projeto de reabilitação de imóvel histórico no tecido urbano de lisboa

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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE BELAS-ARTES
PROJETO DE REABILITAÇÃO DE IMÓVEL
HISTÓRICO NO TECIDO URBANO DE LISBOA
“Caso de estudo de edifício Pombalino na Rua da Madalena, Baixa
Chiado”
Dissertação
Duarte Morgado Ferreira Marques Mexia
Mestrado em Design de Equipamento Especialização em Design Urbano e Interiores
2014
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE BELAS-ARTES
PROJETO DE REABILITAÇÃO DE IMÓVEL
HISTÓRICO NO TECIDO URBANO DE LISBOA
“Caso de estudo de edifício Pombalino na Rua da Madalena, Baixa
Chiado”
Duarte Morgado Ferreira Marques Mexia
Dissertação orientada pelo Professor Doutor Cristóvão Valente Pereira
Mestrado em Design de Equipamento Especialização em Design Urbano e Interiores
2014
“A cultura não se herda, conquista-se.”
(André Malraux)
À minha mãe
Resumo
A
presente dissertação pretende encontrar uma solução
viável de reabilitação para um espaço interior
considerado de património edificado, que preencha as
obrigações do estilo de vida e necessidades contemporâneas. O
estudo da reabilitação no tecido urbano de Lisboa, sobretudo nas
zonas históricas, e o consequente papel que o Designer de
Interiores pode/tem de explorar neste processo. Serão feitas
análises ao enquadramento da cidade, a nível Histórico, social e
cultural (património) em conjunto de processos e programas de
reabilitação atualmente usados. Analisam-se as características
usadas que definem a reabilitação e contextualiza-se o seu
significado. Definem-se os desafios que a reabilitação expõe na
sua implementação, e respetivas necessidades atuais. Refletir-se-á
sobre as alterações das formas de habitar e das habitações, e de
como os edifícios habitacionais Pombalinos tem a capacidade de
se adaptar às necessidades e exigências dos utentes na atualidade.
A Baixa chiado em Lisboa, e a rua da Madalena serão o foco para
um estudo mais direcionado e específico, para que não se fique
por uma abordagem generalista. Analisa-se o edificado
habitacional desta área, as problemáticas que as marcam na
contemporaneidade, assim como a potencialidade de regeneração
das mesmas. Analisam-se os erros cometidos(descritos por
autores e programas) na implementação do tipo arquitetónico
histórico e respetiva manutenção e reabilitação. Procura-se
demonstrar que, para a concretização de um processo
regenerador, como no caso de um projeto de reabilitação, é
necessário que este, seja feito por um Designer de interiores que
tenha em conta todos os conhecimentos e metodologias usados
neste tipo de intervenção. Para isso, será enfatizado o estudo dos
significados e conceitos que o profissional tem de dominar para a
resolução de problemas e técnicas construtivas para a aplicação
de novos materiais, assim como a nova atitude de organização do
espaço e funções.
Palavras-chave:
Design de Interiores, Reabilitação, Património, Conservação,
Edificado Histórico.
Abstract
T
his dissertation aims to examine the constant need of
rehabilitation in the arquiteture of Lisbon, especially in
historic areas, and the consequent role of the Interior
Designer can/must explore in this process. To analyze the
framework of the city, the history, social and cultural (heritage),
will be made jointly with processes and rehabilitation programs
currently used. We analyze the characteristics used to define the
rehabilitation and contextualized its meanings. We define the
challenges that rehabilitation exposes in its implementation, and
respective current needs. It will reflect on the changes in ways of
living and housing, and residential buildings as "Pombalino" style
has the ability to adapt to the needs and demands of users today.
In Lisbon, and specially the "Madalena" Street will be the focus
for a more targeted and specific study, not to stop this study for a
just generalist approach. The Analyze of this kind of housing
built in this area, the issues that mark the contemporary, as well
as the potential that can regeneration from the same are the target
of this study. Together with the analyze of the errors described by
others autors it's made a study of implementation and
maintenance for the rehabilitation. It seeks to demonstrate that,
for the realization of a regenerative process, as in the case of a
rehabilitation project, it is necessary for this, an interior Designer
that takes into account all the knowledge and methodologies used
in this type of intervention. To accomplish this, the professional
must master questions and problems solving and construction
techniques for the application of new materials, as well as the
new attitude of organizing space and new features will be
emphasized.
Key Words:
Interior Design, Rehabilitation, Patrimony, Conservation,
Historical Buildings.
Agradecimentos
P
or ser, antes de Designer, Cenógrafo ou Estudante
Universitário, um utilizador da via pública, encontrei-me
desde sempre a perguntar a mim mesmo, sempre que
percorria as ruas da cidade, o que era isto de ser de Lisboa. O que
significava e de onde provinha este orgulho e constante
deslumbramento pela arquitetura e "urbanidade" que provinha da
sua composição, ordem e geometria. Por viver desde que me
recordo num edifício com as propriedades estilísticas,
organizacionais e construtivas de um edifício Pombalino senti
como obrigação, perceber e descobrir o que o define e resulta
como projeto. Por outro lado por sempre ter vivido neste tipo de
arquitetura, conheço os seus problemas e necessidades, é com
esse background que proponho e fundamento algumas áreas e
equipamentos escolhidos.
Ao Professor Cristóvão Pereira, orientador e professor agradeço a
paciência e constante rigor na organização e foco da matéria
estudada. À Professora Ana Thudichum Vasconcelos,
coorientadora da tese agradeço o incentivo a um projeto teóricoprático e pela confiança e incentivo a um trabalho independente e
criativo. À Dr. Rosa Branco do Departamento de Direção
Municipal de Habitação um agradecimento da sua
disponibilização para me levar a visitar o edifício estudado na rua
da Madalena. Por fim, um agradecimento geral aos professores da
faculdade de Muthesius Kunsthochschule em Kiel na Alemanha
pela disponibilização e ajuda numa abordagem teórica alternativa
e equipamentos para a maquetização da proposta final.
Dicionário etimológico
(Definição de tema através de dicionário da Língua portuguesa
Contemporânea, Versão Academia das ciências de Lisboa edição
Verbo)
Conservação s.f. (do lat. Conservativo, onis).
“0 acto ou efeito de conservar
Acção de manter intacta ou no mesmo estado alguma coisa.
estado do que não sofreu um processo de envelhecimento muito
grande , que não perdeu muito da sua beleza ou da sua energia
física. Preza muito a conservação do seu físico.
Reparação dos danos que vão surgindo ao longo do tempo nas
construções e aplicação de medidas preventivas A conservação
do património arquitetónico.
O que tende a manter livre de perigo ou dano, a proteger ou
preservar = preservação. «Mas os ambientalistas dizem que está
em causa a conservação da fauna portuguesa».
Acto de manter , de não deixar desaparecer ou alterar , de
continuar a prática de alguma coisa «O isolamento das regiões
do norte interior favoreceu a conservação de velhos hábitos
comunitários»
Acção de cuidar da manutenção, preservação e organização de
uma biblioteca, de um museu, de um arquivo, função de um
conservador.”
Diagnóstico s. m ( do gr. )
“Med. Determinação ou conhecimento de uma doença pela
observação dos sintomas, dos sinais com que se manifesta.
Med. Conjunto de elementos em que se baseia a identificação ou
o reconhecimento de uma doença.
Discernimento de alguma coisa através de certos indícios. Fazer
o diagnóstico de uma situação”
Reabilitação S.f. ( de reabilitar + suf.-acção)
Acção ou resultado de reabilitar ou de se reabilitar
Recuperação ou restituição da confiança do crédito, da estima,
da consideração.
Faculdade de regenerar ou recuperar de uma debilidade física,
social (…) reabilitação de um delinquente (…)
Restabelecimento do crédito de um comerciante falido, após o
pagamento das dívidas.
Dir. Restituição de uma situação jurídica perdida
Dir. Reaquisição do direito à sucessão em virtude de
manifestação expressa dessa vontade por parte do autor da
sucessão através de testamento, ou escritura pública.
Habitação .f. ( do lat. Habitatio)
“Acção ou resultado de habitar
Lugar ou casa onde se vive ou mora normalmente, passando-se
ai sobretudo a noite =
Casa, domínio, morada, residência, vivenda.
Índice Pictórico
Separadores:
Separador 1 - Fotografia de Janela do Edifício 129-137................................................[0]
Separador 2 - Pormenor de Mapa da Baixa Pombalina antes do Terramoto..................[6]
Separador 3 - Pormenor de Mapa da Baixa Pombalina depois do Terramoto................[7]
Separador 4 - Fotografia de Baixa vista pela Janela do Edifício 129-137....................[19]
Separador 5 - Fotografia dos Interiores do Edifício 129-137.......................................[31]
Separador 6 - Fotografia dos Interiores do Edifício 129-137.......................................[43]
Separador 7 - Fotografia da clarabóia do Telhado do Edifício 129-137......................[49]
Separador 8 - Fotografia de Maqueta de Edifício 129-137..........................................[70]
Separador 9 - Render's de Pormenor de Apartamento..................................................[74]
Separador 10 - Fotografias de Pormenor de Maqueta..................................................[83]
Lista de Figuras, Parte Teórica:
Fig. 1- Fases da Metodologia usa, criado pelo autor......................................................[5]
Fig. 2 - Mapa de risco/vulnerabilidade do Matiz urbana..............................................[16]
Fig. 3 - Metodologia aplicada a reabilitação arquitetónica...........................................[31]
Fig. 4 - Exemplo de choque entre fachadas Pombalinas na Baixa Chiado...................[37]
Fig. 5 - Exemplo de erros cometidos fachadas Pombalinas..........................................[38]
Fig. 6 - Lista de funções e Actividades de Habitação...................................................[55]
Fig. 7 - Esquiço representativo do edifício escolhido...................................................[57]
Fig. 8 - Fotografia de edifício Pré-Pombalino..............................................................[58]
Fig. 9 - Fotografia de edifício Pombalino...................................................................[59]
Fig. 10 - Fotografia de edifício Gaioleiro.....................................................................[60]
Fig. 11 - Desenho esquemático da organização e geometria da Baixa Pombalina......[61]
Fig. 12,13, 14 -Fotografias da Rua da Madalena 1898-1908.......................................[63]
Fig. 15 - Carta topográfica de Lisboa...........................................................................[64]
Fig. 16 - Exemplo de edifício projetado Para a Rua da Madalena1858-10................. [66]
Fig. 17 - planta sem escala dos andares do edifício estudado.......................................[67]
Fig. 18 - Fotografia do edifício estudado na rua da Madalena....................................[67]
Fig. 19 - Vista em planta sem escala.............................................................................[68]
Fig. 20 - Planta de Lisboa com sobreposição de "zonas".............................................[68]
Fig. 21 - Desenho esquemático das fachadas da rua da Madalena. .............................[68]
Fig. 22, 23, 24 - Axonometrias representativas do estado do imóvel...........................[69]
Fig. 25, 26 - Axonometrias representativas das consequências....................................[70]
Fig. 27 - Registo Fotográfico dos interiores do imóvel estudado, anomalia 1.............[77]
Fig. 28 - Registo Fotográfico dos interiores do imóvel estudado, anomalia 2.............[77]
Fig. 29 - Registo Fotográfico dos interiores do imóvel estudado, anomalia 3.............[77]
Fig. 30 - Registo Fotográfico dos interiores do imóvel estudado, anomalia 4.............[77]
Fig. 31 - Registo Fotográfico dos interiores do imóvel estudado, anomalia 5.............[77]
Fig. 32 - Registo Fotográfico dos interiores do imóvel estudado, anomalia 6.............[77]
Fig. 33 - Registo Fotográfico dos interiores do imóvel estudado, causa1....................[78]
Fig. 34 - Registo Fotográfico dos interiores do imóvel estudado, causa2....................[78]
Fig. 35 - Registo Fotográfico dos interiores do imóvel estudado, causa3....................[78]
Fig. 36 - Registo Fotográfico dos interiores do imóvel estudado, causa3....................[78]
Fig. 37 - Registo Fotográfico dos interiores do imóvel estudado, pormenores 1.........[78]
Fig. 38 - Registo Fotográfico dos interiores do imóvel estudado, pormenores 2.........[78]
Fig. 39 - Registo Fotográfico do imóvel estudado, exemplo de bom estado de
conservação da fachada.................................................................................................[79]
Fig. 40 - Registo Fotográfico dos interiores do imóvel estudado.................................[79]
Fig. 41 -Fotografia de cozinha de projeto de atelier José Adrião e Arquitetos............[83]
Fig. 42 -Fotografia de sala de projeto de atelier José Adrião e Arquitetos..................[83]
Fig. 43 -Fotografia de sala de projeto de atelier José Adrião e Arquitetos..................[84]
Fig. 44 -Fotografia de sala de projeto de atelier José Adrião e Arquitetos..................[84]
Lista de Figuras, Parte Prática:
Fig. 45 - Maqueta tridimensional, frente.....................................................................[87]
Fig. 46 - Maqueta tridimensional, costas.....................................................................[87]
Fig. 47 - Desenho esquemático de apartamento...........................................................[88]
Fig. 48 - Desenho esquemático de apartamento com corte das paredes.......................[88]
Fig. 49 - Desenho esquemático em escorço de apartamento com organização espacial e
divisórias originais........................................................................................................[88]
Fig. 50 - Desenhos esquemático de organização de divisórias original.......................[89]
Fig. 51 - Vista Lateral Direita.......................................................................................[89]
Fig. 52 - Vista Lateral Esquerda...................................................................................[89]
Fig. 53 - Planta de apartamento com organização espacial original.............................[91]
Fig. 54 - Planta de apartamento com organização espacial original, e cores
representativas das divisórias........................................................................................[91]
Fig. 55 - Planta de apartamento com organização espacial proposta e cores
representativas das divisórias........................................................................................[91]
Fig. 56 - Planta de apartamento com organização espacial proposta e possível
disposição de mobiliário...............................................................................................[92]
Fig. 57 - Planta de apartamento com organização original e sinalética para a escolha de
remoção de paredes......................................................................................................[92]
Fig. 58 - Fotografia de maqueta com organização original e invisibilidade de vigas de
suporte do piso superior................................................................................................[92]
Fig. 59 -Desenho esquemático de possível organização do espaço..............................[93]
Fig. 60 -Desenho esquemático da organização interior vista da cozinha.....................[93]
Fig. 61 -Desenho esquemático de planta explodida com mobiliário............................[93]
Fig. 62 - Render expositivo de "camadas"....................................................................[94]
Fig. 63 - Render's expositivos de montagem dos painéis sem estantes.......................[94]
Fig. 64 - Render's expositivos de suporte quadrado e braço reversível para suporte de
painéis...........................................................................................................................[94]
Fig. 65 - Render's expositivos de esquema de procedimento dos painéis horizontais
transparentes para cobertura no teto............................................................................[95]
Fig. 66 - Esquema de procedimento em desenho esquemático dos painéis horizontais
transparentes para cobertura no teto............................................................................[95]
Fig. 67 - Esquema de procedimento em desenho esquemático dos painéis verticais
transparentes para paredes............................................................................................[95]
Fig. 68 - Render's expositivos de esquema de procedimento dos painéis verticais
transparentes para paredes............................................................................................[95]
Fig. 69, 70 - Render's expositivos de "camadas" dos painéis transparentes no teto e
pavimento do chão........................................................................................................[96]
Fig. 71 - Render expositivo de preenchimento de vãos................................................[96]
Fig. 72, 73, 74, 75 - (dir) Render's expositivos de iluminação provinda de teto..........[97]
Fig. 76 - Desenho esquemático com corte, de organização de calhas para novo esquema
de iluminação...............................................................................................................[97]
Fig. 77. 78, 79, 80, 81 - Desenhos esquemáticos da organização da proposta.............[98]
Fig. 82 - Render de fachada com apartamento e iluminação interior...........................[99]
Fig. 83 - Render de fachada de andar nobre, 1º andar..................................................[99]
Fig. 84 - Render de interior de andar nobre, 1º andar...................................................[99]
Fig. 85 - Vista aérea de desenho esquemático de apartamento explodido....................[99]
Fig. 86, 87 - Fotografias de maqueta construtiva, da organização do espaço, original
(fundo branco) e proposta (fundo preto) ....................................................................[100]
Fig. 87, 88 - Planta de pormenor corredor (esq.) e planta explodida (dir.) com
fotomontagem de parede de corredor e casa de banho...............................................[102]
Fig. 89 - Vista aérea com fotomontagem de apartamento com organização e proposta
final.............................................................................................................................[102]
Fig. 90 - Procedimento de aplicação da proposta dos painéis verticais no corredor..[103]
Fig. 91 - Render de armário/prateleira para a casa de banho......................................[104]
Fig. 92
- Planta de pormenor corredor com casa de banho, com
mobiliário....................................................................................................................[104]
Fig. 93 - Desenho esquemático com vista interior de corredor e casa de banho em
render..........................................................................................................................[104]
Fig. 94 - Planta com corredor e casa de banho em perspectiva, com pormenor de
proposta para corredor. ..............................................................................................[104]
Fig. 95 - Fases de montagem da casa de banho no espaço proposto.........................[105]
Fig. 96 - Planta de pormenor de cozinha...................................................................[106]
Fig. 97, 98 - Desenho esquemático com vista interior de cozinha (cima) e vista de
pormenor (em baixo). .................................................................................................[106]
Fig. 99 - Planta de pormenor de quartos com corredor..............................................[107]
Fig. 100 - Vista e fotomontagem de render e desenho esquemático de quarto..........[107]
Fig. 101 - Vista e fotomontagem de render com pormenor, alternativa 1..................[108]
Fig. 102 - Vista e fotomontagem de render com pormenor, alternativa 2.................[108]
Fig. 103 - Procedimento de aplicação da proposta dos painéis para a sala................[109]
Fig. 104 - Planta de pormenor de sala........................................................................[110]
Fig. 105, 106 - Foto de interior de sala (esq.) e vista esquemática com escala humana à
(dir.)............................................................................................................................[110]
Fig. 107, 108
- Vista esquemática de sala com pormenor de render á
(esq.)............................................................................................................................[110]
Fig. 110- Vista esquemática de sala com pormenor, alternativa 1.............................[111]
Fig. 111 - Vista esquemática de sala com pormenor, alternativa 2............................[111]
Fig.
112
Fotografia
de
maqueta
do
edifício
estudado,
sem
retoques(frente)...........................................................................................................[112]
Fig.
113
Fotografia
de
maqueta
do
edifício
estudado,
sem
retoques(costas)...........................................................................................................[112]
Fig. 114 - Fotografia de maqueta construtiva em escorço(frente) do apartamento....[112]
Fig. 115 - Fotografia de maqueta construtiva em escorço(costas) do apartamento....[113]
Fig. 116 - Fotografia de maqueta explodida com vista para os interiores.................[113]
Fig. 117 - Fotografia de maqueta explodida (pormenor) para os interiores...............[114]
Fig. 118 - Fotografia de maqueta com parede frontal elevada...................................[114]
Fig. 119 - Fotografia de maqueta construtiva em escorço.........................................[115]
Fig. 120 - Fotografia de maqueta construtiva, em axonometria.................................[115]
Fig. 121 - Fotografia de maqueta construtiva.............................................................[116]
Fig. 122 - Fotografia de maqueta construtiva.............................................................[116]
Fig. 123- Desenho esquemático de apartamento /secções construtivas......................[116]
Fig. 124- Render expositivo de interiores com iluminação........................................[116]
Lista de Tabelas:
Tabela 1- Fases da Metodologia usada…………………...............................................[5]
Tabela 2 - Tabela de intervenção Ligeira em Edifícios Pombalinos............................[80]
Tabela 3 - Tabela de intervenção Média em Edifícios Pombalinos..............................[80]
Tabela 4 - Tabela de intervenção profunda com técnica tradicional............................[80]
Tabela 5 - Tabelas de intervenção profunda sem técnica tradicional...........................[80]
Anexos:
Anexo1. Declaração de utilização de informação com nome de tese antigo..............[121]
Anexo2. Glossário de outros Termos Técnicos usados na descrição do edifício
Pombalino trabalhado………………………………………………………..……..[122]
Anexo3. Ata publica de venda do edifício129-137 da rua da Madalena....................[125]
Índice
Resumo ................................................................................................................................... - 7 Abstract ................................................................................................................................... - 8 Agradecimentos ...................................................................................................................... - 9 Dicionário etimológico .......................................................................................................... - 10 Índice Pictórico ..................................................................................................................... - 11 Capítulo 1. Introdução ............................................................................................................. - 1 1.1. Relevância da Investigação e Proposta de Intervenção ..................................................... - 1 Pergunta geral de investigação ........................................................................................ - 1 1.2. Objetivos .......................................................................................................................... - 2 1.3. A escolha do Tema ........................................................................................................... - 3 1.4. Metodologia da Investigação, Organização estrutural ...................................................... - 4 1.5. Síntese da dissertação ....................................................................................................... - 6 Capitulo 2. Reabilitação e Enquadramento Histórico ............................................................ - 10 2.1. Conceitos e significados (revitalização, restauro e Reabilitação) ................................... - 10 2.2. Contextualização da Reabilitação na História da Europa (Congresso Internacional de
arquitetos e técnicos de Monumentos históricos, cartas de Atenas, Veneza e Cracóvia.) ...... - 12 Carta de Atenas ............................................................................................................. - 13 Carta de Veneza ............................................................................................................ - 14 Carta de Cracóvia 2000 ................................................................................................. - 15 2.3. Contextualização do "urbanismo" em Portugal .............................................................. - 16 2.4. Reabilitação urbana em Lisboa....................................................................................... - 16 2.4.1. O Porquê da Reabilitação ............................................................................................ - 17 2.5. Programas de reabilitação em Portugal, RECRIA, REHABITA, RECRIPH, SOLARH e
ProReabilita........................................................................................................................... - 18 "RECRIA" ..................................................................................................................... - 19 "REHABITA" ............................................................................................................... - 19 "RECRIPH"................................................................................................................... - 19 "SOLARH" ................................................................................................................... - 19 ProReabilita ................................................................................................................... - 20 2.6. Novo Programa dos Regimes de Arrendamento Urbano "NRAU" ................................. - 20 Capitulo3. Património e estratégias usadas na Reabilitação em Lisboa ................................. - 22 Património ............................................................................................................................. - 22 3.1. O que é o Património e a Carta de Nara ......................................................................... - 22 3.2. Importância do Património Edificado ............................................................................. - 24 3.2.1. Concorrência cultural .................................................................................................. - 25 -
3.3.2.Autenticidade como valor cultural................................................................................ - 25 Estratégias usadas para a Reabilitação........................................................................... - 25 3.4.livrete do edifício ............................................................................................................ - 25 Indicadores do estado e gestão ...................................................................................... - 25 O que é o livrete do edifício?......................................................................................... - 26 Qual foi o objetivo primordial deste documento? .......................................................... - 26 Em que consiste o livreto? ............................................................................................. - 27 Qual foi o resultado deste instrumento de catalogação na cidade e mais precisamente na rua
em que se encontra o edifício estudado na tese? ............................................................ - 28 Qual a metodologia usada para o fazer? ........................................................................ - 29 3.5.Manual de Boas Práticas ................................................................................................. - 30 3.6.Níveis de conservação (âmbito, Natureza e Grau de Profundidade) ................................ - 31 Metodologia usada no Plano de ordenamento de Lisboa. .............................................. - 32 Capítulo 4. Problemática do Edificado Degradado e os Interiores ........................................ - 34 Problemática do edificado Degradado ........................................................................... - 34 4.1.O Problema Conceptual................................................................................................... - 34 4.2.Edificado degradado e Consequências ............................................................................ - 34 4.3.Patologias associadas à Conceção ................................................................................... - 36 4.3.1. Patologias associadas à Conceção na Arquitetura Pombalina ...................................... - 37 4.4.Choque entre as velhas e novas fachadas. ....................................................................... - 37 4.4.1.Problemas de Escala ..................................................................................................... - 38 4.4.2.Erros Cometidos nas Fachadas Pombalinas .................................................................. - 38 Interiores ....................................................................................................................... - 39 4.6.Materiais como Forma e Significado nos Interiores. ....................................................... - 39 4.6.1.A madeira ..................................................................................................................... - 40 No Livro "Materials for aechitertural design" de Victoria Ballard Bell ............................... - 40 4.6.2.A Pedra......................................................................................................................... - 41 4.6.3.A Cerâmica .................................................................................................................. - 41 4.6.2.Os Metais ..................................................................................................................... - 41 4.7.Estruturas como Ferramentas delimitadoras nos Interiores. ............................................ - 41 4.7.1.Paredes ......................................................................................................................... - 41 Especificidades .............................................................................................................. - 42 Frontais à francesa:........................................................................................................ - 43 Frontais à galega ........................................................................................................... - 43 Frontais tecidos: ............................................................................................................ - 44 4.8.Coberturas interiores e vigas de suporte de pisos ............................................................ - 44 -
4.9. Os acabamentos como finalização dos Interiores. .......................................................... - 44 O acabamento ........................................................................................................................ - 44 Capitulo 5. Requisitos para a habitação contemporânea e o "Habitar" .................................. - 47 Reabilitação dos Interiores/exterior ............................................................................... - 47 5.1. Avaliação da qualidade do espaço urbano estudado, como produto de geometria, escala e
conforto nos interiores ........................................................................................................... - 47 5.2. A geometria simples nos edifícios .................................................................................. - 47 5.3. Conforto e interação Utilizador-Espaço ......................................................................... - 48 5.4. O conceito do Lugar ....................................................................................................... - 48 O "Habitar".................................................................................................................... - 49 5.5. Conceito do “Habitar” .................................................................................................... - 49 5.6.Origem/evolução ............................................................................................................. - 50 5.7.As novas formas de "Habitar" ......................................................................................... - 51 5.8. Funções e exigências de áreas da habitação ................................................................... - 52 Capitulo 6. Pré-Projecto, Fundamentos, Contextualização e outras questões prévias á proposta
de intervenção. ...................................................................................................................... - 57 Preâmbulo sobre a Reabilitação .................................................................................... - 57 6.1.Objetivos Gerais na Reabilitação .................................................................................... - 57 Enquadramento e Fundamentos para o local da Proposta de Intervenção ...................... - 58 6.2.Edifícios Históricos Habitacionais de Lisboa (tipos construtivos) ................................... - 58 6.2.1.Edificios Pré-Pombalinos ............................................................................................. - 58 6.2.2. Edifícios Pombalinos ................................................................................................... - 59 6.2.3. Gaioleiros .................................................................................................................... - 60 6.3. Organização da arquitetura Pombalina ........................................................................... - 60 6.4.Escolha do Local para a intervenção ............................................................................... - 62 6.5. Historia e Origem da rua ................................................................................................ - 63 6.6.Cronologia do Local da intervenção ................................................................................ - 64 6.7. Configuração técnica do edifício .................................................................................... - 66 6.8.Grau do imóvel:............................................................................................................... - 66 6.9.Resumo do Imóvel: ......................................................................................................... - 67 6.10. Enquadramento: ........................................................................................................... - 67 6.11.Contextualização do edifício na cidade ......................................................................... - 67 6.12.Análise do Imóvel (visita) ............................................................................................. - 69 6.13. Métodos e procedimentos para a reabilitação ............................................................... - 70 Metodologia .................................................................................................................. - 71 6.14.Como aplicar a Análise e Diagnóstico/Análise e Levantamento e Programa. ............... - 71 -
6.14.1.Avaliar as condições exteriores ao imóvel. ................................................................. - 71 6.14.2.Análise dos materiais existentes. ................................................................................ - 71 6.14.3.Avaliação das obras não estruturantes. ....................................................................... - 72 6.14.4. Avaliação das obras estruturantes. ............................................................................. - 72 6.14.5. Avaliação das obras especializadas. .......................................................................... - 72 6.14.6. Levantamento das necessidades para o início dos trabalhos. ..................................... - 72 Levantamento e listagem dos materiais necessários. ..................................................... - 73 6.14.7. Levantamento das necessidades de trabalhos Interiores especializados e instalações
técnicas.................................................................................................................................. - 74 6.15.Estudo do espaço a nível de Patologias ......................................................................... - 77 Anomalias ..................................................................................................................... - 77 Causas ........................................................................................................................... - 78 Outros Pormenores ........................................................................................................ - 78 6.16.Diagnóstico geral do Exterior e Interior ........................................................................ - 79 Exterior: ........................................................................................................................ - 79 Interior; ......................................................................................................................... - 79 6.17.Tabelas de custos de Reabilitação em Edifícios Pré-Pombalinos, Pombalinos e Gaioleiros. 80 Outros Fundamentos e critérios para as opções tomadas ............................................... - 82 6.18. Legislação e Artigos ..................................................................................................... - 82 6.19. Reabilitação Premiada, exemplo a seguir. .................................................................... - 83 Manual de boas práticas e reflexões .............................................................................. - 84 Escolha do Minimalismo como ligação do mobiliário à proposta ................................. - 85 Capitulo 7. Projeto e Conclusões........................................................................................... - 87 7.1. Introdução ...................................................................................................................... - 87 7.1.1.Introdução á proposta do Apartamento ......................................................................... - 87 7.1.2.Organização do Espaço Interior ................................................................................... - 87 7.1.3.Novas Exigências a aplicar ........................................................................................... - 89 Exigências de desempenho ............................................................................................ - 89 Condicionantes Económicas .......................................................................................... - 89 Condicionantes de Configuração e Forma ..................................................................... - 89 7.2.Memória Descritiva ......................................................................................................... - 90 7.2.Organização do espaço .................................................................................................... - 91 7.3.Paredes a intervir ............................................................................................................. - 92 7.4.Conceito de "vitrine", proposta para as paredes interiores do corredor. .......................... - 94 7.4.1. Materiais e processo construtivo ................................................................................. - 94 -
7.2.5.Aplicação dos painéis nos barrotes do teto ................................................................... - 96 7.2.6.Aplicação de pavimentos .............................................................................................. - 96 7.2.7.Preenchimento de vãos ................................................................................................. - 96 7.2.6. Preservação do material interior das estruturas ............................................................ - 97 7.2.8.Expor e Proteger ........................................................................................................... - 97 7.2.9.Iluminação .................................................................................................................... - 97 7.2.10. As portas ................................................................................................................... - 98 7.2.11.Conforto Acústico ...................................................................................................... - 98 7.2.12.Conforto Térmico ....................................................................................................... - 98 7.2.13.Caracteristicas de valor acrescentado ......................................................................... - 99 7.3.Divisórias /Interiores ..................................................................................................... - 101 7.3.1.Aspetos técnicos dos Interiores .................................................................................. - 102 Corredor ...................................................................................................................... - 102 Casa de banho ............................................................................................................. - 104 Cozinha ....................................................................................................................... - 106 Quartos ........................................................................................................................ - 107 Possibilidade de mobiliário a aplicar ........................................................................... - 107 Sala.............................................................................................................................. - 110 7.4. Conclusão e Considerações Finais................................................................................ - 112 7.4.1.Fotos de Maqueta e conclusão .................................................................................... - 112 7.4.2. Conclusões ................................................................................................................ - 113 Referências Bibliográficas: ................................................................................................. - 117 Anexo1. Declaração de utilização de informação com nome de tese antigo ........................ - 121 Anexo2. Glossário de outros Termos Técnicos usados na descrição do edifício Pombalino
Trabalhado .......................................................................................................................... - 122 Anexo3. Ata pública de venda do edifício ........................................................................... - 125 -
Capitulo 1.
Capítulo 1. Introdução
1.1. Relevância da Investigação e Proposta de Intervenção
A
reabilitação urbana representa um tema incontornável
quer se fale de conservação e defesa do património ou de
desenvolvimento sustentável. Atualmente verifica-se uma
mutação da estrutura metropolitana de Lisboa, associada à perda
de importância do centro tradicional histórico e à mudança para
um panorama de cidade descaracterizada. Esta mudança deve-se à
descaracterização dos edifícios históricos segundo uma
metodologia de reabilitação focada na simplificação das fachadas
e betonização de elementos decorativos, anteriormente feitos em
pedra ou azulejo. Nos interiores sucede-se o mesmo, a
reabilitação não é efetuada com os materiais tradicionais, e
quando aplicados, é simplificada a sua utilização para poupar
tempo e dinheiro. É portanto da responsabilidade do Designer
aplicar e investigar soluções para salvaguardar este tipo de
cultura, que o personaliza e o destaca na sua singularidade de
uma Europa "globalizada". Saber identificar o que define uma
boa de uma má reabilitação segundo os estudos de profissionais
da área, dá ao Designer uma ferramenta importantíssima para
uma área de trabalho, que se encontra em constante mutação, e
cada vez mais tem procurado/recrutado profissionais com
respostas às novas necessidades da arquitetura contemporânea.
Pergunta geral de investigação
Como elo de toda a investigação e premissa para o projeto prático
apresenta-se a seguinte questão, que está sempre presente no
estudo de cada capítulo.
É possível propor uma projeto de reabilitação viável para um
espaço interior considerado de património edificado, que
ofereça soluções estéticas e construtivas para o panorama dos
interiores contemporâneos ?
É com esta pergunta que se define os objetivos e encontra-se a
metodologia a aplicar, para uma fundamentação eficaz e bem
direcionada.
-1-
Capitulo 1.
1.2. Objetivos
O
estudo deste tema tem como objetivo demonstrar os
benefícios e obrigações da reabilitação urbana nos
centros históricos da cidade de Lisboa, dando especial
atenção às razões e problemas da reabilitação, aos programas
criados para os preservar e às metodologias. Para isso é
necessário saber identificar problemas estruturais e outras
patologias de um imóvel histórico, analisar qual a sua
importância e nível do património que se está a tratar e fazer a
ligação entre as patologias e os resultados delas. Pretende-se
como objetivo perceber qual a necessidade da reabilitação na
cidade e na arquitetura ao mesmo tempo que se estuda
especificamente que materiais, regras, técnicas e serviços são
necessários para a implementação da obra de reabilitação.
Analisam-se as Regras construtivas e obrigações perante os
utentes do espaço público e privado. Os objetivos mencionados
terão como foco, fazer uma análise da arquitetura Pombalina a
nível dos interiores. Para isso compreender os espaços a nível
funcional e a nível estrutural proporcionará a melhor
compreensão dos procedimentos a aplicar. No culminar deste
trabalho pretende-se que a proposta final que visa responder a
pergunta geral da investigação esteja o mais aproximado possível
de uma reabilitação dos interiores coerentes com o panorama do
edifício da rua e cidade. Assim procuram-se oferecer uma
panóplia de soluções construtivas, estéticas e funcionais. Cada
escolha/equipamento usado na proposta final, tal como a
organização espacial
das divisórias,
será
escolhido
especificamente para aquele apartamento, de forma a
proporcionar e potencializar os recursos e necessidades
encontradas e viáveis para a atualidade.
-2-
Capitulo 1.
1.3. A escolha do Tema
A
escolha do tema da presente dissertação de Mestrado
nasceu do interesse em analisar, documentar e pôr em
prática o projeto de uma eventual reabilitação de um
espaço interior referente a um estilo arquitetónico histórico da
cidade de Lisboa. Preservar a arquitetura e estilos históricos,
como o Pombalino constituem um desafio de maior importância
para o entendimento geral do que é uma cidade e cultura de um
País. Por esta razão tem-se como intenção detalhar o que se faz e
fez para preservar este estilo, de forma a perceber-se quais são as
prioridades escolhidas a resguardar: a integridade e história que
estes edifícios contêm no seu tipo de construção, nos seus
materiais, nas suas escolhas e funções. Para analisar estas,
exploram-se as escolhas que a definem. Devido ao edifício ser tal
como os seus interiores um espelho da cidade, tem-se como
premissa investigar as estratégias de avaliação do estado de
conservação em que estes imóveis se apresentam, tal como
aplicar a metodologia correta para os reabilitar e prepara-los para
o presente século (refletindo a evolução da cidade). É com uma
metodologia associada ao enquadramento histórico do que é a
reabilitação em Lisboa que se averigua a génese dos problemas e
patologias associadas a este tipo de arquitetura. Para saber
identificar as patologias, é ainda analisado a importância e
ligação entre o método de construção e materiais com as
consequências da sua implementação. As regras usadas neste tipo
de construção expõem as consequências das mesmas nos dias de
hoje. Portanto é analisado e estudado quais são as novas
necessidades e prioridades a implementar de forma a responder e
competir com a nova arquitetura. A escolha deste tema dará a
possibilidade de estudar as características integrantes do espaço
exterior ao edifício tal como no seu interior. Em conjunto com a
organização urbana detalha-se os programas “estatais”, que se
apresentam para defender e resguardar o Património edificado.
Relativamente aos interiores, a análise e diagnóstico de um caso
de estudo proporcionará um entendimento mais detalhado do
"habitar" viável, dentro de um destes imóveis, esta compreensão é
a transição necessária para a implementação do projeto prático
que se propõem. Por fim, este tema proporcionará o estudo de
valor acrescentado nos imóveis, que resultará na aplicação dos
mesmos, para rentabilizar ao máximo o espaço escolhido
(apartamento).
-3-
Capitulo 1.
1.4. Metodologia da Investigação, Organização estrutural
A
metodologia
usada
na
presente
investigação
desenvolveu-se segundo duas componentes, uma de
natureza teórica e a outra de natureza prática. Por se
tratar de um tema de complexidade elevada, devido a utilização
de conceitos e significados, detalhou-se minuciosamente a origem
de conceitos como, a reabilitação, património e conservação,
segundo cartas, dicionários etimológicos e programas usados e
aplicados por entidades de renome, e importância pública. Para a
componente prática, aplicou-se a uma metodologia focada e
direcionada a responder problemas estéticos e funcionais,
protegidos pela primazia e preservação do património trabalhado.
-4-
Capitulo 1.
Fig. 1- Fases da Metodologia usada e criado pelo
autor
-5-
Capitulo 1.
1.5. Síntese da dissertação
presente trabalho encontra-se dividido em seis capítulos
teóricos e um último prático. O Primeiro capítulo, de
caracter introdutório permite enquadrar e contextualizar o
estudo desenvolvido, o tema da dissertação e os objetivos que
esta pretende alcançar.
O segundo capítulo, começa com os significados e conceitos
inerentes a este tipo de investigação. É com esta separação de
simbolismos e significados que se ataca a verdadeira ação de
intervenção. Em seguida é neste capítulo que se apresentam os
programas usados pelo Estado para resolver a problemática do
edificado em Lisboa, ao mesmo tempo que se analisa as
ferramentas usadas para o fazer, como por exemplo o livrete do
edifício. Desta forma enquadra-se historicamente o tipo
construtivo e estilo arquitetónico. Encerrando com a estratégia
usada para o avaliar e preservar. Temas como a “degradação dos
centros históricos” e “ reabilitação urbana em Lisboa” são
analisados de forma a contextualizar o panorama atual da
reabilitação.
O terceiro capítulo pretende detalhar os minuciosos temas do que
são o património, a sua preservação e importância. Para isso
avalia-se o espaço urbano da cidade como produto de geometria,
escala e conforto entre utilizador-Espaço. É neste capítulo que se
vai à procura de responder as questões de importância urbana da
cidade, o choque entre as fachadas, e a descaracterização da
cidade como problema conceptual. Termina-se apresentando uma
breve análise ao Plano Diretor Municipal de Lisboa e a presente
Legislação em vigor. No qual se percebe quais são os objetivos
estratégicos, de âmbito, natureza e Grau de profundidade.
O quarto capítulo enquadra a problemática do edificado e a sua
consequência nos interiores.
O quinto capítulo faz a transição da metodologia aos materiais e
estruturas, na qual se analisa os materiais como forma e
significado nos interiores e as estruturas como parte integrante da
decoração, estrutura e Historia. É ainda neste capítulo que se
explora e detalha o conceito de Habitar e Lugar em conjunto com
as suas ramificações a nível histórico, social.
O sexto capítulo tem o caracter introdutório ao projeto, neste
capítulo de Pré-Projeto vai-se detalhar todas as questões e
objetivos que o projeto procurará responder, para isso tem de
responder a todas as questões de fundamentação do espaço
escolhido. Nele encontra-se a História do edifício, o
enquadramento deste na cidade, o estudo deste como objeto de
estudo, o diagnostico dele nas suas anomalias, causas e
consequências. É neste capítulo que se detalha os materiais como
forma e significado. A sua aplicação nos interiores, as paredes, os
vãos, os sistemas e os acabamentos.
O
-6-
Capitulo 1.
Delimita-se a presente organização espacial do apartamento e
analisam-se os materiais que a compõem. Faz-se uma catalogação
fotográfica e esquemática da rua, edifício, apartamento e
divisórias, ao mesmo tempo que se apresenta uma análise
descritiva da visita do espaço(análise, diagnóstico e
levantamento). Por fim delimita-se as motivações finais da obra
no espaço escolhido resultantes da visita.
O sétimo capítulo apresenta a seleção do caso de estudo
(edifício) e local de intervenção(apartamento), onde culmina toda
a investigação e onde se aplicam os conhecimentos teóricos
adquiridos. Este capítulo começa após a descrição do projeto
detalhando as justificações escolhidas e apresentando desenhos
técnicos, maquetas e renderização do espaço tridimensional de
forma a mostrar o antes e depois da intervenção. O projeto é
detalhado com a ajuda de elementos pictóricos desenhados de
forma ao fácil entendimento de sistemas e localização de
patologias. Este capítulo termina a analisar os aspetos críticos da
possível intervenção em conjunto de conclusões.
-7-
-8-
-9-
Capitulo 2.
Capítulo 2. Reabilitação e Enquadramento Histórico
Este capítulo é dedicado ao estudo dos conceitos e significados
que vão ser usados ao longo da presente dissertação, com ele
pretende-se demonstrar o domínio da terminologia usada e o seu
contexto a nível Histórico na Europa, Portugal e Lisboa.
2.1. Conceitos e significados (revitalização, restauro e
Reabilitação)
E
ste é talvez o tema mais importante a definir na procura
pela intervenção correta a utilizar, durante o decorrer da
investigação e na sua complementação do projeto prático.
Para melhor definir estes tipos de intervenção contextualiza-se a
sua evolução em paralelo com a definição usada pelo Ministério
do Equipamento Português. Cada uma das diferentes intervenções
possui características distintas, mas todas prezam pela
salvaguarda do património histórico, cultural e arquitetónico. Este
facto é possível através de critérios utilizados nestes tipos de
intervenção, sendo exemplo destes mesmos critérios a Eficácia,
Compatibilidade, Autenticidade, Durabilidade, e Eficiência.
Exemplo disso é a Eficiência(definidos pelo Plano diretor
municipal), esta está ligada à intervenção prendendo-se com o
menor consumo possível de recursos e com o menor custo
possível. Estes temas não se podem definir pela opinião/vontade
de quem projeta os interiores, não pode resultar de mera
expressão de vontades subjetivas como diz Maria Cristina no
livro, "Renovação, Revitalização, Requalificação, Reabilitação",
tão pouco é feito de pura objetividade, porém, dentro do possível,
os significados devem indicar ideias claras, e serem usadas de
maneira precisa e oportuna. Portanto, define-se cada um dos tipos
de intervenção para se poder detalhar, onde o projeto se encontra
e o que pretende na sua conclusão da proposta prática. O termo
“renovação urbana”, criado pelo economista Miles Colean em
1950 incluía diferentes programas. A “reabilitação” seguia o
sentido de processo de transformação da estrutura urbana
considerada abaixo do padrão exigido pela “conservação”, com a
condicionante de desenvolver tanto a reabilitação como a
demolição para melhorar um local, e “re-desenvolvimento”, com
significado de englobar as operações de demolição, a remoção e
reconstrução de uma área inteira(Cristina, 2005).
- 10 -
Capitulo 2.
Também o Ministério do Equipamento Português define este
conceito no “Planeamento e da Administração do Território” no
qual refere:
Reconversão urbana "...implica a reestruturação e modernização
do tecido urbano, através duma revitalização económica,
apoiada na promoção de novas atividades ou na reconstituição
de redes económicas e sua abertura a novos mercados, da
promoção e consolidação das redes de equipamentos,
requalificação e melhoria do ambiente urbano, salvaguarda e
valorização dos recursos naturais e culturais, apoio à formação e
investigação, etc.."
Recuperação urbana " ...é o conjunto de operações tendentes à
reconstituição de um espaço urbano ou conjunto degradado ou
alterado por obras anteriores, sem que no entanto esse conjunto
assuma as características de um restauro. De um modo geral, a
recuperação impõe se na sequência de situações de rutura do
tecido urbano ou de casos de intrusão visual resultantes de
operações indiscriminadas de renovação urbana. A recuperação
urbana implica a requalificação dos edifícios ou conjuntos
recuperados"
Por outro lado temos o termo de “revitalização”, inserido num
contexto histórico de privação de desenvolvimento e degradação
de áreas mais antigas das cidades (especialmente nos centros)
este tipo de intervenção, levou o deslocamento da população
residente e de investimentos públicos e privados para outras
regiões da cidade. Portanto o termo passa a expor a oposição aos
termos antes utilizados. Segundo Schicchi, quando pretende
oferecer nova função e forma às arquiteturas e contextos urbanos
constituídos, assim obrigatoriamente tem de se respeitar os
valores que incorporem a paisagem existente e os valores
históricos, de identidade e de memória "estéticos" presentes
neles(Schicchi, 2005). Também se pode denominar de
“Revitalização” as ações que visavam principalmente a
recuperação e preservação do património histórico urbano. Já o
Ministério do Equipamento, do planeamento e da administração
do Território1 Português define este conceito no “Planeamento e
da Administração do Território” como:
Revitalização urbana: "...designa o conjunto de operações
destinadas a articular as intervenções pontuais de recuperação
dos edifícios existentes em áreas degradadas, com as
intervenções mais gerais de apoio à reabilitação das estruturas
sociais, económicas e culturais locais, visando a consequente
melhoria da qualidade de vida nessas áreas ou conjuntos
urbanos degradados."
1
O Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território ,criado com a
responsabilidade as áreas das obras públicas, transportes, comunicações, administração local,
ordenamento do território, planeamento e desenvolvimento regional.
- 11 -
Capitulo 2.
Reabilitação urbana:
"...designa todo o processo de
transformação do espaço urbano, compreendendo a execução de
obras de conservação, recuperação e readaptação de edifícios e
de espaços urbanos, bem como a modernização e adequação de
funções.” (Ministério do Equipamento, 1998).
O termo Revitalização, passou a ser questionado, devido às
teorias usadas até então com o seu título. Tais intervenções
acabaram por expulsar a população residente, o comércio e as
atividades diferentes do local. Assim, surge o imperativo de
mudar o enfoque das operações urbanas e consequentemente, de
encontrar outro termo que se adequasse melhor às necessidades
atuais. Com tais diversidades de atuação e causa, vários termos
foram utilizados, que englobavam valores económicos e
patrimoniais
(reconversão,
recomposição,
reciclagem,
reinvestimento), valores sociais (regeneração, reocupação e
repovoamento), entre outros. Relativamente ao processo físico da
intervenção, os dois grupos são:
“Obras de reabilitação - obras que têm por fim a recuperação e
beneficiação de uma construção resolvendo as anomalias
construtivas, funcionais, higiénicas e de segurança acumuladas
ao longo dos anos, procedendo a uma modernização que melhore
o seu desempenho até próximo dos atuais níveis de exigência e
que pode ainda propor uma mudança de uso."
"Obras de reconstrução - qualquer obra que consista em realizar
de novo, total ou parcialmente, uma instalação já existente, no
local de implantação ocupada por esta e mantendo, nos aspetos
essenciais, a traça original.” (Ministério do Equipamento, 1998)
Reabilitação é o termo usado com mais regularidade para o que
no sentido de origem, o conceito significa o restabelecimento dos
direitos. A reabilitação é a operação mais avançada para
simplificar as melhorias no habitat. Menos custosa que a
restauração, supõe trabalhos delicados, que frequentemente
desencorajam as ações do poder público.
2.2. Contextualização da Reabilitação na História da Europa
(Congresso Internacional de arquitetos e técnicos de
Monumentos históricos, cartas de Atenas, Veneza e
Cracóvia.)
Dada a abrangência do conceito de “reabilitação” são
apresentadas as convenções utilizadas a nível internacional pelas
diversas instituições da área, nomeadamente a International
Council on Monuments and Sites2 que recorre às Cartas de
Atenas, Carta de Veneza e Carta de Cracóvia,
2
O Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, em língua inglesa "International Council of
Monuments and Sites" , é uma associação cívil não-governamental, ligada à ONU, através da
Unesco. Tem sede em Paris, na França. instituição foi fundada em 1965, como resultado da
assinatura da chamada "Carta de Veneza" no ano anterior (1964). É responsável por propor os
bens que recebem o título de Património Cultural da Humanidade.
- 12 -
Capitulo 2.
fazendo uso das mesmas para contextualizar a história da
reabilitação na Europa (Instituto do património histórico artístico
nacional tradução das cartas mencionadas, disponibilizadas pelo
Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico,
2001).
Carta de Atenas
O evento que em Outubro de 1931 dá-se com o nome de
congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos de
Monumentos Históricos, teve como finalidade definir linhas
orientadoras e princípios a reger nas intervenções de conservação.
Este congresso como o nome da carta indica que teve origem em
Atenas, na Grécia e contou com a representação de vários estados
com o intuito de generalizar as filosofias de conservação do
edificado. O documento redigido como carta de Atenas tinha
como compromisso, assegurar uma adequada manutenção e
longevidade do património edificado, Le Corbusier 3 e outros
arquitetos e urbanistas de maior importância sugeriram e
recomendaram o respeito de carácter Histórico no sector privado,
expondo novas filosofias apresentadas, cada autoridade pública
do estado ganhariam o poder de intervir nos casos de urgência, na
conservação de monumentos pertencentes ao privado. Assim
definiram-se os princípios gerais relativos à conservação de
monumentos. Nota-se assim uma tendência para o abandono das
reconstituições integrais e considera-se que só a manutenção
adequada, regular e permanente pode assegurar a conservação
dos edifícios. Caso o restauro seja inevitável dever-se-á respeitar
a obra histórica ou artística, sem eliminar estilos de nenhuma
época. Definiu-se ainda o património como um testemunho do
passado, devendo ser respeitado pelo seu valor histórico ou
sentimental e pela sua virtude plástica. Nesse sentido, condena o
emprego de estilos do passado, sob pretexto estético, em
construções novas erguidas em zonas históricas, as quais se
tornariam falsificadas, ocasionando descrédito aos testemunhos
autênticos. A carta de Atenas protegia os monumentos de forma a
serem adequados a usos que respeitem o seu carácter, a fim de
assegurar a sua longevidade. Que deveria ser uma colaboração
multi-profissional de forma a vários tipos de técnicos
colaborarem com especialistas das diferentes áreas das ciências
com o intuito de complementar e abranger o maior número de
valências na reparação do edificado.
3
Charles-Edouard Jeanneret-Gris, ou Le Corbusier foi um arquiteto, urbanista e pintor francês de
origem suíça, considerado um dos mais importantes arquitectos do século XX.
- 13 -
Capitulo 2.
Recomendação 1º- "A colaboração, em cada país, dos
conservadores de monumentos e dos arquitectos com os
representantes das ciências físicas, químicas e naturais, para
conseguir alcançar métodos aplicáveis aos diferentes casos."
Recomendação 2º- "Ao Conselho Internacional de Museus que se
mantenha ao corrente dos trabalhos empreendidos em cada pais
sobre estas matérias e que lhes dê lugar nas suas publicações."
(Carta de Atenas, 1931).
A Carta de Atenas apresenta-se na altura como um documento
inovador, focando aspetos nunca mencionados em publicações
anteriores relativas ao património, e apresentando novas filosofias
a aplicar na conservação do edificado. Entre outras propostas
revolucionárias da Carta está a de que toda a propriedade de todo
o solo urbano da cidade pertence à municipalidade, sendo,
portanto público e que a manutenção cuidada é preferível ao
restauro, porque esta poderá anular importantes características
dos monumentos. E por fim constitui o primeiro documento
normativo internacional, resultando numa uniformização de
aspetos a implantar, pensados em conjunto para um melhor
entendimento e preservação da História e cultura Universal.
Carta de Veneza
O evento que em Maio de 1964 dá-se com o nome de 2º
Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos de
Monumentos Históricos, na cidade de Veneza em Itália, teve
como finalidade adequar a legislação existente bem como a
mentalidade da sociedade às necessidades impostas pela
arquitetura e urbanismo. A carta de Veneza define no segundo
artigo o conceito de monumento, aplicado a todo tipo de
construção, coletiva ou isolada, que caracterize uma identidade
civilizacional, não olhando à dimensão do edificado mas sim ao
seu valor cultural.
Artigo 2º - "A conservação e o restauro dos monumentos
constituem uma disciplina que apela à colaboração de todas as
ciências e de todas as técnicas que podem contribuir para o
estudo e salvaguarda do património monumental."
Artigo 11º - "Os contributos válidos das diferentes épocas
referentes à edificação de um monumento devem ser respeitados,
não sendo a unidade de estilo um objectivo a alcançar no
decurso de um restauro. Desde que um edifício comporte várias
épocas sobrepostas, a evidência de uma época subjacente não se
justifica senão a título excepcional e na condição de que os
elementos eliminados tenham pouco interesse, de maneira a que
a composição final constitua um testemunho de alto valor
histórico, arqueológico ou estético e que o seu estado de
conservação seja aceitável.
- 14 -
Capitulo 2.
O juízo sobre o valor dos elementos em questão e a decisão
sobre as eliminações a efectuar não podem depender unicamente
do autor do projecto."
Artigo12º - "Os elementos destinados a substituir as partes em
falta devem integrar-se harmoniosamente no conjunto,
distinguindo-se sempre as partes originais, a fim de que o
restauro não falseie o documento de arte e de história."(Carta de
Veneza, 1964)
Com o intuito de valorizar os monumentos, estabeleceram-se
então recomendações que contemplam o respeito do carácter e da
fisionomia das cidades, sobretudo no panorama do edificado
antigo. Desta forma o restauro será apenas de carácter excecional,
destinando-se a conservar e a realçar os motivos estéticos do
monumento, respeitando os materiais originais do edifício.
Quando não for possível restaurar o edifício recorrendo a técnicas
tradicionais, deverá ser feito uso das técnicas modernas.
Resultantes de um profundo estudo por parte de diversas
especialidades. Quando se torna necessário a substituição de
elementos, estes devem enquadrar-se harmoniosamente nos
edifícios, havendo distinção entre os originais e os novos, não
comprometendo a arte e a história do edificado. O principal
objetivo do documento, foi estabelecer uma responsabilização de
cada comunidade para a gestão dos seus próprios valores
culturais enquanto constituintes da sua própria identidade e
cultura
Carta de Cracóvia 2000
O evento que em 2000 ocorreu em Cracóvia, na Polónia dá-se o
nome de Conferência Internacional “Cracóvia 2000” teve como
finalidade discutir os temas anteriormente trabalhados na área da
Conservação do Património Cultural. A carta que resultou desta
conferência baseia-se em grande parte na Carta de Veneza, tendo
havido no entanto um aprofundamento da noção de conservação e
da necessidade da investigação. Devido à Europa caracterizar-se
pela diversidade cultural e pluralidade de valores fundamentais
associados ao património móvel, imóvel e intelectual, diferentes
significados originam em conflitos de interesse. Para
salvaguardar estes interesses do património cultural estabeleceuse uma maior atenção aos problemas e às decisões e objetivos a
serem tomados. O documento assume que a conservação pode ser
realizada através de diferentes tipos de intervenções, como a
manutenção, a reparação, o controlo do meio ambiente, o
restauro, a reabilitação, a renovação e a reabilitação. A
conservação do património deve ser executada de acordo com um
projeto, no qual conste uma estratégia para a preservação a longo
prazo.
- 15 -
Capitulo 2.
Objectivo 4 - "Devem ser evitadas reconstruções de partes
significativas de um edifício, baseadas no que os responsáveis
julgam ser o seu “verdadeiro estilo” A reconstrução de partes
muito limitadas, com um significado arquitectónico pode ser
excepcionalmente aceite, na condição de se fundamentar, em
documentação precisa e irrefutável. Se for necessário para o uso
adequado do edifício, podem-se incorporar elementos espaciais e
funcionais, mas estes devem exprimir a linguagem da
arquitectura actual. A reconstrução total de um edifício, que
tenha sido destruído por um conflito armado ou por uma
catástrofe natural, só é aceitável se existirem motivos sociais ou
culturais excepcionais, que estejam relacionados com a própria
identidade da comunidade local"(Carta de Cracóvia, 2000).
As técnicas a utilizar devem ser as resultantes da investigação
pluridisciplinar, sobre materiais e tecnologias usadas na
construção, reparação e restauro do património.
2.3. Contextualização do "urbanismo" em Portugal
O tema central da presente dissertação não é o urbanismo nem
tenta focar-se nele como tema principal, mas a sua
contextualização faz a ligação entre os programas e planos que
organizam o país e por consequência a cidade. António Baptista4
Coelho arquiteto, investigador do Núcleo de arquitetura e
urbanismo, refere que crescimento urbano verificado ao longo
das últimas décadas tem-se caracterizado, predominantemente,
pela expansão das periferias em torno dos principais centros
urbanos do país, Lisboa e Porto, bem como dos concelhos do
litoral, de Setúbal ao Minho, e da região Algarvia. Crescimento
esse realizado fundamentalmente com recurso a operações de
loteamento5 de iniciativa privada, caracterizando-se a atuação da
administração pública por uma grande ineficácia e ineficiência na
condução de todo este processo, e designadamente, na garantia de
produção de Planos de Pormenor e de Planos de Urbanização
necessários às dinâmicas de expansão urbana.
2.4. Reabilitação urbana em Lisboa
Paradigma da Conservação do Património Edificado e
Reabilitação Urbana.
Para se poder contextualizar a reabilitação urbana em Lisboa tem
de se perceber que a cidade é um elemento vivo e que este
coabita com estruturas antigas como formas de vida, ao mesmo
tempo que se adapta as novas estruturas que vão surgindo e
preenchendo os vazios, deixados pela História.
4
Investigador Principal com Habilitação (LNEC, 2007), doutor em Arquitetura, (FAUP 1995),
Arquiteto (ESBAL, 1979). Estudos: habitação e cidade, cidade informal, habitação e saúde,
2012/09; habitabilidade, reabilitação (Cova Moura) 2008; habitação humanizada, 2006; 20 anos de
habitação social portuguesa, 2005; gestão urbana, análises residenciais, 2004/95; qualidade
arquitetónica residencial, adaptabilidade, 1994/89; habitação evolutiva em Portugal.
5
Loteamento é a divisão de território em lotes destinados à edificação, com aberturas de novas
vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias
já existentes
- 16 -
Fig.
2
Mapa
de
risco/vulnerabilidade
do
Matiz
urbana. Reabilitação urbana em
Lisboa. Publicação 1.Pedra e Cal
“Salvaguarda
da
identidade
cultural.”
1-Inventário,
2-Variabilidade,
3-Valor,
4-Evacuação,
5-Geometria,
6-Estrutura,
7-Materiais,
8-Infra-estruturas,
9-Área Urbana
Capitulo 2.
"A conceção dos espaços
habitacionais tem de ser, por
um lado, objetiva, mas também
tem de considerar soluções
residenciais marcadas pelo
homem e pelo espírito humano.
Essa primeira linha de um
habitar
“quantitativamente
positivo".
António Baptista,p.1
Lisboa como boa parte das cidades europeias, mantêm ainda um
equilíbrio aceitável entre o fazer e desfazer, entre novas e as
velhas estruturas, o que é um bom sinal de cultura. O trabalho da
reabilitação Urbana é pois, por excelência, o de tutelar a
conservação dos legados e ambientes urbanos, integrando-os na
dinâmica de modernização da cidade. Por esta razão, um dos
principais desafios assenta na elaboração de projetos que
permitam estabelecer um equilíbrio entre a preservação das
memórias e dos vestígios materiais das vivências passadas. A sua
adequação a novos usos, tradição e modernidade deverão
conviver numa cidade que preza a sua longa história.
"As paisagens reconhecidas como património cultural são o
resultado e o reflexo da interação prolongada nas diferentes
sociedades entre o homem, a natureza e o meio ambiente físico.
São testemunhos da relação evolutiva das comunidades e dos
indivíduos com o seu meio ambiente."(Carta de Cracóvia, 2000)
Durante décadas Lisboa abandonou os seus centros históricos a
um processo de lenta mas "eficaz" degradação. Um modelo
desequilibrado de desenvolvimento produziu o crescimento de
uma malha periférica com cada vez maior densidade de
construção e diversidade, enquanto um número crescente de
habitações históricas ficavam devolutas. No presente e para o
futuro uma nova cultura urbana, tem de implicar uma visão
global da cidade, que se opõe ao crescimento, e sim um novo
olhar com atenção sobre a cidade existente (Cóias, 2003).
2.4.1. O Porquê da Reabilitação
Na atual conjuntura económica que se vive em Portugal, existem
grandes dificuldades para as famílias ou pequenas e médias
empresas terem condições para dinamizar/começar projetos de
reabilitação/restauro na cidade de Lisboa. Vivemos um período
da nossa história que nos leva a refletir e que deve servir para nos
unir, juntar sinergias e pensar na sustentabilidade económica, no
relançar do emprego nesta área, na utilização de produtos
nacionais, no potencial do incremento da procura turística e no
reforço da autoestima nacional ou continuar a deixar o nosso
Património a degradar-se e a construir novo edificado desprovido
de história ou cultura, a qual gasta mais matérias-primas e
energia.
"A construção é uma das atividade com maior impacto ambiental
.Esse impacto está, sobretudo , associado à construção nova , e
resulta do consumo de enormes quantidades de materiais , de
matérias primas e de energia. Os mais de 50 milhões de
toneladas de inertes são extraídos em pedreiras a céu aberto,
com uma enorme degradação da paisagem , de leitos de rios e
lagos e das praias.
- 17 -
Capitulo 2.
O fabrico industrial de materiais como o cimento , além da
extração da pedra em pedreiras , obriga ao consumo de grandes
quantidades de energia. Estima-se que , em Portugal , sejam
produzidos anualmente cerca de 10 MT de entulhos da
construção . Um tal volume de detritos cria problemas graves de
depósito e não é por acaso que no país proliferam os vazadouros
clandestinos, ao longo das estradas e caminhos , ribeiras, matas
e baldios.(...)" (Revista Pedra & Cal, Cóias, 1999)
Portugal, com a sua localização privilegiada e com o fantástico
clima que possui, poderá atrair milhares de pessoas que valorizem
esta qualidade de vida mas, para isso, tem de imprimir maior
preocupação na reabilitação e manutenção do nosso património
histórico, designadamente os monumentos nacionais, as cidades
reconstruídas e reabilitadas, bem como melhorar as condições de
atuação dos nossos agentes diretos.
“Degradação dos centros históricos”
(…)”Durante décadas , Lisboa abandonou os seus centros
históricos a um processo de lenta mas eficaz degradação . Um
modelo desequilibrado de desenvolvimento traduziu-se no
crescimento de uma malha periférica com cada vez maior
densidade de construção , enquanto um numero crescente de
habitações ficavam devolutas nos seus centros históricos.
(…)Uma nova cultura urbana , implicando uma visão global da
cidade , opôs ao crescimento indiscriminado uma nova atenção
sobre a cidade existente.”(…)(Revista Pedra & Cal, Cóias, 1999)
2.5. Programas de reabilitação em Portugal, RECRIA,
REHABITA, RECRIPH, SOLARH e ProReabilita.
Em Portugal as primeiras operações de reabilitação surgiram nos
anos 70, através do Decreto-Lei n.o 8/73, de 8 de Janeiro que
pretendia que as Autarquias e o Fundo de Fomento de Habitação
promovessem planos de reconversão para áreas urbanas
degradadas. Três anos depois através do Decreto-Lei n.o 704/76
de 30 de Setembro e, em 1988, dado que o programa não
satisfazia o mercado do arrendamento, foi criado o Regime
Especial de Comparticipação na Recuperação de Imóveis
Arrendados (RECRIA). Uma década depois foram criados outros
dois programas de reabilitação de edifícios, o Regime de Apoio à
Recuperação Habitacional em Áreas Urbanas (REHABITA,
1996) e o Regime Especial de Comparticipação e Financiamento
na Recuperação de Prédios Urbanos em Regime de Propriedade
Horizontal (RECRIPH, 1996) que resultavam num alargamento
do âmbito dos apoios à reabilitação, tentando preencher as
situações não contempladas das legislações anteriores.
- 18 -
Capitulo 2.
Por último foi criado o Programa de Solidariedade e Apoio à
Recuperação de Habitação Própria (SOLARH, 1999) que
começou com o objetivo de apoiar pequenas reparações de casas
habitadas por idosos, fora das áreas urbanas, sendo mais tarde
reformulado para promover a reabilitação do parque habitacional
no global. Em 2008, foi apresentado pelo Governo à época, o
Programa de apoio à Reabilitação (ProReabilita) sobre a gestão e
responsabilidade do Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana
que pretende concentrar num único, todos os programas até então
existentes(Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana, 2013).
"RECRIA"
O Regime Especial de Comparticipação na Recuperação de
Imóveis Arrendados (RECRIA) tem como objetivo financiar a
execução das obras de conservação e beneficiação que permitam
a recuperação de fogos e imóveis em estado de degradação,
mediante a concessão de incentivos pelo Estado e pelos
municípios. Poderão beneficiar dos incentivos previstos neste
regime as obras a realizar em edifícios que tenham pelo menos
uma fração habitacional cuja renda tenha sido objeto de correção
extraordinária nos termos da Lei n.º 46/85, de 20 de Setembro.
"REHABITA"
O Regime de Apoio à Recuperação Habitacional em Áreas
Urbanas Antigas (REHABITA), consiste numa extensão do
Programa RECRIA têm como objetivo apoiar financeiramente as
Câmaras Municipais na recuperação de zonas urbanas antigas. O
acesso ao REHABITA pressupõe a celebração de acordos de
colaboração entre o IHRU, as Câmaras Municipais e outras
instituições de crédito autorizadas.
"RECRIPH"
O Regime Especial de Comparticipação e Financiamento na
Recuperação de Prédios Urbanos em Regime de Propriedade
Horizontal
(RECRIPH)
tem
como
objetivo
apoiar
financeiramente a execução de obras de conservação nas partes
comuns de edifícios, constituídos em regime de propriedade
horizontal.
"SOLARH"
O Programa de apoio financeiro Especial para a Reabilitação de
habitações, permite a concessão de empréstimos sem juros pelo
IHRU; para realização de obras de conservação; em habitação
própria permanente de indivíduos ou agregados familiares; Em
habitações devolutas de que sejam proprietários os municípios, as
instituições particulares de solidariedade social, as pessoas
coletivas de utilidade pública administrativa que prossigam fins
assistenciais, e as cooperativas de habitação e construção; Ou em
habitações devolutas de que sejam proprietárias pessoas
singulares.
- 19 -
Capitulo 2.
ProReabilita
O programa ProReabilita certifica as obras de recuperação de
imóveis, dando acesso à atualização de rendas, no âmbito do
Novo Regime de Arrendamento Urbano (NRAU), a todos os
senhorios que as tenham realizado com o apoio deste programa.
Este programa substitui/preenche todos os programas de apoio à
reabilitação urbana (RECRIA, RECRIPH, REHABITA e
SOLARH) e gere subsídios a fundo perdido e empréstimos sob a
tutela do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU).
2.6. Novo Programa dos Regimes de Arrendamento Urbano
"NRAU"
É importante referir, e antes de avançar para a caracterização da
importância deste programa, que a necessidade de um quadro
legal capaz de responder de forma adequada às necessidades
específicas da habitação/reabilitação era indispensável. Em 1987,
Fonseca Ferreira já evidenciava a urgência de um quadro
institucional e legal que estimulasse e proporcionasse a defesa,
conservação e reabilitação e utilização funcional do património
habitacional porque o “congelamento” prolongado das rendas
tinha provocado danos incalculáveis sobre esse património. O
arrendamento numa cidade como a de Lisboa é fundamental para
uma cidade regenerada e autossuficiente. A crescente procura de
oferta de arrendamento e a ausência de resposta com preços
acessíveis demonstram que, a revisão do regime de arrendamento
urbano, ou seja, a criação do Novo Regime de Arrendamento
Urbano, era uma necessidade. Assim o NRAU visa centra-se na
dinamização do mercado de arrendamento, contribuindo assim
para a redução do endividamento das famílias e do desemprego,
na promoção da mobilidade das pessoas, na requalificação e
revitalização das cidades e na dinamização de atividades
económicas associadas ao sector da construção. Este proporciona
assim um mercado de arrendamento, em paralelo com os
programas de reabilitação anteriormente referidos, uma
quantidade de soluções de habitação às famílias que queiram
viver na capital de forma ajustada com os contractos atualizados.
Esta é feita com uma atualização extraordinária do valor da renda
de uma habitação. De acordo com os Censos existe uma clara
margem de crescimento para o mercado de arrendamento. Este
programa pressupunha, conferir uma maior liberdade às partes
envolvidas através do aparecimento de contractos de duração
variada, nomeadamente mais curtos e mais ajustados às
necessidades do arrendatário e do senhorio. As partes passam a
poder estipular livremente a duração dos contractos, não estando
sujeitas a um prazo mínimo. E ainda, caso haja a necessidade de
reabilitação o processo é agilizado de forma ao senhorio poder
proceder à demolição ou realização de obras de remodelação ou
restauros profundos, que impliquem a desocupação do locado,
através de mera comunicação entre ambos.
- 20 -
“O
baixo
nível
dos
arrendamentos, nos prédios mais
antigos, forneceu aos senhorios
argumentos (e pretextos) para a
não
realização
de
obras,
estimulou as demolições com vista
à construção de imóveis para
serviços ou novas habitações
isentos
de
qualquer
condicionamento no primeiro
aluguer
e
incentivou
o
“absentismo” habitacional, fator
que provoca uma degradação
mais rápida dos alojamentos”
(Fonseca, p. 103)
- 21 -
Capitulo 3.
Capitulo3. Património e estratégias usadas na
Reabilitação em Lisboa
Património
Este capítulo é dedicado ao estudo do que define o Património
edificado e a sua importância na cidade de Lisboa
complementado com os Programas e estratégias que são usados
para o defender e reabilitar.
3.1. O que é o Património e a Carta de Nara
"Património é o conjunto das obras do homem nas quais uma
comunidade reconhece os seus valores específicos e particulares
e com os quais se identifica. A identificação e a valorização
destas obras como património é, assim, um processo que implica
a selecção de valores."(Carta de Cracóvia, 2000)
Património. Do latim Patrimonium
1. “Conjunto dos bens de família transmitidos por herança.
2. Conjunto de bens próprios, herdados ou adquiridos.
3. Conjunto de bens materiais e imateriais transmitidos pelos
antepassados e que constituem uma herança coletiva. ”Compete
ao estado e a cada cidadão a salvaguarda e valorização do
património cultural +nacional, +mundial, +artístico,
+arquitetónico, cultural e natural.”
4. Dir. e Econ. Conjunto de Bens ou de direitos e obrigações,
com caracter pecunitário de que é titulo uma pessoa singular ou
colectiva , num dado momento.”
Significado transcrito a letra.
Definição do tema através de dicionário da Língua Portuguesa
Etimológica.Património. S. do Lat. Patrimonium «bens de
família, património» século XIII “mays se alugûa consa gaar ou
cõprar por razõ de ssy ou por herdar quê quiser o que llY
pronguea e quiser”»
Dicionário da Língua portuguesa Contemporânea, Versão
Academia das ciências de Lisboa edição Verbo.
O
s três diferentes tipos de definição, partilham o
reconhecimento de se tratar algo que é um bem material e
imaterial, e que estes têm igual importância. Se
compararmos o conceito Património construído, da cidade e da
sua arquitetura, por força da sua própria essência física e
funcional, a sua existência reflete o valor físico e material como
também o estilístico/época. O ato de intervir em defesa desse
Património, implica esforços para responder às exigências que o
mundo moderno impõe, e, sobretudo, não pode ser simplificada,
porque esta é a que preserva identidade cultural.
- 22 -
Capitulo 3.
A salvaguarda da herança dos valores patrimoniais numa maior
escala assenta no reconhecimento da própria história e cultura da
nação. Para o melhor esclarecimento deste conceito utiliza-se
referências da Carta de Nara de 1994. Tal como as cartas
anteriormente mencionadas e estudas, esta reflete sobre valor do
enquadramento proporcionado pela discussão do Comité do
Património Mundial em aplicar o exame da autenticidade por
uma forma que observe um total respeito pelos valores sociais e
culturais de todas as sociedades, no importante exame do valor
universal das propriedades culturais propostas para a Lista do
Património Mundial. Por esta lista tratar-se de uma visão sobre o
Património Mundial não se encontra em destaque como as
anteriores. Esta carta criada em Novembro de 1994 no Japão,
tinha como principal função organizar uma escala de verificação
de atributos para refletir a propósito das finalidades da
Autenticidade do Património Construído e método de atuação nos
mesmos. O conjunto de critérios técnicos e organizativos para
responder ao conceito do que é ou não Património é
preliminarmente incerto e moderadamente impreciso. Este
conjunto de critérios é suscetível de uma análise objetiva da
legitimidade de alguns dos seus componentes, confrontando-os
com outros fundamentos que poderão estar implícitos na
identidade do património.
Conservação "Todos os esforços destinados à compreensão do
património cultural, ao conhecimento da sua história e do seu
significado, à garantia da sua salvaguarda material e, se
necessário, à sua apresentação, restauro e valorização.
(Entende-se que o património cultural inclui monumentos, grupos
de edifícios e sítios com valor cultural conforme definido no
artigo primeiro da Convenção da Património Mundial)"
(Carta de Nara, 1994)
A definição de edifício com valor patrimonial, remete para o
conceito de património arquitetónico. Para edifício com valor
patrimonial adota-se a definição apontada na Convenção para a
Salvaguarda do Património Arquitetónico
art. 1º - “(…) a expressão ‘património arquitectónico’ é
considerada como integrando os seguintes bens imóveis: (…)
todas as construções particularmente notáveis pelo seu interesse
histórico, arqueológico, artístico, cientifico, social ou técnico,
incluindo as instalações ou os elementos decorativos que fazem
parte integrante de tais construções; (…)”, reiterando a
definição anterior da Carta Europeia do património
arquitectónico (1975, ponto 1) onde o conceito de património
arquitectónico tinha alargado o seu domínio tradicional, para
ser “constituído não só pelos nossos monumentos mais
importantes, mas também pelos conjuntos de construções mais
modestas das nossas cidades antigas e aldeias tradicionais
inseridas nas suas envolventes naturais ou construídas pelo
homem.” (Granada, 1985)
- 23 -
Capitulo 3.
Nota: Versão final do Documento de Nara usada foi editada pelos
redactores gerais da Conferência de Nara: Sr. Raymond Lemaire.
e Sr. Herb Stovel. Feiland, Bernard. Conservation of historic
buildings, Architectural Press, (1ª ed. 1982), Oxford, 2003.
3.2. Importância do Património Edificado
Para o esclarecimento deste tema é pertinente transcrever um
excerto da revista Pedra & Cal edição número 3 de 1999 Primeiro
ano no Capitulo “Património e Economia um casamento de
conveniência”. No qual Minja Yang, responsável para a região
asia-pacifico do World Herritage Center da UNESCO6 diz:
"(…) é preciso valorizar para conservar”. A valorização do
património cultural e em particular, do património arquitetónico,
tendo em vista a sua utilização para fins turísticos, é uma das
formas mais eficazes de estimular a sua salvaguarda e de criar
as receitas necessárias para o respetivo financiamento. O
“produto cultural” assim disponibilizado permite atrair um
maior numero de visitantes, revitalizar as comunidades locais
através da criação de novos empregos e engrossar as receitas do
turismo, que constituem , já hoje , uma das principais fontes de
divisas de muitos países. No entanto, uma exploração turística
desenfreada pode fazer perigar o equilíbrio, por vezes precário,
em que esse património se encontra, do mesmo modo que
critérios de intervenção desajustados podem ferir, de forma
irreversível, o caracter e a autenticidade dos monumentos e
sítios. O casamento entre património e turismo é , sem duvida ,
ditado pelo interesse. Mas nem por isso será menos durável e
frutuoso, se basear no respeito e numa visão de longo
prazo.”(…)
Esta afirmação de um órgão tão relevante como a UNESCO,
confirma que o Património Edificado pode ser também um
sinónimo de riqueza turística , uma fonte de riqueza não ativa. A
qual através da sua singularidade proporciona suficientemente o
seu interesse. “Síntese da apresentação feita pelo presidente do
Gecorpa no ciclo de debates do fundo de turismo – “ património
e Turismo” – a filosofia de intervenção, Técnicas e custos da
recuperação do património e o seu impacte no turismo".
“O património arquitectónico
construído encerra em si
componentes
que
exigem
abordagens
distintas,
multidisciplinares, mas cuja
eficácia é sempre importa de
uma forma rigorosa.”
Luís Pedro Mateus, p. 14
6
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO - acrônimo
de United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) fundou-se a 16 de Novembro
de 1945 com o objetivo de contribuir para a paz e segurança no mundo mediante a educação, a
ciência, a cultura e as comunicações. As actividades culturais procuram a salvaguarda do
património cultural mediante o estímulo da criação e a criatividade e a preservação das entidades
culturais e tradições orais, assim como a promoção dos livros e a leitura.
- 24 -
Capitulo 3.
3.2.1. Concorrência cultural
Vítor Manuel Bravo Cóias e Silva 7 expõem no seu artigo da
revista Pedra & Cal que já assiste-se, e assistir-se-á mais no
futuro, a uma competição entre destinos culturais, competição
que é facilitada pela crescente mobilidade das pessoas. A resposta
a esta crescente necessidade dos destinos culturais melhorarem a
sua competitividade encontra resposta na busca da qualidade. O
Grupo Europeu do Património, associação que agrupa a
generalidade das organizações profissionais europeias ativas na
salvaguarda do património cultural. Este grupo estima que, em
termos médios europeus, cerca de 30 % das motivações e dos
consumos turísticos são induzidos direta e indiretamente pelo
património. o autor refere que o conselho mundial do turismo,
estima que, a nível internacional, 37 % das viagens tenham uma
conotação cultural. Assim, oferecer ao visitante um produto de
autenticidade duvidosa “gato por lebre”, é ofender e enganar a
sua inteligência e, talvez, afastá-lo para sempre. É pois evidente
em conservação e restauro do património arquitetónico, a
qualidade não existe sem autenticidade”(Cóias, 1999).
3.3.2.Autenticidade como valor cultural
Os limitados meios tecnológicos disponíveis levavam, no
passado, a que as intervenções de reabilitação em construções
existentes fossem feitas com recurso técnicas e materiais
originais. Qualidade/benefício que possibilitou a lenta
consolidação do carácter daquilo que, para as atuais e futuras
gerações, constitui um precioso património cultural. O fenómeno
“ betão armado” alterou completamente este cenário, sobretudo a
partir dos anos trinta. Com ele, as intervenções tornaram-se,
frequentemente, atentatórias do carácter dos monumentos e dos
centros históricos. Um dos critérios hoje seguidos na conceção
das intervenções é a redução da sua “invalidade”. A intervenção
deve ser o menos invasiva possível, isto é, deve envolver a
mínima perturbação possível da integridade e da estabilidade da
construção(Cóias, 1999).
Estratégias usadas para a Reabilitação
3.4.livrete do edifício
Indicadores do estado e gestão
A análise desta ferramenta urbanística que visa gerir e preservar o
edificado Lisbonense tem como finalidade, estabelecer contacto
entre os edifícios referentes à cultura da cidade, e as entidades
que os têm de conservar.
7
Engenheiro civil, membro sénior e especialista em estruturas pela Ordem dos Engenheiros, e
dedica‐se à área da reabilitação de edifícios e outras construções há mais de trinta anos. Fundou,
em 1997, oGECoRPA – Grémio do Património, uma associação empresarial dedicada à área da
reabilitação, em geral, e à conservação do património arquitectónico, em particular, entidade que
agrega já cerca de quarenta empresas. No âmbito desta associação dirige a revista especializada
“Pedra & Cal”, que se publica, sem interrupção, desde 1998
- 25 -
Capitulo 3.
Esta ferramenta é o que os distingue no singular e o que os une
em conjunto. Por isso é feita a seguinte análise.
O que é o livrete do edifício?
O livrete do edifício é um catálogo permanente e ativo, capaz de
assegurar a monitorização não só de uma fração habitacional ou
comercial, mas também de um edifício singular e de um
quarteirão no seu todo.
Originalmente foi criado como instrumento de avaliação e estado
de conservação da baixa Pombalina de forma completa e
sistemática. Pretendia-se, com este documento obter os
indicadores necessários para compreender os problemas com que
a baixa Pombalina se debatia e debate quotidianamente,
estabelecendo assim uma contextualização global dos problemas
e estado de conservação. Quando se começou a fazer as primeiras
vistorias sistemáticas da zona, revelou-se pertinente conhecer
experiências equivalentes mais próximas não só geográficas
como tipológicas. Percebendo que o mesmo trabalho e processo
já estariam a ser usados estudou-se os casos mais próximos de
cidades com a mesma morfologia. Foi assim possível constatar
que em Espanha, e em particular em Madrid, é desde 1999
obrigatória a Inspeção Técnica dos Edifícios, que certificam seu
estado de conservação relativamente a quatro aspetos:
1. Estado geral da estrutura e das fundações.
2. Estado geral das fachadas exteriores, do tardoz8 e das paredes
partilhadas dos edifícios.
3. Estado geral da conservação das coberturas e do sistema de
drenagem.
4. Estado geral das canalizações e da rede de saneamento do
edifício.
Esta inspeção, obrigatória para edifícios com mais de 30 anos,
baseia-se numa análise visual mas que prevê a realização de todos
os testes e sondagens complementares que se considerem
necessários para avaliar o estado de segurança construtiva de
cada um dos elementos. O Município de Madrid tem o poder de
definir quais os edifícios que devem ser sujeitos a esta análise,
procedendo, para o efeito, ao envio de uma carta registada ao
proprietário em que é fixado o prazo para cumprir esta obrigação.
Qual foi o objetivo primordial deste documento?
O documento tem como objetivo responder a estas várias
exigências mas também em conjunto tentar abraçar a
complexidade das várias perspetivas de avaliação do património
arquitetónico.
1. Superfície exterior e convexa de uma abóbada ou arcada.
2. Face tosca da pedra de cantaria que fica para o lado de dentro da parede.
3. Lado ou fachada de um edifício que se opõe ao lado ou à fachada do lado da rua ou da fachada
principal.
- 26 -
Capitulo 3.
Em que consiste o livreto?
O livreto tem de ser primeiramente preenchido sobre um conjunto
de dados de carácter geral relativos à localização: uso, idade,
morfologia geral, condições de habitabilidade relativa a cada
fração, níveis de classificação e proteção patrimonial. Depois
desta introdução seguem-se um conjunto de oito fascículos. Cada
um destes fascículos pretende:
1.Aprofundar a situação jurídica e institucional do edifício,
através de uma análise processual, em particular o registo
cadastral, as licenças de habitação, as licenças existentes para o
projeto inicial, para as variantes e para as alterações e a
identificação de servidões.
2.Analisar a situação económica do edifício, sobretudo no que
respeita às frações devolutas e ao tipo de propriedade da mesma.
3.Analisar o estado de conservação arquitetónica, em particular às
condições dos revestimentos das fachadas, à existência de
elementos dissonantes, de elementos arquitetónicos acrescentados
ou demolidos, á conservação das coberturas e dos sistemas de
drenagem pluvial e também à ocupação abusiva nas fachadas.
4.Recolher a informação relativa à segurança estrutural do
edifício, no que se refere a projetos e a estudos estruturais e
geotécnicos existentes, à orografia do terreno de implantação, à
tipologia e ao estado de conservação das estruturas, das estruturas
horizontais, das coberturas, dos terraços e das escadas,
permitindo também o registo das patologias e lesões estruturais
mais importantes e a sua relação com alterações introduzidas ao
longo do tempo.5.Avaliar a segurança contra o risco de incêndio,
em especial o número e a localização das escadas e das boca-deincêndio. O fascículo tem de se encontrar devidamente
preenchido para a obtenção da licença de habitação ou de uso. A
partir da análise destas duas experiências, foi possível então
equacionar o tipo de instrumento que seria mais apropriado para a
Baixa Pombalina. Foi assim tomando forma a ideia de um
“Bilhete de Identidade do edifício”, em que fosse registada a sua
origem, evolução e características atuais, e que permitisse
posteriores atualizações, acompanhando a vida de cada edifício;
um Bilhete de Identidade que, com o tempo, passasse a constituir
uma base de dados útil para o inventário arquitetónico da Baixa
Pombalina; uma fonte de informação atualizável constante, que
em qualquer momento permitisse fornecer informações diversas,
segundo “filtros” diferentes, consoante a necessidade relativa de
cada situação/edifício. A reabilitação da Baixa Pombalina
necessita de dispor em tempo real de indicadores operativos de
naturezas muito diversas. Estes indicadores permanentemente
atualizados permitirão definir as prioridades das intervenções a
todos os níveis e momentos.
- 27 -
Capitulo 3.
Para que serve esta monitorização constante dos edifícios?
Havendo a possibilidade de ver os graus de estado de
conservação de cada um dos edifícios, em caso de emergência
e/ou segurança no que respeita a presença de equipamentos
inflamáveis ou à inexistência de saídas, esta monitorização pode
prevenir incêndios de grande escala, a permanência de residentes
não autorizados e analiticamente saber qual é o período que este
edifício se pode manter vertical, ou seja a estimativa de colapso
ou potencial perigo para os utentes da via pública.
Assim são estipulados mais quinze fascículos para catalogar o
edifício(complementares);
6.Reflectir a funcionalidade a nível dos acessos, em particular a
localização, a capacidade dos elevadores, a presença de barreiras
arquitetónicas para deficientes, a existência de parques de
estacionamento no interior do edifício ou o número de lugares
disponíveis na via pública;
7.Analisar a funcionalidade a nível dos equipamentos.
Neste fascículo são registados os dados relativos à localização e
ao estado de conservação das redes de abastecimento de água, de
esgotos, das instalações elétricas, de gás, das telecomunicações e
elevadores. Nele encontram-se também registados dados que
permitem a avaliação do nível de conforto térmico e acústico de
cada apartamento.
8.Recolher a informação relativa às condições higiénicosanitárias dos edifícios, em particular a situação dos certificados
de inspeção sanitária das frações comerciais, das instalações
sanitárias. Este fascículo é feito conforme o no Regulamento
Geral de Edificações Urbanas. No que se refere à classificação de
“mau”, “médio” e “bom” na avaliação do estado de conservação
do edifício, está implícita a utilização dos diversos níveis de
reabilitação(profunda, média ou ligeira).
Qual foi o resultado deste instrumento de catalogação na cidade
e mais precisamente na rua em que se encontra o edifício
estudado na dissertação?
Tendo em conta estes critérios e a sua utilidade, foi dedicada uma
aplicação do livrete que serviu sobretudo para utilizar o protótipo
ou matriz para a elaboração de fichas simplificadas. Estas fichas,
destinadas a recolher essencialmente os dados fora do gabinete,
durante as vistorias, limitaram-se a abordar os aspetos que se
revelaram prioritários para as intervenções que têm vindo a ser
realizadas na zona, entre as quais a mega empreitada para a Rua
da Madalena. As fichas permitiram recolher a informação relativa
sobretudo ao fascículo 3 e ao fascículo 6. Para o preenchimento
dos restantes fascículos será agora necessária a contribuição de
técnicos dos domínios da engenharia estrutural, geotécnica,
eletrotécnica e mecânica, assim como de técnicos dos Bombeiros
e de técnicos especializados na inspeção sanitária de imóveis. As
principais técnicas são não-destrutivas, semi-destrutivas e
destrutivas de levantamento, inspeção e ensaio tendo em vista
intervenções de reabilitação estrutural e construtiva.
- 28 -
Capitulo 3.
Começa-se por apresentar a metodologia e os procedimentos a
adotar com vista à recolha de informação que é necessário fazer
antes de intervir, nesse âmbito, no edifício existente. Descreve-se,
sumariamente, um conjunto de levantamentos, inspeções e
ensaios levados a cabo em vários edifícios da Baixa Pombalina,
visando os aspetos construtivos e estruturais, e a caracterização
dos materiais e das suas anomalias.
Qual a metodologia usada para o fazer?
Por não se estar a falar de construção nova, em que, para além da
recolha documental, a informação a obter localmente visa apenas
a topografia e as características do terreno, as intervenções de
reabilitação ou de simples manutenção fazem apelo ao
conhecimento da geometria, das propriedades, do estado de
conservação das construções, dos materiais que as constituem e
das ações a que estão submetidas.
No caso mais geral, a avaliação do estado ou do comportamento
de uma estrutura, através de uma intervenção de inspeção ou
monitorização, pode ser ditada por várias razões.
Estas podem ser:
1. Inspeções, regulamentar ou de rotina;
2. Existência de sintomas, de deteriorações ou defeitos visíveis ou
suspeitos;
3. Ocorrência de danificações.
4. Alteração da geometria, do uso da estrutura ou das ações que
sobre ela atuam.
5. Exigências de maior capacidade resistente.
A recolha de informação sobre uma construção ou estrutura e a
sua envolvente é, portanto, ditada pela necessidade de construir e
explorar esse modelo. Tal recolha pode iniciar-se pelo
levantamento da própria definição geométrica da estrutura. Essa
recolha tanto pode ser feita sobre uma estrutura sã e intacta, tendo
em vista o estudo de eventuais alterações da sua própria
constituição ou das ações a que está sujeita, como sobre uma
estrutura afetada na sua capacidade de desempenho por
modificações, acidentes ou outras formas de deterioração.
Existem muitas técnicas para obter a informação necessária para
uma avaliação do estado de uma construção desde a simples (mas
fundamental) inspeção visual, até aos ensaios, em laboratórios
especializados, sobre amostras de materiais ou partes da
construção recolhidas em obra. Os ensaios laboratoriais
permitem, usando métodos consagrados pela experiência, obter
valores para a resistência à compressão, à flexão e ao corte, bem
como das características elásticas dos materiais. Esta abordagem
“destrutiva” não é, no entanto, viável, no caso de:
1.A construção possuir um elevado valor histórico, não sendo
aceitável a remoção de amostra de grandes dimensões
2. As características do material a estudar serem tais que não é
fácil a remoção de amostras como argamassas ou estuques.
- 29 -
Capitulo 3.
3. A grandeza em estudo não poder ser medida em amostras, por
exemplo, a tensão.
Nestes casos recorre-se a determinações indiretas que permitem
estimar as propriedades em causa, baseando-se, sobretudo, na
inspeção e ensaio do próprio objeto de estudo. A inspeção mais
simples é a feita visualmente, a olho nu ou com o auxílio de
dispositivos óticos que potenciem a capacidade visual. Este tipo
de inspeção aplica-se, sobretudo, à avaliação das características
geométricas da estrutura e à identificação genérica dos materiais
que a constituem e dos sintomas patológicos eventualmente
existentes. O que proporciona e resulta nesta análise dos materiais
e da sua presente composição?
1. Avaliar a capacidade de desempenho da construção.
2. No caso de existirem danos, deficiências ou anomalias,
determina-se as causas, possibilitando, assim, uma intervenção
mais adequada.
Avaliar corretamente a importância e a extensão das degradações
existentes.
4. Adotar medidas corretivas menos intrusivas e melhor
adaptadas.
5. Definir e planear atempadamente as intervenções.
6. Monitorizar o comportamento dessas intervenções.
(Mascarenhas, 2004)
Nota: Existem normas internacionais que definem quais os
requisitos a que, neste sentido, devem obedecer as entidades ao
seguirem os pontos anteriores.
3.5.Manual de Boas Práticas
As boas práticas de intervenção definidas pelo manual de Boas
Práticas privilegiam as ações das fases de Análise e Diagnóstico.
Destinadas a identificar e caracterizar as anomalias e o estado de
conservação do edifício, contribuem decisivamente para se atingir
a execução adequada dos trabalhos e o controlo dos custos. As
fases que se aplicará no Projeto são: Análise/levantamento,
Análise/Diagnóstico, Programa e Projeto. Na fase de Análise e
Levantamentos, faz-se a aproximação ao caso de estudo,
relativamente aos aspetos históricos, arquitetónicos, morfológicos
e construtivos do edifício, procedendo à caracterização histórica e
documental, que inclui a análise à envolvente urbana e origem do
edifício. Em conjunto da caracterização tipo-morfológica e
construtiva (que inclui fichas de levantamento dos
compartimentos) e levantamento das anomalias. Na fase de
Diagnóstico far-se-á um relatório sobre o estado geral do edifício,
configurando as necessárias recomendações para corrigir as
anomalias detetadas. Estas anomalias deverão ser avaliadas em
fichas específicas, com distinção de elementos funcionais e
estéticos para posterior avaliação.
- 30 -
Capitulo 3.
Na fase de Projeto deve enquadrar-se o projeto de restauro
integrado no projeto global de reabilitação, onde se modelam as
medidas corretivas recomendadas de forma a adapta-las às
exigências do programa do projeto propriamente dito, tendo em
conta os aspetos de ordem metodológica e conceptual, de ordem
jurídico/administrativos e de ordem económica. As outras fases
são, obra/acompanhamento e monitorização/manutenção.
Na fase de Obra e Acompanhamento, é feita a escolha de uma
equipa especializada em intervenções no património (quer para a
elaboração do projeto, quer para a execução da obra)
complementada por uma comissão técnica de acompanhamento
que tem como objetivo a salvaguarda de valores patrimoniais
denunciados durante a obra, contribuindo para o sucesso da
intervenção. Após a conclusão da obra, é importante garantir a
Monitorização e Manutenção, já que garantindo um bom plano de
manutenção, com intervenções de inspeção/intervenção, a
maioria das degradações mais comuns podem ser evitadas,
evitando-se operações de reabilitação profundas ou a perda das
estruturas que consistem o património arquitetónico(Reabilitação
Urbana, Baixa Pombalina, Câmara Municipal de Lisboa,
Licenciamento Urbanístico e reabilitação Urbana, 2005).
A metodologia de reabilitação proposta foi desenvolvida
com base nos estudos de Garcia (Cabrita,1993, p.130),
Paiva et al (2006, p.295), Cóias (2006, p.11) e Feilden
(2003) Segundo a convenção para salvaguarda do
património arquitetónico da europa de Granada, em 1985,
artigo 11.
A metodologia aplicada nos casos de reabilitação
arquitetónica, é dividida em 6 passos fundamentais:
1.Estudos Prévios de reconhecimento,
2.Análises/levantamentos,
3. Diagnóstico,
4. Projeto de reabilitação + Projeto de restauro,
5. Obra e Acompanhamento,
6. Monitorização e Manutenção. Estes seis passos, eram os
passos a que seguir resultaria num projeto de reabilitação.
Fig. 3 - Tabela e Metodologia a aplicar
na reabilitação arquitetónica criação do
autor , baseado na revista Pedra & Cal ,
titulo: A caminho das boas Práticas,
Bons
exemplos
de
associados,
Conservação do património Numero 49
ano XIII.
3.6.Níveis de conservação (âmbito, Natureza e Grau de
Profundidade)
Cada intervenção de reabilitação de um edifício ou conjunto de
edifícios pode, à partida, ser caracterizada pelo conjunto de três
atributos, Âmbito, Natureza e Grau de Profundidade. Por âmbito
entende-se o campo em que a intervenção se vai realizar ou
programa que ele visa abranger. A natureza como o seu próprio
nome indica, é de onde surgem as anomalias, o local especifico
onde surgiu as primeiras patologias, que em alguns casos acabam
por originar diversos problemas mais complicados.
- 31 -
Capitulo 3.
O terceiro, Grau de Profundidade, caracteriza-se de intervenção
ligeira ou superficial, extensa ou profunda. Dentro do conceito
genérico de “reabilitação” de um edifício ou conjunto de
edifícios, existem vários tipos de intervenções que diferem muito
umas das outras por vários pontos de vista, designadamente em
termos de volume de trabalho, complexidade de gestão, exigência
técnica e risco (Reabilitação Urbana, Baixa Pombalina, Câmara
Municipal de Lisboa, Licenciamento Urbanístico e reabilitação
Urbana, 2005).
Metodologia usada no Plano de ordenamento de Lisboa.
Como fundamento dos processos específicos para a reabilitação
do edificado histórico em Lisboa são seguidos os critérios do
“Plano de ordenamento de Lisboa”. Este plano no contexto da
cidade, é também aplicável no estudo e reabilitação do edifício
em particular. As novas diretrizes deste plano adaptam-se à
evolução do habitar contemporâneo. Assim para a escolha do
edifício a estudar e respetivo apartamento, segue-se os critérios
que a "cidade" usa para avaliar os seus imóveis. Os critérios são:
Levantamento:
Elemento de trabalho que deve ser suficientemente abrangente
para constituir em recolher os dados e registos que vão permitir a
elaboração do diagnóstico.
-Usos dos edifícios
-Valor patrimonial
-Condicionamentos legais
-Tipologias dos edifícios
-Identificação das patologias
Diagnóstico:
Fundamental para definir o programa de intervenção Programa
este serve para equacionar alternativas á solução final. Deve ter
em considerações o Diagnóstico: do edifício, assim como as
questões de natureza patrimonial que podem condicionar o
sucesso da operação.
-Reabilitação de estruturas e fundações
-Consolidação ou reforço de elementos
-Demolição com contenção de fachadas
Projeto:
A última fase onde a sua qualidade encontra-se na
pormenorização do espaço, no mapa de quantidades técnicas
especiais (respeitar as suas características), e respeitar os prazos
da obra.
-Arquitetura
-Especialidades
-Memória descritiva
-Condições técnicas
-Mapa de quantidades
-Peças desenhadas
- 32 -
- 33 -
Capitulo 4.
Capítulo 4. Problemática do Edificado Degradado e os
Interiores
Este capítulo é dedicado à análise da problemática do edificado
histórico, as origens, as patologias relacionadas e as
consequências da reabilitação desprovida do estudo de temas
como os materiais e estruturas que compõem no seu conjunto a
complexidade destes imóveis.
Problemática do edificado Degradado
4.1.O Problema Conceptual
falta de conhecimento nas áreas de Reabilitação e,
consequentemente a perda da importância e sentido
devem-se à “dificuldade conceptual”. Na génese desta
problemática encontra-se o forte estímulo para o desafio que se
pretende analisar. Quem projeta (sujeito), carece muitas vezes de
conceitos e técnicas que lhe permitam descrever e investigar as
diversas ordens espaciais, os centros sistemas complexos que
constituem as cidades. Se não entenderam a sua lógica espacial,
não poderão desenvolver o conhecimento sobre as consequências
sociais. A dificuldade aumenta pelo facto de a arquitetura
partilhar muitas outras plataformas de conhecimento. Entender os
tipos e as inter-relações espaciais constitui uma árdua tarefa no
aumento do conhecimento (sistemas). Toda a arquitetura se
desenvolve nesse sentido. Da organização do espaço explorado
pelos teóricos dos anos 60, passou-se ao entendimento do projeto
sob diferentes "pontos de fuga", identificando sistematicamente
os problemas e as suas causas, em especial, os de carácter sócio
cultural. É no espaço e na sua organização que as propriedades
dão sentido à forma (Projeto). Manter e controlar os padrões de
movimento e a conduta dos indivíduos no espaço, é o que
organiza o espaço de forma a condicionar os efeitos da
localização e das atividades populacionais (Papel de quem
Projeta). Estas atividades são o que determina a área e,
consequentemente o que determina os indivíduos que a estão a
usar. As cidades formam utentes do espaço urbano não só pela
composição da morfologia da cidade mas também pela
arquitetura (Cóias, 2003).
A
4.2.Edificado degradado e Consequências
A cidade de Lisboa e por consequência os bairros históricos como
o estudado estão em constante degradação devido a sua idade e
materiais centenários. É necessário por estas razões haver uma
constante manutenção, nos seus interiores e exteriores. Esta
degradação nos imóveis cria espaços inabitáveis na cidade,
edifícios históricos abandonados e por consequência a cidade
perde residentes.
- 34 -
Capitulo 4.
A População residente de Lisboa segundo o INE 9, perdeu nas
últimas décadas, cerca de 300.000 habitantes para os concelhos
limítrofes. A cidade possuía, no início da década de 2000,
564.657 habitantes (Censos10 de 2001), tendo este número
descido para 474.697 (2010/2011). A sua estrutura demográfica
apresenta uma estrutura etária envelhecida 24% da população tem
mais de 65 anos (em 1981 tinha 14%), 53 % situa-se na faixa
entre os 25 e os 64 anos, 9% entre os 15 e os 24 anos e 13 % com
menos de 15 anos. O envelhecimento demográfico da população
na cidade de Lisboa dificulta a própria reabilitação pois um dos
problemas do processo da reabilitação deve-se ao "fator humano"
. Quanto mais envelhecida são os residentes de um edifício a
reabilitar mais dificuldades tem os residentes de se separar das
residências e deixar as obras avançarem.
"Os princípios básicos que sustentam a génese da reabilitação
urbana na cidade de Lisboa, de acordo com Mendonça dia, chefe
da divisão de apoio técnico, prendem-se com o indissociável
factor humano. Os edifícios dos bairros históricos são
maioritariamente ocupados por pessoas idosas, grande parte
delas desfavorecidas economicamente."
"Casos há em que são concedidos apoios às famílias para
encontrarem um alojamento durante o período da intervenção
física. No caso de pessoas idosas, extratos populacionais que
requerem cuidados vários, podem ser provisoriamente orientadas
para um lar, ou assegurados os seus laços com os centros de dia,
não se diluindo o contacto social com os vizinhos. São ainda
cauteladas situações, nomeadamente em relação às crianças
garantido a sua continuação na escola do bairro. Todo este
trabalho de acompanhamento implica, também, proporcionar as
pessoas deslocadas do bairro de origem o conhecimento da
evolução de toda a intervenção. De um modo geral afirma
Mendonça Dias "" Todo o período de expectativa que as pessoas
têm em relação ao fogo de chegada, passa por um processo de
maturação, culminando num momento de satisfação aquando da
entrega da chave da residência, contando-se, simultaneamente a
disponibilidade espontaneamente de encarar a apropriação e
utilização do espaço com alguma atenção, o que muitas vezes ,
compreende-se não era levado em conta , face a própria
ambiência do estado de degradação em que se encontravam a
residir"". É por isso tarefa importante incutir a ideia de que não
é só do serviço público a responsabilidade da preservação destes
espaços ." (Cóias, 2003).
9
Instituto Nacional de Estatística
A maior fonte de informação Nacional sobre a população, a família e a habitação.
10
- 35 -
Capitulo 4.
Em relação á estrutura social a população da cidade de Lisboa é;
38,7% pertence à classe alta e média alta, 25,7% à classe média e
35,6% à classe baixa e média baixa. Como consequência desta
espiral de pobreza, afastamento de residentes e aumento da
população envelhecida o número de edifícios degradados e
devolutos é cerca de 55.000 edifícios, 6.369 estão em mau ou
muito mau estado de conservação, ou seja 21% dos edifícios
encontram-se degradados. Atualmente (2013/2014), 9% dos
edifícios de Lisboa (cerca de 4.681/ +) encontram-se
devolutos(Instituto Nacional de Estatística, 2014).
4.3.Patologias associadas à Conceção
É seguro afirmar que em qualquer tipo de construção os erros
construtivos, humanos, materiais ou mecânicos estão sempre
presentes. Segundo texto retirado da revista Pedra & Cal, “Erros e
defeitos na Reabilitação dos edifícios e na conservação e
Restauro do Património Edificado” encontra-se um pormenor de
interesse para a tese, ao qual o autor/entrevistado se refere. Os
erros e defeitos são inevitáveis a qualquer obra. Esta é uma
afirmação mostra que por muito pormenorizado que seja o
projeto de reabilitação e restauro, sucedem-se sempre
eventualidades na aplicação de materiais, na recuperação de
estruturas e outros inconvenientes para os quais tem de se estar
preparado.
Página 2 - (…)“ Que os erros e defeitos são inevitáveis e que
todos os cometemos e possuímos , ninguém o duvida. Por
consequência, toda a atividade humana é sujeita a erros e todo o
produto dessa atividade pode apresentar defeitos. A construção
é, no entanto uma área de atividade onde uns e outros
proliferam, atingindo indistintamente a construção nova, a
reabilitação das construções existentes e a conservação do
património histórico construídos.”(…) (Cóias, 2003)
Página 7 - (…)“Os erros nas construções novas, todos os
sentimos no nosso quotidiano , são as infiltrações e as humidades
lá em casa , e a falta de durabilidade dos acabamentos e
revestimentos e todo um rol de grandes e pequenos defeitos e
insuficiências que não deviam existir, numa época em que ,
noutros sectores da atividade humana, assistimos a verdadeiros
prodígios. Nas intenções de reabilitação das construções” (…)
(Cóias, 2003)
- 36 -
Capitulo 4.
4.3.1. Patologias associadas à Conceção na Arquitetura
Pombalina
Segundo a reabilitação de edifícios habitacionais com valor
patrimonial no artigo "A importância da aplicação de uma
metodologia de boas práticas de intervenção" no qual a autora
Mariana Morgado Pedroso, segundo caso trabalhado por Barata
Salgueiro11(1997), no século XVIII, esta realidade(as patologias
originarias à conceção) não eram diferentes, no tipo arquitetónico
habitacional, a má qualidade dos materiais empregues, a não
conformidade entre o projetado e o executado, a mão-de-obra não
qualificada, a má interpretação do projeto, culminavam em
anomalias estruturais e edifícios desequilibrados. No entanto
estas questões não se podem extrapolar para a época de
construção pombalina, pois esta é caracterizada por ter uma mãode-obra especializada e um plano específico que não deixava
muita margem para erros. A principal anomalia deste tipo
arquitetura é a irregularidade em altura. Nestes edifícios a
estrutura acima do piso térreo é constituída por gaiola de madeira
em que apenas as paredes exteriores como a fachada, são de
alvenaria, enquanto que abaixo dos apartamentos a estrutura é
composta por arcos, pavimentos e paredes apenas de alvenaria.
Os edifícios que seguem esta composição têm a parte superior
muito mais flexível do que a subjacente. Perdem assim rigidez.
Esta é a diferença que pode ser considerada hoje em dia como
uma insuficiência estrutural, devido ao avanço do conhecimento
de dinâmica e de engenharia sísmica. As deficientes ligações
entre o piso térreo e a estrutura de gaiola são outro dos erros
encontrados. A ligação mal efetuada pode ser problemática
localmente, mas, exceto em casos críticos, não afeta globalmente
o edifício, podendo até observar-se várias falhas e faltas de
elemento. Isto deve-se ao facto da estrutura ter boa capacidade de
redistribuição de esforços(Mariana, 2008).
Fig. 4 - Exemplo de choque entre
fachadas Pombalinas na Baixa
Chiado, Rua da Madalena Lisboa,
Registo do autor.
4.4.Choque entre as velhas e novas fachadas.
Muitas das construções novas em Lisboa, realizadas em áreas
centrais que mantêm a altura dos edifícios envolventes, expõem
fachadas que não se harmonizam com o conjunto dos
componentes urbanos onde se inserem. Ignorando-se programas,
técnicas, regras de composição e estética, os próprios materiais e
cores tradicionais são o que por vezes ainda expressam maior
contraste. Havendo dificuldade em construir elementos
arquitetónicos, compatíveis com a enorme diversidade de
elementos enriquecedores das fachadas dos edifícios tradicionais,
(elementos de ordem arquitetónica, tais como os ritmos dos vãos,
texturas, embelezamentos, socos12, beirais13, platibanda14, etc.)
11
Professora Catedrática e presidente da Direcção da APG integrou o grupo que preparou o
Congresso da Geografia Portuguesa escreveu "Declínio e revitalização do centro de Lisboa" (FCT,
1999-2003 entre outros, como o trabalhado.
12
Faixa horizontal, com ou sem pequena saliência, pintada na base de um edifício com cor diferent
e da cor predominante da fachada
13
Aresta inferior do telhado
- 37 -
Capitulo 4.
opta-se assim em muitos casos, pela já referida nova fachada
simplista. A sua composição, por vezes incompleta, não tem em
conta a legítima especificidade da planta térrea, já que é assim
que o edifício “fala” ou se apresenta ao espaço público. Este
choque nas fachadas é provocado por um outro tipo de soluções
alternativas, de cariz pós moderno, em que se protagoniza o
excesso de diversidade de cores, de materiais, de como estes são
empregues e do seu simbolismo, na história, na paisagem pública
e na cultura da cidade.
4.4.1.Problemas de Escala
A dimensão de muitas unidades elementares da cidade moderna
compreende, em geral, edifícios elevados, segundo o alinhamento
“natural” primeiramente projetado. Na rua da Madalena, apesar
do seu declive acentuado, esta questão não se coloca devido à
preservação de cotas, e quando em alguns casos foi adicionado
varandas ou sótãos, não existiu uma manipulação exagerada das
mesmas. Os edifícios originários não deram lugar a torres ou
blocos que quebrem o ritmo das massas edificadas. Os tipos
edificatórios, construídos sobre as parcelas, estão vinculados ao
tamanho e disposição destas. Com efeito, a individualidade da
parcela da cidade tradicional e a estreiteza da sua fachada
favorecem a diversidade e a semelhança das soluções Pombalinas
(ritmo nas cotas).
4.4.2.Erros Cometidos nas Fachadas Pombalinas
As intervenções que, com mais frequência, tem contribuído para
a descaracterização das fachadas são; o aumento posterior do
número de pisos, estabelecendo os tais conflitos anterior
mencionados, com os restantes edifícios adjacentes. O autor Vítor
Cóias na obra "da Baixa ao campo Grande, do século XVIII ao
século XX, Um novo modelo do Edifício Pombalino, in
Monumentos", refere que os erros cometidos começam na
introdução de componentes tecnologias marginais á arquitetura,
que invadem abruptamente na morfologia do imóvel, as fachadas
, tais como antenas de televisão, ventiladores, e aparelhos de ar
condicionado, cabos de telecomunicação ou elétricos. A
aplicação de painéis publicitários sobre coberturas, muros e
paredes, estética e metricamente desajustados na sua inserção ou
tecnologicamente desadequados. A aplicação de toldos e de
outros painéis de sombra e/ou de proteção das chuvas e vento.
(estores, palas, cobertos, “panos” verticais) recorrendo a
dimensões, materiais e formas de aplicação que poem em risco a
integridade das estruturas originais dos edifícios (perfuração de
cantarias, talhas e caixilharias). A substituição de cobertas, de
rebocos, de tintas ou de outros revestimentos, sem se ter em conta
os materiais, as cores e as formas construtivas originais que
contribuem para a forma estilística do edifício.
14
Prolongamento vertical de Parede que assenta sobre a cornija
- 38 -
Fig. 5 - Exemplo de erros cometidos
fachadas Pombalinas na Baixa Chiado
Lisboa, Registo do autor.
Capitulo 4.
A criação de formas clandestinas ao nível térreo (garagens,
despensas, oficinas), fechos de logradouros, de varandas e de
terraços, produzindo volumes com marquises, não relacionados
com a arquitetura original. A deficiente iluminação noturna, em
especial, das fachadas de edifícios de comércio e serviços, de
equipamentos públicos e monumentos, que passa, normalmente,
pela colocação e orientação desadequada dos projetores, pela
intensidade de luz desajustada a leitura clara das formas
compositivas arquitetónicas e pela sua linguagem nos
pormenores. A iluminação nos vãos (janelas) que, habitualmente,
se verifica nos pisos térreos comerciais ou de serviços, cuja área,
ritmo e plasticidade se opõem, muitas vezes, as correspondentes
características dos vãos dos pisos superiores. A substituição das
caixilharias originais, vãos, claraboias, coberturas, galerias,
varandas, mirantes15, lanternins16. Todos estes erros, no seu
conjunto originam uma quebra no simbolismo da identidade do
edifício(Cóias, 2004).
Interiores
4.6.Materiais como Forma e Significado nos Interiores.
São os materiais e os seus acabamentos, que causam maior
impacto num espaço interior. Estas são as bases iniciais da
estruturação do espaço e é com elas que se monta um projeto
coerente e bem direcionado. Para se poder então usar os materiais
é necessário perceber quais são as sensações/simbolismos que
deles provêm. Os materiais de construção são tão importantes que
nos seus primórdios, foram divididos conforme a predominância
do seu uso/aplicação. A procura de materiais com melhor
aparência, maior durabilidade, maior resistência sucedeu de
forma lenta na mesma proporção a que cresceram as necessidades
humanas. Dividiram-se assim os materiais em diversas
categorias, entre elas as simples e compostas, naturais ou
artificiais, de forma a melhorar a sua aplicação/escolha.
Desenvolve-se assim de forma a tornar-se fundamental a
perceção significativa de cada um deles. Esta escolha/aplicação
útil do material, deve possuir uma combinação de propriedades.
O conjunto desejado das propriedades não será necessariamente a
combinação exata requerida, mas sim dependerá da aplicação
dada. Para fazer uma seleção prévia dos materiais pode-se
estabelecer limites para cada tipo de projeto. O conhecimento e a
experiência, nesse caso, são considerados requisitos para rejeitar
um material, porque as propriedades dos materiais podem ser
diversas. Um material não será necessariamente rejeitado porque
é insatisfatório (material novo), mas sim porque não corresponde
às conotações simbólicas e históricas do material original.
15
Parte alta, acima do telhado da construção, de onde se descortina a paisagem.
Pequeno telhado sobreposto às cumeeiras, propiciando ventilação. São aberturas, dispostas na
cobertura de edificações, para propiciarem ventilação e iluminação naturais dos ambientes .
16
- 39 -
Capitulo 4.
4.6.1.A madeira
No Livro "Materials for aechitertural design" de Victoria Ballard
Bell17, a autora refere-se aos materiais como casos de estudo de
propriedades singulares os quais são proprietários de identidades
únicas e distintas. A madeira no geral, é conhecida por agregar
conforto aos ambientes. Isso acontece porque é um material com
boas características térmicas, ou seja, mantém a temperatura
"estabilizadora" ao toque, refletindo ou absorvendo o calor. A
madeira proporciona uma sensação "natural" pelo seu visual
rústico e porque ajuda a absorver os sons, melhorando a acústica
dos espaços. A utilização da madeira na arquitetura de interiores
possibilita a esta também uma vasta gama de significados
simbólicos. A madeira e a sensação deste material, reflete o
caráter de “habitação” na génese do seu simbolismo. Um espaço
no qual predomina o uso deste material em geral é convidativo à
permanência. É através dos elementos estéticos, como forma, cor
e tratamento de superfície, que a função simbólica se manifesta.
Com a aplicação da madeira em seu aspeto rústico ou até mesmo
na sua forma natural, pode-se dar um efeito simbólico ao
ambiente. Assim também, peças de madeira podem alterar o
caráter de um ambiente. Peças esguias e leves (embelezamentos,
pilares e molduras) podem passar a sensação de uma obra
efémera, provisória, mas de valor relevante. Já peças maciças, de
grandes dimensões e secções, remetem para uma condição de
robustez e de durabilidade. Provavelmente, uma das
características simbólicas mais facilmente associada ao uso da
madeira é a tentativa da aproximação do homem e da arquitetura
com o ambiente natural, copiando as características que são
comuns ao seu universo. Já num contexto urbano, o seu uso pode
criar uma solução alternativa ao caos da metrópole urbana
externa, criando no ambiente um simulacro que remete para
valores naturais. A perceção da madeira está sujeita a múltiplas
associações, pelo seu uso ao longo de todas as civilizações
ocidentais. É assim necessário traçar/decidir o estilo de vida dos
futuros usuários do local para os quais irá elaborar determinado
projeto e procurar refletir os valores pessoais e sociais dos
potenciais utilizadores(Victoria,2006).
17
Designer e arquiteta de urbanismo , escritora de livros como Materials for deisgn I e II,
Materials for Arquitechture I e II, building materials e Arquitectural Design.
- 40 -
Capitulo 4.
4.6.2.A Pedra
A pedra pode ter efeitos diversos, de acordo com o tipo de
acabamento, mas em geral são frias e rústicas. Elas podem então
ser uma boa opção em locais muito quentes ou quando se quer
uma ambientação mais "fresca". Porém misturá-la a outros
elementos, especialmente em ambientes de maior permanência,
como quartos e salas pode ser favorável para o equilíbrio térmico
e contrastante.
4.6.3.A Cerâmica
Os azulejos, são um tipo de cerâmica que difere da cerâmica
comum, pelo seu processo de produção e pelas matérias-primas
que a compõem. Contem uma baixíssima absorção de água
(menos de 0,05%), o que provoca uma baixíssima expansão por
humidade. A sua grande vantagem é que além da enorme
variedade de cores, formatos e desenhos, pode ser também um
produto que pode reproduzir a beleza das pedras naturais, mas
com características técnicas muito melhores. A sua propriedade
impermeável provem da cozedura do revestimento geralmente
denominado como esmalte, esta face pode ser monocromática ou
policromática. Os mármores e granitos, que são utilizados nos
interiores, como revestimentos, seja para pisos, paredes ou
fachadas, possuem um valor estético e durabilidade
incontestáveis. Por isso estes materiais continuam a ser muito
requisitados, pois tão importantes como a adequação estética do
produto ao ambiente, é o conhecimento das características físicas
e mecânicas do material.
4.6.2.Os Metais
Os metais como ferro, aço ou alumínio, são materiais que
conferem um impacto mais industrial e High-Tech aos ambientes,
estes são geralmente frios e de aparência oposta aos materiais
naturais. Podem ser uma boa opção, para detalhes ou para
complementar e combinar com os pormenores rústicos da
madeira/ pedra.
4.7.Estruturas como Ferramentas delimitadoras nos
Interiores.
4.7.1.Paredes
Edifícios como o estudado, contêm como paredes principais as
paredes-mestras que envolvem todo o edifício, incluindo o
saguão, as paredes de frontal e ainda as de tabique. Estas são
paredes constituídas por alvenaria de pedra ordinária rebocada e
apresentam grande espessura, na ordem dos 0,9 a 1,0 m, ao nível
- 41 -
Capitulo 4.
do rés-do-chão, reduzindo esta em altura. A alvenaria existente
nestas paredes é de taipal18, onde a argamassa é de cal aérea e as
pedras e alguns materiais cerâmicos são arrumados de forma a
compor e preencher os vãos que surgem da forma irregular das
pedras. Estas são de grande espessura pelo facto de os materiais
que a constituem não possuírem boas características de
resistência à tração e ao corte, ao contrário do que à compressão.
Assim, uma parede mais espessa, por ter elevada compressão e
peso, torna-se mais estabilizadora em relação a forças horizontais,
do que uma parede mais fina. Outro fator é, quanto maior for a
sua espessura, menores são os riscos de estabilização. Por outro
lado, esta elevada espessura das paredes, em paredes exteriores
que tem como função a proteção do interior do edifício face aos
agentes exteriores, aumenta o surgimento de patologias. A forma
escolhida para fazer a ligação entre paredes de alvenaria
perpendiculares é feita através de grandes cunhais 19 de alvenaria,
que juntamente com dispositivos metálicos de ligação, como
tirantes, garantem uma boa ligação entre os elementos. Nos pisos
superiores as paredes passam a ser de gaiola de madeira, cuja
estrutura se baseia em paredes de frontal formando uma malha
ortogonal. Assim (a malha ortogonal) recebe os vigamentos de
piso onde casam com a estrutura simples de encaixe aos
paramentos exteriores onde se encontra toda a alvenaria das
paredes exteriores. Esta estrutura de madeira que faz a ligação às
paredes e alvenaria, nomeadamente as travessas, que é dotada de
peças de ligação de madeira à alvenaria, designadas por ‘mãos’,
reforça esta ligação e ficam embutidas na alvenaria. Estas
ligações são essenciais para o travamento da estrutura e é a chave
do bom funcionamento anti sísmico destes edifícios(Appleton,
2003).
Especificidades
Pode haver ainda o caso de paredes de tabique em prancha ao
alto, basicamente quando isto acontece verifica-se que em vez de
se ver ripamento pregado á gaiola apresentam-se pranchas de
madeira maciça com 1½ polegadas que são depois rebocadas.
Este processo é mais custoso, pois usa-se mais material (madeira
e pregos) não sendo necessário já que o sistema de tabique
garante o suporte do estuque da mesma forma, por outro lado a
sua aplicação pode ser mais rápida. Encontra-se também casos de
paredes de alvenaria de tijolo furado, assente a ¼ vez 0,10m ou a
½ vez 0,15m, sendo estas mais frequentemente utilizadas nas
caixas das escadas e cozinhas.
18
Sistema de construção que usa barro molhado para fechar paredes. Chama-se de taipa de pilão
quando se comprime a terra em fôrmas de madeiras (taipal)
19
Ângulo saliente formado por duas paredes de um edifício o que se pode chamar de esquina
- 42 -
Capitulo 4.
Este tipo de paredes são geralmente bastante deformáveis e com
escassa resistência a esforços de compressão, corte e
flexão(Appleton, 2008). Edifícios como o estudado contêm
frontais constituídos por elementos de madeira verticais
(prumos20), horizontais (travessas) e diagonais (escoras21)
formando o elemento conhecido por cruz de Santo André 22, que é
preenchido com alvenaria, estes elementos encontram-se ligados
entre si e são envolvidos em alvenaria de tijolo maciço,
fragmentos cerâmicos ou de pedra irregular com argamassa de
cal. Estas paredes juntamente com as paredes de tabique, ligadas,
formam as divisões das habitações. Estas paredes têm espessuras
entre os quinze e os vinte e dois cm e as madeiras geralmente
utilizadas na sua fabricação são o carvalho, pinho bravo e
casquinha. São as paredes de Frontal, que ao encontrarem-se
acima no primeiro piso, nas duas direções, desempenham a
função estrutural retangular da forma e do comportamento da
gaiola, quer para a absorção de parte da carga vertical, quer para
o travamento geral da estrutura. As características são conferidas,
em parte, pela ligação das paredes aos pavimentos, cobertura e
paredes de fachada. Existem três tipos de frontais: o frontal à
francesa ou forrado, o frontal à galega e o frontal tecido.
Frontais à francesa:
São formados por uma estrutura de vigas de madeira sobre a qual
se pregam, as tábuas de uma face à outra. Dos dois lados do
frontal sobre o forro de tábuas, são pregadas as fasquias que têm
um espaçamento de cerca de quatro cm. Estas fasquias são do
mesmo tipo das que se aplicam nos tetos, e assentam com a base
mais estreita para dentro. Os prumos são montados com um
metro de distância entre si. E entre eles assenta-se um uma
travessa a ligar todos os prumos. Em diagonal assentam-se
escoras entre as travessas e os prumos. Por fim, procede-se ao
enchimento com argamassa de cal e areia. (Appleton, 2008).
Frontais à galega
São constituídos por prumos que se ligam às vigas do pavimento
e vigas do teto, com recurso a um encaixe pregado como ligação.
Por cima dos prumos pregam-se ripas distanciadas de cerca de
quarenta cm.
20
Elemento utilizado na construção para alinhar num plano vertical, é constituído por um pião
suspenso num fio
21
Designação da aplicação de escoras, reforço ou sustentação.
22
Cruz em forma de X formada por peças de madeira ou ferro e que serve para apoiar vigamentos.
- 43 -
Capitulo 4.
Os espaços entre prumos e entre as ripas são preenchidos com
alvenaria de argamassa de cal e areia e fragmentos de tijolo,
pedra miúda, entre outros. Por fim, o frontal é rebocado. Este tipo
de frontal é mais pesado do que o frontal à francesa.
Frontais tecidos:
São constituintes do esqueleto da gaiola pombalina. A sua
constituição é composta, dividindo o comprimento do frontal a
construir com largura de aproximadamente 1 metro, ligam-se aos
prumos. Depois de dividida a altura do pé direito em partes
iguais, assentam-se travessas horizontais de prumo a prumo. Nos
nós formados entre os prumos e travessas que assentam escoras
em diagonal, para melhor garantia do travamento. Construído o
tosco, faz-se o enchimento até à face de um lado e outro com
alvenaria(Appleton, 2003).
4.8.Coberturas interiores e vigas de suporte de pisos
Os pavimentos de madeira, por norma, na arquitetura Pombalina
são constituídos por vigamentos de 8x16 até 8x22, usualmente de
pinho marítimo, geralmente apoiados nos frontais ou encaixadas
nas paredes da fachada. Estes vigamentos são simplesmente
apoiados nas paredes, não sendo assim necessário a utilização dos
frechais características do sistema pombalino. É comum haver
um travamento perpendicular destas vigas por cima dos
vigamentos de madeira em que assenta o soalho, vulgarmente em
casquinha, pregado diretamente à estrutura dos pavimentos.
Também se encontra com relativa frequência, edifícios em que as
zonas húmidas, instalações sanitárias e cozinhas, possuem
mosaicos como revestimento em vez do soalho. Este facto leva ao
aparecimento do termo “assoalhadas” (Appleton, 2008).
4.9. Os acabamentos como finalização dos Interiores.
O acabamento dos materiais contribui em grande parte para a
melhor finalização do projeto e da obra como um todo.
Selecionar o material mais apropriado para um produto envolve
duas fases, a primeira é a seleção dos materiais para o projeto e a
segunda é a seleção da sua qualidade. Em conjunto, é necessário
examinar a natureza do projeto e a maneira como ele é
realizado/aplicado.
- 44 -
“Cada material tem sua
própria mensagem e cada
artista
criativo,
sua
própria música.”
Frank Lloyd
Wright,1975,p.171
Capitulo 4.
As especificações e qualidade dos materiais são tão importantes
como o tratamento e finalização/aplicação dos mesmos. São os
acabamentos das superfícies que dão forma e impressão ao
espaço. As características de qualquer material são expressas pela
sua cor e textura, e essas propriedades podem influenciar não
somente na imagem do ambiente, mas também na utilidade e
durabilidade que se pretende dar ao espaço (Martin, 2004).
Autores como Martin, Catno no livro “The Surface Texture
Bible” procuram classificar as variedades de acabamentos
disponíveis no mercado. O autor separa os acabamentos em dez
classificações, que seriam: carpetes e tapetes, pinturas, papéis,
tecidos, peles, madeira, pedra, cerâmica, vidro e metais. E dentro
dessas classificações, o autor ainda subdivide em diversas
possibilidades de uso e aplicação que cada acabamento pode
apresentar. Isto demonstra que a utilização e escolha desta
panóplia de materiais é fundamental para a escolha rigorosa do
que se pretende alcançar com a proposta/projeto.
- 45 -
- 46 -
Capitulo 5.
Capitulo 5. Requisitos para a habitação
contemporânea e o "Habitar"
Este capítulo é dedicado à compreensão e estudo detalhado das
formas de utilização e relação entre o espaço e o utilizador.
Reabilitação dos Interiores/exterior
5.1. Avaliação da qualidade do espaço urbano estudado, como
produto de geometria, escala e conforto nos interiores
E
sta avaliação tem como finalidade obter uma posição firme
sobre os valores mais importantes que o espaço público
tem num edifício, tal como a sua relação com os interiores.
Esta relação deve assegurar, em conjunto com os processos de
ligação que melhor os servem, a análise dos fatores qualitativos
para os utilizadores do edifício/apartamento. São estes objetivos
que tornam a proposta prática viável ou não, já que os interiores
são reflexo do que se passa na rua. Pretende-se como base
ordenadora nos processos de análise e uso, um espaço confortável
e sustentado, que possibilite o acesso de todos os fatores de vida
desejáveis, através da satisfação das necessidades humanas e
opções que oferece á qualidade de vida. O espaço público é
sustentado por aquele que desempenha um papel ecológico eficaz
dentro do tecido urbano, a par da sua função social e de
polivalência. Os edifícios de grande individualidade, quando
implantados muito próximos entre si, conduzem, a uma leitura
incoerente da rua. Tal como a diferença de cores ou estilos
arquitetónicos. Nos interiores sucede-se o mesmo, entre
divisórias. Os edifícios necessitam de “ligação ao espaço” de
forma a serem apreciados como composições singulares. Esta
“ligação ao espaço” deve ser conseguida, pela preservação da
essência do edifício, e não pela remoção do que o faz ser o que é.
5.2. A geometria simples nos edifícios
As volumetrias simples nos edifícios, quando implementados
proximamente uns dos outros, transparecem coesão geométrica
unificadora. O que por exemplo, sucede nas ruas da baixa
Chiado. A dinâmica da apreciação do edifício no seu singular é
irrelevante se for negativamente contrastante com a rua. Na rua
que se vai estudar apesar de diferentes tipo de azulejaria ou cores,
a geometria dos volumes e cotas permanecem sempre iguais. No
entanto, todos os edifícios são diferentes na sua composição e
“personalidade”. O motivo estilístico e geometria simples unem
todas estas composições e “personalidades” que resultam num
conjunto edificado com valor/ambiente histórico.
- 47 -
5.3. Conforto e interação Utilizador-Espaço
Para se poder aplicar a um lugar o conceito de “conforto”, é
necessário saber a relação entre o espaço e os utilizadores. Para
este tema é necessário analisar as experiencias que ocorrem nos
espaços e a sua relação. O que maioritariamente define um
espaço é a ligação entre os sentimentos que os utilizadores
contraem do espaço. A ligação entre o espaço e o Homem, existe
em diversos níveis, um deles é definido pela partilha e uso. Este
pode ser feito, pela ligação familiar, ligação afetiva, de grupo ou
de interesse. Esta ligação tem sempre dois lados, o que
perceciona a “ação” (de fora) e o que a vive. Para se poder
contextualizar o conforto entre o utilizador-espaço é estudado o
conceito de lugar e habitar na procura de definir as novas
necessidades, em conjunto com a compreensão das mesmas na
perspetiva de quem as vai ter de aplicar no projeto prático.
5.4. O conceito do Lugar
Compreender o conceito de “lugar‟ e a relação entre os interiores
e o “lugar‟ pode permitir a uma melhor contextualização do
“Habitar” na contemporaneidade. Nesse sentido, pretende-se
abordar levemente a relação entre o lugar e a arquitetura, a partir
de um elemento central “a ideia de lugar”. O debate sobre
conceito de “lugar‟ teve início nos anos 50's e 60's, como forma
de encontrar na cidade moderna um lugar para o Homem. Esta
procura pela ligação entre o Homem ideal e universal, e a sua
ligação histórica/patrimonial até então andava destituída da
escala humana e valores simbólicos. Por esta razão o edificado
tornou-se disperso e caótico, de estilos descontextualizados,
derivados da falta de planeamento das cidades, em conjunto de
um crescimento demográfico descontrolado. A especulação
imobiliária, o adensamento de áreas já construídas a expansão das
periferias, a forte pressão comercial e iniciativas dão realce a um
falso “embelezamento‟ urbano e uma enganosa renovação
arquitetónica. Estas construções mascaram e ignoram toda a
complexidade de uma cidade, afastando-se dos reais problemas
da arquitetura e da cidade no século XXI. A pós-modernidade e a
chamada globalização criaram, um novo conceito, os “nãolugares‟, que, segundo Marc Augé23, são caracterizados como um
espaço de passagem incapaz de dar forma a qualquer tipo de
identidade, desprovidos de significado, iguais em todo o mundo,
como aeroportos, caminhos-de-ferro, centros comerciais e
parques de diversão. Estes “lugares‟ não têm carácter identitário,
relacional ou histórico e são o espelho de um mundo provisório e
efémero. Assim pode-se determinar que a reabilitação nos
interiores é um conjunto de “lugares” providos de significados
diretamente ligadas às suas funções.
23
Marc Augé , etnólogo e antropólogo francês autor de Não-lugares de 1995, Marc Augé cunhou
o termo "não-lugar" para se referir a lugares de transitórios que não possuem significado suficiente
para serem definidos como "um lugar",.
- 48 -
Capitulo 5.
Capitulo 5.
O "Habitar"
5.5. Conceito do “Habitar”
O conceito de “habitar” deve ser entendido numa perspetiva
englobante, como uma entidade que se aproxima, da casa à
cidade, e que vive no micro tecido urbano, que nos rodeia, dentro
e fora das próprias residências, estrategicamente pontuada por
equipamentos de ligação e proximidade, como por exemplo as
estações de metro/elétrico ou aeroportos, desenvolvidas por
conjugação de espaços de uso público construtores de uma cidade
genericamente constituída de soluções habitacionais. Mas o
conceito de “Habitar” é também um desejo que nos persegue
como seres humanos. A cidade é um das obras mais complexas
do ser humano que corresponde ao mais profundo e ancestral
desejo do Homem. O desejo em habitar é a necessidade de um
lugar físico neste mundo, é a prova da sua afirmação existencial.
Esta vontade não é pela estrutura (física), mas o que nela deixa
lugar para a habitação (emocional). O “Habitar” afirma-se como
uma necessidade biológica que maior parte das vezes é
inconsciente. A questão do habitar impõe-se pelo uso que
fazemos do conceito; habita-se a casa, habita-se o mundo, habitase a cidade, habita-se o espaço que se percorre. No pensamento
Ocidental, a noção de habitar encontra-se ligado à natureza e ao
ambiente. Esta relação do Homem ao ambiente vem ligada à
oposição ao conceito de sujeito (desejo do Homem), em que este
ocupa um lugar de destaque, assim, o ambiente e a natureza
desempenhariam um papel passivo nessa relação, dado serem
vistos como “objeto”, passível de manipulação e dominação. No
entanto, ao longo da história, o conceito de habitar desenvolveuse e transformou-se de forma a ter várias nuances ligadas ao seu
sentido. A necessidade de definir este conceito é primordial na
hierarquização e vontade do Homem se definir na sociedade.
Contudo este conceito encontra-se em constante desenvolvimento
e transformação. Atualmente “Habitar” surge no campo da
investigação, como “objeto” de diferentes teorizações, fruto dos
desafios e contradições que o modo de vida urbano suscita. As
profundas modificações que tiveram lugar nas cidades desde
finais do séc. XIX, alteraram radicalmente o estilo de vida, de tal
forma que colocam em causa a capacidade de promover a
cidadania, conduzindo a uma crise do habitar, em que o homem
não sabe mais o que significar habitar(Baptista, 2014). As cidades
converteram-se em lugares de passagem e “não-lugares” como
refere Marc Augé, de modo semelhante, a casa converte-se num
sítio para estar e não para ser.
- 49 -
Capitulo 5.
5.6.Origem/evolução
A habitação foi sempre dotada de um conjunto de funções e
espaços especializados, cada um destes com a sua designação.
Estes derivaram de um processo evolutivo, iniciado no século
XIX, que procurava responder a um novo conjunto de exigências
derivadas da reprodução da força de trabalho das sociedades préindustriais.
“A organização e a caracterização de um espaço doméstico pode
seguir determinados hábitos de funcionalidade doméstica, e aqui
tanto há hábitos que decorreram da evolução da vivência
doméstica ao longo de alguns milénios, como outros que,
praticamente, acabaram de nascer pois podemos dizer que
foram, de certo modo, “inventados” em finais do séc. XIX e,
designadamente, no séc. XX”(Coelho, 2014)
No século XX, com os ideais do Movimento Moderno a
habitação era inicialmente encarada como um invólucro
neutro/sem personalidade, passível de ser habitado por qualquer
individuo. Estes eram constituídos por elementos industriais
estandardizados, que permitiam poupar tempo e custos,
originando a habitação num conjunto de divisões especializadas,
destinadas para as mais básicas necessidades humanas. Com a
evolução tecnológica o sector da habitação abre novas
possibilidade de conceção de soluções e resposta ás necessidades
da evolução social. Assim e face às tendências que surgiram da
evolução da sociedade surgem três principais desafios para
implementar na habitação(Milano, 2009).
1. Dotar as futuras habitações de características que permitam
responder a diversidade de modos de vida presentes e á sua
transformação, o que implica a realização de estudos e
tipologias que prevejam a evolução dos usos.
2. Investir na adaptabilidade e fomentar a apropriação, que
visa promover a redução dos impactos ambientais negativos
decorrentes da construção, uso, manutenção e
desconstrução da habitação, sendo necessário repensar o
modelo de ocupação do solo, aumentar a eficiência
energética, assegurar uma gestão eficiente das águas e
reduzir o volume de resíduos domésticos não tratados:
3. Aproveitar as novas tecnologias para aumentar a adequação
entre os ambientes e os modos de vida e contribuir para a
sustentabilidade ambiental sem diminuir os níveis de
conforto, o que passa por uma integração das tecnologias
atuais, encontrando ainda formas que permitam a evolução
das tecnologias e melhorar a interação das pessoas com a
tecnologia. A habitação contemporânea tem vindo a
considerar possibilidades de flexibilização do espaço, tanto
através da alternância como da sobreposição de funções,
com as questões técnicas ai implicadas.
- 50 -
"(...)existe uma relação de
causa-efeito entre os modos de
vida dos seus habitantes e as
formas
físicas
da
sua
transformação. As cidades
tornaram-se multicêntricas, e
a especialização por áreas
funcionais,
o
zoning,
introduzido pelo Movimento
Moderno, sofreu profundas
transformações: a cidade
contemporânea e uma cidade
genérica, pode-se efectuar
qualquer função em qualquer
lugar – basta ter um
dispositivo de conexão a uma
network."
Milano, p.490
Capitulo 5.
O futuro vai em direção de dar ao utilizador mais autonomia e a
habitação tornar-se mais um conjunto de escolhas. (para a
facilidade e variedade de escolha) Em paralelo também tem-se
vindo a refletir na edificação habitacional e, consequentemente,
de certa forma nos modos de habitar, a tomada de consciência do
esgotamento de recursos. Por esta razão encara-se a reabilitação
de edifícios habitacionais antigos como uma alternativa
sustentável a construção de raiz, procurando-se adaptar este tipo
de edificado, desatualizado, às novas exigências.
5.7.As novas formas de "Habitar"
Com a mudança dos e diversificação dos modos de vida torna-se
necessário flexibilizar a oferta de soluções residenciais e urbanas.
Por isso numa altura de tantas inovações e possibilidades
tecnológicas em termos de climatização, ventilação, isolamentos
e instalações, reformularam-se as próprias opções básicas de
organização doméstica
“…é bem a altura de acabar com modelos quase-únicos e de
começar a disponibilizar uma verdadeira e atraente diversidade
de grandes opções domésticas.” (Coelho, 2014)
"A casa tornou-se, assim,
numa maquina de habitar. A
sociedade
evoluiu,
contemporaneamente é cada
vez mais “fluida”. Encontra-se
organizada em função da
mobilidade tanto física como
virtual. Consequência deste
facto, as actividades ou acções
que se desenvolvem nos
espaços tendem a tornar-se
“mutáveis,
dinâmicas
e
flexíveis”
Milano, p.490
A habitação deverá adaptar-se à forma de vida e respetivas
preferências dos seus habitantes. A composição familiar, muda, a
hierarquização dentro desta altera-se e por consequência o espaço
social e funções muda consigo. O papel social da mulher passa de
doméstica/trabalhar em casa para o trabalho em simultâneo com o
homem. Nas tarefas sociais dentro das habitações o trabalho das
mulheres domésticas foi se atenuando tanto na quantidade de
trabalho como na sua forma. Assim, a gestão e manutenção da
habitação começou a estender-se a todos os elementos do
agregado familiar. O lazer e aos tempos livres, que eram
atividades e necessidades menos relevantes, ganham cada vez
mais importância, onde o conforto e eficiência nas atividades é
crucial. Devido a esta mudança de modo de vida, os utilizadores
destes espaços procuram habitações que possibilitem a realização
de atividades de lazer e que disponham de equipamentos
facilitadores das atividades domesticas, que evitem esforço e
tempo por parte dos habitantes na realização das respetivas
atividades. Esta vontade resulta no aparecimento do “pronto-ahabitar”, feito “à medida” de "famílias-tipo" cada vez mais
inexistentes e sempre “à medida” de uma indústria da construção
habitacional, que, naturalmente, preferiu um produto
estandardizado, num processo uniformizador que, por exemplo,
nos oferece o famoso leque tipológico do T0 ao T5, com
eventuais e pouco frequentes soluções intermédias e por uma
estruturação funcional rígida(Milano, 2009).
- 51 -
Capitulo 5.
5.8. Funções e exigências de áreas da habitação
Para o entendimento desta temática e para a sua relação com as
novas formas de "habitar" é definido as políticas de habitação e o
que é imprescindível como conhecimento das necessidades
fisiológicas e sociais tanto dos indivíduos no singular e o núcleo
familiar no "plural". Para isso é usado o documento "Funções e
exigências de áreas da habitação" de Nuno Portas24 de 1969.
Como já referido, devido ao desenvolvimento e progressão dos
atos e processos familiares, este conhecimento pressupõem novos
processos de análise, baseados na observação e experimentação.
" ..a principal dificuldade reside na necessidade de previsão,
exercida a partir dos dados actualmente observáveis já que é a
evolução económica e cultural , derivada da crescente
mobilidade social , o factor determinante na progressão dos
"standards", ou níveis mínimos de habitabilidade."(Nuno Portas,
p.2)
Como anteriormente referido no subcapítulo da evolução do
habitar, com a evolução hierárquica dentro das famílias e com
subdivisão de trabalhos dentro da família, o núcleo familiar
passou de ser apenas um trabalhador(o homem da família)para os
dois a trabalhar (masculino e feminino), esta separação de um dos
elementos à casa, originou novas necessidades de equipamentos
de auxilio directo e indirecto aos trabalhos domésticos.
" o incremento do trabalho feminino e do equipamento auxiliar
para a preparação de refeições , tratamento de roupas e limpeza
tendente a reduzir o esforço de manutenção da casa , maior
frequência e duração de tempos livres em casa , a par de maior
consumo de tempos livres , exteriores , com novas ocupações tais
como leitura ou estudo , televisão e rádio , alem das tradicionais
costuras e conversa; maior desejo de independência de grupos,
sobretudo de idades , no interior da casa ; maior exigência de
privacidade em ordem ao exterior e a vizinhança como condição
de equilíbrio para relações (...)"(Nuno Portas,p.2)
Os equipamentos começaram a seguir as necessidades também
antropométricas de forma a poder repensar os movimentos e
ações decorridos nos processos de utilização do espaço
Para então se perceber algumas das novas necessidades para a
seleção da organização do espaço são mencionados os seguintes
temas:
24
Arquiteto. Divisão de construção e Habitação , MOP , Laboratório Nacional de Engenharia Civil
de Lisboa
- 52 -
Capitulo 5.
5.8.1. Privacidade
Problema ou necessidade que surge para resolver a necessidade
de separação e comunicação entre espaços, seja nas divisórias ou
acusticamente todo apartamento. A qualidade de vida está
diretamente relacionada com esta temática, onde têm de existir
uma relação de proteção à intimidade e preservação do núcleo
familiar.
"Unânimes os sociólogos que tem considerado inter-relacionadas
a qualidade da vida de relação e as condições de vida privada."
(Nuno Portas,p.6)
Assim a separação das visual e sonora das zonas dentro do
apartamento foi pensada para preservar este tipo de integridade
5.8.2. Espaço Habitável
O espaço habitável determina-se a partir da sua utilização, onde a
sua ocupação, incluindo os equipamentos que contém, e a
circulação, determinam a sua dimensão e configuração. Exemplo
disso, é a cozinha, onde existe a necessidade de mais
equipamentos e espaço para as ações e movimentação tanto do
utilizador como dos próprios equipamentos(abrir portas de
armários ou aparelhos eletrodomésticos). Para isso é importante
haver uma relação entre a escala humana e a escala conjunta do
espaço e dos equipamentos que lá vão ser inseridos.
"(...) em primeira analise não é , porem , suficiente: sabe-se que
há exigências psicossomáticas que se não sobrepõem ou cabem
necessariamente dentro do contorno, descrito e que podem
causar insatisfação e perturbações mesmo quando possa disporse do espaço mínimo necessário para o desenrolar de uma dada
atividade." (Nuno Portas,p.7)
Esta conclusão demonstra que, voltando ao exemplo da cozinha,
é possível existir uma cozinha com um espaço mais reduzido e
menos "confortável" do que outras divisórias com menos ação do
utilizador e equipamentos, mas esta divisória irá ser
inconscientemente mal utilizada, por utilizadores considerados
perdidos e frustrados. Esta relação explica e demonstra que em
situações específicas a utilização destas divisórias mal
"aproveitadas" cria comportamentos menos corretos, que para
não anular esta "frustração" a utilização destas divisórias perde
importância, ou torna-se foco de área de "renovação" constante.
5.8.3. Necessidades-Obrigação para o espaço mínimo.
A relação entre o custo do produto-habitação e necessidadesobrigação, carece maioritariamente do orçamento familiar. Para
as necessidades serem preenchidas não pode existir esta relação
porque não se pode recorrer a redução das áreas habitáveis aquém
dos limiares que a analise nos impõem como mínimos absolutos,
a menos que se trate de soluções que permitam expansões futuras
ou se aceite "luxo" de construir um produto cujo o suporte da
habitação interfira nas estruturas do edifício ou segurança dos
moradores.
- 53 -
Capitulo 5.
Esta relação não coincide propriamente com os valores
monetários mas sim os valores de segurança.
"subjacente ao estudo e às opções que nele se tomaram está a
ideia de que existe alguma correlação significativa entre
características especiais da casa e comportamento dos
indivíduos e grupos que a ocupam , seja no sentido de
constrangimento ou impedimento de certas atividades, seja como
fomentador ou propiciador de outras." (Nuno Portas,p.8)
5.8.4. Evolução do espaço "mínimo"
O espaço mínimo que se refere como necessidade e obrigação
que a habitação tem de ter em cada divisória, e no seu global
como apartamento é o relacionamento entre a satisfação das
exigências mínimas de cada elemento no seu singular que por
consequência revela-se na vivência do resto da família. Quando
não é preenchido estes requisitos mínimos nas habitações
verifica-se o aparecimento de certos inconvenientes de excessivas
distâncias das áreas interiores, ou incomodo generalizado.
"(...)menor custo inicial por fogo , mais rápida deterioração ou
obsolescência , maiores despesas de conservação, menor
rendimento do capital por substituição prematura por novos
alojamentos atualizados, a menos que a habitação comece a ser
pensada, a partir das infra-estruturas urbanas, como estrutura
capaz de crescer e adaptar-se no tempo à mutação das
necessidades." (Nuno Portas,p.9)
Estas necessidades são maioritariamente, características que a
disposição do espaço deve obedecer. Estas características surgem
da evolução anteriormente mencionada no paradigma das
necessidades-obrigações das habitações a partir dos séculos
XVIII e XIX , sejam eles de higiene, de dimensão, ou
preocupação técnica . A partir do momento que se começou a
determinar este espaço "mínimo" de forma científica e técnica,
surgiu a habitação de massa padronizada.
5.8.5. O espaço "mínimo" para as habitações em Portugal
A seguinte conclusão provem dos casos anteriormente falhados
de habitação construída na zona do bairro de Alvalade em Lisboa
nos anos 50s' como na cidade do porto, que teve como programa
nos anos 60's com o nome plano das ilhas em que as qualidades
mínimas eram de apenas 50m2 para o aglomerado familiar de 3/6
pessoas.
"Após a realização do presente estudo e dos somatórios feitos no
quadro de áreas , constatou. Se no entanto a necessidade de
tomar como área útil mínima de uma habitação, não evolutiva ,
um número da ordem dos 70m2, admitindo-se que com esta
superfície é já possível prever uma satisfação a menos curto
prazo e soluções de compartimentação interior compatíveis com
- 54 -
"O aspecto mais controverso
das
propostas
reside
naturalmente na noção de
"mínimo" que se adopta
como limite quantitativo para
a satisfação de certas
exigências, nomeadamente as
de espaço habitável."
Nuno Portas,p.7
diferentes formas de viver -ou vir a viver. Não temos hoje dúvida
de que a magra poupança no custo inicial trazida por uma
redução de 10m2 não tem fundamentação económica rigorosa."
(Nuno Portas,p.10)
Este aumento de 10 m2 foi o necessário para retirar o desconforto
mencionado pelos utilizadores destas habitações, assim expondo
que a satisfação mínima está para além do valor económico que
esses metros podem custar.
Fig. 6 - Lista das Funções e Actividades da Habitação de "Funções e
exigências de áreas da habitação" de Nuno Portas, Arquiteto. Divisão de
construção e Habitação , MOP , Laboratório Nacional de Engenharia Civil
, Lisboa , Fevereiro, 1969
Observação: Por não se pretender
estudar exaustivamente o tema e
organização de cada uma das
divisões e por se saber as
exigências mínimas a aplicar no
projeto pratico, irá ser usado o
gosto pessoal e experiencia como
utilizador
de
um
espaço
semelhante, para fundamentar
algumas das escolhas. A partir do
momento que se determina o grau
de importância e atividades em
cada uma das divisões, pode-se
compartimentar o espaço existente
consoante estas necessidades.
Como se pode ver na Lista das
Funções e Atividades da Habitação
a maior quantidade de atividades
decorre na cozinha(onde se pode
encontrar também a lavandaria) e
na sala de jantar/convívio, por esta
razão pode-se concluir que estas
são as divisórias que necessitam de
mais espaço para as respetivas
ações e atividades que nela
decorrem. Exemplo, cozinha;
receber, conservar alimentos,
preparar, lavar , cortar alimentos ,
cozinhar, preparar pratos, lavar
loiça e talheres, arrumar cozinha e
mesas, eliminar detritos, passar,
arrumar roupas costurar a mão,
lavagem mecânica de roupa,
guardar roupas de casa ou pessoais
, estender roupa , guardar artigos
de limpeza, guardar combustíveis
e talvez o mais importante
socializar no momento da ação de
cozinhar.
- 55 -
- 56 -
Capitulo 6.
Capítulo 6. Pré-Projecto, Fundamentos,
Contextualização e outras questões prévias à
proposta de intervenção.
Este capítulo é dedicado ao estudo e aplicação da metodologia do
manual de boas práticas, usada para o projeto prático, onde se
escolhe o tipo de arquitetura, rua e edifício e se o contextualiza na
cidade de Lisboa. É importante frisar que no caso da intervenção
escolhida(apartamento) é apenas necessário aplicar uma das
metodologias anteriormente referidas no terceiro capítulo (livrete
do edifício, níveis de conservação, manual de boas práticas) já
que não se pretende reabilitar todo o edifício. Por esta razão
apenas alguns dos "objetivos na reabilitação" serão necessários
para o projeto prático.
Preâmbulo sobre a Reabilitação
6.1.Objetivos Gerais na Reabilitação
A
Fig. 7 - Esquiço representativo do
edifício escolhido em Pré-Projeto,
criação do autor.
escolha do imóvel constitui a primeira fase do projeto,
este primeiro levantamento deve ser seguido segundo o
grau de classificação patrimonial do edifício e deve ser
suficientemente abrangente para se constituir como um conjunto
de informações, as quais indiciam a futura intervenção. É
necessário também não esquecer a importância, da
potencialidade, espaço, e localidade.
Sobre o edificado construído e espaço interior, importa saber:
1. Valor patrimonial do todo ou de elementos
2. Condicionamentos legais a ter em conta na intervenção
3. Enquadramento urbano
4. Geometria da construção
5. Geometria do interior
6. Identificação das patologias gerais (exteriores)
7. Identificação das patologias específicas (interiores)
8. Avaliação das condições de salubridade
9. Valor histórico
10. Valor simbólico que o edifício ou conjunto tem para
sociedade (exemplo, se na existência de um espaço
comercial, era famoso)
11. Caracterização socioeconómica da população utente e o
da futura população a que se destina
12. Conhecimento dos usos e funções que o edifício
preencheu ao longo da sua história
13. Após os dados recolhidos e registados no levantamento, é
feita mais facilmente a elaboração do diagnóstico
abrangente que, por sua vez, irá constituir o ponto de
partida para a equação de alternativas de solução. O valor
patrimonial do edifício influencia, também, o tipo de
levantamento a elaborar.
- 57 -
14. A classificação definida, estabelece os seguintes graus de
classificação dos imóveis.
13.1Monumentos religiosos, civis ou militares
13.2.Imoveis de interesse público
13.3.Imóvel de valor ambiental
Para fundamentar a escolha por fim fazem-se as seguintes
análises que podem, em maior ou menor grau, contribuir para o
levantamento global e, consequentemente, o conhecimento, mais
aprofundado possível do edifício e respetivos interiores.
1.Plantas, alçados e cortes, onde devem ser registados as
deformações que possam existir.
2.Levantamento dos materiais de construção
3.Levantamento das patologias
4.Levantamento estrutural
5.Levantamento fotográfico
6.Levantamento das técnicas usadas na construção
7.Levantamento dos valores arquitetónicos notáveis, o que defini
o estilo do edifício.
8.Levantamento das peças e elementos decorativos, pinturas,
esculturas, baixos, relevos azulejaria e outros (Mascarenhas,
2005)
Capitulo 6.
Enquadramento e Fundamentos para o local da Proposta de
Intervenção
6.2.Edifícios Históricos Habitacionais de Lisboa (tipos
construtivos)
6.2.1.Edificios Pré-Pombalinos
Estes Edifícios são maioritariamente descritos pela sua geometria
irregular e divisórias pequenas. A irregularidade deve-se à não
existência dos materiais cortados previamente como no caso dos
edifícios Pombalinos, onde existia uma tipologia de
industrialização de corte (onde os materiais já vinham
cortados/padronizados para serem mais facilmente aplicados).
Paredes com grande espessura feitas em alvenaria de Pedra, que
na maioria das vezes tinha má qualidade e onde se apoiam os
pavimentos em madeira. Pavimentos montados com ripas
irregulares e divisórias igualmente mal distribuídas. As divisórias
interiores eram feitas em alvenaria mista, com elementos de
madeira. Os edifícios que eram originárias da classe baixa e
média-baixa, eram situados no topo dos quarteirões e espalhados
por toda a cidade originavam ruas estreitas devido aos seus
anexos construídos sem regras. Esta falta de regras origina em
cada rua uma disposição e escala diferente de construções.
Mesmo assim como se pode verificar pelas imagens acima
apresentadas, na grande maioria os edifícios tinham um ou dois
pisos. Nos tempos que decorrem podemos ver alguns desses
edifícios que sobreviveram ao terramoto, mas a maioria encontrase adulterada pelas obras de alteração e/ou reparação.
- 58 -
Fig. 8 - Fotografia de edifício PréPombalino, fonte Arquivo Municipal de
Lisboa, autor desconhecido.
Capitulo 6.
Os seus interiores são conhecidos (da classe média-baixa) por
serem simples, sóbrios, divididos em dois espaços, o espaço de
jantar, onde se encontra a sala, maioritariamente virados para a
avenida ou rua principal, onde expõem uma varanda ou janela. A
outra destinava-se para as funções domésticas onde poderiam dar
para jardins ou lotes privados. Os telhados eram maioritariamente
de duas águas onde em alguns casos daria a possibilidade de
haver habitação nos sótãos(Macedo, 1938 e França, 1978).
Fig. 9 - Fotografia de edifício
Pombalino, na Rua da Madalena,
Baixa Chiado Lisboa , registo do
autor.
6.2.2. Edifícios Pombalinos
A coerência e homogeneidade dos edifícios Pombalinos deve-se à
sua geometria regular e estrutura padronizada. A rua e edifícios
seguem uma proporção e posicionamento que pode verificar-se
nos quarteirões, com a uniformidade dos edifícios projetados, não
só no que se refere ao desenho dos seus alçados, mas também à
sua compartimentação interior. Geralmente constituídos por cinco
pisos, com rés-do-chão de comércio e restantes andares de
habitação tendo o primeiro janelas de sacada25, os segundo e
terceiro janelas de peitoril26 e o quarto de águas-furtadas,
apresentavam variações apenas de pormenorização(função).
Um dos aspetos inovadores deste tipo de construção dizia
respeito as preocupações estruturais na conceção dos novos
edifícios, para os quais foi criado um novo sistema construtivo
(gaiola), estrutura de madeira que na eventualidade de novos
sismos suportaria o pavimento (desta forma o edifício ganhava
elasticidade). As paredes-mestras, de alvenaria de pedra, de
razoável qualidade, de uma ou duas folhas, presas a um pórtico27
tridimensional interior em madeira tinham como função
consolidar os diferentes elementos estruturais.
Outro aspeto inovador diria respeito a hierarquização das
divisórias tanto na cidade como dentro do próprio edifício,
criando espaços com novas funções (utilidades).
A nível construtivo, a gaiola de madeira ou frontal pombalino, as
paredes interiores, são colocadas em direções ortogonais,
conferindo-lhes um travamento vertical, que em conjunto com os
pisos de madeira, estabilizam e fortificam a estrutura. Também as
paredes interiores poderiam ser de tabique 28. Muito distintivo de
outras arquiteturas é o piso térreo em arcaria de parede ou
abóbada em tijolo. Nos telhados, para conter os fogos, é usado
“paredes meias” entre edifícios e corta fogos altos.
25
Janela aberta até ao pavimento
Janela por parapeito a própria parede
27
Estrutura constituída por barras horizontais e verticais, normalmente define um átrio amplo, com
o teto sustentado por colunas.
28
Tipo de parede leve e amovível, de pequena espessura, leve, utilizada para separar
compartimentos.
26
- 59 -
O rigor do detalhe pode-se verificar nos pormenores construtivos
como a ligação da gaiola ao rés-do-chão, essencialmente por
pernos29 metálicos chumbados nas paredes (ferrolhos), que ainda
hoje em muitos casos demonstram bom comportamento
estrutural. Em relação aos pavimentos, os soalhos eram em
madeira, mas diferentemente dos anteriores, estes assentavam em
frechais30, elementos estruturais feitos igualmente em
madeira(Macedo, 1938 e França, 1978).
6.2.3. Gaioleiros
Associado a um período arquitetónico posterior ao pombalino,
este tipo de construção segue muitas das características do
anterior, mas usando materiais, mão-de-obra de pior qualidade e
não recorrendo ao rigor construtivo da gaiola pombalina. Para
este tipo de construção opta-se por reduzir a espessura ao longo
da altura do edifício e retiram-se alguns elementos de
solidificação horizontal das paredes-mestras para se aumentar o
porte dos edifícios. Estes ganham liberdade arquitetónica, uma
vez que dispõem de vários modelos de janelas e cantarias, aspeto
que difere da arquitetura Pombalina que se baseava em modelos
“tipo” de fachadas, que apenas eram alterados consoante o tipo de
rua. Existe uma variação consoante pisos, de janelas de sacada e
de peito, sendo comum a utilização de ambos os tipos de janelas
no mesmo piso. As guardas de ferro são mais trabalhadas do que
as pombalinas. No tipo de construção “gaioleiro” o edifício é
constituído por paredes resistentes de pedra rija e argamassa de
cal, com grande espessura tal como os tipos anteriores, de modo a
serem mais resistentes aos esforços e cargas, e para o isolamento
acústico e térmico. Em alguns casos podia ser aplicado paredes
de tabique ou tijolo maciço para se fazerem as paredes interiores
consoante as necessidades, as paredes de tabique para
solidarização parcial das paredes (paredes falsas) ou de tijolo para
estruturas mais perenes(Macedo, 1938 e França, 1978).
6.3. Organização da arquitetura Pombalina
Considera-se assim importante distinguir os edifícios segundo o
seu exterior no quarteirão e o seu interior na relação dos
apartamentos e o espaço das divisões. Para se poder exemplificar,
os tipos principais da relação entre o edifício e o exterior referese, a colocação do edifício no quarteirão, isto é, a meio ou nos
cantos do mesmo; o número de apartamentos por piso, não se
considerando, neste caso, a possível subdivisão de divisórias em
andares superiores, por estes não estarem contemplados no foco
tomado como base. Seguidamente, é analisado o maior ou menor
número de divisórias nos apartamentos.
29
Peça que contraria os efeitos de deslizamento verificado pelo efeito da força que actua
obliquamente
30
Viga de madeira sobre a qual se assentam os frontais de cada pavimento de uma construção
- 60 -
Capitulo 6.
Fig. 10 - Fotografia de edifício
Gaioleiro,
em Lisboa,
autor
desconhecido.
Capitulo 6.
Fig. 11 - Desenho esquemático da
organização e geometria da Baixa
Pombalina, criação do autor através de
mapa da Baixa Pombalina , autor
desconhecido.
O modo como se entra na habitação a partir da caixa de escadas, a
quantidade de portas de entrada em cada corredor/hall e o seu
género. Neste distingue-se a entrada, que faz a ligação do exterior
ao espaço social, habitualmente a primeira linha de divisões
paralela à fachada de rua, intermédio “hall”, corredor de acesso
ou de serviço, considerando-se neste caso a cozinha, reconhecível
através da chaminé, ou um compartimento imediatamente
adjacente. A determinação destes espaços e a sua atribuição a
uma determinada função recorre, a alguma extrapolação,
recorrendo aos pressupostos dos autores (Barreiros, 2005).
Os espaços exteriores aos apartamentos (mas ainda dentro dos
edifícios) as zonas intermédias, constituem uma localização dos
locais de serviço na parte da habitação próxima do saguão 31, onde
se situa a chaminé e a cozinha, local onde se encontram
maioritariamente das vezes as alcovas 32.
Os compartimentos interiores dos apartamentos, e a possível
utilização das divisões localizadas paralelamente à fachada de rua
como espaços de convívio incluem, o “salão” frequentemente
uma de maior dimensão. Esta organização depende claramente da
necessidade de salvaguardar o facto dos espaços das habitações
serem, pluri-funcionais, e por o serem, decorrem múltiplas
funções de uso para qual não foram originalmente criadas. Dentro
destas habitações nada impediria uma utilização diferente do
enunciado, existem casos de espaços (um quarto de dormir com
janela para a rua, ou um espaço social que se prolonga para o
interior), embora a disposição que se está a discutir, é a que
geralmente existia neste tipo de habitação. É importante referir os
lanços suplementares de escadas, que permitem um segundo (ou
múltiplo) acesso à habitação.
A sua reduzida ocorrência é, mesmo à primeira vista, facilmente
observável, pois quando se entra em qualquer um destes tipos de
edifícios é o que se primeiro apresenta aos visitantes. No entanto,
entender os fatores que poderão ter contribuído para o seu
aparecimento, é um exercício de especulação ou extrapolação,
por parecer revelar um passo suplementar numa preocupação, que
foi posteriormente ultrapassada com a introdução dos elevadores.
Nos interiores o modo como as divisões no interior dos
apartamentos se relacionam, é frequentemente descrito, por ter
divisões que se encadeiam sem espaços distribuidores ou se, em
alguns casos participam de uma organização parcial ou
abrangente à quase totalidade do apartamento. Deste modo,
consideraram-se três categorias possíveis de distribuição:
1º, em que todas as divisões se encontram inter-ligadas, sem
hierarquia que permita identificar espaços mediadores (não
significando que esta não exista relativamente aos restantes
compartimentos);
31
32
Pátio interior. Zona vaga entre edifícios. Átrio ou vestíbulo.
Designação para pequeno quarto.
- 61 -
2º em que se possibilita, através de um “hall” ou pequeno espaço
inicial, uma reduzida diversidade inicial de acessos no interior da
habitação;
3º uma distribuição feita maioritariamente através de um ou
vários corredores (ou encadeamento de pequenos espaços
mediadores), através da qual se possa efetuar a quase totalidade
de acessos aos compartimentos (Barreiros, 2005).
6.4.Escolha do Local para a intervenção
A escolha do respetivo edifício segue o raciocínio e metodologia
de reabilitar um edifício histórico que esteja no núcleo vivo da
cidade e que neste momento não consiga proporcionar aos seus
utilizadores/utentes as comodidades necessárias e/ou sofra de
problemas estruturantes expondo patologias mais significativas.
Pretende-se igualmente que o edifício escolhido seja relevante
nos seguintes tópicos:
1. Importância histórica.
2. Estilo construtivo.
3. E enquadramento.
O apartamento ou divisória trabalhada estará diretamente ligada
ao edifício e à rua em que este se encontra. A escolha deve-se
também ao potencial do imóvel (valorização). No caso do edifício
da Rua da Madalena, o imóvel foi recentemente comprado e
restaurado no seu exterior, em que os interiores ainda não estão
trabalhados nem lhes foi ainda sugerida uma proposta. Mas,
devido ao tipo de construção, salas e corredores embelezados por
frisos e pés direitos altos e nobres, constitui um desafio relevante
para o projeto.
- 62 -
Capitulo 6.
Capitulo 6.
Análise/levantamento
6.5. História e Origem da rua
A “Calçada do Caldas” surge do nome de um grande edifício que
se encontra no largo com o mesmo nome (hoje Largo Adelino
Amaro da Costa) que foi construído no 3º quartel do século XVIII
por João e Luís Rodrigues Caldas. Homens abastados da época
aforaram33 os terrenos onde viriam a construir o seu Palácio para
a família Ximenes, (família Castelhana que se instalara em
Portugal no ano de 1476). Por essa razão o Largo do Caldas foi
também conhecido por Terreirinho do Ximenes, e por algum
tempo se chamou ainda de Praça da Bela Vista e Largo do São
Vicente. Na Rua da Madalena, onde existe atualmente a Igreja da
Madalena, erguia-se outrora a antiga Real Igreja de Santa
Madalena (ou Magdala) que data dos princípios da nacionalidade.
Construída em 1164, poucos anos depois da tomada de Lisboa
aos Mouros, a Igreja da Santa Madalena caiu em ruínas, sendo
reedificada em 1262. Em 1372 sofreu um incêndio que
praticamente a destruiu. Reedificada em 1692 foi-se arruinando a
pouco a pouco. Hoje resta o pórtico Manuelino, considerado já
Monumento Nacional. A Rua da Madalena, desde o século XIX
pouco mudou, as únicas grandes diferenças são o intenso
comércio e o trânsito. O chão, possivelmente de terra, foi em
1841 mandado lajear/calcetar por ordem da Câmara de Lisboa.
Os edifícios Pombalinos de três andares, com lojas e águasfurtadas, têm ainda no andar nobre «1º», uma fiada de varandas
altas com os respetivos "varandins" de ferro-forjado verde. O
Largo do Caldas mudou de nome várias vezes e hoje está lá
instalada a sede do CDS. A rua da Madalena deu origem também
ao nome da freguesia, uma das mais antigas freguesias
portuguesa do concelho de Lisboa, a Freguesia de Madalena com
0,12 km² de área e tinha em 2011 393 habitantes. A sua
densidade era de 3275 habitantes por km². Era também uma das
dez freguesias de Portugal com menor extensão territorial. Como
consequência de uma reorganização administrativa, oficializada a
8 de Novembro de 2012 e que entrou em vigor após as eleições
autárquicas de 2013, foi determinada a extinção da freguesia
passando o seu território a integrar a nova freguesia de Santa
Maria Maior (Agostinho Paiva Sobreiro e Arquivo Municipal de
Lisboa, 2014).
Fig. 12, 13, 14 - Fotografias da Rua
da Madalena [entre 1898 e 1908],
fonte Arquivo Municipal de Lisboa,
Dimensão: 13 x 18 cm
Suporte: Negativo de gelatina e
prata em vidro autor desconhecido.
33
Transferir ou receber mediante abonamento ou autorização.
- 63 -
Capitulo 6.
6.6.Cronologia do Local da intervenção
Para se melhor contextualizar a história do edifício e apartamento
na rua e cidade de Lisboa, apresenta-se a seguinte cronologia em
que se define os principais intervenientes e datas desta grande
"obra" de urbanismo e planeamento territorial que é a Baixa
Pombalina informação recolhida dos autores Helena Mantas e
João Simões com base no livro de, José-Augusto França, A
Reconstrução de Lisboa e a Arquitetura Pombalina, Lisboa, 1978;
Lisboa e o Marquês de Pombal. Exposição Comemorativa do
Bicentenário da Morte do Marquês de Pombal (Mantas, 2007).
1755, 1 Novembro - Sucede-se o terramoto que arrasa grande
parte da zona baixa da cidade; no fim do mesmo mês, o
Engenheiro Manuel da Maia34 é escolhido para proceder à
direcção técnica da reconstrução da Baixa; 29 Novembro - É
dado o alvará dando condições para que o Ministro da Inspeção
de cada bairro procedesse ao levantamento de todas as ruas,
praças e edifícios públicos existentes em 31 de Outubro, para
elaborar um cadastro de cada um dos bairros da capital;
1755 / 1758 - É elaborado projecto-piloto para a reconstrução da
Baixa-Chiado;
1755, 4 Dezembro - É entregue a Primeira parte da dissertação de
Manuel da Maia; 30 Dezembro - Sebastião José de Carvalho e
Melo35 proibiu toda e qualquer construção até à definição de um
plano;
1756, 31 Março - Começa a terceira parte do relatório de Manuel
da Maia, onde se introduziu as primeiras quatro hipóteses
desenhadas para reflexão sobre a reconstrução da cidade baixa
onde se determinava que os prédios deviam ser todos de três
pisos, o que viria a ser recusado;
1758, 12 Maio - Estabeleceu-se a lei e os direitos públicos da
edificação por meio de "um plano decoroso, digno da capital"
determinando os locais em que se deviam levantar os edifícios
que tinham desmoronado. Junho - Estabeleceu-se que os prédios
teriam quatro pisos com águas-furtadas; Manuel da Maia,
lamentando não ter condições físicas para realizar os desenhos,
Manuel da Maia (Lisboa, 1677 — 17 de Setembro de 1768) foi um arquiteto e engenheiro
português. Nomeado engenheiro-Mor do Reino em 1754, esteve directamente alguns dos mais
ambiciosos projectos de engenharia da sua época, como o Aqueduto das Águas Livres, em Lisboa.
Em Novembro de 1755, na altura com cerca de 80 anos, na sequência do Terramoto de Lisboa, que
Manuel da Maia deixaria, talvez, o seu maior legado: a coordenação da reconstrução da cidade de
Lisboa. Optando pela proposta do capitão de engenharia Eugénio dos Santos, é um dos
responsáveis pela Baixa Pombalina tal como a conhecemos hoje.
35
Sebastião José de Carvalho e Melo, primeiro Conde de Oeiras e Marquês de Pombal (Lisboa, 13
de Maio de 1699 – Pombal, 8 de Maio de 17821 ) foi um nobre, diplomata e estadista português.
Foi secretário de Estado do Reino durante o reinado de D. José I (1750-1777), sendo considerado,
ainda hoje, uma das figuras mais controversas e carismáticas da História Portuguesa.
34
- 64 -
Fig. 15 - Carta Topográfica de Lisboa
de [1858-10], Dimensão: 1 f. (920 x
625 mm) Suporte: Papel, escala
1/1000, autor Folque, Filipe. 18001874, engenheiro, fonte Arquivo
Municipal de Lisboa.
Capitulo 6.
informa ter designado para apurar a planta final e dirigir as obras
os engenheiros Eugénio dos Santos36 e Carlos Mardel37, cabendo
a Eugénio dos Santos, arquiteto do Senado, o desenvolvimento
das peças principais; os projetos tiveram a convergência e
cumplicidade de Sebastião José de Carvalho e Melo.
1759, 12 Junho - É ordenado a entrega dos terrenos das ruas antes
chamadas dos Ourives do Ouro, dos Douradores e dos
Escudeiros, para serem integradas na nova rua nobre designada
de Augusta; o Marquês de Pombal dá instruções sobre a maneira
como os proprietários deveriam tomar posse dos seus terrenos, a
fim de iniciar a reedificação da Baixa, começando
simultaneamente do Terreiro do Paço para o Rossio.
1769, 6 Março - Marquês de Pombal dá ordem para acelerar a
construção da R. Augusta, surgiu nesta data um decreto que
procurava salvaguardar a edificação desta rua em primeiro lugar;
1773, 21 Junho -Marquês de Pombal, altera as disposições do
anterior decreto, estipulando que a Junta do Comércio deveria
assumir a edificação dos prédios ainda não iniciados pelos
proprietários, gerindo as Obras Públicas e administração,
enquanto as vendas não se verificassem.
Princípios do século XIX - Implementação da rua da madalena e
edifícios que ainda lá hoje se encontram (Mantas, 2007).
36
Eugénio dos Santos e Carvalho nasceu em Aljubarrota em 1711 e faleceu em Lisboa no dia 5 de
Agosto de 1760. Foi um dos engenheiros militares, e o arquitecto responsável, pela reconstrução
da Baixa Pombalina de Lisboa após o terramoto. Homem de confiança do mestre Manuel da Maia,
engenheiro-mor do Reino, a sua obra mais notável foi a Praça do Comércio, que abre os horizontes
de Lisboa ao Rio Tejo.
37
Carlos Mardel (Pozsony, Hungria, 1696 - Lisboa, 1763), foi um engenheiro e arquitecto
húngaro. Participou na construção do Aqueduto das Águas Livres e na construção do Palácio do
Marquês de Pombal Foi um dos principais arquitectos da reconstrução de Lisboa, após o
Terramoto de 1755, juntamente com Eugénio dos Santos. Deixou a sua marca no tipo de telhados
que desenhou, caracterizados por telha de canudo com beirais, de origem alemã. Construiu, ainda,
o Palácio da Inquisição no Rossio.
- 65 -
Capitulo 6.
6.7. Configuração técnica do edifício
Planta retangular irregular, com caixa das escadas central em
ferro, escada de lanços paralelos e patamares intermédios, com
acesso a dois apartamentos por piso. Bloco paralelepípedo
simples, disposto na vertical, com cobertura em telhado de duas
águas. Fachadas rebocadas e pintadas a branco, de cinco pisos, o
último de águas-furtadas. Fachada principal voltada para a rua da
Madalena, (Oeste) definida no extremo direito por
pilastra38simples marcada pela abertura das janelas e portadas o
ritmo regular retangular dá origem a quatro eixos de vãos
retilíneos, emoldurados na cantaria, com caixilharia em pedra. No
piso térreo, abrem-se três portas e duas janelas, a do meio de
acesso aos pisos superiores de habitação, ornamentada em ferro
como as janelas intercaladas pelas portas. As portas laterais
acediam a estabelecimentos comerciais, no segundo piso, janelas
de sacada, com guarda em ferro, assentes no friso separador de
piso no terceiro, abrem-se janelas de peitoril, de verga39 abatida.
No quarto piso, sobre cornija de pedra, desenvolve-se janelas de
sacada corrida, com guarda em ferro para onde correm as cinco
janelas, terminando com parapeito de trinta centímetros sobre
toda a extensão do edifício. Nas águas furtadas repete-se o que se
pode verificar na fachada cinco janelas de sacada com guarda em
ferro como o piso anterior com cornija 40 reta sobreposta por
beirado41 simples. Fachada posterior, (voltada a Este) para a rua
dos Fanqueiros. Não se apresenta nesta rua pois dá costas com
outro edifício. Os vários pisos de habitação partilham uma planta
semelhante em todos os andares, os do lado esquerdo de maior
área, com várias divisões intercomunicantes, possuindo cada
apartamento uma divisão maior de planta regular voltada para a
fachada na Rua da Madalena e as restantes, pequenas e
irregulares, dispostas em função de corredor perpendicular à
fachada principal, cozinha e instalações sanitárias interiores e de
paredes partilhadas entre apartamentos. Os pavimentos são em
soalho e cerâmico nas instalações sanitárias e cozinhas(Câmara
Municipal de Lisboa, Programa REAHBITA, 2014).
6.8.Grau do imóvel:
Imóvel sem possuir maiores características individuais a
assinalar, integra-se na qualidade do espaço urbano ou na ligação
do tempo com o lugar, devendo ser preservado em tal medida
(importância estilística, Pombalina)
38
A pilastra é um pilar fundido numa parede (o termo também pode ser utilizado, contudo, para
elementos isolados da parede). Apresenta as mesmas divisões de uma coluna, por vezes canelada e
ornada. A sua função pode ser de dar estrutura às paredes, sustentar entablamentos, cornijas de
portais etc.
39
Termo que define uma viga flexível. Peça horizontal do guarnecimento de um vão, apoiada nas
ombreiras de uma porta ou janela. Lintel.
40
Moldura de remate superior de uma parede.
41
Remate inferior do telhado para decoração, sendo de inicio destinada a afastar a queda de água
do telhado das paredes
- 66 -
Fig. 16 - Exemplo de edifício
projetado
Para
a
Rua
da
Madalena[1858-10], no Lado Poente,
numero 60 e 61, com a mesma
geometria do edifício estudado.
Suporte: Papel, Dimensão: 1 f. (325 x
420 mm) , fonte Arquivo Municipal
de Lisboa.
Capitulo 6.
Incluem-se neste grupo, com exceções, os objetos edificados
classificados como Valor para o concelho e por isso é um Imóvel
de Interesse Municipal.
6.9.Resumo do Imóvel:
Área bruta
Área
implantação
Área do lote
Tipo de
imóvel
Nº de andares
Estado
1 643,00 m2
253,00 m2
286,00 m2
Edifício de Habitação e Comércio.
6, a contar com a cave e sótão.
Degradado com múltiplas patologias.
Tabela. 1 - Resumo do Imóvel estudado na rua da Madalena , Baixa Chiado Lisboa ,
informação disponibilizada pela Câmara Municipal de Lisboa, autoria do autor.
6.10. Enquadramento:
Urbano, flanqueado, integrado no conjunto da Baixa Pombalina,
situada no vale de aluvião entre as colinas do castelo a frente da
sua fachada. Envolto em avenidas largas e compridas. Edifício e
Rua incluídos no tecido urbano posterior ao terramoto.
Acompanha o desnível do terreno com orientação Norte
/Sul(Câmara Municipal de Lisboa, Programa REAHBITA, 2014).
Fig. 17 - Planta sem escala dos andares
do edifício estudado, da Rua da
Madalena , por ordem crescente, 1º
(esq.)cave, 8º(dir.) telhado, fonte
Arquivo Municipal de Lisboa, autor
desconhecido.
Fig. 18 - Fotografia da Rua da Madalena
com edifício de estudo em destaque,
registo do autor.
6.11.Contextualização do edifício na cidade
A rua da Madalena pertence a três freguesias.
A primeira do número 1 ao 243. E do número 2 ao 146.
A segunda, a freguesia de são Nicolau do número 245 até ao final
da rua.
A terceira, freguesia de São Cristóvão e São Lourenço do número
148 até ao final da rua. Começa na Rua de Alfandega no número
126 sobe ao Largo do Caldas, até terminar no Poço Borratem no
número 42. Mais conhecida por Calçada do Caldas, seu antigo
nome, a Rua da Madalena embora íngreme e extensa, é ainda
hoje um belíssimo exemplar da arquitetura Pombalina (Câmara
Municipal de Lisboa, Programa REAHBITA, 2014).
- 67 -
Capitulo 6.
Fig. 19 - Vista em planta sem escala, de
avenida e rua com planta de
apartamento sobreposto em espaço do
edifício, criação do autor.
Fig. 20 - Planta de Lisboa com
sobreposição de "zonas" para a
contextualização do edifício e rua na
cidade, a cinzento-escuro a Baixa, a
cinzento claro a avenida e rua da
madalena e a vermelho secção de
edifícios em baixo representados com
edifícios estudado, planta original do
arquivo
municipal
de
Lisboa,
manipulado pelo autor.
Cronol
- 68 -
Fig. 21 - Desenho esquemático das
fachadas da rua da Madalena, com fim
de expor a padronização e geometria da
arquitetura Pombalina, criação do
autor.
Capitulo 6.
Fig. 22, 23, 24 - Axonometrias
representativas do estado do
imóvel, a verde os elementos em
melhor estado , a laranja os
problemas de médio/alto grau, e a
vermelho os problemas estruturais,
autoria do autor após visita ao
imóvel.
6.12.Análise do Imóvel (visita)
O edifício escolhido apresenta-se no exterior restaurado, pintura
branca na fachada, portadas pintadas da mesma cor, emolduradas
por um verde seco escuro que complementa o trabalho dos ferros
nas janelas do piso térreo. Neste mesmo piso apresentam-se três
portas, duas laterais e uma principal, intercaladas com janelas
imponentes e protegidas a ferro forjado com ondulatórias
características dos edifícios pombalinos. Janelas e portas
envolvidas em molduras de pedra calcária bem preservadas e
limpas. Verticalmente posterior a cada um destes elementos
seguem-se quatro andares e respetivas janelas às do primeiro
piso, mais altas com direito a varanda, e embelezamento nos
espelhos acima das janelas, varandas e cantarias sóbrias e
rigorosas. Nas laterais do edifício, apresenta-se à esquerda no
interior, vestígios de um estabelecimento comercial desgastado
com o tempo. Onde três divisórias de maior importância dariam
lugar a uma sala ampla que pareceu servir de adega/arrecadação.
Encontra-se também de uma forma pouco comum, um sub
edifício muito rudimentar, com a forma de uma mini-casa ao lado
desta divisória. Do lado direito uma grande sala muito desgastada
que denunciava ser algum tipo de comércio simples, de venda ou
revenda. É de frisar a beleza das portas das laterais, de construção
original podemos ver os ferrolhos a assentar na madeira de forma
perfeita, dando uma robustez e segurança quase eterna ao imóvel.
Sem deixar de ter o pormenor estilístico representado nestas
(Onde o motivo das janelas se repete). Ao centro, após uma
arcada monumental em pedra trabalhada, envolta em desenhos
clássicos, encontramos duas portas, que dão acesso a uma sala, à
sua esquerda umas escadas que começam em pedra e
gradualmente são substituídas por madeira. No primeiro piso,
talvez uma das zonas do edifício que tenha sobrevivido mais
tempo, encontram-se vestígios de escritórios, iluminação dos
anos 40’s/50’s e indicações a dizer “gerência” e “gabinetes”.
Neste primeiro piso o soalho não se encontrava muito
deteriorado, mas tinha alguns vestígios evidentes de desgaste do
ripado e do soalho. Nos tetos podia-se ver frisos em estuque
soltos e estuque partido com a estrutura do teto à mostra.
Infiltrações na zona da cozinha e “pia”. Na cozinha um grande
forno de pedra que se repete nos pisos superiores. Nos interiores
as janelas e portadas encontram-se em estado de perfeita
conservação. Ainda neste piso no quarto e sala existia
rompimento de teto, no qual se pode ver o piso superior. O
segundo e terceiro piso encontram-se nas mesmas condições
gradualmente a piorar e com vãos maiores devido ao
apodrecimento por completo de barrotes de sustentação do piso.
Por todo o imóvel as zonas que estariam ladrilhadas de azulejos
foram retirados e apresentam-se em caixotes na zona das escadas.
Os azulejos em piores condições, alguns partidos ou lascados não
foram retirados, e num caso muito específico da cozinha do
terceiro andar, encontram-se algumas preciosidades esquecidas
- 69 -
Capitulo 6.
(azulejos do século XVIII). As escadas não se apresentam em
más condições até ao terceiro e quarto piso, onde devido ao
escorrimento de águas, o soalho está completamente podre e
ressequido. As cores usadas para a ligação do exterior dos
apartamentos é um bordô42 em contraste com uma cor que parece
ser um bege, as escadas ou seriam pretas ou da mesma cor das
molduras das portas, o bordô. Em todo o redor das escadas e
portas dos apartamentos encontrava-se três filas de azulejo. Na
canalização cada piso foi interrompida, em cada olho de boi43 de
cada apartamento apresentavam-se obras de encerramento das
águas. Na eletricidade o mesmo. Por fim o último piso, o mais
belo de todos com um motivo parisiense, com o ripado de
madeira do soalho quase em perfeita montagem apresentava-se
em bom estado, frisos laterais nas paredes distintivos, e o mesmo
no teto. Neste apartamento, mais tarde ficou-se a saber que teria
sido uma pensão, a Pensão Madalena, com o nome da rua
(arquivo Municipal). As cores deste imóvel eram de um verde
coral rematado com o vermelho da escada nos rodapés. Este
edifício termina num sótão amplo e pensado, com divisórias que
funcionariam como arrecadação, neste piso verificam-se as mais
recentes obras devido, possivelmente, ao telhado ter tido
problemas de infiltrações graves. Metade deste encontra-se
pintada a cal branco, e a outra por pintar. Nas escadas que vão dar
a esta última divisória apresentam-se sinais de desmoronamento
eminente, mas que disponibilizam a possibilidade de ver a
claraboia em ferro forjado e vidro, que estão maioritariamente em
boas condições. Todo o imóvel apresenta sinais de ter sido usado
por sem abrigos.
Procedimentos para a Reabilitação
6.13. Métodos e procedimentos para a reabilitação
A deterioração dos edifícios é um processo natural e inevitável.
Os mecanismos de deterioração de um edifício são resultado da
interação entre o objeto físico e o ambiente ou/e utilizadores.
Devido à degradação dos elementos que constituem o edifício
serem uma consequência esperada do processo de
envelhecimento, estes devem ser tidos em especial conta, devido
aos determinados fatores que influenciam/aceleram o processo de
degradação e que por consequência aumentam os custos da
reabilitação. A reabilitação tradicional é composta por cinco
fases: análise e diagnóstico, analise levantamento, programa e
projeto (metodologia do manual de boas práticas).
42
O bordô ou castanho-avermelhado, cor do vinho tinto de Bordéus - Bordeaux esta cor é uma
variação de tom da cor vermelha, um pouco mais escuro.
43
Comummente retratado como a ligação da canalização do edifício ao apartamento.
- 70 -
Fig. 25, 26 - Axonometrias
representativas das consequências,
criadas
pelas
anomalias
encontradas,
a laranja as
consequências de médio grau e a
cor de rosa os problemas
estruturais, autoria do autor após
visita ao imóvel.
Capitulo 6.
No entanto, para um processo de reabilitação sustentável
consistente, para além das fases já referidas na reabilitação
tradicional, é necessário ter em conta mais duas fases: a fase de
utilização e a fase de manutenção, que estão intimamente
relacionadas. Para o estudo de um caso/método de reabilitar em
conjunto com o manual de boas práticas, segue-se a metodologia
para os interiores, do livro de “Obras de conservação e Restauro
arquitetónico” de João Mascarenhas Mateus44.
Metodologia
6.14.Como aplicar a Análise e Diagnóstico/Análise e
Levantamento e Programa.
6.14.1.Avaliar as condições exteriores ao imóvel.
Os seguintes critérios de avaliação são fundamentais para o início
das obras e movimentações de equipamentos, recursos humanos e
recursos materiais estruturantes. Saber se vai haver necessidade
de andaimes e/ou contra ventos, estipular uma facilitação de
Transportes e/ou cargas e aplicar paredes de contenção de betão
armado se o edifício estiver em muito mau estado.
6.14.2.Análise dos materiais existentes.
Diagnóstico de primeiro nível
O exame visual e táctil é suficiente para a fácil perceção de
fissuras, patologias de degradação como o lascar de tintas ou
estuques ou colonização de organismos(pragas).
Este exame é feito nos seguintes materiais:
-Pedras
-Materiais cerâmicos
-Rebocos e argamassas
Diagnóstico de segundo nível
Se necessário o uso de testes não destrutivos ou destrutivos.
Este exame é feito nos seguintes materiais:
-Madeiras
-Metais
-Betões
-Revestimentos
44
Investigador do CES, Núcleo de Cidades, Culturas e Arquitetura. Perito da Direção de Cultura
da Comissão Europeia entre 1993 e 1998 avaliação de projetos de Conservação e Restauro do
Património Cultural. Realizou na Universidade La Sapienza de Roma, Itália a investigação de
doutoramento sobre a utilização de técnicas tradicionais de construção de edifícios de alvenaria na
atividade da conservação arquitetónica. Em Roma, projetou e dirigiu os trabalhos de conservação
do Instituto Português e do Pontifício Colégio Português. Doutorado em Engenharia Civil pelo IST
(2001). "Cultore della materia" na Faculdade de Arquitectura Valle Giulia da Univ. La Sapienza
de Roma (2002-2004) e colaborador científico da "Scuola di Specializzazione in Conservazione
dei Monumenti" da mesma Universidade, desde 2002.
- 71 -
Capitulo 6.
-Níveis de humidade
-Medidas do teor da água
-Condensações indesejadas
6.14.3.Avaliação das obras não estruturantes.
-Rebocos
-Caixilharias
-Serralharias
-Trabalhos em vidro
-Obras de pintura
6.14.4. Avaliação das obras estruturantes.
-Demolições de alvenarias
-Demolições de paredes divisórias
-Demolições de rebocos e revestimentos
-Demolições de revestimentos de pavimentos
-Demolições de estruturas de pavimentos
Poderá ser necessário escavações a nível de Terraplanagens 45,
levantamento ou “abaixamento” de cotas. O que dará necessidade
a escoramentos e levantamento do piso existente. Se assim for e
existir cerâmicas (azulejos) de relevância importante para o
projeto final, ter cuidado com a sua preservação.
6.14.5. Avaliação das obras especializadas.
AS obras especializadas servem para preservar:
-Peças arqueológicas
-Cimalhas, cornijas, frisos
-Esculturas figurativas
-Baixos e altos-relevos
-Intervenções em abóbadas, tetos com caixotões, sectores
circulares.
6.14.6. Levantamento das necessidades para o início dos
trabalhos.
Para o início dos trabalhos é primeiro preciso saber a qualidade e
proveniência dos materiais em geral areias, argilas expandidas,
pedra-pomes, pedras naturais, mármores água, cais, pozolanas,
ligantes hidráulicos, ligantes hidráulicos especiais e ligantes
sintéticos
-Água para construções
-Água para operações de limpeza
-Cais
-Ligantes hidráulicos
-Pozolanas46
45 Terraplanagem é uma técnica construtiva que visa aplainar e aterrar um terreno. "Terrapleno",
literalmente, significa "terra cheia, cheio de terra".
46
Os modernos cimentos pozolânicos são uma mistura de pozolanas naturais, para além do seu uso
em obras submersas, a alta alcalinidade dos cimentos pozolânicos torna-os resistentes às causas
mais comuns de corrosão
- 72 -
Capitulo 6.
-Gessos
-Aglomerados de cimento
-Resinas sintéticas
Levantamento e listagem dos materiais necessários.
-Ferro :
” o ferro comum deverá ser de primeira qualidade ,
eminentemente dúctil e tenaz , com nítida estrutura fibrosa.
Deverá ser maleável, liso na superfície externa , livre de fendas ,
sem soldas abertas e sem outras soluções de continuidade”.
-Aço trefilado ou laminado:
”estes tipos de aço , na variedade macia (dito ferro homogéneo) ,
semiduros e duros , não deverão ter defeitos , imperfeições ,
chochos e outras soluções de continuidade. Em particular para o
aço trefilado, é exigida perfeita maleabilidade e laboração a frio
e a quente, sem que se produzam estriamentos ou alterações ;
deve permitir a soldadura a temperaturas elevadas, deve
apresentar à rotura uma secção brilhante e finamente granular”
.
-Aço coado:
“o aço coado usado em chumaceiras, charneiras , rolos ou para
qualquer outro trabalho deverá ser de primeira qualidade , livre
de bolhas ou de qualquer outro defeito.” (Mascarenhas p, 32)
-Ferro fundido:
”o ferro fundido deverá ser de primeira qualidade e de segunda
fusão , macio , tenaz , ligeiramente maleável , fácil de trabalhar
com a lima e com o formão , de cor cinzenta , finamente granular
e perfeitamente homogéneo, isento de fendas e gretas , veios ,
boas , rebarbas , asperezas e outros defeitos capazes de reduzir a
sua resistência. Deverá ser também perfeitamente modelado. É
absolutamente interdito o uso de ferro fundido fosforoso.”
-Metais vários:
“o chumbo , o zinco , o estanho , o cobre e todos os outros metais
ou ligas metálicas a empregar nos trabalhos deverão ser da
melhor qualidade , bem fundidos ou laminados , em função do
tipos de trabalho a que são destinados , e livres de qualquer
impureza ou defeito que altere a sua forma , a sua resistência ou
a sua durabilidade.” (Mascarenhas p, 32)
-Material para revestimento de pavimentos
-Tijoleiras, ladrilhos hidráulicos e de cimento, blocos em cimento
para calçadas.
-Ladrilhos de grés47 cerâmico
-Fragmentos para mosaicos e pavimentos “ à veneziana”
-Fragmentos de placas de mármore para pavimentos rústicos
47
Grés é um material feito a partir de argila de grão fino, plástica, sedimentária e refratária - que
suporta altas temperaturas, como a cerâmica
- 73 -
Capitulo 6.
-Ladrilhos cerâmicos
-Produtos de madeira:
“as tabuas , solhos , parquets lamelados e maciços , deverão ser
da espécie lenhosa adaptada ao uso previsto e descrita no
projeto , possuir um teor de humidade entre 10 /1 5 por cento de ,
resistência mecânica à flexão e ao punçoamento nos limites
normalmente obtidos com a espécie lenhosa a que os produtos de
madeira pertençam.”
“devem obedecer às especificações do LNEC E69 a 78:1960. A
terminologia das anomalias e defeitos das madeiras a adotar é a
definida na norma portuguesa NP 180-anomalias e defeitos da
madeira, homologada por despacho ministerial de 17 / 06/ 57.”
(Mascarenhas p, 34)
-Cores e Vernizes
-Óleo de linhaça fervido ou óleo graxo
-Aguarrás
-Alvaiade de chumbo
-Alvaiade branco ou alvaiade de zinco
-Zarcão ou mínio
-Leite de cal
-Pinturas a água, a cola e a óleo
-Vernizes
-Pinturas encáusticas
-Esmaltes
-Pinturas a óleo e óleo sintético
-Neutralizadores e conversores de ferrugem
-Pinturas e esmaltes á base de resinas sintéticas.
-Pinturas entumecentes.
6.14.7. Levantamento das necessidades de trabalhos
Interiores especializados e instalações técnicas.
Na seleção dos materiais aplicados após as remoções,
demolições, obras especializadas e instalações técnicas será
oportunamente possível de se aplicar:
-Vidros e cristais (janelas divisórias ou afins)
-Materiais cerâmicos (definitivos ou intercalares)
-Produto para obra de impermeabilização
-Vernizes betuminosos
-Telas em PVC plastificados:
“Telas em PVC plastificado verão ter ótimas características de
resistência á tração, ao alongamento e à rotura e resistir a
temperaturas externas de -20º a mais de 75 º c . Deverão
apresentar todos os requisitos exigidos nas normas vigentes no
que se refere a classificação, métodos de análise e normas de
projeto. As membranas , as telas e todos os produtos préfabricados para impermeabilizações e coberturas continuas ,
assim como as relativas camadas e tratamentos funcionais
contíguos a essas camadas , deverão observar as normas em
vigor.”
- 74 -
Capitulo 6.
-Adjuvantes
-Isolantes térmico-acústicos
“Deverão ser possuir baixa condutividade, ser ligeiros,
resistentes, incombustíveis, estáveis volumetricamente e
quimicamente inertes , inatacáveis pelos microrganismos, insetos
e bolores, indolores , imputrescíveis e estáveis em relação ao
envelhecimento.”
“Os isolantes térmicos de síntese quinica , tais como poliestireno
expandido (esferovite) em placas (normais e Auto extintores) ,
polistireno expandido. Os isolantes térmicos de origem mineral ,
tais como a lã de rocha , lã de vidro , fibras de vidro , cortiça ,
perlite , vermiculite e argila expandida , deverão referir-se
também ás normas vigentes de homologação e aplicação. “
(Mascarenhas p,38)
Outras possibilidades
-Reforço de vigas de madeira para tetos
-Impregnação de consolidantes
-Tratamento e desinfestação da madeira
-Tratamento de ignifugação48
-Troca de soalho ou sobreposição
-Refechamento de juntas/ou rebocos
-Tratamentos de inibidores de corrosão
-Revestimentos de paredes
-Trabalhos em mármore (polimentos, ou limpezas)
Canalizações
-Tubos de ferro fundido
-Tubos de aço
-Tubos de grés
-Tubos de fibrocimento
-Tubos em PVC (policloreto de vinil)
-Tubos de polietileno, polipropileno, polibutileno e de parede
tricomposta.
-Tubos de drenagem em PVC e PP
Materiais para instalações hidros-sanitárias
Tubos e acessórios para redes de adução
“ todas as tubagens a utilizar na execução das redes de água
frias e quentes , serão de aço galvanizado sem costuras, serie “
média”. Os diâmetros a utilizar encontram-se especificados no
projeto. As redes de adução obedecerão em tudo o que se refere
as suas características e acessórios , as normas portuguesas
NP45, NP513 e NP514. O dono da obra poderá mandar proceder
aos ensaios necessários para verificação das suas qualidades de
zincagem , segundo as normas portuguesas.”
João Mascarenhas Mateus no livro de obras de conservação e
restauro arquitetónico p,47.
48
Tratamento dado aos materiais de modo a aumentar a sua resistência ao fogo , melhorando a
classe do material. Pode ser temporário ou perante, devendo constar na sua classe.
- 75 -
Capitulo 6.
Material para instalações elétricas
-Cabos e condutores
-Tubagens
-Calhas
-Caixas:
Nas instalações embebidas, as caixas de aparelhagem, passagem
e derivação serão de material termoplástico, cor a definir pela
fiscalização, com tampa de fixação por meio de parafusos.
-Comandos e interruptores
Sistemas de iluminação:
-Candeeiros de Teto fluorescentes e estanques
-Candeeiros em globo
-Apliques fluorescentes compactos
-Apliques fluorescentes em corredores e escadas
-Candeeiros com luz indireta
-Candeeiros com luz direta
Conjunto autónomo para iluminação de emergência
-Instalação de gás
-Sistema de detenção de incêndio
-Sistema de climatização
-Instalações telefónicas e de internet/televisão por cabo.
- 76 -
Capitulo 6.
6.15.Estudo do espaço a nível de Patologias
Anomalias
Anomalia 1. Apresenta a deterioração dos barrotes estruturantes
devido ao apodrecimento devido a infiltrações e bicho da
madeira(fig.27).
Anomalia 2. Apresenta os materiais construtivos expostos, e
argamassas deterioradas e segmentadas(fig.28).
Anomalia 3. Representa a anomalia das infiltrações, ripamentos,
estuque e vigas de suporte afetadas(fig.29).
Anomalia 4. Apresenta as tubagens de chumbo rompidas e
segmentadas e fora das calhas, paredes e pavimento(fig.30).
Anomalia 5. Apresenta a dilatação dos materiais construtivos das
paredes e tetos que ao expandirem, partem e rompem
estuques(fig.31).
Anomalia 6. Apresenta bolores e tintas estaladas devido a
humidade. (fig.32).
Fig. 27 - Registo Fotográfico dos
interiores do imóvel estudado,
anomalia 1. registo do autor.
Fig. 28 - Registo Fotográfico dos
interiores do imóvel estudado,
anomalia 2. registo do autor.
Fig. 29 - Registo Fotográfico dos
interiores do imóvel estudado,
anomalia 3. registo do autor.
Fig. 30 - Registo Fotográfico dos
interiores do imóvel estudado,
anomalia 4. registo do autor.
Fig. 31 - Registo Fotográfico dos
interiores do imóvel estudado,
anomalia 5. registo do autor.
Fig. 32 - Registo Fotográfico dos
interiores do imóvel estudado,
anomalia 6. registo do autor.
- 77 -
Capitulo 6.
Causas
Causa 1.Apresenta vestígios de escorrimento de águas do sótão
até ao piso térreo(fig.33).
Causa 2.Apresenta mau isolamento nas coberturas das
janelas(fig.34).
Causa 3. Apresenta a construção em tabique exposta devido ao
colapso do estuque que foi mal aplicado, criando bolhas de ar
entre os dois materiais(fig.35).
Causa 4. Antes das janelas terem sido arranjadas e os vãos
fechados , as intempéries afetaram globalmente todo os andares ,
a chuva que entrava na habitação apodreceu maior parte dos
materiais que compõem os frontais interiores(paredes interiores
da fachada) (fig.36).
Outros Pormenores
Outros pormenores 1. Apresenta tubagem de fornecimento de
águas exposta e consequências(fig.37).
Outros
pormenores
2. Encobrimento
dos
desenhos
originais(fig.38).
Fig. 33 - Registo Fotográfico dos
interiores do imóvel estudado,
causa1. registo do autor.
Fig. 34 - Registo Fotográfico dos
interiores do imóvel estudado,
causa2. registo do autor.
Fig. 35 - Registo Fotográfico dos
interiores do imóvel estudado,
causa3. registo do autor.
Fig. 36 - Registo Fotográfico dos
Fig. 37 - Registo Fotográfico dos
interiores do imóvel estudado,
outros pormenores 1. registo do
autor.
Fig. 38 - Registo Fotográfico dos
interiores do imóvel estudado,
outros pormenores 2. registo do
autor.
- 78 - interiores do imóvel estudado,
causa3. registo do autor.
Capitulo 6.
6.16.Diagnóstico geral do Exterior e Interior
Exterior:
1.
Bom estado a nível de pintura tanto da fachada como das
portadas.
2.
Bom estado dos materiais ferrosos nas varandas e janelas.
3.
Bom estado de conservação e restauro das portas e
pormenores decorativos.
4.
Telhado e claraboia reparados recentemente.
Interior;
Fig. 39 - Registo Fotográfico do
imóvel estudado, exemplo de bom
estado de conservação da pintura da
fachada, bom estado dos materiais
ferrosos nas varandas e portas, registo
do autor.
Fig. 40 - Registo Fotográfico dos
interiores
do imóvel
estudado,
contrastante com o exterior, (arcada do
hall), registo do autor.
Rés-do-chão e cave
1.
Mau estado dos ripamentos do soalho.
2.
Sem ladrilhos, azulejos que se mantêm estão partidos ou
lascados.
3.
Pedras de colunas e arcos sujas e com sinais de perda de
massas.
4.
Pavimento de pedra e degraus sem cor e a precisar de
tratamento.
5.
Paredes com aberturas, e com materiais construtivos
expostos.
6.
Na cave o desaparecimento de uma escada.
7.
Sem iluminação e sem sistemas para a fácil
implementação da mesma.
8.
Na cave, apresentam-se bolores, humidades e sinais de
passadas infiltrações.
9.
Janelas partidas na parte interior da cave. Escada e halls de
entrada
10.
Bom estado de conservação nos primeiros pisos, e mau
estado nos últimos, (muito mau)
Primeiro andar (amarelo escritórios) e Segundo andar (azul
habitação).
1.
Mau estado de pinturas
2.
Mau estado de estuques
3.
Portas de hall e divisórias em bom estado, com apenas
algumas divisórias fechadas com pregos.
4.
Estrutura exposta em vários locais do apartamento.
5.
Infiltração na cozinha.
6.
Iluminação perigosa e com cabos descarnados e soltos.
7.
Estuques soltos.
8.
Sem casa de banho
- 79 -
Capitulo 6.
6.17.Tabelas de custos de Reabilitação em Edifícios PréPombalinos, Pombalinos e Gaioleiros.
Para a contextualização dos custos na reabilitação de edifícios
Pombalinos são apresentadas as seguintes tabelas de intervenção
Ligeira, intervenção média e Intervenção Profunda, com e sem
técnica tradicional. Após a medição do espaço e quantidade de
trabalho em cada divisória, deve ser adicionado período de ajusto
à realidade em que a obra se vai realizar (como mencionado na
metodologia de João Mascarenhas Mateus), número de
trabalhadores número de horas, materiais, equipamentos e
deslocações.
- Os edifícios pré-pombalinos são aqueles que apresentam os
custos médios globalmente mais elevados, comparando com os
outros dois tipos de edificado. A forte desadequação ás
conveniências modernas nos serviços, divisórias organização.
-Os edifícios pombalinos apresentam custos médios inferiores a
todas as outras tipologias. Devido à elevada qualidade da
construção original, os edifícios encontram-se num estado de
conservação aceitável e as intervenções são menos complexas
tornando-as menos dispendiosas.
- Os edifícios gaioleiros, no que aos custos diz respeito,
encontram-se sempre numa posição intermédia relativamente aos
edifícios pré-pombalinos e pombalinos.
Ainda para qualquer reabilitação de um destes tipos de
arquitetura as técnicas tradicionais de construção encontram,
obviamente, mais limitações que as técnicas modernas. Os custos
das intervenções profundas em edifícios Pombalinos com recurso
a técnicas tradicionais de construção, apresentam valores
globalmente inferiores àqueles que são observados quando são
utilizadas técnicas construtivas modernas. Isto deve-se
essencialmente ás técnicas de construção tradicionais
corresponderem a intervenções profundas de natureza menos
complexa. A dispersão dos valores dos custos apresenta valores
semelhantes para as intervenções ligeiras entre os três tipos de
edifícios sendo apenas ligeiramente superior para o edificado prépombalino. Para a melhor compreensão dos valores monetários e
percentagens são apresentadas quatro tabelas com cada tipo de
reabilitação, intervenção Ligeira em Edifício Pombalino,
intervenção Média em Edifício Pombalino, intervenção profunda
com e sem técnica tradicional.
- 80 -
Capitulo 6.
Tabela 2 - Tabela de intervenção
Ligeira em Edifícios Pombalinos,
contando da (esq.)para a (dir.),
actividade,
metro quadrado, valor
médio, dispersão por metro quadrado,
a cinzento escuro valor médio de custo
de mercado e dispersão por valor e
percentagem e por fim desvio médio
e percentagem. A cinzento claro o
custo direccionado ao projecto.
Tabela 3 - Tabela de intervenção
Média em Edifícios Pombalinos,
contando da (esq.)para a (dir.),
actividade,
metro quadrado, valor
médio, dispersão por metro quadrado,
a cinzento escuro valor médio de custo
de mercado e dispersão por valor e
percentagem e por fim desvio médio e
percentagem. A cinzento claro o custo
direccionado ao projecto.
Tabela 4, 5 - Tabelas de intervenção
profunda com e sem técnica
tradicional, contando da (esq.)para a
(dir.),
Com
técnica
tradicional(esq.)Estrutura/Interiores,
actividade,
metro quadrado, valor
médio, dispersão por metro quadrado,
a cinzento escuro valor médio de custo
de mercado e dispersão por valor e
percentagem e por fim desvio médio e
percentagem. A cinzento claro o custo
direccionado ao projecto.
Conclui-se através da informação do autor Manuel Braga Botelho
Moreira na obra "Reabilitação de edifícios de habitação,
contribuição para a estimação de custos – Instituto Superior
Técnico, Lisboa 1990" que nas intervenções médias a dispersão
apresenta uma distribuição semelhante à dos custos médios. E
que as reabilitações no edificado pombalino tornam-se também
muito semelhantes entre si pelo que a os valores médios da
dispersão são muito baixos. E que somente nas intervenções
profundas a dispersão cresce relação aos outros níveis, reflexo do
maior leque de opções de construção.
- 81 -
Capitulo 6.
As técnicas de construção tradicionais por serem quase
artesanais(usando a carpintaria e a serralharia) ficam mais caras,
mas culminam num resultado mais aproximado do anteriormente
reabilitado e como já visto nas cartas , e irá ser exposto na
legislação, o preço não pode ser a razão para o seu
incumprimento.
Outros Fundamentos e critérios para as opções tomadas
6.18. Legislação e Artigos
Como fundamentação das seguintes escolhas do projecto prático
são apresentadas as leis e critérios para o apoio à prática
profissional nos tópicos que a proposta trabalha, "Paredes" e
"Pavimentos e Coberturas".
Para as paredes é seguido "Capitulo III Paredes" do apoio à
pratica profissional no decreto-lei, número 38 382 de 7 de Agosto
de 1951 no Regulamento Geral das edificações urbanas os
artigos:
Artigo 24. º
-Na construção das paredes de edificações de carácter
permanente utilizar-se-ão materiais adequados à natureza,
importância, carácter, destino e localização dessas edificações, os
quais devem oferecer, em todos os casos, suficientes condições
de segurança e durabilidade.
Artigo 30.º
-Todas as paredes em elevação, quando não sejam construídas
com material preparado para ficar à vista, serão guarnecidas,
tanto interior como exteriormente, com revestimentos
apropriados, de natureza, qualidade e espessura tais que, pela sua
resistência à acção do tempo, garantam a manutenção das
condições iniciais de salubridade e bom aspecto da edificação.
Artigo 31.º
-As paredes das casas de banho, retretes, copas, cozinhas e locais
de lavagem serão revestidas até, pelo menos, à altura de 1,50 m,
com materiais impermeáveis de superfície aparente lisa e
facilmente lavável.
Para os pavimentos e coberturas é seguido
Pavimentos e coberturas " do mesmo documento.
"Capítulo IV
Artigo 35.º
-Na constituição dos pavimentos das edificações deve atender-se
não só as exigências da segurança, como também as de
salubridade e à defesa contra a propagação de ruídos e vibrações.
- 82 -
Capitulo 6.
Artigo 37.º
-Nos pavimentos de madeira das edificações correntes destinadas
a habitação, as secções transversais das vigas poderão ser as
justificadas pelo uso para idênticos vãos e cargas máximas, não
sendo todavia consentidas secções inferiores à de 0,16 m x 0,08
m, ou equivalente a esta em resistência e rigidez. A este valor
numérico corresponderá afastamento entre eixos não superior a
0,40m.
Artigo 39.º
-As estruturas das coberturas e pavimentos serão devidamente
assentes nos elementos de apoio e construídas de modo que estes
elementos não fiquem sujeitos a esforços horizontais importantes,
salvo se para lhes resistirem se tomarem disposições apropriadas.
Fig.41 - Fotografia de cozinha com
pormenor de equipamentos minimalistas,
do projecto de atelier José Adrião e
Arquitetos, autor desconhecido.
Fig. 42 - Fotografia de sala com o
pormenor dos barrotes restaurados de
suporte da cobertura, projecto de atelier
José Adrião e Arquitetos, autor
desconhecido.
§ único Quando se utilize madeira sem tratamento prévio
adequado, os topos das vigas das estruturas dos pavimentos ou
coberturas, introduzidas nas paredes de alvenaria, serão sempre
protegidos com revestimento apropriados que impeçam o seu
apodrecimento.
(Regulamento Geral das edificações urbanas, apoio à prática
profissional).
6.19. Reabilitação Premiada, exemplo a seguir.
Por se pretender propor uma solução de reabilitação que tenha
como génese os princípios já anteriormente mencionados, a
preservação do espaço, como espaço de património edificado e
valor histórico, é analisado o Prémio Vasco Vilalva da Fundação
Calouste Gulbenkian. Este prémio foi atribuído a um projecto de
recuperação e reabilitação de um edifício pombalino, na Baixa de
Lisboa, da autoria do atelier José Adrião Arquitetos. Este prémio
criado pela Fundação Gulbenkian, "Prémio Vilalva", que presta
homenagem ao filantropo Vasco Vilalva e distingue, anualmente,
um projecto de intervenção exemplar no âmbito do património,
na área dos bens móveis e imóveis de valor cultural. Teve como
projecto premiado o edifício convertido em unidade residencial
de curta duração, com o nome de Baixa-House, podendo, de
acordo com o projecto, evoluir para , no futuro, numa unidade de
habitação. As características desta reabilitação são:
Os tons brancos nas paredes, equipamentos e tectos, onde
sobrepõem-se a madeira envernizada de tom quente amarelo
acastanhado, alguns dos elementos estilísticos perdem-se para
darem uma harmonia e equilíbrio generalizado minimalista. Ao
mesmo tempo o espaço encontra-se suficientemente caracterizado
com os azulejos, frisos e portadas. Sem se falar nos equipamentos
para este espaço escolhidos, toda a "estéticidade" do espaço tenta
seguir um contexto minimalista, "limpo" e desprovido de
elementos decorativos.
- 83 -
Capitulo 6.
O maior destaque/importância desta reabilitação foi a escolha da
substituição de todas as infra-estruturas e a conservação de uma
parte substancial dos elementos construtivos tais como os
soalhos, tetos, as caixilharias de madeira, os azulejos do exterior
e interior e as portas interiores. Os remates necessários e os
“remendos” foram assumidos como tal. Segundo o autor:
“Definiu-se a intervenção como uma nova adição em
continuidade com a sua história”. (Adrião, 2011).
A escolha de equipamentos e mobiliário minimalista, dá
oportunidade para o espaço "respirar" e levar aos que o
percepcionam imaginar as ilimitadas possibilidade de habitação.
O imóvel trabalhado,
“encontrava-se em avançado estado de degradação e tinha
sofrido inúmeras intervenções ao longo dos tempos que
afectaram gravemente a sua unidade funcional e estrutural,
nomeadamente a estrutura de gaiola, pondo em causa a
protecção anti-sísmica”
E resultou,
“Este projecto constituiu um esforço importante para a
revitalização da Baixa como zona residencial de eleição: um
exemplo de boas práticas numa zona em que a reabilitação
urbana é especialmente sensível”(Adrião, 2011).
Manual de boas práticas e reflexões
Relativamente à metodologia de boas práticas de intervenção
anteriormente apresentada no terceiro Capitulo, concluiu-se que
as ações da fase de análise e diagnóstico, destinadas a identificar
e caracterizar as anomalias e o estado de conservação do edifício,
contribuem decisivamente para se atingir o foco/prioridades
adequado/as a trabalhar, nomeadamente no controlo dos
problemas estruturais a resolver. A capacidade de responder às
situações mais usuais numa obra desta natureza aumenta e
conclui-se em conjunto que a acão de reabilitação, dever-se-á
sempre partir do princípio de que o novo é que se adapta ao
antigo, e não o contrário. Conclui-se que as linhas orientadoras da
possível intervenção, poderiam ser um exemplo a seguir nas
reabilitações de edifícios de mesma natureza, ficando garantida a
salvaguarda, para as gerações vindouras, de um edifício com
valor patrimonial indiscutível preparado para as necessidades da
atualidade. A escolha de preservar o mais possível permitiu
reduzir as intervenções ao mínimo, havendo na maior das vezes
apenas a remoção de estuques expondo o tabique e o sistema de
Gaiola. Recorrendo a materiais e técnicas originais (ou
compatíveis) seria possível adaptar o novo ao antigo.
- 84 -
Fig. 43 - Fotografia de sala com o
pormenor de casa de banho , projecto de
atelier José Adrião e Arquitetos, autor
desconhecido.
Fig. 44 - Fotografia de sala com o
pormenor de azulejos decorativos nas
paredes , projecto de atelier José Adrião e
Arquitetos, autor desconhecido.
Capitulo 6.
Identificando as anomalias e suas causas foi possível identificar
os problemas existentes, de forma a sua resolução, considerando
sempre uma possível reversibilidade. A escolha desta
metodologia de reabilitação deve-se ao seu foco no apartamento e
interiores, como matéria necessária a estudar para o projeto
prático. Na eventualidade de se reabilitar ou propor uma
reabilitação viável para todo o edifício, a utilização do livreto do
edifício ou os níveis de conservação (âmbito, Natureza e Grau de
Profundidade) funcionariam
melhor como ferramenta
delimitadora de obrigações e passos a tratar no imóvel no seu
conjunto.
Escolha do Minimalismo como ligação do mobiliário à proposta
A escolha do minimalismo como agente de ligação entre o
mobiliário e a proposta surge na introdução do livro “JMR 92.02.
Arquitetura e cenografia” no qual percorre a obra arquitectónica
e cenográfica do arquiteto João Mendes Ribeiro, descrevendo o
minimalismo nos interiores, segundo cinco características: a
essencialidade, a eficácia, a elegância, a abstração e a alegria.
Graça Dias afirma que a obra de João Mendes Ribeiro, é
essencial no sentido que não sobrepõe informações a mais e que
os problemas são resolvidos expeditamente e com clareza de
conceito, é eficaz na medida em que os dispositivos que o
arquiteto cria são concisos e eficientes para a função para a qual
foram pensados. São estas características que o projecto tenta
focar-se , a resolução de problemas de características complexas
numa solução ou alternativa de uma elegância simples. A
elegância revela-se na sensibilidade natural de estabelecer as
proporções, marcar os cheios e os vazios, as passagens, as
transparências, as alturas ou as profundidades de um desenho que
passa a ser volumétrico e geométrico tal como a proposta(Graça e
Mendes, 2003).
- 85 -
- 86 -
Capitulo 7.
Capítulo 7. Projeto e Conclusões
Este capítulo é o que, através dos conhecimentos anteriormente
adquiridos, apresenta uma solução viável de reabilitação aos
interiores do edifício escolhido no capitulo anterior.
7.1. Introdução
A
"essência" do estilo arquitetónico Pombalino tal como já
anteriormente mencionado no sexto capítulo está ligada a
um conjunto de escolhas a fim de responder a problemas
construtivos, rapidez construção, preservação de capital,
uniformidade e padronização urbana. É o próprio tipo de
arquitetura racionalista, que expõe a verdadeira importância a
preservar, esta "racionalidade" de projeto é o que, no conjunto
constitui o edifício como património edificado e como
"relevância" a preservar. É com esta premissa que se começa o
Projeto.
7.1.1.Introdução à proposta do Apartamento
De acordo com a reabilitação já efetuada no exterior do edifício,
pretende-se para o apartamento, uns interiores dentro do mesmo
espírito minimalista atrás referido, assinalados pontualmente por
detalhes construtivos, expostos e enquadrados por painéis
transparentes e uma organização do espaço pertinente para o
estilo de vida contemporâneo.
Fig. 45 - Maqueta tridimensional,
expositiva(frente)
do
género
construtivo
(dir.)
e
fachada
Reabilitada (esq.) retocada, criação
do autor. Escala 1/100
escala 1/100
7.1.2.Organização do Espaço Interior
“…projectar, planear, desenhar , não deverão traduzir-se para o
arquitecto na criação de formas vazias de sentido , impostas por
caprichos da moda ou por caprichos de qualquer outra natureza.
As formas deverão resultar, antes, de um equilíbrio sábio entre a
sua visão pessoal e a circunstancia que o envolve e para tanto
deverá ele conhecê-la intensamente, tão intensamente que
conhecer e ser se confundem…”(Távora,1923-2005)
Assim se começa a detalhar o espaço com uma citação de
Fernando Távora49, na contra capa do seu livro "Da Organização
do Espaço", para se contextualizar a proposta e o estudo geral que
se fez para as escolhas da organização do espaço. No apartamento
a presente organização do espaço provém do estilo
construtivo(Mascarenhas, 2003) maioritariamente composto por
barrotes cruzados do sistema de gaiola (para as paredes mestras),
paredes de estuque em cima de tabique para as divisórias, e de
um tipo padronizado de
Fig. 46 - Maqueta tridimensional,
expositiva(costas)
do
género
construtivo
(esq.)
e
fachada
Reabilitada (dir.) retocada, criação
do autor. Escala 1/100
escala 1/100
49
Fernando Luís Cardoso de Meneses e Tavares de Távora foi um arquitecto português,
diplomado pela Escola de Belas-Artes do Porto em arquitectura no ano de 1952.Membro da
Organização dos Arquitectos Modernos, introduziu, em associação com outros arquitectos que a
partir do fim dos anos 40, teve uma reflexão que não tinha precedente em Portugal sobre o
posicionamento social da arquitectura, em oposição às realizações e aos discursos oficiais da
época.
- 87 -
Capitulo 7.
Fig. 47 - Desenho esquemático de
apartamento sem paredes exteriores,
expondo a construção (esqueleto),
criação do autor.
Fig. 48 - Desenho esquemático de
apartamento com corte de paredes para
expor o estilo construtivo, gaiola e
tabique, criação do autor.
Fig. 49 - Desenho esquemático em
escorço
de
apartamento
com
organização espacial e divisórias
originais, criação do autor.
- 88 -
organização espacial focado nas necessidades da vida
habitacional do século XVIII. Esta afirmação deve-se a todos os
apartamentos do imóvel terem a mesma organização, assim
conclui-se que todas as intervenções realizadas neste apartamento
não recorreram ao derrube ou reconfiguração do espaço. Assim a
organização do espaço interior para o projeto, perde quantidade
(divisórias) para ganhar qualidade. Os valores simbólicos e
sociais do "habitar" mantêm-se, ou seja, a cozinha mantêm-se no
mesmo espaço, tal como o hall e os quartos. Para os interiores ,na
presente proposta deixa de ser importante o que se faz à "pele"
(Tintas/estuques), e sim ao "esqueleto" (Paredes) , expondo os
elementos construtivos e o seu método de funcionamento,
ganhando assim relevância e destaque. Estes deixam de ser
somente construtivos para também serem decorativos, históricos
e simbólicos(como se vai perceber pela proposta do emontre).
Para se determinar qual é a melhor disposição e organização das
divisórias é estudado o apartamento com maquetas
tridimensionais e modelos 3D. Em conjunto com o estudo destas
ferramentas é acrescentado o gosto e escolhas pessoais em
detalhes e pormenores. É nestes pormenores que se pretende
inovar e propor novas alternativas.
“Em espaço organizado, em formas, a situação caótica da
arquitectura contemporânea Portuguesa manifesta-se nos mais
variados aspectos: Pela utilização de técnicas que estão
ultrapassadas ou ainda não tem sentido entre nós, pela criação
de espaços que estão longe de corresponder às suas funções ou
às necessidades dos seus utentes, pela utilização de “colunas” ou
outras formas de “gosto” que de nada servem mas foram a alma
de arquitecturas antigas, pela eliminação de valores legados pelo
passado, e isto quer pela sua alteração quer pela sua pura e
simples destruição, pela não consideração das qualidades dos
sítios , em resumo , pela arquitectura e a circunstancia que a
envolve e pela cobardia de , quando tal circunstancia tem o
aspecto negativo, recear combate-la, recear melhorá-la, recear
transformá-la.”(Távora, p.55).
Capitulo 7.
7.1.3.Novas Exigências a aplicar
Exigências de desempenho
As exigências de uso de um edifício como o edifício estudado
aumentaram e mudaram com o passar do tempo conforme vimos
no capítulo cinco nas "Funções e exigências de áreas da
habitação". As preocupações que este tinha quando foi
construído, alteraram-se, exemplo desta afirmação é a entrada ao
piso térreo. Apesar de haver tanto elevador como escadarias, na
entrada encontra-se três degraus na arcada de cota elevada estes
residentes de facha etária elevada ou mobilidade reduzida, podem
encontrar dificuldades. É então bastante importante adequar estas
tipologias às necessidades atuais, no campo dos detalhes técnicos
ou de pormenor, outro exemplo disso é a necessária introdução de
calhas para telecomunicações e tubagem para gás. É também
fundamental dotar o edifício de novas instalações de canalização
moderna, tal como elétrica.
Condicionantes Económicas
O tipo de intervenção é sempre condicionado por motivos
económicos. Por esta razão poder-se-á efetuar, em maior ou
menor escala, as intervenções consoante o capital disponível.
Desta maneira distingue-se os custos de reabilitação dos custos de
manutenção que por consequência vão culminar no valor do
imóvel. Quando uma reabilitação é mais profunda, aumentam os
custos de reabilitação, mas irão diminuir os custos de manutenção
daí em diante. Esta opção do proprietário deverá ser respeitada
pelos técnicos, devendo estes otimizar o tipo intervenções e
soluções possíveis de realizar dentro do âmbito das melhorias a
dotar ao edifício.
Condicionantes de Configuração e Forma
Edifícios como o estudado não podem sofrer alterações exteriores
profundas conforme vimos no capítulo quatro "Erros cometidos
nas fachadas Pombalinas". Assim o desenho das fachadas deverá
permanecer com a sua identidade inicial tão intacta quanto
possível. A introdução de algumas alterações ao nível do piso
térreo visando a criação de comércio deverá ser evitada ao
máximo para não descaracterizar o edifício nem a própria rua.
Havendo a necessidade de criar um novo piso, é possível (não
aconselhável), desde que a altura do edifício não desvirtue a
envolvente exterior (rua), e desde que garanta uma continuidade
estética da própria fachada. Quaisquer alterações devem ser
compatíveis com o edifício, enquadrando este e garantindo um
correto funcionamento entre diferentes sistemas construtivos,
sejam estes materiais ou técnicas.
Fig. 50 - Desenho esquemático de
organização de divisórias originais, criação
do autor.
Fig. 51 - Vista Lateral Direita com corte ,
vista do corredor , apartamento sem paredes
exteriores, em corte vertical , expondo tipo
construtivo, criação do autor.
Fig. 52 - Vista Lateral Esquerda com corte
vista de corredor, apartamento sem paredes
exteriores, em corte vertical, expondo tipo
construtivo, criação do autor.
- 89 -
Capitulo 7.
7.2.Memória Descritiva
- 90 -
Capitulo 7.
7.2.Organização do espaço
Das originais onze divisões que o espaço tem, contando com três
halls uma arrecadação com ligação ao piso térreo e uma divisória
de arrumação, conclui-se que apesar da quantidade de divisórias o
espaço era reduzido, labiríntico e mal aproveitado(segundo os
padrões actuais e de escolha pessoal). Não existia uma divisória à
qual poderíamos chamar área de convívio como as que temos
hoje, nas nossas habitações, que por sinal são mais pequenas e
com o pé direito muito mais reduzido conforme vimos no quinto
capítulo "Funções e exigências de áreas da habitação".
No caso da cozinha o grande forno de pedra com a chaminé é o
protagonista sem comparação, que sem acompanhamento de
aparelhos eletrodomésticos contemporâneos é um espaço sem
praticabilidade. Os armários que lá se encontram, tal como a
chaminé e o fogão estão descuidados e degradados, por isso é
proposto no projeto retirá-los por completo em vez de os
restaurar, devido ao espaço que ocupam e pouca relevância para a
atualidade. Ainda na cozinha o prolongamento desta, para o que
era a arrecadação e escada ao andar térreo, dá uma abertura a uma
das divisões mais importantes da habitação, que ganha também a
nova função de lavandaria (com as máquinas como a de lavar
roupa e secar). Os três halls transformam-se num corredor que
com a mesma função, e menos três portas, proporcionando uma
movimentação mais fluida e sem tantas barreiras.
A sala transforma-se na divisão com mais protagonismo,
ocupando assim as dimensões de dois quartos e a arrecadação
interior, para criar um loft amplo, desprovido de portas e paredes.
A remoção das divisórias escolhidas dá a possibilidade à sala de
ter duas janelas para a rua, e uma proximidade direta da cozinha.
Esta proximidade é útil para as refeições efetuadas na sala de
jantar. Em relação à iluminação natural na sala, as duas janelas
para a rua, dão aos utilizadores do espaço uma maior ligação ao
meio onde habitam, e por consequência um maior aproveitamento
da rua/cidade.
Os quartos posicionados em ambos os lados das escadas, ambos
com duas janelas aproveitam a disposição do sol durante todo o
dia. Com a organização proposta, os quartos estão também
melhor protegidos do barulho da escada com as paredes interiores
mais grossas de todo o apartamento. (Assim havendo uma melhor
comodidade acústica para uma zona que é de repouso).
Os quartos ligam-se diretamente ao corredor, que faz conexão
com o resto da habitação. No corredor as paredes por se
encontrarem em mau estado, com estuques soltos, buracos onde
passam canalização e eletricidade e outras patologias
anteriormente detalhadas é proposto como alternativa ao novo
estuque, a remoção por completo deste estuque antigo, expondo
assim o tabique como forma de decoração. Á frente do tabique
aplica-se como no teto, painéis transparentes com ou sem
estantes, ligados por chapas de metal/borracha afixados às vigas
grossas da estrutura do tabique. Em contraste com as
Fig. 53 - Planta de apartamento com
organização
espacial
original
e
sobreposição de portas e janelas nos vãos
originais, criação do autor.
Fig. 54 - Planta de apartamento com
organização espacial original, e cores
representativas das divisórias. A cor de
rosa os quartos, a azul a cozinha e a
verde a sala de jantar/sala , criação do
autor.
Fig. 55 - Planta de apartamento com
organização espacial proposta e cores
representativas das divisórias. A cor de
rosa os quartos, a azul a cozinha, a verde
a sala de jantar/sala e a amarelo a casa de
banho, criação do autor.
- 91 -
Capitulo 7.
transparências que protegem as paredes de tabique , todas as
estruturas, incluindo mobiliário a aplicar, seguem a paleta de cor ,
de brancos acetinados, brancos "mate" , mármores. Para o
pavimento é proposto o uso de soalho flutuante, com laminado de
madeira de "afizélia" envernizada. A nível elétrico, estruturou-se
um plano de calhas para melhorar e reforçar as divisórias,
proporcionando mais conforto e disponibilidade de elementos
como tomadas e iluminação embutida. Para a iluminação é
escolhido o tipo de iluminação quente, que se adapta ao ambiente
desejável para cada divisória. Na sala pode ainda haver
reguladores de intensidade da luz que provem do teto, e no
corredor, a intensidade da luz que sai por trás dos painéis
/estantes.
Fig. 56 - Planta de apartamento com
organização espacial proposta e possível
disposição de mobiliário, criação do
autor.
7.3.Paredes a intervir
Para um melhor aproveitamento do espaço, propõe-se a
possibilidade de remoção das paredes assinaladas por uma cruz a
vermelho no desenho esquemático(esq). As paredes assinaladas
por um círculo a verde são as paredes que se mantêm, e que estão
em boas condições. As paredes que se representam com um
quadrado amarelo são as paredes em que se expõem o tabique e
em azul num triângulo as estruturas de gaiola. Este tipo de
apartamentos necessita, para poder evoluir, de se desfazer de
partes do seu esqueleto. Esta capacidade é considerada uma
vantagem evolutiva, porque permite uma melhor adaptação aos
novos modos de habitar e aproveitamento das novas infraestruturas e serviços.
Fig. 58 - Fotografia de maqueta com
organização original e invisibilidade de
vigas de suporte do piso superior,
criação do autor. Escala 1/50
Fig. 57 - Planta de apartamento com
organização original e sinalética de
escolha de remoção de paredes, criação
do autor.
- 92 -
Capitulo 7.
Fig. 59 - Desenhos esquemático de
organização de divisórias trabalhadas
com potencial exposição do tabique na
sala, com escala humana, criação do
autor.
Fig. 60 - Desenhos esquemático de vista
interior de ligação da cozinha com escala
humana, criação do autor.
Fig. 61 - Desenhos esquemático de
planta
explodida
com
possível
disposição de mobiliário, criação do
autor.
- 93 -
Capitulo 7.
7.4.Conceito de "vitrine", proposta para as paredes interiores
do corredor.
Uma vitrine, do francês vitrine,” emontre” é um espaço que se
encontra fechado por vidro ou transparência , onde são dispostos
produtos, artefactos ou serviços para venda ou exposição. Este
espaço isolado e intocável da vitrine pode ser também usado
como vínculo para determinadas propostas artísticas, como a do
presente projeto. Este conceito serviu desde sempre para se
colecionar, classificar e exibir algo que é "querido" ao seu
proprietário, tal como uma coleção de artefactos, o estilo
arquitetónico torna-se algo de valor para aquele que investe numa
habitação que contem património histórico. Esta escolha de
enquadrar, isolar algo metendo-o em destaque e restringir o
acesso a ele, cria um desejo, uma valorização, uma
complementação á obra, uma transição do tipo construtivo para
um valor artístico. A composição e organização da construção de
tabique/gaiola pode ser facilmente classificada como de valor
artístico pela sua patine, geometria e materialidade. A nível
psicológico a implementação de uma estrutura como a proposta,
gera e cria uma barreira espaço/tempo, ao mesmo tempo que cria
um padrão através do ripamento. Assim se favorece
Historicamente o espaço ao mesmo tempo que se lhe atribui
originalidade e destaque.
7.4.1. Materiais e processo construtivo
Para a exposição das paredes de tabique e para a sua manutenção
e preservação é proposto um conjunto de painéis transparentes
que se montam paralelamente às paredes com uma distância
relativa, esta distância serva para os materiais poderem ter espaço
para coexistir com a nova estrutura. Os painéis encaixam-se uns
nos outros de forma a não haver espaçamentos. É assim que se
propõe transmitir um acabamento de qualidade. Este acabamento
vai contrastar com o excesso de "patine" e textura que provem da
idade e do tipo construtivo destas paredes que estiveram
salvaguardados por gessos e estuques. Os painéis são compostos
por três peças, a primeira é o próprio painel transparente de vidro
temperado, com as dimensões do espaço que se pretende aplicar,
cada peça não terá mais de um metro de comprimento e a altura
será sempre o pé direito da divisão. Estes painéis podem ter ou
não prateleiras, consoante o gosto e desejo pretendido. A segunda
peça é o elo de ligação entre os painéis e o tabique, de material de
borracha ou metal galvanizado para não enferrujar. A terceira
peça será o parafuso com rosca que irá ligar-se a estrutura de
tabique, nos barrotes mais largos. Para a boa aplicação desta
estrutura é necessário o estudo prévio das distâncias dos barrotes,
para o corte circular nos painéis. (devido ao padrão irregular
deste tipo de construção)
- 94 -
Fig. 62 - Render expositivo de
"camadas". contando da esq. para a dir.
proposta de painéis transparentes com
estantes, (fasquiado), gaiola, tabique e
estuque, criação do autor.
Fig. 63 - Render's expositivos de
montagem dos painéis transparentes sem
estantes, criação do autor.
Fig. 64 - Render's expositivos de suporte
quadrado modelo IN81.124 e braço
reversível IN81.101 para apoio dos
painéis transparentes, ferragens para
vidro de catalogo Glass Hardware JNF.
Fig. 65 - Render's expositivos de
esquema de procedimento dos painéis
horizontais transparentes para cobertura
do teto, autoria do autor.
Fig. 67 - Esquema de procedimento de
montagem em desenho esquemático dos
painéis verticais transparentes para
paredes, autoria do autor.
Fig. 66 - Esquema de procedimento em
desenho esquemático dos painéis
horizontais transparentes para cobertura
do teto, autoria do autor.
Fig. 68 - Render's expositivos de
esquema de procedimento dos painéis
verticais transparentes para paredes,
autoria do autor.
- 95 -
Capitulo 7.
Fig. 69, 70 - Render's expositivos de
"camadas" dos painéis transparentes no
teto e pavimento do chão. contando da
esq. para a dir. em cima , tábuas do
pavimento , painéis com transparências e
luzes embutidas e barrotes de suporte.
Em baixo , tábua, manta de espuma e
camada de borracha, criação do autor.
Fig. 71 - Render expositivo de
preenchimento
de
vãos,
para
encerramento de divisórias, a castanho
com padrão de madeira a estrutura de
gaiola, a cinzento o sistema (de barrotes)
usado para preencher o vão, criação do
autor a partir de método analisado em
manual de processos de reabilitação.
7.2.5.Aplicação dos painéis nos barrotes do teto
Devido ao apodrecimento dos estuques do teto da sala e ao
colapso de uma parte de um dos tetos do quarto, é proposto para
os tetos uma solução semelhante ao das paredes, expondo os
barrotes que suportam o pavimento do piso superior e entre eles
revestir o seu afastamento de painéis transparentes que suportam
a iluminação embutida. Para expor os barrotes que fazem parte da
estrutura do pavimento do piso superior, é necessário retirar tanto
o estuque como o tabique que o segura, esta remoção do material
intermédio (que faz a ligação), que tem propriedades acústicas de
cancelamento de revibração é depois resolvida com o fechamento
posterior dos painéis transparentes.
Para os painéis se poderem aplicar nos tetos é primeiro necessário
fazer um "semi-corte" de dois centímetros(máximo) em cada lado
de cada barrote. Este meio corte no barrote serve de fêmea no
qual o painel percorre na horizontal, perpendicular à direção do
barrote. É aplicado aos barrotes, tapa poros e envernizados, para a
sua proteção e acabamento.
7.2.6.Aplicação de pavimentos
Para os pavimentos é proposto a aplicação de soalho flutuante,
em cima dos soalhos de madeira existentes, devido à rapidez de
montagem, resistência ao fogo, excelente performance a nível
acústico, beleza natural, racionalismo ecológico, economia de
custos e facilidade de desmontagem quando necessário. Os
revestimentos flutuantes são caracterizados pela redução da
precursão a nível acústico por isolar o ruído de impacto, sendo
constituído por um revestimento de piso e suporte, intercalados
por uma camada elástica ou manta de borracha que absorve e
isola tanto o calor como o som. Esta camada intercalar pode ser
poliuretano50 ou em manta de espuma, Poliestireno51. A decisão
da aplicação deste material provém da experiencia directa do
autor.
7.2.7.Preenchimento de vãos
Quanto ao fechamento dos vãos resultantes do encerramento de
divisórias, é utilizado o mesmo tipo de estrutura, preenchendo
com vigas de madeira maciça cruzadas em menor ângulo que o
cruzamento da gaiola derivado ao reduzido espaço que o vão
disponibiliza. Contudo mesmo com espaço reduzido, não se retira
a moldura das portas para não destabilizar as forças verticais que
estão sustidas nelas.
50
O poliuretano é um polímero que compreende uma cadeia de unidades orgânicas unidas por
ligações uretânicas. É amplamente usado em espumas rígidas e flexíveis, em elastômeros duráveis
e em adesivos de alto desempenho.
51
O poliestireno é um homopolímero resultante da polimerização do monômero de estireno.
Trata-se de uma resina do grupo dos termoplásticos, cuja característica reside na sua fácil
flexibilidade ou moldabilidade sob a ação do calor, que a deixa em forma líquida ou pastosa.
- 96 -
Capitulo 7.
7.2.6. Preservação do material interior das estruturas
Num edifício como o estudado, os materiais usados são materiais
vivos, que se movimentam, respiram, expandem e contraem.
Sendo assim os materiais usados para reparar e preencher os vãos
das estruturas interiores vão ser os mesmos usados na sua
implementação. Não se escolhe usar o betão/cimento ou outro
tipo de material artificial contemporâneo devido a esta razão(falta
de flexibilidade e compatibilidade com os materiais originais).
Outra razão para não se usar este material(betão/cimento) é a falta
de patine e plasticidade do cimento para o componente "estético"
da proposta. Para concluir, a terceira razão é que não faria sentido
para o presente projeto, quando a trabalhar-se num elemento
vivo, substituir aquilo que o faz ser.
7.2.8.Expor e Proteger
Tanto os painéis transparentes das paredes como dos tetos são a
solução escolhida para proteger e expor, dentro do mesmo
espírito minimalista e funcional atrás referido, o que foi
considerado fundamental a preservar na reabilitação do
apartamento, mas tal como o pavimento, estes também servem
para isolar o calor e o som.
7.2.9.Iluminação
Para a iluminação propõe-se um conjunto de calhas que
percorrem a moldura do teto e passam entre as vigas de
sustentação do piso superior. Estas fornecem as luzes embutidas
nos painéis transparentes do teto e podem ser reguladas tanto na
sala como no corredor. No corredor, a iluminação funciona da
mesma maneira, luzes embutidas estrategicamente atrás dos
painéis transparentes "emanam" luz indireta e de enchimento.
Nos quartos, cozinha e casa de banho, devido a não haver este
tipo de intervenção, a iluminação é mais simplificada. Por esta
razão pode haver candeeiros, candelabros ou iluminação
embutida no estuque do teto.
Fig. 72, 73, 74, 75 - (dir) Render's
expositivos de iluminação provinda de
teto como proposto, criação do autor.
Fig. 76 - Desenho esquemático com
corte, de organização de calhas para
novo esquema de iluminação, criação do
autor.
- 97 -
Capitulo 7.
7.2.10. As portas
Sempre que possível e devido à remoção de portas por
fechamento de vãos, preservam-se as portas originais (que são
imponentemente altas e construídas em madeira maciça segundo
as técnicas tradicionais), para a sua implementação no projeto.
Para o uso destas portas no projeto seria primeiramente
necessário serem lixadas, pintadas com primário, pintadas com
tinta branca e por fim ser-lhes aplicado um tipo de
envernizamento, sintético, celuloso ou "epoxy" para maior
resistência e melhor limpeza na sua manutenção.
7.2.11.Conforto Acústico
Edifícios como o estudado são constituídos de características
acústicas comuns nos edifícios antigos. Por terem as paredes
exteriores de pedra em conjunto com a gaiola, vulgarmente com
uma espessura elevada, em termos de acústica, resulta em
espaços com satisfatório isolamento acústico. Mas apesar da
espessura dos frontais, nas janelas e envidraçados torna-se
necessário intervir, por estas serem, os elementos responsáveis
pela maior perda de isolamento acústico para o exterior.
Relativamente ao isolamento interior, devido a estrutura ser de
madeira, a revibração do som estará sempre presente
(verticalmente, de piso para piso), mas no caso das escadas de
acesso ao elevador é importante assegurar um melhor isolamento
entre divisórias, as lajes usadas para o fazer nas escadas são
satisfatórias mas será pertinente aplicar isolante acústico nas
paredes dos quartos que partilham com esta divisão.
7.2.12.Conforto Térmico
Edifícios como o estudado, possuem propriedades construtivas
que se refletem nas características específicas das habitações.
Dada a constituição das paredes exteriores, como anteriormente
referido, a sua espessura traduz-se num aumento da inércia
térmica que se mostra favorável ao conforto térmico. O piso
térreo tem como característica principal ser bastante frio, durante
todo o ano, dadas as propriedades dos materiais para as paredes e
devido à fraca luminosidade a que este está sujeito. Já os pisos
elevados são bastante quentes no verão e frios no inverno devido
aos maus isolamentos, piorando as condições da habitação. Estes
aspetos resultam geralmente no aparecimento de patologias,
nomeadamente a humidade e bolores. Para corrigir estas
consequências é necessário garantir um isolamento devidamente
calculado.
- 98 -
Fig. 77. 78, 79, 80, 81 - Desenhos
esquemáticos da
organização
da
proposta. De cima para baixo, espaço
completo, organização das portas, nova
estrutura das paredes, novo plano de
calhas de iluminação e disposição dos
barrotes de suporte, criação do autor.
Capitulo 7.
7.2.13.Caracteristicas de valor acrescentado
Na economia, a expressão de valor acrescentado designa a
diferença entre o valor dos bens produzidos e os custos dos bens
intermédios, isto é, os bens que são utilizados para produzir
outros bens tais como as matérias-primas e serviços utilizados na
sua produção. Na arquitetura, e mais precisamente na reabilitação
e restauro de imóveis, o significado repete-se. O imóvel estudado,
tinha como preço inicial de leilão, perto de 1.000.000 euros
(966.000), e foi vendido por 1.500.000 (1.512.000) Este preço foi
definido pela procura do imóvel, pela sua localização na cidade,
estilo e estado de conservação. [em anexo] Contudo o edifício
reabilitado resulta numa nova valorização. O edifício estudado foi
vendido por 912 euros por metro quadrado, mas apartamentos
reabilitados na mesma rua variam entre 2.500 e 3.100 euros por
metro quadrado. Assim se subtrair-se aos 2188 (valor hipotético
em média dos apartamentos de alto valor na rua) o valor das
intervenções realizadas, equipamentos e mão-de-obra,
encontramos o potencial lucro, que este pode originar. Assim o
valor acrescentado entra na equação, como margem entre o custo
e o lucro. Esta pode ser preenchida e fundamentada pela
aplicação de materiais de qualidade, acabamentos rigorosos e
coesão no design , seja na originalidade ou funcionalidade. Se os
interiores seguirem uma filosofia de imóvel para alto “mercado”
questões como a singularidade do Design, apartamento com
novas funções e serviços (os chamados bens intermédios), pode
resultar num valor de duas/três vezes mais do que o valor inicial.
É com estes dados que se projeta e se fundamentam algumas das
escolhas dos materiais e estruturas.
Fig. 85 - Vista aérea de desenho
esquemático de apartamento explodido,
criação do autor.
Fig. 82 - Render de fachada com
apartamento e iluminação interior,
criação do autor.
Fig. 83 - Render de fachada de andar
nobre, 1º andar, criação do autor.
Fig. 84 - Render de interior de andar
nobre, 1º andar ,pormenor de iluminação
de sala, criação do autor.
- 99 -
Capitulo 7.
Fig. 86, 87- Fotografias de maqueta construtiva, da
organização do espaço, original (fundo branco) e
proposta (fundo preto) , criação do autor. Escala
1/50
- 100 -
Capitulo 7.
7.3.Divisórias /Interiores
- 101 -
Capitulo 7.
7.3.1.Aspetos técnicos dos Interiores
Para melhor percecionar/visualizar a proposta, é exposto em
desenhos tridimensionais e fotos trabalhadas da maqueta,
ambientes e detalhes de como os interiores do apartamento
ficariam. As escolhas apresentadas nas seguintes imagens
serviriam para a apresentação do apartamento modelo, para uma
futura "obra" de reabilitação viável.
Corredor
O corredor com seis portas, três em cada lado, faz a transição de
interior exterior do apartamento. Ao entrar neste, à esquerda,
apresenta-se um vão sem porta que faz ligação à cozinha e a um
dos quartos. Novamente à esquerda, apresenta-se a casa de banho,
no fim do corredor, o segundo quarto e a porta para a sala. É no
corredor que se apresenta o módulo de transparências em
contraste com as cores quentes do soalho flutuante.
Fig. 88, 89 - Planta de pormenor corredor (esq.) e planta explodida
(dir.) com fotomontagem de parede de corredor e casa de banho,
criação do autor.
- 102 -
Fig. 90 - Vista aérea com
fotomontagem de apartamento
com organização e proposta final,
criação do autor.
escala 1/50
Capitulo 7.
Corredor com organização
segundo o Projeto estipulado.
Paredes de corredor degradadas
com os estuques esburacados e o
aparecimento de tabique e gaiola.
1.Remoção completa dos
materiais em mau estado e
substituição dos mesmos nos
casos necessários(tabique/gaiola).
2.Limpeza e remoção dos materiais
intermédios (entre fasquiado/estuque
e gaiola/estuque) após a exposição do
tabique, e encerramento em tabique do
resto dos vãos.
3.Contagem e medição rigorosa
do espaço e cálculo de encaixe
dos painéis verticais nos barrotes
intercalares do tabique.
4.Montagem da caixilharia e sua
aplicação nos barrotes
intercalares do tabique com
perfurações limpas e rigorosas.
5.Montagem dos painéis verticais,
horizontalmente em grupo de quatro
painéis (máximo) e encaixe das
ligações entre painéis.
6.Aparafusamento e remate dos
encaixes dos painéis verticais aos
buracos feitos previamente nos
barrotes intercalares.
Figura 91: Procedimento de Aplicação da proposta
dos painéis verticais para o corredor, criação do
autor
- 103 -
Capitulo 7.
Casa de banho
A casa de banho feita de raiz apresenta-se com mobiliário e
equipamentos dentro do mesmo espírito minimalista atrás
referido, todos seguindo a cor branca e se possível de linhas
rígidas e volumes geométricos simples. É ainda sugerido umas
prateleiras semelhantes ás do corredor (com a mesma
composição), mas sem transparência e feito com o mesmo
material dos móveis. A escolha desta divisória no espaço do
apartamento deve-se à localização da "pia" aplicada nos anos 50's
quando algumas intervenções ao edifício foram feitas na tentativa
de modernizar o imóvel. Esta "pia" compunha-se
maioritariamente por um orifício vertical que passava por todos
os apartamentos ligando-se aos esgotos da rua. A disposição da
tubagem das águas que fornecem os lavatórios/ retrete e banheira
provém da tentativa da partilha da parede que fornece a água à
cozinha.
Fig. 92 - Render de
armário/prateleira para a casa de
banho, criação do autor.
Fig. 93 - Planta de pormenor
corredor com casa de banho, com
mobiliário, criação do autor.
Fig. 94 - Desenho esquemático
com vista interior de corredor e
casa de banho em render, criação
do autor.
Fig. 95 - Planta com corredor e
casa de banho em perspetiva, com
pormenor de proposta para
corredor, criação do autor.
- 104 -
Capitulo 7.
1.Estipular o espaço organizado
segundo o Projeto estipulado.
2.Aplicar tubagens de "águas" na
parede que esta divisão vai
partilhar com a cozinha.
3.Construção das paredes
limitadoras da nova divisão com o
mesmo processo gaiola e tabique.
4.Aplicação da azulejaria vertical
nos interiores da divisão (paredes)
seguindo a palete de cores
anteriormente estipuladas.
5.Aplicação do pavimento e
abertura de vãos para aplicação
dos equipamentos.
6.Aplicação dos equipamentos
essenciais nesta divisão, como
retrete banheira etc,
aproveitando a tubagem dos
esgotos da “pia” já existente.
7.Aplicação dos estuques no teto
com a iluminação embutida ou
candeeiro e tratar da electricidade
para possíveis tomadas.
8.Montagem .de armários e
prateleiras, com ou sem a mesma
geometria proposta e trabalhos
de acabamentos.
Figura 96: Fases de montagem da casa de banho no
espaço proposto, criação do autor
- 105 -
Capitulo 7.
Fig. 97 - Planta de pormenor de
cozinha, criação do autor.
Cozinha
A cozinha tal como a casa de banho segue o mesmo plano de
mobiliário e equipamentos dentro do mesmo espírito minimalista
atrás referido, de cor branca e geometria simples, mas os armários
nesta divisão não têm de ser necessariamente brancos, podem ser
creme, ou cor ligeiramente mais quente, sempre com o tom da
pedra da lareira. Os mármores das bancadas fica em "aberto" á
escolha por gosto, mas de preferência sem recorrer a mármores
pretos.
Fig.
98,
99
Desenho
esquemático com vista interior de
cozinha (cima) e vista de
pormenor (em baixo), criação do
autor.
- 106 -
Capitulo 7.
Quartos
Os quartos seguem uma organização e decoração semelhante ao
resto das divisões. É de notar que nestas duas divisões as paredes
são revestidas de material apropriado à preservação acústica do
quarto. Este revestimento que serve de isolante acústico, é a Lã
de vidro, já que é incombustível, não se deteriora e não favorece a
proliferação de fungos e bactérias. As paredes pintadas de cor
branca contrastam com o pavimento de soalho flutuante de cor
quente apropriado ao conforto térmico destas divisões. Em
relação ao mobiliário desta divisão, deve seguir a mesma
geometria do resto do apartamento. Para a iluminação, é proposto
algo irreverente para contrastar com a geometria simples dos
restantes equipamentos. Nesta divisão pode ser mais uma vez
usado a estante de painéis, semelhante à do corredor. Esta
coerência e direção a nível de geometria, deve ser aplicada
também na cama, cómoda e armário para a roupa.
Possibilidade de mobiliário a aplicar
Como já referido, para os interiores o mobiliário deve seguir uma
geometria de formas simples retangulares inspirada num
minimalismo de cores neutras. Esta vontade (pessoal) de não dar
destaque aos elementos decorativos deve-se a tentativa de expor a
estrutura e materiais, sem sobreposição de informação e estilos
artísticos. Tal como na rua, pretende-se que os interiores
partilhem uma coesão geométrica que faça a relação
interior/exterior. Esta geometria padronizada vem dos vãos das
janelas e alvenaria das fachadas dos edifícios composta
maioritariamente de retângulos, quadrados e paralelepípedos.
Fig. 100 - Planta de pormenor de
quartos com corredor, criação do
autor.
Fig. 101 - Vista e fotomontagem de
render e desenho esquemático de
quarto e corredor, criação do autor.
- 107 -
Capitulo 7.
Fig. 101 - Vista e fotomontagem de
render com pormenor de tijolo para
parede, alternativa 1, criação do
autor.
- 108 -
Fig. 102 - Vista e fotomontagem de
render com pormenor de estante,
alternativa 2, criação do autor.
Capitulo 7.
Sala com organização segundo o
Projeto estipulado.
Teto de espaço degradado com
estuques caídos e o aparecimento
de tabique e vigas de suporte.
1.Remoção completa dos
materiais em mau estado e
substituição dos mesmos nos
casos necessários.
2.Remoção de todos os materiais
intermédios como o tabique,
frisos e estuque, limpeza dos
barrotes de suporte de piso.
superior.
3.Tratamento dos barrotes,
remoção de pregos e aplicação de
tapa poros e tratamento para o
bicho da madeira.
4.Desbastamento das vigas de
suporte para a aplicação dos
painéis horizontais(semi-corte de
2 centímetros)para o encaixe.
5.Montagem /aplicação das
lâmpadas nas circunferências
previamente recortadas nos
painéis horizontais suportadas por
mola.
6.Aplicação das calhas e fios
eléctricos de forma a ficaram o
mais escondido possível agarrado
aos barrotes.
7.Aplicação de deslizamento dos
painéis horizontais pela calha feita
pelo desbastamento das vigas do
teto.
Figura 103: Procedimento de Aplicação da proposta
dos painéis horizontais da sala, criação do autor
- 109 -
Capitulo 7.
Fig. 104 - Planta de pormenor de
sala, criação do autor.
Sala
A sala segue a mesma organização e decoração do resto da casa.
No teto, a iluminação provem de painéis transparentes embutidos
nos barrotes de sustentação do piso superior, como já mencionado
este tipo de sistema procura enquadrar os materiais antigos com
os materiais novos. Este contraste, em conjunto com o branco das
paredes e mobiliário, cria uma atmosfera rica sem ser pesada e
antiquada. As paredes que a sala partilha com a casa de banho
podem ser ou não de tijolo burro exposto. Se assim for, requer-se
uma montagem rigorosa intercalada de cimento cola branco para
os acabamentos desta parede parecerem o menos "tosco"
possível, ao mesmo tempo que não tira a função do material
(personalidade).
Fig. 105, 106 - Foto de interior de
sala (esq.) e vista esquemática
com escala humana à (dir.),
criação do autor.
Fig. 107, 108 - Vista esquemática
de sala com pormenor de render á
(esq.), criação do autor.
b)Conclusões da investigação usadas no Projecto
7.5b.Manual de boas práticas .(aplic
- 110 -
Fig. 109- Vista esquemática de
sala com pormenor de tijolo,
alternativa 1criação do autor.
Fig. 110 - Vista esquemática de
sala com pormenor de estante,
alternativa 2, criação do autor.
- 111 -
Capitulo 7.
7.4. Conclusão e Considerações Finais
Como conclusão do capítulo sete "Projeto" analisa-se o
procedimento usado na maquetização do espaço estudado, em
conjunto com o papel do Designer como ética e responsabilidade
perante a proposta reabilitação sugerida.
7.4.1.Fotos de Maqueta e conclusão
A criação da maqueta a 1/100 foi feita com o intuito de expor o
sistema de construção Pombalino do edifício estudado, em
contraste com a fachada reabilitada. Este contraste torna a
maqueta não só estrutural-construtiva mas também explicativa.
A criação da maqueta a 1/50 foi feita com o intuito de melhor
compreender o espaço, ao mesmo tempo que se aplicava os
conhecimentos adquiridos da investigação do género construtivo
e sistema de suporte dos pisos. O facto de se ter escolhido fazer
esta maqueta dos interiores desmontável foi com o intuito de
auxiliar fisicamente o planeamento e montagem do espaço,
possibilitando varias escolhas de organização. Ao mesmo tempo
esta maqueta de detalhe é também de apresentação e exposição
para além de estudo, pois representa fielmente o espaço e a
proposta. É importante destacar a utilização das maquetas físicas,
como as apresentadas, dado que a riqueza do exercício está
propriamente nas descobertas a partir do manuseio de dimensões
recolhidas do espaço proposto. A proposta de elaboração das
maquetas a partir de uma única base é propiciar àquele que a
manuseia uma reflexão comparativa entre as diferentes
possibilidades de montagem, ressaltando aspetos diversos da
arquitetura, sejam eles adquiridos de forma palpável, ou de
vínculo entre as modulações e as limitações de ordem material e
construtiva. A criação destas maquetas proporcionou o estudo e a
aprendizagem também de um tipo de tecnologia nunca trabalhado
e útil para futuros trabalhos.
Fig. 111 - Fotografia de maqueta do
edifício estudado, sem retoques, criação do
autor. Escala 1/100
Fig. 112 - Fotografia de maqueta do
edifício estudado, sem retoques, criação do
autor. Escala 1/100
Fig. 113- Fotografia de maqueta
construtiva, em escorço da traseira
do apartamento, criação do autor.
Escala 1/50
- 112 -
Capitulo 7.
7.4.2. Conclusões
e acordo com a investigação realizada na parte teórica da
dissertação, apresentam-se escolhas propostas para o
projeto prático as quais seguiram as necessidades e novas
alternativas do “habitar” da contemporaneidade. As respetivas
escolhas de organização derivaram dos novos conceitos de espaço
e estruturação familiar que hoje estão presentes nos apartamentos
domésticos. A escala entre o homem e o espaço mudou, e perante
esta mudança não há necessidade de manter as assoalhadas
projetadas/construídas originalmente na implementação do
edifício. Contudo, este estudo de temas como conforto, escala e
geometria proporcionaram fazer a transição do apartamento
estudado como “boa prática” para uma proposta pessoal, que
inclui um Design "activo"e numa possibilidade de escolha para
quem reabilita este tipo de imóveis. Património e Reabilitação
podem funcionar em conjunto sem ter que os tratar como uma
proposta de um museu habitacional. Um espaço habitacional
pode pertencer a um edifício de interesse histórico e preservado e,
simultaneamente, evoluir e preencher os requisitos da
contemporaneidade. Os requisitos e necessidades que se
estudaram, responderam ao tipo de estruturas a adicionar ao
espaço. Estas estruturas podem ser interpretadas de várias
maneiras, sejam elas de caráter “intromissivo” ou de “mau gosto”
perante, aquilo que se poderia interpretar como um elemento
“completo” e “acabado”. Porém reabilitar para manter e perpetuar
as más escolhas, as incorretas aplicações é fechar os olhos ao que
se vê notoriamente incompleto, e este não pode ser o papel do
Designer. Este tem como responsabilidade ética no Design,
contextualizar o seu papel como ser humano (com vontades e
personalidade) para a viabilidade/estruturação do projeto. Na
atualidade o Designer tem de ter implícita uma responsabilidade
social além do campo da Produção, este deve contribuir para a
condução de um processo de aprendizagem mutua (entre a
sociedade e o Designer), baseado em novas formas de bem-estar,
que possam atingir uma parcela maior da população, e, ao mesmo
tempo, respeitar o meio-ambiente e atentar aos limites dos
recursos do planeta.
D
Fig. 114 - Fotografia de maqueta do dos
interiores com levantamento vertical dos
barrotes de suporte de piso superior,
criação do autor. Escala 1/50
Fig. 115 - Fotografia de
maqueta com parede
frontal
elevada,
e
fotomontagem, criação
do autor. Escala 1/50
- 113 -
O Designer não pode ser apenas um profissional que projeta e
produz "coisas". Este tem de ser alguém que entende e
sistematiza processos, que otimiza meios e métodos, usando a
produção, e quando necessário, pela tomada de consciência ou
seja, pela mudança. É com esta obrigação que o Designer deve
apresentar novos pontos de vista e ferramentas para a busca de
soluções para a cidade.
“Cada vez mais, os designers encontram lugar dentro de equipas
multidisciplinares, e são chamados a responder problemas de
pertinência global, de redesign de atitudes e paradigmas, muito
para la dos objetos e das mensagens ”(Bertolo, 2007)
Cabe ao Designer ser promotor, catalisador, mediador de uma
lógica de consumo e uma lógica de solução, não pode ser então
um elemento de neutralidade, não pode haver neutralidade nas
suas ações e escolhas. As escolhas que faz e as mensagens que
passa têm de coexistir com uma dimensão pública, que influencia
opiniões, veicula valores, que condiciona, direta ou
indiretamente, comportamentos e mentalidades. No caso da
reabilitação não pode haver uma vontade de aceitar pensamentos
ou decisões anteriormente pré-definidas, ou replicação de ações e
comportamentos por facilidades. O Designer de Interiores, assim,
deve estar consciente que com o seu conhecimento e criatividade,
deverá propor inovações que interfiram de forma positiva na vida
do “individuo” e no edifício em que ocorre a intervenção, na
cultura do local.
“Uma acção cultural positiva, proactiva, e aquela em que a
acção funciona como catalisador, reflectindo criticamente sobre
os valores e as estruturas existentes”(Bertolo, 2007)
No Projeto, a responsabilidade do Designer é a de prever
implicações e usos antes de passar à execução, fazendo a
referência ao tema desenvolvido de forma a ver a capacidade de
adaptação é prescindível, para se poder alertar para as potenciais
vantagens de viver num núcleo Histórico como o de Lisboa.
Fig. 117- Fotografia de maqueta construtiva, vista
frontal de andar "nobre" e apartamento com interiores,
criação do autor. Escala 1/50
- 114 -
Fig. 116 - Fotografia de maqueta com
parede frontal elevada, e fotomontagem
de transparências, para demonstrar
ligação interior/exterior, criação do
autor. Escala 1/50
Assim conclui-se que, apesar das diferentes possibilidades de
escolha, é o estudo dos conceitos de património, o estudo de
cartas como as estudadas, métodos construtivos, materiais,
conceitos e paradigma destes edifícios na cidade, que são o que
possibilita o Designer de interiores, ter uma opinião de valor,
suficientemente fundamentada para projetar. Voltando novamente
a pergunta geral da investigação;
É possível propor uma projeto de reabilitação viável para um
espaço interior considerado de património edificado, que
ofereça soluções estéticas e construtivas para o panorama dos
interiores contemporâneos?
Embora nesta dissertação não se tenha entrado nos pormenores de
organização espacial de uma forma mais detalhada e exaustiva, a
solução encontrada para a proposta baseia-se primordialmente na
aplicação dos elementos e equipamentos criados, para os locais
de pior estado do imóvel. Esta aplicação favorece e reabilita o
imóvel, ao mesmo tempo que lhe devolve vida e protagonismo,
expondo e constatando o que o compõem e o que o define. Estes
detalhes e pormenores construtivos que se expõem na
reabilitação enfatizam as qualidade e caraterísticas únicas do
edifício. Em suma para uma proposta de reabilitação viável não é
necessário implementações de grande dimensão, a solução pode
estar nos pequenos pormenores escondidos já existentes.
Fig. 118 - Fotografia de maqueta
construtiva, em axonometria, criação do
autor. Escala 1/50
escala 1/50
Fig. 119- Fotografia de maqueta,
explodida com vista para os interiores,
(pormenor de barrotes e sua ligação aos
frontais, criação do autor.
Escala 1/50
- 115 -
Por estas razões e outras conclui-se que, sim, é possível reabilitar
um espaço como estudado, não lhe retirando o que o define como
património, ao mesmo tempo que se preenche os requisitos
necessários, para uma habitação e interiores modernos e
contemporâneos.
Fig. 122- Desenho esquemático de
apartamento com explosão de secções
construtivas, criação do autor.
Fig. 120- Fotografia de maqueta
construtiva explodida, criação do autor.
Escala 1/50
Fig. 121- Fotografia de maqueta
construtiva vista interiores, criação do
autor. Escala 1/50
Fig. 123- Fig. 124- Render expositivo de
interiores com iluminação, criação do
autor.
- 116 -
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- 120 -
Anexo1. Declaração de utilização de informação com nome de tese antigo
- 121 -
Anexo2. Glossário de outros Termos Técnicos usados na
descrição do edifício Pombalino Trabalhado
A
Abertura- Termo genérico que resume todo e qualquer rasgo na
construção seja para dar lugar a portas e janelas, seja para criar
frestas ou vãos
Acabamento- Finalização de um trabalho de modo a dar ao
produto final um especto mais atrativo para o consumidor final.
Alçado- Representação gráfica de uma fachada em que figuram
as dimensões horizontais e verticais do edifício, bem como dos
elementos e pormenores que a compõem.
Alvenaria- Conjunto de pedras, de tijolos ou de blocos com ou
sem argamassa que forma paredes, muros e alicerces. Quando
esse conjunto sustenta a casa, tem como nome técnico alvenaria
estrutural.
Andar- Piso ou pavimento de um edifício acima do rés-do-chão
ou do piso térreo. Num edifício de habitação um andar pode ter
vários apartamentos.
Andar Nobre- Nos edifícios Pombalinos, trata-se do piso
imediatamente acima do pavimento térreo, que devido às suas
características arquitetónicas mais cuidadas, se destinavam na sua
implementação a famílias mais ricas.
Argamassa- Mistura de materiais granulares e sedimentares com
materiais aglomerantes como cimento ou cal em conjunto de
água, usada para unir ou revestir pedras, tijolos ou blocos, que
forma conjuntos de alvenaria, exemplo desta mistura é a
argamassa de Cal(cal+areias+água).
Azulejo- Ladrilho. Placa de cerâmica polida e vidrada.
B
Barrote- Viga ou trave de madeira, grossa, que sustenta as tabuas
do soalho, do ripado ou teto.
C
Cal- Material utilizado na preparação de algumas argamassas. É
obtida a partir da submissão da pedra calcária a temperatura
próximas dos 1000 º c, o que resulta no aparecimento do
monóxido de cálcio (CaO) que ganha o nome de cal virgem.
Cerâmica- Arte de fabricação de objetos de argila, tais como
tijolos, telhas e azulejos.
Claraboia- Abertura no teto do edifício, fechada por caixilharia de
vidro ou outro material transparente, para iluminar o interior.
Cobertura- Conjunto de telhas e estrutura de suporte em madeira
aço ou betão que serve de proteção à habitação.
E
Edificação- Obra, construção.
- 122 -
Envolvente- Tudo o que rodeia um determinado local.
Estrutura- Conjunto de elementos que forma o esqueleto de uma
obra e sustenta paredes, pisos, telhados ou forros.
Estuque- Massa á base de cal , gesso, arreia, cimento e agua,
usado no revestimento de paredes e forros nas paredes interiores.
Toda a argamassa de revestimento, geralmente acrescida de gesso
ou pó de mármore.
F
Fachada- Cada uma das faces de qualquer construção.
Forro- Material que reveste o teto, promove o isolamento térmico
entre o telhado e o piso. Pode ser de madeira, gesso, estuque e
outros.
Frontal- Parede interior resistente, composta por uma treliça de
madeira e preenchida através de uma argamassa de cal , pequenas
pedras e elementos cerâmicos.
G
Gaiola Pombalina- Sistema de pórticos tridimensionais, vigas
perpendiculares e cruzadas entre si, construídos em madeira.
H
Hall de entrada- Patamar de acesso ao interior da casa
I
Isolamento- Recurso para resguardar um ambiente do calor, do
som ou da humidade.
L
Lã de vidro- material isolante feito de fibra de vidro, disposto de
maneira a apresentar uma textura similar a lã com diferentes
propriedades térmicas e mecânicas. Possui aplicação, em tipos
especiais, tanto em propriedades químicas, de baixa reacção ao
meio, como conformação mecânica, de pouco risco na sua
aplicação e uso.
J
Janela- Abertura destinada a iluminar e ventilar os ambientes
interiores
L
Ladrilho- Peça quadrada ou retangular, com pouca espessura, de
cerâmica.
P
Parede- Elemento de vedação ou separação de ambientes.
Parede divisória- Parede construída no interior de uma edificação
para criar compartimentos.
Parede Mestra- Parede resistente, que suporta a estrutura da
edificação.
Pavimento- Andar. Conjunto de dependências de um edifício
situadas num mesmo nível, ver Piso.
- 123 -
Pé-Direito- Altura entre o piso e o teto.
Planta- Representação gráfica de uma construção onde cada
ambiente é visto de cima, sem o telhado.
Porta- Abertura feita nas paredes, nos muros ou em painéis
envidraçados, rasgada até ao nível do pavimento, que serve de
vedação ou acesso caracterização dos edifícios Pombalinos da
Baixa de Lisboa.
R
Reboco- Revestimento de parede feito com argamassa, de forma
a tornar a superfície lisa e regular.
Revestimento- Designação genérica dos materiais que são
aplicados sobre as superfícies toscas.
Ripa- Peça colocada perpendicularmente ao declive da vertente
de uma cobertura, para formar o ripado.
Ripado- Estrutura de suporte de subtelha ou da telha de uma
cobertura, formado por ripas dispostas perpendicularmente ao
declive da vertente, que constitui parte da estrutura secundária da
cobertura ou piso.
Rodapé- Faixa de proteção ao longo das bases das paredes, junto
ao piso. Os rodapés podem ser de madeira, cerâmica ou pedra.
S
Soalho- Piso de madeira de tábuas corridas.
Sótão- Divisão que surge dos desníveis do telhado no último
pavimento de uma construção.
T
Tabique- Parede divisória com 10 cm de espessura, obtida através
da pregagem de um fasquiado de madeira, sobre as tábuas
costaneiras, rebocadas em ambas as faces.
Tábua- Peça de madeira plana e delgada, própria para pisos.
Tábuas Costaneiras- Tábua à qual é pregado o fasquiado das
paredes de tabique.
Tijolo- Peça de barro cozido usada na alvenaria. Tem forma de
paralelepípedo rectangular com espessura igual a metade da
largura, que, por sua vez é igual a metade do comprimento.
Travessas- Elementos horizontais em madeira, das paredes mistas
da gaiola Pombalina.
V
Vão- Abertura ou rasgo numa parede numa parede para a
colocação de janelas ou portas.
Viga- Elemento estrutural de madeira, ferro ou betão armado
responsável pela sustentação das lajes. A viga transfere o peso
das lajes e dos restantes elementos como paredes , portas etc, etc
para as colunas.
- 124 -
Anexo3. Ata pública de venda do edifício
- 125 -
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