Histórico Realização Comissões Objetivos Temas Conceitos Programa Títulos Autores Buscar Home Sair Uso e Conservacao dos Recursos Naturais Monferrer ? Ajuda 243 - A BIODIVERSIDADE VEGETAL DOS CAMPOS SULINOS E A SUSTENTABILIDADE DA PECUÁRIA. UMA AVALIAÇÃO DE BROMUS AULETICUS. Márcio Zamboni Neske1, Carlos Otávio Costa Moraes2, Marcos Borba3, Eli Lemos4. RESUMO No Rio Grande do Sul, a base da exploração econômica da região sul do Estado ainda é o “campo natural”. Um ecossistema que apesar de alta diversidade, com espécies de grande potencial forrageiro, tem sido preterido em prol de combinações de espécies exógenas. O que além do custo energético de implantação e manutenção (sementes, combustível, máquinas, fertilizantes, herbicidas, etc), causa impactos sobre a biodiversidade. A espécie B. auleticus que se caracteriza como uma das principais espécies nativas desta região, tanto em produção (1958 kg/Ms/ha) quanto em qualidade (17-25%PB), principalmente no período de outono-inverno que é o mais crítico para o acúmulo de forragem, apresenta características quanti-qualitativas que indicam a possibilidade de se desenhar sistemas pecuários menos dependentes e de menor impacto ambiental. PALAVRAS-CHAVE: Bromus auleticus, sustentabilidade, pecuária, campo nativo INTRODUÇÃO Os campos naturais do Rio Grande do Sul são desde muito tempo atrás a base da exploração pecuária do Estado. Uma característica do ecossistema campos é a riqueza e diversidade de plantas, principalmente gramíneas e leguminosas de valor forrageiro. No entanto, a grande problemática da pecuária da região, está relacionada com a baixa produtividade e qualidade destas espécies no período outono/inverno, ocasionada por baixas temperaturas e dias mais curtos. Como alternativa, a pesquisa oficial vem sugerindo a década de 50 a introdução nesse ecossistema de espécies exóticas teoricamente mais produtivas. Tal enfoque – em que a razão da tecnologia prevalece sobre a organização da natureza - , não reconhece as estratégias locais de aproveitamento racional dos recursos como capazes de viabilizar a produção pecuária. 1 Bolsista EMBRAPA Pecuária Sul- Br 153 Km 595. Cx. Postal 242, Bagé-RS. E-mail: [email protected] Engo Agrônomo M.Sc.- EMBRAPA Pecuária Sul - RS. E-mail: [email protected] 3 Med. Vet. Doutor em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, EMBRAPA Pecuária Sul. E-mail: 2 [email protected] 4 Tec. Agrícola, Assistente de pesquisa- EMBRAPA Pecuária Sul. E-mail: [email protected] Histórico Realização Comissões Objetivos Temas Conceitos Programa Títulos Autores Buscar Home Sair ? Ajuda A implantação das pastagens exóticas exige ou preparo convencional do solo ou o emprego de herbicidas, modificando a cobertura vegetal e os ciclos biogeoquímicos. Tais intervenções além de afetar o equilíbrio dinâmico do ecossistema, implicam uma grande dependência externa do sistema de produção (fertilizantes e corretivos, combustíveis, sementes, máquinas, herbicida, crédito, etc). Assim, o presente resumo busca, a partir de uma síntese dos resultados obtidos pela Embrapa Pecuária Sul, incentivar uma outra leitura sobre a potencialidade de sistemas pecuários de produção com base em novos formatos tecnológicos e novas configurações, a partir de um paradigma agroecológico e através da otimização das potencialidades ecossistêmicas locais. A espécie B. auleticus é uma gramínea nativa, perene de estação fria, de hábito cespitoso, com excelente desempenho forrageiro, determinado pela produção de MS e qualidade de Proteína Bruta durante a época outono/inverno. DESENVOLVIMENTO Trabalhos desenvolvidos na Embrapa Pecuária Sul por Oliveira & Moraes, comparando B. auleticus com outras espécies perenes de inverno comerciais durante dois anos (1991 e 1992), demonstraram que, mesmo não sendo a de maior produção de matéria seca, esta espécie não apresentou diferenças significativas em relação as demais. No entanto, B. auleticus foi a espécie que apresentou menor percentual de redução na produção de matéria seca durante o período avaliado. Quanto a qualidade da forragem os percentuais de proteína bruta também não apresentaram valores significativos comparados com as outra espécies (Tabela 1). No entanto, avaliando esta espécie através de cortes mensais de fevereiro a setembro, Oliveira & Moraes (1993) obtiveram produção de forragem com distribuição uniforme no outono/inverno, e com teores de proteína bruta variando de 17 a 25%. Também Moraes & Oliveira (2002) constataram que B.auleticus não apresentou resposta significativa (P>0,05) a níveis de nitrogênio, chegando a um rendimento máximo de matéria seca na ordem de 30% superior ( 143 kg/ha/ano de N) ao tratamento testemunha. Tabela 1- Produção média de matéria seca (Kg/ha) total por ano de espécie e cultivares perenes de estação fria Espécie e MS PB % MS PB Diferença MS Diferença PB Histórico Realização Comissões Objetivos Temas Conceitos Programa Títulos Autores Buscar Home Sair ? Ajuda Cultivares Festuca arundinacea KY 31 IPZ farroupilha Phalaris aquática IPZ cinqüentenário Urunday Bromus auleticus Hocus lanatus Magnólia 1991 (1) 1991 (1) 1992 (2) 1992 (2) (1)-(2) (1)-(2) 2403 2814 13,96 13,57 506 1250 10,37 10,24 79% 56% 26% 25% 2625 2199 1958 13,18 14,03 14,14 135 172 1258 10,8 10,62 10,33 95% 92% 36% 18% 24% 27% 1615 14,86 197 12,44 88% 16 A produção de semente de B. auleticus também se mostrou satisfatória nas avaliações realizadas. Avaliando diferentes genótipos, Oliveira (2001) encontrou produções de sementes variando de 350 a 500 Kg/ha. Quanto a época de diferimento para produção de sementes, as melhores produções foram obtidas diferindo no período correspondente de 15 de setembro a 15 de outubro (Oliveira, 2001). CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando que a função dos ecossistemas refere-se a processos dinâmicos (fluxos de matéria e energia, interações e relações dos organismos e materiais dos sistemas), seria fundamental entender tais processos antes de qualquer intervenção, pois a função pode determinar a diferença entre o fracasso e o sucesso de determinada prática de manejo. No caso dos Campos Sulinos onde a dinâmica populacional das espécies representa o potencial produtivo do ecossistema, a falta de conhecimento das propriedades morfológicas e fisiológicas ligadas a um manejo inadequado vem ocasionando a degradação do ecossistema. O B. auleticus é uma das espécies componentes deste ecossistema com grande aptidão forrageira, com boa produção de MS e de sementes e alta qualidade nutricional no período inverno-primavera e grande palatabilidade para os animais devido às suas características bromatológicas. Além disso, ao não mostrar resposta significativa à doses de nitrogênio sob a forma de adubo químico, o B. auleticus indica que sua capacidade forrageira é fruto da adaptação ao ambiente. As propriedades que demonstram o desempenho de B. auleticus são condições suficientes para enquadrar essa espécie dentro de um modelo ecologicamente mais sustentável de produção. Um modelo onde o princípio do manejo seja a capacidade de carga, de modo que a freqüência de pastejo sobre a composição florística do B.auleticus e Histórico Realização Comissões Objetivos Temas Conceitos Programa Títulos Autores Buscar Home Sair ? Ajuda demais comunidades vegetais, permita um aumento do número de plantas e uma melhor qualidade de vida do solo; produzindo, ao mesmo tempo aumento do ganho de peso animal e da dinâmica vegetal. Sua utilização numa perspectiva agroecológica permite a produção de biomassa, o retorno de matéria orgânica para o solo, favorecendo a reciclagem de nutrientes enquanto viabiliza processos produtivos capazes de ofertar produtos (carne, leite e derivados, etc) de melhor qualidade (qualidade associada ao processo produtivo e não somente ao produto “acabado”), com melhor eficiência energética (uso mais eficiente dos fluxos naturais de energia e de matérias e menor dependência de insumos externos ao sistema) , de menor impacto ambiental (menos resíduos não recicláveis, manejo da biodiversidade sem pretensões de controle) e passível de apropriação pela maioria dos “pecuaristas”, sejam eles familiares ou não (democratização do conhecimento e valorização do conhecimento local). Assim, Bromus auleticus revela sobretudo a importância das espécies nativas para compor agroecossistemas mais sustentáveis de maneira ecológica, econômica, social e culturalmente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GLIESSMAN, S.R., Agroecologia: Processos Ecológicos em Agricultura Sustentável. Ed. da Universidade, UFRGS, 2ª ed., Porto Alegre, 2001. OLIVEIRA, A.L.T. Caracterização e resposta dos componentes da produção de semente dos acessos de Bromus auleticus trinus coletados no RS submetidos a diferentes regimes de corte. Pelotas, Fac. de Agronomia, UFPEL, 2001. Tese de Mestrado OLIVEIRA, J.C.P. & MORAES; C.O.C. Distribuição da produção e qualidade de forragem de Bromus auleticus Trinus. Pesq. Agropec. Bras:; Brasília. V. 28, 1993. OLIVEIRA, J.C.P. & MORAES; C.O.C. Rendimento e qualidade da forragem cevadilha Vacariana (Bromus auleticus trimus) em resposta a doses de nitrogênio. Rev. Cient. Rural URCAMP. V 7, n. 1, p. 74-78, 2002.