ni (II) e Zn (II) de soluções sulfatadas utilizando LIX 84 I. De acordo com o autor, a extração destes REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 39 metais depende do pH de equilíbrio da fase aquosa e a extração seletiva é possível com o controle desta variável. Com 0,005 M LIX 84 I, a extração de cobre começa em pH 0,5 e atinge o equilíbrio em pH 4,0 com 99,4% de extração. A extração de Ni começa em pH 4,8 e em pH 7,5 há uma recuperação de 99%. Neste pH começa a extração do Zn, atingindo 99,5% de recuperação em pH 9,0. De acordo com o autor LIX 87QN, LIX 54, LIX 973, LIX 984 e LIX 34 já foram usados para a extração, separação e recuperação do zinco, cobre e níquel a partir de soluções de sulfato de amônio, sendo que o LIX 84 I é usado comercialmente para extrair Cu. San Miguel et al (1997) extraiu seletivamente cobre, ferro, níquel, cobalto, zinco, entre outros elementos, de uma solução nítrica utilizando como extratante LIX 984. A extração dos elementos foi possível devido ao controle de pH da fase aquosa. A ordem de extração observada, em função do pH, foi: Cu2+> Fe3+> Ga3+> Ni2+> In3+> Co > Zn2+ ≅ Pb2+. O cobre foi extraído, 2+ completamente, até o pH 2 e o zinco começou a ser extraído em pH 4,5. TRABALHO EXPERIMENTAL 40 CAPÍTULO 4 4. TRABALHO EXPERIMENTAL Os propósitos deste trabalho, conforme já apresentado anteriormente, são os tratamentos dos licores gerados a partir dos resíduos sólidos, subprodutos da produção de zinco metálico da CPM. Pretende-se agregar valor a esses licores, fontes secundárias de zinco, uma vez que, constituem um problema ambiental para a empresa. Para realizar a separação dos metais zinco/ cádmio e zinco/ cobre presentes nos licores, duas alternativas foram consideradas: a precipitação por redução e a extração líquido-líquido. Com a amostra rica em zinco e cádmio (ZnCd), foi utilizada a técnica de cementação para a obtenção do cádmio metálico e com a amostra rica em zinco e cobre (ZnCu), foi utilizada a extração por solventes para a separação de Zn/Cu. 4.1. Metodologia 4.1.1. Cementação Os estudos de cementação do visaram investigar as seguintes variáveis de processo: temperatura, pH inicial do licor, tempo de reação e excesso de pó de zinco metálico. Os ensaios foram realizados em béquer de 150 mL, utilizando 100 mL do licor sulfúrico obtido na etapa de lixiviação do resíduo ZnCd e pó de zinco metálico, com agitação mecânica (rotação de 300 rpm) e temperatura controlada em banho maria (FIG.4.1). TRABALHO EXPERIMENTAL 41 FIGURA 4.1. Esquema utilizado em laboratório para a cementação do Cd. Nos ensaios de cementação, realizados a partir do licor sem diluição, obtido a partir da lixiviação do resíduo, ocorreu cristalização do sulfato de zinco, devido a elevada concentração de zinco na solução final. Para evitar este fato, os experimentos de cementação foram realizados com o licor diluído em água, para a concentração de 120 g/L de Zn, o que correspondeu a uma diluição de 1,175 vezes. Quando não especificado, os experimentos foram realizados com o tempo de reação de 2 horas, temperatura de 50°C e 20% de excesso de pó de zinco. O estudo experimental foi realizado da seguinte forma: (1) diluição da solução de alimentação, (2) contato da solução com o pó de zinco por tempo e temperatura determinados, (3) filtração, (4) análise dos metais de interesse no filtrado e (5) avaliação e tratamento dos dados, com a construção de gráficos e tabelas. Nos experimentos variando o pH do licor e concentração, foi utilizado solução de ácido sulfúrico (2 mol/L) ou de hidróxido de amônio (3 mol/L). As soluções foram preparadas com reagente de grau analítico e água destilada. Para o controle do potencial hidrogênico foi utilizado um medidor digital de pH. TRABALHO EXPERIMENTAL 42 4.1.2. Extração por solvente O estudo com a amostra ZnCu foi dividido em duas etapas: testes descontínuos e testes contínuos. Inicialmente, os testes descontínuos visaram à definição do extratante mais adequado para a separação do zinco e cobre. Foram testados os extratantes ácidos organofosforados: D2EHPA, IONQUEST®801 e CIANEX®272 e os extratantes da classe quelante: LIX®63, LIX®948N e LIX®612N-LV. Após a escolha do extratante, foram realizados ensaios de extração e reextração para definir as melhores condições de processo. Posteriormente, foram construídas as curvas de equilíbrio – diagrama de McCabe Thiele – para determinar a relação volumétrica entre as fases aquosa e orgânica, bem como o número teórico de estágios das etapas de extração e reextração, necessários para a realização dos ensaios contínuos. O estudo experimental, em escala de laboratório, foi realizado da seguinte forma: (1) preparo das soluções aquosas e orgânicas, (2) contato das soluções por tempo suficiente para que o equilíbrio entre as fases orgânica e aquosa seja atingido, ou seja, a estabilização das concentrações dos metais nas duas fases, (3) separação das fases, (4) análise dos metais de interesse nas duas fases e (5) avaliação e tratamento dos dados, com a construção de gráficos e tabelas. Os ensaios descontínuos de extração foram realizados em béquer de 150 mL à temperatura ambiente (~25oC), com agitação mecânica (rotação de 500 rpm), que garantiu um bom contato entre as fases. Para cada ensaio de extração, foram usados 20 mL da fase aquosa e 20 mL da fase orgânica (FIG.4.2). TRABALHO EXPERIMENTAL 43 FIGURA 4.2. Esquema utilizado em laboratório para a extração por solvente do Zn. Nesta etapa investigou-se o efeito das seguintes variáveis de processo: tipo e concentração do agente extratante, pH da fase aquosa, relação volumétrica entre as fases e concentração do agente reextratante. Para realizar o ajuste do pH, foram utilizadas pequenas quantidades de hidróxido de amônio 3 mol/L e 1 mol/L. O ajuste era realizado durante a agitação e para controle do pH foi utilizado um medidor digital de pH. Quando não especificado no experimento, a relação volumétrica entre as fases foi igual a 1. Os ensaios de reextração foram realizados com solução aquosa de ácido sulfúrico. A influência da concentração do ácido foi investigada no intervalo de 0,01 a 3 mol/L. O tempo de contato foi de 5 minutos. O carregamento do orgânico, utilizado nos experimentos de reextração, foi realizado mediante dois contatos sucessivos do D2EHPA com o licor sulfúrico ZnCu, mantendo a mesma fase orgânica e acrescentando uma fração nova do licor. Os contatos foram realizados nas condições pré-estabelecidas nos estudos descontínuos de extração: pH 2, concentração do extratante = 1 mol/L e uma relação de fases A/O = 1/1. Os experimentos foram realizados em béquer de 100 mL à temperatura ambiente (~25oC), com agitação mecânica (rotação de 450 rpm), que garantiu um bom contato entre as fases. Para cada ensaio, foram TRABALHO EXPERIMENTAL 44 usados 15 mL da fase aquosa (H2SO4) e 15 mL da fase orgânica (D2EHPA) carregada com os metais de interesse. Nos experimentos de extração, as fases orgânicas foram preparadas no laboratório a partir dos extratantes selecionados e diluídos com EXXSOL D-100 na concentração desejada. As soluções de ácido sulfúrico, utilizadas nos experimentos de reextração, foram preparadas utilizando-se H2SO4 de grau analítico, diluído em água destilada na concentração adequada. Para confirmar e otimizar os parâmetros estudados e definidos em laboratório, foram realizados 5 ensaios contínuos em contra-corrente. Os quatro primeiros foram realizados com solução sulfúrica de Zn e Cu, preparada em laboratório, simulando a amostra ZnCd. A solução foi preparada dissolvendo-se os sais sulfato de zinco e sulfato de cobre em água e o pH ajustado para 1,6 com ácido sulfúrico de grau analítico. Após obtida a melhor condição operacional (experimento 4), utilizou-se então a solução ZnCu para a realização do experimento 5. O circuito para os testes contínuos foi montado com baterias de células misturador/ decantador, construídas em policarbonato, com capacidade de 70 mL no misturador e 260 mL no decantador, conforme mostrado na FIG. 4.3. FIGURA 4.3. Bateria de células misturador/ decantador usadas nos testes contínuos. TRABALHO EXPERIMENTAL 45 Cada estágio do circuito é constituído de um misturador e um decantador. A agitação nos misturadores é realizada através de hélices acionadas por um motor elétrico de velocidade controlada. No decantador ocorre a separação das fases, por gravidade. A alimentação do circuito é realizada por bombas peristálticas acopladas em controladores de velocidade, que fornecem vazões constantes. A fase orgânica flui do misturador, pela parte superior, para um pequeno compartimento com abertura inferior, que alimenta o decantador. Neste compartimento, o orgânico é succionado para o estágio seguinte. A fase aquosa flui por uma abertura na parte inferior do decantador para o misturador seguinte, em contracorrente com a fase orgânica. Durante o experimento, a cada hora, media-se as vazões dos fluxos de alimentação e coletava-se amostras dos efluentes de cada fluxo para análise. Ao término de cada corrida, o sistema era desligado, e no dia posterior coletava-se amostras das fases orgânica e aquosasdo decantador de cada célula para análise e construção do perfil de concentração dos elementos de interesse ao longo do circuito. Para o ajuste de pH nos estágios de extração dos testes contínuos foram testados gás de amônia concentrada, gás de amônia 20% e solução de hidróxido de amônio 3 mol/L. Nos experimentos contínuos, o D2EHPA foi recirculado direto da etapa de reextração. O circuito utilizado para os ensaios pode ser observado na FIG. 4.4. TRABALHO EXPERIMENTAL 46 FIGURA 4.4. Circuito usado nos ensaios contínuos. 4.2. Soluções e Reagentes Neste item são apresentados as soluções e os reagentes empregados durante a realização deste trabalho. 4.2.1. Cementação O licor sulfúrico (ZnCd), utilizado nos experimentos, foi obtido a partir da lixiviação sulfúrica de um resíduo de zinco e cádmio, fornecido pela CPM. O resíduo é gerado no processo de produção de zinco metálico eletrolítico, através do processamento metalúrgico do minério sulfetado de zinco. A cementação do cádmio foi realizada com pó de zinco metálico, fornecido pela mesma empresa. TRABALHO EXPERIMENTAL 47 4.2.2. Extração por solvente O licor sulfúrico (ZnCu) utilizado foi obtido a partir da lixiviação sulfúrica de um resíduo de zinco e cobre, gerado no processo de produção de zinco metálico eletrolítico, através do processamento metalúrgico do minério sulfetado de zinco. Este resíduo foi fornecido pela CPM. O estudo de extração por solventes foi realizado com os seguintes extratantes: • D2EHPA (ácido di-2-etil-hexil fosfórico), 97 % p/p; • CYANEX®272 (ácido bis-2,4,4-trimetilpentil-fosfínico), 99 %p/p; • IONQUEST®801 (ácido 2-etilhexilfosfônico mono-2-etilhexil ester), 97% p/p; • LIX®63 (5,8-dietil-7-hidroxidodecano-6-oxima), 2,27 mol/L oxima; • LIX 984®N (composto de uma mistura de oximas: 5-nonalsalicílaldoxima e 2-hidroxi-5nonalacetofenona oxima), 1,66 mol/L oxima; • LIX ®612N-LV (mistura de 5-nonalsalicílaldoxima e um modificador de baixa viscosidade), 1,79 mol/L oxima; O D2EHPA e IONQUEST, marca Albright & Wilson – Americas, foram fornecidos pela Pecos Brasil Ltda. O CYANEX 272, marca Cytec Canada Ing, foi fornecido pela Cytec do Brasil Ltda. Os extratantes da série LIX são da marca Cognis, e foram fornecidos pela Cognis do Brasil Ltda. As soluções dos extratantes foram preparadas em Exxsol®D-100 (querosene purificado), fornecido pela Exxson Química. Os estudos de reextração foram realizados com soluções de ácido sulfúrico grau p.a., preparadas em água destilada. 4.3. Materiais e Equipamentos 4.3.1. Cementação • Medidor de pH – DIGIMED DM20 TRABALHO EXPERIMENTAL 48 • Agitadores mecânicos – IKA LABORTECHNIK RW20.N • Cronômetro – CRONOBIO SW 2018 • Banho maria • Tacômetro Minipa MDT-2238 • Hélices de vidro • Funis de separação, balões volumétricos, provetas, pipetas e demais vidrarias comuns de laboratórios químicos. 4.3.2. Extração por solventes Ensaios descontínuos: • Medidor de pH – DIGIMED DM20 • Agitadores mecânicos – IKA LABORTECHNIK RW20.N • Cronômetro – CRONOBIO SW 2018 • Tacômetro Minipa MDT-2238 • Hélices de vidro • Funis de separação, balões volumétricos, provetas, pipetas e demais vidrarias comuns de laboratórios químicos. Ensaios contínuos: • Células de misturador/decantador, construídas em policarbonato. • Bombas peristálticas – Master Flex 7518-10 e 17519-20. • Controladores de velocidade – Master Flex. 4.4. Métodos Analíticos As análises quantitativas dos elementos de interesse das amostras geradas nos ensaios de cementação e extração por solventes foram realizadas pelos seguintes métodos: TRABALHO EXPERIMENTAL • 49 Espectrofotometria de absorção atômica VARIAN AA240FS – para determinação de zinco, cobre, cádmio, níquel e cobalto, entre outros, em amostras líquidas. • Gravimetria – para determinação de SO42-. • Energia Dispersiva de Raios X SHIMADZU 720 – para determinação de zinco, cobre, cádmio, níquel e cobalto, entre outros, em amostras sólidas. RESULTADOS E DISCUSSÃO 50 CAPÍTULO 5 5. ENSAIOS DE CEMENTAÇÃO Os experimentos visaram investigar as variáveis de processo e definir as melhores condições operacionais para atingir o objetivo proposto. 5.1. Cementação De acordo com Azevedo e Chasin (2003), o cádmio possui propriedades físico-químicas semelhantes ao zinco. Por isto, os dois metais são extraídos simultaneamente ao se utilizar extração por solvente. Devido ao exposto, para a separação Zn/ Cd foi escolhido a técnica de cementação. As variáveis de processo investigadas foram: temperatura, pH inicial do licor, tempo de reação e excesso de pó de zinco metálico. Nos ensaios de cementação, realizados a partir do licor sem diluição (TAB.5.1), a concentração de zinco na solução final ficou muito alta. Para evitar este fato, os experimentos de cementação foram realizados com o licor diluído 1,175 vezes. A caracterização do licor diluído utilizado está apresentada na TAB. 5.2. TABELA 5.1 Caracterização química dos principais constituintes da amostra ZnCd Espécie Amostra ZnCd Zn (g/L) Cd (g/L) Cu (g/L) Co (g/L) 141,0 53,4 0,002 0,011 Ni (g/L) SO 2- (g/L) 4 0,003 330 pH 2,0 RESULTADOS E DISCUSSÃO 51 TABELA 5.2 Caracterização química dos principais constituintes da amostra ZnCd diluída Espécie Amostra Zn (g/L) Cd (g/L) Cu (g/L) Co (g/L) Ni (g/L) 120,0 45,4 0,002 0,009 0,003 ZnCd 5.1.1. Efeito da Temperatura O efeito da temperatura foi investigado desde a temperatura ambiente (22oC) até 50oC, sendo que o pH inicial do licor foi igual a 1,5. Foram utilizados 20% de excesso de pó de Zn metálico e o tempo de reação foi de duas horas. Os resultados obtidos estão apresentados na FIG. 5.1. Observa-se que para temperaturas abaixo de 40oC, embora o rendimento da reação seja superior a 90%, o teor de cádmio em solução é relativamente alto (4,0 g/L para a temperatura de 22oC). Na temperatura de 40oC, o teor de Cd remanescente em solução foi de 0,014 g/L, enquanto para a temperatura de 50oC, este teor foi de 0,005 g/L Cd. Os demais experimentos foram realizados na temperatura de 50oC. Recuperação de Cd (%) 95 Recuperação 90 4 Concentração 85 3 80 2 75 1 70 65 Cd no filtrado (g /L) 5 100 0 20 30 40 50 Temperatura (°C) FIGURA 5.1. Influência da temperatura na cementação do Cd. RESULTADOS E DISCUSSÃO 52 Observa-se que, com temperatura mais altas, há um aumento na precipitação do Cu, ou seja, uma maior solubilização do zinco metálico. Tal fato ocorre porque o equilíbrio entre íons em solução e uma fase sólida é afetado diretamente por mudanças de temperatura: quanto maior a temperatura, normalmente, maior a solubilização do sólido presente no sistema. Portanto, ao se aumentar a temperatura, aumenta-se a dissolução do zinco metálico e a precipitação do cobre em solução (ROSENQVIST, 1984). 5.1.2. Efeito do pH O efeito do pH foi investigado utilizando 20% de excesso de pó de zinco metálico com um tempo de reação de 2 horas a 50°C. Ensaios variando o pH inicial do licor no intervalo de 0,5 a 2,5 indicaram que a partir de pH 1,5, praticamente todo o cádmio divalente presente no licor foi convertido a cádmio metálico (FIG. 5.2). A partir do pH inicial do licor igual a 2,0, (pH de equilíbrio > 4,5) houve formação de uma pequena quantidade de precipitado marrom após algum tempo de estocagem do licor (de um dia para outro). A caracterização do precipitado por difração de raios X indicou tratar-se de um precipitado amorfo. Já a análise qualitativa por fluorescência de raios X indicou a presença dos metais Zn e Fe. Como todo o ferro presente no licor está no estado divalente, provavelmente, houve a formação do precipitado da ferridrita de zinco. A ocorrência desta reação pode ser evitada pelo controle do pH (HABASHI, 1993). Desta forma, o pH ideal do licor que alimenta a etapa de cementação do cádmio é 1,5 e 2,0. Para o pH do licor igual a 1,5, o pH final foi de 1,95. Em pH menor que 1,5, aumenta-se a concentração de Cd no filtrado, devido à reação secundária entre o íon H+ e o Zn. Nestas condições, a formação do hidrogênio gasoso é favorecida, diminuindo assim o rendimento da redução do Cd2+ e conseqüentemente, a formação do Cd(s). RESULTADOS E DISCUSSÃO 53 Recuperação de Cd (%) Recuperação 1 Concentração 0,8 95 0,6 90 0,4 85 0,2 80 Cd no filtrado (g /L) 1,2 100 0 0,5 1 1,5 2 2,5 pH inicial FIGURA 5.2. Influência do pH inicial do licor na cementação do Cd. 5.1.3. Efeito do Tempo Nos ensaios variando o tempo de reação, foram usados 12,5 % de excesso de pó de zinco e pH inicial do licor igual a 1,5 a 50°C. Verificou-se que 2 horas são suficientes para atingir o equilíbrio entre as espécies Cd2+ e Cd0 no licor (TAB. 5.3). Para 1 hora de reação, a recuperação de Cd foi de 92%, passando para 98% para 1,5 horas e chegando a 99,99% para 2 horas de reação, com uma pureza de 97%. TABELA 5.3 Influência do tempo na cementação do cádmio Tempo (hs) Concentração inicial (g/L) Concentração final (g/L) Rec. Cd (%) Zn Cd Zn Cd 1 120,0 45,4 147,0 4 92,1 1,5 120,0 45,4 151,2 1,1 97,8 2 120,0 45,4 152,0 0,007 99,9 3 120,0 45,4 142,0 0,014 99,9 RESULTADOS E DISCUSSÃO 54 5.1.4. Efeito do Excesso de Pó de Zinco Metálico O estudo da influência do excesso de pó de zinco metálico foi realizado no intervalo compreendido entre 0% até 20%. Os resultados destes experimentos estão apresentados na FIG. 5.3. Conforme observado, é necessário certo excesso de zinco metálico para a completa redução do Cd2+ a Cd0. Para 5% de excesso de Zn metálico, o teor de Cd2+ em solução foi de 0,06 g/L Cd, 3 100 95 Recuperação 90 Concentração 2,5 2 85 1,5 80 1 75 0,5 70 Cd no filtrado (g /L) Recuperação de Cd (%) enquanto para 10% de excesso este teor de 0,005 g/L Cd. 0 0 5 10 15 20 Excesso de pó de Zinco (%) FIGURA 5.3. Influência do excesso de zinco em pó na cementação do Cd. Como já mencionado anteriormente, a cementação do Cd é uma reação heterogênea controlada pela difusão dos reagentes na interface da reação. Este tipo de transferência de massa depende do contato entre a fase líquida e a fase sólida. Ao se aumentar a quantidade de pó de zinco metálico, aumenta-se a probabilidade de colisão entre as partículas envolvidas na reação, favorecendo a cinética da cementação do cádmio (ROSENQVIST, 1984). Para que a reação de oxi-redução entre o Zn e o Cd seja possível do ponto de vista termodinâmico é necessário que a diferença de potencial seja positiva. Sendo assim, foi utilizado um potenciômetro para medir a diferença de potencial eletroquímico em função do tempo. Foram feitas medidas de 30 minutos em 30 minutos considerando o excesso de pó de zinco metálico (TAB. 5.4). RESULTADOS E DISCUSSÃO 55 TABELA 5.4 Variação do potencial (Eh) em função do tempo Eh (mV) Excesso de Zn (%) Inicial 0,5 hora 1 hora 1,5 hora 2 horas 0 720 510 440 430 420 5 720 490 450 430 430 10 720 500 450 400 390 15 720 520 390 340 290 20 720 490 420 367 320 Observa-se, a partir das medidas de potencial, que a oxidação do Zn e a redução do Cu ocorre, espontaneamente, durante todo o tempo de reação, independente do excesso de pó de zinco. Em todos os experimentos, o potencial diminui com o tempo. O potencial para os excessos de 0%, 5% e 10% apresentam pequenas variações entre si. Quando o excesso de pó de zinco é 15% e 20%, a reação ocorre, principalmente, na primeira hora, o que causa a redução considerável do potencial. RESULTADOS E DISCUSSÃO 56 CAPÍTULO 6 6. ENSAIOS DESCONTÍNUOS DE EXTRAÇÃO POR SOLVENTE Os experimentos visaram investigar as variáveis de processo e definir as melhores condições operacionais para atingir o objetivo proposto. 6.1. Extração Líquido-Líquido De acordo com Dienstbach et al (citado por JHA, KUMAR e SINGH, 2001) não é recomendável o tratamento de um licor com alta concentração de cobre pela técnica de cementação. Dienstbach et al purificaram um licor que continha 32 g/L de Cu e 73 g/L de Zn e observaram que o consumo de pó de zinco foi muito alto devido a concentração de cobre, o que aumentou muito o custo com o reagente. Devido ao exposto, foi escolhido para tratar o licor ZnCu a técnica de extração por solventes. Na extração líquido-líquido investigou-se a influência das seguintes variáveis de processo: tipo e concentração do agente extratante, acidez da fase aquosa, relação volumétrica entre as fases e concentração do agente reextratante (solução de ácido sulfúrico). Foram selecionados seis extratantes trocadores catiônicos. Três da classe dos extratantes ácidos (D2EHPA, IONQUEST®801 e CYANEX®272) e três da classe dos extratantes quelantes (LIX®63, LIX®984N e LIX®612N-LV). Os extratantes ácidos organofosforados são seletivos para o zinco enquanto os extratantes quelantes extraem preferencialmente o cobre. 6.1.1. Ensaios de Extração Nos ensaios de extração, foram investigados o tipo e a concentração do agente extratante, o pH da fase aquosa e a relação volumétrica entre as fases. Para realizar o ajuste do pH, foram utilizadas pequenas quantidades de hidróxido de amônio 3 mol/L e 1 mol/L. A caracterização química do licor sulfúrico utilizado para os ensaios está apresentada na TAB. 6.1. RESULTADOS E DISCUSSÃO 57 TABELA 6.1 Caracterização química dos principais constituintes da amostra ZnCu Espécie Amostra ZnCu Zn (g/L) Cu (g/L) Cd (g/L) Co (g/L) Ni (g/L) SO42- (g/L) pH 29,6 37,4 1,94 0,127 0,100 220 1,60 6.1.1.1. Definição do Agente Extratante A primeira etapa do estudo foi à determinação do extratante mais adequado para a separação seletiva do Zn e Cu. Foram testados seis extratantes: D2EHPA, IONQUEST®801, CYANEX®272, LIX®63, LIX®984N e LIX®612N-LV. Os extratantes organofosforados foram preparados na concentração de 1mol/L. Os extratantes da série LIX foram preparados na concentração de 1mol/L em oxima. De acordo com a literatura, o D2EHPA extrai o Zn entre pH 1 e 2,5, enquanto o Cu é removido a partir do pH 2. Ao se utilizar o CYANEX, o Zn é extraído entre pH 1 e 3,0, enquanto o Cu é removido a partir do pH 3,5. Com o LIX 63, o Zn é extraído a partir do pH 5, enquanto o Cu é completamente removido até pH 3. Portanto, os experimentos foram realizados com os extratantes em pH 3, para garantir a completa remoção do zinco, utilizando os extratantes ácidos organofosforados, e a do cobre, utilizando os extratantes quelantes. Os resultados obtidos estão apresentados na TAB. 6.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO 58 TABELA 6.2 Influência do agente extratante na extração de zinco e cobre Extratante pHeq. LIX®63 Fator de Separação % Extração Zn/ Cu Cu/ Zn Zn Cu Cd Ni Co 3,0 -- 62 4,1 72,5 18,0 0,0 0,0 LIX®612N-LV 2,9 -- 94 6,4 86,6 13,4 2,4 1,6 LIX®948 N 3,1 -- 37 9,5 79,4 14,4 0,0 0,8 D2EHPA 3,0 296 -- 94,5 5,5 1,0 1,4 0,0 IONQUEST® 3,0 323 -- 88,9 2,4 3,1 0,0 0,8 CYANEX®272 3,0 361 -- 70,9 0,7 11,1 0,0 3,1 Observa-se que foram obtidos para todos os extratantes testados bons fatores de separação, o que indica boa seletividade de extração dos metais em estudo, sendo possível, portanto, a utilização de qualquer um destes reagentes para experimentos posteriores. No entanto, ao se utilizar os reagentes da série LIX, observa-se problemas na separação de fases, além de dificuldades em se estabelecer o equilíbrio entre as fases. Já o IONQUEST e o CYANEX 272, apesar da boa separação de fases, são menos utilizados comercialmente que o D2EHPA. Devido ao exposto, a estabilidade química, a maior disponibilidade do extratante e ao fato de ser mais barato, os ensaios posteriores com o intuito de determinar as condições ótimas de processo, foram realizados com o extratante D2EHPA. 6.1.1.2. Variação do pH de equilíbrio Após a escolha do extratante, foram realizados ensaios para determinar o melhor pH de equilíbrio a ser utilizado. O efeito do pH de equilíbrio foi testado de 1 a 3,5 com D2EHPA 1 mol/L e relação de fases A/O igual a 1. Os resultados obtidos estão apresentados na FIG. 6.1. RESULTADOS E DISCUSSÃO 59 100 90 Extração (%) 80 70 60 % Ext. Zn % Ext. Cu 50 40 30 20 10 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 pH de equilíbrio FIGURA 6.1. Influência do pH de equilíbrio na extração de Zn e Cu. A partir da figura, observa-se que o efeito do pH é mais significativo para a extração de Zn, enquanto a extração de Cu não varia consideravelmente. Observa-se, inclusive, que com o decréscimo do pH (maior concentração de H+), a extração de ambos os metais diminui. Tal fato pode ser explicado por dois fatores. Em pH mais baixo, o extratante sofre protonação, desfavorecendo a extração dos íons metálicos. Além disso, em soluções sulfúricas, ocorre um equilíbrio entre as espécies SO42-, HSO4-1 e H2SO4, resultando na formação de complexos destas espécies com o extratante, o que também diminui a extração dos íons metálicos (RITCEY e ASHBROOK, 1984). Em pH 2, a extração de Zn e Cu foi, respectivamente, 88,2% e 2,1%. Já em pH 3, a extração dos metais foi 94,5% e 5,57%. Em pH maior que 3, a concentração de Cu no licor aumenta consideravelmente, de 0,8 g/L para 5,3 g/L (14,2%), não sendo interessante para o processo. Em pH menor que 2, a extração de Cu é, aproximadamente, 1% e a de Zn menor que 60%. Os experimentos realizados em pH 2 são facilmente controláveis e apresentam bons resultados. Em pH 3, apesar da eficiente extração de Zn, são difíceis de controlar. Por tais motivos, os demais experimentos foram realizados em pH 2. RESULTADOS E DISCUSSÃO 60 O tempo de contato para se atingir o equilíbrio da concentração dos metais entre as fases para o pH 3,5 é de, aproximadamente, 20 minutos. Para pH 3, o tempo de contato é de 15 minutos e para pH 2 é de 8 a 10 minutos. Já para pH 1 e 0,7, cincos minutos são suficientes para se atingir o equilíbrio. O tempo de separação entre as fases orgânica e aquoso, utilizando D2EHPA foi menor que 1 minuto, em todos os experimentos. 6.1.1.3. Variação da concentração do extratante Para determinar a concentração ideal do D2EHPA, foram realizados ensaios com 0,25 mol/L; 0,50 mol/L; 0,75 mol/L e 1,0 mol/L, mantendo uma relação de fases A/O = 1. Os resultados estão apresentados na FIG. 6.2. Observa-se um aumento da extração de Zn com o aumento da concentração do extratante. Tal fato ocorre devido a um aumento de sítios disponíveis do extratante para a extração do íon de interesse. O melhor resultado obtido foi com a concentração 1 mol/L, sendo que a extração de Zn e Cu foram, respectivamente, 91,1 % e 2,0 %. Nessas condições, o licor final obtido continha, em média, 2,6 g/L de Zn e 36,6 g/L de Cu. 100 90 Extração (%) 80 70 60 50 % Ext. Zn % Ext. Cu 40 30 20 10 0 0,25 0,5 0,75 1 Concentração (mol/L) FIGURA 6.2. Influência da concentração do D2EHPA na extração de Zn e Cu. RESULTADOS E DISCUSSÃO 61 6.1.1.4. Variação da relação de fases A última variável de processo testada foi a relação de fases aquoso/orgânico. Os ensaios foram realizados com D2EHPA 1 mol/L em pH 2. Variou-se a relação A/O de 1/1 a 5/1. Observou-se que há uma queda na extração de Zn ao se aumentar a relação de fases (FIG.6.3). Tal fato pode estar relacionado com a maior disponibilidade de outros metais na solução de alimentação, que competem com o zinco pelo sítio ativo do agente extratante. Muitos destes metais possuem raios iônicos próximos do Zn, por exemplo, Ni, Co e Fe. Para uma relação de fases 1/1, foram obtidos 91% de extração de Zn e 2% de Cu. Já em uma relação 3/1 foram obtidos 34% de extração de Zn e 0,1 % de Cu. A extração de Cu permaneceu em todos os experimentos menor que 2,5%. 100 90 % Ext. Zn % Ext. Cu Extração (%) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 1 1,5 2 2,5 3 Relação de Fases A/O FIGURA 6.3. Influência da relação de fases do Aquoso/ D2EHPA na extração de Zn e Cu. 6.1.1.5. Curva de Equilíbrio Após a determinação das melhores condições de processo para a etapa de extração, construiu-se a isoterma (curva de equilíbrio) do zinco (metal extraído preferencialmente) e RESULTADOS E DISCUSSÃO 62 traçou-se o diagrama de McCabe – Thiele, para a determinação do número teórico de estágios e da relação volumétrica de alimentação do licor e do extratante, necessários à realização dos ensaios contínuos. Para a construção da curva de equilíbrio, fez-se cinco contatos sucessivos entre as fases, carregando o orgânico e esgotando o aquoso. Em relação ao cobre, verificou-se que após os contatos sucessivos, este foi pouco extraído pelo extratante (< 2 g/L). A isoterma de extração/ Diagrama de McCabe - Thiele para o zinco está apresentada na FIG. 6.4. Zn na fase orgânica (g/L) 30 25 20 E Reta de operação 15 10 5 E 0 0 5 10 15 20 25 30 Zn na fase aquosa (g/L) FIGURA 6.4. Isoterma de extração do zinco; E = estágios teóricos de extração. De acordo com a FIG. 6.4 (Diagrama de McCabe – Thiele), para se obter um refinado praticamente isento de zinco, mantendo uma relação volumétrica de alimentação licor/ solvente igual a 0,84, são necessários 2 a 3 estágios de células misturador/ decantador. Nestas condições, é possível obter uma fase orgânica carregada com, aproximadamente, 25 g/L de Zn. RESULTADOS E DISCUSSÃO 63 6.1.2. Ensaios de Reextração Para os ensaios de reextração, foi utilizado como agente reextratante solução aquosa de ácido sulfúrico, devido ao licor ser de origem sulfúrica. Os experimentos de reextração foram realizados a partir do D2EHPA 1,0 mol/L carregado com os metais (extrato). A concentração de H2SO4 variou no intervalo de 0,01 mol/L a 3,0 mol/L. A relação volumétrica entre as fases orgânica e aquosa (A/O) foi de 1/1 e o tempo de contato entre as fases foi de 5 minutos. O extrato (orgânico carregado) foi obtido através de 2 contatos sucessivos, utilizando o mesmo solvente e licor novo, na relação de fases A/O igual a 1 e pH de equilíbrio igual a 2. A caracterização química do orgânico carregado, utilizado nos experimentos de reextração, está apresentada na TAB. 6.3. Os resultados dos experimentos de reextração estão apresentados na FIG. 6.5. TABELA 6.3 Caracterização química dos principais constituintes do orgânico carregado Espécie Zn (g/L) Cu (g/L) Cd (g/L) Co (g/L) Ni (g/L) Orgânico 33,0 0,137 0,003 <0,001 <0,001 Extração (%) 6.1.2.1. Variação da Concentração do Reextratante 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 % Ext. Zn % Ext. Cu 0 0,5 1 1,5 2 2,5 Concentração do Reextratante 3 FIGURA 6.5. Influência da concentração de H2SO4 na reextração de Zn e Cu. RESULTADOS E DISCUSSÃO 64 Conforme mostra a FIG. 6.5, o cobre é reextraído preferencialmente ao zinco. Os experimentos realizados com baixa de H2SO4 visaram a reextração do Cu co-extraído. Para a 0,01 mol/L H2SO4, 47% do Cu extraído foi reextraído, com apenas 6,1% de reextração de Zn (2 g/L Zn). Para a 0,05 mol/L H2SO4 a porcentagem de reextração dos metais passou para 81% de Cu e 12% de Zn. A partir de 1,5 mol/L H2SO4 pode-se observar um patamar na curva de reextração de Zn com pequenas diferenças na reextração dos dois metais. A partir dos experimentos de reextração observa-se a viabilidade técnica da separação Zn/Cu pela técnica de extração por solventes, utilizando o D2EHPA como agente extratante. O cobre co-extraído pode ser retornado para a fase aquosa mediante a introdução de uma etapa de lavagem com uma solução de baixa concentração de H2SO4. Após a etapa de remoção de lavagem, o zinco pode ser completamente reextraído com uma solução 2 mol/L de H2SO4. 6.1.2.2. Curva de Equilíbrio Na seqüência dos estudos de reextração, construiu-se a isoterma de reextração (curva de equilíbrio) do zinco e traçou-se o diagrama de McCabe – Thiele, para a determinação do número teórico de estágios e da relação volumétrica de alimentação do orgânico e do reextratante (H2SO4 2 mol/L), necessários à realização dos ensaios contínuos. Para a construção da curva de equilíbrio, fez-se contatos sucessivos entre as fases aquosa e orgânica: 3 contatos para o carregamento do aquoso e sete contatos para esgotamento do orgânico. No aquoso, a concentração do Cu ficou menor que 4 g/L e a concentração do Zn chegou a, aproximadamente, 125 g/L. Conforme apresentado no diagrama de McCabe - Thiele (FIG. 6.6), a relação volumétrica de alimentação orgânica/ aquoso pode ser de até 3,7 (inclinação da reta de operação), sendo possível obter um reextrato com 110 g/L. A obtenção de um orgânico isento de zinco requer 2 a 3 estágios de células de misturador/ decantador. Zn na fase aquosa (g/L) RESULTADOS E DISCUSSÃO 140 130 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 65 E Reta de operação E 0 5 10 15 20 25 30 Zn na fase orgânica (g/L) FIGURA 6.6. Isoterma de reextração do zinco; E = estágios teóricos de extração. RESULTADOS E DISCUSSÃO 66 CAPÍTULO 7 7. ENSAIOS CONTÍNUOS DE EXTRAÇÃO POR SOLVENTE Para confirmar e otimizar as condições definidas em laboratório, foram realizados 5 experimentos contínuos em instalações micro piloto, que totalizaram 107 horas de operação. Os experimentos foram feitos em células misturador/ decantador com capacidade de 70 mL no misturador e 260 mL no decantador (FIG. 7.1). Em todos os experimentos, os estágios foram numerados em ordem crescente da esquerda para a direita e, após a etapa de reextração, o solvente foi circulado direto para a etapa de extração. FIGURA 7.1. Instalação micro-piloto para a realização dos experimentos contínuos. A solução aquosa de alimentação utilizada nos experimentos 1 a 4 foi produzida em laboratório e sua composição está apresentada na TAB. 7.1. No experimento 5, após obtida a melhor condição operacional, foi utilizada a solução ZnCu (TAB.5.4), para observar a extração e RESULTADOS E DISCUSSÃO 67 reextração dos demais metais presentes (Cd, Ni e Co). Como agente extratante foi utilizado D2EHPA 1 mol/L e como agente reextratante foi utilizado solução de ácido sulfúrico. TABELA 7.1 Caracterização química dos constituintes da fase de alimentação Espécie Amostra ZnCu 2 Zn (g/L) Cu (g/L) SO42- (g/L) pH 30,0 38,0 140 1,60 De acordo com as curvas de equilíbrio construídas, seriam necessários 2 a 3 estágios de extração e reextração para os ensaios contínuos. A relação de alimentação é igual à inclinação da reta de operação do diagrama, considerando um limite de 15 a 20% abaixo do ponto de saturação. Para o estágio de extração, a relação de alimentação foi de 0,84 e para o de reextração foi de 3,7. Nestas condições, seria possível obter, no estágio de extração, uma fase orgânica carregada com 25 g/L de Zn e, na reextração, um reextrato com 110 g/L de Zn. O tempo de residência no misturador foi estipulado em 10 minutos, levando em consideração o tempo para se atingir o equilíbrio da concentração dos metais e o tempo de separação entre as fases nos ensaios descontínuos. As vazões dos fluxos de entrada e saída são calculados com base no volume do misturador das células utilizadas nos experimentos, no tempo de residência e na relação volumétrica entre as fases. Portanto, conhecendo-se o volume do misturador, o tempo de residência e a relação volumétrica entre as fases, são possíveis determinar as vazões do aquoso e orgânico (EQ. 7.1 e 7.2). Vazãoaquoso Vazãoorgânico = Valordiagrama (7.1) McCabe −Thiele Vazãoaquoso + Vazãoorgânico = Volumemisturador Temporesidência (7.2) RESULTADOS E DISCUSSÃO 68 7.1. Experimento Contínuo 1 O experimento contínuo 1 (EC1) durou 30 horas, onde foram processados aproximadamente 8 litros de licor. Foram utilizados 2 estágios de extração, 2 estágios de lavagem e 5 estágios de reextração. Para a remoção do Cu co-extraído foi utilizado ácido sulfúrico 0,1 mol/L, na relação O/A de 6,1. O tempo de residência na extração foi de 6 minutos. Optou-se por um tempo de residência menor que o considerado nos experimentos de bancada, considerando a maior eficiência no ajuste do pH nos experimentos contínuos, realizado com gás automaticamente. Para o estágio de extração, a relação de alimentação foi de 0,6 e para a reextração foi de 7,3. Nestas condições, seria possível obter, no estágio de extração, uma fase orgânica carregada com 18 g/L de Zn e, na reextração, um reextrato com 130 g/L de Zn, aproximadamente. Neste experimento, a correção de pH (pH 2) foi realizada nos dois estágios de extração com gás de amônia 20%, diluído em argônio. Na reextração foi utilizado H2SO4 2 mol/L. As condições operacionais usadas estão apresentadas na TAB. 7.2. Na extração, o 1° estágio corresponde a saída do rafinado e a entrada do orgânico limpo (D2EHPA) e o 2° estágio corresponde à entrada da alimentação (ZnCu 2). Na etapa de lavagem, o 4° estágio corresponde à entrada da solução de lavagem. Na etapa de reextração, o 5° estágio corresponde à saída do reextrato e o 9° estágio corresponde à entrada do reextrante e a saída do orgânico regenerado (FIG.7.2). RESULTADOS E DISCUSSÃO 69 FIGURA 7.2. Esquema do circuito do ensaio contínuo 1. TABELA 7.2 Condições operacionais do experimento contínuo 1 (EC1) Vazão média Solução Etapa Reagente (mL/min.) Concentração (mol/L) Aquoso Orgânico Tempo de Residência (min.) N° de estágios Extração D2EHPA 1 4,4 7,3 6 2 Lavagem H2SO4 0,1 1,2 7,3 8 2 Reextração H2SO4 2 1,0 7,3 8 5 A etapa de extração estabilizou-se a partir de 10 horas de operação, sendo que o solvente efluente da etapa de reextração passou a ser recirculado no sistema a partir de 7 horas de operação. Após o término do experimento foi feito o perfil da concentração dos metais em cada estágio do circuito. Nas FIG. 7.3 e 7.4 são apresentados os perfis de extração para o zinco e cobre, respectivamente. RESULTADOS E DISCUSSÃO 70 110 Lavagem Extração 100 Re-extração U3O8 (g/L) Zn (g/L) 90 80 Aquoso Orgânico 70 60 50 40 30 20 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Estágios FIGURA 7.3. Perfil de extração e reextração de zinco no ensaio contínuo 1. 45 40 Extração Lavagem Re-extração Cu (g/L) U3O8 (g/L) 35 Aquoso Orgânico 30 25 20 15 10 5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Estágios FIGURA 7.4. Perfil de extração e reextração de cobre no ensaio contínuo 1. RESULTADOS E DISCUSSÃO 71 A FIG. 7.3 representa a concentração do zinco nas fases aquosa e orgânica ao longo do circuito. Na etapa de extração, observa-se que a curva de concentração deste metal na fase orgânica é pouco ascendente. Isto significa que a extração do zinco ocorre, principalmente, no estágio 2. Na etapa de lavagem, o zinco é pouco removido (aproximadamente 1,5 g/L). A FIG. 7.4 representa a concentração do cobre na fase aquosa e orgânica ao longo do circuito. Na etapa de extração, observa-se que a concentração deste metal na fase orgânica é menor que 1 g/L. Isto indica a preferência do extratante pelo zinco. Na etapa de lavagem, o cobre é praticamente todo removido. Como já dito, anteriormente, objetiva-se realizar a separação Zn/Cu da solução industrial. Neste sentido, deseja-se um rafinado com a menor concentração possível de zinco e um reextrato com baixa concentração de Cu e alta concentração de Zn. A TAB. 7.3 apresenta as concentrações do Zn e Cu no rafinado, no reextrato e no orgânico regenerado, obtidos neste experimento. TABELA 7.3 Resultados obtidos após 30 horas de operação no experimento contínuo 1 Horas Amostra Zn Cu Rafinado 5,5 g/L 30,1 g/L Reextrato 105,8 g/L 0,97 g/L Orgânico regenerado <0,005 g/L <0,005 g/L 30 h A partir da TAB. 7.3, observa-se que a concentração de Cu no reextrato foi baixa. No entanto, o refinado possui um elevado teor de zinco, indesejável no processo. Sendo assim, as condições operacionais usadas foram alteradas com o intuito de diminuir esta concentração. 7.2. Experimento Contínuo 2 Com o intuito de aumentar a extração de zinco, aumentou-se o tempo de residência no estágio de extração e reextração e manteve-se a relação de alimentação. O circuito permaneceu com 2 estágios na etapa de extração, 2 estágios de lavagem e 5 estágios de reextração. RESULTADOS E DISCUSSÃO 72 A correção de pH (pH 2) foi feita nos dois estágios de extração com hidróxido de amônio 3 mol/L. Na lavagem e na reextração, foi utilizado H2SO4 0,1 mol/L e 2 mol/L, respectivamente. As condições operacionais usadas estão apresentadas na TAB. 7.4. Na extração, o 1° estágio corresponde a saída do rafinado e a entrada do orgânico limpo (D2EHPA) e o 2° estágio corresponde à entrada da alimentação (ZnCu 2). Na etapa de lavagem, o 4° estágio corresponde à entrada da solução de lavagem. Na etapa de reextração, o 5° estágio corresponde à saída do reextrato e o 9° estágio corresponde à entrada do reextrante e a saída do orgânico regenerado (FIG. 7.5). FIGURA 7.5. Esquema do circuito do ensaio contínuo 2. RESULTADOS E DISCUSSÃO 73 TABELA 7.4 Condições operacionais do experimento contínuo 2 (EC2) Vazão média Solução Etapa Reagente (mL/min.) Concentração (mol/L) Aquoso Orgânico Tempo de Residência (min.) N° de estágios Extração D2EHPA 1 2,6 4,4 10 2 Lavagem H2SO4 0,1 0,7 4,4 14 2 Reextração H2SO4 2 0,6 4,4 14 5 O experimento contínuo 2 (EC2) teve 32 horas de duração, no qual foram processados 5 litros de solução, aproximadamente. O tempo de residência no misturador na etapa de extração foi de 10 minutos, enquanto na etapa de lavagem e reextração foi de 14 minutos. Para o estágio de extração, a relação de alimentação foi de 0,6 e para a reextração foi de 7,3. Nestas condições, seria possível obter, no estágio de extração, uma fase orgânica carregada com 18 g/L de Zn e, na reextração, um reextrato com 130 g/L de Zn, aproximadamente. A etapa de extração estabilizou-se a partir de 10 horas de operação, sendo que o solvente efluente da etapa de reextração passou a ser recirculado no sistema a partir de 14 horas de operação. Nas FIG. 7.6 e 7.7 são apresentados os perfis de extração para o zinco e cobre, respectivamente. RESULTADOS E DISCUSSÃO 100 74 Extração Re-extração Lavagem 90 Zn (g/L) U3O8 (g/L) 80 Aquoso Orgânico 70 60 50 40 30 20 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Estágios FIGURA 7.6. Perfil de extração e reextração de zinco no ensaio contínuo 2. 40 Extração Lavagem Re-extração 35 Cu (g/L) U3O8 (g/L) 30 25 Aquoso Orgânico 20 15 10 5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Estágios FIGURA 7.7. Perfil de extração e reextração de cobre no ensaio contínuo 2. RESULTADOS E DISCUSSÃO 75 A FIG. 7.6 representa a concentração do zinco nas fases aquosa e orgânica ao longo do circuito. Na etapa de extração, observa-se que a concentração deste metal na fase orgânica é praticamente constante, sendo que a extração do zinco ocorre, principalmente, no estágio 2. Na etapa de lavagem, o zinco é pouco removido (aproximadamente 0,5 g/L). Para a reextração quase completa deste metal são necessários 4 estágios de reextração. A FIG. 7.7 representa a concentração do cobre na fase aquosa e orgânica ao longo do circuito. Na etapa de extração, observa-se que a concentração deste metal na fase orgânica, que circulará nos estágios seguintes, é aproximadamente 1 g/L. Na etapa de lavagem, o cobre extraído é praticamente todo removido. Na etapa de extração, obteve-se um orgânico carregado com 16,2 g/L de Zn e 1,14 g/L de Cu. A concentração dos metais no rafinado, reextrato e orgânico regenerado estão apresentados na TAB. 7.5. TABELA 7.5 Resultados obtidos após 32 horas de operação no experimento contínuo 2 Horas Amostra Zn Cu Rafinado 3,2 g/L 19,0 g/L Reextrato 91,9 g/L 2,7 g/L Orgânico regenerado <0,005 g/L <0,005 g/L 32 h A análise da concentração no rafinado de Zn e Cu foi, respectivamente, 3,2 g/L e 19 g/L. A diluição devido ao uso de NH4OH, para a correção do pH, foi de 1,6 vezes, o que propiciou uma queda na concentração de Zn no rafinado. No entanto, houve um aumento na concentração de Cu no reextrato, indesejável no processo. Sendo assim, as condições operacionais usadas foram alteradas com o intuito de diminuir esta concentração. 7.3. Experimento Contínuo 3 O experimento contínuo 3 (EC3) teve 19 horas de duração, no qual foram processados 5 litros de solução, aproximadamente. Com o intuito de melhorar a extração do zinco e de reduzir o teor de cobre no reextrato, aumentou-se o número de estágios nas etapas de extração e de RESULTADOS E DISCUSSÃO 76 lavagem. Foram utilizados 3 estágios de extração, 3 estágios de lavagem e 5 estágios de reextração. O tempo de residência no misturador, na etapa de extração, foi de 6 minutos e a correção de pH foi feita com gás de amônia 20%, diluído em argônio, como no EC1. Para o estágio de extração, a relação de alimentação foi de 0,6 e para a reextração foi de 7,3. Nestas condições, seria possível obter, no estágio de extração, uma fase orgânica carregada com 18 g/L de Zn e, na reextração, um reextrato com 130 g/L de Zn, aproximadamente. A correção de pH (pH 2) foi feita no 2° e 3° estágios de extração. As condições operacionais usadas estão apresentadas na TAB. 7.6. Na extração, o 3° estágio corresponde à entrada da alimentação (ZnCu 2), o 1° estágio corresponde a saída do rafinado e a entrada do orgânico limpo (D2EHPA). Na etapa de lavagem, o 6° estágio corresponde à entrada da solução de lavagem. Na etapa de reextração, o 7° estágio corresponde à saída do reextrato e o 11° estágio corresponde à entrada do reextrante e a saída do orgânico regenerado. TABELA 7.6 Condições operacionais do experimento contínuo 3 (EC3) Vazão média Solução Etapa Reagente (mL/min.) Concentração (mol/L) Aquoso Orgânico Tempo de Residência (min.) N° de estágios Extração D2EHPA 1 4,4 7,3 6 3 Lavagem H2SO4 0,1 1,2 7,3 8 3 Reextração H2SO4 2 1,0 7,3 8 5 A etapa de extração estabilizou-se a partir de 9 horas de operação, sendo que o solvente efluente da etapa de reextração passou a ser recirculado no sistema a partir de 7 horas de operação. Nas FIG. 7.8 e 7.9 são apresentados os perfis de extração para o zinco e cobre, respectivamente. RESULTADOS E DISCUSSÃO 77 110 Extração 100 90 80 Zn (g/L) U3O8 (g/L) Re-extração Lavagem Aquoso Orgânico 70 60 50 40 30 20 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Estágios FIGURA 7.8. Perfil de extração e reextração de zinco no ensaio contínuo 3. 50 Lavagem Extração 45 Re-extração Cu (g/L) U3O8 (g/L) 40 35 Aquoso Orgânico 30 25 20 15 10 5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Estágios FIGURA 7.9. Perfil de extração e reextração de cobre no ensaio contínuo 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 78 A FIG. 7.8 representa a concentração do zinco nas fases aquosa e orgânica ao longo do circuito. Na etapa de extração, observa-se que a concentração deste metal na fase orgânica é crescente, sendo que a extração do zinco ocorre, principalmente, no estágio 3. Na etapa de lavagem, o zinco é pouco removido (aproximadamente, 1 g/L). A FIG. 7.9 representa a concentração do cobre na fase aquosa e orgânica ao longo do circuito. Na etapa de extração, observa-se que a concentração deste metal na fase orgânica é aproximadamente 1 g/L. Na etapa de lavagem, o cobre é praticamente removido. Neste experimento, obteve-se um orgânico carregado com 15,9 g/L de Zn e 1,11 g/L de Cu na etapa de extração. A concentração dos metais no rafinado, reextrato e orgânico regenerado estão apresentados na TAB. 7.7. TABELA 7.7 Resultados obtidos após 19 horas de operação no experimento contínuo 3 Horas Amostra Zn Cu Rafinado 2,8 g/L 28,9 g/L Reextrato 109,0 g/L 170 μg/mL Orgânico regenerado <0,005 g/L <0,005 g/L 19 h A análise da concentração no rafinado de Zn e Cu foi, respectivamente, 2,8 g/L e 28,9 g/L. Observa-se que o reextrato apresentou uma baixa concentração de cobre e, em relação aos experimentos anteriores, houve uma redução na concentração do Zn no rafinado, porém este ainda permaneceu elevado, o que levou a realização do experimento contínuo 4. 7.4. Experimento Contínuo 4 Com o intuito de diminuir mais a concentração do Cu no reextrato, aumentou-se a vazão do ácido de lavagem. O tempo de residência e a relação de alimentação nos estágios de extração e reextração foram mantidos. O circuito permaneceu com 3 estágios na etapa de extração, 3 estágios na etapa de lavagem e 5 estágios na etapa de reextração. RESULTADOS E DISCUSSÃO 79 A correção de pH (pH 2) foi feita no 2° e 3° estágios de extração com gás de amônia 20%. As condições operacionais usadas estão apresentadas na TAB. 7.8. Na etapa de lavagem, o 6° estágio corresponde à entrada da solução de lavagem. Na extração, o 3° estágio corresponde à entrada da alimentação (ZnCu 2) , o 1° estágio corresponde a saída do rafinado e a entrada do orgânico limpo (D2EHPA). Na etapa de reextração, o 7° estágio corresponde à saída do reextrato e o 11° estágio corresponde à entrada do reextrante e a saída do orgânico regenerado. TABELA 7.8 Condições operacionais do experimento contínuo 4 (EC4) Vazão média Solução Etapa Reagente (mL/min.) Concentração (mol/L) Aquoso Orgânico Tempo de Residência (min.) N° de estágios Extração D2EHPA 1 4,4 7,3 6 3 Lavagem H2SO4 0,1 1,4 7,3 8 3 Reextração H2SO4 2 1,0 7,3 8 5 O experimento contínuo 4 (EC4) teve duração de 13 horas e foram processados aproximadamente 3,5 litros de solução. O tempo de residência no misturador na etapa de extração foi de 6 minutos, enquanto na etapa de lavagem e reextração foi de 8 minutos, aproximadamente. Para o estágio de extração, a relação de alimentação foi de 0,6 e para a reextração foi de 7,3. Nestas condições, seria possível obter, no estágio de extração, uma fase orgânica carregada com 18 g/L de Zn e, na reextração, um reextrato com 130 g/L de Zn, aproximadamente. Nas FIG. 7.10 e 7.11 são apresentados os perfis de extração para o zinco e cobre, respectivamente. Zn (g/L) U3O8 (g/L) RESULTADOS E DISCUSSÃO 130 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 80 Extração Re-extração Lavagem Aquoso Orgânico 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Estágios FIGURA 7.10. Perfil de extração e reextração de zinco no ensaio contínuo 4. 40 Lavagem Extração Re-extração 35 Cu (g/L) U3O8 (g/L) 30 25 Aquoso Orgânico 20 15 10 5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Estágios FIGURA 7.11. Perfil de extração e reextração de cobre no ensaio contínuo 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 81 A FIG. 7.10 representa a concentração do zinco nas fases aquosa e orgânica ao longo do circuito. Na etapa de extração, observa-se que a concentração deste metal na fase orgânica é crescente, sendo que a extração do zinco ocorre, principalmente, no estágio 3. Na etapa de lavagem, a concentração de zinco é praticamente constante. A FIG. 7.11 representa a concentração do cobre na fase aquosa e orgânica ao longo do circuito. Na etapa de extração, observa-se que a concentração deste metal na fase orgânica é aproximadamente 1 g/L. Na etapa de lavagem, o cobre é praticamente removido. Nestas condições, obteve-se um orgânico carregado com 19,3 g/L de Zn e 0,62 g/L de Cu na etapa de extração. A concentração dos metais no rafinado, reextrato e orgânico regenerado estão apresentados na TAB. 7.9. TABELA 7.9 Resultados obtidos após 13 horas de operação no experimento contínuo 4 Horas Amostra Zn Cu Rafinado 0,35 g/L 28,5 g/L Reextrato 125,0 g/L 0,160 g/L Orgânico regenerado <0,005 g/L <0,005 g/L 13 h Observa-se que o reextrato apresentou uma baixa concentração de cobre e o rafinado uma baixa concentração de Zn, desejáveis no processo. Estes resultados indicam uma eficiente separação dos metais Zn/Cu da solução artificial. 7.5. Experimento Contínuo 5 Com o intuito de verificar a extração do Cd, Ni e Co, presentes na solução industrial, foi circulado a solução ZnCu, mantendo-se as condições operacionais anteriores. O experimento contínuo 5 (EC5) teve 13 horas de duração, no qual foram processados 3,5 litros de solução, aproximadamente. O tempo de residência no misturador na etapa de extração foi de 6 minutos, enquanto na etapa de lavagem e reextração foi de 8 minutos, aproximadamente. Para o estágio de extração, a relação de alimentação foi de 0,6 e para a reextração foi de 7,3. Nestas condições, RESULTADOS E DISCUSSÃO 82 seria possível obter, no estágio de extração, uma fase orgânica carregada com 18 g/L de Zn e, na reextração, um reextrato com 130 g/L de Zn, aproximadamente. Nas FIG. 7.12 e 7.13 são Zn (g/L) U3O8 (g/L) apresentados os perfis de extração para o zinco e cobre, respectivamente. 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Re-extração Lavagem Extração Aquoso Orgânico 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Estágios FIGURA 7.12. Perfil de extração e reextração de zinco no ensaio contínuo 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 83 45 Lavagem Extração 40 Re-extração Cu (g/L) U3O8 (g/L) 35 30 Aquoso Orgânico 25 20 15 10 5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Estágios FIGURA 7.13. Perfil de extração e reextração de cobre no ensaio contínuo 5. A FIG. 7.12 representa a concentração do zinco nas fases aquosa e orgânica ao longo do circuito. Na etapa de extração, observa-se que a concentração deste metal na fase orgânica é crescente, sendo que a extração do zinco ocorre, principalmente, no estágio 3. Na etapa de lavagem, o zinco é pouco removido (aproximadamente 1 g/L). A FIG. 7.13 representa a concentração do cobre na fase aquosa e orgânica ao longo do circuito. Na etapa de extração, observa-se que a concentração deste metal na fase orgânica é aproximadamente 1 g/L. Na etapa de lavagem, o cobre é praticamente removido. Neste experimento, obteve-se um orgânico carregado com 14,9 g/L de Zn, 0,36 g/L de Cu, 0,026 g/L de Cd e traços de níquel e cobalto (<0,001 g/L). A concentração dos metais no rafinado, reextrato e orgânico regenerado estão apresentados na TAB. 7.10. RESULTADOS E DISCUSSÃO 84 TABELA 7.10 Resultados obtidos após 13 horas de operação no experimento contínuo 5 Horas 13 h Amostra Zn Cu Cd Ni Co Rafinado 0,49 g/L 28,6 g/L 1,48 g/L 0,08 g/L 0,10 g/L Reextrato 125 g/L 0,05 g/L <0,005 g/L <0,005 g/L <0,005 g/L <0,005 g/L <0,005 g/L <0,001 g/L <0,001 g/L <0,001 g/L Orgânico regenerado Observa-se que o reextrato apresentou uma baixa concentração de cobre, cádmio, níquel e cobalto e o rafinado apresentou uma baixa concentração de Zn, desejáveis no processo. Estes resultados indicam uma eficiente separação dos metais Zn/Cu da solução industrial. 7.6. Balanço de Massas O balanço de massas foi realizado com o intuito de verificar a eficiência do processo e resultados analíticos. Este se baseia no princípio de conservação de massa e por isto, é de grande importância no desenvolvimento de processos hidrometalúrgicos (ROSENQVIST, 1984). 7.6.1. Experimento Contínuo 1 A FIG. 7.14 apresenta de forma esquemática a bateria de células misturador/ decantador utilizada no EC1 com as indicações de fluxos de entrada e saída. RESULTADOS E DISCUSSÃO FIGURA 7.14. Extração por solvente multi-estágio em contracorrente no EC1. Onde: [MAl] = concentração do metal na fase aquosa de alimentação [MRaf] = concentração do metal no rafinado [MLv] = concentração do metal na solução de lavagem [MOi] = concentração do metal no orgânico ao entrar no sistema [MOc] = concentração do metal no orgânico carregado na saída da etapa de lavagem [MOe] = concentração do metal no orgânico esgotado na saída da etapa de reextração [MRx] = concentração do metal no reextrato na saída da etapa de reextração A = vazão da fase aquosa O = vazão da fase orgânica L = vazão da solução de lavagem Rex = vazão do reextratante R = vazão do rafinado M = Zn ou Cu ETAPA DE EXTRAÇÃO Um balanço de massa para os metais na etapa de extração fornece: 85 RESULTADOS E DISCUSSÃO A [MAl] = R [MRaf] + O [MOc] 86 (7.3) Onde: R = A + L Considerando: [ZnAl] = 30 g/L [CuAl] = 38 g/L [ZnRaf] = 5,5 g/L [CuRaf] = 29,7 g/L Tem-se para o metal Zn: 4,4 x 30 = (4,4 + 1,2) x 5,5 + 7,3 [ZnOc] 132 = 30,8 + 7,3 [ZnOc] [ZnOc] = 13,9 g/L Tem-se para o metal Cu: 4,4 x 38 = (4,4 + 1,2) x 29,7 + 7,3 [CuOc] 167,2 = 166,3 + 7,3 [CuOc] [CuOc] = 0,12 g/L ETAPA DE REEXTRAÇÃO O [MOc] = O [MOe] + Rex [MRx] Considerando: [ZnOe] = 0,005 g/L [CuOe] = 0,005 g/L [ZnOc] = 13,9 g/L [CuOc] = 0,12 g/L (7.4) RESULTADOS E DISCUSSÃO 87 Tem-se para o metal Zn: 7,3 x 13,9 = 7,3 x 0,005 + 1,0 [ZnRx] 101,47 = 0,0365 + 1,0 [ZnRx] [ZnRx] = 101,4 g/L Tem-se para o metal Cu: 7,3 x 0,12 = 7,3 x 0,005 + 1,0 [CuRx] 0,876 = 0,0365 + 1,0 [CuRx] [CuRx] = 0,84 g/L Os resultados experimentais forneceram: [ZnOc] = 15,3 g/L [CuOc] = 0,215 g/L [ZnRx] = 105,8 g/L [CuRx] = 0,97 g/L A precisão e a exatidão de uma medida podem ser afetadas por dois tipos de erros: erros determinados e erros indeterminados. Os erros determinados têm causas definidas e não são localizáveis. São eles: erros instrumentais, erros de operação, erros pessoais, erros do método e erros dos reagentes. Já os erros indeterminados representam à incerteza experimental que ocorre em qualquer medida. A influência destes erros no processo pode ser indicada pelo desvio padrão. Como não é possível eliminar todos os erros, o pesquisador deve minimizá-los até um nível tolerável (SILVA e TÓFANI, 2003). A TAB. 7.11 apresenta as análises quantitativas dos elementos de interesse (Zn e Cu) das amostras geradas no EC1 e o balanço de massa realizado para verificar a eficiência do processo. RESULTADOS E DISCUSSÃO 88 TABELA 7.11 Comparação dos resultados obtidos no experimento contínuo 1 Resultados Extração Reextração ZnOc CuOc ZnRx CuRx Análise (g/L) 15,3 0,22 105,8 0,97 Balanço de massa (g/L) 13,9 0,12 101,4 0,84 Desvio padrão (%) 1,0 0,07 3,1 0,09 Considerando como tolerável um erro de 5%, pode-se considerar o balanço de massa global para os metais satisfatório. Isto indica que o processo é eficiente e que o erro do método analítico utilizado possui um nível de insignificância tolerável. 7.6.2. Experimento Contínuo 2 A FIG. 7.15 apresenta de forma esquemática a bateria de células misturador/ decantador utilizada no EC2 com as indicações de fluxos de entrada e saída. FIGURA 7.15. Extração por solvente multi-estágio em contracorrente no EC2. RESULTADOS E DISCUSSÃO 89 Onde: [MAl] = concentração do metal na fase aquosa de alimentação [MRaf] = concentração do metal no rafinado [MLv] = concentração do metal na solução de lavagem [MOi] = concentração do metal no orgânico ao entrar no sistema [MOc] = concentração do metal no orgânico carregado na saída da etapa de extração e lavagem [MOe] = concentração do metal no orgânico carregado na saída da etapa de reextração [MRx] = concentração do metal no reextrato na saída da etapa de reextração A = vazão da fase aquosa O = vazão da fase orgânica L = vazão da solução de lavagem Rex = vazão do reextratante R = vazão do rafinado H = vazão da solução de hidróxido de amônio M = Zn ou Cu ETAPA DE EXTRAÇÃO Um balanço de massa para os metais na etapa de extração fornece: A [MAl] = R [MRaf] + O [MOc] Onde: R = A + L + H Considerando: [ZnAl] = 30 g/L [CuAl] = 38 g/L [ZnRaf] = 3,2 g/L [CuRaf] = 19,7 g/L (7.3) RESULTADOS E DISCUSSÃO 90 Tem-se para o metal Zn: 2,6 x 30 = (2,6 + 0,7 + 1,6) x 3,2 + 4,4 [ZnOc] 78 = 15,7 + 4,4 [ZnOc] [ZnOc] = 14,2 g/L Tem-se para o metal Cu: 2,6 x 38 = (2,6 + 0,7 + 1,6) x 19,7 + 4,4 [CuOc] 98,8 = 96,5 + 4,4 [CuOc] [CuOc] = 0,52 g/L ETAPA DE REEXTRAÇÃO O [MOc] = O [MOe] + Rex [MRx] Considerando: [ZnOe] = 0,280 g/L [CuOe] = 0,013 g/L [ZnOc] = 14,2 g/L [CuOc] = 0,52 g/L Tem-se para o metal Zn: 4,4 x 14,2 = 4,4 x 0,280 + 0,6 [ZnRx] 62,48 = 1,232 + 0,6 [ZnRx] [ZnRx] = 102,1 g/L Tem-se para o metal Cu: 4,4 x 0,52 = 4,4 x 0,013 + 0,6 [CuRx] 2,3 = 0,057 + 0,6 [CuRx] (7.4) RESULTADOS E DISCUSSÃO 91 [CuRx] = 3,7 g/L Os resultados experimentais forneceram: [ZnOc] = 16,2 g/L [CuOc] = 1,1 g/L [ZnRx] = 109,0 g/L [CuRx] = 2,7 g/L A TAB. 7.12 apresenta as análises quantitativas dos elementos de interesse (Zn e Cu) das amostras geradas no EC2 e o balanço de massa realizado para verificar a eficiência do processo. TABELA 7.12 Comparação dos resultados obtidos no experimento contínuo 2 Resultados Extração Reextração ZnOc CuOc ZnRx CuRx Análise (g/L) 16,2 1,1 109,0 2,7 Balanço de massa (g/L) 14,2 0,52 102,1 3,7 Desvio padrão (%) 1,4 0,41 4,9 0,7 Considerando como tolerável um erro de 5%, pode-se considerar o balanço de massa global para os metais satisfatório. Isto indica que o processo é eficiente e que o erro do método analítico utilizado possui um nível de insignificância tolerável. No entanto, para diminuir o erro na etapa de reextração, deve-se medir a vazão do rafinado, diretamente na saída da célula, uma vez que a correção do pH neste experimento foi realizado com solução de NH4OH e não com gás como nos demais. RESULTADOS E DISCUSSÃO 92 7.6.3. Experimento Contínuo 3 A FIG. 7.14 apresentada anteriormente mostra de forma esquemática a bateria de células misturador/ decantador utilizada no EC3 com as indicações de fluxos de entrada e saída. ETAPA DE EXTRAÇÃO Um balanço de massa para os metais na etapa de extração fornece: A [MAl] = R [MRaf] + O [MOc] Onde: R = A + L Considerando: [ZnAl] = 30 g/L [CuAl] = 38 g/L [ZnRaf] = 2,8 g/L [CuRaf] = 29,6 g/L Tem-se para o metal Zn: 4,4 x 30 = (4,4 + 1,2) x 2,8 + 7,3 [ZnOc] 132 = 15,7 + 7,3 [ZnOc] [ZnOc] = 15,9 g/L Tem-se para o metal Cu: 4,4 x 38 = (4,4 + 1,2) x 29,6 + 7,3 [CuOc] 167,2 = 165,72 + 7,3 [CuOc] [CuOc] = 0,20 g/L (7.3) RESULTADOS E DISCUSSÃO 93 ETAPA DE REEXTRAÇÃO O [MOc] = O [MOe] + Rex [MRx] Considerando: [ZnOe] = 0,005 g/L [CuOe] = 0,005 g/L [ZnOc] = 15,9 g/L [CuOc] = 0,20 g/L Tem-se para o metal Zn: 7,3 x 15,9 = 7,3 x 0,005 + 1,0 [ZnRx] 116,1 = 0,0365 + 1,0 [ZnRx] [ZnRx] = 116,0 g/L Tem-se para o metal Cu: 7,3 x 0,20 = 7,3 x 0,005 + 1,0 [CuRx] 2,56 = 0,0365 + 1,0 [CuRx] [CuRx] = 1,4 g/L Os resultados experimentais forneceram: [ZnOc] = 15,9 g/L [CuOc] = 1,11 g/L [ZnRx] = 109,0 g/L [CuRx] = 0,170 g/L (7.4) RESULTADOS E DISCUSSÃO 94 A TAB. 7.13 apresenta as análises quantitativas dos elementos de interesse (Zn e Cu) das amostras geradas no EC3 e o balanço de massa realizado para verificar a eficiência do processo. TABELA 7.13 Comparação dos resultados obtidos no experimento contínuo 3 Resultados Extração Reextração ZnOc CuOc ZnRx CuRx Análise (g/L) 15,9 1,1 109,0 0,2 Balanço de massa (g/L) 15,9 0,2 116,0 1,4 Desvio padrão (%) 0,0 0,6 4,9 0,9 7.6.4. Experimento Contínuo 4 A FIG. 7.14 apresentada anteriormente mostra de forma esquemática a bateria de células misturador/ decantador utilizada no EC4 com as indicações de fluxos de entrada e saída. ETAPA DE EXTRAÇÃO Um balanço de massa para os metais na etapa de extração fornece: A [MAl] = R [MRaf] + O [MOc] Onde: R = A + L Considerando: [ZnAl] = 30 g/L [CuAl] = 38 g/L [ZnRaf] = 0,35 g/L [CuRaf] = 28,5 g/L (7.3) RESULTADOS E DISCUSSÃO 95 Tem-se para o metal Zn: 4,4 x 30 = (4,4 + 1,4) x 0,35 + 7,3 [ZnOc] 132 = 2,03 + 7,3 [ZnOc] [ZnOc] = 17,8 g/L Tem-se para o metal Cu: 4,4 x 38 = (4,4 + 1,4) x 28,5 + 7,3 [CuOc] 167,2 = 165,3 + 7,3 [CuOc] [CuOc] = 0,26 g/L ETAPA DE REEXTRAÇÃO O [MOc] = O [MOe] + Rex [MRx] Considerando: [ZnOe] = 0,005 g/L [CuOe] = 0,005 g/L [ZnOc] = 17,8 g/L [CuOc] = 0,26 g/L Tem-se para o metal Zn: 7,3 x 17,8 = 7,3 x 0,005 + 1,0 [ZnRx] 129,9 = 0,0365 + 1,0 [ZnRx] [ZnRx] = 129,9 g/L Tem-se para o metal Cu: 7,3 x 0,26 = 7,3 x 0,005 + 1,0 [CuRx] (7.4) RESULTADOS E DISCUSSÃO 96 1,9 = 0,0365 + 1,0 [CuRx] [CuRx] = 1,9 g/L Os resultados experimentais forneceram: [ZnOc] = 19,3 g/L [CuOc] = 0,62 g/L [ZnRx] = 125,0 g/L [CuRx] = 0,160 g/L A TAB. 7.14 apresenta as análises quantitativas dos elementos de interesse (Zn e Cu) das amostras geradas no EC4 e o balanço de massa realizado para verificar a eficiência do processo. TABELA 7.14 Comparação dos resultados obtidos no experimento contínuo 4 Resultados Extração Reextração ZnOc CuOc ZnRx CuRx Análise (g/L) 19,3 0,62 125,0 0,16 Balanço de massa (g/L) 17,8 0,26 129,9 1,9 Desvio padrão (%) 1,1 0,25 3,5 1,2 7.6.5. Experimento Contínuo 5 A apresentação esquemática da bateria de células misturador/ decantador utilizada no EC5 com as indicações de fluxos de entrada e saída também corresponde a apresentada na FIG. 7.14. RESULTADOS E DISCUSSÃO 97 ETAPA DE EXTRAÇÃO Um balanço de massa para os metais na etapa de extração fornece: A [MAl] = R [MRaf] + O [MOc] (7.3) Onde: R = A + L Considerando: [ZnAl] = 29,6 g/L [CuAl] = 37,4 g/L [ZnRaf] = 0,49 g/L [CuRaf] = 28,6 g/L Tem-se para o metal Zn: 4,4 x 29,6 = (4,4 + 1,4) x 0,49 + 7,3 [ZnOc] 130,24 = 2,84 + 7,3 [ZnOc] [ZnOc] = 17,5 g/L Tem-se para o metal Cu: 4,4 x 37,4 = (4,4 + 1,4) x 28,3 + 7,3 [CuOc] 164,6 = 164,14 + 7,3 [CuOc] [CuOc] = 0,063 g/L ETAPA DE REEXTRAÇÃO O [MOc] = O [MOe] + Rex [MRx] Considerando: (7.4) RESULTADOS E DISCUSSÃO 98 [ZnOe] = 0,005 g/L [CuOe] = 0,005 g/L [ZnOc] = 17,5 g/L [CuOc] = 0,063 g/L Tem-se para o metal Zn: 7,3 x 17,5 = 7,3 x 0,005 + 1,0 [ZnRx] 127,75 = 0,0365 + 1,0 [ZnRx] [ZnRx] = 127,7 g/L Tem-se para o metal Cu: 7,3 x 0,30 = 7,3 x 0,005 + 1,0 [CuRx] 2,19 = 0,0365 + 1,0 [CuRx] [CuRx] = 2,2 g/L Os resultados experimentais forneceram: [ZnOc] = 14,9 g/L [CuOc] = 0,36 g/L [ZnRx] = 125,0 g/L [CuRx] = 0,050 g/L A TAB. 7.15 apresenta as análises quantitativas dos elementos de interesse (Zn e Cu) das amostras geradas no EC5 e o balanço de massa realizado para verificar a eficiência do processo. RESULTADOS E DISCUSSÃO 99 TABELA 7.15 Comparação dos resultados obtidos no experimento contínuo 5 Resultados Extração Reextração ZnOc CuOc ZnRx CuRx Análise (g/L) 14,9 0,36 125,0 0,050 Balanço de massa (g/L) 17,5 0,063 127,7 2,2 Desvio padrão (%) 1,8 0,21 1,9 1,5 CONCLUSÕES 100 CAPÍTULO 8 8. CONCLUSÕES Com base nas discussões deste trabalho, as conclusões obtidas para o estudo de separação dos metais zinco e cádmio, pela técnica de cementação, a partir do licor sulfúrico ZnCd, proveniente da etapa de lixiviação de um resíduo de indústria de beneficiamento de minério de zinco, são apresentadas a seguir: • Os estudos de cementação do cádmio indicaram a viabilidade técnica da recuperação dos metais zinco e cádmio separadamente; • Todas as variáveis de processo estudadas (temperatura, pH inicial do licor, tempo de reação, concentração de Zn no licor e excesso de pó de zinco metálico) apresentaram efeitos significativos nos níveis estudados; • Devido a alta concentração de cádmio no licor e, consequentemente, a necessidade de adição de quantidade relativamente elevada de pó de zinco para a completa precipitação do Cd, a concentração inicial de zinco no licor deve ser controlada de forma a evitar a supersaturação do íon Zn2+ em solução, evitando assim a pós precipitação do sulfato de zinco. • Na condição de cementação selecionada, ou seja, temperatura de 50°C, 10% de excesso de pó de zinco metálico, duas horas de reação e pH do licor igual a 1,5, foi obtida uma solução de sulfato de zinco, com um teor de 150 g/L de Zn e 0,005 g/L de Cd, passível de alimentar a etapa de eletrólise para a obtenção do zinco metálico, com recuperação do cádmio foi superior a 99,9%. O cádmio metálico obtido apresentou pureza superior a 90%. A partir do estudo de separação dos metais zinco e cobre a partir do licor sulfúrico ZnCu, gerado na etapa de lixiviação de um resíduo proveniente do processamento de minério de zinco, pela técnica de extração por solventes, pode se concluir: CONCLUSÕES • Os extratantes 101 organofosforados selecionados (D2EHPA, IONQUEST®801 e CYANEX®272) apresentaram boa capacidade de separação dos metais Zn/Cu a partir do licor estudado. Já os extratantes quelantes (LIX®63, LIX®948N e LIX®612N-LV) apresentaram uma menor seletividade. • Estudos realizados com o D2EHPA 1 mol/L indicaram o pH de equilíbrio próximo de 2 como o pH de operação ideal para a separação dos metais. O aumento no pH aumenta a extração do cobre, indesejável no processo. • O ácido sulfúrico apresentou boa eficiência na reextração dos metais, sendo que em baixas concentrações do ácido é possível reextrair o cobre enquanto a reextração do zinco requer concentrações mais elevadas. • Os diagramas de McCabe-Thiele indicaram a necessidade de 2 a 3 estágios de misturador/ decantador para as etapas de extração e de reextração. Nos ensaios contínuos observou se a necessidade de 3 estágios de extração e 5 estágios de reextração. O número maior de estágios de reextração teve como objetivo obter um reextrato com teor de zinco superior ao obtido na curva de equilíbrio. • Depois de otimizadas as condições operacionais, foi obtido uma solução rica em zinco (125 g/L de Zn e 0,05 g/L de Cu e traços de Cd, Co e Ni (<0,005 g/L) e outra rica em cobre (28,6 g/L Cu, 0,49 g/L Zn, 1,48 g/L Cd, 0,080 g/L Ni e 0,098 g/L Co). Isto a partir do licor contendo 29,6 g/L Zn, 37,4 g/L Cu, 1,94 g/L Cd, 0,127 g/L Co e 0,100 g/L Ni. O circuito continuo para a separação dos metais foi montado com 3 estágios extração, 3 estágios de lavagem e 5 estágios de reextração. O pH de equilíbrio na etapa de extração foi ajustado em 2 no segundo e terceiro estágios com gás de amônia. No primeiro estágio, o pH ficou próximo de 1,6. • Os resultados indicam viabilidade técnica de recuperar separadamente os metais zinco (Zn) e cobre (Cu) do licor sulfúrico ZnCu, gerado na etapa de lixiviação do resíduos sólido da Companhia Paraibuna de Metais – CPM, com a obtenção de dois produtos de qualidade comercial. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 102 CAPÍTULO 9 9. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS AMOSTRA ZnCd • Estudar a separação de Zn e Cd utilizando a técnica de extração por solvente e comparar a eficiência da técnica com a de cementação utilizada neste trabalho, considerar também os fatores econômicos das duas técnicas. AMOSTRA ZnCu • Precipitar o cobre a partir do reextrato obtido e verificar a pureza do produto final. • Estudar a precipitação por oxi-redução (cementação) do cobre, utilizando pó de zinco metálico e comparar os resultados com os obtidos pela técnica de extração por solventes utilizada neste trabalho. • Realizar ensaios contínuos com os outros extratantes organofosforados (IONQUEST®801, CIANEX®272) para comparar a eficiência dos processos. PUBLICAÇÕES 104 CAPÍTULO 10 10. PUBLICAÇÕES RELACIONADAS AO PRESENTE TRABALHO GOUVEA, L. R.; MORAIS, C. A. Recovery of zinc and cadmium from industrial waste by leaching/cementation. Minerals Engineering, v. 20, p. 956-958, 2007. GOUVEA, L. R.; MORAIS, C. A. Estudo de Separação de zinco e Cobre a Partir de Licor Sulfúrico pela Técnica de Extração Líquido - Líquido. In: XXII Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa - XXII ENTMME, 2007, Ouro Preto/ MG. 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