João Medeiros A CARTA Descubra como a Astrologia Psicológica pode mudar a sua vida. E desperte para um nível superior de Consciência e Felicidade. MC 10 21º36’ 11 9 17º37’ 12 15º29’Rx ASC 16º21’ 16º11’Rx 1 28º24’ 2 3 4 CONTEÚDOS INTRODUÇÃO > Capítulo 1 :: A questão espiritual 9 11 > Capítulo 2 :: A trindade do ser humano 29 > Capítulo 3 :: O ciclo de vida 63 > Capítulo 4 :: O mapa e os planetas 107 > Capítulo 5 :: Os 12 Signos 139 > Capítulo 6 :: As 12 casas 209 > Capítulo 7 :: Consciência e felicidade 249 > Capítulo 8 :: Dignidades planetárias 273 > Capítulo 9 :: As cartas de 12 famosos 287 CONCLUSÃO 321 AGRADECIMENTOS 323 PRINCIPAIS SÍMBOLOS ASTROLÓGICOS E NÃO ASTROLÓGICOS 324 BIBLIOGRAFIA 325 CAPÍTULO 1 A QUESTÃO ESPIRITUAL “Porque o homem sábio olha para o espaço e percebe que não há dimensões limitadas.” L AO-TSÉ O ENIGMA DA VIDA A dimensão da nossa Felicidade pode depender do tamanho das nossas perguntas e da atitude que temos perante o enigma da vida. A descoberta do tesouro da autoconsciência divina começa com as questões absolutamente fundamentais, que todos já nos colocámos pelo menos uma vez: “Porque estou aqui? Haverá algo mais para além do que os meus olhos veem? Serei especial? Confesso que até aos meus 23 anos, não tinha respostas. Tive uma educação cristã, pela qual estou imensamente grato, mas insuficiente para uma mente demasiado curiosa e um coração muito jovem. As questões eram complexas, vastas como o universo e, obviamente, de difícil resolução. Por isso a minha atitude foi, até certo ponto, de pragmatismo e aceitação da situação. Corria o risco de passar o meu tempo à procura de respostas impossíveis esquecendo o que era mesmo essencial: viver a própria vida da forma mais feliz possível. Ainda hoje penso que isto é o que muitas pessoas fazem. E com toda a legitimidade. Afinal de contas, como dizia Fernando Pessoa, “há metafísica bastante em não pensar em nada”. Há pessoas que são felizes e realizadas, sem se debaterem com questões filosóficas ou espirituais. Vivem, simplesmente. E isso faz sentido. Correr, amar, brincar sem nada questionar. A realidade, porém, é que a maioria das pessoas tem necessidade de um conforto espiritual, de uma Consciência maior sobre a estrada 11 A CARTA que percorre. É mais fácil lidar com momentos de infortúnio, como separações ou perdas, quando temos uma noção mais ampla da vida. É mais fácil também motivarmo-nos para as oportunidades quando cremos na nossa natureza e propósito divino. O psicólogo Carl Jung foi dos primeiros investigadores a constatar uma grande diferença na evolução terapêutica e longevidade entre pacientes com algum tipo de fé e pacientes ateus. E hoje em dia, são inúmeras as experiências que comprovam a importância do otimismo e das crenças no tratamento e na cura de doenças. No início do século XXI, os investigadores Danah Zohar e Ian Marshall lançaram o conceito de Inteligência Espiritual, analisando as provas científicas da sua existência – a área de Deus no cérebro – e formas de a desenvolver. Segundo eles, ter um grau elevado de Inteligência Espiritual não significa, de todo, ser religioso ou ter algum tipo de fanatismo. Bem pelo contrário, implica “flexibilidade de carácter, capacidade para encontrar soluções, um pensamento independente de convenções, uma procura incessante de respostas, atitude positiva e corajosa, elevada autoconsciência e capacidade de ser holístico, vendo a interdependência entre todas as coisas”. A Inteligência Espiritual ajuda-nos, por exemplo, a desenvolver uma “voz da Consciência” permanente, que analisa escolhas de vida e distingue as atitudes certas das erradas. Em benefício da Felicidade pessoal. De um maior consenso sobre as questões existenciais depende também a sobrevivência da humanidade no presente. Mas será mesmo possível que tenham respostas objetivas? Será que algum dia se poderá provar a existência de uma Inteligência superior criadora – Deus – a natureza espiritual do ser humano ou um plano cósmico de criação? Parece-me que estamos perto dessa evidência. A ciência evolui e começa a descodificar os mistérios da vida aproximando-se dos princípios de grandes filosofias antigas: a matéria é energia; o observador influencia a experiência; existem profundas memórias no inconsciente de cada ser humano. Para os mais céticos, apenas provas experimentais serão válidas. Para os mais crédulos, toda a realidade prova a existência divina, sendo desnecessárias explicações. 12 CAPÍTULO 1 :: A QUESTÃO ESPIRITUAL Mas, por algum motivo, temos dois hemisférios cerebrais. Precisamos simultaneamente de razão e coração na abordagem a estes temas. Qualquer uma das vias, isolada, estará incompleta. No meu caso, formei-me numa via matemática no plano académico, e fui criado com valores solidários no plano familiar. Não basta que me digam que o Amor é tudo e que somos todos Um. Mas também não aceito que me digam que o ser humano é apenas um conjunto de átomos e que tudo nasceu do Big Bang por um acaso. É uma visão que carece de profundidade sobre a magia da existência. Pessoalmente, acredito na possibilidade de uma civilização abençoada por valores de respeito, abundância, criatividade, amor e Felicidade infinita. Acredito no poder divino de cada ser humano. Já o constatei por experiência própria e pelos milhares de pessoas que conheci, por via do meu trabalho como consultor e terapeuta. O potencial de transcendência pessoal existe mesmo, se quisermos abrir os olhos e perceber que, afinal, as respostas sobre o mistério da vida estão ao nosso alcance. Cada pessoa pode e deve ser um Deus: aqui, hoje, agora. Seremos seres limitados ou potencialmente ilimitados? Será a espiritualidade mesmo necessária para uma maior Felicidade? Como nos podemos expandir espiritualmente? Ouvimos falar muitas vezes que o ser humano normal apenas utiliza uma parte ínfima do seu cérebro. Como seria, então, se usássemos a totalidade das nossas funções cerebrais? Iríamos certamente desenvolver capacidades excecionais, para além de termos melhor raciocínio lógico e memória. Os conceitos que hoje designamos como QI (inteligência racional), QE (inteligência emocional) e, como mencionado anteriormente, QS (inteligência espiritual) estariam na sua plenitude. Seríamos uma mistura entre Da Vinci, Mozart e Cristo. Estudos de neurocientistas americanos, que identificaram padrões cerebrais associados à Felicidade, classificaram o monge tibetano 13 A CARTA Mathieu Ricard como o homem mais feliz do mundo. Mathieu era um investigador doutorado em engenharia molecular até que, a partir de certa altura, em prol de um maior bem-estar interior, abraçou totalmente os ensinamentos budistas e a prática intensiva de meditação. Mas será que a Felicidade suprema estará mesmo diretamente ligada a um sentido de espiritualidade ou à prática meditativa? Num plano imediato, o ser humano tem uma série de necessidades mais ou menos basilares que devem estar preenchidas para que se sinta feliz: saúde, alimentação, habitação, família, entre muitas outras coisas. E a espiritualidade poderia ser encarada como uma necessidade supérflua. Mas não é. A espiritualidade é absolutamente essencial para a nossa estabilidade psicológica e cada vez mais importante num mundo em mudança, onde se torna urgente renovar as referências de ordem e liderança. Durante séculos, coube à religião o papel de preencher as nossas necessidades espirituais. Progressivamente, a ciência assumiu-se como reveladora da verdade cósmica. Mas também ela entrou em contradições e vazios de explicação. Os antigos diziam que no meio está a virtude. Devemos procurar esse ponto de encontro, integrando todos os argumentos com espírito crítico, sem nada excluir à partida. Citando Jesus, sendo “prudentes como a serpente e simples como a pomba”. Mais do que uma crença sobrenatural, a espiritualidade deve ser encarada como uma visão estratégica do ser humano envolvido no seu sistema social e em equilíbrio psicológico. Não é tanto uma questão de escolha, mas uma necessidade de maior Consciência individual e de transcendência coletiva em que cada atitude fará a diferença. Diria que o encontro com a fé se dá a três níveis: fé em si próprio (autoconfiança); fé no próximo (empatia e amor); e fé no Universo, que também poderemos designar como gratidão e respeito ecológico. Para seu próprio bem e para o bem do ambiente envolvente, é altura 14 CAPÍTULO 1 :: A QUESTÃO ESPIRITUAL de cada ser humano deixar as trevas do medo, inveja ou frustração assumindo a responsabilidade e o imenso prazer de ser absolutamente divino. De viver a Felicidade para além do que achava ser possível. De ultrapassar de forma olímpica os seus limiares de realização e sentir-se brilhante e poderoso como um Sol. Em tudo: vitalidade, trabalho, família, amor. A sociedade será mais feliz e saudável se cada pessoa descobrir o seu tesouro e viver em plenitude. A espiritualidade começa com a autoadmiração e aceitação da grandiosidade divina interior. Esse é o primeiro passo e, como em qualquer viagem, o mais importante. ENCONTRO COM A ASTROLOGIA Para expandirmos a nossa autoconsciência, Felicidade e espiritualidade vários caminhos estão ao nosso dispor. A Astrologia é, sem dúvida, uma via tão útil quanto extraordinária. Certo dia ouvi uma afirmação curiosa, do género “ele nasceu no início de abril e, por isso, é naturalmente impulsivo”. Pouco sabia sobre Signos e quis informar-me para poder argumentar melhor com os outros. Segui o princípio de não negar, à partida, uma ciência que desconhecia. Na realidade, sempre fui apaixonado pela matemática e tirei um curso de Economia exigente. Depois da universidade, comecei a trabalhar em estatística – a minha área de especialidade – onde identificava correlações entre fatores aparentemente dissociados. O exemplo de uma correlação é a comparação entre a temperatura verificada em determinado dia de Verão e o número de bebidas frescas compradas. Neste caso, é fácil entender que existe uma correlação entre calor, que gera sede, e o número de bebidas ingeridas. Através de análises de dados e ensaios de hipóteses é possível verificar matematicamente esta correspondência. É um pouco assim que se constrói muita da ciência atual, identificando possíveis correlações e depois testando-as na prática, até se chegar a uma verdade. 15 A CARTA Por tudo isto, procurei entender melhor a correlação entre “época de nascimento” e “personalidade”. Encontrei um livro chamado Cosmopsicologia, de Michel Gauquelin, um estatístico francês. Posso dizer que foi neste ponto que se iniciou a minha revolução de Consciência. Após recolher a data e a hora de nascimento de milhares de celebridades, o autor demonstrava, com inegável rigor estatístico, a correlação significativa entre a posição de determinados planetas no momento do nascimento e as respetivas profissões. Por exemplo, Marte no ponto alto do céu, associado aos desportistas; Júpiter, no caso de políticos; a Lua, a poetas e escritores; e assim por diante. E agora? Como explicar isto? Porque se a ligação entre bebidas e calor é óbvia, o mesmo não se passa com a relação entre astros e personalidade. Saber que o ciclo da Lua tem ligação ao ciclo menstrual das mulheres e à ovulação animal não implica necessariamente que a posição de Saturno, lá longe, tenha algo a ver com o meu trabalho aqui. Mergulhei rapidamente na leitura de uma série de livros, uns mais científicos, outros mais filosóficos e, como num terramoto interno, toda a conceção que tinha da vida se alterou radicalmente. Senti-me como se fosse um cego que, de repente, começou a ver. Anos de escuridão deram lugar a um mundo completamente novo e colorido. Percebi melhor quem sou, como os outros são e como a vida é. Percebi que existe uma proposta de evolução mais ou menos pré-definida à nascença. E que cada ser tem mesmo uma missão! Estava maravilhado e boquiaberto… como provavelmente muitos outros que, por vias diferentes, chegaram à mesma conclusão. Tinha finalmente despertado do meu adormecimento. E, quando pela primeira vez olhei para a minha carta astrológica, reconheci intuitivamente, sem quase nada saber da matéria, estar perante o meu autorretrato enquanto alma. Foi impossível não me comover: “Quem sou Eu? Porque estou aqui? Qual o sentido da minha vida?” A resposta estava ali… nas palmas das minhas mãos, a minha cartografia cósmica. 16 CAPÍTULO 1 :: A QUESTÃO ESPIRITUAL A carta celeste é um retrato extraordinário do nosso ser, dos nossos dons, desafios e grandes oportunidades de vida, revelando também dinâmicas da nossa formação desde a infância. O estudo da Carta ajudou-me a reconhecer os meus dons, em particular a empatia, a intuição e a capacidade de ouvir, típicos de um Ascendente Peixes. Percebi também que herdara da minha mãe a capacidade de admirar o lado mais positivo dos outros. Que uma das minhas grandes lições é aprender a ser um adulto brincalhão e que, para isso, a vida me deu um grande professor: o meu pai. Entre outras conclusões, percebi que estava talhado para trabalhar por conta própria, ser independente de instituições, e amar o meu trabalho, e que não era sensato viver da minha vocação – de astrólogo e terapeuta – antes de a estruturar melhor, durante quatro anos. Reconheci também a minha sombra, ainda a ser limpa, particularmente no campo afetivo, e que se deveu, em parte, a uma adolescência complexada. A Astrologia ajudou-me a não ter medo das pessoas, a entendê-las no seu íntimo e a apaixonar-me intensamente. Assim, integrando cada vez mais o sentido de princípios como o karma e a reencarnação, converti-me a uma via alternativa ao meu meio, plenamente convicto. Encontrei a fé. Hoje, considero que esta é a maior riqueza que um ser humano pode ter na vida. Com a experiência aprendi que existem muitos caminhos para a autoconsciência e realização pessoal, como a psicoterapia, o coaching, o desporto e a meditação, entre outros que são complementares entre si. Mas poucos são tão completos como o diálogo direto com o Universo, que revela a nossa essência cósmica e os nossos maiores tesouros, já encontrados ou por conquistar. O mapa celeste é como a planta de uma cidade, um guia que nos mostra onde estão os museus, restaurantes, hotéis, mas não nos obriga a decidir por nenhum deles, mostrando muitos lugares fabulosos que não sabíamos sequer que existiam em nós. Na prática, a Carta ajuda-nos a perceber onde estão as nossas maiores riquezas e como lá chegar, quem somos e como poderemos ser mais felizes. 17 A CARTA A carta astrológica de nascimento de cada pessoa é o seu bilhete de identidade cósmico e o guia para a sua Felicidade, tanto em termos pessoais como profissionais. Ao longo deste livro irá perceber, com a ajuda preciosa da Astrologia, entre outras coisas, quais são as suas melhores qualidades e quais as áreas de vida onde deverá ser excecional, potenciando ao máximo a sua Felicidade. DESTINO E LIVRE-ARBÍTRIO As implicações da ciência cósmica – a Astrologia – são inúmeras e levantam questões importantes. Como podem os planetas influenciar-nos? Duas pessoas nascidas no mesmo dia têm o mesmo caminho? Afinal existe destino ou temos plena liberdade de escolher o rumo da nossa vida? Ao conhecer melhor as pessoas, enquanto terapeutas ou como observadores atentos, percebemos que as correlações astrológicas são mesmo reais. Em média, uma pessoa nascida no fim de Julho (que popularmente designamos como sendo de Leão), independentemente do país em que nasceu e da idade, tem características de alegria, calor e expressividade mais desenvolvidas do que a generalidade das pessoas nascidas noutra época qualquer do ano. Do ponto de vista do senso comum, poderemos encontrar algum sentido porque a “energia” da Terra no meio do Verão será globalmente mais quente e expandida. Pelo que pessoas nascidas nessa época partilharão destas qualidades energéticas, como se houvesse um mecanismo de identidade associado. Mas como é possível? Se o bebé é tão sensível, faz sentido que o primeiro momento em que se expõe ao exterior, e em que recebe com violência uma imensa carga de estímulos energéticos de vária ordem, seja um marco na atitude que desenvolve perante a vida. Essa é, aliás, a versão de muitas correntes da Psicologia moderna. 18 CAPÍTULO 1 :: A QUESTÃO ESPIRITUAL Uma das principais energias recebidas mais diretamente no parto é, precisamente, a energia do Sol, que afeta a Terra e os estados psíquicos dos seus habitantes. Hoje em dia investiga-se cada vez mais o efeito dos ventos solares no magnetismo terrestre, no clima e nas alterações comportamentais humanas, pela alteração das ondas cerebrais e estimulação da glândula pineal que tem um importante papel no sistema nervoso central. Uma explicação científica muito plausível para o funcionamento da Astrologia foi dada pelo astrónomo Percy Seymour, que relaciona o posicionamento e influência gravítica dos planetas na atividade solar, que por sua vez afeta a biologia humana. Muitas outras respostas são esperadas nos próximos tempos, na medida em que se desenvolvem investigações que respeitam princípios astrológicos fundamentais nem sempre conhecidos do grande público. Por exemplo, a visão de que duas pessoas são iguais porque nasceram na mesma altura do ano e partilham o mesmo Signo está incorreta do ponto de vista astrológico. Existem milhares de outros fatores num mapa (como planetas, ângulos, casas) que permitem distinguir radicalmente duas pessoas nascidas no mesmo dia. Sob o ponto de vista astrológico, um indivíduo nascido no início do Outono (signo solar Balança, associado à simpatia e harmonia) pode ser uma autêntica bomba de agressividade se tiver, por exemplo, Lua conjunta a Marte em Escorpião. Ao passo que outro, com mais astros posicionados em Sagitário poderá ser um grande folião, sempre bem-disposto e alegre. Os raros casos dos chamados gémeos astrológicos – pessoas que nasceram à mesma hora exata, mesmo dia e mesmo local – não são suficientes para invalidar os argumentos, antes pelo contrário. Partilham de tendências comuns de vida e de desenvolvimento, bem como idades de transição idênticas. Alguns estudos técnicos como a comparação entre a vida de José Saramago e José-Augusto França, gémeos astrais e personalidades da cultura, por exemplo, evidenciam esta sincronia. Mas não são obviamente as mesmas pessoas, não terão necessariamente o mesmo nível de Consciência, nem o mesmo corpo, nome ou ponto de partida social. Como dizia um famoso filósofo, o mapa 19 A CARTA é uma representação metafórica do território, dos obstáculos e do tesouro – mas não é o território em si. O mapa celeste contém em si hipóteses de evolução e superação, como se fosse um jogo com vários níveis, mas nada nos indica as escolhas que o indivíduo fez para saltar esses “níveis” e aproximar-se do seu Tesouro de realização. Pode ter ficado bloqueado no caminho, logo na primeira montanha – por exemplo – um grande desgosto amoroso que não foi digerido no início da juventude e condicionou as escolhas futuras. O que implica que o livre-arbítrio está sempre presente. Podemos sempre escolher o caminho que acharmos melhor. A carta celeste não revela um caminho pré-determinado e obrigatório, mas sim um caminho para uma maior Felicidade, Consciência e realização que é inteiramente uma escolha pessoal. A Carta dá-nos a arquitetura da nossa jornada de Consciência, a constituição dos diversos andares, o tipo de vilões internos que iremos encontrar, os dragões e também as princesas e sereias. Mas caso não vençamos os desafios nos momentos críticos (a escolha certa), voltamos à casa da partida (o início do respetivo nível). E nada nos garante – a não ser o nosso Espírito ou vontade – que cheguemos ao Tesouro ou que o aproveitemos bem. Temos toda a liberdade para desistir, resistir ou querer. O facto de duas pessoas terem o mesmo mapa das estradas ou planta da cidade não as obriga a seguir as mesmas ruas, a visitar os mesmos restaurantes ou museus, ou a dançar nos mesmos concertos, embora haja claramente lugares melhores do que outros para se visitar. Portanto, ainda que seja um diagrama altamente individualizado – a Carta – que nos mostra o caminho para a Felicidade e os seus relevos, como resistências e apoios, não percorre esse trajeto por nós. A vivência do percurso de realização pessoal é sempre opcional. Cabe-nos decidir se queremos ou não ter mais qualidade de vida e contribuir, ao mesmo tempo, para um mundo melhor. 20 CAPÍTULO 1 :: A QUESTÃO ESPIRITUAL LEIS ESPIRITUAIS Se surgem questões práticas sobre o funcionamento da Astrologia, como os gémeos astrais, o livre-arbítrio ou a influência dos ventos solares, são também inevitáveis as questões mais filosóficas. Se temos um projeto de vida, ainda que com liberdade para ser assumido, isso quer dizer que existe Deus? É por acaso que as pessoas nascem com determinado mapa e, por consequência, com uma missão de aprendizagem? Na verdade, não são propriamente os astros que nos influenciam. A causalidade é mais no sentido inverso: nós é que determinamos as configurações astrais do nosso nascimento. Nós somos responsáveis pela viagem que escolhemos. Faz mais sentido dizer “nasci no início da Primavera – Signo Carneiro – porque sou um ser dinâmico“ do que dizer o contrário. Os astros apenas refletem o nosso ser. Mas não são os causadores dos nossos defeitos ou virtudes. As escolhas que fazemos é que definem quem somos agora. A isto chamam os orientais de princípio do karma, também chamada lei do retorno ou da evolução. Em linguagem ocidental, poderemos designar como princípio da responsabilidade pessoal. Todas as condições com que nascemos, corpo, nome, pais, meio social, nacionalidade, resultam segundo as correntes filosóficas orientais que fundamentam a Astrologia humanística – nomeadamente, o budismo e o hinduísmo – de uma consequência e de uma necessidade. Ainda que não seja necessário acreditar nas leis espirituais antigas – como a reencarnação e evolução – para que a Carta funcione, elas ajudam-nos a compreender a responsabilidade e mérito das nossas ações e heranças astrais. Na vida, a maior riqueza será alcançar um estado máximo de Felicidade, Consciência e paz que poderá corresponder igualmente ao fim do processo de morte e renascimento, o fim do karma, a iluminação. 21 A CARTA O ponto cardeal (e respetiva área de vida) onde está localizado o nosso Sol no momento do nascimento tem uma importância capital na definição do que poderá ser esse Tesouro, as nossas qualidades mais valiosas enquanto seres espirituais, em abundante Felicidade. Imaginemos alguém que tenha nascido a meio da tarde tendo, portanto, o seu Sol localizado na chamada Casa 8. Poderemos dizer que o seu propósito de iluminação e Felicidade passará pela construção de relações de forte partilha, intimidade e paixão, em processos de grande entrega emocional em que a confiança no outro e o risco de crise material são fatores normais a gerir. Para algumas pessoas, um nível de Felicidade, Consciência e bem-estar interior elevados poderá estar mais facilitado, desde o início, atendendo aos méritos adquiridos ou experiência do seu Espírito. Digamos que são seres que já nascem com qualidades de determinação e sabedoria bastante desenvolvidas. Viverão os atributos do seu Sol, como representado no seu mapa de nascimento, com relativa naturalidade. Outras pessoas, por causa do seu karma, uma idade jovem ou apego a alguns hábitos, poderão estar aquém do seu grande potencial revelado astrologicamente. Na verdade, nada nos impede de conseguir vencer resistências menores ou batalhas de vida maiores, como uma pobre autoestima, fraca educação ou uma infância violenta, se tivermos uma força interior realmente poderosa, bem como inteligência e sensibilidade. Sem dúvida, a Carta pode dar uma ajuda muito valiosa. No sentido em que identifica esses desafios e também as melhores armas que temos para os vencer, de maneira a conquistarmos cada vez mais riqueza, sentido de realização e Felicidade. Porque ainda que a força de vontade seja o fator mais decisivo nesta viagem, pode ser francamente potenciada pela Consciência que o mapa celeste fornece. Na essência, como referimos, este ajuda-nos a expandir a nossa Inteligência Espiritual. Lembremos os antigos navegadores. Por maior que fosse a sua coragem, eles não teriam chegado ao seu destino e ultrapassado grandes tempestades, sem a ajuda técnica proporcionada pelos astrolábios e o conhecimento das estrelas, que lhes davam um elevado sentido de orientação no meio do oceano. 22 CAPÍTULO 1 :: A QUESTÃO ESPIRITUAL Tal como os grandes navegadores precisavam de astrolábios para ir mais além, também a navegação da vida pessoal pode beneficiar significativamente com a orientação pelas estrelas. Em certas situações de grande indefinição na tempestade ou perante a busca de novas oportunidades – como um trabalho de sonho ou um maior preenchimento emocional – torna-se importante a consulta da nossa Carta para termos um melhor sentido de orientação e propósito. O mapa astrológico representa os nossos potenciais desafios do presente, e funciona perfeitamente enquanto bússola orientadora da vida nos seus diversos quadrantes. Nascemos sempre nas condições mais apropriadas para o nosso aperfeiçoamento divino, do qual somos os únicos responsáveis. O poder está todo nas nossas mãos e o exterior é apenas o reflexo cósmico do nosso interior, que é ilimitado. CONHECER OS OUTROS Ainda que sejamos todos seres divinos, cuja finalidade última será o alcance de maior Felicidade, trilhamos caminhos diferentes. No caminho espiritual e de realização, para além da Consciência individual é também importante conhecer os outros. Consoante as escolhas do passado, poderemos ter de completar a nossa jornada de aprendizagem por vias que os outros já percorreram e… vice-versa. Daí ser vital aprender uns com os outros e respeitar o caminho de cada um, sem impor qualquer doutrina ao próximo. O que quer dizer que não temos todos de ir meditar para um ashram na Índia para atingir a bênção máxima, um pouco como Buda fez, mas também não temos todos de casar e ter filhos para sermos felizes. Certas pessoas já percorreram tão repetidamente vidas meditativas que poderão precisar de viver a Consciência de experiências precisamente 23 A CARTA opostas: vidas práticas, afetivas e de grande contacto social. E, pelo contrário, pessoas muito sociáveis poderão ter de se recolher. Nem todas as chaves abrem todas as fechaduras. As soluções não são necessariamente iguais para todos. Daí que tão importante como conhecer a nossa carta astrológica seja conhecer minimamente as Cartas dos que nos são próximos – nomeadamente filhos, pais, companheiros, amigos e colegas – para respeitar e entender mais profundamente a sua essência, personalidade e opções. Mesmo que não evite conflitos necessários, esta Consciência permite-nos claramente um grau de harmonia e prazer superiores na nossa vida afetiva e mesmo profissional. Acabamos por respeitar muito mais o outro, inclusive nas suas motivações interiores e inconscientes. E isto torna-se curativo e altamente libertador. Para ambos. É frequente que certas pessoas fiquem pasmadas quando consultam um astrólogo e, logo num primeiro encontro, se sentem compreendidas como nunca foram. Nem sequer pelos próprios companheiros, pais ou melhores amigos, o que é notável. A Consciência cósmica ajuda-nos a ver que os outros têm universos distintos e muito ricos, com os seus desafios e tesouros próprios, e que são Deuses. E esta compreensão profunda do próximo é, em última análise, Amor. Alguns perguntarão: haverá Tesouro maior na vida do que este? Sem dúvida, uma motivação ainda maior para mergulhar no alfabeto cósmico representado por planetas e Signos. O conhecimento mais profundo dos 12 Arquétipos primordiais (os chamados 12 Signos do Zodíaco), por si só, já permite uma Consciência superior nos nossos relacionamentos pessoais, da nossa essência e um degrau extra na escada da Felicidade. Pessoas que sabem de Astrologia são como ímanes sociais atraindo muito mais facilmente os outros ao seu encontro, pela sabedoria fascinante e realista que detêm sobre o interior dos outros e seus desafios. 24 CAPÍTULO 1 :: A QUESTÃO ESPIRITUAL Pela minha experiência, foi notória a diferença de capacidade de relacionamento com os outros e de magnetismo pessoal, a partir do momento em que mergulhei no mundo dos planetas. Digamos que os preconceitos desapareceram em benefício da aceitação das necessidades e sonhos dos outros seres humanos que são, na realidade, seres divinos com um potencial imenso. Como profissional, constatei esta realidade. Acompanhei pessoas tímidas que tinham sonhos de encher salas de espetáculos com as suas artes de palco. E conseguiram. Vi pessoas com grandes condicionamentos físicos tornarem-se cisnes autênticos de beleza e confiança. Assisti à transformação de seres frustrados em seres livres e generosos. Acompanhei relações moribundas a darem lugar a renascimentos de vida e de identidade. É com muita honra e prazer, que apoio a evolução extraordinária de diversas pessoas, cada vez mais conscientes de si e das suas capacidades. Parabéns! CONHECER O MUNDO Se o primeiro passo para a Felicidade é o autoconhecimento e o segundo passo é o conhecimento dos outros, o terceiro passo será o conhecimento do mundo. Ainda que muitas pessoas conheçam de nome os 12 Signos, poucas sabem a sua ordem ou o que realmente significam. Não é correto afirmar, por exemplo, que os nascidos do início de Setembro são nativos da “constelação” de Virgem. O Signo não corresponde à Constelação com o mesmo nome. Como explicaremos em pormenor mais à frente, na verdade existem dois Zodíacos distintos que se usam em simultâneo. A Era de Aquário está precisamente relacionada com esta combinação e desfasamento entre dois círculos zodiacais diferentes (o dos Signos e o das Constelações), embora com uma estrutura semelhante. O círculo das Constelações propriamente ditas é mais útil quando analisamos longos períodos de tempo, como a História das nações 25 A CARTA ou da civilização. Por exemplo, considerando a estrela Régulus, o Coração do Leão, como principal marcador para a divisão das Eras em períodos iguais, teremos entrado oficialmente em 2011-2012 na Era de Aquário. Este período com cerca de dois milénios de duração está associado ao movimento da democracia, telecomunicações, Internet e era espacial. Neste ciclo, a ciência irá ter uma relevância cada vez maior ao descodificar os grandes mistérios das religiões, e permitindo a expressão de maior liberdade de cada ser humano. O período de “fim dos tempos” e grande transição, correspondente ao último grau zodiacal da Era de Peixes, ocorreu entre 1939 e 2012, altura em que a humanidade alcançou um poder tecnológico que possibilitaria a sua autodestruição, obrigando por isso a maior responsabilidade e Consciência. Atualmente, de 2012 a 2084, atravessamos uma fase de enormes transformações e revoluções políticas, em direção a um paradigma de maior humanismo e expressão da individualidade – algo que em si é um aparente paradoxo, porque implica simultaneamente mais independência pessoal e mais cooperação social. Toda esta visão global é possível articulando os dois Zodíacos entre si, como um grande relógio cósmico, com ponteiros das horas e dos minutos. O movimento da Terra na origem deste mecanismo é conhecido como precessão dos equinócios, e está associado à rotação cónica do nosso planeta em torno do seu eixo ao longo de 26 000 anos. O equívoco da questão “Signo versus Constelação” persiste porque, à semelhança da época grega em que estes conceitos foram definidos, continuamos a usar os nomes das Constelações quando nos referimos a fases das estações do ano, marcadas pelos solstícios e equinócios. Os Signos associam-se a características biológicas, de luminosidade, de temperatura, de clima e a etapas de transformação da natureza, ou seja, às diversas subtilezas da Primavera, Verão, Outono e Inverno. Enquanto astrólogo profissional, na minha opinião, para ultrapassar definitivamente esta eterna polémica e consequentes preconceitos, a longo prazo, deveríamos também divulgar nomes alternativos, mais claramente representativos do conceito em questão. 26 CAPÍTULO 1 :: A QUESTÃO ESPIRITUAL Neste livro, entre outros conceitos, apresento uma sugestão de nomenclatura complementar para os habituais 12 Signos, em respeito pela origem, peculiaridades técnicas e carga histórica dos nomes tradicionais. Mas por diversas razões práticas, é mais evidente chamar ao primeiro Signo Vulcão em vez de Carneiro, por exemplo, já que é um Signo de Fogo explosivo. E ao segundo Signo, Jardim, em vez de Touro. Em termos pedagógicos, é mais intuitiva a interpretação de um Ascendente Montanha, claramente associado ao Elemento Terra e ao início do Inverno, do que a designação Capricórnio. Nesta perspetiva, os Signos de Fogo, que são Carneiro, Leão e Sagitário, podemos designar como Vulcão, Luz e Fogueira respetivamente. Aos Signos de Terra, que são Capricórnio, Touro e Virgem podemos também chamar alternativamente de Montanha, Jardim e Areia. Uma proposta para os Signos de Ar, que são Balança, Aquário e Gémeos, será Arco-Íris, Neve e Brisa. Para os Signos de Água, que se designam tradicionalmente como Caranguejo, Escorpião e Peixes, será interessante também designá-los Fonte, Tempestade e Mar. O mapa astrológico é o modelo mais perfeito de análise psicológica que já conheci. As formas de aplicação da Astrologia na sociedade são incontáveis. A compreensão das mudanças políticas, sociais e económicas é muito mais clara com o auxílio dos ciclos planetários e estelares! Os Maias sabiam disso. Os antigos Egípcios também. É possível ter uma perspetiva de ordem muito superior, em relação ao rumo da História e da sociedade, quando estudamos e interpretamos os grandes ciclos do Cosmos, vistos da Terra, o nosso ponto de referência. Vivemos o início de uma nova civilização que poderá tornar-se um paraíso coletivo – desde que cada pessoa se responsabilize por assumir a sua luz e descobrir o seu Tesouro que, em último grau, é a Consciência plena de si próprio, dos outros que o rodeiam, e do Universo. 27 A CARTA A CARTA RESUMIDA > A Inteligência Espiritual é essencial para potenciar a nossa Felicidade e para a participação construtiva numa sociedade em profunda mudança. > Cada pessoa, como ser espiritual consciente, tem um potencial ilimitado de realização pessoal que deve ser respeitado e estimulado: é um Tesouro. > O mapa astrológico de nascimento é um retrato do ser humano, nos seus dons e desafios de evolução, sendo de uma utilidade imensa para o autoconhecimento a todos os níveis. > A Carta simboliza os melhores caminhos para a Consciência e Felicidade pessoal, mas que não são obrigatórios nem garantidos, estando dependentes do livre-arbítrio. > Temos responsabilidade pessoal por tudo o que nos acontece, incluindo os nossos méritos e heranças astrológicas, assim como o seu aproveitamento ou transmutação. > A Consciência dos outros é também importante na evolução, e o conhecimento dos 12 Signos do Zodíaco, por si só, já favorece melhores relacionamentos. > O melhor conhecimento da sociedade e dos seus ciclos é igualmente necessário para um desenvolvimento espiritual saudável, sendo possível pelo estudo da Astrologia. 28