Ética Política, Ética Social e Futebol O “jogo político” se submete a regras nem sempre claras, pois muito do que ocorre nos bastidores do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados Federais e Senado Federal), em âmbito Federal, raramente chegará ao conhecimento público, pois desse comportamento depende toda a organização política de onde partirão as tomadas de decisões que afetarão todos os governados, ou seja, a nós do povo. A questão a ser levantada é até que ponto se age com a observância da Ética no desenvolvimento dessas ações políticas que não são de conhecimento público. Para tanto se faz necessária uma breve explicação do termo “Ética” e seus reflexos na política, bem como na vida social do cidadão comum. Cada um de nós certamente já ouviu dezenas de vezes a palavra “Ética”, sem, no entanto, nos atentar para o real significado do termo, isso é comum, repetir algo sem saber realmente o seu significado. Daí surge às dificuldades, pois não teremos fundamentação para uma análise crítica dos atos praticados. De inicio, portanto, ressalta-se que é creditado o surgimento da Ética aos gregos, notadamente aos grandes filósofos, Sócrates, Platão e Aristóteles, a partir do Século IV a.C., o que se melhor analisado mostrará que tal pensamento não merece ser entendido como absoluto, pois na realidade, desde que o ser humano se reconheceu como ser racional, e viu no outro um seu semelhante, a questão ética surgiu. A preocupação com o pensar e agir de modo coerente e de forma a preservar a vida está na própria existência da humanidade. Assim, mesmo antes dos gregos já havia culturas milenares, do médio e extremo oriente, os quais possuíam grande sabedoria, que já consideravam as questões éticas em seu relacionamento social. No antigo Egito, por exemplo, uma civilização de mais de 6.000 anos, as atividades profissionais revestia-se de caratê ético em todas as suas manifestações, mesmo porque eram intrinsecamente ligadas as crenças e ritos religiosos. No Ocidente, a tradição judaico-cristã, também de raiz oriental, foi a que mais influenciou nossa formação ética. O Antigo Testamento apresenta extenso repertório de leis e mandamentos (inclusive o livro das Leis e os Dez Mandamentos registrados por Moisés). Os ensinamentos cristãos, estes baseados na vida de Jesus, moldaram eticamente em especial a Europa e as Américas. Desta forma, creditar aos gregos a criação da Ética em parte é aceitável, pois se justifica em especial pelo fato da abordagem das questões humanas sob uma forma radicalmente mais racional que seus antecessores, foram determinantes para a separação entre Religião e Filosofia. Assim, coube aos filósofos gregos desvincular a ética da seara religiosa, até então forças dominantes. Superada a noção introdutória acerca da ética e seu surgimento, cabe destacar as diversas vertentes a serem consideradas, em especial a ética política e a social. A ética social se reveste de indeterminadas faces, pois depende de uma série de variáveis que formam cada um de nós, ou seja, uma atitude ética vai depender do que se entende por ético e isso esbarra na condição individual de todos os componentes de uma sociedade. Em regra existe um mínimo ético que se espera encontrar numa sociedade, no entanto, esse mínimo ético, quando individualizado pode se mostrar distinto. Assim, podemos nos socorrer dos pensamentos de Sócrates o qual foi o primeiro a aplicar a razão para chegar às questões éticas, tais como: existe algo que pode ser considerado Bem, e seu contrário, chamado de Mal? Podemos discernir no mundo e nas atitudes aquilo que é Justiça daquilo que é Injustiça? Podemos chamar de Belo aquilo cuja essência ética e equilíbrio nos encanta, comove e ilumina, e considerar Feio o inverso? E o principal: somos capazes de, efetivamente, agirmos dentro dos princípios de Verdade, Beleza e Justiça? Ressalta-se que Sócrates após injusto julgamento foi condenado à morte, e mesmo tendo a chance de se eximir, preferiu morrer em defesa da verdade. A pergunta é: A ética de Sócrates tem lugar no jogo político? Invariavelmente, a resposta politicamente correta seria SIM, pois é um dever de quem escolhe atuar no mundo político o papel de defender o interesse da coletividade, bem buscar o desenvolvimento dos fins do Estado, ou seja, a busca pelo bem social. Contudo, tal resposta não revela tão simples, pois, pelo sistema eleitoral brasileiro, uma pessoa eleita contará com o apoio da maioria, o que não significa que terá o apoio geral, pois dentre os eleitores muitos não votaram nessa pessoa. E mais ainda, os interesses são diferentes, e partem de partidos políticos também diferentes, daí a necessidade de certo “jogo de cintura” para alinhar os interesses públicos com os interesses partidários, lembrando que os partidos são pessoas jurídicas de direito privado, buscam, portanto o poder e sua manutenção. Diante dessa realidade, percebe-se que a Ética se reveste formas distintas, dependendo de onde se aplica e, portanto, seria ingenuidade esperar que a atividade política seja revestida de uma ética tal qual a descrita por Sócrates, pois a política se faz como dito no início, por regras próprias explicitas e outras muitas nem tão aparentes assim. No jogo político é necessária a costura de alianças, a aproximação de antigos desafetos, enfim, uma constante mudança de posicionamento a cada mudança ocorrida no cenário da política nacional. Nessa altura os leitores podem estar se perguntando e o que futebol tem a ver com o até então tratado? A resposta caros leitores, está num provável remédio contra a falta ou manipulação da Ética no campo político, pois devemos vigiar sempre. Vigiar e exigir que o mínimo ético seja observado e em não sendo, devemos no resignar e atuar de forma ativa, tal qual torcedores de futebol que exigem resultados, discutem a semana toda quando seu time perde, pressionam os dirigentes, no sentido de verem seu time apresentar um resultado melhor, cobram dedicação dos jogadores a camisa envergada. Infelizmente o interesse pela política não se reveste de tanta intensidade como o futebol. Mas deveria, pois assim, como os torcedores que são a razão de ser do futebol, os eleitores são a razão de ser do Estado, e mais ainda, são quem financiam a máquina estatal, e, portanto detentores de poder, a despeito de ainda não terem a noção exata de sua amplitude. Conclui-se por fim, que a Ética social e a Ética política guardam distinções entre si, mas que, no entanto uma ao anula a outra, só tomam direções diversas. Assim, muito ainda veremos no jogo político atual que causará perplexidade, se vistas paralelamente a nossa história política recente, mas antes de radicalizar, devemos entender que faz parte do jogo político numa realidade em que nem todos, como Sócrates, escolha morrer em defesa da verdade, e diante desse cenário cabe a nós eleitores a tarefa de cobrar, tal qual torcedores de futebol, os melhores resultados, sempre é bom destacar, sem uso da violência, mas sim com a autoridade que a própria Constituição nos dá, ao mencionar que todo poder emana do povo e em seu nome deverá ser exercido, pois como dizia Aristóteles “O homem é um animal político” e, portanto deve participar da vida política de seu município, estado e do país. Joel de Freitas, Advogado, Professor Universitário do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, Professor de Curso Preparatório para Concursos (Conceito-SP, PROORDEM - Campinas e Piracicaba), Ex-Assessor Jurídico Militar (EB), Mestrando em Direito da Sociedade da Informação do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) Especialista em Direito Previdenciário e Ciências Criminais pela Universidade Salesianas (UNISAL) e Direito Militar, pela Universidade Castelo Banco (UCB), Graduado em Direito Pela Universidade de Taubaté (UNITAU). e-mail: [email protected]