RESPOSTA HUMORAL CONTRA VACCINIA VIRUS EM VACAS LEITEIRAS NATURALMENTE INFECTADAS ANTIBODY RESPONSE AGAINST VACCINIA VIRUS IN NATURALLY INFECTED DAIRY COWS Ana Carolina Diniz Matos1,*; Priscilla Freitas Gerber2; Marieta Cristina Madureira3; Maria Isabel Maldonado Coelho Guedes4; Zélia Inês Portela Lobato5 RESUMO Estudos sobre a resposta imunológica em bovinos infectados com Vaccinia virus (VACV), e sobre a possibilidade de reinfecção e a manifestação de doença clínica são escassos. Neste trabalho foi avaliada a resposta imune humoral de animais naturalmente infectados (n = 82) de propriedades com surtos de vaccínia bovina (VB) no estado de Minas Gerais. Amostras de soro de vacas em lactação com manifestação clínica da doença, caracterizada por lesões exantemáticas nos tetos, (n = 60), e também sem sinais clínicos característicos de VB (n = 22) foram coletadas, ao longo de 17 meses, em 13 propriedades com surtos de VB e submetidas ao teste de imunoperoxidase em monocamada celular (IPMC). Anticorpos contra Vaccinia virus (VACV) foram detectados em todos os animais testados. No primeiro mês de infecção foi possível detectar até 68,53% de animais com altos títulos de IgG anti-VACV, que ao longo de 17 meses caiu para 21,43% demonstrando que anticorpos contra VACV podem persistir por mais de um ano e meio em animais que foram infectados pelo vírus. Considerando o perfil de resposta humoral em todo o período estudado, não houve diferença (p<0,05) entre os animais com sinais clínicos característicos da doença e os animais sem sintomatologia clínica. Com este resultado, é possível inferir que podem haver outras formas de infecção pelo vírus sem que haja sintomatologia clínica típica, ou mesmo que estes animais possam ter apresentado lesões nos tetos já cicatrizadas no momento da coleta. Palavras chave: Vaccinia virus, anticorpos, vaccinia bovina, resposta imune SUMMARY Studies about the immune response against Vaccinia virus (VACV) in infected animals, as well as about the possibility of reinfection and clinical disease are scarce. In this study, the humoral immune response of naturally infected animals (n = 82), belonging to properties with bovine vaccinia (BV) outbreaks in the state of Minas Gerais, were investigated. Serum samples from lactating cows with clinical disease, i.e., exanthematic lesions on the teats (n = 60) and also without typical clinical signs of BV (n = 22) were collected for 17 months, in 13 properties with BV and tested by an immunoperoxidase monolayer assay (IPMA). Antibodies against VACV were detected in all tested animals. In the first month of infection, 68.53% of animals presented high titers of IgG anti-VACV, which, during the 17 month-long period of this study, decreased to 21.43%. These results showed that antibodies against VACV may persist for more than a year and a half in animals that have been infected by the virus. The profile of the humoral response in the entire study period, showed that there was no difference (p <0.05) among animals with clinical signs characteristic of BV and animals without clinical _______________________ 1 Med. Vet. Mestranda em Ciência Animal, Escola de Veterinária da UFMG, 2 Med.Vet, doutoranda em Ciência Animal, UFMG; 3. Med. Vet. do Instituto Mineiro de Agropecuária, Doutora em Ciência Animal, UFMG; 4.Med. vet. PhD. UFMG; 5. Professora Associada da Escola de Veterinária da UFMG *Autor para correspondência: Laboratório de Pesquisa em Virologia Animal, Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Avenida Antônio Carlos 6627, Belo Horizonte, MG 30123-970, Brasil. Email: [email protected] signs. With this result, it could be infered that there may be other forms of infection without typical clinical signs, or even that these animals had already healed teat lesions at the time of serum samples collection. Key words: Vaccinia virus, antibodies, vaccinia bovina, immune response A Vaccinia bovina (VB), uma zoonose re-emergente caracterizada por lesões exantemáticas nos tetos e úberes de vacas em lactação, e também nas mãos e antebraços dos ordenhadores é causada pelo Vaccinia virus (VACV), pertencente ao gênero Orthopoxvirus. A transmissão da VB entre os animais ocorre principalmente através das mãos dos ordenhadores ou equipamentos de ordenha mecânica e a penetração do vírus se dá por soluções de continuidade em lesões pré-existentes nas tetas e úbere das vacas (TRINDADE et al., 2003). Não existem no mundo trabalhos sobre a resposta imune humoral da VB em bovinos, sendo desconhecidos os títulos e a duração dos anticorpos nos animais infectados. O estudo da duração e dos títulos de anticorpos é necessário para a identificação da persistência da proteção e da possibilidade de reinfecção e manifestação clínica da doença nos animais previamente infectados, além de possibilitar inferências sobre a circulação viral. Este trabalho teve como objetivo avaliar a resposta imune humoral de vacas em lactação naturalmente infectadas, com manifestação ou ausência de sinais clínicos característicos da doença. Para a realização da pesquisa foram coletadas amostras de soro de um total de 82 vacas em lactação oriundas de 13 propriedades com surtos de VB no ano de 2006, no estado de Minas Gerais. Essas amostras foram coletadas por médicos veterinários do Instituto Mineiro Agropecuário (IMA), ao longo de 17 meses, iniciando-se a coleta com aproximadamente 15 dias após o início do surto em cada propriedade. Não foi possível obter amostragem homogênea em todos os meses devido a variação de tempo na notificação das propriedades com surtos de VB. Nas 13 propriedades foram selecionadas vacas em lactação (n= 60) que apresentavam, no momento da primeira coleta, lesões exantemáticas nos tetos, características da doença, em variados graus de evolução, desde vesículas até a fase de cicatrização. Quando existiam, foram selecionadas, nas mesmas propriedades, vacas em lactação que apresentavam ausência da doença clínica, após criterioso exame clínico dos animais (n= 22). As amostras de soro coletadas foram usadas para a detecção de IgG anti-VACV, pela técnica de imunoperoxidase em monocamada celular (IPMC). Resumidamente, foram feitas diluições seriadas dos soros, as quais foram dispensadas sobre monocamada de células Vero infectadas com VACV, amostra WR, previamente fixadas com solução de acetona:metanol (1:1). As placas foram incubadas com as amostras por 1h a 37°C e então lavadas com PBSTween. Proteína G conjugada com peroxidase foi incubada por outra hora a 37°C. A revelação da reação foi feita com AEC. Os resultados foram expressos pelo inverso da última diluição com células marcadas. Os títulos de anticorpos foram expressos como: < 20, negativo; entre 20 e 180, baixo; ≥ 540, alto. Anticorpos anti-VACV foram identificados, em algum momento, em todos os animais testados, independentemente da presença de sinais clínicos de VB. Aos 15 dias após o início dos surtos nas propriedades, foi possível detectar altos títulos de IgG anti-VACV em 66,7% das vacas monitoradas e após 1 mês, o percentual de animais com títulos altos permaneceu entre 63,6% (14/22) nos animais sem sintomatologia clínica e 68,52% (37/54) nos animais com presença de lesões no tetos. Após 2 a 5 meses do início da doença nas propriedades, quando todos os animais que adoeceram já apresentavam cicatrização completa das lesões, foi possível observar aumento no número de vacas com títulos baixos (65,4%) e títulos negativos (23,08%), além de redução do número de animais com títulos altos de IgG anti-VACV. Até 17 meses após o início do surto nessas propriedades foi possível detectar animais com altos 2 títulos de anticorpos, porém a maioria das vacas (78,6%) já apresentava baixos títulos ou eram soro-negativas para VACV (Figura 1). Resultado semelhante foi observado por Madureira (2009), onde foram detectados anticorpos neutralizantes em animais infectados após 15 meses do início da doença clínica. Considerando o perfil de resposta humoral em todo o período estudado, não houve diferença (p<0,05) entre os animais com sinais clínicos característicos da doença e os animais sem sintomatologia clínica. Os resultados obtidos neste trabalho sugerem que podem haver outras formas de infecção pelo vírus sem que haja sintomatologia clínica típica, ou mesmo por formas variadas de circulação do VACV, como através de roedores peridomésticos, como foi descrito por Abrahão e colaboradores (2009). Pode-se inferir também, que os animais caracterizados com ausência de lesões nos tetos já haviam cicatrizado no momento do exame clínico, por isso apresentaram perfil sorológico semelhante aos animais com lesões no tetos e/ou úberes. Figura 1. Perfil sorológico de vacas em lactação natualmente infectadas por VB. Distribuição, em porcentagem, dos títulos de anticorpos contra VACV – negativos (<20), baixos (entre 20 e 180) e altos (>540) – nas 80 vacas testadas, oriundas de propriedades com surtos de VB monitoradas ao longo de 17 meses no estado de Minas Gerais. AGRADECIMENTOS: CNPq/MAPA, CAPES e FAPEMIG REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAHÃO, J.S.; GUEDES, M.I.M.C; TRINDADE, G.S. et al. One More Piece in the VACV Ecological Puzzle: Could Peridomestic Rodents Be the Link between Wildlife and Bovine Vaccinia Outbreaks in Brazil?. Plos One, v. 4, p. e7428, 2009. MADUREIRA, M. C. Vaccínia bovina no estado de Minas Gerais, 2005-2007. 77p. Tese (Doutorado em Ciência Animal) - Curso de Pós-graduação em Ciência Animal. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. TRINDADE, G. S.; FONSECA, F. G.; MARQUES, J. T. et al. Araçatuba virus: a Vaccinia like virus associated with Infection in humans and cattle. Emerging Infectious Diseases, v. 9, p. 1-9, 2003. 3