PICHAÇÃO COMO MANIFESTAÇÃO CULTURAL: ARTE OU VANDALISMO? Larissa Dutra Fernandes [email protected] Graduação em Geografia – Universidade Federal de Uberlândia João Guilherme Machado Barbosa [email protected] Graduação em Geografia – Universidade Federal de Uberlândia Resumo A pichação é vandalismo ou uma forma de manifestação cultural, e se sim, como ela influencia a paisagem cultural? Considerado um ato de vandalismo e nada agradável para muitos, a pichação é uma manifestação cultural. Mesmo sendo crime os pichadores tornam-se símbolos de resistência, são sujeitos de uma manifestação, e alteram a paisagem com sua arte, refletindo a sua realidade. No geral a pichação é feita por excluídos e demais pessoas que se incomodam com práticas políticas, sociais, econômicas, assim os que manifestam seus protestos, por vezes colocando em risco sua integridade física em detrimento de suas reivindicações, manifestando sua contracultura, as convenções sociais. Palavras-Chaves: Pichação; cultura; paisagem cultural; vandalismo. Eixo 4: Valoração e Percepção da Paisagem INTRODUÇÃO A pichação retrata uma manifestação cultural não é bem vista por todos, mas que se manifesta como um forte movimento nas grandes cidades, o objetivo desse estudo foi esclarecer se a pichação é uma forma de manifestação cultural, ou vandalismo e como ela influencia a paisagem cultural. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A categoria dos estudos geográficos que mais iremos abordar e que encaramos como chave na compreensão deste tema é a paisagem, para o entendimento de como os sujeitos à moldam transformando-a em paisagem cultural, que segundo Sauer (1925) depende da atuação humana para ser caracterizada. A paisagem cultural é moldada pelo sujeito, agente de transformação do espaço e tudo que nele está contido, a subjetividade das ações humanas gera transformações, ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 381 físicas como metafísicas na paisagem e a pichação abarca as duas transformações, fomenta no sujeito o sentimento de insatisfação e transforma a paisagem do visível. METODOLOGIA A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica acerca do tema, na tentativa de identificar o sentimento dos sujeitos que fazem parte dos movimentos de resistência, rebatendo as opiniões dos que se opõem, foram utilizados documentários, notícias, diálogo informal com um grafiteiro, além de visitar lugares com pichações no município de Uberlândia- MG. PICHAÇÃO: ARTE OU VANDALISMO? A pichação é vista como um ato de vandalismo, a mesma atinge a propriedade privada de cidadãos que no geral desconhecem as causas da manifestação ou são alvos delas. O ato da pichação torna-se incomodo para o sujeito que recebe a crítica e com razão, no entanto a razão que outrora ele tinha em seu direito como proprietário pode ser refutadas com atos de violência, constantemente registrados. A pichação, assim como o grafite, surgiu em Nova York na década de 70. Atualmente o grafite é considerado como forma de expressão no âmbito das artes visuais, possui uma elaboração mais complexa, chama atenção para problemas da sociedade e visa inclusão social e pode dizer que é bem visto, pela sociedade seja por sua estética ou pela relação estabelecida pelos grafiteiros. O grafiteiro para expressar sua arte precisa de autorização do proprietário do espaço, seja ele pública ou privado. Existem muitos motivos que levam os pichadores a desenharem ou escreverem com letras de seu próprio alfabeto, seja em local público ou privado. Um dos motivos que levam o sujeito a ser tachado como criminoso é a demarcação de seu espaço ou a competição com outras gangues, não criminosos, como geralmente são vistos, mas como grupo que se organiza calcados em um ideal de liberdade de expressão, utilizam de sua arte para protestar. A outra vertente das ditas gangues, são as que se organizam como grupos de criminoso e delimitam sua área de atuação, e alto denominam-se donos daquele espaço. O grafite é reconhecido como obra de arte, contudo o ato de pichar é crime, segundo o Art. 6º da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, podendo levar o autor de 3 meses a 1 ano de prisão ou pagamento de fiança e serviços sociais. Em alguns depoimentos de ex-pichadores muitos dizem que saíram dessa ars, pois viram amigos morrerem, seja por repressão ou em acidentes, os movimentos de ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 382 resistência que se utilizam da pichação como forma de manifestação tem força em grandes metrópoles como São Paulo, e em sua maioria usam de seus talentos para mostrar para sociedade os problemas que ocorrem e ninguém nota, ou finge que não. Existem projetos que levam os pichadores para conhecer galerias e obras de artistas famosos como “Os Gêmeos” que são grafiteiros mundialmente conhecidos, e falam também dos problemas que os próprios pichadores causam para a sociedade fazendo. Assim, os sujeitos que antes se viam como pichadores passam a identificar no grafite uma possibilidade de expandir suas reivindicações, vale questionar o sentimento de resistência que outrora atenuava a relação do sujeito com sua arte, se continuará ou as sensações serão outras, há também a perda do significado da pichação, um ato ilícito e símbolo de resistência social. Para o modo de produção capitalista que rege o mundo em que vivemos é bem conveniente que o grafite seja aceito e o pichação não, pois o grafite é altamente comerciável. A partir do momento em que o grafite foi reconhecido como arte ele adquiriu um valor comercial, já o pichador não tem interesse nenhum em vender seu trabalho o interesse do pichador é provocar sensações de incomodo. Atualmente a própria prefeitura de algumas grandes metrópoles convida pichadores e grafiteiros, mais conhecidos como artistas de rua para fazer intervenções nas cidades, criando assim outra forma desses pichadores serem inseridos em uma forma de arte mais aceita pela sociedade. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com Meinig apud. (1976, p. 164 apud Santos, 2014) “a paisagem constitui parte do conjunto compartilhado de ideias, memórias e sentimentos que une uma população”, é exatamente isso que ocorre com os pichadores, de acordo com suas ideias, memórias e sentimentos eles se unem com o mesmo objetivo, e veem na sua arte uma forma de expressarem seu sentimento, pode ser a insatisfação política, econômica, social, enfim qualquer tipo de repressão que provoque no sujeito um sentimento de revolta. Duncan (1990, p.3 apud Santos, 2014) a respeito da paisagem diz “a paisagem urbana, considerada como um texto pode estar associada tanto a reprodução como a contestação do poder político”. O homem, por não ser um ser passivo e simples mensageiro da cultura, protesta para uma melhoria de condições de vida, para sair da marginalidade que a sociedade muitas vezes impõe. Através de sua arte alguns grafiteiros conseguiram e é isso que alguns pichadores buscam, através de sua arte como forma de resistência, questionar o sistema, seja ele político, econômico ou social que tanto os oprime. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 383 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NASCIMENTO, Luiz Henrique Pereira. Pixação: a arte em cima do muro. 2012. 37 f. TCC (Graduação) - Curso de Filosofia, Universidade Metodista de São Paulo, Campinas, 2012. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/117103939/Pixacao-A-arteem-cima-do-muro>. Acesso em: 10 jan. 2014. BRASIL. Congresso. Senado. Constituição (1998). Lei nº 12.408, de 12 de janeiro de 1998. Lex. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20112014/2011/Lei/L12408.htm>. 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