1a Edição Traduzido por Lena Aranha Rio de Janeiro 2009 Dedicatória Para meus colaboradores no evangelho Matt Schmucker Bruce Keisling e Aaron Menikoff que, como Febe, têm “sido de grande auxílio para muita gente, inclusive para mim” (Romanos 16.2, NVI). Agradecimentos CERTA VEZ, Richard Sibbes comentou que “o que a mente mais estuda é o que o coração mais gosta”. Ao perceber como este volume seria grande, pergunteime quem o leria. Independentemente de quem pertence a essa companhia, sei que fui ajudado por muitos outros a entender e a apresentar a verdade da Bíblia por meio destes sermões. Quatro grupos de pessoas, em especial, merecem meus agradecimentos por me ajudarem com estes sermões. Os primeiros e mais imediatos são os editores, e o principal entre eles é Jonathan Leeman. Depois de muitos amigos transcreverem estes sermões, coube a Jonathan passar meses comparando os sermões transcritos com meus manuscritos. Jonathan — amigo e irmão no ministério — usou sua própria compreensão da Bíblia, sua formação teológica e sua experiência como editor para tornar estes sermões mais precisos, mais claros, mais acessíveis e melhores para você, o leitor. Você deve a ele mais do que pensa! Mas estes sermões já existiam havia muito tempo antes de Jonathan sequer vê-los, o que me leva a outro grupo de pessoas a quem tenho de agradecer: a congregação e, em especial, os presbíteros da Igreja Batista na Colina do Capitólio com quem tenho tido o privilégio de servir. A congregação, como um todo, tem sido uma família maravilhosa para se pregar. E cada um de meus irmãos presbíteros exerce atenta e amorosa influência sobre mim e minha pregação. O principal dentre os que influenciaram minha pregação seria Bill Behrens, e por duas razões: a primeira, ele dedicou seu tempo, sábado após sábado, durante anos, para tornar 8 A Mensagem do Novo Testamento meus sermões melhores; a segunda, foi Bill quem me encorajou a certificar-me de que a Bíblia estivesse presente em cada sermão. Se o evangelho está claramente presente em meus sermões, isso não se deve às escolas que frequentei. Não, Bill foi o instrumento humano que Deus usou para isso. Outro grupo de pessoas que Deus usou para me encorajar foram os professores que — por intermédio de seus livros — ensinaram-me a observar o panorama mais abrangente da história bíblica. O principal entre esses autores teria de ser Graeme Goldsworthy e Bill Dumbrell. Eles, juntamente com Don Carson, ajudaram a suprir toda teologia bíblica apresentada nestes sermões. Por fim, e de forma mais profunda, tenho de agradecer a minha família. Para mim, os sermões surgem em momentos inconvenientes, e, sem dúvida, Connie, Annie e Nathan foram os mais importunados por isso. Oro para que na eternidade todos nós sintamos que essas inconveniências valeram a pena e que o tempo foi bem usado. Enquanto isso não acontece, expresso meu amor e agradecimento. Muitas outras pessoas merecem agradecimento. Um agradecimento especial para Duncan Rein, o primeiro a demonstrar entusiasmo e a dedicar tempo e esforço para que meus sermões fossem impressos. Bill Deckard e a excelente equipe da Crossway acreditaram neste projeto e cuidaram dele até sua conclusão. Vários amigos me encorajaram. Poderia continuar a agradecer a outros que contribuíram, mas a responsabilidade final por estes sermões é minha. O crédito do que é bom, eu, com alegria partilho com outros; a falha pelo que estiver errado realmente é minha. Agora, ofereço-os a você com a oração de que seu coração ame mais a Deus e, assim, sua mente se dedique mais a estudar a Palavra dEle. —Mark Dever Igreja Batista da Colina do Capitólio Washington, D.C. Junho de 2005 Prefácio SEM DÚVIDA, EXISTE mais de uma forma correta de abordar a exposição bíblica. Quando o pregador pesquisa uma longa seção de texto bíblico, consegue expor as ideias abrangentes e apresentar o grande fluxo da lógica bíblica de forma panorâmica. Quando ele se dedica a seções menores dando mais atenção aos detalhes, atinge questões específicas e explica-as com muita profundidade. Os dois estilos apresentam vantagens e desvantagens. Os dois métodos têm espaço legítimo na pregação bíblica. De tempos em tempos, examino passagens abrangentes da Escritura. Certa vez, preguei todo o Novo Testamento em seis sessões de tempo integral para um grupo de pastores russos. Em outra ocasião, examinei capítulos inteiros, grupos de capítulos ou livros inteiros da Escritura em um único sermão. (Um dos sermões mais populares que fiz, intitulado: “A Jet Tour Through Revelation” [Um Rápido Tour por Apocalipse], foi uma única mensagem que cobria todo o livro de Apocalipse.) Contudo, esses tipos de visões panorâmicas foram raras exceções à minha abordagem usual. Na maior parte de meu ministério, em que preguei do começo ao fim do Novo Testamento, dediquei cuidadosa atenção às palavras, às frases e aos versículos, em geral, devotando sermões inteiros a uma frase selecionada de um único versículo. Esta é a forma como trabalhei sistematicamente de livro 10 A Mensagem do Novo Testamento a livro da Escritura: frase a frase; versículo a versículo; linha a linha; preceito a preceito. Contudo, com esse método, levei 35 anos para cobrir a maior parte do Novo Testamento e ainda não terminei. Mark Dever, em total contraste a isso, usou 28 sermões nos anos iniciais de seu ministério na Igreja Batista da Colina do Capitólio, em Washington, D.C., para pregar do começo ao fim de todo o Novo Testamento — um sermão para cada um dos 27 livros do Novo Testamento e um sermão extra dedicado ao exame do Novo Testamento como um todo. Ele, de forma única e magistral, é dotado para ensinar dessa maneira. Felizmente para nós, os sermões do pastor Dever sobre todo o Novo Testamento foram colecionados neste livro. Assim, acho que este livro lhe fornecerá uma nova e profunda avaliação de como a abordagem panorâmica pode ser valiosa. Este é um exame maravilhoso do Novo Testamento que nos revela uma visão panorâmica dele — e os temas centrais de cada livro — com incrível clareza e acuidade. Tive dificuldade em parar de ler o livro. Tendo feito relativamente poucas exposições investigativas desse tipo, sei como é difícil fazê-la bem. Mark Dever faz isso de forma soberba. Ele cobre uma gama abrangente de tópicos sempre de forma sucinta, acurada e com notável cuidado e clareza. Ele é muito bom em perceber o panorama geral, o que nem sempre é fácil de fazer. Mas ele faz com que a tarefa pareça fácil, e o resultado é uma ferramenta valiosa que, sei, ajudará milhares de pessoas a entender o Novo Testamento de forma mais acurada. Sou grato pelo evidente amor de Mark Dever pela Palavra de Deus, por seu compromisso em tratar a Escritura com cuidado, por sua disposição de levar a sério a verdade da Bíblia e por sua habilidade de ensiná-la com tanta clareza. Tudo isso aparece de forma poderosa neste livro. Minha oração é que o Senhor abençoe estas páginas em prol do coração de milhares de leitores. —John MacArthur Pastor da Igreja Comunidade da Graça Sun Valley, Califórnia Presidente do The Master’s College e Seminary Sumário Prefácio de John MacArthur...............................................................................................09 Introdução: Conseguindo um Lugar Privilegiado.........................................................13 A Mensagem do Novo Testamento: Promessas Cumpridas........................................17 A Verdade sobre Jesus 1 A Mensagem de Mateus: Jesus, o Filho de Davi.........................................................37 2 A Mensagem de Marcos: Jesus, o Filho do Homem..................................................57 3 A Mensagem de Lucas: Jesus, o Filho de Adão...........................................................79 4 A Mensagem de João: Jesus, o Filho de Deus........................................................... 101 5 A Mensagem de Atos dos Apóstolos: Jesus, o Senhor Ressuscitado................... 125 Principais conceitos chaves 6 A Mensagem de Romanos: Justificação...................................................................... 153 7 A Mensagem de 1 Coríntios: Igreja............................................................................ 175 8 A Mensagem de 2 Coríntios: Fraqueza...................................................................... 197 9 A Mensagem de Gálatas: Fé.......................................................................................... 219 10 A Mensagem de Efésios: Graça.................................................................................... 245 11 A Mensagem de Filipenses: Humildade..................................................................... 271 12 A Mensagem de Colossenses: Nova Vida.................................................................. 293 13 A Mensagem de 1 Tessalonicenses: A Segunda Vinda............................................ 317 14 A Mensagem de 2 Tessalonicenses: Esperança.......................................................... 339 15 A Mensagem de 1 Timóteo: Liderança...................................................................... 361 16 A Mensagem de 2 Timóteo: Sucesso.......................................................................... 379 17 A Mensagem de Tito: Inícios....................................................................................... 399 18 A Mensagem de Filemom: Perdão............................................................................... 421 Vivendo em um mundo real 19 A Mensagem de Hebreus: Apegar-se ao Melhor...................................................... 439 20 A Mensagem de Tiago: Fé que Funciona................................................................... 455 21 A Mensagem de 1 Pedro: Quando as Coisas Ficam Difíceis................................. 473 22 A Mensagem de 2 Pedro: Certeza............................................................................... 491 23 A Mensagem de 1 João: O Cristianismo e a Carne................................................. 507 24 A Mensagem de 2 João: Verdade e Amor................................................................... 523 25 A Mensagem de 3 João: Por que se Dar a todo esse Trabalho?............................. 537 26 A Mensagem de Judas: Ter Fé em Tempos de Descrença....................................... 551 27 A Mensagem de Apocalipse: Pelo que Esperamos?................................................. 567 Introdução: Conseguindo um Lugar Privilegiado ALGUMAS COISAS só podem ser vistas de grande altura. Vá ao ponto mais alto de uma cidade, e o que você vê? Vistas panorâmicas que encantam e entusiasmam. “Uau! Veja como a cidade é grande.” “Oh, é assim que o sistema de ruas funciona.” Se você for um pouco parecido comigo, você ama essas vistas. Quando amigos de fora da cidade me visitam, gosto de levá-los ao telhado do prédio da nossa igreja. De lá, podemos avistar a vizinhança da Colina do Capitólio, além de inúmeros pontos de referência dela e da cidade de Washington. A vista lembrame a comunidade incomum em que Deus nos pôs. E essa vista emociona-nos, desafia-nos e inspira-nos. Na faculdade, gostava de ler minha Bíblia e de orar em uma saída de incêndio do dormitório que tinha uma boa visão do campus. O assento da janela de um avião também é imprescindível para mim. “Aquela é Chicago!” “Veja o Grand Canyon!” “Você tinha noção de quantos lagos essa região possuía?” Lembro-me da primeira vez que voltei aos Estados Unidos com minha família depois de passar alguns anos na Inglaterra. Assim que o avião chegou à 14 A Mensagem do Novo Testamento paisagem dos Estados Unidos, observei da janela e lembrei como o continente americano é grande e despovoado, em especial, quando comparado com a colcha de plantações que, da janela do avião, vemos na Grã-Bretanha. Observar as duas paisagens bem do alto as põe em diferente perspectiva e me fornece uma compreensão mais rica a respeito delas. Isso é o que esperava que esses “sermões panorâmicos” fariam por minha congregação e o que espero que façam por você. Acredito que você achará estes sermões incomuns quando os comparar com a maioria dos sermões que já ouviu. Em geral, há duas variedades de sermões. Algumas pessoas fazem sermões tópicos que se concentram em um determinado tópico, como dinheiro, paternidade, céu ou arrependimento. Os sermões deste livro não são tópicos nesse sentido. Outras pessoas fazem sermões expositivos. O sermão expositivo seleciona uma porção da Escritura, explica-a e, depois, aplica-a à vida da congregação. O texto do sermão pode ser algo do tipo: “Honra a teu pai e a tua mãe”; “Jesus chorou”; Efésios 2.1-10 ou Salmos 23. Os sermões deste livro são mais expositivos que tópicos, mas eles são expositivos com uma diferença. Em vez de examinar uma Escritura específica com microscópio, observamos o texto de um avião. Alguns pregadores expositivos sentem que demonstram sua seriedade em pregar a Palavra de Deus no número de anos que dedicam a um livro específico. Talvez você tenha ouvido alguém dizer: “Nossa igreja dedicou dezoito semanas ao relato de Judas!”, ou um pastor testemunhar: “Há dois anos e meio, quando cheguei à igreja, comecei a pregar o capítulo 1 do Evangelho de Mateus e só agora chegamos ao Sermão do Monte”. Depois, é claro, existem os ministros puritanos, como Joseph Caryl ou William Gouge, que dedicam diversas décadas a Jó e a Hebreus, respectivamente! Você consegue imaginar ficar no livro de Jó toda manhã de domingo durante décadas? Não me interprete mal. A Palavra de Deus é inspirada e merece uma vida dedicada ao seu estudo. Podemos legitimamente pregar durante décadas sobre qualquer livro da Bíblia. A Palavra de Deus contém belezas a serem examinadas com cuidado, de tal maneira que os mais impacientes entre nós jamais verá. Preocupo-me com o perigo dessa pregação se tornar tópica sob a aparência de expositiva. Isso também pode impedir que as pessoas aprendam sobre todas as diferentes partes da Palavra de Deus. Existe outro tipo de pregação expositiva que, acho, é mais rara, mas que também serve bem à igreja. É o que chamo de “sermão panorâmico”, como os deste livro. O sermão panorâmico tenta transmitir o tema principal de um livro específico da Bíblia em uma única mensagem. Se um sermão expositivo Introdução: Conseguindo um Lugar Privilegiado 15 típico apresenta o ponto do texto bíblico como o ponto do sermão, o sermão panorâmico simplesmente transforma o ponto de todo o livro bíblico no ponto do sermão. Fiz estes sermões fundamentado na convicção de que entendemos com mais clareza aspectos de Deus e do seu plano quando examinamos o livro como um todo, e não só quando examinamos com microscópio a estrutura de uma frase de um versículo. Bem, preparar estes sermões é mais difícil do que preparar um sermão sobre porções menores da Escritura. Mas como acontece quando fazemos uma revigorante subida de montanha, fornecem vistas raramente vistas de tirar o fôlego por sua beleza, e de assombrar por sua utilidade. Não me lembro a primeira vez quando pensei em fazer esse tipo de sermão. Talvez tenha sido quando ensinava um mulçumano recém-convertido ao cristianismo e pedi que me ensinasse o livro de Hebreus em três reuniões (achei que ele aprenderia melhor me ensinando). A cada reunião, eu leria uma ou duas sentenças do livro de Hebreus e perguntaria a ele onde o versículo se encaixava no argumento do livro. Não estava muito preocupado com que ele pudesse citar referências de capítulo e versículo, mas, sim, se ele havia entendido o fluxo geral do livro e como alguma ideia do livro se encaixava nesse fluxo. À medida que trabalhamos Hebreus dessa maneira, descobri que a visão geral do livro não era só benéfica para o meu amigo, mas também para mim, como pastor. Quando prego uma passagem como Efésios 2, abordo o capítulo no contexto do livro? Ou seja, estou usando o capítulo 2 da mesma maneira que Paulo o usa no argumento mais abrangente que desenvolve em Efésios? A visão panorâmica do livro de Hebreus também me fez pensar em minha congregação. Quero que os membros da minha igreja fiquem tão familiarizados com os livros bíblicos que possam folheá-los com a mesma facilidade que têm com os livros cristãos populares. Por isso, quando os membros da igreja lutam com um conflito, recomendo que leiam o livro sobre resolução de conflito de Ken Sande, mas também quero que tenham sido treinados pelo sermão panorâmico a fim de que se perguntem de imediato: “O que Tiago fala a respeito dessa situação”. Quando os cristãos querem aprender sobre a vida cristã, deixe-os ler C. S. Lewis e J. I. Packer, mas também os faça pensar em ler 1 Pedro e 1 João! Quando a pessoa luta com o desânimo, sem dúvida, lê livros de Ed Welch sobre depressão, mas também lê o livro de Apocalipse! Quando as pessoas se preocupam se estão passando para o legalismo, espero que elas se voltem para os escritos de Martinho Lutero e de C. J. Mahaney, a respeito da vida centrada na cruz, mas também espero que se voltem para a Epístola de Gálatas. Fico igualmente contente quando a congregação lê sobre a igreja de Dever, mas, pelo bem dessas pessoas, preferiria que conhecessem o argumento de Paulo em 1 Coríntios. 16 A Mensagem do Novo Testamento Claro que só posso fazer esse tipo de sermão em minha igreja, 66 vezes. Este volume apresenta os 27 sermões que fiz sobre os 27 livros do Novo Testamento (com mais um sermão que fiz sobre o Novo Testamento como um todo). Espero que estes sermões não sejam apenas preleções áridas, e que não sejam apenas pensamentos fortuitos sobre meus versículos favoritos de cada livro. Antes, fiz cada um desses sermões com a convicção de que eram exposições genuínas da Palavra de Deus — exceto as passagens que eram um pouco mais longas do que as que normalmente comentava. Em cada sermão, tentei apresentar o peso e o equilíbrio do livro da Bíblia, com aplicações que representam o impulso original do livro, mas que também se aplicavam a nossa congregação na época em que fiz o sermão pela primeira vez. Em reconhecimento ao fato de que os sermões se referem à época em que foram proferidos, incluímos, no início de cada capítulo, a data original em que o sermão foi feito. Contudo, em reconhecimento à contínua relevância da Palavra de Deus, estes sermões também são oferecidos para que você os examine. Espero que você se sinta encorajado pela forma como os vários Evangelhos apresentam a vida de Jesus Cristo; ou como Paulo apresenta a Igreja em 1 Coríntios; ou o que Pedro diz ser normal para a vida cristã em 1 Pedro; ou o que o idoso e o prisioneiro João, em Apocalipse, percebe em sua triunfante visão da soberania de Deus sobre o mundo. Minha vida foi muito beneficiada pela preparação destes estudos! Eles me familiarizaram com os argumentos dos vários livros, fazendo com que entendesse suas partes mais em seu contexto! Oro para que eles tenham abençoado nossa congregação! Bem, nós os entregamos a você com nossas orações e com nosso desejo de que você também seja surpreendido, encante-se e seja edificado quando livros tão familiares assumem novos aspectos de coerência, poder e convicção. —Mark Dever Igreja Batista da Colina do Capitólio Washington, D.C. Maio de 2005 A Mensagem do Novo Testamento: Promessas Cumpridas Promessas Cumpridas1 Em 1858, a legislatura de Illinois elegeu Stephen A. Douglas para o Senado dos Estados Unidos, em vez de Abraham Lincoln. Depois disso, um amigo solidário perguntou a Lincoln como ele se sentia com isso, ao que ele respondeu: “Bem, um pouquinho como o menino que dá uma topada no dedo do pé; sou muito grande para chorar e fiquei muito machucado para rir”. Como pastor na Colina do Capitólio, a cada período eleitoral, fico perplexo pelo fato de que a vitória política de uma pessoa representa a perda política de outra. Não importa quem vença a eleição, um grande número de pessoas — mais da metade — fica desapontada com o resultado. As pessoas ficam tão envolvidas com partidos políticos que o período de eleição pode ser de grande esperança para algumas, da mesma forma que, com certeza, é de grande desapontamento para outras. Às vezes, aguentamos bem o desapontamento. Algumas pessoas estão tão acostumadas com desapontamento que, na verdade, parecem vicejar com ele. Como o personagem Bisonho dos contos do ursinho Puff, elas encontram conforto em procurar nuvens sombrias em volta de cada raio de esperança. No entanto, para a maioria de nós, o desapontamento é como um golpe no coração. Fazemos o que podemos para superá-lo. Você já viu o filme Terra das Sombras — a história do casamento tardio de C. S. Lewis com Joy Davidman? Em uma cena no começo do filme, Lewis está sentado em meio a diversos alunos, em Oxford, e refere-se a uma poesia que menciona a 18 A Mensagem do Novo Testamento imagem de um botão de rosa perfeito. Lewis pergunta o que a imagem do botão representa. Um dos alunos responde. — Amor? — Que tipo de amor? — pergunta Lewis impaciente. — Intocável — diz o aluno. — Que ainda não se abriu, como um botão? — diz outro aluno. — Sim, fale mais. Outro aluno acrescenta de forma ansiosa. — O amor perfeito. — O que o torna perfeito? — pergunta Lewis. — Vamos lá, Acordem. — O ideal refinado de amor? Bem, essa é uma pequena brincadeira sobre Lewis, pois ele escreveu uma tese sobre o refinado ideal do amor. Contudo, Lewis replica: — Muito bem, o que é isso? Qual é sua qualidade essencial? Os alunos ficam em silêncio. Eles não sabem a resposta. Então o próprio Lewis responde. — Intangibilidade. A maior alegria não repousa na posse, mas sim no desejo. O desejo que não desaparece. O êxtase eterno só é nosso quando o que mais desejamos está fora do nosso alcance. Bem, isso é verdade? Isso soa excelente como ideal artístico e romântico, mas a vida é assim? O único êxtase eterno é o êxtase do desejo, não o do cumprimento? Se for esse o caso, como podemos ter esperança sem a possibilidade de realmente conseguir aquilo pelo que esperamos? Afinal, a dor do desapontamento é aguda, porque o objeto do nosso desejo esteve próximo do nosso alcance e o perdemos. Quer seja a perda de uma eleição, quer a ruína de um negócio, quer uma teoria recusada, quer as férias canceladas, quer a derrota de uma lei, quer o fracasso de uma perspectiva de emprego, quer a partida do ente amado, entendemos o que o autor do provérbio quer dizer quando fala: “A esperança demorada enfraquece o coração” (Pv 13.12). Em outras palavras, não podemos ignorar o que o nosso coração se prende. Em que você repousa sua esperança? Se você não puder responder a essa pergunta, talvez não consiga se beneficiar do restante deste estudo. É crucial que você e eu respondamos a esta pergunta: Em que repousamos nossa esperança? Muitos de nossos problemas são provenientes do fato de ligarmos nossa esperança a coisas que não foram feitas para suportá-la. Algumas coisas sustentam nossas grandes promessas, mas, à medida que a vida continua, provam ser fantasias passageiras. Outras coisas são realmente perigosas e destrutivas. Neste mundo velho, não é só na política que as promessas feitas não são necessariamente promessas cumpridas. A Mensagem do Novo Testamento: Promessas Cumpridas 19 Claro que esse é o ponto em que Deus entra. Como aquEle que nos criou, Ele sabe como funcionamos melhor. Ele sabe pelo que devemos esperar e estabeleceu essas exatas coisas na Bíblia, para que ajustemos nossas esperanças a elas. No livro anterior, A Mensagem do Antigo Testamento,2 observamos o “panorama geral” do Antigo Testamento. Agora, temos uma visão panorâmica semelhante do Novo Testamento. No Antigo Testamento, vimos que Deus criou a terra e, depois, aguentou pacientemente um povo que se rebelava contra Ele. A começar por Abraão, Ele escolheu um povo especial para si mesmo. Esse povo, a nação de Israel, aumentou e diminuiu por quase dois milênios até que suas esperanças, antes altas, quase se desvanecessem quando sua nação foi esmagada pela última vez por um invasor estrangeiro — o poderoso Império Romano. Quando essa derrota final ocorreu, eles ficaram desapontados a ponto de ficar desesperados e deprimidos. A libertação deles nunca viria? Eles nunca seriam restaurados à comunhão com o Deus pelo qual ansiavam havia tanto tempo? O mundo nunca seria restaurado? O Novo Testamento conta a história de como todas as promessas feitas no Antigo Testamento foram de fato cumpridas. E quando compreendemos o que Deus está fazendo no grande esquema da história, nossos desapontamentos e esperanças começam a entrar em perspectiva. A fim de examinar todo o Novo Testamento, primeiro observaremos Cristo, depois, o povo da aliança de Deus e, por fim, a renovação de toda a criação. Imagine três círculos concêntricos. Primeiro, enfatizamos Cristo; depois, expandimos para o povo da nova aliança; e, por fim, observamos toda a criação. Cristo A primeira pergunta que devemos formular em relação ao Novo Testamento é: O Libertador prometido por Deus no Antigo Testamento realmente veio? O Novo Testamento responde à pergunta do Antigo Testamento com um retumbante “sim”! E Ele não é apenas um Libertador humano comum, Ele é Deus que veio em carne. O Filho unigênito, Jesus, que manifesta perfeitamente o Pai, para que o povo de Deus o possa conhecer e ser libertado de seus pecados. O Novo Testamento concentra-se diretamente em Cristo. Ele é a essência do Novo Testamento. Ele é o centro da mensagem do Novo Testamento. Deus sempre teve um plano para a criação. O Novo Testamento ensina que, antes mesmo do princípio da história, Deus planejou enviar seu Filho como ser humano para morrer pelos pecados de seu povo. Depois de Deus criar o universo e a raça humana, Adão e Eva rebelaram-se contra o justo governo do Senhor. Por isso, Deus chamou um povo especial para si mesmo em Abraão. Por intermédio do descendente de Abraão, Jacó, ou Israel, a família cresceu para ser 20 A Mensagem do Novo Testamento uma grande nação. Depois, a maior parte dessa nação foi destruída por exércitos invasores por causa de seus pecados; enquanto os sobreviventes foram levados cativos, foram exilados, dispersos, e apenas parte deles se reuniu de novo depois do exílio. Contudo, o plano de Deus permaneceu firmemente no lugar em meio a tudo isso. Nesse remanescente aos pedaços seria encontrado o Libertador por vir, o Ungido — em hebraico, o “Messias”; em grego, o “Cristo”. A coletânea de 27 livros que compõem o Novo Testamento começa com quatro relatos da vida desse Messias — Jesus de Nazaré. Olhe o sumário de sua Bíblia. Sob o título Novo Testamento, você encontra quatro livros no topo da lista — Mateus, Marcos, Lucas e João. Depois desses quatros livros, tem um quinto — Atos dos Apóstolos. Esses cinco livros afirmam que Jesus de Nazaré é o Messias. Esses livros, por assim dizer, são documentários da vida de Jesus e defendem o a sua chamada messiânica. Eles apresentam a seus leitores a incrível notícia de que o Libertador prometido realmente veio! AquEle por quem o povo de Deus esperava, veio! Quando Adão e Israel falharam e foram infiéis, Jesus provou ser fiel. Ele resistiu às tentações. Ele levou uma vida sem pecado. Além disso, Jesus cumpriu a promessa que Deus fez a Moisés de um profeta por vir (Dt 18.15,18, 19). Jesus cumpriu a promessa que Deus fez a Davi de um rei por vir (2 Sm 7.12,13). Jesus cumpriu a profecia do Filho do Homem divino feita por Daniel (Dn 7.13,14). Esses quatro Evangelhos dizem que todas essas promessas e mais outras foram cumpridas em Jesus de Nazaré. Na verdade, de acordo com João 1, Jesus é a Palavra de Deus encarnada — o próprio Deus vivendo na forma humana. Ao nos voltarmos para esses Evangelhos individualmente, observamos que é provável que o Evangelho de Mateus tenha sido escrito por uma comunidade judaica. Ele enfatiza o cumprimento das profecias do Antigo Testamento em Jesus, bem como as muitas profecias a respeito do seu nascimento. Mateus inclui cinco seções principais de ensinamento, cada uma delas mostra que Jesus é o grande profeta prometido por Moisés. Talvez Marcos registre as lembranças de Pedro. O livro não diz isso, mas várias coisas nele nos fazem pensar que Marcos compilou as lembranças de Pedro a respeito de Jesus para os cristãos romanos, talvez por volta da época em que Pedro foi morto por ser cristão. Talvez a igreja, ao ver os primeiros apóstolos mortos, tenha desejado registrar fatos por escrito. O relato de Marcos é o mais curto de todos os Evangelhos e talvez o mais antigo. Lucas, o terceiro Evangelho, às vezes é chamado de Evangelho para os gentios. Lucas enfatiza que o Messias não veio apenas para o povo judeu, mas para todas as nações do mundo, e ele faz bom uso das profecias do Antigo Testamento que envolvem essa promessa. Lucas também escreveu um segundo volume, o livro A Mensagem do Novo Testamento: Promessas Cumpridas 21 de Atos dos Apóstolos. Esse livro é a “parte dois” da obra de Lucas. Atos dos Apóstolos mostra como Jesus expandiu ativamente sua igreja por intermédio do seu Espírito. Por isso, a obra de Jesus — mesmo após sua crucificação, ressurreição e ascensão — continua à medida que a igreja cresce e à medida que Deus estabelece essa nova sociedade. Lucas conclui sua narrativa com a prisão de Paulo — embora este continue a ministrar — em Roma. O quarto livro é o Evangelho de João, talvez o mais amado dos Evangelhos. De alguma forma, ele é diferente dos outros Evangelhos. Ele não ensina uma teologia diferente, mas enfatiza de forma especialmente evidente, a identidade de Jesus como Messias e o fato de que o Messias é Deus. No capítulo 20, João afirma de forma explícita esse propósito para seu Evangelho: “Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (20.31). Estes são os quatro Evangelhos e o livro de Atos dos Apóstolos. Eles iniciam o Novo Testamento mostrando que as promessas feitas a respeito do Messias, no Antigo Testamento, foram cumpridas em Cristo.3 Eles proclamam as Boas Novas de que Deus não só cumpre as promessas feitas ao seu povo do Antigo Testamento, mas também a nós, se nos arrependermos de nossos pecados e seguirmos seu Filho. Se a coletânea dos Evangelhos e de Atos dos Apóstolos o impressiona apenas como um livro de histórias antigas um pouco mais embolorado, você não os leu muito bem. Leia-os de novo. Acho que você descobrirá mais do que imagina, da mesma forma que eu descobri quando, como agnóstico, comecei a lê-los com todo cuidado. Os Evangelhos mostram que Jesus, o Messias, não é apenas Senhor das pessoas que viveram dois mil anos atrás, mas é o Senhor que você precisa na sua vida. O Povo da Aliança Esse tema nos traz ao nosso segundo círculo concêntrico para compreender a mensagem global do Novo Testamento. Cristo está no centro da mensagem do Novo Testamento, depois, movemo-nos para a parte mais externa, seu povo especial da aliança. Os Evangelhos mostram vislumbres da obra de Cristo entre seu povo, em especial, entre os discípulos. Contudo, sua obra realmente ganha força no livro de Atos dos Apóstolos e, depois, nas epístolas do Novo Testamento. Conforme observaremos nos Evangelhos, o próprio Deus tomou a forma humana a fim de manifestar sua imagem em Jesus Cristo. Todavia, o Antigo Testamento ensina que Deus fez os seres humanos — todos nós — a sua imagem para manifestar sua imagem na criação. Portanto, à medida que lemos o Novo Testamento, a obra transformadora e clarificadora de imagem de Cristo entre seu povo especial da aliança, emerge como o segundo tema dominante. 22 A Mensagem do Novo Testamento Bem, sei que hoje não se usa muito o termo “aliança”. Se é que se usa, ele soa como termo legal. Em nosso estudo do Antigo Testamento, consideramos a linguagem “aliança” usada na antiga Israel e constatamos que não é uma linguagem fria, legal; é a linguagem de relacionamento. Por isso, nos Evangelhos, Jesus usa a linguagem de aliança quando partilha a última ceia com os discípulos: “Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vós” (Lc 22.20). Usam-se alianças para formar novos relacionamentos, motivo pelo qual Jesus veio ao mundo: estabelecer um novo relacionamento para seu povo com Deus, pois esse relacionamento fora destruído pelo pecado. No início do Evangelho de João, Jesus diz algo muito estranho: “Derribai este templo, e em três dias o levantarei” (Jo 2.19). Naquele momento, Ele estava no Templo de Jerusalém; mas, a seguir, diz aos discípulos que falava sobre seu próprio corpo (2.21,22). Ele mesmo era o templo que seria destruído e reconstruído. Ele seria o novo local de reunião de Deus com seu povo, da mesma forma como o Templo de Jerusalém fora nos dias antigos. Ele seria o mediador entre Deus e o homem. Conforme já observamos, Jesus Cristo cumpriu a promessa do Antigo Testamento de que o Messias viria como profeta e Rei. Contudo, para libertar seu povo do pecado e estabelecer a nova aliança, Jesus também cumpriu a promessa de que o Messias viria como Sacerdote. Como os sacerdotes levíticos do Antigo Testamento, Ele intercederia entre Deus e o homem com o sacrifício de sangue. Em última instância, o resgate que o povo de Deus precisava era o resgate de seu pecado. O templo, os sacerdotes e os sacrifícios do Antigo Testamento não podiam realizar de forma eficaz (nem nunca se pretendeu que pudessem) a obra de intercessão e de reconciliação, o que nos leva ao enigma do Antigo Testamento. Em Êxodo 34, Deus revela-se como o Senhor “que perdoa a iniquidade” (veja 34.7). A seguir, na mesma sentença, ele diz “que ao culpado não tem por inocente”. O enigma é este: Como Deus pode perdoar a iniquidade e ao culpado não ter por inocente? Os sacerdotes levíticos não podiam resolver o enigma com o sacrifício de touros e bodes (Hb 10.4). Claro que a resposta do enigma é Jesus. Ele veio como Sacerdote, sacrifício, templo e substituto a fim de ser o mediador entre Deus e o homem ao tomar sobre seu corpo a punição de Deus pelo pecado. Assim, Deus poderia perdoar a maldade de seu povo e ainda garantir que a maldade deles fosse punida. O Novo Testamento oferece a resposta para o enigma apresentado no Antigo Testamento. A morte de Jesus na cruz permite que Deus tanto perdoe como puna. Cristo forma a nova aliança — Ele restabelece o relacionamento entre Deus e seu povo — com seu sangue. Não que o Antigo Testamento não prenuncie isso. Em todo o relato do profeta Isaías, o Senhor promete: A Mensagem do Novo Testamento: Promessas Cumpridas 23 Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados. Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos (Is 53.4-6). Isaías disse essas coisas séculos antes do nascimento de Cristo. No entanto, foi exatamente isso que Deus fez por nós em Cristo! Os Evangelhos deixam claro que Jesus meditou a respeito da passagem de Isaías e sabia que cumpriria aquelas mesmas profecias. Por isso, Ele ensinou aos discípulos: “Porque o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10.45). Após sua ressurreição, “começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras”. Ele também lhes disse: “Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse e, ao terceiro dia, ressuscitasse dos mortos; e, em seu nome, se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc 24.27,46,47). Cristo não veio para si mesmo. Ele veio para o seu povo. Ao ler o Novo Testamento, você não só constata que Jesus é o Messias, como também o que isso representa para nós. Conforme Paulo escreveu: “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos” (Gl 4.4,5). Cristo veio para fazer um povo para si mesmo. O capítulo 5 de Apocalipse é uma das passagens mais extraordinárias do Novo Testamento. O apóstolo João recebe uma visão da sala do grande trono de Deus no céu. Enquanto João observa, o decreto de Deus para o resto da história é trazido para a sala em um livro. João quer muito saber o que essa história contém. O que Deus determinou? Mas o livro está selado, por isso, ele começa a chorar. Um ancião aproxima-se de João e diz: “Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, que venceu para abrir o livro e desatar os seus sete selos” (Ap 5.5). João levanta os olhos para ver esse Leão da tribo de Judá, esse poderoso rei dos animais, mas o que ele vê? “E olhei, e eis que estava no meio do trono [...] um Cordeiro, como havendo sido morto” (5.6). O feroz Leão que Deus envia para devorar seus inimigos é um Cordeiro que Ele envia para ser morto. Essa não é a maneira como você e eu resgataríamos um povo. Se fôssemos diretores e produtores da vinda messiânica, enviaríamos alguém que venceria as pesquisas de opinião pública, que venceria todas as batalhas e que traria tudo que nossa carne deseja. Mas não foi dessa maneira que Deus agiu. O inimigo a ser devorado é o 24 A Mensagem do Novo Testamento pecado. Por essa razão, Ele enviou um sacrifício para morrer em nosso favor. O Leão da tribo de Judá é o Cordeiro que foi morto. Deus tinha plena justificativa para nos deixar eternamente separados dEle, no inferno, como punição por nossos pecados; todavia, em seu grande amor, Ele não fez isso. Ele enviou seu Filho, que veio e levou uma vida perfeita e que, portanto, não merecia a ira nem a punição pelo pecado. Cristo morreu na cruz especificamente para tomar o lugar de todos que se voltam para Ele e crêem nEle. Em troca por nossa pecaminosidade, recebemos a santidade dEle. Assim, em Cristo, somos declarados santos diante de Deus e somos reconciliados em um relacionamento eterno com Ele! Exatamente o que a Epístola aos Hebreus menciona e que nunca aconteceu no Antigo Testamento acontece, agora, no Novo Testamento. No Antigo Testamento, o povo de Deus era puro apenas de forma cerimonial. A aliança do Antigo Testamento era real, mas parcial. Os profetas sabiam disso e prometeram que haveria uma nova aliança. Falando por intermédio do profeta Jeremias, Deus disse: Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei um concerto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme o concerto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, porquanto eles invalidaram o meu concerto, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas este é o concerto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. [...] porque perdoarei a sua maldade e nunca mais me lembrarei dos seus pecados (Jr 31.31-33,34b). Bem, no Novo Testamento, finalmente, Deus tem um povo que não é puro apenas de forma cerimonial; a culpa do pecado deles foi de fato removida por causa da morte de Cristo na cruz. Hoje, em Cristo, nós, os cristãos, somos considerados totalmente justos e santos em nossa vida, conforme atestado por nossa maneira de viver e de interagir uns com os outros. De maneira alguma somos perfeitos. Se você tem dúvida em relação a isso, pegue um espelho. No entanto, crescemos e melhoramos com a ajuda de Deus, lidando com a vida de uma maneira que traga glória e honra a Ele, sem pretender que não tenhamos desapontamentos, mas sabendo para quem nos voltar diante desses desapontamentos e em quem pôr nossas esperanças. Deus está nos fazendo dEle, e aguardamos a conclusão de sua obra. Pois, nesse dia, seremos santos de forma plena, pessoal e final, da maneira como hoje somos santos em Cristo. Em tudo isso, a salvação cristã é passado, presente e futuro. Por isso, Paulo pôde dizer aos cristãos efésios que eles foram salvos (Ef 2.8,9), aos cristãos co- A Mensagem do Novo Testamento: Promessas Cumpridas 25 ríntios que eles estão sendo salvos (1 Co 1.18) e aos cristãos romanos que eles devem ser salvos (Rm 5.9). Essa salvação realizada, em andamento e prometida, distingue o povo da aliança de Deus do restante da humanidade. O sentido disso tudo ocupa quase todo o restante do Novo Testamento. Se você olhar o sumário do Novo Testamento, encontrará primeiro os quatro Evangelhos. A seguir, o livro de Atos dos Apóstolos, que é realmente a transição dos Evangelhos para os livros que tratam da maneira que devemos viver como o povo de Deus. Em Atos dos Apóstolos, o evangelho se expande para fora de Jerusalém alcançando a Judeia, Samaria e, com as jornadas missionárias de Paulo, os confins do mundo. Os outros livros do Novo Testamento, depois de Atos dos Apóstolos, são epístolas escritas para os cristãos primitivos que tratam sobre o que representa viver como o povo especial da aliança de Deus, uma maneira de viver distinta da do resto do mundo. As treze primeiras epístolas foram escritas pelo apóstolo Paulo, ex-rabino e fariseu, convertido de forma extraordinária por Deus enquanto viajava para, como ele mesmo diz, perseguir cristãos “até à morte” (At 22.4). Suas epístolas estão ordenadas no Novo Testamento da mais longa para a mais curta — primeiro as epístolas às igrejas e, depois, aos indivíduos. Em sua primeira epístola, aos Romanos, Paulo explica que Deus é fiel à sua aliança por intermédio de Cristo. Deus, por intermédio de Cristo, providenciou justiça para seu povo, justiça essa que, como no caso de Abraão, é-nos creditada pela fé. A seguir, 1 e 2 Coríntios foram escritas para uma igreja com muitos problemas. A igreja vivia em uma sociedade muito secular, portanto, Paulo tentava ajudá-los a saber como levar uma vida santa, especial e distinta em uma cultura ímpia. Você encontra muita coisa interessante nessas duas epístolas, como o famoso capítulo sobre o amor (1 Co 13). Na Segunda Epístola aos Coríntios, Paulo defende de forma apaixonada seu ministério. Se você quiser apenas o que é mais contundente no ensinamento de Paulo, a carta aos Gálatas é um bom resumo disso. Ele é bastante claro a respeito do que fala e do que não fala. Em Efésios, Paulo escreve à igreja que Deus está criando. Deus sempre planejou criar a igreja, e ela é uma nova sociedade que reúne judeus e gentios em Cristo. Filipenses — com frequência chamado de o mais alegre livro do Novo Testamento, porque parece que Paulo não tem nenhuma palavra atravessada a dizer — encoraja seus leitores a se regozijar no Senhor. A epístola inclui o belo hino do capítulo 2 descrevendo como Cristo, embora igual a Deus, fez-se nada e se entregou para morrer na cruz (Fp 2.6-11). Colossenses é a respeito da supremacia de Cristo sobre tudo e de algumas implicações que isso tem para nossa vida. 26 A Mensagem do Novo Testamento A primeira e a segunda carta aos Tessalonicenses são as primeiras epístolas de Paulo. Parece que algumas pessoas de Tessalônica ouviram a respeito da Segunda Vinda de Cristo e, ao interpretar isso erroneamente, deixaram o trabalho. Eles estavam apenas se comportando como fanáticos à espera de que Deus fizesse alguma coisa. Por isso, Paulo escreve e diz para que arrumem trabalho. A seguir, estão as epístolas pessoais de Paulo, escritas para seus amigos pessoais. Paulo escreveu 1 e 2 Timóteo para Timóteo, jovem ministro que ele doutrinou e treinou. As cartas pretendiam encorajar esse jovem cooperador em seu trabalho como presbítero. A Segunda carta a Timóteo, provavelmente, foi a última que Paulo escreveu. A Epístola a Tito foi escrita para um amigo de ministério a quem Paulo deixou na ilha de Creta para instituir os presbíteros das novas igrejas e para completar outros negócios não concluídos. Por fim, Paulo escreveu uma carta muito breve para Filemom, que você teria facilidade em ler em cinco minutos. Filemom era dono de um escravo fugitivo que se encontrou com Paulo e se tornou cristão. É interessante observar como Paulo lida com um dono de escravo. O restante do Novo Testamento compreende um segundo conjunto de epístolas, nenhuma das quais foi escrita por Paulo. Há nove delas, e, mais uma vez, elas estão dispostas por ordem de extensão. O autor da primeira epístola desse segundo conjunto, Hebreus, é desconhecido. O livro de Hebreus ajudanos a entender a relação entre o Antigo e o Novo Testamentos e também o que representa para nós ser o povo da nova aliança de Deus. É evidente que alguns cristãos consideravam voltar para alguma versão da antiga aliança que Deus fizera com Moisés. Afinal, aquelas simples reuniões cristãs na casa de alguém, destituídas de qualquer grande pompa e cerimônia, pareciam inexpressivas. No Templo de Jerusalém, havia incenso, sacrifícios, vestimentas extravagantes, grandes cornetas e assim por diante. Tudo que parece especial pode, até mesmo, ser satisfatório do ponto de vista religioso. Por isso, as pessoas começavam a voltar atrás. O autor de Hebreus responde a isso dizendo: “Preste bem atenção. Sob a antiga aliança, temos sacerdotes que morreram por causa do próprio pecado. E os sacrifícios intermináveis de bois e bodes que eles fizeram deixavam a pessoa pura apenas do ponto de vista cerimonial. Mas veja o que vocês têm em Cristo! O Filho eterno e sem pecado de Deus entregou-se de uma vez por todas para fazer seu povo verdadeiramente puro e santo. O sangue dos sacrifícios anteriores apenas apontava para Ele”. A Epístola de Tiago é muito prática. Ela descreve como viver a vida cristã demonstrando a preocupação prática pelos outros. A Mensagem do Novo Testamento: Promessas Cumpridas 27 A Primeira e a Segunda Epístolas a Pedro são relevantes para a igreja de hoje porque foram escritas para cristãos que começavam a passar por dificuldades por causa de sua fé. Isso os confundiu. Acho que eles presumiam o seguinte: “Se estou vivendo da forma correta, tudo não deveria correr bem em minha vida?” Pedro responde: “Na verdade, se observarem a vida de Jesus, vocês percebem que essa não é uma boa suposição. De fato, viver da forma correta talvez signifique que a vida não seja fácil, pelo menos, não neste mundo”. As duas epístolas encorajam os cristãos a perseverar na fé, tendo Cristo como exemplo. A segunda epístola também adverte sobre o perigo dos falsos mestres. Primeira, Segunda e Terceira João são três breves epístolas escritas para encorajar os cristãos em sua vida de amor e obediência fiel ao Senhor. Judas é uma epístola curta, semelhante a 2 Pedro, que adverte contra os falsos e imorais mestres. Essas são as instruções do Novo Testamento para nós em relação ao que representa ser o povo da aliança de Deus. No Novo Testamento, as promessas feitas para o povo santo no Antigo Testamento são cumpridas no povo de Deus da nova aliança. Se somos cristãos, elas são mantidas em nós hoje. Criação Em muitos cultos, você ouve a oração: “Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu” (Mt 6.10). Você já se perguntou qual é o sentido dessas palavras? Elas saem da nossa boca com tanta facilidade. Muitos de nós dizemos essas palavras desde a infância. “Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu.” Pense por um momento nos tipos de pessoas que protegem seu coração porque querem evitar mágoas ou desapontamentos. As únicas esperanças que se permitem são as que podem realizar. As únicas promessas que ouvem ou fazem para si mesmas são as promessas que têm poder para cumprir. Contudo, limitar nossas promessas desse jeito contrapõe-se totalmente ao cristianismo. Se você zela por seu coração dessa maneira, encorajo-o a examinar o evangelho. Pedro, como cristão, diz: “... aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça” (2 Pe 3.13); e isso está totalmente fora do nosso poder de realização. Nenhum partido escolhido, nenhum esquema econômico, nenhuma promoção no trabalho e nenhum relacionamento bem-sucedido pode realizar as grandes coisas pelas quais esperamos como cristãos. Aguardamos o cumprimento de nossa primeira e última esperança: o mundo inteiro ser restaurado, da mesma forma como o plano de Deus, no Novo Testamento, estende-se de Cristo para seu povo da aliança no círculo mais externo — toda a sua criação. Em outras palavras, esperamos a vinda do seu Reino e que sua vontade seja feita, “tanto na terra como no céu”. 28 A Mensagem do Novo Testamento É isso que encontramos no final do Novo Testamento, no livro de Apocalipse. Ele também é uma epístola, mas é uma epístola incomum na qual o apóstolo João descreve algumas visões que Deus lhe concedeu. Em certos aspectos, a epístola apocalíptica de João recupera algumas tradições proféticas do Antigo Testamento ao destacar os grandes eventos que se sucederão aos habitantes da terra. O livro de Apocalipse, mais especificamente, descreve a consumação do povo de Deus, no lugar de Deus e no relacionamento certo com Ele. A igreja militante torna-se a igreja triunfante — a igreja vitoriosa no céu. E os céus e a terra são recriados para sempre (veja Ap 21.1-4; 21.22—22.5). A Bíblia não apresenta os cristãos como platônicos nem gnósticos — pessoas que acham que este mundo e as coisas materiais não importam, que acham que apenas a vida espiritual após a morte tem importância. Do começo ao fim do livro de Apocalipse e em todo o Novo Testamento, os autores enfatizam a natureza física da ressurreição. Jesus ressuscitou fisicamente, e sua ressurreição é chamada de “as primícias”. Ela inicia o que vivenciaremos na ressurreição final da morte. Seremos acolhidos para estar com Deus para sempre, mas essa não é uma proposição de negação do mundo. O plano de Deus para o mundo não existe em algum plano etéreo distante da realidade concreta. Há um versículo interessante no livro de Apocalipse que diz: “E as nações andarão à sua luz [de Cristo], e os reis da terra trarão para ela [a cidade do céu] a sua glória e honra” (Ap 21.24). Na consumação final da criação, os reis da terra apresentarão todo seu esplendor e toda a grandeza cultural do mundo diante da assembleia celestial reunida; e todas essas coisas demonstrarão a glória de Deus, à medida que descobrimos o plano dEle para a criação. Não só o que Marcos, o pregador, ou Maria, a professora da Escola Dominical, trazem serão considerados coisas de valor. Antes, as coisas que você e eu fazemos em nossa vida diária nos negócios, na educação, no governo, nos cuidados de saúde e na nossa família — se as fizermos para o Senhor — serão apresentadas no último dia e acrescentadas ao brilho da glória de Deus. Essas coisas fazem parte do plano de Deus para o mundo. E aqui, no fim, a santidade do povo de Deus finalmente será completa, quando estivermos em casa com Ele. João escreveu em sua primeira epístola: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos” (1 Jo 3.2). O fim será como o princípio, só que melhor. O jardim do Éden, em algum sentido, será restaurado. Deus habitará com seu povo. O livro de Apocalipse apresenta a cidade celestial completa como um cubo perfeito, o que nos faz lembrar o Santo dos Santos do templo do Antigo Testamento. O Santo dos Santos que representava a presença de Deus na terra também tinha a forma de cubo. Só que esse cubo celestial não está restrito à entrada dos sumos A Mensagem do Novo Testamento: Promessas Cumpridas 29 sacerdotes uma vez por ano, como na antiga Israel; todos os filhos de Deus entrarão na presença dEle, e viveremos com Ele para sempre! É assim que o livro chamado Novo Testamento termina. Acho essa uma boa maneira para o Novo Testamento acabar. Esse final fornece-nos, como cristãos, excelentes notícias a darmos ao mundo. Hoje, vivemos um tempo de espera, mas esperamos com e por Deus. Afinal, o livro de Apocalipse foi escrito por um homem, na casa dos noventa anos, que fora exilado em uma ilha pela força mais poderosa da terra, o Império Romano. Naquela época, os cristãos eram mortos por causa de sua fé. Ele estava muito desesperado e dependia totalmente de Deus. Contudo, estava cheio de esperança, porque sua esperança não repousava nas circunstâncias exteriores. Sua esperança repousava no Deus soberano que governava acima dos imperadores romanos. Foi nesse ponto que desceu a cortina do Novo Testamento. Na Escritura, Deus promete que a terra ficará repleta do conhecimento da glória dEle, e a promessa, com certeza, será cumprida em sua nova criação. Conclusão Claro que alguns desapontamentos têm utilidade. A ruína de nossos planos acalentados, com frequência, torna-se o passo que damos em direção ao verdadeiro bem que Deus tem a nossa espera. Algumas das mesmas coisas que você espera para este instante são o que Deus, em seu grande amor, quer tirar de suas mãos para que você possa receber dEle o que é melhor. Paulo aprendeu isso quando orou três vezes a Deus para que removesse o espinho de sua carne. Deus disse a Paulo que a força dEle se aperfeiçoaria na fraqueza de Paulo. Assim, Paulo regozijou-se em se tornar fraco para a glória de Deus. E é isso que encontramos em nossa vida. Quando nos apegamos ao mundo com toda nossa força, logo percebemos que não conseguimos nos sustentar. Conforme Jesus disse: “Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?” (Mc 8.36). Deus tem algo muito melhor do que todo o mundo para seus filhos. No último parágrafo da série de livros As Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis, o autor capta algo da natureza da esperança cristã. Ele escreve: E, à medida que Ele falava, já não lhes parecia mais um leão. E as coisas que começaram a acontecer a partir daquele momento eram tão lindas e grandiosas que não consigo descrevê-las. Para nós, este é o fim de todas as histórias, e podemos dizer, com absoluta certeza, que todos viveram felizes para sempre. Para eles, porém, este foi apenas o começo da verdadeira história. Toda a vida deles neste mundo e todas as suas aventuras em Nárnia haviam sido apenas a capa e a primeira página do livro. Agora, finalmente, estavam começando o Capítulo A Mensagem do Novo Testamento 30 Um da Grande História que ninguém na terra jamais leu: a história que continua eternamente e na qual cada capítulo é muito melhor do que o anterior.4 Após considerar os mistérios de Deus, a sua misericórdia para conosco em Cristo, e a esperança que temos como filhos da aliança dEle, Paulo passa para a doxologia, dizendo: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!” (Rm 11.33). Assim, espero ter sido claro: o ponto do Novo Testamento, na verdade, o ponto de toda a Bíblia é que Deus nos fez promessas, Ele cumpriu essas promessas, e somos convocados a confiar nEle, pois Ele é o cumpridor de promessas! Deus revelou-se para a humanidade por meio de suas promessas. Por isso, a fé é tão importante. No fim do dia, a Bíblia não repousa na prateleira como um objeto passivo de investigação. No fim do dia, ela vira-se, olha para nós e diz: “Você crerá e confiará?” Ou, como a senhora Sabedoria do livro Provérbios, diz-nos: “Quem confiará? Quem seguirá? Quem acreditará no que digo?” Deus entrega sua Palavra e suas promessas para nós. Ele convoca-nos a confiar em sua Palavra e a crer em suas promessas. No jardim do Éden, Adão e Eva não creram. Jesus creu durante toda sua vida e, em especial, no jardim do Getsêmani. E quando você e eu ouvimos a Palavra de Deus e cremos nela, somos restaurados ao relacionamento com Ele para o qual fomos feitos. Essa é a esperança na qual podemos confiar, pois essa esperança não nos desapontará. A Bíblia — o Antigo e o Novo Testamentos — diz respeito a isso. Oremos: Senhor, nós o louvamos por não nos ter deixado sozinhos, apesar de termos pedido que saísse de nossa vida. Nós o louvamos por ter enviado Jesus como o Messias, e pelo fato de Ele não ter vindo só para demonstrar sua santidade e nos excluir, mas para nos incorporar em sua santidade e nos fazer seu povo. Ele, com amor, misericórdia e perdão, veio e contou-nos sobre o amor do Senhor ao entregar-se totalmente, para que pudéssemos ser feitos aceitáveis para o Senhor. Nós o louvamos, Senhor Deus, pelo amor que, em Cristo, demonstra por nós e pelo povo que está preparando para si mesmo. Oramos para que o Senhor ponha em nosso coração uma esperança que nos impulsione a viver como o novo povo que o Senhor nos fez para ser, confiando no Senhor e em sua Palavra. Deus, o Senhor deu-se totalmente para nós. Oramos para que o Senhor venha e tome toda nossa vida e nos use para sua glória, em nome de Jesus. Amém. Questões para Reflexão 1. Você já recebeu, ou alcançou, uma coisa pela qual buscou por muito tempo apenas para ficar desapontado com ela? Quando? Por que você ficou desa- A Mensagem do Novo Testamento: Promessas Cumpridas 31 pontado? Existe alguma coisa neste mundo digna de ser desejada que não seja assim? 2. Qual é o principal argumento dos quatro Evangelhos? 3. O que quer dizer “Cristo”? O que quer dizer “Messias”? 4. Explique o enigma do Antigo Testamento. Explique como apenas Cristo resolve esse enigma. 5. Conforme observamos, Jesus, o Leão da tribo de Judá, veio para devorar o inimigo, o pecado. Como o Leão devorou esse inimigo? 6. De modo geral, o que as epístolas do Novo Testamento tentam realizar? 7. O que significa quando nos referimos a Cristo como nosso “Sacerdote”? Como Ele age como nosso Sacerdote? 8. Conforme observamos, hoje, os cristãos são contados como perfeitamente justos, embora não sejamos de maneira alguma perfeitos. Isso é uma contradição? Como isso funciona? 9. Consideramos, no texto, o tipo de pessoa que tenta proteger seu coração ao esperar somente coisas que elas têm o poder de controlar ou de fazer acontecer. Depois, vimos que o cristianismo chama para exatamente o oposto disso. Como? Por quê? 10.Qual é a importância de a cidade celestial ter a forma semelhante a de um cubo? 11. Conforme consideramos, algumas das mesmas coisas que você espera para este instante são o que Deus, em seu grande amor, quer tirar de suas mãos para que você possa receber dEle o que é melhor. O que Ele pode querer tirar das suas mãos? A que sonho, esperança, ambição, exigência, expectativa, posse, pessoa, você está firmemente apegado que Ele possa pedir que renuncie? 12. Renunciar às coisas pelas quais ansiamos requer um tipo de morte — a morte de um desejo. E é difícil escolher essa morte de boa vontade. Isso requer que creiamos — realmente creiamos! — que o que Deus promete é ainda melhor. Você lembra-se de algum momento de sua vida no qual Deus provou ser fiel a sua promessa de lhe conceder algo melhor? Você acha que Ele fará diferente da próxima vez? 13. O fim do livro A Última Batalha, de Lewis, é maravilhoso, não é mesmo? Uma estrofe do hino “Graça Maravilhosa”, de John Newton, evoca um sentimento similar ao dizer: “Dez mil anos com o Senhor habitar; como o sol a brilhar [...]” Reserve alguns momentos para meditar, como as coisas que pareceram tão importantes para você nessa última semana parecerão daqui a dez mil anos? Daqui a dez mil anos, a contar de agora, o que você acha que gostaria de ter feito na próxima semana? 14. Diga em um minuto ou menos, quais são as boas novas do cristianismo? Notas A Mensagem do Novo Testamento: Promessas Cumpridas 1 Este sermão foi originalmente pregado em 6 de setembro de 1996, na Igreja Batista da Colina do Capitólio, Washington, D.C. 2 A Mensagem do Antigo Testamento: Promessas Feitas. Rio de Janeiro: CPAD, 2008. 3 Entre muitas outras designações, Jesus também é descrito como o último Adão (1 Co 15.4547); o justo (1 Pe 3.18; At 3.14; 1 Jo 2.1); maior que Moisés (Jo 1.17; 5.45,46; Hb 3.1-6); maior que Davi (Mt 22.41-45; At 2.29-36). Abraão também exultou em ver o dia dEle (Jo 8.56-58). 4 C. S. Lewis, A Última Batalha, em As Crônicas de Nárnia. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 737.