a carta - Bertrand

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João Medeiros
A CARTA
Descubra como a Astrologia Psicológica
pode mudar a sua vida.
E desperte para um nível superior
de Consciência e Felicidade.
MC
10 21º36’
11
9
17º37’
12
15º29’Rx
ASC
16º21’
16º11’Rx
1
28º24’
2
3
4
CONTEÚDOS
INTRODUÇÃO
> Capítulo 1 :: A questão espiritual
9
11
> Capítulo 2 :: A trindade do ser humano
29
> Capítulo 3 :: O ciclo de vida
63
> Capítulo 4 :: O mapa e os planetas
107
> Capítulo 5 :: Os 12 Signos
139
> Capítulo 6 :: As 12 casas
209
> Capítulo 7 :: Consciência e felicidade
249
> Capítulo 8 :: Dignidades planetárias
273
> Capítulo 9 :: As cartas de 12 famosos
287
CONCLUSÃO
321
AGRADECIMENTOS
323
PRINCIPAIS SÍMBOLOS ASTROLÓGICOS E NÃO ASTROLÓGICOS
324
BIBLIOGRAFIA
325
CAPÍTULO 1
A QUESTÃO ESPIRITUAL
“Porque o homem sábio olha para o espaço
e percebe que não há dimensões limitadas.”
L AO-TSÉ
O ENIGMA DA VIDA
A dimensão da nossa Felicidade pode depender do tamanho das nossas perguntas e da atitude que temos perante o enigma da vida.
A descoberta do tesouro da autoconsciência divina começa com as
questões absolutamente fundamentais, que todos já nos colocámos
pelo menos uma vez:
“Porque estou aqui?
Haverá algo mais para além do que os meus olhos veem?
Serei especial?
Confesso que até aos meus 23 anos, não tinha respostas. Tive uma
educação cristã, pela qual estou imensamente grato, mas insuficiente
para uma mente demasiado curiosa e um coração muito jovem.
As questões eram complexas, vastas como o universo e, obviamente,
de difícil resolução. Por isso a minha atitude foi, até certo ponto, de
pragmatismo e aceitação da situação. Corria o risco de passar o meu
tempo à procura de respostas impossíveis esquecendo o que era
mesmo essencial: viver a própria vida da forma mais feliz possível.
Ainda hoje penso que isto é o que muitas pessoas fazem. E com
toda a legitimidade. Afinal de contas, como dizia Fernando Pessoa,
“há metafísica bastante em não pensar em nada”.
Há pessoas que são felizes e realizadas, sem se debaterem com
questões filosóficas ou espirituais. Vivem, simplesmente. E isso faz
sentido. Correr, amar, brincar sem nada questionar.
A realidade, porém, é que a maioria das pessoas tem necessidade
de um conforto espiritual, de uma Consciência maior sobre a estrada
11
A CARTA
que percorre. É mais fácil lidar com momentos de infortúnio, como
separações ou perdas, quando temos uma noção mais ampla da vida.
É mais fácil também motivarmo-nos para as oportunidades quando
cremos na nossa natureza e propósito divino.
O psicólogo Carl Jung foi dos primeiros investigadores a constatar
uma grande diferença na evolução terapêutica e longevidade entre
pacientes com algum tipo de fé e pacientes ateus. E hoje em dia, são
inúmeras as experiências que comprovam a importância do otimismo
e das crenças no tratamento e na cura de doenças.
No início do século XXI, os investigadores Danah Zohar e Ian Marshall lançaram o conceito de Inteligência Espiritual, analisando as
provas científicas da sua existência – a área de Deus no cérebro – e
formas de a desenvolver.
Segundo eles, ter um grau elevado de Inteligência Espiritual não
significa, de todo, ser religioso ou ter algum tipo de fanatismo. Bem
pelo contrário, implica “flexibilidade de carácter, capacidade para
encontrar soluções, um pensamento independente de convenções,
uma procura incessante de respostas, atitude positiva e corajosa, elevada autoconsciência e capacidade de ser holístico, vendo a interdependência entre todas as coisas”.
A Inteligência Espiritual ajuda-nos, por exemplo, a desenvolver uma
“voz da Consciência” permanente, que analisa escolhas de vida e distingue as atitudes certas das erradas. Em benefício da Felicidade pessoal.
De um maior consenso sobre as questões existenciais depende também a sobrevivência da humanidade no presente. Mas será mesmo
possível que tenham respostas objetivas? Será que algum dia se poderá
provar a existência de uma Inteligência superior criadora – Deus – a
natureza espiritual do ser humano ou um plano cósmico de criação?
Parece-me que estamos perto dessa evidência. A ciência evolui e
começa a descodificar os mistérios da vida aproximando-se dos princípios de grandes filosofias antigas: a matéria é energia; o observador influencia a experiência; existem profundas memórias no inconsciente de cada ser humano.
Para os mais céticos, apenas provas experimentais serão válidas.
Para os mais crédulos, toda a realidade prova a existência divina,
sendo desnecessárias explicações.
12
CAPÍTULO 1 :: A QUESTÃO ESPIRITUAL
Mas, por algum motivo, temos dois hemisférios cerebrais. Precisamos simultaneamente de razão e coração na abordagem a estes temas.
Qualquer uma das vias, isolada, estará incompleta. No meu caso, formei-me numa via matemática no plano académico, e fui criado com
valores solidários no plano familiar.
Não basta que me digam que o Amor é tudo e que somos todos Um.
Mas também não aceito que me digam que o ser humano é apenas
um conjunto de átomos e que tudo nasceu do Big Bang por um acaso.
É uma visão que carece de profundidade sobre a magia da existência.
Pessoalmente, acredito na possibilidade de uma civilização abençoada
por valores de respeito, abundância, criatividade, amor e Felicidade
infinita. Acredito no poder divino de cada ser humano. Já o constatei por experiência própria e pelos milhares de pessoas que conheci,
por via do meu trabalho como consultor e terapeuta.
O potencial de transcendência pessoal existe mesmo, se quisermos
abrir os olhos e perceber que, afinal, as respostas sobre o mistério da
vida estão ao nosso alcance.
Cada pessoa pode e deve ser um Deus: aqui, hoje, agora.
Seremos seres limitados ou potencialmente ilimitados? Será a espiritualidade mesmo necessária para uma maior Felicidade? Como nos
podemos expandir espiritualmente?
Ouvimos falar muitas vezes que o ser humano normal apenas utiliza uma parte ínfima do seu cérebro. Como seria, então, se usássemos a totalidade das nossas funções cerebrais?
Iríamos certamente desenvolver capacidades excecionais, para além
de termos melhor raciocínio lógico e memória. Os conceitos que hoje
designamos como QI (inteligência racional), QE (inteligência emocional) e, como mencionado anteriormente, QS (inteligência espiritual) estariam na sua plenitude. Seríamos uma mistura entre Da
Vinci, Mozart e Cristo.
Estudos de neurocientistas americanos, que identificaram padrões
cerebrais associados à Felicidade, classificaram o monge tibetano
13
A CARTA
Mathieu Ricard como o homem mais feliz do mundo. Mathieu era um
investigador doutorado em engenharia molecular até que, a partir de
certa altura, em prol de um maior bem-estar interior, abraçou totalmente os ensinamentos budistas e a prática intensiva de meditação.
Mas será que a Felicidade suprema estará mesmo diretamente ligada
a um sentido de espiritualidade ou à prática meditativa?
Num plano imediato, o ser humano tem uma série de necessidades mais ou menos basilares que devem estar preenchidas para que
se sinta feliz: saúde, alimentação, habitação, família, entre muitas
outras coisas. E a espiritualidade poderia ser encarada como uma
necessidade supérflua. Mas não é.
A espiritualidade é absolutamente essencial para a nossa
estabilidade psicológica e cada vez mais importante num mundo
em mudança, onde se torna urgente renovar as referências
de ordem e liderança.
Durante séculos, coube à religião o papel de preencher as nossas
necessidades espirituais. Progressivamente, a ciência assumiu-se
como reveladora da verdade cósmica. Mas também ela entrou em
contradições e vazios de explicação.
Os antigos diziam que no meio está a virtude. Devemos procurar
esse ponto de encontro, integrando todos os argumentos com espírito crítico, sem nada excluir à partida. Citando Jesus, sendo “prudentes como a serpente e simples como a pomba”.
Mais do que uma crença sobrenatural, a espiritualidade deve ser
encarada como uma visão estratégica do ser humano envolvido no seu
sistema social e em equilíbrio psicológico. Não é tanto uma questão
de escolha, mas uma necessidade de maior Consciência individual
e de transcendência coletiva em que cada atitude fará a diferença.
Diria que o encontro com a fé se dá a três níveis: fé em si próprio
(autoconfiança); fé no próximo (empatia e amor); e fé no Universo,
que também poderemos designar como gratidão e respeito ecológico.
Para seu próprio bem e para o bem do ambiente envolvente, é altura
14
CAPÍTULO 1 :: A QUESTÃO ESPIRITUAL
de cada ser humano deixar as trevas do medo, inveja ou frustração
assumindo a responsabilidade e o imenso prazer de ser absolutamente
divino. De viver a Felicidade para além do que achava ser possível. De
ultrapassar de forma olímpica os seus limiares de realização e sentir-se brilhante e poderoso como um Sol. Em tudo: vitalidade, trabalho,
família, amor. A sociedade será mais feliz e saudável se cada pessoa
descobrir o seu tesouro e viver em plenitude.
A espiritualidade começa com a autoadmiração e aceitação da grandiosidade divina interior. Esse é o primeiro passo e, como em qualquer viagem, o mais importante.
ENCONTRO COM A ASTROLOGIA
Para expandirmos a nossa autoconsciência, Felicidade e espiritualidade vários caminhos estão ao nosso dispor. A Astrologia é, sem
dúvida, uma via tão útil quanto extraordinária.
Certo dia ouvi uma afirmação curiosa, do género “ele nasceu no início de abril e, por isso, é naturalmente impulsivo”. Pouco sabia sobre
Signos e quis informar-me para poder argumentar melhor com os
outros. Segui o princípio de não negar, à partida, uma ciência que
desconhecia.
Na realidade, sempre fui apaixonado pela matemática e tirei um
curso de Economia exigente. Depois da universidade, comecei a trabalhar em estatística – a minha área de especialidade – onde identificava
correlações entre fatores aparentemente dissociados.
O exemplo de uma correlação é a comparação entre a temperatura
verificada em determinado dia de Verão e o número de bebidas frescas compradas. Neste caso, é fácil entender que existe uma correlação
entre calor, que gera sede, e o número de bebidas ingeridas. Através
de análises de dados e ensaios de hipóteses é possível verificar matematicamente esta correspondência.
É um pouco assim que se constrói muita da ciência atual, identificando
possíveis correlações e depois testando-as na prática, até se chegar a
uma verdade.
15
A CARTA
Por tudo isto, procurei entender melhor a correlação entre “época
de nascimento” e “personalidade”. Encontrei um livro chamado Cosmopsicologia, de Michel Gauquelin, um estatístico francês. Posso dizer
que foi neste ponto que se iniciou a minha revolução de Consciência.
Após recolher a data e a hora de nascimento de milhares de celebridades, o autor demonstrava, com inegável rigor estatístico, a correlação
significativa entre a posição de determinados planetas no momento do
nascimento e as respetivas profissões. Por exemplo, Marte no ponto
alto do céu, associado aos desportistas; Júpiter, no caso de políticos;
a Lua, a poetas e escritores; e assim por diante.
E agora? Como explicar isto?
Porque se a ligação entre bebidas e calor é óbvia, o mesmo não se
passa com a relação entre astros e personalidade. Saber que o ciclo
da Lua tem ligação ao ciclo menstrual das mulheres e à ovulação animal não implica necessariamente que a posição de Saturno, lá longe,
tenha algo a ver com o meu trabalho aqui.
Mergulhei rapidamente na leitura de uma série de livros, uns mais
científicos, outros mais filosóficos e, como num terramoto interno,
toda a conceção que tinha da vida se alterou radicalmente. Senti-me
como se fosse um cego que, de repente, começou a ver. Anos de escuridão deram lugar a um mundo completamente novo e colorido. Percebi melhor quem sou, como os outros são e como a vida é.
Percebi que existe uma proposta de evolução mais ou menos pré-definida à nascença. E que cada ser tem mesmo uma missão! Estava
maravilhado e boquiaberto… como provavelmente muitos outros que,
por vias diferentes, chegaram à mesma conclusão.
Tinha finalmente despertado do meu adormecimento. E, quando pela
primeira vez olhei para a minha carta astrológica, reconheci intuitivamente, sem quase nada saber da matéria, estar perante o meu autorretrato enquanto alma. Foi impossível não me comover: “Quem sou
Eu? Porque estou aqui? Qual o sentido da minha vida?” A resposta
estava ali… nas palmas das minhas mãos, a minha cartografia cósmica.
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CAPÍTULO 1 :: A QUESTÃO ESPIRITUAL
A carta celeste é um retrato extraordinário do nosso ser,
dos nossos dons, desafios e grandes oportunidades de vida,
revelando também dinâmicas da nossa formação
desde a infância.
O estudo da Carta ajudou-me a reconhecer os meus dons, em particular a empatia, a intuição e a capacidade de ouvir, típicos de um
Ascendente Peixes. Percebi também que herdara da minha mãe a
capacidade de admirar o lado mais positivo dos outros. Que uma das
minhas grandes lições é aprender a ser um adulto brincalhão e que,
para isso, a vida me deu um grande professor: o meu pai.
Entre outras conclusões, percebi que estava talhado para trabalhar
por conta própria, ser independente de instituições, e amar o meu
trabalho, e que não era sensato viver da minha vocação – de astrólogo e terapeuta – antes de a estruturar melhor, durante quatro anos.
Reconheci também a minha sombra, ainda a ser limpa, particularmente no campo afetivo, e que se deveu, em parte, a uma adolescência complexada. A Astrologia ajudou-me a não ter medo das pessoas,
a entendê-las no seu íntimo e a apaixonar-me intensamente.
Assim, integrando cada vez mais o sentido de princípios como o
karma e a reencarnação, converti-me a uma via alternativa ao meu
meio, plenamente convicto. Encontrei a fé. Hoje, considero que esta
é a maior riqueza que um ser humano pode ter na vida.
Com a experiência aprendi que existem muitos caminhos para a
autoconsciência e realização pessoal, como a psicoterapia, o coaching,
o desporto e a meditação, entre outros que são complementares entre
si. Mas poucos são tão completos como o diálogo direto com o Universo, que revela a nossa essência cósmica e os nossos maiores tesouros, já encontrados ou por conquistar.
O mapa celeste é como a planta de uma cidade, um guia que nos
mostra onde estão os museus, restaurantes, hotéis, mas não nos obriga
a decidir por nenhum deles, mostrando muitos lugares fabulosos que
não sabíamos sequer que existiam em nós. Na prática, a Carta ajuda-nos a perceber onde estão as nossas maiores riquezas e como lá chegar, quem somos e como poderemos ser mais felizes.
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A CARTA
A carta astrológica de nascimento de cada pessoa é o seu bilhete
de identidade cósmico e o guia para a sua Felicidade, tanto em
termos pessoais como profissionais.
Ao longo deste livro irá perceber, com a ajuda preciosa da Astrologia, entre outras coisas, quais são as suas melhores qualidades e quais
as áreas de vida onde deverá ser excecional, potenciando ao máximo
a sua Felicidade.
DESTINO E LIVRE-ARBÍTRIO
As implicações da ciência cósmica – a Astrologia – são inúmeras e levantam questões importantes. Como podem os planetas influenciar-nos?
Duas pessoas nascidas no mesmo dia têm o mesmo caminho? Afinal
existe destino ou temos plena liberdade de escolher o rumo da nossa vida?
Ao conhecer melhor as pessoas, enquanto terapeutas ou como observadores atentos, percebemos que as correlações astrológicas são mesmo
reais. Em média, uma pessoa nascida no fim de Julho (que popularmente designamos como sendo de Leão), independentemente do país
em que nasceu e da idade, tem características de alegria, calor e expressividade mais desenvolvidas do que a generalidade das pessoas nascidas noutra época qualquer do ano.
Do ponto de vista do senso comum, poderemos encontrar algum sentido porque a “energia” da Terra no meio do Verão será globalmente mais
quente e expandida. Pelo que pessoas nascidas nessa época partilharão destas qualidades energéticas, como se houvesse um mecanismo
de identidade associado. Mas como é possível?
Se o bebé é tão sensível, faz sentido que o primeiro momento em que
se expõe ao exterior, e em que recebe com violência uma imensa carga
de estímulos energéticos de vária ordem, seja um marco na atitude que
desenvolve perante a vida. Essa é, aliás, a versão de muitas correntes da
Psicologia moderna.
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CAPÍTULO 1 :: A QUESTÃO ESPIRITUAL
Uma das principais energias recebidas mais diretamente no parto
é, precisamente, a energia do Sol, que afeta a Terra e os estados psíquicos dos seus habitantes. Hoje em dia investiga-se cada vez mais
o efeito dos ventos solares no magnetismo terrestre, no clima e nas
alterações comportamentais humanas, pela alteração das ondas cerebrais e estimulação da glândula pineal que tem um importante papel
no sistema nervoso central.
Uma explicação científica muito plausível para o funcionamento da
Astrologia foi dada pelo astrónomo Percy Seymour, que relaciona o
posicionamento e influência gravítica dos planetas na atividade solar,
que por sua vez afeta a biologia humana.
Muitas outras respostas são esperadas nos próximos tempos, na
medida em que se desenvolvem investigações que respeitam princípios
astrológicos fundamentais nem sempre conhecidos do grande público.
Por exemplo, a visão de que duas pessoas são iguais porque nasceram na mesma altura do ano e partilham o mesmo Signo está incorreta do ponto de vista astrológico. Existem milhares de outros fatores
num mapa (como planetas, ângulos, casas) que permitem distinguir
radicalmente duas pessoas nascidas no mesmo dia.
Sob o ponto de vista astrológico, um indivíduo nascido no início do
Outono (signo solar Balança, associado à simpatia e harmonia) pode
ser uma autêntica bomba de agressividade se tiver, por exemplo, Lua
conjunta a Marte em Escorpião. Ao passo que outro, com mais astros
posicionados em Sagitário poderá ser um grande folião, sempre bem-disposto e alegre.
Os raros casos dos chamados gémeos astrológicos – pessoas que
nasceram à mesma hora exata, mesmo dia e mesmo local – não são
suficientes para invalidar os argumentos, antes pelo contrário. Partilham de tendências comuns de vida e de desenvolvimento, bem
como idades de transição idênticas. Alguns estudos técnicos como
a comparação entre a vida de José Saramago e José-Augusto França,
gémeos astrais e personalidades da cultura, por exemplo, evidenciam esta sincronia.
Mas não são obviamente as mesmas pessoas, não terão necessariamente o mesmo nível de Consciência, nem o mesmo corpo, nome
ou ponto de partida social. Como dizia um famoso filósofo, o mapa
19
A CARTA
é uma representação metafórica do território, dos obstáculos e do
tesouro – mas não é o território em si.
O mapa celeste contém em si hipóteses de evolução e superação,
como se fosse um jogo com vários níveis, mas nada nos indica as
escolhas que o indivíduo fez para saltar esses “níveis” e aproximar-se
do seu Tesouro de realização. Pode ter ficado bloqueado no caminho,
logo na primeira montanha – por exemplo – um grande desgosto
amoroso que não foi digerido no início da juventude e condicionou
as escolhas futuras.
O que implica que o livre-arbítrio está sempre presente. Podemos
sempre escolher o caminho que acharmos melhor.
A carta celeste não revela um caminho pré-determinado e
obrigatório, mas sim um caminho para uma maior Felicidade,
Consciência e realização que é inteiramente uma escolha pessoal.
A Carta dá-nos a arquitetura da nossa jornada de Consciência, a
constituição dos diversos andares, o tipo de vilões internos que iremos encontrar, os dragões e também as princesas e sereias.
Mas caso não vençamos os desafios nos momentos críticos (a escolha certa), voltamos à casa da partida (o início do respetivo nível).
E nada nos garante – a não ser o nosso Espírito ou vontade – que cheguemos ao Tesouro ou que o aproveitemos bem. Temos toda a liberdade para desistir, resistir ou querer.
O facto de duas pessoas terem o mesmo mapa das estradas ou planta
da cidade não as obriga a seguir as mesmas ruas, a visitar os mesmos
restaurantes ou museus, ou a dançar nos mesmos concertos, embora
haja claramente lugares melhores do que outros para se visitar.
Portanto, ainda que seja um diagrama altamente individualizado
– a Carta – que nos mostra o caminho para a Felicidade e os seus
relevos, como resistências e apoios, não percorre esse trajeto por nós.
A vivência do percurso de realização pessoal é sempre opcional.
Cabe-nos decidir se queremos ou não ter mais qualidade de vida e
contribuir, ao mesmo tempo, para um mundo melhor.
20
CAPÍTULO 1 :: A QUESTÃO ESPIRITUAL
LEIS ESPIRITUAIS
Se surgem questões práticas sobre o funcionamento da Astrologia,
como os gémeos astrais, o livre-arbítrio ou a influência dos ventos
solares, são também inevitáveis as questões mais filosóficas.
Se temos um projeto de vida, ainda que com liberdade para ser
assumido, isso quer dizer que existe Deus? É por acaso que as pessoas nascem com determinado mapa e, por consequência, com uma
missão de aprendizagem?
Na verdade, não são propriamente os astros que nos influenciam.
A causalidade é mais no sentido inverso: nós é que determinamos
as configurações astrais do nosso nascimento. Nós somos responsáveis pela viagem que escolhemos.
Faz mais sentido dizer “nasci no início da Primavera – Signo
Carneiro – porque sou um ser dinâmico“ do que dizer o contrário.
Os astros apenas refletem o nosso ser. Mas não são os causadores dos
nossos defeitos ou virtudes.
As escolhas que fazemos é que definem quem somos agora. A isto
chamam os orientais de princípio do karma, também chamada lei do
retorno ou da evolução. Em linguagem ocidental, poderemos designar como princípio da responsabilidade pessoal.
Todas as condições com que nascemos, corpo, nome, pais, meio
social, nacionalidade, resultam segundo as correntes filosóficas orientais que fundamentam a Astrologia humanística – nomeadamente, o
budismo e o hinduísmo – de uma consequência e de uma necessidade.
Ainda que não seja necessário acreditar nas leis espirituais
antigas – como a reencarnação e evolução – para que a Carta
funcione, elas ajudam-nos a compreender a responsabilidade e
mérito das nossas ações e heranças astrais.
Na vida, a maior riqueza será alcançar um estado máximo de Felicidade, Consciência e paz que poderá corresponder igualmente ao fim
do processo de morte e renascimento, o fim do karma, a iluminação.
21
A CARTA
O ponto cardeal (e respetiva área de vida) onde está localizado o
nosso Sol no momento do nascimento tem uma importância capital na definição do que poderá ser esse Tesouro, as nossas qualidades mais valiosas enquanto seres espirituais, em abundante
Felicidade.
Imaginemos alguém que tenha nascido a meio da tarde tendo, portanto, o seu Sol localizado na chamada Casa 8. Poderemos dizer que
o seu propósito de iluminação e Felicidade passará pela construção de
relações de forte partilha, intimidade e paixão, em processos de grande
entrega emocional em que a confiança no outro e o risco de crise material são fatores normais a gerir.
Para algumas pessoas, um nível de Felicidade, Consciência e bem-estar interior elevados poderá estar mais facilitado, desde o início, atendendo aos méritos adquiridos ou experiência do seu Espírito. Digamos
que são seres que já nascem com qualidades de determinação e sabedoria bastante desenvolvidas. Viverão os atributos do seu Sol, como
representado no seu mapa de nascimento, com relativa naturalidade.
Outras pessoas, por causa do seu karma, uma idade jovem ou apego
a alguns hábitos, poderão estar aquém do seu grande potencial revelado astrologicamente.
Na verdade, nada nos impede de conseguir vencer resistências menores ou batalhas de vida maiores, como uma pobre autoestima, fraca
educação ou uma infância violenta, se tivermos uma força interior realmente poderosa, bem como inteligência e sensibilidade.
Sem dúvida, a Carta pode dar uma ajuda muito valiosa. No sentido em
que identifica esses desafios e também as melhores armas que temos
para os vencer, de maneira a conquistarmos cada vez mais riqueza,
sentido de realização e Felicidade. Porque ainda que a força de vontade
seja o fator mais decisivo nesta viagem, pode ser francamente potenciada pela Consciência que o mapa celeste fornece. Na essência, como
referimos, este ajuda-nos a expandir a nossa Inteligência Espiritual.
Lembremos os antigos navegadores. Por maior que fosse a sua coragem, eles não teriam chegado ao seu destino e ultrapassado grandes
tempestades, sem a ajuda técnica proporcionada pelos astrolábios e
o conhecimento das estrelas, que lhes davam um elevado sentido de
orientação no meio do oceano.
22
CAPÍTULO 1 :: A QUESTÃO ESPIRITUAL
Tal como os grandes navegadores precisavam de astrolábios
para ir mais além, também a navegação da vida pessoal pode
beneficiar significativamente com a orientação pelas estrelas.
Em certas situações de grande indefinição na tempestade ou perante
a busca de novas oportunidades – como um trabalho de sonho ou um
maior preenchimento emocional – torna-se importante a consulta da
nossa Carta para termos um melhor sentido de orientação e propósito. O mapa astrológico representa os nossos potenciais desafios do
presente, e funciona perfeitamente enquanto bússola orientadora da
vida nos seus diversos quadrantes.
Nascemos sempre nas condições mais apropriadas para o nosso
aperfeiçoamento divino, do qual somos os únicos responsáveis.
O poder está todo nas nossas mãos e o exterior é apenas o reflexo cósmico do nosso interior, que é ilimitado.
CONHECER OS OUTROS
Ainda que sejamos todos seres divinos, cuja finalidade última será
o alcance de maior Felicidade, trilhamos caminhos diferentes. No
caminho espiritual e de realização, para além da Consciência individual é também importante conhecer os outros.
Consoante as escolhas do passado, poderemos ter de completar a
nossa jornada de aprendizagem por vias que os outros já percorreram e… vice-versa.
Daí ser vital aprender uns com os outros e respeitar o caminho de
cada um, sem impor qualquer doutrina ao próximo. O que quer dizer
que não temos todos de ir meditar para um ashram na Índia para atingir a bênção máxima, um pouco como Buda fez, mas também não
temos todos de casar e ter filhos para sermos felizes.
Certas pessoas já percorreram tão repetidamente vidas meditativas que
poderão precisar de viver a Consciência de experiências precisamente
23
A CARTA
opostas: vidas práticas, afetivas e de grande contacto social. E, pelo
contrário, pessoas muito sociáveis poderão ter de se recolher. Nem
todas as chaves abrem todas as fechaduras. As soluções não são necessariamente iguais para todos.
Daí que tão importante como conhecer a nossa carta astrológica
seja conhecer minimamente as Cartas dos que nos são próximos –
nomeadamente filhos, pais, companheiros, amigos e colegas – para
respeitar e entender mais profundamente a sua essência, personalidade e opções.
Mesmo que não evite conflitos necessários, esta Consciência permite-nos claramente um grau de harmonia e prazer superiores na
nossa vida afetiva e mesmo profissional. Acabamos por respeitar muito
mais o outro, inclusive nas suas motivações interiores e inconscientes.
E isto torna-se curativo e altamente libertador. Para ambos.
É frequente que certas pessoas fiquem pasmadas quando consultam
um astrólogo e, logo num primeiro encontro, se sentem compreendidas como nunca foram. Nem sequer pelos próprios companheiros,
pais ou melhores amigos, o que é notável.
A Consciência cósmica ajuda-nos a ver que os outros têm universos distintos e muito ricos, com os seus desafios e tesouros próprios,
e que são Deuses. E esta compreensão profunda do próximo é, em
última análise, Amor.
Alguns perguntarão: haverá Tesouro maior na vida do que este?
Sem dúvida, uma motivação ainda maior para mergulhar no alfabeto cósmico representado por planetas e Signos.
O conhecimento mais profundo dos 12 Arquétipos primordiais
(os chamados 12 Signos do Zodíaco), por si só, já permite uma
Consciência superior nos nossos relacionamentos pessoais,
da nossa essência e um degrau extra na escada da Felicidade.
Pessoas que sabem de Astrologia são como ímanes sociais atraindo
muito mais facilmente os outros ao seu encontro, pela sabedoria fascinante e realista que detêm sobre o interior dos outros e seus desafios.
24
CAPÍTULO 1 :: A QUESTÃO ESPIRITUAL
Pela minha experiência, foi notória a diferença de capacidade de
relacionamento com os outros e de magnetismo pessoal, a partir do
momento em que mergulhei no mundo dos planetas. Digamos que
os preconceitos desapareceram em benefício da aceitação das necessidades e sonhos dos outros seres humanos que são, na realidade,
seres divinos com um potencial imenso.
Como profissional, constatei esta realidade. Acompanhei pessoas
tímidas que tinham sonhos de encher salas de espetáculos com as
suas artes de palco. E conseguiram. Vi pessoas com grandes condicionamentos físicos tornarem-se cisnes autênticos de beleza e confiança.
Assisti à transformação de seres frustrados em seres livres e generosos. Acompanhei relações moribundas a darem lugar a renascimentos de vida e de identidade.
É com muita honra e prazer, que apoio a evolução extraordinária
de diversas pessoas, cada vez mais conscientes de si e das suas capacidades. Parabéns!
CONHECER O MUNDO
Se o primeiro passo para a Felicidade é o autoconhecimento e
o segundo passo é o conhecimento dos outros, o terceiro passo será o
conhecimento do mundo.
Ainda que muitas pessoas conheçam de nome os 12 Signos, poucas sabem a sua ordem ou o que realmente significam. Não é correto
afirmar, por exemplo, que os nascidos do início de Setembro são nativos da “constelação” de Virgem. O Signo não corresponde à Constelação com o mesmo nome.
Como explicaremos em pormenor mais à frente, na verdade existem dois Zodíacos distintos que se usam em simultâneo. A Era de
Aquário está precisamente relacionada com esta combinação e desfasamento entre dois círculos zodiacais diferentes (o dos Signos e o
das Constelações), embora com uma estrutura semelhante.
O círculo das Constelações propriamente ditas é mais útil quando
analisamos longos períodos de tempo, como a História das nações
25
A CARTA
ou da civilização. Por exemplo, considerando a estrela Régulus, o
Coração do Leão, como principal marcador para a divisão das Eras
em períodos iguais, teremos entrado oficialmente em 2011-2012 na
Era de Aquário.
Este período com cerca de dois milénios de duração está associado
ao movimento da democracia, telecomunicações, Internet e era espacial. Neste ciclo, a ciência irá ter uma relevância cada vez maior ao
descodificar os grandes mistérios das religiões, e permitindo a expressão de maior liberdade de cada ser humano.
O período de “fim dos tempos” e grande transição, correspondente
ao último grau zodiacal da Era de Peixes, ocorreu entre 1939 e 2012,
altura em que a humanidade alcançou um poder tecnológico que possibilitaria a sua autodestruição, obrigando por isso a maior responsabilidade e Consciência.
Atualmente, de 2012 a 2084, atravessamos uma fase de enormes
transformações e revoluções políticas, em direção a um paradigma
de maior humanismo e expressão da individualidade – algo que em
si é um aparente paradoxo, porque implica simultaneamente mais
independência pessoal e mais cooperação social.
Toda esta visão global é possível articulando os dois Zodíacos entre
si, como um grande relógio cósmico, com ponteiros das horas e dos
minutos. O movimento da Terra na origem deste mecanismo é conhecido como precessão dos equinócios, e está associado à rotação cónica
do nosso planeta em torno do seu eixo ao longo de 26 000 anos.
O equívoco da questão “Signo versus Constelação” persiste porque, à semelhança da época grega em que estes conceitos foram
definidos, continuamos a usar os nomes das Constelações quando
nos referimos a fases das estações do ano, marcadas pelos solstícios e equinócios. Os Signos associam-se a características biológicas, de luminosidade, de temperatura, de clima e a etapas de transformação da natureza, ou seja, às diversas subtilezas da Primavera,
Verão, Outono e Inverno.
Enquanto astrólogo profissional, na minha opinião, para ultrapassar definitivamente esta eterna polémica e consequentes preconceitos, a longo prazo, deveríamos também divulgar nomes alternativos,
mais claramente representativos do conceito em questão.
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CAPÍTULO 1 :: A QUESTÃO ESPIRITUAL
Neste livro, entre outros conceitos, apresento uma sugestão de
nomenclatura complementar para os habituais 12 Signos, em respeito
pela origem, peculiaridades técnicas e carga histórica dos nomes tradicionais. Mas por diversas razões práticas, é mais evidente chamar
ao primeiro Signo Vulcão em vez de Carneiro, por exemplo, já que é
um Signo de Fogo explosivo. E ao segundo Signo, Jardim, em vez de
Touro. Em termos pedagógicos, é mais intuitiva a interpretação de
um Ascendente Montanha, claramente associado ao Elemento Terra
e ao início do Inverno, do que a designação Capricórnio.
Nesta perspetiva, os Signos de Fogo, que são Carneiro, Leão e Sagitário, podemos designar como Vulcão, Luz e Fogueira respetivamente.
Aos Signos de Terra, que são Capricórnio, Touro e Virgem podemos também chamar alternativamente de Montanha, Jardim e Areia.
Uma proposta para os Signos de Ar, que são Balança, Aquário e
Gémeos, será Arco-Íris, Neve e Brisa.
Para os Signos de Água, que se designam tradicionalmente como
Caranguejo, Escorpião e Peixes, será interessante também designá-los Fonte, Tempestade e Mar.
O mapa astrológico é o modelo mais perfeito de análise psicológica
que já conheci. As formas de aplicação da Astrologia na sociedade são
incontáveis. A compreensão das mudanças políticas, sociais e económicas é muito mais clara com o auxílio dos ciclos planetários e estelares! Os Maias sabiam disso. Os antigos Egípcios também.
É possível ter uma perspetiva de ordem muito superior, em relação
ao rumo da História e da sociedade, quando estudamos e interpretamos os grandes ciclos do Cosmos, vistos da Terra, o nosso ponto
de referência.
Vivemos o início de uma nova civilização que poderá tornar-se
um paraíso coletivo – desde que cada pessoa se responsabilize
por assumir a sua luz e descobrir o seu Tesouro que, em último
grau, é a Consciência plena de si próprio, dos outros que
o rodeiam, e do Universo.
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A CARTA
A CARTA RESUMIDA
> A Inteligência Espiritual é essencial para potenciar a nossa
Felicidade e para a participação construtiva numa sociedade em
profunda mudança.
> Cada pessoa, como ser espiritual consciente, tem um potencial
ilimitado de realização pessoal que deve ser respeitado
e estimulado: é um Tesouro.
> O mapa astrológico de nascimento é um retrato do ser humano,
nos seus dons e desafios de evolução, sendo de uma utilidade
imensa para o autoconhecimento a todos os níveis.
> A Carta simboliza os melhores caminhos para a Consciência
e Felicidade pessoal, mas que não são obrigatórios nem
garantidos, estando dependentes do livre-arbítrio.
> Temos responsabilidade pessoal por tudo o que nos acontece,
incluindo os nossos méritos e heranças astrológicas, assim como
o seu aproveitamento ou transmutação.
> A Consciência dos outros é também importante na evolução,
e o conhecimento dos 12 Signos do Zodíaco, por si só, já favorece
melhores relacionamentos.
> O melhor conhecimento da sociedade e dos seus ciclos
é igualmente necessário para um desenvolvimento espiritual
saudável, sendo possível pelo estudo da Astrologia.
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