Capítulo 21 Estrutura e Fuuções do Cerebelo 1.0 — Generalidades O cerebelo e o cérebro são os dois órgãos que constituem o sistema nervoso suprasegmentar. Têm, pois, uma organização bastante semelhante e comple tamente diferente dos órgãos do sistema nervoso seg. mentar. Assim, tanto o cerebelo como o cérebro apre sentam um córtex que envolve um centro de substân cia branca (o centro medular do cérebro e o corpo medular do cerebelo), onde são observadas massas de substância cinzenta (os núcleos centrais do cere belo e os núcleos da base do cérebro) Entretanto, ve remos que a estrutura fina do cérebro é muito mais complexa que a do cerebelo. o cerebelo difere do cérebro porque funciona sempre em nível involun tário e inconsciente, sendo sua atividade exclusiva- mente motofa. 2.0 — Citoarquitetura do córtex cerebelar A citoarquitetura do córtex cerebelar, ao contrário da cerebral, é basicamente a mesma em todas as fo lhas e lóbulos. Distinguem-se três camadas (figs. 21.1, 21.2) que são da superfície para o interior do órgão a) camada molecular; b) camada de células de Purkinje; c) camada granular. Iniciaremos pelo estudo da camada média formada por uma fileira de células de Purkinje, que são os ele mentos mais importantes do cerebelo. As células de Purkínje são piriformes e grandes, (fig. 21.2), sendo dotadas de dendritos que se ramificam na camada mo lecular, e um axônio que sai em direção oposta (fig. 21.3), terminando nos núcleos centrais do cerebelo. A camada molecular é formada principalmente por fi bras, existindo poucos neurônios• Destes os mais importantes são as chamadas células em cesto. O axô nio destas células tem direção paralela à superfície da folha cerebelar, sendo, pois, perpendicular ao eixo de cada folha. Cada axônio emite uma série de cola terais em ângulo reto que se ramific em torno do corpo das células de Purkin englobando-a à maneira de um cesto. Deste modo o axônio da célula em cesto une várias células de Purkinje no plano perpendicular ao eixo da folha (fig. 21.3). A camada granular é constituída principalmente pelas células granulares ou grânulos do cerebelo, célu las muito pequenas (as menores do corpo humano), cujo citoplasmá é muito reduzido (fig. 21.2). Estas células têm vários dendrítos e um axônio que atraves sa a camada de células de Purkinje e, ao atingir a ca mada molecular, bifurca-se em T (fig. 21 .3) - Os ra mos resultantes desta bifurcação constituem as chama das fibras paralelas, que se dispõem paralelamente ao eixo da folha. Estas fibras estabelecem sinapses com os dendritos das células de Purkinje dispostas ao lon go do eixo da folha cerebelar, lembrando a disposição dos fios nos postes telegráficos (fig. 21.3) - As fi bras paralelas também fazem sinapse com os dendri tos das células em cesto, e deste modo cada célula granular faz sinapse com um grande número de célu las de Purkinje e de células em cesto. O número de grânulos do cerebelo é muito grande, tendo sido esti 180 CAPITULO XXI mado em 500 bilhões. Na camada granular existe, ainda, um outro tipo de neurônio, as células de Colgi, com ramificações muito amplas. Estas células entre tanto, são menos numerosas que as granulares. 3.0 — Circuitos intrínsecos do cerebelo (fig. 21.3) As fibras que penetram no cerebelo dirigem-se ao córtex e são de dois tipos, fibras musgosas e fibras trepadeiras. Sabe-se hoje, que estas últimas são axô nios de neurônios situados no complexo olivar inferior, enquanto as fibras musgosas representam a terminação dos demais feixes de fibras que penetram no cerebe lo. As fibras trepadeiras têm este nome porque term nam enrolando-se em torno dos dendritos das células de Purkinje, sobre as quais exercem uma potente ação excitadora. As fibras musgosas ramificam-se ampla mente para terminar, fazendo sinapses axo-dendríticas com um grande número de células granulares. Assim, os impulsos nervosos que penetram no cerebelo pelas fibras musgosas chegam à camada molecular através do axônio da célula granular e seus ramos de bifurca ção, as fibras paralelas. Por meio destas os impulsos passam aos dentritos das células de Purkinje situadas ao longo do eixo da folha cerebelar. Passam também às células em cesto, cujo axônio faz sinapse com o corpo das células de Purkinje, situadas perpendicular- mente ao eixo da folha. Sabe-se, hoje, que as células em cesto exercem uma ação inibidora sobre as célu las de Purkinje. Assim, na superfície do cerebelo exis tem grupos de células de Purkinje dispostas longitudi nalmente que são ativados por feixes de fibras parate las e separadas por zonas de células de Purkinje Inibi das pela ação das células em cesto. Os impulsos ori ginados nas células de Purkinje ganham os núcleos centrais de onde saem pelas fibras eferente do cere belo. Em síntese, os impulsos extracerebelares ganham o córtex por meio das fibras musgosas, ou trepadeiras, e após complexos circuitos intracorticais excitadores e inibidores, a resposta cortical emerge através do axô nio das células de Purkinje, ganha os núcleos centrais de onde sai do cerebelo através de suas vias eferen tes. (*)• 4.0 — Núcleos centrais e corpo medular do cerebelo (fig. 21.4) lo: São os seguintes os núcleos centrais do cerebe a) núcleo denteado b) núcleo emboliforme c) núcleo globoso d) núcleo fastigial. O núcleo fastigial localiza-se próximo ao piano me diano, em relação com o ponto mais alto do tecto do IV ventrículo. 0 núcleo denteado é o maior dos nú cleos centrais do cerebelo; assemelha-se ao núcleo olivar inferior e localiza-se mais lateralmente (fig. 21.4). Entre os núcleos fastigal e denteado localizam- se os núcleos globoso e emboliforme. Estes dois nú cleos são bastante semelhantes do ponto de vista fun cional e estrutural, sendo frequentemente agrupados com o nome de núcleo interpésito. Dos núcleos centrais saem as fibras eferentes do cerebelo e neles chegam os axônios das células de Pur kinje. O núcleo fastigial recebe predominantemente os axônios das células de Purkinje do córtex do arquicere belo; o interpósito, do paleocerebelo, e o denteado, do () O estudo feito da citoarquitetura e conexões in trínsecas do córtex cerebelar foi propositaimente simplificado. Para maiores detalhes veja Eccies et. ai. — 1967 — The cerebelium as a neuronai machine, Springer Verlag, Berlin. Fig. 21.2 — Fotomicrogratia de um -Fig. 21.1 — Fotomicrografia de um corte histoiógi-co de cerebelo mostrando as células de Purklnje co de três folhas do cerebelo, mostrando as cama- (setas) - CM = camada molecular; CG = camada das (Tricrômico de Gomori, aumento 40 x). granular (Tricrômfco de Gomori, aumento 150 x). Fig. 21.4 — Secção horizontal Roberts, Brown). neocerebelo. Pode-se, pois, didaticamente, considerar os núcleos denteado, interpósito e fastigial como per tencendo, respectivamente, ao neo, páleo e arquicere belo. O corpo medular do cerebelo é constituído de substância branca e formado de fibras mielínicas que sao: a) fibras aferentes ao cerebelo que se dirigem ao córtex onde perdem a bainha mielínica; b) fibras formadas pelos axônios das células de Purkinje que se dirigem aos núcleos centrais e que, ao sair do córtex, tornam-se mi cas; c) fibras de associação, ligando diferentes áreas do cúrtex, e que são consideradas como sendo ramos colaterais dos axônios das células de Purkinje. Ao contrário do que ocorre no cé rebro, no cerebelo estas fibras são pouco numerosas e contribuem pquco para a forma ção do corpo medular. 5.0 — Conexões extrínsecas do cerebelo Estudaremos agora as conexões que o cerebelo mantém com as diversas áreas do sistema nervoso central. Convém assinalar, desde já, que o cerebelo nunca age diretamente sobre os neurônios motores, mas sempre através de um relé intermediário (como o núcleo vermelho, a formação reticular etc), que pode modificar a ação cerebelar. Deste modo, nosso estu do compreenderá também as vias que ligam estes nú cleos relés aos neurônios motores. Estudaremos sepa radamente as conexões do arqui, páleo e neocerebelc 5.1 — Conexões do arquicerehelo (fig. 16.1) O córtex do lobo floculonodular ou arquicerebel recebe fibras que chegam dos núcleos vestibulares p lo fascículo vestíbulo.cerebelar.. Os axônios das céli las de Purkinje do arquicerebelo fazem sinapse no ni cleo fastigial de onde sai o tracto fastígio-bulbar co dois ttpos de fibras, fastígio-vestibulares e fastígio-r ticulares. As primeiras fazem sinapse nos núcleos ve tibulares de onde os impulsos nervosos projetam- nos neurônios motores através do tracto vestíbulo-e pinhal; as segundas terminam na formação rtticul de onde os impulsos atingem os neurônios motor pelo tracto retículo-espinhal. Lembremos que est dois tractos pertencem ao sistema extrapiramidal. Por meio de suas conexões aferentes o arquicei belo recebe impulsos que informam sobre a posiç da cabeça, estes impulsos são integrados no cereb e a resposta cerebelar se projeta sobre os neurôn motores no sentido da manutenção do equilíbrio. das as conexões do arquicerebelo se fazem pelo dúnculo cerebelar inferior e estão esquematizado seguir: 182 CAPITULO XXI Núcleo emboliforme — — — — — — — — Corpo medular do cerebelo — fastigial / / ——Nücleo denteado — .1 Núcleo globoso — — — — — — / / / \ \ — — ——Vermis do cerebel do cerebelo mostrando os núcleos centrais (Método de Barnard. ESTRUTURA FUNÇÕES DO CEREBELO 183 Conexões aferentes fascículo vestíbulo-cerebelar. Conexões eterentes (tracto fastígio-bulbar) a) fibras fastígio-veatibulares — tracto vestibu J lo-espinhal; 1 b) fibras fastígio-reticulares — tracto retículo L espinhal. 5.2 — Conexões do paleocerebelo (fig. 21.5) As principais conexões aferentes do paleocerebelo chegam pelos tractos espino-cerebelar anterior e espi. no-cerebelar posterior, que entram, respectivamente, pelos pedúnculos cerebelares superior e inferior. As fi bras destes tractos terminam preferencialmente no cór tex do lobo anterior, da pirâmide e da úvula. Os axônios das células de Purkinje aí situadas terminam preferen cialmente no núcleo interpúsito, de onde saem as fi bras eferentes do paleocerebelo. São as fibras inter pósito-paleorrúbricas que vão do núcleo interpósito à porção antiga do núcleo rubro (páleorrubro) de on de os impulsos nervosos se projetam sobre os neurô nios motores pelo tracto rubro-espinhal. O trajeto até o núcleo rubro se faz pelo pedúnculo cerebelar su perior que decussa antes de atingir este núcleo. Ape sar disto, a via é homolateral, pois as fibras do tracto rubro-espinhal também se cruzam e a dupla decussa ção faz com que cada hemisfério cerebelar influencie o neurônio motor do seu próprio lado (fig. 21.5). Através destas conexões o cerebelo recebe im pulsos proprioceptivos que informam sobre o grau de tensão da musculatura, integra estas informações e projeta sobre os neurônios motores a sua resposta no sentido da regulação do tônus e da postura, agindo principalmente sobre a musculatura extensora. As co nexões do paleocerebelo são mostradas na figura 21.5, e resumidas na chave que segue conexões f tracto espino-cerebelar anterior aferentes tracto espino-cerebelar posterior conexões J’ fibras interpósito-paleorrúbricas eferentes e tracto rubro-espinhal 5.3 — Conexões do neocerebelo (fig. 21.6) O neocerebelo é também chamado cerebelo corti cal por suas amplas conexões com o córtex cerebral. Suas conexões aferentes mais importantes chegam pe la via córtico-pontocerebelar. Esta via é formada por fibras que se originam principalmente no córtex dos lobos frontal e temporal, vão até à base da ponte onde fazem sinapse com os neurônios dos núcleos pontinos. Os axônios destes neurônios constituem as fibras pontinas que cruzam para o lado oposto (fig. 21.6), e penetram no cerebelo pelo pedúnculo cerebelar mé dio, terminando preferencialmente no córtex do neoce rebelo. Os axônios das células de Purkinje aí localiza das terminam, de preferência, no núcleo denteado de onde saem as fibras eferentes do neocerebelo. A par tir deste ponto os impulsos eferentes do neocerebelo podem seguir dois destinos a) voltam ao córtex cerebral, passando antes pe la porção recente do núcleo rubro (neorru bro) e pelo tálamo. Fecha-se, assim, o cir cuito córtico-ponto-cerebelo-rubro-tálamo-co tical. b) projetam-se sobre o neurônio motor passando pelo neorrubro e formação reticular através das fibras dento-neorrubricas, neorrubro-reti culares e retículo-espinhais. As conexões do neocerebelo são mostradas na fi gura 21.6 e esquematizadas abaixo aferentes { eferentes{ via córtico-ponto-cerebelar v dento-neorrubro-retículo-espinhal via dento-neorrubro-tálamo-cortical Os impulsos eferentes do neocerebelo que vão ao córtex cerebral terminam principalmente nas áreas motoras do lobo frontal, onde têm origem os impulsos que dão início aos movimentos voluntários. Assim, si inultaneamente com os impulsos para início dos movi mentos voluntários, o córtex cerebral manda impulsos ao cerebelo através da via córticoponto-cerebelar, de tal modo que o cerebelo pode coordenar estes movi mentos, agindo sobre o próprio neurônio cortical (via cerebelo-rubro-tálamo-cortical), ou diretamente sobre os neurônios motores (via cerebelo-rubro-retículo-es pinhal). 186 CAPITULO XXI 6.0 — Considerações sobre as conexões e funções do cerebelo Convém acentuar que as conexões estudadas no (tem anterior são válidas apenas quanto à sua predo minância, pois as três divisões filogenéticas do cere belo não são totalmente estanques. Assim, existem fi bras da via córtico-ponto-cerebelar queterminam no lo bo anterior (paleocerebelo) e fibras vestibulares que terminam na língula e no lobo central. Por outro lado, as fibras olivo-cerebelares, sob a forma de fibras tre padeiras, terminam no córtex de todo o cerebelo, ha vendo uma correspondência precisa entre partes do complexo olivar inferior e partes do cerebelo. Confor me foi visto, a ação do cerebelo sobre os neurônios motores se faz através de um relé (núcleo rubro, for mação reticular, núcleos vestibulares) e admite-se que a resposta cerebelar pode ser modificada por estes re lés, todos pertencentes ao sistema extrapiramidal. O ce rebelo pode, pois, ser considerado como parte inte grante do sistema extrapiramidal, tendo mesmo sido denominado por Delmas de “telencéfalo” do sistema extrapiramidal. O estudo das conexões do cerebelo mostra que cada hemisfério cerebelar controla os neu rônios motores do seu lado, o que é uma importante diferença com os hemisférios cerebrais que controlam o neurônio motor do lado oposto. Isto tem importân cia clínica, pois a lesão de um hemisfério cerebelar dá sintomatologia do mesmo lado, enquanto no hemisfério cerebral a sintomatologia é do lado oposto. Classicamente admitia-se que cerebelo receberia apenas impulsos proprioceptivos. Técnicas eletrofisio lógicas mais modernas mudaram tal conceito, pois verificou-se que chegam ao cerebelo impulsos origina dos em receptores táteis, visuais e auditivos que se projetam de uma maneira ordenada em áreas específi cas do córtex cerebelar. Evidentemente estas áreas cerebelares não têm o mesmo significado das corres pondentes áreas cerebrais, pois os impulsos que aí chegam não se tornam conscientes. O significado des tas conexões não proprioceptivas do cerebelo não foi ainda completamente esclarecido. Convém lembrar, entretanto, que assim como os impulsos propriocepti vos gerais e especiais (do vestíbulo) informam sobre a posição do nosso corpo, ou de suas partes, também os impulsos visuais, táteis, ou auditivos, dão informa ções semelhantes que podem ser utilizadas pelo cere belo. As funções do cerebelo de manutenção do equi líbrio, manutenção do tônus muscular e da postura, bem como da coordenação dos movimentos já foram apontadas a propósito da divisão filogenética deste ór gão. Não se sabe exatamente, entretanto, como ele executa esta tarefa. Estudos recentes de eletrofisiolo gia e microscopia eletrônica trouxeram um conheci- mento bastante exato da micromorfologia funcional do órgão e acredita-se que, dentro de pouco tempo, chega remos a entender como o cerebelo realmente funcio na. O fato mais inesperado obtido neátes estudos foi a constatação de que as células de Purkinje são inibi doras e funcionam inibindo os neurônios dos núcleos centrais, os quais são estimulados provavelmente por colaterais das fibras musgosas e trepadeiras Estes es tudos mostram, ainda, que a comparação do cerebelo com um computador muito elaborado, pouco a pouco, deixa de ser uma simples figura didática para se apro ximar da realidade (*)• 7.0 — Correlações anátomo-clíniças 7.1 — Síndromes cerebelares O estudo dos principais sintomas que ocorrem quando o cerebelo é lesado é importante não só por seu valor clínico, mas também porque permite enten der melhor o funcionamento do cerebeto normal. As lesões do cerebelo podem atingir grandes áreas do ór gão, ou atingir ora mais, ora menos isoladamente as partes que constituem o arqui, páleo e neocerebelo. Neste caso, aparecerá um conjunto de sintomas que caracteriza, respectivamente, as síndromes do arqui, páleo e neocerebelo e que serão estudados a seguir. 7.1 .1 — Síndrome do arquicerebelo Ocorre com uma certa frequência em crianças de menos de 10 anos e, em geral, é devido a tumores do tecto do IV ventrículo que comprimem o nódulo e o pedúnculo do flóculo. Neste caso há somente perda de equilíbrio, pois as crianças não conseguem se manter em pé. Não há, entretanto, nenhuma alteração do tô nus muscular e quando elas se mantêm deitadas a co ordenação de movimentos é praticamente normal. 7. 1 .2 — Síndrome do paleocerebelo Síndromes puras do paleocerebelo são muito raras. Contudo já foram observadas experimentalmente e em certos casos de pacientes com lesões localizadas no lobo anterior. O sintoma típico consiste em um au mento do tônus na musculatura extensora. 7. 1 .3 — Síndrome do neocerebelo As lesões do neocerebelo causam como sintom fundamental uma incoordenação motora que pode sei testada por vários sinais, alguns dos quais vão descri tos a seguir (*) Para maiores detalhes veja Eccies et. ai. — 196 — op. cit. ESTRUTURA E FUNÇÕES DO CEREBELO 167 a) dismetria — consiste na execução defeituosa de movimentos que visam atingir um alvo, pois o indivíduo não consegue dosar exata mente a “quantidade” de movimento neces sária para isto. Pode-se testar este sinal pe dindo-se ao paciente para colocar o dedo na ponta do nariz e verificando-se se ele acerta. b) decomposição — movimentos complexos que normalmente são feitos simultaneamente por várias articulações são decompostos, ou seja, realizados em etapas sucessivas por cada uma das articulações. c) disdiadococinesia — é a dificuldade de fa zer movimentos rápidos e alternados como, por exemplo, tocar rapidamente a ponta do polegar com os dedos indicador e médio, al ternadamente. d) rechaço — verifica-se este sinal mandando- se o paciente forçar a flexão do antebraço contra uma resistência que se faz no pulso. No indivíduo normal, quando se retira esta re sistência, a flexão pára por imediata ação dos músculos extensores, coordenada - pelo cerebelo. Entretanto, no doente neocerebe lar, esta coordenação não existe, os múscu los extensores custam a agir e o movimento é muito violento, levando quase sempre o pa ciente a dar um tapa no próprio rosto. e) ataxia cerebelar — incoordenação e desar monia da atividade muscular voluntária mais evidente na marcha e geralmente acompanha da de tremores. Estes tremores se acentuam no fim do movimento, ou quando o paciente está próximo de atingir um objetivo, como apanhar um objeto. f) nistagmo — movimento oscilatório r!tmico dos bulbos oculares podendo ser vertical, ho rizontal ou rotatório (veja capítulo XVIII,item 2.2.5) Ocorre, especialmente, em lesões do sistema vestibular e do cerebelo. O nistagmo do doente neocerebelar representa uma in coordenação dos movimentos comparável, pois, aos tremores já vistos acima. Pode ser espontâneo nu ocorrer em situações em que a pessoa normal não manifesta o sinal. Para testar a existência de nistagmo de origem ce rebelar pede-se ao paciente para, mantendo fixa a cabeça, desviar os olhos acompanhan do o dedo do examinador até o limite do mo vimento ocular. Na pessoa normal, pode ocorrer rápido nistagmo, que no doente é muito intenso e persistente, surgindo quando o olho desvia-se para o lado do cerebelo que foi lesado. 7.2 — Algumas considerações sobre as lesões cere belares Do ponto de vista puramente clínico e tendo em vista principalmente a localização de tumores cere belares, os neurologistas costumam distinguir dois qua dros patológicos do cerebelo : lesões do vermis e le sões dos hemisférios. As lesões hemisféricas manifes tamse nos membros do lado lesado e dão sintomatolo gia neocerebelar relacionada, pois, à coordenação dos movimentos. Já a lesão do vermis manifesta-se prin cipalmente por alterações na marcha (marcha atáxica), que leva o doente a andar com as pernas abertas, vi sando, aumentar a sua base de sustentação. O cerebelo tem uma notável capacidade de recu peração funcional quando há lesões de seu córtex, par ticularmente em crianças ou quando as lesões apare cem gradualmente. Para isto, concorre o fato de que o seu córtex tem uma estrutura uniforme, o que tor na mais fácil às áreas intactas assumirem pouco a pouco as funções das áreas lesadas.