Saúde Coletiva ISSN: 1806-3365 [email protected] Editorial Bolina Brasil Cappelleti Nagai, Silvana; Ferreira Alves, Amanda; Justino, Angélica; Cazissi da Silva, Camila; Godoy Abreu, Luis Henrique Plantas medicinais: projeto de educação ecológica desenvolvido por acadêmicos de enfermagem Saúde Coletiva, vol. 7, núm. 42, 2010, pp. 173-178 Editorial Bolina São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84215103004 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto educação ambiental NagaiSC,AlvesAF,JustinoA,SilvaCC,AbreuLHG.Plantasmedicinais:projetodeeducaçãoecológicadesenvolvidoporacadêmicosdeenfermagem Plantas medicinais: projeto de educação ecológica desenvolvido por acadêmicos de enfermagem O projeto consiste em desenvolver um programa de educação ecológica em uma escola estadual do interior de São Paulo, por meio do cultivo e uso de plantas medicinais em um horto localizado na referida escola. Foram aplicados 146 questionários com perguntas abertas para avaliar o conhecimento de alunos. A implantação do horto medicinal contou com a elaboração de 16 canteiros e proporcionou aos alunos e à comunidade um conhecimento adequado e orientado sobre as plantas, a fitoterapia e a ampliação do processo de cuidar em enfermagem na escola. Descritores: fitoterapia,enfermagem,plantasmedicinais. The project consists in developing an ecologic educational program within a state school of São Paulo´s province, Brazil, through the culture and usage of medicinal plants in a garden located in the referred school. The 146 questionnaires were applied with open questions to evaluate the student´s knowledge. The implantation of medicinal garden depended on the preparation of 16 flower-beds and provided to the students and local community an adequate and guided knowledge about plants, phitotherapy and the enlargement process of nursing care in the school. Descriptors: phitotherapy,nursing,medicinalplants. El proyecto consiste en desarrollar un programa de educación ecológica en una escuela estatal del interior de São Paulo, Brasil, a través del cultivo y uso de plantas medicinales en un huerto localizado en la escuela. Fueran aplicados 146 cuestionarios, con preguntas abiertas para avaluar el conocimiento de los alumnos. La implantación del huerto medicinal contó con la elaboración de 16 canteros y proporciono a los alumnos y la comunidad conocimiento adecuado y orientado sobre las plantas y la fitoterapia y la ampliación del proceso de cuidar en enfermería en la escuela. Descriptores: fitoterapia,enfermería,hierbasmedicinales. Silvana Cappelleti Nagai Enfermeira. Mestre em Ciências Médicas pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Professora adjunta do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Paulista. [email protected] Amanda Ferreira Alves Enfermeira. Especialista em Geriatria. Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Recebido: 20/12/2008 Aprovado: 10/05/2010 INTRODUÇÃO s plantas medicinais estão presentes desde os primeiros registros sobre medicina tradicional chinesa, que datam de 2500 aC. Acredita-se também, que muitos documentos antigos tenham se perdido com o incêndio da biblioteca de Alexandria em 391 dC. Pode-se afirmar que há 2.000 anos antes do aparecimento dos primeiros médicos gregos, já existia medicina egípcia organizada, por meio de uma descoberta feita em 1873 pelo egiptólogo George Ebers, quando decifrou em um papiro: “Aqui começa o livro relativo à preparação dos A educacao_ambiental.indd 173 Angélica Justino Enfermeira. Hospital Beneficência Portuguesa de Campinas. Camila Cazissi da Silva Enfermeira. Especializanda em Enfermagem Nefrológica pela UNIFESP. Luis Henrique Godoy Abreu Enfermeiro. Mestrando em Tocoginecologia pela UNICAMP. CAISM Campinas, SP. remédios para todas as partes do corpo” 1. Observa-se que esse conhecimento foi passado de geração em geração, e se difundiu pelo mundo com o intercâmbio dos povos. Porém, com a era da razão inaugurada por Hipócrates, ocorreu certo esclarecimento sobre o assunto, desmistificando-se a crença de que as doenças e sua cura eram responsabilidades dos deuses. Tudo se tratava de fenômenos naturais passíveis de serem observados e estudados até poderem ser associados à cura. Hoje se sabe muito bem que o poder das plantas é proveniente de seu interior, da sua composição, da característica de suas substâncias que compõe ou que sintetizam. A partir das décadas de 1970 e 1980, o uso de plantas medicinais começou a ser resgatado no meio cientifico para atua- Saúde Coletiva2010;07(42):173-178 173 26/07/10 10:54 educação ambiental Nagai SC, Alves AF, Justino A, Silva CC, Abreu LHG. Plantas medicinais: projeto de educação ecológica desenvolvido por acadêmicos de enfermagem rem como complementares às praticas alopáticas, com apoio da Organização Mundial da Saúde2. Em setembro de 1978 na cidade de Alma-Ata, na Rússia, foi promovida a Conferência Internacional sobre Atenção Primária de Saúde, organizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Fundo das Nações Unidas (UNICEF), que gerou a Declaração da Alma Ata, onde recomendava aos estados membros, uma reformulação das políticas nacionais referentes à utilização de medicamentos. Nesta conferência foi criada a Declaração de Alma-Ata, onde se buscava diminuir as diferenças entre países desenvolvidos e em desenvolver-se no âmbito econômico e social do planeta, para que se atingisse a meta de saúde para todos até o ano de 2000. Para tanto, a partir desse momento, o uso de medicamentos à base de plantas medicinais com finalidades profiláticas, curativas, paliativas ou para fins de diagnóstico, passou a ser oficialmente reconhecido pela OMS3. Após a Declaração de Alma-Ata, algumas conferências foram fundamentais na busca pela promoção da saúde e equidade, dentre estas, a Conferência do Canadá em 1986, onde se formulou a Carta de Otawa2. No que se refere à utilização das plantas medicinais e fitoterapia como práticas de promoção da saúde, a Organização Mundial da Saúde elaborou um documento denominado “Estratégias da OMS sobre Medicina Tradicional 2002-2005”, incentivando sua política e reforçando o desenvolvimento das políticas públicas, em seus países membros4. Atualmente, uma grande parcela da população faz uso de medicamentos provindos de plantas medicinais, visto sua boa resposta nas terapêuticas, associada com custo baixo5. No Brasil, na época do período colonial, o uso de plantas medicinais já era prática comum dos indígenas, mas com a chegada dos colonizadores portugueses e dos escravos, foram acrescentados novos procedimentos que enriqueceram a cultura popular sobre a utilização dessas plantas. Os índios tinham um profundo conhecimento da flora nacional e das medidas curativas realizadas pelos pajés, sendo estes rituais carregados de elementos mágicos e místicos6. A economia predominantemente rural propiciou essa prá- 174 educacao_ambiental.indd 174 N tica, além de ser a única alternativa de tratamento. Porém, o seu uso como medicamento só foi regulamentada pela portaria nº 212 de 11 de setembro de 1981 do Ministério da Saúde, e desde então, existem várias pesquisas para comprovação farmacológica do uso das plantas medicinais da flora nacional, sendo esta, a maior e mais rica do planeta2,7. Em consonância com a Organização Mundial da Saúde, que incitou/excitou aos países membros para criarem políticas públicas que estimulassem a utilização da fitoterapia, em 2006, o Ministério da Saúde aprovou a Portaria nº 971 que criou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. E em 22 de junho do mesmo ano, foi criada a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos pelo decreto 58134,8,9. Em Campinas, cidade do interior do estado de São Paulo, a prática de plantas medicinas e aromáticas foi adotada desde 1990, quando uma profissional médica do Centro de Saúde de Joaquim Egidio criou um horto de plantas medicinais que atendia a população local. Porém, foi a partir de 1993, que a Rede Municipal de Saúde criou um programa de fitoterapicos. No início, foi indicado um grupo de profissionais de saúde que fazia parte do Departamento de Programas e Projetos da Secretaria Municipal de Saúde, que definiu quais as plantas medicinais seriam utilizadas em toda a rede de saúde pública, mediante receita médica, a saber: babosa, calêndula, guaco, quebra-pedra, maracujá e espinheira santa 10. Em 2001, o programa foi institucionalizado por meio da portaria nº 13, que reformulou a Comissão de Fitoterapia do Município. Em 22 de setembro de 2004, foi criada uma farmácia de manipulação cujo nome fantasia é “Botica da Família”, com uma produção mensal de 4.000 unidades de medicamentos fitoterápicos, distribuídos nas unidades básicas de saúde (UBS) de toda a cidade. Atualmente, as formas farmacêuticas que compõem a lista de fitoterápicos da Botica são: camomila chá (25 g), creme e gel de arnica 5%, creme e gel de babosa 25%, creme e gel de calêndula 5%, creme e gel de hamamélis 10%, espinheira santa chá (30g), gingko biloba (cápsula 40 mg), hipéricum (cápsula 300 mg), malva chá (20 g), maracujá chá (30 g), quebra-pedra chá (140 g), tintura de arnica (uso externo 20 ml), tintura de calêndula (uso externo 20 ml), xarope de guaco 10%, e xarope de guaco dietético 10%7. No presente trabalho de pesquisa, foi elaborado um projeto de educação ecológica através do uso e cultivo de plantas medicinais, por adolescentes, em uma escola pública, seguindo os objetivos da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterapia que determina que haja, dentro dos programas a serem implantados no país, uma preocupação com a valorização do conhecimento tradicional sobre plantas medicinais e também, o incentivo à programas de educação que levem esses conhecimentos à comunidade. Neste contexto, a educação ecológica deve visar a construção e ampliação da cultura e da cidadania da população, por meio do cultivo e uso adequado das plantas medicinais, resgatando o conhecimento tradicional popular, tendo como finalidade, proteger e ser respeitado como prática disponível na promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde. Em relação à educação em saúde, incluem-se as políti- Saúde Coletiva 2010;07 (42):173-178 26/07/10 10:54 educação ambiental NagaiSC,AlvesAF,JustinoA,SilvaCC,AbreuLHG.Plantasmedicinais:projetodeeducaçãoecológicadesenvolvidoporacadêmicosdeenfermagem conhecimento tradicional sobre plantas medicinais e também o incentivo aos programas de educação, que levem esses conhecimentos à comunidade, por meio de atividades que construam e ampliem a cultura e cidadania da população, tendo como finalidade, a promoção, a proteção, a recuperação e a reabilitação da saúde. Assim, os objetivos deste trabalho foram: levantar as plantas medicinais mais utilizadas pelos alunos da referida escola; elaborar um programa de educação em saúde aos escolares que valorize o conhecimento tradicional sobre plantas medicinais; e implantar o horto de plantas medicinais. Tabela 1. Uso de plantas medicinais com receita - alunos entrevistados. Campinas, 2008 Possui alguma receita com planta medicinal? Sim Não Semresposta Total Nº de respostas 46 73 27 146 % 31,5 50,0 18,5 100,0 cas públicas e ambientais apropriadas, para além dos tratamentos clínicos e curativos, com objetivo da melhoria da qualidade de vida e da promoção de saúde. Desta maneira, concebe-se que todos os profissionais que trabalham com o ser humano devam aprimorar uma visão holístico-ecológica, seja na produção de conhecimento ou na prestação de serviços, de modo a resgatar a importância da participação popular, não apenas sobre o risco de adoecer, mas na construção de suas vidas11. A enfermagem vem ampliando sua visão holística de saúde, valorizando a cultura e a tradição popular com o uso de plantas medicinais, associadas às condições econômicas do país, como forma de programar uma terapêutica com resultado positivo, com baixo custo, atualmente comprovada pela ciência. O enfermeiro é respaldado por lei por meio da Resolução 197/97 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), para fazer uso de terapias alternativas, dentre elas, as plantas medicinais, sendo responsabilidade deste a sua atualização dos saberes técnicos, científicos e culturais, em benefício de seus pacientes, coletividade e desenvolvimento da profissão2. Neste trabalho de pesquisa, elaborou-se um projeto de educação ecológica através do uso e cultivo de plantas medicinais por adolescentes em uma escola pública, seguindo os objetivos da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterapia, que determina que haja, dentro dos programas a serem implantados no país, uma preocupação com valorização do Gráfico 1. Faixa etária dos alunos entrevistados. Campinas, 2008 45 40 40 METODOLOGIA Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo e prospectivo sobre educação ecológica por meio do uso e cultivo das plantas medicinais em um horto, em uma escola estadual de ensino fundamental e médio, de um município do interior do estado de São Paulo, no período da manhã. Após parecer favorável de um Comitê de Ética em Pesquisa, protocolo nº. 039/08 CEP/ICS/UNIP, iniciou-se a coleta de dados no primeiro semestre de 2008, que constou de oito questões, sendo as duas primeiras de perfil socioeconômico e escolaridade dos moradores da casa dos entrevistados. As outras seis questões eram relacionadas às plantas medicinais que conheciam e as formas que utilizavam, se tinham horta na residência, se possuíam receita com utilização das plantas e se faziam uso das mesmas. A amostra contou com 146 alunos pertencentes ao período da manhã, sendo excluídos os que se recusaram a responder o questionário ou os que não estiveram presentes no dia da aplicação do mesmo. Os dados foram trabalhados da seguinte forma: encaminhamento do solo do canteiro já existente na escola para o Instituto Agronômico de Campinas (IAC); capacitação dos pesquisadores sobre semeadura, plantio e cultivo das plantas pesquisadas no IAC; apresentação dos dados colhidos pelos pesquisadores à direção da escola; elaboração de um cronograma de aulas com as plantas medicinais mais citadas pelos Gráfico 2. Escolaridade dos alunos entrevistados. Campinas, 2008 36 Número de respostas 35 25% 30 18% 27 25 13 15 5 0 1ºsérie 19 20 10 8ºsérie 36% 5 2 13 2ºsérie 21% 14 15 16 17 18 19 3ºsérie 4 outros Idade dos entrevistados educacao_ambiental.indd 175 Saúde Coletiva2010;07(42):173-178 175 26/07/10 10:54 educação ambiental NagaiSC,AlvesAF,JustinoA,SilvaCC,AbreuLHG.Plantasmedicinais:projetodeeducaçãoecológicadesenvolvidoporacadêmicosdeenfermagem Gráfico 3. Plantas medicinais citadas pelos alunos entrevistados. Campinas, 2008. 3 3 3 3 8 4 2 3 3 24 17 11 60 13 64 15 27 25 73 Boldo Ervacidreira Camomila Hortelã Ervadoce Alecrim Romã Quebrapedra Capimlimão Babosa Arruda Guaco Poejo Capimsanto Trepadeira Maconha Arnica Nenhuma Melissa Outros alunos; ministração de um conteúdo teórico sobre as plantas, com divisão das mesmas aleatoriamente entre as 10 turmas, sendo duas plantas para 8ª séries e 1º séries, e uma planta para 2º e 3º séries do ensino fundamental e médio. Houve a realização voluntária de cartazes pelos alunos sobre as plantas; exposição do trabalho no dia da árvore e a implantação do horto medicinal. RESULTADOS Com a urbanização e o avanço da tecnologia médica, a maioria das famílias se distanciou do uso e cultivo de plantas medicinais, ocorrendo uma dicotomia na continuidade do conhecimento popular para os mais jovens. Na presente pesquisa, foram aplicados 146 questionários para delimitar as plantas mais conhecidas pelos alunos do ensino fundamental e médio de uma escola pública, e foi constatado que as plantas medicinais mais conhecidas por esses alunos são: boldo, erva-cidreira, camomila, hortelã, erva doce, alecrim, romã, babosa, arruda, guaco, poejo e arnica. Em relação à faixa etária dos estudantes pesquisados, verificou-se que 70,5% dos respondentes possuem idade entre 14 e 16 anos, sendo a maior frequência de 27.4% com idade de 14 anos. Quanto ao gênero, 61,38% é feminino e 38,62% masculino. Na escolaridade observou-se que 25% dos alunos estão na 8ª série do ensino fundamental, 36,3% na 1ª série do ensino médio, 21% na 2ª serie do ensino médio, e 18% na 3ª série do ensino médio. No tocante a quais plantas conheciam, 21,28% dos entrevistados responderam que conheciam hortelã, 18,66%; ervacidreira, 17,49%; boldo, 7,87 erva doce; e 7,29% camomila. Todas as outras plantas citadas tiveram porcentagem menor que 5%. 176 educacao_ambiental.indd 176 N Barreto e colaboradores, na pesquisa sobre o conhecimento sobre plantas medicinais entre alunos do ensino fundamental encontrou que a planta mais conhecida por estes alunos é a hortelã, resposta que corrobora com esse estudo8. Quando questionados para que utilizavam as referidas plantas medicinais, 11,06% responderam para dor de estômago, 7,54% para gripe, 6,53% como remédio, 8,04% não sabiam responder, e uma porcentagem de 6,53% não responderam a questão. Todas as outras respostas foram abaixo de 4%. Nota-se que as famílias estão utilizando menos as plantas como recurso terapêutico na cura de patologias mais frequentes como gripe, problemas estomacais e nas patologias mais complexas como os cálculos renais, entre outras. Com relação à forma de utilização das plantas medicinais, os alunos responderam chá com 53,95%; 8,55% não sabiam a resposta; 5,92% não utilizavam plantas medicinais; 3,29% desconheciam as formas de utilização destas; e 15,13% não responderam. Observou-se um número considerável de alunos que não responderam e aqueles que não sabiam a resposta. Rigotti e Santos12, em artigo publicado sobre o conhecimento e uso da medicina alternativa entre alunos e professores de primeiro grau, descreve que uma das plantas mais conhecidas e utilizadas em forma de chá é o boldo e a erva cidreira, resultado em consonância com esta pesquisa. No que se refere à existência de horta nas residências 50,34% não possuíam, dado de extrema importância, pois revela a necessidade de resgatar a cultura popular das famílias sobre plantas medicinais e seu cultivo caseiro, o que vem de encontro com a proposta deste trabalho. Ao serem questionados sobre o uso de alguma receita domiciliar, 46 entrevistados responderam que sim, 73 responderam que não possuíam, e 21 não responderam. Observa-se por meio deste instrumento que o conhecimento popular dos alunos frente ao uso das plantas medicinais é baixo. Quanto à identificação botânica das plantas medicinais, os alunos demonstraram dificuldade em relacionar os nomes populares com a planta. Isso representa risco para o seu uso entre os alunos, pois identificavam de forma errônea as espécies das plantas medicinais. Porém, com o programa de educação apresentado, a formulação dos cartazes sobre as Gráfico 4. Plantas medicinais mais citadas pelos alunos. Campinas, 2008 27 60 73 64 Boldo Ervacidreira Camomila Hortelã Ervadoce 25 Saúde Coletiva2010;07(42):173-178 26/07/10 10:54 educação ambiental Nagai SC, Alves AF, Justino A, Silva CC, Abreu LHG. Plantas medicinais: projeto de educação ecológica desenvolvido por acadêmicos de enfermagem Gráfico 5. Plantas medicinais e a sua utilização de acordo aos entrevistados. Campinas, 2008 70 58 60 50 40 30 22 rim s ro e no le m a br Fe 2 O ut r re Em ag Xa 6 3 ce pe ro po am sp re 3 Pr ob Se m o ta os C N Sh há i ão et jo se o es e t. Tr a or D 13 3 pa D ra 13 2 iab ef 2 G rip ale lo be ca ca hu ia 2 do a id om M ac C de C Re alm m an éd te o ag m tô es io 3 5 En 7 10 0 16 15 13 11 C 20 plantas estudadas e a participação no plantio no horto, podese perceber um avanço na identificação botânica das espécies que os próprios alunos levantaram na pesquisa. Isto demonstra que o programa de educação sobre plantas medicinais foi oportuno para tirar as dúvidas e esclarecer a relação dos nomes populares das plantas medicinais, além da identificação botânica correta. Durante as aulas, após a apresentação do conteúdo teórico, os alunos voluntariamente realizaram cartazes sobre as plantas, utilizando cartolinas, cola, tesoura, canetas hidrocores (materiais fornecidos pela escola), e estes foram expostos no dia da árvore. A implantação do horto foi realizada em um espaço já existente na escola pesquisada, com o apoio da direção e dos professores, e com a presença de profissionais de saúde e agentes comunitários de saúde da Unidade Básica de Saúde (UBS), que abrange a comunidade local e profissional do Instituto Agronômico de Campinas. O plantio foi realizado pelos alunos da referida escola e com o auxílio dos pesquisadores acadêmicos que desenvolveram o projeto, utilizando-se das informações técnicas adquiridas durante a capacitação. Observou-se uma interação positiva dos alunos no momento da adubagem, preparo da terra e plantio do horto, o que ressaltou a importância de cada planta, enfatizando o uso de forma adequada. Dos 20 canteiros da referida escola, foram utilizados apenas 10, os demais serão empregados para o replantio das mudas. Após a implantação, os alunos participantes do plantio foram incumbidos de cuidar e de realizar a manutenção e os cuidados necessários, sendo divididos em escala semanalmente. Em relação aos professores e profissionais da saúde, notouse uma participação efetiva, já que os mesmos se mostraram Gráfico 6. Forma de utilização das plantas medicinais pelos entrevistados. Campinas, 2008 90 80 70 60 50 40 30 20 10 fe rid as a na s Pa ss an do C om id le ia C ef a a nç D oe aú se a N N ão se i e ro p Xa he on es c D G ar ga re j ço o ta Se m re s po s an do m Fu N ão ut C iliz há a 0 educacao_ambiental.indd 177 Saúde Coletiva 2010;07 (42):173-178 177 26/07/10 10:54 educação ambiental Nagai SC, Alves AF, Justino A, Silva CC, Abreu LHG. Plantas medicinais: projeto de educação ecológica desenvolvido por acadêmicos de enfermagem Gráfico 7. Cultivo de hortas em sua residência conforme os entrevistados. Campinas, 2008 80 73 Número de respostas 70 60 50 40 38 35 30 20 10 0 Sim Não Sem resposta Idade dos entrevistados interessados e colaborativos, trazendo experiências e relatos pessoais. Houve a presença de uma técnica da Secretaria Municipal de Educação, prestigiando o trabalho. Algumas instruções para realização do horto medicinal foram retiradas do “Projeto Farmácias Vivas”, planejado para atuar em pequenas comunidades do nordeste. Esse projeto foi implantado em toda a rede municipal da cidade de Fortaleza (CE), pelo professor de farmacologia da Universidade Federal do Ceará, Francisco José de Abreu Matos, em 1998. No referido projeto, destaca-se a importância da instalação das farmácias vivas nos ambientes escolares, com a finalidade de divulgar a utilização das plantas medicinais aos professores e alunos. CONCLUSÃO Mediante os resultados obtidos nesta pesquisa, pode-se perceber que os alunos estão receptivos quanto às informações relacionadas às plantas medicinais e o quanto a comunidade busca formas alternativas de tratamento para suas patologias. Porém, constatou-se uma perda considerável em relação à transferência do conhecimento do uso caseiro dessas plantas, a dificuldade na sua identificação botânica e na sua função farmacológica, ocorrendo divergência relacionada na assimilação e aplicação das mesmas. Esses dados mostraram a necessidade de incentivar os alunos e suas famílias a resgatarem a cultura popular no uso de plantas medicinais. O horto será mantido pelos alunos da referida escola, com parceria de uma universidade particular, tendo continuidade no futuro, onde as plantas cultivadas poderão ser usadas tanto na escola, quanto na comunidade, estabelecendo um vínculo com a UBS para que possam utilizar as plantas para tratar os pacientes, proporcionando uma melhor qualidade de vida para a população. Ressalta-se que esses profissionais, deverão se capacitar e se manter atualizados para o compromisso em auxiliar a comunidade e os alunos no uso de plantas medicinais. Essa pesquisa veio de encontro ao Programa de Saúde na Escola, instituído por decreto presidencial em 5 de dezembro de 2007, em conjunto com o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação, com o intuito de ampliar as ações específicas de saúde aos alunos da rede pública de ensino, e promover a cultura da paz, reforçando a prevenção de agravos à saúde, bem como fortalecer a relação entre as redes públicas de saúde e de educação9. A permanência desse projeto proporcionará ações de educação permanente, pois por meio da implantação do horto de plantas medicinais, haverá o auxílio tanto para comunidade escolar como para a comunidade e a UBS, permitindo assim, a participação de programas e projetos que articulam saúde e educação, além de proporcionar o envolvimento das equipes de saúde da família e de educação básica. A elaboração deste trabalho científico procurou desenvolver um projeto que resgatasse a cultura e os saberes da população, começando pela classe escolar que demonstrou estar apta a receber essas informações e a ampliar a atuação do profissional enfermeiro em relação às disciplinas educação em saúde e educação ambiental. Referências 1. Fundação Herbarium de Saúde e Pesquisa. Introdução a fitoterapia-utilizando adequadamente as plantas medicinais. [s.l.]: Herbarium Laboratório Botânico Colombo; 2008. 2. Alvin NAT. O uso de plantas medicinais como recurso terapêutico: das influências da formação profissional à implicações ética e legais de sua aplicabilidade como extensão da prática de cuidar realizada pela enfermeira. Rev Latinoam Enferm. 2006;14(3):316-23. 3. Organização Pan-americana da Saúde. Carta de Ottawa: Primeira Conferência Internacional Sobre Promoção de Saúde, 1986. 4. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política nacional de práticas integrativas e complementares no SUS. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. 5. Ministério da Saúde (BR). A fitoterapia no SUS e o programa de pesquisa de plantas medicinais da central de medicamentos. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. 6. Sossae FC. Plantas medicinais [Internet]. [citado em 2008 Fev 20]. Disponível em: http://educar. sc.usp.br/biologia/prociencias/medicinais.html. 7. Tomazzoni MI, Negrelle RRB, Centa ML. Fitoterapia popular: a busca instrumental enquanto pratica terapêutica. Texto & Contexto Enferm. 2008;(001):115-21. 8. Barreto LH, Sedovim WMR, Magalhães LMF. A ideia de estudantes de ensino fundamental sobre plantas. Rev Bras Biocienc. 2007;5(Supl. 1):711-3. 9. Ministério da Saúde (BR), Ministério da Educação (BR). Programa saúde na escola (PSE) – versão 12 – preliminar formatada após a reunião com o 178 Saúde Coletiva 2010;07 (42):173-178 educacao_ambiental.indd 178 GT atenção à saúde e GT VS CIT – MEC/MS no dia 07/02/08. 10. Prefeitura Municipal (Campinas). Fitoterapia em Campinas. Botica da família [Internet]. [citado em 2008 Fev 27]. Disponível em: http://antigo. campinas.sp.gov.br/saude/programa/integrativa/2_2_2.html. 11. Machado MF, Monteiro EM, Queiroz D, Vieira NF, Barroso MG. Integralidade, formação de saúde, educação em saúde e as propostas do SUS - uma revisão conceitual. Ciênc Saúde Coletiva. 2007;12(2):335-42. 12. Rigotti M, Santos MC. Educação ambiental e plantas medicinais para professores em escolas municipais em Dourados [Internet]. [citado em 2008 Out 23]. Disponível em: http://www.curaplantas. xpg.com.br/infoverde5.htm. 26/07/10 10:54