INSTITUTO OSWALDO CRUZ Mestrado em Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical APLICABILIDADE DO SANGUE SECO EM PAPEL DE FILTRO PARA ESTUDOS DE PREVALÊNCIA DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE C EM DIFERENTES GRUPOS MARJORIE PARRA DE LIMA RIO DE JANEIRO JANEIRO DE 2015 INSTITUTO OSWALDO CRUZ Pós Graduação em Medicina Tropical MARJORIE PARRA DE LIMA APLICABILIDADE DO SANGUE SECO EM PAPEL DE FILTRO PARA ESTUDOS DE PREVALÊNCIA DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE C EM DIFERENTES GRUPOS Dissertação apresentada ao Instituto Oswaldo Cruz como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Medicina Tropical Orientadora: Prof. Dra. Livia Melo Villar RIO DE JANEIRO JANEIRO DE 2015 Ii INSTITUTO OSWALDO CRUZ Pós Graduação em Medicina Tropical AUTOR: MARJORIE PARRA DE LIMA APLICABILIDADE DO SANGUE SECO EM PAPEL DE FILTRO PARA ESTUDOS DE PREVALÊNCIA DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE C EM DIFERENTES GRUPOS ORIENTADORA: Prof. Dra. Livia Melo Villar Aprovada em: 23/01/2015 EXAMINADORES: Prof. Dra. Vanessa Salete de Paula Prof. Dr. Filipe Anibal Carvalho Costa Prof. Dr. Francisco Inácio Pinkusfeld Monteiro Bastos Prof. Dra. Debora Regina Lopes dos Santos Prof. Dr. Adilson José de Almeida Rio de Janeiro, 23 de Janeiro de 2015 iii INSTITUTO OSWALDO CRUZ Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical AUTOR: MARJORIE PARRA DE LIMA APLICABILIDADE DO SANGUE SECO EM PAPEL DE FILTRO PARA ESTUDOS DE PREVALÊNCIA DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE C EM DIFERENTES GRUPOS Orientadora: Prof. Dra. Livia Melo Villar EXAMINADORES: Prof. Dra. Vanessa Salete de Paula Prof. Dr. Filipe Anibal Carvalho Costa Prof. Dr. Francisco Inácio Pinkusfeld Monteiro Bastos Prof. Dra. Debora Regina Lopes dos Santos Prof. Dr. Adilson José de Almeida Rio de Janeiro, 23 de janeiro de 2015 iv Este trabalho foi realizado no Laboratório de Hepatites Virais do Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ, Rio de Janeiro, RJ v Agradecimentos À FIOCRUZ, CAPES, e a Pós-graduação em Medicina Tropical por proporcionarem apoio financeiro para a execução deste trabalho. À orientadora Dra. Livia Melo Villar, pela orientação, suporte, paciência e dedicação ao me orientar ao longo da realização deste trabalho. À Dra. Elisabeth Lampe, chefe do Laboratório de Hepatites Virais, pela oportunidade de desenvolver o projeto. Aos pesquisadores, Dra. Vanessa Salete de Paula, Dr. Adilson José de Almeida, Dr. Filipe Aníbal Carvalho-Costa, Dr. Francisco Inácio Bastos, Dra Débora Regina Lopes dos Santos por aceitarem fazer parte da banca avaliadora. Aos colaboradores em cada centro coparticipante: Dra. Cristiane Alves VillelaNogueira (UFRJ), Dra. Priscila Pollo-Flores e Dra. Eliane Bordalo Cathalá Esberard (UFF), Msc. Cynara Carvalho Parente (UFC/Sobral), Dra. Maria Rosangela Cunha Duarte Coelho (LIPA/Pernambuco), Dra. Ana Cecilia Cavalcanti Albuquerque (Faculdade Associação Caruaruense de Ensino Superior), Dra. Lia Laura Lewis-Ximenez (Ambulatório de Hepatites Virais), Dra. Ana Rita Motta-Castro (UFMS), Msc. Flávio Augusto Pádua Milagres (UFT), Dr. Marcelo Santos-Cruz (IPUB/UFRJ), Dr. Filipe Aníbal Carvalho-Costa (Fiocruz Piauí), Dr. Francisco Inácio Bastos (ICICT/FIOCRUZ). Aos profissionais do laboratório de hepatites virais que participaram na coleta, processamento e realização de testes imunoenzimáticos de amostras incluídas neste estudo, em especial, Dra. Vanessa Salete de Paula, Elisângela Ferreira da Silva, Juliana Miguel, Helena Medina Cruz, Vanessa Alves Marques, Brunna Lemos Marques, Letícia de Paula Scalioni e Renata Tourinho. As amigas que dividiram não só o espaço físico, mas também todos os momentos de vitória durante essa caminhada: Helena Medina Cruz, Vanessa Cortes Faria, Elisângela Ferreira da Silva, Juliana Custódio Miguel, Geane Lopes Flores, Ana Carolina da Fonseca Mendonça, Gabriela Cardoso Caldas, Ludmila Callado e Joyce Magalhães. Aos amigos do mestrado, pelo incentivo, momentos de descontração e convivência intensa, em especial as amigas, Tayany de Deus e Caroline Magalhães. Aos meus pais Antonio e Ivany por todo o apoio, incentivo e amor, principalmente na reta final da conclusão do trabalho. vi “De um começo tão simples, infinitas formas tão belas e maravilhosas evoluíram e continuam evoluindo” Charles Darwin, Origem das espécies, 1859 viii INSTITUTO OSWALDO CRUZ APLICABILIDADE DO SANGUE SECO EM PAPEL DE FILTRO PARA ESTUDOS DE PREVALÊNCIA DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE C EM GRUPOS RESUMO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM MEDICINA TROPICAL Marjorie Parra de Lima O diagnóstico da infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) emprega testes imunoenzimáticos e moleculares em amostras de soro obtidas a partir de punção venosa. O uso de fluidos alternativos, como o sangue seco em papel de filtro (SSPF) pode ser uma opção vantajosa para o diagnóstico, pois a coleta é menos invasiva e o material pode ser armazenado e transportado em temperatura ambiente. O objetivo deste estudo foi determinar a utilidade do SSPF para diagnóstico e estudos de prevalência da infecção pelo HCV em diferentes regiões geográficas do Brasil e avaliar os fatores de risco associados. Para isto, foram incluídos indivíduos provenientes de 4 regiões geográficas do Brasil (Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste), divididos em 3 grupos: (I) Área de baixa endemicidade (n=1465); (II) Indivíduos com alta vulnerabilidade para aquisição da infecção pelo HCV (n=491); (III) Área de alta endemicidade (n=254). A detecção do anti-HCV foi feita utilizando um ensaio imunoenzimático comercial (Murex anti-HCV v.4.0, Diasorin, Itália), onde o protocolo do fabricante foi seguido para amostras de soro e para as amostras de SSPF foi aumentado em 20 vezes (volume final igual a 100µL). Amostras de soro anti-HCV reagentes foram submetidas a detecção do HCV RNA por PCR em tempo real comercial (Abbot Real time HCV, Abbott, EUA) e ensaios de genotipagem (Abbott Real Time Genotype II). Para análise dos fatores de risco associados à infecção pelo HCV, foram incluídas variáveis sociodemograficas e de comportamento de risco, onde analise bivariada foi realizada no grupo III e análises descritivas foram feitas em todos os grupos. O valor de p <0,05 foi considerado estatisticamente significante. A concordância entre resultados de detecção de anti-HCV em soro e SSPF na população total foi igual a 99,7% com valor de kappa igual a 0,930. Os valores de estatística kappa foram iguais a 0,726, 0,496, 0,651 nos grupos I, II e III, respectivamente. No grupo I, a prevalência de anti-HCV empregando soro foi igual a 0,4% e com SSPF foi igual a 0%. No grupo II, a prevalência de anti-HCV empregando soro foi igual a 1,02% e com SSPF foi igual a 0,4%. No grupo III, verificamos que a prevalência de anti-HCV foi igual a 90% empregando o soro e 83,3% empregando o SSPF. A detecção do anti-HCV em SSPF não esteve associada à presença do HCV RNA no soro e a maioria dos indivíduos apresentavam o genótipo 1 (84,9%) seguido pelos genótipos 3 (9,1%), 2 (1,3%) e 5 (1,3%). Nas análises descritivas para os grupos I e II, os históricos de cirurgia, transfusão de sangue, prática de manicures e tratamento dentário foram os fatores de risco mais frequentes. No grupo III, observamos que as variáveis idade e compartilhamento de escova de dente foram estatisticamente significantes em relação à presença de anti-HCV em SSPF. Conclui-se que o SSPF pode ser empregado para detecção de anti-HCV, principalmente no grupo de indivíduos atendidos em ambulatórios de hepatologia indicando a utilidade deste método para triagem de casos positivos neste grupo. Palavras-chave: hepatite C, sangue seco em papel de filtro, diagnóstico, prevalência. ix INSTITUTO OSWALDO CRUZ APPLICABILITY OF DRIED BLOOD SPOTS FOR PREVALENCE STUDIES OF HEPATITIS C VIRUS INFECTION IN DIFFERENT GROUPS ABSTRACT MASTER DISSERTATION IN TROPICAL MEDICINE The diagnosis of hepatitis C virus (HCV) infection uses enzyme immunoassays and molecular tests in serum samples obtained from venipuncture. The use of alternative fluids such as dried blood spots (DBS) could be an attractive alternative for diagnosis, due to the less invasive collection and the material can be stored and transported at room temperature. The aim of this study was to determine the usefulness of the DBS for diagnosis and prevalence studies of HCV infection in different geographical regions of Brazil and to evaluate the associated risk factors. So, individuals from four geographic regions in Brazil (North, Northeast, Midwest and Southeast) were included and divided into 3 groups: (I) Low endemicity area (n=1465); (II) Individuals at high risk for acquisition of HCV infection (n=491); (III) High endemicity area (n=254). Anti-HCV detection was performed using a commercial enzyme immunoassay (Murex anti-HCV v.4.0, DIASORIN, Italy), following the manufacturer's protocol for serum samples and for DBS samples, the volume was 20fold increased (final volume equal to 100µL). Reactive antiHCV serum samples were submitted to real time PCR for HCV RNA detection (Abbott HCV real time, Abbott, USA) and genotyping assay (Abbott Real Time Genotype II). For analyze of risk factors associated to HCV infection, sociodemographic and behavior risk variables were included, where bivariate analysis were done for group III and descriptive analysis were conducted for all groups. P value < 0.05 was considered statistically significant. The concordance between anti-HCV results in serum and DBS in total population was 99.7% with kappa value of 0.930. The kappa values were 0.726, 0.496, and 0.651 in groups I, II e III, respectively. In group I, anti-HCV prevalence using serum was equal to 0.4% and in DBS was equal to 0%. In group II, anti-HCV prevalence using serum was equal to 1.02% and for DBS was equal to 0.4%. In group III, we found that anti-HCV prevalence was equal to 90% using serum and 83.3 % using DBS. The detection of anti- HCV in DBS was not associated to the presence of HCV RNA in serum and most of individuals presented genotype 1 (84.9 %) followed by genotypes 3 (9.1%), 2 (1.3%) and 5 (1.3%). In the descriptive analyzes for groups I and II, history of surgery, blood transfusion, manicure practice and dental treatment were the most frequent. In group III, the variables age and toothbrush sharing were statistically significant for the presence of anti-HCV in DBS. It is concluded that DBS can be used for anti-HCV detection, especially in the group of individuals referred at hepatology ambulatories indicating the utility of this material for screening of positive cases in this group. Key-words: hepatitis C, Dried blood spots, diagnosis, prevalence. x SUMÁRIO RESUMO ..........................................................................................................VII ABSTRACT .....................................................................................................VIII Lista de Figuras ................................................................................................ IX Lista de Tabelas .................................................................................................X Lista de Quadros ...............................................................................................XI Lista de sinais, símbolos e unidades de medida ............................................XII Lista de Abreviaturas .......................................................................................XIII 1. INTRODUÇÃO.................................................................................................1 1.1. Histórico ......................................................................................................1 1.2. Estrutura Viral e Genômica ........................................................................ 2 1.3. Replicação Viral ......................................................................................... 4 1.4. Diversidade Genética ................................................................................. 6 1.5. Aspectos Clínicos ....................................................................................... 9 1.6. Formas de transmissão .............................................................................11 1.7. Epidemiologia ............................................................................................12 1.8. Diagnóstico Laboratorial ............................................................................14 1.8.1. Diagnóstico Bioquímico ..........................................................................14 1.8.2. Testes Sorológicos .................................................................................14 1.8.3. Testes Moleculares ................................................................................ 16 1.9. Prevenção ................................................................................................ 17 1.10. Tratamento .............................................................................................. 18 1.11. Utilização de sangue seco em papel de filtro ......................................... 20 2. JUSTIFICATIVA .......................................................................................... 21 3. OBJETIVOS ................................................................................................ 23 3.1. Objetivo Geral ........................................................................................... 23 3.2. Objetivos Específicos ................................................................................ 23 4. METODOLOGIA .......................................................................................... 24 4.1. População de Estudo ................................................................................ 24 4.2. População de baixa endemicidade para o HCV ....................................... 26 4.2.1. Região Centro-Oeste ............................................................................. 26 4.2.2. Região Norte .......................................................................................... 29 4.2.3. Região Sudeste ..................................................................................... 31 4.2.4. Região Nordeste .....................................................................................32 4.3. População com maior vulnerabilidade para aquisição do HCV................. 36 4.4. População de alta endemicidade para o HCV .......................................... 37 4.5. Coleta de amostras biológicas .................................................................. 38 4.6. Determinação de anticorpos contra o vírus da hepatite C (Anti-HCV).......40 4.6.1. Princípio do teste imunoenzimático.........................................................40 4.6.2. Procedimento do teste Murex anti-HCV versão 4.0 (Diasorin, Itália)......41 4.7. Detecção do RNA do HCV (Abbott Real Time HCV, Abbott, EUA)............42 4.7.1. Princípio do teste Abbott Real Time HCV ..............................................42 4.7.2. Procedimento do Ensaio Abbott Real Time HCV ...................................43 4.7.2.1. Preparação das amostras e extração do HCV RNA ............................43 4.8. Teste de Genotipagem (Abbott Real Time HCV Genotype II) ...................44 4.8.1. Princípio do teste de Genotipagem .........................................................44 4.8.2. Procedimento do teste de Genotipagem ................................................47 4.9. Avaliação do desempenho do ensaio imunoenzimático em amostras de SSPF e dos fatores de risco para infecção do HCV .........................................48 5. RESULTADOS ............................................................................................ 50 5.1. Detecção de marcadores anti-HCV em soro e sangue seco em papel de filtro .................................................................................................................. 50 5.2. Determinação da prevalência de anticorpos anti-HCV em soro e sangue seco em papel de filtro nos grupos estudados .................................................54 5.2.1. Prevalência de anti-HCV de acordo com as regiões estudadas .............54 5.3. Detecção de marcadores anti-HCV em SSPF em comparação a detecção do HCV RNA no soro ....................................................................................... 54 5.4. Genotipagem das amostras HCV RNA detectado .....................................56 5.5. Características sócio demográficas da população estudada .....................57 5.6. Comportamento de risco nos grupos estudados ...................................... 59 5.7. Prevalência de marcadores do HCV de acordo com comportamento de risco da população estudada ............................................................................62 6. DISCUSSÃO ................................................................................................ 63 7. CONCLUSÕES ............................................................................................ 69 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 71 ANEXO A .........................................................................................................81 ANEXO B ........................................................................................................83 ANEXO C .........................................................................................................86 Lista de Figuras Figura 1.1:Organização do genoma do vírus da hepatite C. .............................. 4 Figura 1.2: Mecanismo de replicação viral (Bartenslanger et al., 2013) ............. 5 Figura 1.3: Árvore filogenética representativa dos 7 genótipos identificados. (Smith, DB. 2014). .............................................................................................. 7 Figura 1.4: Distribuição global dos genótipos do HCV (Hussain Z, 2013). ......... 9 Figura 1.5: Evolução dos marcadores bioquímicos e sorológicos durante o curso da infecção pelo vírus da hepatite C ...................................................... 10 Figura 4.1:Coleta de amostras realizada nas comunidades Passo do Lontra, Serra do Amolar e Porto da Manga na região do Pantanal/MS........................ 27 Figura 4.2: Mapa demonstrando a localização das comunidades Passo do Lontra, Serra do Amolar e Porto da Manga na Região do Pantanal/MS .......... 27 Figura 4.3: Habitações da área rural da cidade de Tocantinópolis/TO e coleta e processamento de amostras ............................................................................ 29 Figura 4.4: Mapa demonstrando a localização da cidade de Tocantinópolis/TO ......................................................................................................................... 29 Figura 4.5: Localidade de Santa Isabel do Rio Negro/AM ................................ 30 Figura 4.6: Mapa da localização da localidade de Santa Isabel do Rio Negro. 30 Figura 4.7: Coleta realizada no Colégio Estadual Figueira, no bairro Miguel Couto, município de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro ........................................... 31 Figura 4.8: Mapa da localização da cidade de Nova Iguaçu, RJ.......................31 Figura 4.9: Mapa da cidade de Caruaru, PE. ................................................... 32 Figura 4.10: Mapa da cidade de Recife, PE ..................................................... 33 Figura 4.11: Mapa da localização da cidade de Sobral, CE ............................. 33 Figura 4.12: Mapa da localização da cidade de Nossa Senhora de Nazaré, PI. ......................................................................................................................... 34 Figura 4.13: Mapa da localização da cidade de Nossa Senhora de Nazaré, Piauí. ................................................................................................................ 35 Figura 4.14: Coleta realizada na feira de negócios para profissionais de beleza, Niterói/RJ.......................................................................................................... 36 Figura 4.15: Ambulatório de Hepatites Virais FIOCRUZ, UFRJ e UFF ............ 37 Figura 4.16: Procedimento para a coleta de sangue por punção venosa, para obtenção do soro, ou aplicação no papel de filtro. ........................................... 37 Figura 4.17: Procedimento para a coleta de sangue por punção digital, para aplicação no papel de filtro. .............................................................................. 38 Figura 4.18: Etapas do processamento das amostras de sangue coletadas em papel de filtro. ................................................................................................... 39 Figura 4.19: Regiões alvo do gene do vírus HCV utilizadas para o teste de genotipagem utilizando o equipamento Abbott Real Time HCV Genotype II. .. 44 Lista de Tabelas Tabela 5.1: Características demográficas dos grupos selecionados. Os valores das variáveis foram expostas de maneira descritiva quantitativa. ................ Erro! Indicador não definido. Tabela 5.2: Características epidemiológicas da suposta via de infecção pelo HCV de acordo com os grupos estudados ....................................................... 60 Tabela 5.3: Valores de acurácia do teste de detecção de anti-HCV em SSPF em comparação aos resultados obtidos em amostras de soro em cada grupo estudado.............................................................. Erro! Indicador não definido. Tabela 5.4: Comparação entre a detecção de anti-HCV em SSPF e a detecção do HCV RNA em amostras de soro (n=235). ................................................... 54 Tabela 5.5: Comparação dos resultados obtidos na genotipagem do HCV em amostras de soro em relação aos resultados de anti-HCV obtidos em amostras de soro e SSPF. .............................................................................................. 55 Tabela 5.6: Análise Bivariada dos fatores de risco associados a prevalência de anti-HCV em amostras de SSPF no grupo III (pacientes provenientes dos Ambulatórios de Hepatites Virais). (n=253) ...................................................... 61 Lista de Quadros Quadro 4.1: Sondas utilizadas para detecção dos genótipos e subtipos..........50 ix Lista de sinais, símbolos e unidades de medida % - porcentagem Nm - nanômetro > - menor UI/mL – unidades internacionais por mililitro mL - mililitro Km - quilômetros g - gravidade ºC – graus Celsius h - hora N - Normal < - maior R$ - reais ± - símbolo de mais um menos n – número amostral kDa - Dalton Lista de siglas e abreviaturas ALT - Alanina aminotransferase AM – Estado do Amazonas anti-HCV - Anticorpos contra o vírus da hepatite C BOC - Boceprevir BSA – Albumina sérica bovina cDNA – fita de DNA complementar CI - Controle interno CDC – Center of Disease Control x CE – Estado do Ceará CEP – Comitê de Ética em Pesquisa DAAs - Medicamentos de ação direta contra o vírus DNA – Ácido desoxirribonucleico ECLIA - Eletroquimiluminescência EIE - Ensaio imunoenzimático E - Especificidade HAV - Vírus da hepatite A HBV - Vírus da hepatite B HCV - Vírus da hepatite C HIV – Vírus da imunodeficiência humana IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IC - Intervalos de confiança IOC – Instituto Oswaldo Cruz IP - Inibidores de protease INNOLIPA – hibridização in vitro kDa – unidade de massa atômica LAHEP – Laboratório de Hepatites Virais LDLR – Receptores de LDL MS – Estado do Mato Grosso do Sul NANB - hepatite não-A, não-B OR - Odds ratio OMS – Organização Mundial de Saúde ORF - Região aberta de leitura PAM – Postos de atendimento médico xi PE – Estado de Pernambuco PEG-IFN - Interferon peguilado PBS – Tampão fosfato salino PCR - “Polymerase chain reaction “ Reação em cadeia da polimerase PI – Estado do Piauí RER - Retículo endoplasmático rugoso RJ – Estado do Rio de Janeiro RpRd - RNA polimerase-dependente de RNA RNA – Ácido Ribonucleico SENAD – Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas SSPF - Sangue seco em papel de filtro Sc – Sensibilidade clínica SUS – Sistema Único de Saúde TCLE - Termos do consentimento livre e esclarecido TMA - Amplificação mediada por transcrição TMB - tetrametilbenzidina (TMB) TGP – Transaminase glutâmico pirúvica TO – Estado do Tocantins TVR - Telaprevir UFBA – Universidade Federal da Bahia UFF – Universidade Federal Fluminense UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro VPP - Valor preditivo positivo VPN - Valor preditivo negativo xii 1. Introdução 1.1. Histórico A história da classificação das hepatites virais começa nas décadas de 50 e 60 com a categorização das hepatites em dois grupos principais: hepatite infecciosa e hepatite por soro homólogo (Krugman et al. 1962). Posteriormente, foi comprovado por Feinstone et al. 1973 que a infecção por hepatite infecciosa era causada pelo vírus da hepatite A (Hepatitis A virus ou HAV) e por Blumberg et al. (1968) que o vírus da hepatite B (Hepatitis B virus ou HBV) era a causa da hepatite por soro homólogo. Na década de 70, com o desenvolvimento dos testes sorológicos para a detecção do HAV e HBV, foram observados vários casos de hepatite por transmissão sanguínea que não eram causadas pelo HAV e HBV (Feinstone et al. 1975) e, assim estabeleceu-se o conceito de hepatite não-A, não-B (NANB). Observou-se, também, que pelo menos 10% das transfusões sanguíneas resultava em hepatite NANB (Berman et al. 1979; Aach et al. 1981), causando dano hepático persistente e evoluindo em pelo menos 20% dos casos para cirrose hepática nas infecções crônicas (Hoofnagle e Alter 1985). Além disso, uma parcela dos casos ocorria esporadicamente na comunidade e não estava associada necessariamente à transfusão sanguínea e à recepção de derivados do sangue (Alter et al. 1982). Em 1989, o vírus da hepatite C (HCV) foi descrito por Choo e cols (1989) como o principal agente etiológico das hepatites conhecidas como NANB utilizando estudos de clonagem e sequenciamento genético de uma cepa isolada do plasma de um chimpanzé cronicamente infectado com o vírus das hepatites “não-A não B”(Choo et al. 1989). A partir da identificação do agente etiológico da hepatite NANB e utilização de testes de detecção de anticorpos contra o HCV (anti-HCV), utilizando peptídeos recombinantes (Kuo et al. 1989), foram possíveis esclarecer que os casos clínicos de hepatite pós-transfusional NANB (Alter et al. 1989) tinham como responsável o HCV. 1 1.2. Estrutura viral e genômica O vírus da hepatite C (HCV) é classificado na família Flaviviridae, gênero Hepacivirus (ICTV 2014). A partícula viral mede cerca de 40-70 nm de diâmetro, o capsídeo/nucleocapsídio é arredondado, exibindo simetria poliédrica e é envolvido por envelope lipoproteico. (Choo et al. 1991; Li et al. 1995; Hoffmann et al. 2012) O genoma do HCV apresenta duas regiões não codificantes nas extremidades 5’ e 3’(5’NC e 3’NC) e uma única região aberta de leitura (ORF) que codifica uma poliproteína de cerca de 3000 aminoácidos (3010 – 3033 aa) que durante e após a tradução, sofre uma série de clivagens por proteases virais e do hospedeiro que geram proteínas estruturais e não estruturais (Choo et al.1991; Valoup-Fellous et al. 2006). A fase de leitura aberta é dividida em três regiões: região amino terminal que compreende as proteínas estruturais [core (C), glicoproteínas do envelope 1 (E1) e envelope 2 (E2)]; uma região central que inclui duas proteínas (p7 e NS2) que podem ter papel essencial na morfogênese viral visto que a expressão excessiva de proteínas p7 induz a apoptose em culturas de célula Huh 7 (Aweya et al. 2012); e região carboxi terminal que compreende as proteínas não estruturais necessárias para a replicação do ácido ribonucleico (RNA) (NS3, NS4A, NS4B, NS5A e NS5B) (Figura 1.1). A proteína do core do HCV é a proteína de nucleocapsídeo viral com funções diversas envolvendo RNA circulante, modulação imunológica, a sinalização celular, potencial oncogênico e autofagia, esta também se associa com as gotículas lipídicas, fazendo com que ocorra a montagem da partícula viral. As proteínas do envelope E1/E2 são glicoproteínas glicosiladas do envelope que rodeiam as partículas virais. A proteína p7 forma um canal iônico necessário para maturação e liberação do vírus (Lemon et al., 2007). Entre as proteínas não estruturais, a proteína NS2 é uma proteína de 23 kDa e, responsável pela clivagem da junção NS2/NS3 (NS2/NS3 protease) e pela maturação das proteínas não estruturais restantes (Dumoulin et al. 2003). A atividade de protease da NS2 é fundamental para que ocorra a replicação completa do HCV in vivo, entretanto a mesma é dispensável para replicação do vírus in vitro (Roingeard et al. 2004). 2 A proteína NS3 (serina protease específica) é uma proteína não estrutural hidrofílica de aproximadamente 70 kDa. É uma proteína multifuncional e contém um domínio serino-protease na porção amino terminal e um domínio RNA helicase/ NTPase na porção carboxi terminal (Lindenbach et al., 2005). O papel da helicase do HCV ainda não foi bem descrito, mas acredita-se que esteja envolvida na iniciação da síntese de RNA, sendo responsável pela dissociação das fitas de RNA de seus moldes (Pang et al. 2002). Além disso, estudos mostraram que a NS3 pode interferir nas funções da célula hospedeira, influenciando desta forma a resposta imune inata e celular (Gale et al.1998; Borowski et al.1999; Gale & Foy, 2005; Meylan et al. 2005). A região genômica de NS4 codifica duas proteínas: NS4A (8 kDa) e NS4B (23 kDa). A proteína NS4A é composta por aproximadamente 54 aminoácidos e funciona como cofator para serina protease NS3 e é também incorporada como componente integral do core (Roingeard et al. 2004; Dubuisson et al. 2002). A proteína NS4B (p27), por sua vez, é a proteína viral do HCV menos caracterizada, porém alguns estudos sugeriram que ela seja responsável por induzir alterações nas membranas celulares denominadas “teias membranosa” (Roingeard et al. 2004; Dubuisson et al. 2002; Moradpour & Blum 2004). A proteína NS5B é uma RNA-polimerase dependente do RNA viral, responsável pela replicação do material genético viral, sendo este empacotado para dar origem a novos vírions. A organização genômica do HCV está esquematizada na Figura 1.1. 3 Figura 1.1: Organização do genoma do vírus da hepatite C. Representação da fase de leitura aberta (ORF – open reading frame) codificando genes estruturais e não-estruturais como as regiões 5’ e 3’. Adaptado de Moradpour, 2007. 1.3. Replicação Viral O HCV entra no hepatócito através da adsorção da partícula viral. Algumas moléculas de superfície celular foram identificadas como possíveis receptores para o HCV nos processos de adsorção e internalização do HCV na célula hospedeira. Dentre os candidatos a receptores do HCV, receberam maior destaque as moléculas CD81 (forte interação com E2), encontradas na superfície de muitos tipos celulares, incluindo hepatócitos (Pileri et al. 1998), receptores LDL (LDLR) (Agnello et al. 1999) e SR-BI (scavenger receptor class B type I) (Scarselli et al. 2002). A claudina-1 foi descrita como molécula coreceptora necessária à internalização do HCV na célula (Evans et al. 2007). Após o processo de adsorção da partícula viral, ocorre a endocitose e a imediata fusão do envelope viral com a membrana da vesícula endocítica (endossomos), cobertas por clatrinas e o genoma é liberado para o citossol. Inicia-se a tradução do RNA, onde os ribossomos reconhecem a sequência IRES, que se localiza junto ao códon AUG, na extremidade 5'NC (Honda et al. 1996; Hellen et al. 2001). 4 Durante o processo de tradução, as proteases celulares executam clivagens que originam as proteínas estruturais (C, E1 e E2) e o polipeptídeo p7. Uma vez liberada a primeira das proteínas não-estruturais, a NS2, esta inicia sua autoclivagem e uma série de eventos bioquímicos que dão origem as outras proteínas não estruturais (NS3, NS4A, NS5A e NS5B), a partir do restante da cadeia proteica. A associação da NS5A com a NS5B inicia a atividade da RNA polimerase-dependente de RNA (RpRd), gerando fitas de RNA complementares com polaridade negativa que servem de molde para que a RpRd sintetize as novas fitas de RNA de polaridade positiva (Pawlotsky 2004; Penin et al. 2004). As novas fitas de RNA viral são então encapsidadas no retículo endoplasmático formando os nucleocapsídeos, os quais serão envelopados e maturados no aparelho de Golgi, e serão então liberados do espaço pericelular por exocitose (Pawlotsky 2004). A figura 1.2 esquematiza o ciclo replicativo do HCV em todas as etapas: adsorção, desnudamento, tradução, processamento, maturação e liberação da partícula viral infectante. Figura 1.2: Mecanismo de replicação viral. Partículas de HCV se ligam à célula hospedeira via interação específica entre as glicoproteínas do envelope e receptores celulares. As partículas ligadas são então internalizadas, provavelmente por meio de endocitose mediada por receptor. Após a liberação do genoma viral no citoplasma (desnudamento) ocorre a tradução, no retículo endoplasmático rugoso (RER) em uma poliproteína que é clivada nas proteínas estruturais e não-estruturais. As proteínas nãoestruturais participam da replicação viral e as estruturais fazem parte da estrutura do capsídeo e glicoproteínas do envelope. O local de montagem das partículas virais ainda não foi identificado, mas acredita-se que seja em membranas intracelulares derivadas do retículo endoplasmático ou do compartimento de Golgi. Os vírions recém montados são então liberados da célula hospedeira, possivelmente por meio da via secretória. https://islaslab.wikispaces.com/file/view/lifecycle.jpg/342594818/290x195/lifecycle.jpg 5 Adaptado de 1.4. Diversidade genética O genoma do HCV é caracterizado por uma considerável diversidade geográfica e variabilidade genética sendo atualmente classificado em sete genótipos confirmados e 67 subtipos (Figura 1.3) (ICTV 2014). Essas variações do HCV influenciam no diagnóstico, na patogênese, no tratamento da infecção e no desenvolvimento de vacinas (Irshad et al., 2010). O consenso proposto em 2005 para a classificação do HCV apresentou uma nomenclatura concordante e uniforme para as variantes do HCV e os critérios para a sua atribuição em genótipos e subtipos. Desde a sua publicação, o conjunto de dados disponíveis de sequencias do HCV expandiu enormemente através do avanço nas tecnologias de sequenciamento de nucleotídeos e com um foco crescente sobre o papel da variação genética do HCV na progressão da doença, no tratamento e nos resultados. (Smith et al., 2011). 6 Figura 1.3: Árvore filogenética representativa dos 7 genótipos identificados (Smith, 2014). A análise filogenética das sequencias que contêm > 95% da região codificante revela sete grandes filogenética agrupamentos correspondentes aos genótipos 1 ao 7. A replicação do HCV é muito propensa a erros e gera mutações em uma taxa de aproximadamente 1012 por nucleotídeo por replicação, gerando uma elevada diversidade viral (Stumpf & Pybus 2002). Desta forma, foi proposta uma classificação do HCV em genótipos (homologia de 65,7% a 68,9%) e subtipos (homologia de 76,9% a 80,1%) baseados em análises filogenéticas da região 5'NC e sequenciamento. Tornou-se evidente que isolados de diferentes indivíduos ou países mostraram substancial diversidade genética (Simmonds, 2005). 7 A heterogeneidade genética do HCV faz com se apresente sob a forma de quasispécies, que são vírus com genomas muito semelhantes, porém com homologia entre 90,8% a 99,0% nas sequências de nucleotídeos (Ueda et al. 2004). Quanto às regiões utilizadas para genotipagem são: região 5´ NC (RFLP e PCR em Tempo Real) e NS5B (sequenciamento). Globalmente, o genótipo 1 é o mais prevalente em todo mundo (46%), com proporções decrescentes dos genótipos 3 (22%), 2 (13%), 4 (13%), 6 (2%), 5 (1%). O subtipo 1b é o subtipo mais prevalente em todo mundo (22%). Entretanto variações regionais, locais e no âmbito dos países são observadas. Na América do Norte, América Latina e Europa, o genótipo 1 é o mais prevalente (62-71%) sendo o subtipo 1b responsável por 26%, 39% e 50% das infecções, respectivamente. Na Austrália e em grande parte da Ásia, o genótipo 1 é mais prevalente, com exceção do sul da Ásia onde o genótipo 2 é mais frequentemente encontrado. Os genótipos 4 e 5 são principalmente identificados na África e no Oriente Médio: o genótipo 4a é prevalente no Egito, enquanto o genótipo 4c é altamente prevalente na África Central. O genótipo 5 é mais frequentemente encontrado na África do Sul. O genótipo 6 e seus numerosos subtipos são encontrados principalmente no Sudeste Ásia e, em alguns países, como Tailândia, Vietnã, e Myanmar. O genótipo 7 tem uma menor relevância clínica e foi recentemente encontrado em pacientes da África Central e Tailândia (Hussain et al., 2013; Gower et al., 2014). No Brasil, um estudo sobre a prevalência de anti-HCV e a distribuição dos genótipos de amostras coletadas de pacientes cronicamente infectados pelo HCV, em diferentes regiões, o genótipo 1 (subtipos 1a, 1b) 2b e 3a foram detectados na população geral brasileira dentro das macrorregiões (Pereira et al., 2013). Em trabalho realizado em populações que incluem indivíduos que usam drogas injetáveis e que não são usuários, das regiões Centro-Oeste e Sudeste, os subtipos mais frequentes encontrados foram 1a, 1b e 3a (Lampe et al., 2010). Mais especificamente entre usuários de drogas injetáveis provenientes do estado do Rio de Janeiro, os subtipos circulantes encontrados foram 1 e 3 em estudos realizados entre 1994-1997 e 1999-2001 (Oliveira et al., 2009) 8 Figura 1.4: Distribuição global dos genótipos do HCV (Hussain, 2013). 1.5. Aspectos Clínicos De modo geral, a hepatite C aguda é assintomática, podendo levar de 2 a 12 semanas após a exposição ao vírus, aos sintomas e sinais clínicos, porém o aparecimento do anticorpo anti-HCV poderá ser tardio e poder ser detectado em 80% dos pacientes após 15 semanas de exposição (Foccacia et al., 2013). Uma vez que o indivíduo é infectado com o HCV, o vírus é transportado na corrente sanguínea até o fígado onde ocorre a replicação. A viremia ocorre em associação à ausência ou presença de poucos sintomas, e raros são os casos de hepatite aguda fulminante. Geralmente, os pacientes não eliminam o vírus naturalmente, de modo que a infecção pelo HCV evolui para infecção persistente (Dwyre et al. 2011). Aproximadamente 15-45% das pessoas que estão infectadas com o HCV irão ter resolução espontânea da infecção. Estudos prospectivos têm demonstrado que 80% de casos de hepatite C aguda progridem para a infecção crônica e destes cerca de 10-20% desenvolvem 9 complicações da doença crônica do fígado, tais como cirrose hepática e / ou carcinoma hepatocelular (Lavanchy, 2011; Zhou et al . 2010). Sintomas de infecção aguda podem ter início cerca de 6 a 12 semanas após a exposição ao HCV. Em apenas 20% dos pacientes sintomáticos o início dos sintomas precede a soroconversão, a qual raramente ocorre em período superior a 6 meses. Os níveis séricos de alanina aminotransferase (ALT/TGP) começam a aumentar entre 2 e 8 semanas após a exposição indicando necrose dos hepatócitos e frequentemente atingem níveis superiores ao limite superior da normalidade (10 vezes) (MS, 2011) (Figura1.5). O HCV RNA pode ser detectado no sangue com 1-3 semanas após a exposição inicial (Figura 1.5). Dentro de 4-12 semanas, a lesão das células do fígado se manifesta pela elevação da ALT. A infecção aguda pode ser grave, porém raramente, fulminante. Os sintomas são inespecíficos e geralmente eles desaparecem depois de várias semanas assim como ocorre o declínio dos níveis de ALT (NIH, 2002). O nível do HCV-RNA aumenta rapidamente durante as primeiras semanas, atingindo seus níveis máximos (10 5 e 107 UI/mL) imediatamente antes do pico dos níveis séricos de aminotransferases, coincidindo com o início dos sintomas, exceto nos assintomáticos (Figura 1.5). Figura 1.5: Evolução dos marcadores bioquímicos e sorológicos durante o curso da infecção pelo vírus da hepatite C (Adaptado de Ministério da Saúde, 2011). 10 1.6. Formas de Transmissão O HCV é transmitido pela via parenteral e o uso de drogas por via intravenosa é um dos principais modos de transmissão. O uso de seringas contaminadas parece ser o principal fator de risco para a infecção por HCV em vários países e o compartilhamento de objetos de higiene pessoal pode explicar a transmissão do vírus em determinadas situações (Wolff et al. 2010). Entre as situações que podem levar a transmissão do HCV, podemos citar: hemodiálise, acupuntura, piercings e tatuagem sem utilização de materiais descartáveis ou contaminados, uso de drogas, compartilhamento de material em manicures e barbeiros sem esterilização, exposição ocupacional, transplante de órgãos e tecidos. (Pacheco et al., 2014; Villar et al., 2014, Secretaria de Vigilância em Saúde, 2010). Em relação à provável via de transmissão dos casos notificados no Brasil, observa-se que as maiores proporções de casos estão relacionadas ao uso de drogas (18%), à transfusão de sangue e/ou hemoderivados (16%) e à transmissão sexual (9%), com elevado percentual de casos com etiologia ignorada (Ministério da Saúde, 2012). Situações específicas como a privação de liberdade, o viver em situação de rua e os transtornos mentais graves são fatores de vulnerabilidade e também requerem abordagens específicas, multidisciplinares e intersetoriais (Ministério da Saúde, 2012). Atualmente, o compartilhamento de objetos para a utilização de drogas é o principal método de transmissão do HCV em todo o mundo. Estima-se que mais de 60% de novos casos de HCV registrados anualmente ocorram devido ao uso de drogas ilícitas (Aceijas et al., 2007). No Brasil, foram observadas prevalências de HCV de 5% a 36% em usuários de drogas ilícitas situado nas regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste (Oliveira et al., 2006, 2009; Silva MB et al., 2009). Em estudo realizando pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), nas principais capitais brasileiras, no período de 2011 a 2013, a prevalência de anti-HCV em usuários de crack no Brasil foi de 0,9%. O uso de crack constitui um problema grave em cidades de todo o Brasil. Embora os dados existentes sugiram que o uso de crack, este geralmente concentra-se entre os jovens desprivilegiados, com problemas de saúde 11 abrangentes e envolvimento criminal, existem lacunas de dados extensos. (Santos Cruz et al., 2013). Outra forma de transmissão do HCV seria pela via sexual, embora esta forma de transmissão tenha importância epidemiológica secundária quando comparada às formas de transmissão percutânea (Terrault, 2002). Casos de hepatite C aguda com soroconversão para anti-HCV em parceiros sexuais de indivíduos infectados pelo HCV tem sido relatados. Nestes casos, nenhum outro fator de risco foi identificado, exceto a relação sexual desprotegida e as cepas presentes entre os parceiros sexuais apresentaram elevado grau de similaridade genômica (Halfon et al., 2001). 1.7. Epidemiologia O HCV é uma das principais causas da doença crônica do fígado em todo o mundo (Shepard et al., 2005). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem 130 a 150 milhões de pessoas infectadas com o HCV (OMS, 2014). A avaliação da prevalência e das formas de transmissão da hepatite C permite que as autoridades de cada nação possam priorizar as medidas preventivas e fazer uso mais adequado dos recursos disponíveis. A distribuição mundial do HCV ocorre entre pessoas de diferentes etnias, gêneros e faixas etárias. O reflexo socioeconômico da infecção pelo HCV não foi estabelecido na maioria dos países, mas as consequências da hepatite C crônica, do estágio terminal de cirrose hepática e do carcinoma hepatocelular, têm mostrado um impacto cada vez maior nos sistemas nacionais de saúde (Diament, 2007). As regiões do mundo que apresentam maior número de pessoas com anti-HCV são do Sul da Ásia (> 50 milhões), da Ásia (> 50 milhões), África do Norte / Oriente Oriental (> 15 milhões), Sudeste Asiático (> 11 milhões), e Europa Ocidental (> 10 milhões). As áreas de menor prevalência do HCV incluem Austrália (2,6%), América do Norte (3,6%) e Europa (2,4-2,9%) (Hanafiah et al., 2013). Na América Latina, a prevalência de HCV é de 1,2% (Te e Jensen, 2010), porém esta prevalência varia de região para região, com 2% no Chile e 3,4% no Nordeste do Brasil (Carrilho e Corrêa, 1998; Soza et al., 12 2010; Te e Jensen, 2010). Assim, estima-se que haja 6,8-8,9 milhões de indivíduos infectados pelo HCV na América Latina com uma prevalência estimada de 1,5% nas Américas (Kershenobich et al., 2011). O Brasil é considerado um país de baixa endemicidade para a hepatite C, com uma prevalência da infecção estimada entre 1 e 2%. Maiores prevalências de infecção pelo HCV foram observadas na região Norte (3,22%), com proporções decrescentes nas regiões Sul (1,70%), Centro-Oeste (1,64%), Sudeste (1,63%) Distrito Federal (1,09%) e Nordeste (0,97%) (Pereira et al., 2013). No Brasil, a prevalência da infecção pelo HCV varia de acordo com o grupo estudado. Em usuários de drogas ilícitas das regiões metropolitanas do Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil, as prevalências de HCV variam de 5% a 36% (Aceijas et al., 2007; Martins et al., 2011). Em usuários de drogas não injetáveis, a prevalência de anti-HCV varia de 1,25 a 27,7% (Santos Cruz et al., 2013, Von Diemen et al., 2010) e em profissionais de Beleza a prevalência de anti-HCV varia de 0,8 a 2% (Oliveira e Focaccia, 2010; Villar et al., 2014). 1.8. Diagnóstico laboratorial O diagnóstico laboratorial da infecção pelo HCV utiliza testes de detecção de anticorpos, testes de detecção combinada de antígeno e anticorpo do HCV e testes de detecção do ácido nucleico viral. Os testes de detecção de anticorpos são utilizados como testes de triagem na suspeita de infecção pelo HCV.(Patowsky, 2002). 1.8.1 – Diagnóstico Bioquímico O diagnóstico bioquímico consiste em provas de função hepática, e inclui os exames utilizados na determinação da atividade de indicadores como: bilirrubinas, alanina aminotransferase, aspartato aminotransferase, fosfatase alcalina e gama-glutamiltransferase. As aminotransferases ou transaminases 13 são as mais utilizadas no diagnóstico bioquímico, por serem marcadores sensíveis de lesões do fígado e por atingirem picos elevados no início dos sintomas. Altos valores destas enzimas sugerem extenso acometimento do parênquima hepático, especialmente nas hepatites agudas, porém valores baixos não excluem o diagnóstico de hepatite. O padrão bioquímico mais comumente observado na hepatite C crônica é o de flutuações das enzimas hepáticas intercalados com períodos de normalização bioquímica, ou de elevação persistente das aminotransferases. Entretanto, a infecção crônica pode cursar com grande variabilidade dos parâmetros laboratoriais, inclusive com dissociação bioquímico-virológica (EASL, 2010). 1.8.2 - Testes Sorológicos Os testes sorológicos compreendem imunoensaios para detecção de anti-HCV. Os imunoensaios disponíveis comercialmente para a detecção do anti-HCV em soro ou plasma incluem ensaios imunoenzimáticos (EIE) e de eletroquimiluminescência (ECLIA). Estes ensaios utilizam antígenos recombinantes derivados de proteínas do core e de regiões não estruturais (NS3, NS4, e NS5) do genoma do HCV para detecção de anticorpos dirigidos contra antígenos virais, estruturais e não estruturais, no soro ou plasma de indivíduos infectados. (Cossart, 1999, Lambert 2007) Nos EIEs os antígenos recombinantes são fixados em poços de microplacas, pequenas esferas ou artifícios específicos usados para capturar os anticorpos circulantes no soro. A presença de anticorpos é revelada por anticorpos ligados à enzima que catalisa a transformação do substrato em um composto colorido. Os EIEs são baratos, de fácil uso, podem ser automatizados e facilmente adaptados para grande volume de testes (Chevaliez et al., 2012). A primeira geração de EIE permitia a detecção apenas de anticorpos contra a região NS4, com a utilização do antígeno recombinante c100-3. Com o desenvolvimento da segunda geração de testes, foram adicionados antígenos do core, da região NS3 e uma parte do c100-3 (chamado 5-1-1) da região NS4. A terceira geração incluiu um antígeno adicional da região NS5 e uma 14 reconfiguração dos antígenos do core e NS3 (Kesli et al., 2009). Recentemente desenvolvida, a quarta geração de testes permite a detecção simultânea anticorpos anti-HCV e antígenos do core viral (Gonçales e Gonçales Jr. 2007). A janela imunológica foi reduzida significantemente com a introdução dos EIEs de quarta geração. A quarta geração de testes pode detectar anticorpos a partir de 14 a 20 dias de infecção, comparados com 28 a 70 dias detectados pelos testes de terceira geração, 82 dias da segunda geração e 150 dias da primeira geração (Lambert, 2007). Os testes disponíveis no mercado capazes de detectar anticorpos antiHCV apresentam especificidade maior que 99% e sensibilidade entre 95-99% (Gonçales; Gonçales Jr. 2007). Os testes que detectam antígeno e anticorpo apresentam sensibilidade de 100% e especificidade igual ou maior que 99,5% (Lambert, 2007). Pacientes imunossuprimidos podem não apresentar sorologia reagente (anti-HCV), em virtude da diminuição ou ausência da produção de anticorpos. Nesses casos, o diagnóstico deverá ser realizado por meio de testes moleculares (Ministério da Saúde, 2011). 1.8.3 - Testes moleculares São testes de detecção ou quantificação do genoma viral. A detecção qualitativa do HCV pode ser realizada pela transcrição reversa seguida da reação em cadeia da polimerase (RT-PCR) ou pela amplificação mediada por transcrição (TMA). A RT-PCR consiste na utilização do RNA do HCV como matriz para a síntese da fita complementar (cDNA) por transcrição reversa. Posteriormente, o cDNA é amplificado pela ação da DNA polimerase em múltiplas cópias de ácido desoxirribonucleico (DNA) dupla fita. Esses testes são capazes de detectar até 50 UI/mL do HCV RNA com sensibilidade similar para qualquer genótipo, utilizando testes comerciais. A TMA consiste na amplificação mediada por transcrição com limite de detecção de 5-10 UI/mL e sensibilidade e especificidade acima de 96% independente do genótipo. Um teste TMA disponível comercialmente é o Versant™ HCV RNA Qualitativos (Siemens Medical Solutions Diagnostics, Alemanha) (Lange e Sarrazin, 2010). 15 A quantificação do HCV RNA pode ser obtida através de técnicas de amplificação do sítio alvo, como a PCR em tempo real que realiza a quantificação de ácidos nucleicos com alta reprodutibilidade, uma vez que os valores são determinados na fase exponencial da reação, baseados na emissão de fluorescência à medida que o material genético está sendo amplificado ou a amplificação de sinal, como o DNA ramificado baseado na detecção por amplificação de sinal. Na reação, após a transcrição reversa do HCV RNA, a fita complementar resultante liga-se a oligonucleotídeos com sequências específicas de regiões conservadas do genoma do HCV. Atualmente no mercado estão disponíveis os testes que utilizam a PCR em tempo real como o Cobas Taqman HCV (Roche). De acordo com informações do fabricante, a técnica é capaz de quantificar o HCV RNA com limite de detecção de 9.3UI/mL em amostras de plasma e de 8.8UI/mL em amostras de soro para o genótipo 1 e para os demais genótipos (2 – 6) o limite de detecção é de 20UI/mL. Outro teste de PCR em tempo real disponível é o Abbott Real Time™ HCV (Abbott), cuja sequência alvo está na região 5’NC do genoma do HCV e o limite de detecção é de 12UI/mL quando o volume de 0,5mL é empregado para o teste e de 30UI/mL, quando se utiliza 0,2mL de amostra. O teste Versant™ HCV RNA (Siemens Medical Solutions Diagnostics, Alemanha) utiliza a metodologia de DNA ramificado (bDNA) tendo o limite de detecção da versão atual 3.0 do Versant™ HCV RNA (Siemens) de 615 UI/mL (Lange e Sarrazin, 2010). A determinação do genótipo do HCV também é importante para definição do tipo de tratamento. Existem atualmente diversas metodologias comerciais para genotipagem do HCV, destas a maioria se baseia na analise da região 5'NC, devido ao alto grau de conservação entre os isolados dos diferentes genótipos, porém testes baseados na analise da região NS5B também são utilizados devido à variabilidade genética nesta região. (Pawlotski, 2002) No Brasil, o método mais comumente utilizado para genotipagem do HCV é a técnica de RT-PCR que é capaz de detectar os genótipos 1, 2, 3, 4, 5 e 6, e precisamente os subtipos 1a e 1b através do uso de sondas fluorescentes marcadas com oligonucleotídeos específicos para cada genótipo. 16 Os métodos de PCR em tempo real são específicos e sensíveis, usam sondas e iniciadores específicos para detectar sequências alvo. Além disso, esta técnica é executada em uma plataforma automatizada sem a necessidade de procedimentos de pós-PCR, minimizando, assim, a contaminação e reações cruzadas entre as amostras proporcionando uma análise mais rápida (Nakatani et al., 2010). 1.9 - Prevenção Até o momento, não existe uma vacina para a prevenção da hepatite C, por isto devem ser adotadas medidas de prevenção primárias e secundárias. As medidas primárias visam à redução do risco para disseminação da doença e as secundárias à interrupção da progressão da doença em uma pessoa já infectada. Dentre as medidas de prevenção primária, destacam-se: triagem sorológica em bancos de sangue e centrais de doação de sêmen para garantir a distribuição de material biológico não infectado; triagem de doadores de órgãos sólidos como coração, fígado, rim e pulmão; triagem de doadores de córnea ou pele; cumprimento das práticas de controle de infecção em hospitais, laboratórios, consultórios dentários e serviços de hemodiálise. As medidas de prevenção secundária são: tratamento dos indivíduos infectados, quando indicado; abstinência ou diminuição do uso de álcool, não exposição a outras substâncias hepatotrópicas (SVS - Ministério da Saúde 2005, 2011). Estudos têm sido realizados para o desenvolvimento de vacinas contra o vírus da hepatite C, onde vetores virais em conjunto com proteínas do envelope foram desenvolvidos e utilizados para imunização em modelos animais (ratos e macacos) sendo capazes de produzir anticorpos neutralizantes (Garrone et al., 2011). Vacinas que utilizam peptídeos do envelope foram capazes de reduzir a carga viral do HCV em pacientes que não haviam respondido a terapia convencional (El-Awady et al., 2013), assim como vacinas recombinantes empregando as glicoproteínas do envelope se mostraram imunogênica em cobaias (Stamataki et al., 2007) e chimpanzés (Meunier et al., 2011) e capazes de induzir respostas imunes protetoras em modelos 17 experimentais usando cepas homologas e heterólogas do genótipo 1a do HCV (Meunier et al., 2008). Vacinas de DNA também têm se mostrado capazes de induzir respostas humorais e celulares in vivo (Beckebaum et al., 2005). Existem duas vacinas de DNA sendo avaliadas, uma, em Fase I de ensaios clínicos, demonstrou alta tolerância, se mostrou segura e imunogênica (Alvarez- Lajonchere et al., 2009) e a outra está em Fase II, porém ainda não se conhece o seu potencial de imunogenicidade (Xue et al., 2014). 1.10 - Tratamento De acordo com a portaria Nº 25 de 12 de Novembro de 2013, os medicamentos de ação direta contra o vírus (DAAs) já estão disponíveis para tratamento dos pacientes com hepatite C. Estes medicamentos são inibidores de protease viral, como o Boceprevir (BOC) e Telaprevir (TVR), e são indicados para pacientes infectados cronicamente pelo genótipo 1 do CV e com fibrose avançada (Metavir F3 e F4) ou cirrose hepática compensada (Child-Pugh ≤ 6). O esquema terapêutico consiste na associação de um destes inibidores de protease (IP) com PEG-INF + RBV, por 12 semanas quando há indicação do uso do Telaprevir, tendo administração continuada de PEG-INF ate 48ª semana, e quando houver indicação do uso do Boceprevir, a terapia tripla deve seguir o esquema terapêutico por 48 semanas. O tratamento padrão da infecção crônica pelo HCV, atualmente, consiste na administração da combinação de interferon peguilado alfa-2a ou alfa-2b (PEG-IFN) e ribavirina (Fried et al., 2002). A resposta virológica sustentada é determinada pela ausência de RNA viral, seis meses após o tratamento (Pawlotsky 2009). A duração do tratamento com terapia dupla em indivíduos monoinfectados pelo HCV depende do genótipo viral, e o tempo de duração varia de 24 a 48 semanas em pacientes infectados pelos genótipos 2 ou 3 e 48 a 72 semanas para indivíduos infectados pelos genótipos 1 e 4 (Ministério da Saúde, 2011). 18 1.11 – Utilização do Sangue seco em papel de filtro A coleta de amostras de sangue é necessária para estabelecimento do diagnóstico etiológico da infecção pelo HCV, porém há necessidade de pessoal treinado para a realização da punção venosa, além de infraestrutura para coleta em condições adequadas de biossegurança. Estas condições nem sempre estão disponíveis em áreas distantes do laboratório. O uso de amostras de SSPF para o diagnóstico de desordens metabólicas congênitas em recém-natos foi introduzido no Brasil em 1976, pelo pediatra Benjamin J. Schmidt e se tornou obrigatório em todo o país em 1990, através da lei federal n. 8.069/90. Em 2001 o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de Triagem Neonatal. A grande vantagem da utilização de papel de filtro para o diagnóstico da hepatite C é a facilidade na coleta tornando esta uma alternativa satisfatória e conveniente, principalmente em estudos populacionais em larga escala em áreas remotas, pois requer espaço mínimo de estocagem, apresenta pouco risco biológico, é pouco onerosa, e o transporte das amostras é simples e possui baixo custo. 19 2. JUSTIFICATIVA O Brasil apresenta grande extensão territorial, e a prevalência da infecção pelo HCV varia de acordo com as diferentes regiões geográficas. Além disto, muitas áreas não apresentam infraestrutura adequada para coleta, armazenamento de amostras e o diagnóstico padrão das hepatites virais. O diagnóstico da infecção pelo HCV é feito pela detecção de antígenos, anticorpos e genoma viral em amostras de sangue obtida por punção venosa periférica. No entanto, a coleta de sangue é extremamente difícil em determinados grupos populacionais como crianças, idosos, obesos, hemodialisados, usuários de drogas injetáveis, assim como em áreas remotas, onde há pouca infraestrutura para coleta e dificuldade na remessa e recepção de amostras biológicas. A obtenção de amostras de sangue seco em papel de filtro (SSPF) é um método menos invasivo para coleta de amostras biológicas. Esta metodologia já foi utilizada com bom desempenho para diagnóstico da infecção pelo HIV (De Crignis et al., 2010). De acordo com a portaria n.º 247 de 09 de novembro de 2012 do Ministério da Saúde, testes em papel de filtro podem ser utilizados para triagem da toxoplasmose, (Imunoglobulina M (IgM) e Imunoglobulina G (IgG), Hepatite B (Anti-HBcAg e HBsAg), hepatite C (anti-HCV), TSH, sífilis recombinante e HIV em gestantes). Do mesmo modo, o Ministério da Saúde também instituiu em 6 de junho de 2011 (Portaria GM/MS N.º822), a portaria de triagem neonatal ampliando a triagem neonatal existente (fenilcetonúria e hipotireoidismo congênito) para a detecção precoce de outras doenças congênitas, tais como a fibrose cística, as hemoglobinopatias e as doenças falciformes. Estudos demonstram que o SSPF pode ser útil na detecção de marcadores da infecção pelo HIV e pelo HBV em áreas endêmicas e em grupos com fatores de risco associados (De Crignis et al., 2010; Mohammed et al., 2013). Nosso grupo já demonstrou que marcadores da infecção pelo HBV (anti-HBc, HBsAg e anti-HBs) e HCV (anti-HCV e antígeno HCV) podem ser detectados em SSPF através de ensaio imunoenzimático comercial (Villar et al., 2011; Marques et al., 2012; Brandão et al., 2013). O ensaio 20 imunoenzimático otimizado para detecção de anti-HCV apresentou bom limite de detecção e boa repetitividade e reprodutibilidade, porém os estudos anteriores empregavam amostras provenientes somente do Estado do Rio de Janeiro e principalmente de indivíduos atendidos em centros de diagnóstico e tratamento das hepatites virais. Logo, torna-se necessário avaliar a efetividade do ensaio otimizado em indivíduos com perfis de endemicidade distintos e de diferentes regiões geográficas do Brasil a fim de avaliar a eficiência do método em diferentes grupos e a sua utilização para o diagnóstico e estudos de prevalência. 21 3. OBJETIVOS 3.1 - Objetivo geral Avaliar a factibilidade da utilização do sangue seco em papel de filtro para diagnóstico e estudos de prevalência da infecção pelo HCV em diferentes regiões geográficas do Brasil. 3.2 - Objetivos específicos Determinar a presença de anticorpos anti-HCV em amostras de sangue seco em papel filtro utilizando um ensaio imunoenzimático comercial adaptado; Comparar a detecção de anticorpos anti-HCV em amostras pareadas de soro e sangue seco em papel de filtro para determinar os parâmetros de qualidade do ensaio; Estimar a prevalência de anticorpos anti-HCV utilizando amostras de SSPF provenientes de indivíduos de áreas de alta e baixa endemicidade, e em grupos com comportamento de risco; Detectar a presença de RNA do HCV em amostras de soro anti-HCV reagentes para verificar se a presença do RNA viral está relacionada com a reatividade em sangue seco em papel de filtro; Identificar os fatores de risco associados à infecção pelo HCV utilizando o ensaio otimizado. 22 4. METODOLOGIA O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da FIOCRUZ, sob o número CAAE 34055514.9.0000.5248 para a sua execução. (Anexo C) 4.1 - População de Estudo Neste estudo foram incluídos indivíduos provenientes de 4 regiões geográficas do Brasil (Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste), divididos em 3 grupos: (I) Indivíduos de área de baixa endemicidade; (II) Indivíduos com vulnerabilidade acrescida para aquisição da infecção pelo HCV; (III) Indivíduos de áreas de alta endemicidade. O cálculo amostral foi feito com o auxílio do programa Epi Info 7(Center of Disease Control - CDC), com erro amostral de ±5% e nível de confiança de 95-97%, considerando a taxa de prevalência da hepatite C para os grupos selecionados de acordo com a literatura, sendo de 1,38% para o grupo I (Boletim Epidemiológico para Hepatites Virais, 2012); 2,3-2,9% para o grupo II (Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas - Senad, 2013; Santos Cruz et al., 2013), e para o grupo III, considerando uma população de 1500 pacientes com HCV atendidos nos ambulatórios de Hepatites virais. Deste modo, foi realizado o seguinte cálculos quantitativos para cada grupo estudado, tomando como base o número de indivíduos residentes em cada localidade de estudo segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010): - Grupo I (Indivíduos de área de baixa endemicidade): mínimo de 360 indivíduos para a Região Centro-Oeste do Brasil (Pantanal de Mato Grosso do Sul); 570 indivíduos para a região Norte do País (Tocantinópolis, Tocantins e 23 Manaus, Amazonas); 494 indivíduos para a região Nordeste (Recife e Caruaru, Pernambuco; Sobral, Ceará; Nossa Senhora de Nazaré, Piauí); 140 indivíduos da região Sudeste (Nova Iguaçu, Rio de Janeiro). - Grupo II (Indivíduos com maior vulnerabilidade para aquisição da infecção pelo HCV): mínimo de 240 indivíduos profissionais de beleza (manicures, pedicuras, depiladores) e 180 usuários de drogas não injetáveis residentes no Rio de Janeiro e Salvador. Grupo III (Pacientes atendidos em Centros de Referência para Hepatites Virais Ambulatório de Hepatites Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e Hospital Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ): mínimo de 200 pacientes foi incluído com objetivo de avaliar o desempenho do teste em uma população sabidamente infectada (sensibilidade, ou proporção de testes positivos / pessoas infectadas). Os indivíduos foram previamente informados do estudo e suas dúvidas esclarecidas. Os resultados foram encaminhados aos mesmos e no caso de portadores, os mesmos foram encaminhados aos Serviços de Saúde para aconselhamento e tratamento necessários. Somente foram incluídos no estudo indivíduos que assinaram o termo de consentimento. Menores de idade tiveram o termo assinado pelo representante legal. Os critérios de inclusão para os grupos foram: Grupo I Ser residente da Região onde os estudos foram realizados; Não apresentar hepatite viral diagnosticada ou sintomas sugestivos no momento da inclusão no estudo. Grupo II Indivíduos maiores de 18 anos; Profissionais da área de beleza, como manicures, pedicuras, cabeleireiros e depiladores; Indivíduos que utilizavam droga não injetável nos últimos 12 meses e não estivessem sobre o efeito da droga no momento da coleta de informações e amostras biológicas. 24 Grupo III Indivíduos maiores de 18 anos; Pacientes com suspeita de hepatite viral, ou hepatite C confirmada através de testes sorológicos e moleculares no soro. Os critérios de exclusão do estudo para os 3 grupos foram: alguma intercorrência durante a coleta da amostra, como: não ter acesso venoso ou impossibilidade de coleta de sangue. 4.2 - População de baixa endemicidade para o HCV O Grupo I foi composto por indivíduos da população em geral, provenientes de quatro regiões geográficas do Brasil (Sudeste, Nordeste, Norte e Centro-Oeste), com o objetivo de incluir aqueles indivíduos que possuem baixa vulnerabilidade para aquisição da infecção pelo HCV. 4.2.1 – Região Centro-Oeste Foram incluídos indivíduos residentes na região do Pantanal do Mato Grosso do Sul que viviam em casas de pau-a-pique e palafitas, com arquitetura adaptada para períodos de inundações. A maioria da população era constituída principalmente por pescadores que utilizam o rio como fonte de subsistência. A coleta de amostras de soro e SSPF e dados foi realizada em todos os indivíduos residentes nas comunidades ribeirinhas Passo do Lontra, Serra do Amolar e Porto do Manga (Figura 4.1) no ano de 2010 que concordaram em participar do estudo após assinatura de termo de consentimento (Tourinho, 2011). A população ribeirinha possui um modo de vida bastante simples que apresentam como principal atividade ocupacional a pesca artesanal e a coleta e venda de iscas vivas. As casas são modestas e rústicas, sendo muitas ainda construídas de pau-a-pique. Próximo as suas residências mantêm atividades agrícolas de subsistência além da criação de animais domésticos. O rio é utilizado além da pesca, como auxiliar na higiene pessoal (banhos) e doméstica 25 (louças e roupas). Não possuem saneamento básico ou sequer pronto atendimento. Sua população é predominantemente infantil devido à alta taxa de natalidade, as escolas oferecem Ensino Fundamental e Médio e o principal meio de transporte são os barcos e canoas. A comunidade Serra do Amolar/São Lourenço, localiza-se a 217 km de Corumbá (via fluvial) em uma planície inundável onde a maioria das casas é construída sobre palafitas (sistema construtivo usado em edificações localizadas em áreas alagadiças) assim como a comunidade Porto do Manga (localizada na estrada Parque pantanal sul-mato-grossense a 385 km de Campo Grande) que possui suas casas construídas sobre toras de madeira como medida de proteção às cheias. Esta comunidade conta com uma unidade educacional que atende principalmente as crianças e adolescentes em idade escolar. A atividade econômica gira em torno da pesca de iscas vivas e também do trabalho como brigadistas do Parque Nacional do Pantanal matogrossense, aproximando o pantaneiro dos processos de conservação da biodiversidade. A comunidade Passo do Lontra fica localizada na estrada do Parque do Pantanal, a 300 km da capital Campo Grande. É constituída por pescadores, piloteiros de barco e serviços gerais turísticos. Nesta região está localizada a Base de Estudos do Pantanal da UFMS, a qual oferece atendimento médico e odontológico periódico e, foi fundamental para a elaboração deste estudo com a população ribeirinha do Pantanal de Mato Grosso do Sul (Figura 4.1). 26 Figura 4.1 Coleta e processamento de amostras realizada no Campus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e habitações das comunidades Passo do Lontra, Serra do Amolar e Porto da Manga na região do Pantanal/MS. (Fonte: Laboratório de Hepatites Virais IOC - FIOCRUZ; Bigaton, 2009 Figura 4. 2 - Mapa demonstrando a localização das comunidades Passo do Lontra (1), Serra do Amolar (2) e Porto da Manga (3) na Região do Pantanal/MS (Fonte: Adaptado de CreativeCommons - http://commons.wikimedia.org/wiki/User:Raphael.lorenzeto 27 4.2.2 – Região Norte Na região Norte foram recrutados indivíduos residentes na cidade de Tocantinópolis situada no Estado de Tocantins (Figuras 4.3 e 4.4) que forneceram amostras de soro e SSPF em junho de 2010 e na localidade de Santa Isabel do Rio Negro no Amazonas (Figuras 4.5 e 4.6). A cidade de Tocantinópolis está localizada no Norte do Estado as margens do Rio Tocantins, a 523 km da capital Palmas e a 715 km de São Luiz do Maranhão. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, a população de Tocantinópolis é estimada em 22.608 habitantes e sua economia compõe-se basicamente dos seguintes setores: funcionários públicos, comércio varejista, prestadores de serviços, atividades agropecuárias, pequenas indústrias, e também mercado informal. Na pecuária destaca-se a predominância de criação de bovinos e suínos, para produção de leite e carne e apenas para o consumo da população local. A agricultura é voltada para a produção de arroz, milho, feijão e mandioca. Este estudo foi desenvolvido em Tocantinópolis durante o projeto de “Ações integradas de vigilância de doença de chagas, hepatites, leishmaniose, malária, saúde do trabalhador e tracoma” organizado pela Secretaria Estadual de Saúde do Estado de Tocantins. Os indivíduos provenientes deste estudo residiam em povoados rurais (Mumbuco, Folha Grossa, Cacau e Fazenda Bela Vista) e na área urbana que foram selecionadas de acordo com a presença de casos confirmados de doença de Chagas nos últimos anos. 28 Figura 4.3 - Habitações da área rural da cidade de Tocantinópolis/TO e coleta e processamento de amostras (Fonte: Laboratório de Hepatites Virais - IOC - FIOCRUZ). Figura 4.4 - Mapa demonstrando a localização da cidade de Tocantinópolis (Estado de Tocantins) (FONTE:CreativeCommons http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tocantins_MesoMicroMunicip.svg) A localidade de Santa Isabel do Rio Negro se encontra na bacia do Alto Rio Negro, no Estado do Amazonas, distante 781 km da capital do estado, a cidade de Manaus (Figura 4.5). Somente amostras de SSPF foram obtidas nesta localidade em novembro de 2013. O acesso à cidade só é possível por barco ou avião. O município tem aproximadamente 11.000 habitantes. No 29 centro urbano vivem cerca de 5.000 pessoas, distribuídas em seis distritos. O restante da população está distribuído em diversas comunidades ribeirinhas no interior do município. Os habitantes de Santa Isabel do Rio Negro e de outras regiões da bacia do Alto Rio Negro descendem de populações pré-colombianas tendo como idioma o Tukano Oriental e Aruak (ISA 2012). A infraestrutura sanitária é marcadamente deficiente, pois a grande maioria das casas não têm fossas sépticas para a recepção de resíduos sólidos (Bóia et al. 2006). Figura 4.5: Localidade de Santa Isabel do Rio Negro/AM (Fonte: Laboratório de Hepatites Virais - IOC - FIOCRUZ) Figura 4.6: Mapa da localização da localidade de Santa Isabel do Rio Negro. (FONTE: CreativeCommons - http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Amazonas_MesoMicroMunicip.svg) 4.2.3 – Região Sudeste Na região Sudeste foram recrutados indivíduos residentes do Bairro Miguel Couto no município de Nova Iguaçu (Rio de Janeiro). Estes indivíduos forneceram amostras de soro e SSPF por ocasião de um evento para conscientização sobre 30 hepatites virais no colégio estadual Figueira realizado em setembro de 2012 (Figuras 4.7 e 4.8). A cidade de Nova Iguaçu se localiza na região noroeste da capital do Estado, distante cerca de 28 km da capital e ocupa uma área de 523.888 km². Em 2012, o IBGE estimou sua população em 801.746 habitantes, dos quais 52% eram mulheres. A principal fonte de arrecadação do município é proveniente do comércio e os serviços, possuindo um dos centros comerciais mais importantes do estado. A indústria na cidade tem uma grande relevância econômica, contando com indústrias nos ramos alimentício, de siderurgia e de cosméticos. Figura 4.7: Coleta realizada no colégio estadual Figueira, no bairro Miguel Couto, município de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro (Fonte: Laboratório de Hepatites Virais - IOC - FIOCRUZ) Figura 4.8: Mapa da localização da cidade de Nova Iguaçu, RJ. (FONTE: CreativeCommons http://commons.wikimedia.org/wiki/File:RiodeJaneiro_MesoMicroMunicip.svg) 4.2.4 – Região Nordeste Na Região Nordeste foram incluídos indivíduos de 3 Estados (Pernambuco, Ceará e Piauí). No Estado de Pernambuco, foram incluídos 31 indivíduos incluídos residentes da cidade de Caruaru e Recife que forneceram somente amostras de sangue seco em papel de filtro no ano de 2013. O município de Caruaru está localizado a cerca de 130 km da capital do Estado, tendo sua população em torno de 342 mil habitantes (IBGE, 2010) (Figura 4.9). Sua economia baseia-se na agricultura e agropecuária, principalmente, sendo a lavoura uma das principais fontes de renda no setor primário. A indústria tem uma grande representação no setor secundário, tendo grande destaque a produção têxtil. Figura 4.9: Mapa da cidade de Caruaru, PE. (FONTE: CreativeCommons http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Brazil_Pernambuco_location_map.svg) - O município de Recife (Figura 4.10), a capital do estado, ocupa a posição central no litoral do nordeste do Brasil, situando-se na área central da Região Metropolitana, a 800 km das metrópoles regionais de Salvador e Fortaleza, tem sua população estimada em 1.537.704 milhões de habitantes (IBGE, 2010), sendo uma das principais capitais do nordeste, onde a principal fonte de renda encontra-se nos Portos de Suape e o Porto do Recife, importantes parques tecnológicos do país e referência mundial na produção de softwares. (http://www2.recife.pe.gov.br/a-cidade/aspectos-gerais/aspectos- economicos). 32 Figura 4.10: Mapa da cidade de Recife, PE (FONTE: CreativeCommons http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Brazil_Pernambuco_location_map.svg) No Estado do Ceará, foram incluídos indivíduos residentes na cidade de Sobral que forneceram somente amostras de sangue seco em papel de filtro em 2013. Sobral é um município situado no Estado do Ceará com população de 199.750 habitantes sendo a quinta cidade mais povoada do estado e a segunda maior do interior, estando localizada a 238 km de distância da capital do Estado (Figura 4.11). Dentre as principais atividades econômicas da cidade, destacam-se a agricultura, pecuária, mineração, extrativismo e o polo industrial que conta com indústrias especializadas na fabricação de calçados, cosméticos, embalagens etc. O turismo na cidade também é uma forte fonte de renda para o município. As amostras de SSPF foram coletadas pelos técnicos, funcionários da Universidade Federal do Ceará, assim como as informações do questionário, e enviados para o Laboratório de Hepatites Virais (FIOCRUZ) Figura 4.11: Mapa da localização da cidade de Sobral, CE (FONTE: CreativeCommons http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ceara_MesoMicroMunicip.svg 33 Também foram incluídas amostras de indivíduos residentes da cidade de Nossa Senhora de Nazaré no Estado do Piauí. Este grupo forneceu somente amostras de SSPF em setembro de 2014 em colaboração com a Fiocruz Piauí e a Secretaria Municipal de Saúde da Cidade de Nossa Senhora de Nazaré (Figuras 4,12 e 4.13). As coletas foram realizadas de forma domiciliar com indivíduos da população urbana e rural da cidade, após a assinatura do termo de consentimento. O município está localizado a 86 km da capital, sua população é de 4559 habitantes (IBGE, 2010) tendo como atividades principais a lavoura de subsistência e comercial, porém em menor escala e de forma temporária. Figura 4.12: Cidade de Nossa Senhora de Nazaré, PI. (Fonte: Laboratório de Hepatites Virais - IOC - FIOCRUZ) 34 Figura 4.13: Mapa da localização da cidade de Nossa Senhora de Nazaré, Piauí (FONTE:CreativeCommons http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Piaui_MesoMicroMunicip.svg) 4.3 – População com maior vulnerabilidade para aquisição do HCV O grupo II foi composto por indivíduos que apresentam alta vulnerabilidade para aquisição do HCV que forneceram amostras de soro e SSPF. Foram incluídos profissionais de beleza (manicures, pedicuras, depiladores, cabelereiros e afins) residentes no Estado do Rio de Janeiro e usuários de drogas não injetáveis (crack) residentes dos Estados do Rio de Janeiro e da Bahia. Os profissionais de beleza foram recrutados em uma feira de negócios para profissionais da área realizada na cidade de Niterói/RJ, no ano de 2010. Esse evento contou com os mais variados profissionais da área (manicures, pedicuras, cabelereiros, depiladores e afins) que participavam da exposição ou adquiriram produtos. (Figura 4.14) 35 Figura 4.14: Coleta realizada na feira de negócios para profissionais de beleza, Niterói/RJ (Fonte: Laboratório de Hepatites Virais - IOC - FIOCRUZ) Os usuários de crack foram recrutados em centros de tratamento ou em áreas de consumo da droga nas cidades de Macaé, Rio de Janeiro, Salvador no período de novembro de 2010 a junho de 2011. Este estudo foi realizado em colaboração com o Instituto de Psiquiatria da UFRJ e Universidade Federal da Bahia (UFBA) e tinha como objetivo avaliar a prevalência de doenças infecciosas como hepatites B e C, e HIV bem como a análise de fatores de risco para a aquisição destes agravos e características de uso da droga nesta população. 4.4 - População de alta prevalência para o HCV O grupo III foi composto por pacientes atendidos em Centros de Referência para Hepatites Virais, como o Ambulatório de Hepatites Virais do IOC, Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) e Hospital Universitário Antonio Pedro (HUAP/UFF) (Fig. 4.15) no período de junho de 2011 a novembro de 2012. Os indivíduos encaminhados a estes centros de referência são provenientes de postos de atendimento médico (PAM), bancos de sangue ou hospitais associados ao Sistema Único de Saúde (SUS). O 36 Ambulatório de Hepatites virais do IOC atende em média 100 pacientes por semana, o ambulatório de hepatologia do HUCFF tem média de 200 pacientes semanais e o ambulatório de hepatites do HUAP tem média de 30 pacientes semanais. Todos estes centros são locais de esclarecimento de diagnóstico ou tratamento de hepatites virais. A B C Figura 4.15: Ambulatório de Hepatites Virais - IOC – Fiocruz (A) (Fonte: Laboratório de Hepatites Virais - IOC - FIOCRUZ; Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – UFRJ (B); (C) Hospital Universitário Antonio Pedro (Fontes: http://www.olharvirtual.ufrj.br; Laboratório de Hepatites Virais – IOC – FIOCRUZ; http://www.huap.uff.br) 4.5 - Coleta de amostras biológicas As amostras de sangue foram coletadas por punção venosa periférica (8 mL) (Figura 4.16) e submetidas à centrifugação a 3000g (Centrífuga Centurion Vector Invertes System, Laborline, Brasil) à temperatura de 25.ºC durante 10 minutos para obtenção do soro. O soro foi acondicionado em um microtubo previamente identificado com o número de registro e armazenado à temperatura de -20ºC até a realização das análises. Figura 4.16: Procedimento para a coleta de sangue por punção venosa, para obtenção do soro, ou aplicação no papel de filtro. (Fonte: Laboratório de Hepatites Virais IOC - FIOCRUZ) 37 A coleta de SSPF foi realizada por punção venosa periférica ou punção digital, onde 3 a 5 gotas (cerca de 70 µl) de sangue total foram aplicados em um circulo de 12,5 mm de diametro de papel de filtro (Whatman Protein Saver Card 903, GE Healthcare Bio-Sciences, Uppsala, Suécia) (Figura 4.17). Após a coleta, o SSPF foi mantido à temperatura ambiente por 4 horas até a completa absorção, e colocado em sacos plásticos individuais contendo um envelope com sílica gel e armazenados a -20ºC até o processamento. Figura 4.17: Procedimento para a coleta de sangue por punção digital, para aplicação no papel de filtro.(Fonte: Cristiane Albuquerque - Agencia Fiocruz de Notícias http://www.agencia.fiocruz.br/sangue-seco-alternativa-para-odiagostico-da-hepatite-b) Para o processamento da amostra de SSPF, um disco de papel de 3 mm de diametro foi cortado e acondicionado em tubo com 300 µl de tampão fosfato-salino com adição de albumina sérica bovina (PBS/BSA) 0,5% por 1824 h a 2-6 ºC. Em seguida, o disco de SSPF foi transferido do tubo com auxílio de uma ponteira para o interior de uma seringa de 3 mL. Esta seringa foi acoplada em um tubo de 15 mL contendo um microtubo com o tampão de eluição. Em seguida, este sistema foi submetido à centrifugação durante 10 min a 2200g à temperatura ambiente, e apenas os microtubos contendo o eluato foram removidos do sistema e armazenados para testagem (Villar et al., 2011; Marques et al., 2012) (Figura 4.18). 38 Figura 4.18: Etapas do processamento das amostras de sangue coletadas em papel de filtro. A) 300µl de tampão PBS/BSA 0,5% são colocados em criotubos de 1 ml. B e C) um disco de 3 mm é cortado, utilizando cortador manual. D) o disco é colocado no criotubo contendo o tampão PBS/BSA 0,5%. E) As amostras são homogeneizadas. F, G e H) os discos são transferidos para uma seringa acoplada a um tubo Falcon de 15ml, com auxílio de uma ponteira. J) as amostras são centrifugadas por 5 minutos. L) os eluatos obtidos são as amostras que serão testadas (Fonte: Laboratório de Hepatites Virais - IOC - FIOCRUZ) 4.6 - Determinação de anticorpos contra o vírus da Hepatite C (anti-HCV) A detecção do anti-HCV foi realizada utilizando um ensaio imunoenzimático comercial (Murex anti-HCV v.4.0, Diasorin, Itália), e 20 µl de soro foram utilizados no teste de acordo com instruções do fabricante. Para a detecção do anti-HCV em amostras de SSPF, o volume de amostra, aumentado em 20 vezes (volume final igual a 200µL) e as etapas seguintes do protocolo foram realizadas seguindo as recomendações do fabricante (Marques et al., 2012). 4.6.1 Princípio do teste imunoenzimático O teste Murex anti-HCV (versão 4.0) consiste em um método de detecção direta, e são empregados micropoços revestidos com antígenos da região do core, NS3, NS4 e NS5 do HCV. Durante o curso da primeira incubação da amostra de soro diluída no respectivo micropoço, todos os 39 anticorpos anti-HCV presentes na amostra se ligam aos antígenos imobilizados presentes sensibilizados na placa. Após a lavagem que irá remover o material não ligado, os anticorpos anti-HCV capturados são incubados com um conjugado que contém anticorpos anti-IgG monoclonais humanos ligados a peroxidase. Na segunda incubação, o conjugado se liga aos anticorpos imobilizados na primeira etapa. Após a remoção do excesso de conjugado, a enzima ligada é detectada através da adição de uma solução contendo 3,3', 5,5'-tetrametilbenzidina (TMB) e peróxido de hidrogênio. As amostras com resultado reagente apresentaram coloração roxa. A reação enzimática é interrompida com a adição de ácido sulfúrico e aparecimento de coloração laranja cor. A quantidade de conjugado ligado, e, portanto, a cor, nos poços, está diretamente relacionada com a concentração de anticorpo na amostra e será medida pela fotometria, na faixa de leitura de 450 nm usando como faixa de referência 620-690 nm. 4.6.2- Procedimento do teste Murex anti-HCV versão 4.0 (Diasorin, Itália) Para a realização do ensaio, foram adicionados 20 µl de amostras soro e controles e 180 µl de diluente de amostra na respectiva micro cavidade da placa de 96 poços, e para os testes em SSPF foram adicionados 100µl da amostra eluída e 100 µl do diluente. Em seguida a reação foi incubada a 37ºC por 1 hora. Após a incubação, cada cavidade da microplaca foi lavada com aproximadamente 300 µL, utilizando tampão de lavagem (glicina/borato) em uma concentração de 20:1, fornecida pelo teste por 5 vezes. Em seguida, foram adicionados 100 µL do conjugado e a reação foi incubada a 37ºC por 30 minutos, protegido da luz, após o término, a microplaca foi lavada como descrito anteriormente. Logo após, foram adicionados 100µL da solução de substrato, onde permaneceu em incubação a 37ºC por 30 minutos. Por fim, adicionou-se 50µL de ácido Sulfúrico (1N) para que a reação fosse interrompida e realizou-se a leitura da absorbância em espectrofotômetro com filtro de 450nm e com filtro de referência de 620-630 nm. 40 O cálculo do valor de corte foi realizado de acordo com as instruções do fabricante, realizando-se a média dos dois controles negativos, e a este valor foi somado 0,6. As amostras que forneceram uma absorbância inferior ao valor do ponto de corte foram consideradas não reagentes no ensaio, logo as que tiveram valor igual ou superior ao ponto de corte foram consideradas reagentes no ensaio. 4.7 - Detecção do RNA do HCV (Abbott Real time HCV, Abbott, EUA) As amostras anti-HCV reagentes foram submetidas à detecção do HCV RNA utilizando PCR em tempo real comercial (Abbott Real time HCV, Abbott, EUA). O ensaio Abbott RealTime HCV emprega a transcrição reversa associada a reação em cadeia da polimerase (RT-PCR) para a quantificação do RNA do HCV em soro e plasma humano utilizando como alvo a região 5'NC do HCV com alta precisão (Shinol et al., 2012). O HCV Abbott RealTime é capaz de detectar os genótipos do 1 - 6 do HCV (Mallory et al., 2014) e apresenta limite de detecção de 12 IU/mL (1.08 log IU/mL) quando 0.5 mL de volume de amostra é empregado. O teste apresenta especificidade de ≥ 99.5% (Abbott Real Time HCV, 2011). 4.7.1 Princípio do teste Abbott Real Time HCV Este ensaio utiliza a RT-PCR para detectar e amplificar a região 5’NC e gerar o produto amplificado a partir do genoma de RNA do HCV nas amostras, e uma sequência de RNA sem relação com a sequência alvo do HCV é introduzida em cada uma das amostras no início da preparação. Esta sequência de RNA isolada é simultaneamente amplificada por RT-PCR, e serve de controle interno (CI) para demonstrar que o processo foi corretamente executado em cada uma das amostras. A quantidade de sequência alvo do HCV presente em cada ciclo de amplificação é medida no equipamento Abbott m2000rt™ através da utilização de sondas de oligonucleotídeos marcadas com fluorescência. As sondas não geram sinal se não estiverem especificamente 41 ligadas ao produto amplificado. O ciclo de amplificação no qual o sinal de fluorescência é detectado pelo Abbott m2000rt é proporcional ao logaritmo da concentração de RNA do HCV presente na amostra original (Abbott Real Time HCV, 2013). 4.7.2 Procedimento do Ensaio Abbott Real Time HCV 4.7.2.1 - Preparação das amostras e extração do HCV RNA O ensaio utilizado para o procedimento de extração do RNA viral foi o Abbott Real Time (Abbott, Chicago, EUA), que utiliza um sistema de Preparação de Amostra (Sample Preparation System – Abbott Promega) que contém os seguintes reagentes: (1) Solução de lise (TRIS 100 mM contendo tiocianato de guanidina e detergente), (2) Solução de lavagem 1 (Acetato 50 mM contendo tiocianato de guanidina e detergente), (3) Solução de lavagem 2 (água livre de nuclease), (4) Tampão de eluição (solução fosfato 20 mM com conservante), (5) Micropartículas (1,5% de micropartículas em 50% de solução de lise). Antes de iniciar o procedimento, as amostras, controles internos, positivo e negativo e os demais reagentes da amplificação foram descongelados a 4ºC e em seguida as amostras foram centrifugadas a 2000 x g durante 5 minutos. Após o descongelamento, as amostras contendo volume total de 0,8 mL (0,5 mL requerido no teste e volume sobressalente de 0,3 mL) foram colocadas na rack do equipamento m24sp. O protocolo de extração foi configurado no programa do equipamento m24sp conforme instruções do fabricante. 4.7.2.2 – Amplificação e detecção do HCV RNA Após a etapa de extração do HCV RNA, procedeu-se a preparação manual da mistura de reação (Abbott RealTime HCV genotype II Amplification Reagent kit), que consiste em três reagentes: A (Reagente de ativação), B (Enzima DNA Polimerase rTth) e C (Reagente de oligonucleotídeos). O 42 equipamento m24sp foi organizado de acordo com o protocolo de preparação da placa e o programa foi configurado para o procedimento de amplificação. No equipamento, 50µl de RNA eluído obtido no processo de extração foi adicionado em cada micro cavidade da placa de 96 poços (Abbott 96-well optical reaction plate) que contem 50 µl da mistura de reação. Em seguida, a placa foi selada e transferida para o equipamento m2000rt. A concentração de RNA viral do HCV na amostra ou controle é calculada a partir da curva de calibração memorizada. O equipamento Abbott m2000rt apresenta automaticamente os resultados na estação de trabalho do m2000rt. Os resultados do ensaio podem ser apresentados em UI/ml ou em log UI/ml. 4.8 Teste de Genotipagem (Abbott Real Time HCV Genotype II) As amostras de soro que tiveram HCV RNA detectado com quantificação acima de 500 UI/mL foram genotipadas utilizando o teste Abbott RealTime HCV Genotype II. Esta metodologia determina os genótipos 1, 2, 3, 4, 5 e 6, e os subtipos 1a e 1b por meio do uso de sondas fluorescentes marcadas com oligonucleotídeos específicos dos genótipos e subtipos, através da tecnologia de PCR em Tempo Real. 4.8.1 Princípio do Teste de Genotipagem (Abbott RealTime HCV Genotype II) Este teste tem como alvo a região 5'NC do vírus, para a classificação dos genótipos do HCV 1, 2, 3, 4, 5 e 6, e a região de NS5B para determinação dos subtipos 1a e 1b (Figura 4.19). Este ensaio utiliza sonda do tipo Taqman Minor Grove Binder (MGB) Probe, uma sonda linear composta por uma molécula quencher e outra repórter, que são atraídas uma pela outra. Este teste possui limites de detecção de 500UI/mL, tendo como especificidade de 100% e sensibilidade de 98,3%-100%. 43 Figura 4.19: Regiões alvo do gene do vírus HCV utilizadas para o teste de genotipagem utilizando o equipamento Abbott Real Time HCV Genotype II. Este teste utiliza quatro conjuntos de iniciadores da PCR, o primeiro conjunto de iniciadores tem como alvo uma sequência dentro da região 5' não traduzida do genoma do HCV, projetado para amplificar os vírus isolados. O segundo conjunto de iniciadores é desenhado para amplificar a região não estrutural 5b (NS5b) do genótipo 1 O terceiro conjunto de iniciadores do HCV é projetado para amplificar a região NS5b do genótipo 1b. Por último, o quarto conjunto de iniciadores amplificam o controle IC. O ensaio requer três reações separadas para detectar os genótipos 1 , 1a , 1b e 2-5. A reação A é projetada para detectar todos os isolados do HCV, o genótipo 3, e subtipo 1a. A reação B é projetada para detectar o genótipo 1, 2, e o subtipo 1b. A reação C é capaz de detectar os genótipos 4, 5 e isolados do genótipo 6 (Quadro 4.1) A amplificação de ambos os alvos do HCV e do controle interno acontece simultaneamente na mesma reação. As sondas específicas dos genótipos e específicas do IC, dentro de cada reação são marcadas com fluoróforos diferentes, permitindo assim a detecção simultânea dos produtos de amplificação dos alvos mencionados. 44 Quadro 4.1 – Sondas utilizadas para detecção dos genótipos e subtipos Reação A B C Sonda Corante Fluorescente Todos os isolados do HCV FAM Subtipo 1a VIC Genótipo 3 NED Genótipo 2 FAM Subtipo 1b VIC Genótipo 1 NED Genótipo 4 FAM Genótipo 5 VIC Genótipo 6 NED Controle interno (CI) Quasar 670 Corante de referência ROX A-C Durante a fase de hibridização de cada ciclo de amplificação, as sondas hibridizam em seus respectivos alvos. A extremidade 5’ de cada sonda específica do HCV é marcada com uma porção da sonda fluorescente, enquanto que a extremidade 3’ é marcada com um quencher. Na ausência das sequências alvo, a fluorescência não é emitida, enquanto que na presença da sequencia alvo e consequente amplificação, ocorre a hidrolise da sonda. Durante a extensão da cadeia de DNA, a atividade exonuclease 5’ a 3’ da polimerase rTth degrada a sonda hibridizada em nucleotídeos constituintes, separando assim o quencher e o fluorórofo, permitindo a emissão fluorescente e a detecção. 45 4.8.2 Procedimento do ensaio de genotipagem Abbott Real Time HCV Genotype II A extração do RNA foi realizada conforme descrito do item 4.7.2.1, seguindo as recomendações do fabricante. Todo o armazenamento e preparação da amostra e controles foram realizados em área exclusiva de preparação. As amostras e os controles utilizados foram descongelados a uma temperatura entre 15-30ºC, e submetidos ao agitador por 2-3 segundos. Os reagentes de amplificação foram armazenados na geladeira para o descongelamento a 4ºC durante o período da extração automática (aproximadamente 3 horas). A mistura de reação de amplificação foi feita utilizando os seguintes itens: (1) Controle interno (menos de 0,01% de Armored RNA não infeccioso com sequências do controle interno em plasma humano negativo); (2) Reagente de amplificação A: contém oligonucleotídeos sintéticos (6 primers e 5 sondas), dNTPs, e dimetilsulfoxida em solução tamponada com corante de referência; rTth polimerase, e Reagente de ativação (30mM de solução de cloreto de manganês); (3) Reagente de amplificação B: contém oligonucleotídeos sintéticos (6 primers e 5 sondas), dNTPs, e dimetilsulfoxida em solução tamponada com corante de referência; rTth polimerase, e Reagente de ativação (30mM de solução de cloreto de manganês); (4) Reagente de amplificação C: contém oligonucleotídeos sintéticos (4 primers e 4 sondas), dNTPs, e dimetilsulfoxida em solução tamponada com corante de referência; rTth polimerase, e Reagente de ativação (30mM de solução de cloreto de manganês); Os reagentes foram manualmente distribuídos na placa de 96 poços, sendo 40L da mistura correspondente (A, B e C), e 20L do RNA extraído da mesma amostra dispostos em três poços distintos, conforme as instruções do fabricante. A placa foi selada e incubada por 10 minutos a temperatura 46 ambiente (23ºC). Em seguida, a etapa de amplificação e detecção foi realizada no equipamento Abbott m200rt. O equipamento Abbott m2000rt apresenta automaticamente os resultados “Genotype Call” na estação de trabalho Abbott m2000rt. Os resultados do ensaio e as interpretações serão apresentados em genótipo e/ou subtipo, no caso do genótipo 1, e os controles com a informação “passed”, quando válidos. 4.9 - Avaliação do desempenho do ensaio imunoenzimático em amostras de SSPF e dos fatores de risco para infecção pelo HCV Os dados obtidos dos resultados dos testes sorológicos e moleculares foram codificados e digitados em uma planilha de dados criada no programa Microsoft Excel XP. Análise estatística descritiva foi realizada com cálculo de médias, frequências e intervalos de confiança (IC) de 95%. Para comparação de prevalências, foi utilizado o teste do Qui-quadrado. Um valor de p< 0,05 foi estabelecido como nível de significância. Apenas amostras com resultados definidos (reagentes ou não reagentes) foram incluídas para avaliação do desempenho dos testes. Amostras com sorologia indeterminada foram excluídas da análise. Para avaliação da concordância entre o perfil sorológico das amostras dos painéis e os resultados apresentados pelos testes imunoenzimáticos em SSPF, procedeu-se à análise de tabelas de contingência e cálculo da estatística Kappa. O desempenho dos testes foi avaliado com base na sensibilidade clínica (Sc), especificidade (E), valores preditivos positivo (VPP) e negativo (VPN). Para avaliar os fatores de risco, a reatividade de anti-HCV foi empregada como fator dependente. Toda a análise estatística, incluindo os cálculos de sensibilidade e especificidade dos testes diagnósticos foram realizados utilizando o programa GraphPad InStat 3.01 (GraphPad software, San Diego, CA), MedCalc (version 9.2.1.0, MedCalc Software, Bélgica) e SPSS versão 20.0. 47 Para a análise dos fatores de risco associados à infecção pelo HCV, foi empregado o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS for Windows, versão 20.0, SPSS Inc., Chicago, IL, EUA). As estatísticas descritivas foram geradas para as respostas obtidas nos questionários, e foi utilizado o qui-quadrado de independência ou de tendência. As variáveis foram selecionadas dos questionários socioeconômicos e de fatores de risco, pela sua relevância e significância estatística utilizando análise bivariada utilizando o modelo de regressão logística de forma gradual. Os intervalos de confiança de 95% (IC 95%) também foram calculados e um valor de p <0,05 foi considerado estatisticamente significativo na análise bivariada. 48 5. RESULTADOS A tabela 5.1 mostra o número de amostras de soro e sangue seco coletadas de acordo com os Estados e as diferentes regiões do Brasil, pertencentes ao Grupo I, e as Populações que compõem os Grupos II e III. Tabela 5.1 – Número de amostras de soro e SSPF coletadas em cada estado e populações. Grupos Estados Soro SSPF Mato Grosso do Sul 330 330 Tocantins 582 582 Amazonas 230 230 Pernambuco 0 56 Ceará 0 53 Piauí 0 83 131 131 Usuários de Drogas não injetáveis 207 207 Profissionais de beleza 289 289 Pacientes com suspeita de Hepatite C 254 254 Grupo I – Indivíduos de área de baixa endemicidade Rio de Janeiro Populações Grupo II – Indivíduos com maior vulnerabilidade para aquisição da infecção pelo HCV Grupo III – Indivíduos de área de alta endemicidade 5.1 – Detecção de marcadores anti-HCV em soro e sangue seco em papel de filtro As amostras de soro e SSPF foram submetidas a detecção de anticorpos anti-HCV (EIE) em cada grupo para determinação os valores de sensibilidade, especificidade e concordância. Considerando a população total estudada, 1788 amostras pareadas de soro e SSPF foram analisadas. Nesta avaliação, 240 amostras de soro foram anti-HCV reagentes e destas 215 também apresentaram resultado reagente no 49 SSPPF fornecendo sensibilidade igual a 89,58%. Por outro lado, o anti-HCV não foi detectado em 1548 amostras de soro, dentre as quais 1545 também não apresentaram este marcador no SSPF apresentando especificidade igual a 99,81%. A concordância geral do ensaio foi igual a 98,4% e a concordância kappa foi igual a 0,930 indicando um teste com excelente desempenho. No grupo I foram avaliadas 1043 amostras pareadas de soro e SSPF, onde 7 amostras foram reagentes para anti-HCV no soro, e destas 4 foram reagentes em SSPF fornecendo sensibilidade igual a 57,1%. Das 7 amostras anti-HCV reagentes no soro, 5 foram submetidas à detecção do RNA do HCV e 3 tiveram carga viral detectada, com carga viral média igual a 2380 (±1880,4) UI/mL. Em relação às amostras não reagentes no soro (n=1036), todas também foram não reagentes no SSPF obtendo 100% de especificidade. A concordância geral do ensaio neste grupo foi igual a 99,7% e a estatsística kappa foi 0,726. Em relação ao desempenho do teste por localidade no grupo I, observamos proporções semelhantes de resultados verdadeiro negativos, porém houve maior número de resultados falso positivos no Mato Grosso do Sul (1,5%), seguido pelo Rio de Janeiro (0,7%) e Tocantins (0,2%) (Tabela 5.3). No grupo II, foram incluídos 491 indivíduos que forneceram amostras pareadas de soro e SSPF, sendo 5 amostras foram reagentes para anti-HCV no soro e destas 2 também tiveram resultado reagente no SSPF com sensibilidade igual a 40%. Entre as 5 amostras anti-HCV reagentes no soro, apenas 1 teve o HCV RNA detectado no soro com carga viral igual a 6582 UI/mL (Log 3,82). Em relação as 486 amostras não reagentes no soro, 485 também foram não reagentes no SSPF fornecendo especificidade igual a 99,8%. A concordância do ensaio neste grupo foi igual a 99,2% e a estatística kappa foi igual a 0,496. Neste grupo observamos 487 amostras com resultados concordantes para anti-HCV entre soro e SSPF e 4 amostras com resultados discordantes entre os fluidos. Foi detectado HCV RNA em duas amostras de soro com resultados discordantes (anti-HCV reagentes no soro e não reagentes no DBS), e somente uma apresentou resultado reagente com carga viral de 6582UI/mL. 50 O grupo III compreendeu 254 pacientes, e 228 foram anti-HCV reagentes no soro e destes 209 também tiveram anti-HCV em SSPF fornecendo uma sensibilidade igual a 91,7%. Destas 209 amostras concordantes, 164 também tiveram o HCV RNA detectado no soro com a média de carga viral em aproximadamente 21915 (±40923) UI/mL. Vinte seis amostras foram anti-HCV não reagentes no soro e destas 24 também foram não reagentes no SSPF fornecendo uma especificidade igual a 92,3%. A concordância do ensaio neste grupo foi igual a 91,7% e a estatística kappa foi igual a 0,651. Os valores preditivos positivos e negativos foram 99% e 54%, respectivamente. Neste grupo houve grande quantidade de resultados verdadeiro positivos (91,6%) e negativos (98,2%) em comparação com os resultados falsos positivos (8,3%) e negativos (7,7%) (Tabela 5.3.) Na tabela 5.2, podemos observar o número de resultados concordantes e discordantes em cada população avaliada que forneceu amostras pareadas de soro e SSPF. 51 Tabela 5.2 - Valores de acurácia do teste de detecção de anti-HCV em SSPF em comparação aos resultados obtidos em amostras de soro em cada grupo estudado Grupos/Populações VP FN VN FP Sens (%) Esp (%) VPP (%) VPN (%) População geral (n=1788) 215 3 1545 25 89,58 (85,01-93,14) 99,81 (99,43-99,96) 98,62 (96,03-99,70) 98,41(97,66-98,87) Tocantins (n=582) 3 0 578 1 75,00 (19,41-99,37) 100,00 (99,36-100) 100,00(29,24-100) 99,83(99,04-100) Rio de Janeiro (n=131) 0 0 130 1 NR 100,00 (97,20-100) NR 99,24(85,82-99,98) Mato Grosso do Sul (n=330) 1 0 324 5 16,67 (0,42-64,12) 100,00 (98,87-100) 10,000(2,50-100) 98,48(96,49-99,50) 2 1 285 2 50 (6,76-93,24) 99,46 (97,04-99,99) 66,67(9,43-99,16) 98,93(96,19-99,87) 0 0 200 1 NR 100,00(98,17-100,00) NR 99,50(97,26-99,99) 209 2 24 19 91,67 (87,29-94,91) 92,31 (74,87-99,05) 99,05(96,62-99,89) 55,81(39,88-70,92) Grupo I Grupo II Profissionais de Beleza (n=290) Usuários de crack (n=201) Grupo III Provenientes dos ambulatórios (n=254) 52 5.2 - Determinação da prevalência de anticorpos anti-HCV em soro e sangue seco em papel de filtro nos grupos estudados A prevalência de anticorpos anti-HCV foi determinada utilizando as amostras de SSPF e de soro, onde o número de indivíduos anti-HCV reagentes foi dividido pelo número total de indivíduos estudados. No grupo I, a prevalência de anti-HCV empregando soro foi igual a 0,4% e com SSPF foi igual a 0%. No grupo II, a prevalência de anti-HCV empregando soro foi igual a 1,02% e com SSPF foi igual a 0,4%. No grupo III, verificamos que a prevalência de anti-HCV foi igual a 90% empregando o soro e 83,3% empregando o SSPF. 5.2.1 - Prevalência de anti-HCV de acordo com as regiões estudadas As prevalências de anticorpos anti-HCV em soro e SSPF também foram determinadas em cada localidade do grupo I, e os valores foram iguais a 0,68% em soro e 0,51% em SSPF em Tocantinópolis; 0,76% em soro e 0% em SSPF em Nova Iguaçu; 1,81% em soro e 0,3% em SSPF nas comunidades do Pantanal. Ao avaliar a prevalência de anti-HCV em profissionais de beleza observamos 0,8% em soro e 0,7% em SSPF e em usuários de crack as prevalências foram 0,5% em soro e 0% em SSPF. Os indivíduos do Pernambuco, Amazonas, Ceará e Piauí forneceram somente amostras de SSPF, onde uma amostra anti-HCV foi detectada em Pernambuco correspondendo a uma prevalência de 1,7% (1/56) e nos outros locais a prevalência de anti-HCV de 0%. 5.3 - Detecção de marcadores anti-HCV em SSPF em comparação a detecção do HCV RNA no soro Entre as 240 amostras de soro anti-HCV reagentes, 235 foram submetidas à detecção do HCV RNA e destas 176 foram HCV RNA reagentes. Ao avaliarmos, a concordância entre a detecção de anti-HCV no SSPF e a detecção do HCV RNA no soro, verificamos que a maioria das amostras com HCV RNA detectado no soro também apresentaram anti-HCV no SSPF, 94,3% 53 (166/176). Entretanto o anti-HCV também foi detectado na maioria das amostras de SSPF cujo soro não apresentava RNA do HCV, demonstrando a aplicabilidade do método independentemente da detecção do HCV RNA no soro (81,3%). (Tabela 5.4). As médias de densidade ótica/valor de corte (DO/PC) das amostras concordantes e discordantes também foram calculadas. No grupo de 166 amostras que foram anti-HCV reagentes no SSPF e tiveram HCV RNA detectado no soro, a média da relação da densidade ótica e ponto de corte (DO/PC) foi de 6,275 (±2,375) em amostras de SSPF e 6,638 (±2,209) em soro. No grupo de amostras que tiveram o HCV RNA detectado no soro e foram anti-HCV não reagente no SSPF (N=10), a média de DO/PC foi de 0,670 (±1,625) em SSPF e 4,420 (±2,993) em soro. Para as 11 amostras que foram HCV RNA não detectado no soro e anti-HCV não reagente no SSPF, a média de DO/PC foi igual a 0,688 (±1,165) em SSPF e 3,644 (±2,208) em soro. Por fim, no grupo de 48 amostras que foram anti-HCV reagentes no SSPF e HCV RNA não detectado no soro, a média de DO/PC de a 5,491 (±2,425) de SSPF e 5,882 (±2,552), em soro. Tabela 5.3 - Comparação entre a detecção de anti-HCV em SSPF e a detecção do HCV RNA em amostras de soro (n=235). Anti-HCV em SSPF HCV RNA no soro Detectado Não detectado Reagente 166 48 Não Reagente 10 11 54 5.4 - Genotipagem das amostras HCV RNA detectado Foi possível realizar a genotipagem do HCV RNA em 153 amostras HCV RNA reagentes (153/176), a maioria dos indivíduos apresentava o genótipo 1 (84,9%) com proporções decrescentes para os genótipos 3 (9,1%), 2 (1,3%) e 5 (1,3%). A tabela 4.5 mostra o número de amostras que tiveram anti-HCV reagentes e o HCV RNA detectados como amostras concordantes, e as amostras anti-HCV reagentes que não tiveram o HCV RNA detectado como amostras discordantes. Tabela 5.4 - Comparação dos resultados obtidos na genotipagem do HCV em amostras de soro em relação aos resultados de antiHCV obtidos em amostras de soro e SSPF. Anti-HCV reagente Soro e no SSPF Anti-HCV reagente no soro 127 7 2 (2) 2 0 3 (14) 14 0 4 (0) 0 0 5 (2) 2 0 6 (0) 0 0 Genótipos (n) 1 (134) 55 5.5 - Características sócio demográficas da população estudada As características sócio demográficas de cada grupo avaliado no estudo estão apresentadas na tabela 5.5. O grupo I era composto por 1465 indivíduos, o grupo II contava com 491 indivíduos e o grupo III, 254 indivíduos. Houve predomínio do sexo feminino em todos os grupos e a média de idade foi maior no grupo III com médias decrescentes para os grupos II e I. Nos grupos I e III havia maior número de indivíduos casados e com ensino médio, enquanto no grupo II havia maior número de indivíduos solteiros e com ensino fundamental. A maioria dos indivíduos recebia entre 1 a 3 salários mínimos em todos os grupos avaliados. Em relação à raça, houve predomínio de indígenas no grupo I, pardos no grupo II e brancos no grupo III. 56 Tabela 5.5 - Características sócio demográficas dos grupos incluídos no estudo Dados Grupo I n=1465 Grupo II n=491 Grupo III (n=254) 798 (54,5%) 542 (37,0%) 125 (8,5%) 250 (48,7%) 239 (50,9%) 2 (0,4%) 154 (60,6%) 99 (39,0%) 1 (0,4%) 29,7 (±18,1) 31,06 (±13,8) 54,7 (±10,6) Estado Civil Solteiro Casado Divorciado União estável Viúvo Não informado 79 (5,4%) 95 (6,5%) 7 (0,5%) 21 (1,4%) 5 (0,3%) 1258 (85,9%) 261 (53,1%) 153 (31,2%) 38 (7,7%) 0 (0%) 8 (1,6%) 31 (6,3%) 64 (25,2%) 129 (50,8%) 24 (9,4%) 6 (2,4%) 22 (8,6%) 9 (3,5%) Escolaridade Analfabeto Educação Infantil Ensino fundamental Ensino médio Ensino superior Pós Graduação Completa Não informado 33 (2,2%) 76 (5,2%) 199 (13,6%) 258(17,6%) 72 (4,9%) 23 (1,5%) 804 (54,9%) 6 (1,2%) 38 (7,7%) 233 (47,4%) 167 (34,0%) 31 (6,3%) 01 (0,2%) 15 (3,0%) 2 (0,8%) 54 (21,2%) 62 (24,4%) 94 (37,0%) 27 (10,6%) 03 (1,2%) 12 (4,7%) Sexo Feminino Masculino Não informado Idade (anos) Média (±desvio padrão) Renda (salário mínimo) Menos de 1 salário mínimo 74 (5,0%) 10 (2,0%) 12 (4,7%) 1 a 3 salários mínimos 232 (15,8%) 222 (45,2%) 163 (64,2%) 4 a 6 salários mínimos 94 (6,4%) 102 (20,8%) 46 (18,1%) 7 a 9 salários mínimos 34 (2,3%) 25 (5,1%) 05 (1,9%) 10 a 12 salários mínimos 26 (1,8%) 06 (1,2%) 10 (3,9%) Mais de 12 salários mínimos 34 (2,3%) 04 (0,8%) 04 (1,6%) Não informado 971 (66,3%) 122 (24,8%) 14 (5,5%) Cor ou Raça Preto 37 (2,5%) 91 (18,5%) 39 (15,3%) Branco 81 (5,5%) 61 (12,4%) 111 (3,7%) Amarelo 02 (0,1%) 05 (1,0%) 03 (1,2%) Pardo 162 (11,0%) 108 (22,0%) 06 (2,4%) Indígena 314 (21,4%) 01 (0,2%) 00 (0%) Não informado 869 (59,3%) 22(5,8%) 95 (37,4%) Grupo I – Indivíduos de área de baixa endemicidade; Grupo II – Indivíduos com maior vulnerabilidade para aquisição da infecção pelo HCV; Grupo III – Indivíduos de alta endemicidade; 57 5.6 - Comportamento de risco nos grupos estudados Os comportamentos de risco para aquisição da infecção pelo HCV foram sumarizados em cada grupo na tabela 5.6. No grupo I, composto pelos indivíduos residentes em área de baixa endemicidade, observou-se baixa frequência de comportamento de riscos. Neste grupo, houve relato frequente de tratamento dentário (23,2%), seguido pela prática de manicure (15,08%). Entre os que frequentavam manicure, 27 (14,2%) relataram o uso de alicate próprio e 63(33,3%) relataram o uso de materiais esterilizados e/ou descartáveis durante o procedimento. Entre os 66 (4,5%) indivíduos que frequentavam pedicura, 13 (19,6%) relataram o uso de alicate próprio e 43 (65,1%) relataram o uso de materiais esterilizados e/ou descartáveis durante o procedimento. Entre os 242 indivíduos que relataram ter sido vacinados para hepatite B, 98 completaram o esquema vacinal. Em relação à cirurgia, dos 135 indivíduos que relataram ter realizado este procedimento, somente 19 fizeram a cirurgia antes de 1994. Dos 37 indivíduos que receberam transfusão de sangue, 8 (21,6%) deles receberam antes de 1994. A maioria dos indivíduos era heterossexual e grande parte deles não usavam preservativo durante a relação sexual. Trinta e oito indivíduos relataram doença sexualmente transmissível, 4 indivíduos relataram relação sexual com parceiro com hepatite viral ou HIV, assim como 31 indivíduos relataram convivência com pessoa com hepatite viral em casa. Entre os indivíduos que relataram consumo de bebida alcoólica, 71 relataram o consumo pelo menos 1 vez por semana. No Grupo II, os fatores de risco mais frequentes foram: uso de drogas ilícitas (41,8%), cirurgia (37,6%), tratamento dentário (34,8%), prática de manicure (33%), tatuagem (31,2%) e pedicura (30,5%). Dos 162 indivíduos que frequentavam manicure, 33 (20,3%) relataram o uso de alicate próprio e 94(58%) relataram o uso de materiais esterilizados e/ou descartáveis durante o procedimento. Entre os 150 indivíduos que frequentavam pedicura, 30 (20%) relataram o uso de alicate próprio e 85 (56,6%) relataram o uso de materiais esterilizados e/ou descartáveis durante o procedimento. Entre os 75 indivíduos 58 que faziam depilação, 64 (85,3%) relataram o uso de material esterilizado e/ou descartável. Entre os 115 (16,5%) indivíduos que relataram vacinação para hepatite B, 31(26,9%) completaram o esquema vacinal. Sessenta e cinco indivíduos receberam transfusão de sangue, onde a transfusão foi realizada antes de 1994 em 36 (55,3%) deles. A maioria dos indivíduos era heterossexual e raramente ou nunca utilizavam preservativo durante a relação sexual. Trinta e seis indivíduos relataram doença sexualmente transmissível, 10 indivíduos relataram relação sexual com parceiro com hepatite ou HIV, assim como 71 indivíduos relataram convivência com pessoa com hepatite em casa. No Grupo III, composto por indivíduos provenientes dos ambulatórios de Hepatites Virais, os comportamentos de risco mais frequentes foram tratamento dentário (88,6%), uso de medicamento por via intravenosa (73,6%), ida a manicure (64,6%) e transfusão sanguínea (49,6%). O uso de alicate próprio foi relatado por 40 e 2 entre aqueles que frequentavam manicure e pedicura, enquanto 73 e 5 relataram o uso de materiais esterilizados e/ou descartáveis durante o procedimento de manicure e pedicura, respectivamente. No grupo de indivíduos que relataram vacinação para hepatite B, 98 (87,5%) completaram o esquema vacinal. Dos 126 indivíduos que receberam transfusão de sangue, 113 (89,6%) deles receberam antes de 1994. A maioria dos indivíduos era heterossexual, tinha parceiro fixo, porém não usavam preservativo durante a relação sexual. Dezenove indivíduos relataram doença sexualmente transmissível, 18 indivíduos relataram relação sexual com parceiro com hepatite viral ou HIV, assim como 45 indivíduos relataram convivência com pessoa com hepatite viral em casa. Entre os 58 indivíduos que relataram consumo de bebida alcoólica, 29 relataram o consumo pelo menos 1 vez por semana. 59 Tabela 5.6 - Características epidemiológicas da suposta via de infecção pelo HCV de acordo com os grupos estudados Grupo I Grupo II Grupo III n=1465 n=491 n= 254 Comportamento de risco Histórico de Cirurgia 135 (9,2%) 185 (37,6%) 36 (14,2%) Transfusão de sangue 37 (2,5%) 65 (13,2%) 126 (49,6%) Medicamento intravenoso 146 (9,9%) 77 (15,7%) 187 (73,6%) Vacinação prévia para hepatite B 242 (16,5%) 115 (23,4%) 112 (44,1%) Piercing 21 (1,4%) 79 (16,1%) 4 (1,5%) Tatuagem 74 (5,0%) 153 (31,2%) 31 (12,2%) Hemodiálise 3 (0,2%) 5 (1,0%) 4 (1,6%) Acupuntura 48 (3,2%) 24 (4,9%) 34 (13,4%) Manicure 189 (12,9%) 162 (33,0%) 164 (64,6%) Pedicure 66 (4,5%) 150 (30,5%) 5 (1,9%) Depilação 53 (3,6%) 75 (15,3%) 28 (11,0%) Compartilhamento de lâminas 208 (14,2%) 75 (15,3%) 79 (31,1%) Compartilhamento de escova de dente 53 (3,6%) NA 24 (9,4%) Tratamento dentário 339 (23,1%) 171 (34,8%) 225 (88,6%) Heterossexual 596 (40,7%) 285 (58,0%) 232 (91,3%) Homossexual 5 (0,3%) 2 (0,4%) 03 (1,2%) Bissexual 4 (0,3%) 0 (0%) 04 (1,6%) Não informado 860 (58,7%) 204 (41,5%) 261 (17,8%) 217 (44,2%) 160 (63,0%) 103 (7,0%) 56 (11,4%) 57 (22,4%) 17 (1,2%) 4 (0,8%) 09 (3,5%) Sempre 121 (8,2%) 52 (10,6%) 57 (22,4%) Frequentemente 26 (1,8%) 17 (3,5%) 04 (1,6%) Raramente 131 (8,9%) 114 (23,2%) 29 (11,4%) Orientação Sexual Número de parceiros sexuais por ano Fixo <5 >5 Frequência de uso de camisinha 60 Nunca 182 (12,4%) 85 (17,3%) 138 (54,3%) Prática de sexo oral 170 (11,6%) 187 (38,0%) 113 (44,4%) Prática de sexo anal 94 (6,4%) 110 (22,4%) 81 (31,9%) Uso de bebida alcoólica 249 (16,9%) NA 58 (22,8%) Uso de drogas ilícitas 28 (1,9%) 205 (41,8%) 38 (14,9%) Grupo I – Indivíduos de área de baixa endemicidade; Grupo II – Indivíduos com maior vulnerabilidade para aquisição da infecção pelo HCV; Grupo III – Indivíduos de alta endemicidade; NA – não avaliado 5.7 - Prevalência de marcadores do HCV de acordo com comportamento de risco da população estudada. A análise bivariada dos comportamentos de risco para aquisição da infecção pelo HCV foi realizada somente no grupo III (indivíduos provenientes dos Ambulatórios de Hepatites Virais) devido a maior prevalência de anti-HCV (Tabela 5.7). Nesta análise observamos que as variáveis idade (p-valor 0,008) e compartilhamento de escova de dentes (0,032) não apresentaram associação quando a presença de anti-HCV em SSPF foi considerada variável dependente. Tabela 5.7 - Análise Bivariada dos fatores de risco associados à prevalência de antiHCV em amostras de SSPF e soro no grupo III (pacientes provenientes dos Ambulatórios de Hepatites Virais) (n=254). Anti- HCV SSPF Reagente (n=211) Variáveis Não reagente (n= 42) Idade Análise Bivariada P-valor 0,008 ≤50 anos 50 19 >50 anos 159 23 Compartilhamento de escova de dentes 0,032 Sim 24 0 Não 154 39 61 6. DISCUSSÃO Os estudos realizados em amostras de sangue seco em papel de filtro tem seu início década de 60 na detecção de fenilcetonúria em neonatos (Guthrie e Suzi, 1963) e posteriormente este tipo de coleta e amostras têm sido empregados na detecção de marcadores de diversas doenças infecciosas, uma vez que a coleta é fácil, não exige flebotomistas e técnicos especialistas qualificados, e apresenta boa aplicabilidade para laboratório distantes dos grandes centros, onde o envio e estocagem podem ser fatores críticos (Solmone et al., 2001). A vigilância passiva de doenças infecciosas com uma elevada proporção de casos assintomáticos ou longos períodos de incubação não reflete a real situação epidemiológica da doença (Toledo Jr et al., 2001). Portanto, a utilização do SSPF para detecção do marcador anti-HCV pode ser útil para triagem de casos suspeitos de hepatite C, bem como para estudos epidemiológicos. O principal objetivo do presente estudo foi determinar a utilidade do sangue seco em papel de filtro para diagnóstico e estudos de prevalência da infecção pelo HCV em diferentes populações. Neste estudo foi possível detectar o marcador anti-HCV em amostras de SSPF provenientes de grupos com diferentes perfis de endemicidade empregando um ensaio imunoenzimático comercial adaptado como descrito previamente (Marques et al., 2012). Considerando a população geral, o teste apresentou excelente especificidade (99,7%) quando comparado com outros estudos realizados no Brasil e exterior (Tuaillon et al., 2009; Marques et al., 2012; Ross et al., 2013) e boa sensibilidade (89,4%), embora esta última tenha apresentado valores menores do que aqueles observados em estudos anteriores (97 a 99,1%), o que pode ter ocorrido devido às diferenças de valores preditivos nos testes realizados nas populações ou dos ensaios imunoenzimáticos empregados (Marques et al., 2012; Tuaillon et al., 2009; Ross et al., 2013). Ao avaliar a eficiência do teste de detecção de anti-HCV em SSPF em cada grupo do estudo, verificamos maiores valores de sensibilidade no grupo III (91,7%) quando comparado aos grupos I (57,1%) (indivíduos saudáveis) e II (40%) (indivíduos com comportamento de risco). Outro estudo realizado em populações com recursos limitados na Índia demonstrou 100% de sensibilidade 62 na detecção de anti-HCV em SSPF, porém o número de amostras empregadas foi relativamente menor (n=60) e o número de amostras anti-HCV reagentes foi maior (51%, 31/60) (Nandagopal et al., 2014). Provavelmente os baixos valores de sensibilidade encontrados nos grupos I e II, se devem ao fato de poucas amostras terem apresentado resultados positivos, em especial no grupo dos indivíduos saudáveis da população em geral, o que era esperado uma vez que o Brasil possui baixa prevalência da doença. A detecção do anti-HCV em SSPF também foi avaliada em relação à detecção do HCV RNA nas amostras de soro anti-HCV reagentes correspondentes, onde observamos que a detecção do anti-HCV em ocorre em 94,3%% (166/176) da presença do HCV RNA no soro. Do mesmo modo Mc Carron e colaboradores (1999) também não observaram associação entre a presença do HCV RNA no soro e detecção do anti-HCV em SSPF. Estes resultados demonstram a aplicabilidade do SSPF para identificação de casos de infecção ativa ou de resolução espontânea com boa sensibilidade e especificidade. Neste estudo também foi possível determinar os genótipos do HCV em amostras de soro a fim de avaliar a possível interferência deste parâmetro na detecção do anti-HCV em SSPF. No presente estudo, foi observada maior prevalência do genótipo 1 (33,4%), seguido pelos genótipos 3 e 2 tal como observado em outros estudos no Brasil e no mundo (Campiotto et al., 2005; Gower et al., 2014; Messina et al., 2014; Veras et al., 2009; Vieira et al., 2011). Maior prevalência do genótipo 1 do HCV também foi observada em estudo realizado com amostras de SSPF (62%), seguido pelos genótipos 2 (23%) e 3 (15,3%) (Tejada-Strop et al., 2014). Provavelmente devido à alta prevalência do genótipo 1 neste grupo, a detecção do anti-HCV em SSPF não foi associada ao genótipo do HCV. Em relação às prevalências de anti-HCV em SSPF e soro, verificamos maior concordância do teste no grupo III, com proporções decrescentes pelos grupos II e I, demonstrando maior eficiência do teste no grupo com maior prevalência da infecção pelo HCV e indicando que o método pode ser bastante útil na triagem de indivíduos com suspeita de hepatite C tal como observado anteriormente (Marques et al., 2012). 63 No grupo I, foram incluídos indivíduos de diferentes regiões geográficas do Brasil, onde a prevalência variou de 0% a 0,4%. Na região Norte, a prevalência de anti-HCV em SSPF foi igual a 0,51% em Tocantins e 0% no Amazonas, valores menores do que observado em estudo realizado com amostras de soro na região Norte do país (3,22%) (Pereira et al., 2009). Na região Nordeste, não houve detecção de anti-HCV em SSPF provenientes do Piauí e Ceará, enquanto que em Pernambuco, a prevalência foi igual a 1,7%. Almeida e colaboradores (2006) observaram prevalência de anti-HCV em soro igual a 0,4% em estudo conduzido no interior da Bahia. Na região CentroOeste, a prevalência de anti-HCV foi igual a 0,3% em comunidades do Pantanal semelhante ao que foi observado em indivíduos de comunidades remanescentes dos quilombos localizados no Mato Grosso do Sul (0,2%) (Reis et al., 2008). Na região Sudeste, a prevalência de anti-HCV em SSPF foi igual a 0% no Estado do Rio de Janeiro, valor menor do que observado entre crianças do mesmo Estado (0,1%) (Villar et al., 2014). O grupo II foi representado por profissionais de beleza e usuários de drogas não injetáveis, e a prevalência de anti-HCV foi igual a 0,8% em soro e 0,7% em SSPF. No Brasil, a prevalência de anti-HCV em usuários de drogas não injetáveis varia de 1,25 a 36,9% empregando amostras de soro (Santos Cruz et al., 2013, Pacheco et al., 2013) e em profissionais de beleza varia de 0,8% a 2% (Villar et al., 2014, Oliveira e Focaccia, 2010). No Rio de Janeiro, a prevalência de anti-HCV encontrada em SSPF foi um pouco menor (0,4%) do que aquela observada em estudos realizados com usuários de crack (1,25%) e profissionais de beleza (0.8%) (Santos Cruz et al., 2013, Villar et al., 2014). Para analisar as possíveis rotas de transmissão dos casos positivos de hepatite C e as características demográficas das populações incluídas em nosso estudo, divididas em 3 grupos (I, II e III), foi realizada a análise descritiva das respostas obtidas pelos questionários aplicados, onde foram reportadas as práticas associadas às possíveis fontes de aquisição do HCV e as características epidemiológicas. O HCV é transmitido essencialmente por via parental, principalmente através do sangue contaminado, e em proporção mais baixa através de outros fluídos corporais (Clark et al., 2006). Embora a incidência de infecção por HCV esteja aparentemente em declínio, os serviços 64 de saúde continuam a registrar novos casos da hepatite C com frequência considerável, mas com vias de transmissão indefinidas (Rosa et al., 2014). A Transmissão parenteral (uso de drogas intravenosas, exposição ocupacional), hemodiálise, transmissão intradomiciliar, e, com uma proporção menor, transmissão sexual e vertical, contabilizam cerca de 60-80 % das infecções ao redor do mundo. No entanto, a causa da infecção não pode ser determinada em 20-40% dos pacientes, principalmente nos países em desenvolvimento. (Karmochkine et al., 2006). Neste estudo houve maior participação do sexo feminino nos três grupos analisados. No grupo II (n=491), composto por profissionais de beleza e usuários crack, embora o predomínio geral tenha sido maior do sexo feminino, ao analisarmos os dois subgrupos separados, verificamos alta proporção de homens entre os usuários de crack, como também foi reportado por Sá e colaboradores (2013) em um estudo realizado no estado do Piauí (84%), assim como também demonstrado em estudo realizado no Rio de Janeiro (67%) e em Salvador (89%) (Santos-Cruz et al., 2013). Em relação às médias de idade, o grupo III (n=253), composto por pacientes atendidos nos ambulatórios, apresentou a maior média de idade de 54,7 anos o que se justifica pela alta prevalência de anti-HCV neste grupo. No Brasil, o teste sorológico para identificar a infecção pelo HCV em bancos de sangue é obrigatório desde 10 de novembro de 1993, de acordo com a lei 137614, logo, esta média de idade, poderia explicar o fato da maioria ter possivelmente contraído o vírus por transfusão de sangue. Os comportamentos de risco mais frequentes entre os participantes do grupo I foram relato de histórico de tratamento dentário (23,2%), seguido pela prática de manicure (15%). Entre os 7 indivíduos com sorologia reativa para anti-HCV no soro, a transfusão de sangue e compartilhamento intradomiciliar de lâminas também foram citados. As práticas de tratamento dentário e manicure têm sido reportadas na literatura como uma importante via de transmissão do HCV (Mahboobi et al., 2014; Villar et al., 2014) em função da possível exposição ao sangue contaminado durante estes procedimentos, assim como o compartilhamento intradomiciliar de lâminas de barbear (Cavalheiro et al., 2009) A transfusão de sangue e hemoderivados 65 provenientes de casos positivos para HCV era uma forma importante de transmissão antes da introdução de testes de triagem nos bancos de sangue a partir de 1994 (Martins et al., 2013). No grupo II composto pelos profissionais de beleza e os usuários de crack, 5 indivíduos foram anti-HCV reagentes no soro onde 4 deles possuem histórico de cirurgia e 1 reportou ter realizado transfusão de sangue antes de 1994. Neste grupo os comportamentos de risco mais frequentes foram: uso de drogas ilícitas, cirurgia, tratamento dentário, prática de manicure, tatuagem e pedicure. O uso de drogas ilícitas é sabidamente reconhecido como fator de risco para aquisição de HCV devido ao compartilhamento de materiais e baixas condições higiênicas (Martins et al., 2011; Santos-Cruz 2013). A prática de manicure, tatuagem e pedicure também têm sido relatadas como comportamentos de risco, visto que muitas vezes o material utilizado não é descartável (Nishioka et al., 2002; Carney et al., 2013) ou os profissionais não utilizam equipamentos de proteção individual, que além de conferir proteção pessoal, reduz significativamente o risco de disseminação da doença, evitando exposição ao sangue e outros fluidos corporais (Garbaccio et al., 2012). No Grupo III, os comportamentos de risco mais frequentes foram tratamento dentário, uso de medicamento por via intravenosa, ida a manicure e transfusão sanguínea. Sabe-se que procedimentos odontológicos oferecem grande risco de aquisição de doenças transmitidas pelo sangue, como o HCV, não só para os pacientes como para os profissionais, em especial quando não há esterilização adequada de instrumentos cirúrgicos e falta de biossegurança nos atendimentos (Mahboobi et al., 2014; Garbin et al., 2014). O uso de medicamentos por via intravenosa, por sua vez, envolve não só a questão da utilização de materiais descartáveis, como também a prática segura do manejo dos pacientes por parte dos profissionais de saúde (Hauri et al., 2004). Outro fator de risco relatado neste grupo foi a transfusão sanguínea, que constitui uma das mais importantes vias de transmissão do HCV, principalmente para aqueles indivíduos que foram submetidos ao procedimento antes de 1994, visto que a triagem sorológica para anti-HCV não era realizada neste período. De Paula e colaboradores em 2005, demonstraram prevalência de anti-HCV de 16,7% em pacientes multi-transfundidos de diferentes regiões do Brasil. 66 A análise bivariada dos fatores de risco dos fatores de risco associados à prevalência de anti-HCV foi realizada somente no grupo III devido a maior prevalência de anti-HCV. Ao avaliar a presença de anti-HCV em SSPF, verificamos que a idade e compartilhamento de escova de dentes foram estatisticamente significantes do mesmo modo que observado em estudos anteriores que mostram maior prevalência de anti-HCV em indivíduos em faixas etárias mais elevadas (Metts et al., 2014) e que 25% de casais infectados pelo HCV tinham como fator de risco o compartilhamento de escova de dente (Cavalheiro et al. 2012) também verificou que. Os resultados deste estudo demonstram que as amostras de SSPF podem ser úteis no diagnóstico e estudo de prevalência da infecção pelo antiHCV, em especial em grupos com maior prevalência desta infecção. Este tipo de amostra pode ser utilizado para triagem de casos de hepatite C em unidades de atendimento e esclarecimento diagnóstico, visto que neste grupo foram observados altos valores de sensibilidade e especificidade. 67 7. CONCLUSÕES Considerando a população total estudada, a detecção de marcadores anti-HCV em soro e sangue seco em papel de filtro apresentou ótima sensibilidade (89,58%), especificidade (98,4%) e estatística kappa (0,930) indicando um teste com excelente desempenho; Na população de baixa endemicidade (Grupo I), a sensibilidade do teste foi igual a 57,1% e a especificidade de 100%, porém a estatística kappa foi de 0,726 indicando um bom desempenho do teste neste grupo; Na população com maior vulnerabilidade para aquisição da infecção pelo HCV (Grupo II), a detecção de marcadores anti-HCV apresentou sensibilidade igual a 40%, especificidade igual a 99,8% e estatística kappa foi igual a 0,496 demonstrando um desempenho fraco do teste neste grupo, provavelmente devido ao baixo número de indivíduos anti-HCV reagentes; Na população de alta endemicidade para o HCV (Grupo III), o teste apresentou boa sensibilidade (91,7%), especificidade (92,3%) e grande quantidade de resultados verdadeiro positivos (91,6%) e negativos (98,2%) Estes resultados demonstram que o teste possui excelente desempenho em populações de alta prevalência de anti-HCV; A prevalência de anticorpos anti-HCV em amostras de soro e SSPF no Grupo I, foi de 0,4% e 0%, respectivamente. No grupo II, a prevalência de anti-HCV no soro foi igual a 1,02% e com SSPF foi igual a 0,4%. No grupo III, verificamos que a prevalência de anti-HCV foi igual a 90% empregando o soro e 83,3% empregando o SSPF. Estes resultados demonstram que o SSPF possui boa concordância com os resultados encontrados no soro, sendo útil para estudos de prevalência do anti-HCV, principalmente em populações de alta endemicidade; 68 A concordância entre a detecção de anti-HCV no SSPF e a detecção do HCV RNA no soro, foi igual a 94,3%. Entretanto o anti-HCV também foi detectado na maioria das amostras de SSPF cujo soro não apresentava RNA do HCV, demonstrando a aplicabilidade do método independente da detecção do HCV RNA no soro; A variável idade apresentou associação em relação à presença de anti-HCV em SSPF corroborando estudos anteriores que demonstram maior prevalência de anti-HCV em indivíduos com idade mais avançada. 8. 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Infection, Genetics and evolution. 2014. 22:120-129. 79 Anexo A Ministério da Saúde Fundação Oswaldo Cruz Instituto Oswaldo Cruz Laboratório de Hepatites Virais TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Instituição: Laboratório de Hepatites Virais do Instituto Oswaldo Cruz - Fiocruz Projeto de Pesquisa: Avaliação de Marcadores do vírus da hepatite B e C obtidos em papel de filtro armazenados em diferentes condições ambientais Pesquisador: Dra. Lia Laura Lewis-Ximenez e Livia Melo Villar 1. 2. 3. 4. 5. 6. Como voluntário, o (a) Sr. (a) está sendo convidado a participar de uma pesquisa realizada pelo Laboratório de Hepatites Virais do Instituto Oswaldo Cruz – Fiocruz sob a coordenação da Dra. Lívia Melo Villar. O objetivo da pesquisa é padronizar o diagnóstico da infecção pelos vírus das hepatites B e C através de testes realizados em sangue em papel de filtro. Este documento pretende fornecer a (o) Sr. (a) informações sobre o problema de saúde em estudo, detalhando os procedimentos, exames, benefícios, inconvenientes e riscos potenciais. O (a) Sr.(a) possui a liberdade de recusar a participar da pesquisa ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalização e sem prejuízo ao seu cuidado. Os investigadores se obrigam a não revelar sua identidade em qualquer publicação resultante de informações obtidas durante o estudo. Os exames e procedimentos aplicados são gratuitos. O (a) Sr. (a) receberá todos os cuidados médicos adequados para o controle dos efeitos colaterais que possam ocorrer em consequência de sua participação na pesquisa. Antes de assinar este termo, o Sr.(a) será informado plenamente sobre a pesquisa, não hesitando em formular perguntas sobre qualquer aspecto que julgar conveniente esclarecer. É importante estar ciente das seguintes condições: Exames e procedimentos que serão realizados: o voluntário será submetido à coleta de sangue. Serão coletados 8 ml de sangue por punção venosa periférica pelos técnicos especializados do Grupo de Atendimento para Hepatites Virais (IOC/FIOCRUZ). Também serão coletadas amostras de sangue em papel de filtro que serão coletadas por punção digital com lanceta e aplicadas em papel de filtro Whatmann 903. Alternativamente, as amostras de sangue total obtidas por punção venosa serão aplicadas em papel de filtro Whatmann 903. Benefícios: Obter resultado de exames laboratoriais para Hepatite B e C que serão entregues acompanhados de esclarecimentos sobre o significado dos resultados de maneira confidencial. O (a) Sr. (a) também será encaminhado para unidades de saúde do Estado do Rio de Janeiro, nos casos em que o tratamento da hepatite se fizer necessário. Esta pesquisa poderá não trazer benefícios imediatos para o meu acompanhamento clínico, mas poderá auxiliar no desenvolvimento de métodos inovadores para o diagnóstico da infecção pelos vírus das hepatites B e C. Inconvenientes: Caso seja necessário, o (a) Sr. (a) será contatado por um dos membros da pesquisa que irá perguntar se o (a) Sr. (a) está disposto a doar nova amostra de sangue. O (a) Sr. (a) estará livre para recusar esta solicitação. Riscos potenciais conhecidos até o dia de hoje: Os possíveis riscos e desconfortos são aqueles relacionados com a retirada rotineira de sangue, dor ou rouxidão no local que serão controladas por uma coleta de sangue realizada dentro das normas de biossegurança. Garantia de esclarecimentos: Todos os esclarecimentos sobre a metodologia da pesquisa antes e durante o desenvolvimento da mesma serão realizados pela equipe da Pesquisa. Utilização para estudos futuros: O material biológico coletado, após exames, será estocado, podendo ser usado posteriormente, em outras pesquisas com fins semelhantes, mas somente após a avaliação, pelo Comitê de Ética em Pesquisa, que poderá dispensar a assinatura de um novo Termo de Consentimento, todavia mantendo sempre a identidade do doador em sigilo; Eu,_____________________________________________________________________ (nome do(a) paciente), abaixo identificado(a) e firmado(a), declaro ter sido informado(a) claramente sobre todas as indicações e riscos relacionados à coleta de sangue e saliva. Os termos médicos foram explicados e todas as minhas dúvidas foram esclarecidas pelo pesquisador __________________ ________________________________(nome do pesquisador). Expresso também minha concordância e espontânea vontade em submeter-me ao referido procedimento (coleta de sangue e saliva). 80 Entendi que minhas informações pessoais poderão ser revistas por pessoas devidamente autorizadas para conduzir a pesquisa, porém serão estritamente CONFIDENCIAIS e, de forma alguma, poderão tornar-se públicas. Assim, declaro que: - Fui claramente informado a respeito dos benefícios que a pesquisa pode trazer na avaliação dos resultados dos exames usados no diagnóstico das hepatites virais. - Fui também claramente informado a respeito dos potenciais riscos relacionados a coleta de sangue para a realização desses exames. ( ) Autorizo a coleta, o depósito, o armazenamento e a utilização do material biológico coletado. ( ) Não autorizo o armazenamento da minha amostra para estudos futuros. Os novos exames que podem ser realizados levarão mais informações sobre as hepatites virais e aspectos relacionados. Além disto, o Sr. (a) tem o direito de receber os resultados destes novos exames, caso tenha interesse, pedimos que deixe um telefone de contato:____________________________ Toda nova pesquisa a ser realizada com o material armazenado será submetida para aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) institucional e, quando for o caso, da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP); Paciente: _______________________________________________RG do paciente: ___________ Sexo do paciente: ( ) Masculino ( ) Idade: ______ Telefone: ( ) _______________________ Feminino Endereço: ______________________________________________ Cidade: __________________ CEP: _______-____ Responsável legal (quando for o caso): _______________________________________ RG do responsável legal: __________________________________________________ Assinatura do paciente ou do responsável legal: ________________________________ Pesquisador Responsável: Livia Melo Villar RG:11403613-0/IFP Caso tenha alguma dúvida ou necessite de qualquer esclarecimento sobre o estudo você pode entrar em contato com o pesquisador relacionados acima: Laboratório de Hepatites Virais, fone 2562-1918. ____________________________________ (local e data) Testemunha:_________________________________________ (nome completo) ____________________________________(assinatura) ___________________________________________ Assinatura do pesquisador responsável. 81 ANEXO B INSTITUTO OSWALDO CRUZ LABORATÓRIO DE HEPATITES VIRAIS Rua Leopoldo Bulhões, nº 1480, CEP: 21041-210 Pav. Hélio e Peggy Pereira, Bloco A (Térreo), Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ P1) P4) P5) P6) P7) P8) P9) P10) P11) P12) P13) P14) P15) P16) P17) P18) P19) P20) P21) P22) P22) Data de Nascimento:___/___/___ P2) Profissão:______________ P3)Idade: Sexo: ( ) 1.Masculino ( ) 2.Feminino Estado Civil: ( ) 1.Casado ( ) 2. Solteiro ( ) 3. União estável Cor: ( ) 1.Branco ( ) 2.Negro ( ) 3.Asiático Escolaridade ( ) 1.Analfabeto ( ) 2.Educação Infantil ( ) 3.EF(1°grau)completo ( )4.EF(1°grau) incompleto ( )5.EM(2°grau)completo ( ) 6.EM(2°grau) incompleto ( ) 7.ES completo ( ) 8.ES incompleto ( ) 9.Curso de Pós-Graduação completo ( ) 10. Curso de Pós-Graduação incompleto Altura (cm): Massa (Kg): Pressão Arterial: Cincunferencia Abdominal: A renda de sua família está em torno de quantos salários mínimos (salário mínimo = R$ 510,00)? ( )1.Nenhum ( )2. Menos de 1 ( )3. 1 a 3 ( )4. 4 a 6 ( )5. 7 a 9 ( )6. 10 a 12 ( )7. Mais de 12 Você alguma vez já ficou com a pele e os olhos amarelos e/ou urina muito escura ( cor de ‘cha preto’ ou ‘coca-cola’ ou teve hepatite confirmada por exame de sangue? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não se lembra No caso de ter hepatite, já fez ou faz uso de algum medicamento para hepatite? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Você já foi vacinado contra Hepatite B ? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder No caso de ter sido vacinado, quantas doses tomou? ( )1. 3 doses ( )2. 2 doses ( )3. 1 dose ( )4. Não quis responder ( )5. Não sabe ( )6. Não foi vacinado Você já foi submetido(a) a transfusão de sangue ou plasma? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Foi transfundido antes de 1994? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Você já fez hemodiálise? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Você tem alguma tatuagem no corpo? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Você tem algum piercing no corpo? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Você já furou a orelha para colocar brincos? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Você já furou a orelha para colocar brincos? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder 82 P23) P24) P25) P26) P27) P28) P29) P30) P31) P32) P33) Você já fez acupuntura? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Você já cuidou das unhas na manicure? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Usou o seu próprio alicate? ( ) 1. Sim, usou ( ) 2. Não, não usou ( ) 3. Não freqüenta manicure O alicate que usava era esterilizado? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Já fez depilação em salão de beleza? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Os materiais eram descartáveis ou esterilizados? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Você já compartilhou laminas ou gilete com outra pessoa? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Você já compartilhou escova de dentes com outra pessoa? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Você já fez algum tipo de tratamento dentário (extração, canal, cirurgia gengival, implante)? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Você já foi atendido, por qualquer motivo, em alguma unidade de emergência ou urgência e mantido com acesso venoso ou recebeu medicamento(s) injetável(is)? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Você já fez uso de algum tipo de droga ilícita injetável ou inalatória? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder P34) P35) P36) P37) P38) P39) P40) P41) P42) P43) P44) P45) P46) P47) P48) Com que freqüência faz uso de drogas? ( ) 1. Frequentemente ( ) 2. Raramente ( ) 3. Não sabe ( )4. Não quis responder ( ) 5. De vez em quando Qual o tipo de droga? ( ) 1. Cocaína ( ) 2.Heroína ( ) 3.Crack ( ) 4. Êxtase ( ) 5. Outra ( ) 6. Não sabe () 7.Não quis responder Já compartilhou agulha, seringa, canudo ou outro objeto com outra pessoa? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Qual a sua orientação sexual? ( )1.Heterossexual ( ) 2.Homossexual ( ) 3.Bissexual ( ) 4.Não sabe ( )5.Não quis responder Você já teve relação sexual com alguém? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Qual o numero de parceiros (as) por ano? ( ) 1.Menos de 5 ( ) 2.entre 6-10 ( ) 3. Mais de 10 ( ) 4. Fixo ( ) 5. Não sabe ( ) 6. Não quis responder Com que freqüência faz uso de camisinha? ( ) 1. Sempre ( ) 2. Nunca ( ) 3. Raramente ( ) 4. De vez em quando ( ) 5. Frequentemente ( ) 6. Não sabe ( ) 7. Não quis responder Você já fez sexo oral? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Você já fez sexo anal? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Qual foi o tipo de sexo anal? ( ) 1. Insertivo ( ) 2. Receptivo ( ) 3.Não sabe ( ) 4. Não quis responder Houve sangramento durante? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Houve ejaculação? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder ( ) 5. Não se aplica Você já teve relação sexual com parceiro (a) com hepatite viral ou AIDS? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder De que tipo?___________________________ Você já teve contato dentro de casa com alguém com hepatite viral ou AIDS? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder 83 P49) P50) P51) P52) P53) P54) Você já teve alguma doença sexualmente transmissível ou venerea? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Qual? ____________________ Voce ingere bebida alcoólica? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Com que freqüência ingere bebida alcoólica? ( ) 1. 1x semana ( ) 2. 2x semana ( ) 3. 3x semana ( ) 4. 4x semana ( ) 5.5x ou mais/semana Toma algum medicamento regularmente? ( ) 1. Sim ( ) 2. Não ( ) 3. Não sabe ( ) 4. Não quis responder Qual medicamento?________________________ 84 ANEXO C 85