Surto de febre hemorrágica pelo vírus Ebola África Ocidental, 2014 – 2016 Disciplina: IMT-2005- Mecanismos de Transmissão e Patogenia de Organismos Patógenos Aplicados à Saúde Pública Curso de Graduação em Saúde Publica – 2º ano, 2016 FEBRES HEMORRÁGICAS CAUSADAS PELOS VÍRUS EBOLA E MARBURG Filovírus: 5 subtipos de Ebola: Zaire, Sudan, Taï Forest, Bundibugyo, Reston. 1 subtipo de Marburg. Vírus RNA envelopado. Estável à 20º C e à dessecação Inativado a 60º C (30 minutos). Sensível a ultravioleta, solventes lipídicos, hipoclorito, fenóis, e quaternários de amônia. Nível de biossegurança 4. Período de incubação: 5 a 7 dias (2 a 21 dias) Sinais e sintomas: início: febre abrupta, fraqueza, dor muscular, cefaleia, dor garganta; náuseas, vômitos, dor abdominal, diarreia, tosse, rash cutâneo, conjuntivite, aumento de gânglios; 5º. dia: icterícia, sangramentos, insuficiência renal e hepática, CIVD; 7º. - 16º. dia: choque, coma, morte. Letalidade: Ebola Sudan: 50% Ebola Zaire: 80-90% Ebola Bundibugyo: ~30% (?) Marburg: 25 – 90% Reston: só em animais (?) Diagnóstico: detecção de anticorpos: ELISA, imunofluorescência; detecção de antígenos: rt-PCR; cultura de vírus. Tratamento: suporte clínico; Antivirais: em desenvolvimento. Controle: vacinas: em desenvolvimento; isolamento do doente; uso de EPI; vigilância e quarentena de contatos. Reservatório: Zoonose primária de morcegos frugívoros da família Pteropodi (Hypsignathus monstrosus, Epomops franqueti e Myonycteris torquata; Marburg: Rousettus aegyptiacus). Hospedeiros: primatas não humanos e outros animais; humanos; suínos e macacos: Ebola Reston. África: infecção em humanos documentada mediante o contato com chimpanzés, gorilas, morcegos frugívaros, macacos, antílopes, porcosespinho (doentes ou mortos). MODOS DE TRANSMISSÃO: Pessoa-a-pessoa: contato direto com sangue, secreções e excreções de pessoas infectadas, por solução de continuidade da pele, ou mucosas (contato com sangue, urina, vômitos, escarro, suor, sêmen, leite materno, órgãos). Profissionais de saúde: idem + acidentes pérfurocortantes. Possíveis: • contato com superfícies contaminadas; • contato com cadáveres (cerimônias de funeral). Ebola Hemorrhagic Fever Transmission and Risk Factors of Contacts, Uganda: Paolo Francesconi et al, Emerging Infectious Disease, nov/ 2003, CDC: Uganda / 2000-1: 425 casos (224 mortes) Associação forte: • contato direto com o doente por familiares ou profissionais da saúde; • o risco aumenta nas fases finais da doença. Associação fraca ou possível: • transmissão por objetos ou superfícies contaminadas: dormir junto, compartilhar roupas e alimentos, lavar roupas de doente, contato com pessoas mortas (funeral). Não houve geração de casos fora da área afetada. O simples contato físico com o doente parece não ser suficiente. Transmissão: revisão CDC: Não ocorre transmissão durante o período de incubação. Nenhuma transmissão ocorreu antes do início da febre. Risco de transmissão é baixo nas fases iniciais da doença e aumenta nas fases finais da doença. A infecção subclínica é incomum; Não há evidências de transmissão por assintomáticos. Transmissão post-mortem pode ocorrer. Não ocorreu nenhuma transmissão sem contato direto. Não foi documentada nenhuma transmissão por aerossóis. Não ocorre transmissão por mosquitos ou outros vetores. Não foi registrado nenhum caso durante viagens internacionais de longa distância (porém, pode ocorrer pela duração do período de incubação). Síntese histórica: • Ebola: • 27 surtos com casos humanos até 2013. • 4 episódios de transmissão entre macacos em instituições de pesquisa e/ou de importação/exportação de animais, sem transmissão à humanos (todos do Ebola subtipo Reston). • Total de 2.354 casos humanos e 1.544 óbitos (letalidade de 65,6%). • Apenas um surto de maior proporção em área urbana, em Kikwit (RDC), em 1995. Surtos – Vírus Marburg • Vírus identificado em 1967, em profissionais de laboratório que trabalhavam com chimpanzés, em Marburg, Alemanha, e Belgrado, Iugoslávia. 31 Casos e 7 óbitos. Outra contaminação de profissional de laboratório, relatada na Rússia em 1990 (1 caso/óbito). • 5 pequenos surtos em Uganda e África do Sul (1975, 1980, 1987, 2007 e 2008), com 11 casos e 4 óbitos. • 2 surtos de maiores proporções: em 1998 na RDC (154 casos e 128 óbitos), e em Uíge, Angola, em 2005 (374 casos e 328 óbitos), único surto em área urbana. • Total de 12 surtos com casos humanos, sendo 3 em profissionais de laboratório e 5 episódios em viajantes. África Distribuição geográfica dos surtos de doença pelo vírus Ebola, 1976 – 2014 Fonte: Pigott DM et al, 2015 Trans R Soc Trop Med Hyg 109:366-78 Distribuição geográfica dos surtos de doença humana pelo vírus Marburg e detecção de infecção em animais, 1976 – 2014 Caverna Kitum, Quênia, local provável de exposição de 3 turistas ao vírus Marburg Epidemia de febre hemorrágica pelo vírus Ebola na África Ocidental • Observada ocorrência de casos de febre hemorrágica na região sudoeste da Guiné, a partir de fevereiro de 2014. • Confirmada a etiologia (vírus Ebola) em 22/03/2014. • Nessa mesma semana identificados casos na capital da Guiné (Conakry) e casos suspeitos nos dois países vizinhos – Serra Leoa e Libéria. • Agente etiológico foi subtipado como Ebola Zaire. • Investigação identifica o provável paciente zero – um menino de 2 anos de idade Emile Ouamouno, na vila de Meliandou, Guiné, óbito em 06/12/2013 Localização da vila de Meliandou, distrito de Guaékedou, Guiné, local provável de ocorrência do 1º caso da epidemia de doença pelo vírus Ebola na África Ocidental, em dezembro de 2013 Meliandou Epidemia de febre hemorrágica pelo vírus Ebola na África Ocidental • A partir de 15/05/2014 a OMS passou a divulgar boletins de atualização do número de casos. Nessa semana são confirmados os primeiros casos em Serra Leoa, e na semana seguinte, na Libéria. • Em 1/07/2014 a OMS promove a 1ª reunião dos ministros da saúde dos países envolvidos. Naquele momento haviam 750 casos notificados, e a ocorrência de casos nas capitais da Guiné e Libéria. • Em 22/07/2014 identificado caso em viajante internacional, na Nigéria. O paciente, originário da Libéria, viajava para os EUA, com conexão na Nigéria. • Em 08/08/2014 a OMS declara a ocorrência uma Emergência em Saúde Pública de Interesse Internacional (ESPII). • Empresas aéreas restringem voos para os países afetados. OMS recomenda o “screening” de viajantes na saída dos países afetados. Epidemia de febre hemorrágica pelo vírus Ebola na África Ocidental • Médico e missionária norte-americanos são removidos para os EUA para tratamento, e se recuperam. Uso da droga experimental Zmapp (anticorpos monoclonais). Missionário espanhol morre após ser removido para a Espanha. • Em 26/08/2014 é notificado um surto de Ebola não relacionado à ocorrência da África Ocidental, na República Democrática do Congo (RDC). • Em 30/09/2014 um viajante internacional procedente da Libéria é diagnosticado com EVD em Dallas, EUA. • Em 29/09/2014 – 1º caso de transmissão na Europa, em enfermeira que atendeu o paciente espanhol. • Na duas primeiras semanas de outubro, duas enfermeiras em Dallas tem o diagnóstico de EVD. Ambas haviam atendido o paciente procedente da África. Epidemia de febre hemorrágica pelo vírus Ebola na África Ocidental • Em 17/10/2014 o Senegal foi declarado livre do Ebola (42 dias sem ocorrência de casos). O único caso no país foi de um viajante procedente da Guiné, em 29/08/2014. • Em 24/10/2014 mais um país notifica casos, o Mali, a partir de um viajante procedente da Guiné. • Nigéria controla transmissão (19 outubro 2014). Total de 20 casos e 8 óbitos. • Mali interrompe transmissão (24/01/2015) Epidemia de febre hemorrágica pelo vírus Ebola na África Ocidental • • • • • • • • • Objetivo da investigação: Controlar a transmissão Intervenções: Aprimoramento da vigilância epidemiológica, e da vigilância de contatos. Aprimoramento do diagnóstico laboratorial. Ampliação da capacidade de atenção médica aos casos Aprimoramento da biossegurança. Educação em saúde e mobilização social. Coordenação do trabalho entre as distintas agências e parceiros. Distribuição do número acumulado de casos *, óbitos, incidência** e letalidade, segundo país. Epidemia de doença hemorrágica pelo vírus Ebola. África Ocidental, 2014 – 2016 No casos Incidência Fim da transmissão No óbitos Letalidade Guiné 3.804 32,7 29/12/2015 2.536 66,6% Libéria 10.675 237,1 14/01/2016 4.809 45,0% Serra Leoa 14.123 228,1 14/01/2016 3.956 28,0% Total 28.602 - - 11.301 39,5% País * Casos confirmados, prováveis e suspeitos ** incidência por 100.000 habitantes Fonte: OMS http://apps.who.int/ebola/en/ebola-situation-report/situation-reports Distribuição dos casos de EVD segundo país, sexo e faixa etária, África Ocidental, 2014 - 2016 Epidemia de febre hemorrágica pelo vírus Ebola na África Ocidental • Pesquisas em andamento: • Virologia : – Sequenciamento, evolução. • Epidemiologia & Controle: – Dinâmica de transmissão – Estudo dos reservatórios – Avaliação de intervenções • Clínica: – Testes para diagnóstico – Ensaios clínicos • Vacinas • Medicamentos antivirais Risco de infecção em profissionais de saúde • Profissionais de saúde: • Até 01/11/2015, 881 profissionais de saúde na África Ocidental contraíram a doença pelo vírus Ebola, com 513 óbitos (58,2%). • Casos fora da África: • Espanha – dois religiosos que trabalhavam no setor saúde na África foram infectados e transferidos para a Espanha. Ocorrência de um caso secundário em profissional de enfermagem, o primeiro episódio de transmissão do Ebola fora da África. • Estados Unidos – um médico e uma voluntária leiga se infectaram na África e foram transferidos para os EUA. Ocorrência de um caso em viajante procedente da Libéria e dois casos secundários a este, em profissionais de enfermagem. • Alemanha – médico senegalês trabalhando para a OMS em Serra Leoa foi transferido para a Alemanha para tratamento da doença pelo vírus Ebola. • Reino Unido – uma enfermeira escocesa, trabalhando em Serra Leoa foi infectada e transferida para Glascow em dezembro de 2014. Estudos de transmissão • Persistência do vírus no sêmen: • Estudo realizado com 93 homens sobreviventes da doença pelo EBV. • 2 a 3 meses depois da doença: n = 9, 100% com PCR positivo. • 4 a 6 meses depois da doença: n = 40, sendo 26 com PCR positivo (65%). • 7 a 9 meses depois da doença: n = 43, sendo 11 com PCR positivo (26%). • > 10 meses depois da doença: n = 1, com resultado da PCR indeterminado. Deen GF et al. New Engl J Med, Oct 14, 2015 Estudos clínicos • Terapêuticas experimentais: • Uso de plasma ou sangue de convalescentes. • Medicamentos experimentais: – Zmapp – imunoterápico contendo 3 anticorpos monoclonais. Usado em dois pacientes com Ebola. – TKM-Ebola – contém três pequenas sequências de RNA que agem sobre três das sete proteínas do vírus. Já submetido à avaliação em ensaio clínico fase 1. • Ambos receberam autorização especial da FDA para uso no surto da África Ocidental. • Vacinas: • Dois produtos candidatos à vacina em ensaios em fase 2/3 na África Ocidental: – ChAd3-ZEBOV – da farmacêutica GSK e NIH – usa um adenovírus derivado de chimpanzé, com um gene do Ebola. – VSV-ZEBOV – da PHA – Canadá – usa o vírus da estomatite vesicular atenuado como vetor de uma proteína do Ebola. Situação atual • 12/01/2016 – OMS declara fim do surto na África Ocidental. • No mesmo dia foi notificado mais um caso foi registrado na cidade de Magburaka, região central de Serra Leoa. • Em 20/01 registrado o 2º caso, em uma familiar do caso anterior. • Nesse dia haviam sido identificados aproximadamente 200 contatos do caso índice, e 109 estavam em quarentena. 12 contatos foram considerados de alto risco, e cerca de 50 haviam desaparecido. • A vacina VSV-EBOV está sendo usada no controle do surto. • Entre Janeiro e Abril de 2016 mais 14 casos novos foram registrados nos três países, com 9 óbitos. Repercussão social – Promedmail em 05/10/2016 Francisco Vanin Pascalicchio