Importância das atividades de vigilância sanitária de

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A IMPORTÂNCIA DA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS NA REDUÇÃO DE
INFECÇÕES EM SERVIÇOS DE SAÚDE
Daniella Guimarães da Silva1
Carina Rau 2
RESUMO
A infecção hospitalar afeta milhares de doentes em todo o mundo, levando os doentes a doenças
mais graves, prolongando sua permanência nos hospitais e alguns à incapacidade por longos
períodos. Ela ocorre por diversas razões e existem muitos mecanismos que favorecem seu
aparecimento, sendo a principal a transmissão de microrganismos pelos profissionais da área da
saúde aos pacientes. Em todo o mundo, pelo menos 1 de 4 pacientes que necessitam de cuidados
intensivos adquire uma infecção durante sua permanência nos hospitais. Nos países latinoamericanos, essas taxas variam de 5% a 70% e no Brasil, estima-se que entre 6,5% e 15% dos
pacientes internados contraem um ou mais episódios de infecção, e que entre 50.000 e 100.000
óbitos anuais estejam associados a sua ocorrência. Aproximadamente um terço das infecções
hospitalares podem ser prevenidas com medidas de controle à infecção, sendo que, a higienização
das mãos por todos os profissionais de saúde, independentemente de sua importância ou posição,
uma das medidas mais eficazes. Apesar desta constatação da eficiência da higienização das mãos
na prevenção da transmissão de infecções, profissionais de saúde desprezam o valor de uma ação
simples e não compreendem os mecanismos básicos da dinâmica de transmissão das doenças
infecciosas. A higienização das mãos, além de ser uma medida básica e barata, é a maneira mais
eficiente e econômica para a prevenção de infecções nosocomiais e este fato é mundialmente
reconhecido e comprovado por diversos estudos.
Palavras-chaves: Higienização das mãos; infecção hospitalar; serviços de saúde.
ABSTRACT
Hospital infection affects millions of patients worldwide, leading patients to more serious diseases,
prolonging their stay in hospitals and some of the inability for long periods. It occurs for various
reasons and there are many mechanisms that favor its appearance, being the main transmission of
microorganisms by health professionals to patients. Worldwide, at least one of four patients requiring
intensive care acquires an infection during their stay in hospital. In Latin American countries, these
rates vary from 5% to 70% and in Brazil, it is estimated that between 6.5% and 15% of hospitalized
patients contract one or more episodes of infection, and that between 50,000 and 100,000 deaths
annually are associated with its occurrence. Approximately one third of nosocomial infections can be
prevented with measures to control infection, and that hand hygiene by all healthcare professionals,
regardless of their size or position, one of the most effective measures. Despite this evidence of the
effectiveness of hand hygiene in preventing the transmission of infections, health professionals
dismiss the value of a simple action and do not understand the basic mechanisms of the transmission
dynamics of infectious diseases. Hand hygiene, as well as a basic and inexpensive, is the most
efficient and economical for the prevention of nosocomial infections and this fact is recognized
worldwide and proven by several studies.
Keywords: Hand hygiene; hospital infection; healthcare.
1
Farmacêutica. Aluna do curso de Pós-graduação em Vigilância Sanitária do Instituto de Estudos
Farmacêuticos e da PUC/Goiás. E-mail: [email protected]
2
Orientadora: Farmacêutica Industrial graduada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR);
Mestre em Ciências Farmacêuticas pela UFPR. Professora do Curso de Farmácia do Centro
Universitário Campos de Andrade (UNIANDRADE). E-mail: [email protected]
1. INTRODUÇÃO
A infecção hospitalar é um tema antigo e recorrente nos seminários e
congressos de diversas áreas da saúde no Brasil e no mundo. Sempre são
apresentados novos estudos ou direcionamentos para evitar ou minimizar infecção
hospitalar. Manuais também são desenvolvidos em diversas instituições como
hospitais públicos e particulares, Ministério da Saúde e Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) (SANTOS, 2002; ANVISA, 2007).
Infecções hospitalares afetam milhares de doentes em todo o mundo, em
todos os anos levando os doentes a doenças mais graves, prolongando sua
permanência nos hospitais e alguns à incapacidade por longos períodos (OMS,
2005).
As infecções hospitalares têm, normalmente, uma origem multifacetada e
estão relacionadas aos sistemas e processos de prestação de assistência à saúde,
ao comportamento humano condicionado pela educação e limitações econômicas e
políticas dos países (OMS, 2005). Elas ocorrem por diversas razões e existem
muitos mecanismos que favorecem seu aparecimento, sendo a principal a
transmissão de microrganismos pelos profissionais da área da saúde aos pacientes.
Essa transmissão pode ser realizada direta ou indiretamente e a maior parte da
transmissão aos pacientes vulneráveis é de microrganismos patogênicos (RICKARD,
2004; FÉLIX, 2009).
O Ministério da Saúde define infecção hospitalar como “aquela infecção
adquirida, institucional ou nosocomial, após a admissão do paciente na
unidade hospitalar e que se manifesta durante a internação ou após a alta,
quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos
hospitalares” (BRASIL, 1989b).
O agrupamento de hospitais que aconteceu com o passar dos séculos
agravou a problemática da infecção hospitalar. Inicialmente essas instituições eram
tidas como casas de caridade, na medida em que se restringiam a atender inválidos
e excluídos, posteriormente passaram a ser locais de cura, favorecendo o
conhecimento do corpo biológico. Entretanto, a conduta e a postura dos profissionais
de saúde interferem nos mecanismos naturais de defesa orgânica, favorecendo a
aquisição de infecções hospitalares (DANTAS et al., 2010). Diversos especialistas
acreditam que aproximadamente um terço das infecções hospitalares podem ser
prevenidas com medidas de controle à infecção, sendo que uma destas medidas é a
adequada higiene das mãos (RICKARD, 2004; FÉLIX, 2009).
Mesmo depois de muitas décadas e diversos cientistas e filósofos
comprovarem e defenderem a causa da assepsia e higienização das mãos como
uma das medidas mais eficazes na prevenção da transmissão da infecção
hospitalar, profissionais de saúde, independentemente de importância ou posição,
continuam ignorando o valor de um gesto tão simples e não compreendem os
mecanismos básicos da dinâmica de transmissão das infecções hospitalares
(SANTOS, 2002; STONE et al., 2007).
De acordo com o exposto, o objetivo deste artigo é mostrar a importância da
higienização das mãos e sua assepsia em serviços de saúde, incluindo hospitais,
para evitar infecções.
2. METODOLOGIA
Foi realizada uma pesquisa bibliográfica de caráter retrospectivo de temas
relacionados a infecção hospitalar nas bases de dados eletrônicas biblioteca virtual
em saúde; Trip Database, Pubmed e Google. A pesquisa foi realizada no período de
julho a setembro de 2012.
Os termos utilizados na pesquisa foram: infecção hospitalar; hospital
infection; infecção hospitalar lavagem de mãos; wash hands of hospital infection;
infecções em hospitais; infections in hospitals; definição em infecções hospitalares;
setting of hospital infections.
Também foi realizada uma busca no site da ANVISA por publicações
relacionadas à infecção hospitalar e lavagem das mãos.
Os critério de seleção dos artigos foram: abordagem temática do assunto;
artigos que estavam disponibilizados completos e data do artigo. Foram descartados
artigos disponibilizados apenas na forma de resumo, aqueles que eram pagos,
artigos que não tinham como abordagem temática infecção hospitalar e de anos
inferiores a 2000 (somente artigos dos últimos 12 anos).
3. DISCUSSÃO
As infecções podem ser classificadas como maiores causas de morte de
todas as idades, principalmente entre os membros mais vulneráveis da população.
Quanto mais doente está o paciente, maior o risco de adquirir uma infecção
associada com cuidados de saúde e de morrer por causa dela (OMS, 2009).
Estudos epidemiológicos na área de infecção hospitalar têm-se destacado
nos últimos anos. Segundo Couto e colaboradores (2003), entende-se como
prevalência de infecção a proporção da população que tem o evento ou doença de
interesse em um determinado momento ou período de tempo específico, e também
aponta algumas fontes que podem influenciar nesses resultados. Esses índices
podem aumentar com a maior duração da doença, aumento da sobrevida e da
incidência, imigração de casos e a emigração de indivíduos sadios, assim como a
mudança do método diagnóstico (COUTO et al., 2003; SANTOS et al., 2008).
Em todo o mundo, pelo menos 1 de 4 pacientes que necessitam de cuidados
intensivos adquire uma infecção durante sua permanência nos hospitais. Nos países
em desenvolvimento, esta estimativa pode ser duplicada e todos os dias, 4.384
crianças morrem em consequência de infecções (OMS, 2009).
Um estudo de prevalência de infecções hospitalares conduzido sob
coordenação da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 55 hospitais de 14
países, representando quatro regiões da OMS (Sudeste da Ásia, Europa,
Mediterrâneo Oriental e Pacífico Ocidental) revelou que, em média, 8,7% dos
doentes em hospitais sofrem infecções nosocomiais. A todo o momento, 1,4 milhões
de pessoas em todo o mundo sofrem de complicações de infecções relacionadas à
assistência a saúde. No Reino Unido, mais de 320 mil pacientes adquirem uma ou
mais infecções associadas relacionadas à assistência a saúde durante sua
permanência no hospital (OMS, 2005; OMS, 2009).
Estudos de ocorrência de infecção hospitalar são importantes, na medida em
que são causas frequentes de complicações e morte. Cerca de 5% dos pacientes
admitidos em hospitais gerais contraem infecção durante a internação, nos países
desenvolvidos. As estatísticas internacionais de incidência mostravam na década de
80 taxas variáveis de 3,5 a 15,5%, com letalidade entre 13% a 17%, nos Estados
Unidos, e uma prevalência de 9,2% nessa mesma década no Reino Unido (BRASIL,
1998a; BRASIL, 1998b; OMS, 2009).
Já nos países latino-americanos, essas taxas variavam de 5% a 70%. No
Brasil, apesar de não existirem estatísticas nacionais que revelem a magnitude real
do problema, estima-se que entre 6,5% e 15% dos pacientes internados contraem
um ou mais episódios de infecção, e que entre 50.000 e 100.000 óbitos anuais
estejam associados a sua ocorrência (BRASIL, 1998a; OMS, 2009).
As infecções relacionadas à assistência a saúde na atenção neonatal são a
principal causa de doenças graves e morte. As taxas de prevalência de infecções no
Brasil são de 30%, nos países europeus de 7 a 19%, e nos EUA, taxa de 14%. De
acordo com dados da OMS, no Brasil e na Indonésia, mais da metade dos neonatos
admitidos em unidades neonatais adquire infecções associadas à assistência a
saúde, com uma taxa de letalidade entre 12% e 52%. Em países desenvolvidos, por
sua vez, a taxa de infecções hospitalares é 12 vezes menor (OMS, 2005; OMS,
2009).
As infecções hospitalares infligem altos custos inesperados aos doentes e
suas famílias como também levam a uma pesada carga financeira adicional sobre os
sistemas de assistência a saúde e por último, mas não menos importantes
contribuem para mortes desnecessárias de doentes (OMS, 2005).
Os custos dessas infecções impõem um encarecimento do atendimento, na
medida em que aumentam os custos diretos com gastos da terapêutica,
principalmente com novos antibióticos, permanência hospitalar e da morbimortalidade (BRASIL,1998a; BRASIL, 1998b; OMS, 2009).
As Infecções hospitalares aumentam também os custos indiretos que estão
relacionados às despesas com os pacientes atingidos pelas infecções como
afastamento de trabalho, sequelas de doença ou mesmo morte e os custos que são
impossíveis de serem medidos economicamente como distúrbios provocados pela
dor, mal-estar, isolamento, angústia e pelo sofrimento experimentado pelo paciente
no ambiente hospitalar (BRASIL,1998a; BRASIL. 1998b; OMS, 2009).
No Brasil o custo de tratamento de pacientes com infecção é três vezes
maior que o custo dos clientes sem infecção. Os índices de infecções hospitalares
permanecem altos, 15,5%, o que corresponde a 1,18% episódios de infecção por
cliente internado com infecção hospitalar nos hospitais brasileiros (SANTOS, 2002;
STONE et al., 2007).
Nessa perspectiva, a infecção hospitalar representa importante problema de
saúde pública, tanto no Brasil quanto no mundo e constitui risco à saúde dos
usuários dos hospitais que se submetem a procedimentos terapêuticos ou de
diagnóstico. Sua prevenção e controle dependem, em grande parte, da adesão dos
profissionais da área da saúde às medidas preventivas (BRASIL,1998a; BRASIL,
1998b; OMS, 2009).
A maioria das mortes e sofrimentos de doentes atribuíveis a infecções
relacionadas à assistência à saúde pode ser evitada. Já existem práticas simples e
de baixo custo para evitar estas infecções. A higienização das mãos, uma ação
muito simples, que continua sendo a principal medida para reduzir as infecções
relacionadas à assistência à saúde e a disseminação da resistência microbiana, o
que aumentaria a segurança do paciente em todos os ambientes (SANTOS, 2002;
STONE et al., 2007). Apesar disto, a observância da higienização das mãos ainda é
muito baixa em todo o mundo, portanto os governos deveriam garantir que a
promoção desta prática recebesse atenção e financiamento suficientes para ser bem
sucedida (OMS, 2005). Em 1988, Larson revisou 423 artigos publicados entre 1879
e 1986, sendo que metade desses trabalhos (50,8%) avaliava produtos para a
higienização da pele e 10,9% apresentavam estudos sobre comportamento, sendo
detectado um aumento de artigos que tinham como tema infecção hospitalares,
principalmente na década 80, onde se produziu o maior número de artigos
(SANTOS, 2002; STONE et al., 2007).
Atualmente o termo “lavagem das mãos” foi substituído por “higienização
das mãos” por abranger além da higienização das mãos, higienização antisséptica,
fricção antisséptica e antisséptica cirúrgica das mãos (ANVISA, 2007; SANTOS et
al., 2008).
Muitas publicações científicas demonstram a correlação entre a higienização
das mãos e a redução na transmissão de infecções. Este estudos têm mostrado a
importância da implementação de práticas de higienização das mãos na redução
das taxas de infecções. Estes estudos são ferramentas importantes para demonstrar
a consistência das indicações científicas, também, sobre este tema (SANTOS, 2002;
STONE et al., 2007).
Estudo realizado por Ignaz Philipp Semmelweis estabeleceu a primeira
evidência científica de que a lavagem das mãos pudesse evitar a transmissão da
febre puerperal, ao utilizar uma solução de água clorada e sabão para a lavagem
das mãos dos profissionais que prestassem cuidados aos pacientes, onde se
conseguiu reduzir de 18,27 para 3,07% o número dessas infecções, dentro de dois
meses na unidade de saúde (BRASIL, 1989).
A higienização das mãos, além de ser uma medida básica e barata, é a
maneira mais eficiente e econômica para a prevenção de infecções nosocomiais e
este fato é mundialmente reconhecido. Afinal, as mãos são o principal meio de
transmissão de infecções hospitalares e esta deve ser realizada antes e após
qualquer procedimento empregado na assistência ao paciente (CDC, 2002;
SANTOS, 2002; OMS, 2005; ANVISA, 2007; FÉLIX, 2009).
Esta higienização é importante, pois a pele como um possível reservatório
de diversos micro-organismos é a principal via de transmissão por contato direto, de
pele a pele ou por contato indireto, por contato com objetos e superfícies
contaminadas (ANVISA, 2007).
A eficácia da higienização das mãos depende da duração do procedimento e
da utilização de técnica correta e tem como principal objetivo a remoção da maior
quantidade de micro organismos da flora transitória e de alguns da flora residente,
de pelos, de células descamativas, de suor, de sujidade e de oleosidade (ANVISA,
2009).
O Governo brasileiro tem dado grande importância para a higienização das
mãos, por meio da publicação das seguintes legislações: Portaria 2616/1998 e RDC
50 de 21 de fevereiro 2002, que instrui sobre o Programa de Controle de Infecções
Hospitalares elaborado pelas Comissões de Controle das Infecções Hospitalares
nos estabelecimentos de assistência à saúde no País (SANTOS, 2002; ANVISA,
2007; SANTOS et al., 2008).
Além das legislações acima citadas, o Ministério da Saúde, em 1989, editou
o manual de “Lavar as mãos”, com o objetivo de normatizar essa técnica nas
unidades de saúde brasileiras, proporcionando aos profissionais de saúde subsídios
técnicos relativos às normas e aos procedimentos para lavar as mãos corretamente,
visando à prevenção das infecções hospitalares (FÉLIX, 2009; ANVISA, 2010).
Outra iniciativa do Ministério da Saúde para diminuir a infecção hospitalar, foi
a publicação da portaria no 2.616 em 1998, que em seu anexo IV descreve
recomendações gerais, sobre a higienização das mãos, a serem seguidas nas
unidades de saúde. Dentre as orientações sobre a higienização das mãos podemos
citar: a forma de como deve ser realizada; a importância da realização da
higienização das mãos apenas com água e sabão; quando deve ser realizada;
quando deve ser incorporada a higienização antisséptica; dentre outros (BRASIL,
1998b).
A OMS também tem dedicado esforços na elaboração de diretrizes e
estratégias de implantação de medidas visando à adesão à prática de higienização
das mãos (ANVISA, 2007; SANTOS et al., 2008).
Os profissionais de saúde mesmo com a constatação da importância da
higienização das mãos na prevenção da transmissão de infecções, desprezam o
valor de uma ação simples e não compreendem os mecanismos básicos da
dinâmica de transmissão das doenças infecciosas (SANTOS et al., 2008). A
negligência dos profissionais de saúde em não adotar a prática da higienização das
mãos com frequência, mesmo sendo um procedimento simples e barato, é um
problema mundial. Os dados da OMS sugerem que essa baixa adesão dos
profissionais está relacionada à incorporação a pratica diária e ao hábito, e não a
falta de conhecimento teórico (PRIMO, 2010).
Em estudo realizado em 2006, foram observados 1.530 procedimentos que
necessitavam higienização das mãos. Foi realizada uma intervenção na equipe de
profissionais de saúde, onde se obteve um aumento da adesão nos procedimentos
de lavagem de mão de 8% para 49% (aumento da adesão de mais de 500%), o que
levou a um importante impacto na taxa de infecção hospitalar (3,76 episódios de
infecção hospitalar/1000 pacientes/dia para 1,58) (CARVALHO, 2007).
Diversos fatores influenciam na adesão as práticas de higienização das
mãos pelos profissionais de saúde. Dentre os fatores podemos citar: a falta ou
excesso de pessoal nas unidades de saúde que pode resultar em descontrole da
rotina, fazendo com que o profissional de saúde esqueça medidas básicas de
higiene; o uso de jaleco e luvas que dão a sensação de limpeza das mãos; falta de
estrutura adequada nas unidades de saúde, como falta de pias automatizadas que
diminuem o contato das mãos com material contaminado; concentração do trabalho
durante a semana, elevando a carga de trabalho dos profissionais de saúde em
apenas um período; concentração de diferentes atividades, com alto risco de
contaminação em um mesmo profissional de saúde e a contratação de profissionais
inadequados para determinadas atividades (OMS, 2005; OMS, 2009).
A OMS também identificou outros fatores e novas barreiras, relatados
espontaneamente pelos profissionais de saúde, como responsáveis pela baixa
adesão a higienização das mãos (Anexo B) (OMS, 2005).
A higienização das mãos pode ser realizada com a utilização de sabão
antimicrobiano, álcool gel ou apenas água e sabão. Diversos estudiosos defendem a
utilização de sabão antimicrobiano ou álcool gel, estratégia esta também utilizada
pelo próprio Governo Federal em episódios como a gripe provocada pelo H1N1
(CARVALHO, 2007). Mesmo sabendo que a utilização de sabão antimicrobiano ou
álcool gel higieniza as mãos, estudos comprovaram que a limpeza não é completa,
ou seja, mesmo após a lavagem das mãos persiste número substancial de
patógenos nas mãos de profissionais de saúde (FÉLIX, 2009).
Outros autores defendem que o uso de água e sabão nas mãos, apesar de
não eliminar a flora microbiana transitória, reduz a residente e, na maioria das vezes,
interrompe a cadeia de transmissão de doenças (SANTOS, 2002; ANVISA 2007). A
técnica de higienização de mãos recomendada pela OMS encontra-se no Anexo A,
no fim deste trabalho.
4. CONCLUSÃO
A redução de infecção hospitalar está ligada a diversos fatores, dentre eles,
e o mais importante e barato, é a higienização das mãos, que apesar de não retirar
completamente todos os micro-organismos, diminui substancialmente esse número,
favorecendo o não surgimento de infecção hospitalar.
Estudos experimentais e não experimentais relacionados à lavagem das
mãos foram revisados para verificar evidências de associação entre lavagem das
mãos e redução de infecções, onde se conclui a importância da lavagem das mãos
para redução da infecção hospitalar e que a permanência da mesma é pertinente e
deve ser mantida. Outros estudos bem conduzidos mostram a importância da prática
de higienização das mãos para redução das taxas de infecções hospitalares e a
maioria absoluta dos especialistas em controle de infecções concorda que esse
procedimento é o meio mais simples e eficaz de prevenir a transmissão de
microrganismos no ambiente assistencial.
De acordo com o Ministério da Saúde, os profissionais que trabalham em
serviços de saúde, devem adotar em suas práticas diárias as recomendações
básicas de higienização das mãos, o uso de luvas e que as ações educativas são
importantes e necessárias para aumentar a adesão dos profissionais de saúde à
higienização.
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ANEXO A – TÉCNICA DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS DA ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE (OMS, 2005)
Com a mão em forma de concha, encha-a com o produto e espalhe-o por
toda a superfície das mãos;
Esfregue as palmas das mãos;
Esfregue a palma da mão direita sobre o dorso da mão esquerda com dedos
entrelaçados e vice versa;
Palma com palma com os dedos entrelaçados;
As costas dos dedos virados para a palma da mão oposta com os dedos
presos uns aos outros;
Movimentos de rotação do polegar esquerdo esfregando as costas da mão
direita e vice versa;
Movimentos de rotação, esfregando para trás e para frente, com os dedos da
mão direita unidos esfregando a palma da mão esquerda e vice versa… depois de
secas, suas mãos estão seguras.
TÉCNICA DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS COM ÁGUA E SABÃO, MODIFICADA
DE ACORDO COM EN1500 (OMS, 2005)
Molhe as mãos com água;
Aplique sabão suficiente para cobrir toda a superfície das mãos;
Esfregue as mãos palma com palma;
Palma da mão direita sobre o dorso da mão esquerda com dedos
entrelaçados e vice versa;
Palma com palma com os dedos entrelaçados;
As costas dos dedos virados para a palma da mão oposta com os dedos
presos uns aos outros;
Rotação do polegar esquerdo esfregando as costas da mão direita e vice
versa;
Rotação esfregando para trás e para frente com os dedos da mão direita
unidos esfregando a palma da mão esquerda e vice versa;
Enxágue com água;
Seque as mãos com uma toalha descartável e use a toalha para fechar a
torneira.
ANEXO B – OS PRINCIPAIS FATORES QUE INFLUENCIAM A ADESÃO A
PRÁTICAS RECOMENDADAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS (OMS, 2005)
Fatores de risco observados para baixa adesão:
trabalho no tratamento intensivo;
trabalho durante a semana (em relação ao de fim de semana);
uso de jalecos e luvas;
pia automatizada;
Atividades de alto risco de contaminação cruzada;
Falta ou excesso de pessoal;
Alto número de oportunidades para higienização das mãos por hora de
cuidado de doentes;
Cargo de auxiliar de enfermagem (em vez de enfermeiro);
Cargo de médico (em vez de enfermeiro)
Fatores relatados espontaneamente para a baixa adesão:
Produtos de higienização das mãos provocam irritações e secura;
Pias estão localizadas em locais inconvenientes ou faltam pias;
Falta de sabão, papel descartável e toalha;
Normalmente há falta de tempo ou a pressa é grande;
As necessidades do paciente exigem prioridade;
A higienização das mãos interfere no relacionamento do profissional de
saúde com o paciente;
Baixo risco de contrair infecções de pacientes;
O uso de luvas ou a crença de que o uso de luvas torna desnecessário
a higienização das mãos;
Falta de conhecimento de diretrizes e protocolos;
Não pensa sobre isso, esquecimento;
Não tem o exemplo dos colegas ou superiores;
Ceticismo sobre o valor da higienização das mãos;
Discorda das recomendações;
Falta informação científica sobre o impacto definitivo da melhoria da
higienização das mãos nas taxas de infecção relacionada à assistência à
saúde.
Barreiras adicionais percebidas para a higienização adequada das mãos:
Falta de participação ativa na promoção da higienização das mãos a
nível individual ou institucional;
Falta de um modelo padrão para higienização das mãos;
Falta de prioridade institucional para a higienização das mãos;
Falta de sanção administrativa a não cumpridores das normas/
recompensa a cumpridores das normas;
Falta ambiente de segurança institucional.
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