UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO PATRICIA GOMES WEHMUTH CINOMOSE: REVISÃO DE LITERATURA MOSSORÓ-RN 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO PATRICIA GOMES WEHMUTH CINOMOSE: REVISÃO DE LITERATURA Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semi-Árido-UFERSA Departamento de Ciências Animais Para obtenção do Título de Especialização em Clínica Médica de Pequenos Animais. Orientadora: Profª. D.Sc. Glaucia Frasnelli Mian MOSSORÓ-RN 2012 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: CINOMOSE Monografia apresentada à Equalis para a obtenção do título de especialista em Clínica de Pequenos Animais APROVADA EM: 21 de abril de 2012 BANCA EXAMINADORA __________________________________________ Prof. (UFERSA) Presidente _________________________________________________ Prof.M.Sc. (UFERSA) Primeiro membro ___________________________________________________ Prof. Dr. Glaucia Frasnelli Mian (UFLA) Segundo membro Dedico essa vitória, principalmente aos meus pais, Adalberto e Elaine e ao meu marido Giuliano, às minhas irmãs Ana Luiza e Fabiana, aos meus animais de estimação e a todos que passaram e passarão por minha vida. AGRADECIMENTOS Agradeço sempre a Deus por ter me orientado nesse caminho maravilhoso que estou trilhando. Meus pais Adalberto e Elaine, meu marido Giuliano, minhas irmãs Ana Luiza e Fabiana que me deram todo o apoio e suporte nessa jornada, sempre estiveram por perto em todos os momentos, tanto os de alegria quanto os de tristeza e que foram superados por mim para conclusão de mais essa etapa na minha vida. Á minha orintedora Glaucia Frasnelli Mian, pela dedicação, paciência e compreensão. Agradeço tão menos, a todos os meus animais de estimação: Candy, Nani, Taita e Trinny; cães maravilhosos que serão lembrados por todos os dias da minha vida. Resumo A cinomose é uma doença infectocontagiosa grave que acomete principalmente filhotes de três a seis meses de idade. É uma doença multissistêmica, afetando sistemas neurológico, gastrintestinal, respiratório, tegumentar e ocular. O objetivo desse estudo foi aprofundar o conhecimento da cinomose e mostrar a importância de desenvolver métodos diagnósticos de rotina para que muitos cães sobrevivam a essa doença com grande taxa de morbidade e mortalidade. Abstract Canine distemper is a serious infectious disease that mainly affects puppies from three to six months old. It is a multisystem disease, affecting neurological, gastrointestinal, respiratory, cutaneous and ocular systems. The objective of this study was to deepen our knowledge of canine distemper and show the importance of developing diagnostic routine for many dogs survive this disease with high morbidity and mortality. Key-words: canine distemper, puppies, multisystem, diagnostic SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 9 2. REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................................ 9 2.1 CINOMOSE CANINA ................................................................................................................. 9 2.2 ETIOLOGIA .............................................................................................................................. 10 2.3 EPIDEMIOLOGIA ..................................................................................................................... 10 2.4 SINAIS CLÍNICOS .................................................................................................................... 11 2.5 DIAGNÓSTICO ......................................................................................................................... 14 2.6 TRATAMENTO.............................................................................................................................. 19 2.7 PROFILAXIA ............................................................................................................................. 19 2.8 PROGNÓSTICO ......................................................................................................................... 23 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 23 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................... 24 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Manifestações clínicas da infecção pelo vírus da cinomose. ...................................13 Tabela 2- Resultado da técnica da RT-PCR para a detecção do gene da nucleoproteina do virus da cinomose canina em urina de cães com diferentes formas clinicas da infecção. .......15 Tabela 3- Freqüência dos sinais clínicos encontrados em cães com diagnóstico sugestivo de cinomose, distribuída de acordo com o resultado da RT-PCR para a detecção do gene da nucleoproteína do vírus da cinomose canina, realizada em urina. ...........................................16 Tabela 4- Frequência das características hematológicas encontradas em cães com diferentes formas clinicas sugestivas da infecção pelo vírus da cinomose canina distrubuída de acordo com o resulatado da RT-PCR. ..................................................................................................16 Tabela 5- Resumo do protocolo de vacinação sugerido para a imunização de cães contra infecções virais. ........................................................................................................................20 Tabela 6- Causas potenciais de falhas das vacinas. .................................................................21 Tabela7- Manipulação adequada de vacinas. ..........................................................................21 LISTA DE ABREVIATURAS AF: anticorpo fluorescente CPV: parvovírus canino FCE: fluido cerebroespinhal RNA: ácido ribonucléico RT-PCR: reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa SNC: sistema nervoso central VC: vírus da cinomose 9 1.INTRODUÇÃO A cinomose é uma das principais e a mais grave das doenças infectocontagiosas do cão, porém não se caracteriza como zoonose. É também uma das doenças virais de maior prevalência para esses animais. Pode atingir todas as faixas etárias, porém, em filhotes e em adultos jovens, de dois a três anos de idade, a taxa de morbidade e mortalidade são altas, em função da agressividade do vírus causador da cinomose (ANDRADE; 2008, SHERDING; 2008). O cão representa o principal reservatório para o vírus da cinomose e serve como fonte de infecção para os carnívoros selvagens (SILVA; 2009). A disseminação da cinomose ocorre de maneira rápida devido ao modo de transmissão do vírus, por meio de gotículas de aerossóis de todas as secreções corpóreas dos animais infectados. É uma doença considerada multissistêmica, afetando sistema.respiratório, nervoso, tegumentar, ocular e gastrintestinal, que podem ocorrer em sequência, simultaneamente ou isoladamente (NELSON et al; 2006). Os cães que sobrevivem, podem ter déficits neurológicos residuais de mioclonia ou disfunção olfatória ou visual (HOSKINS; 2004). Geralmente a mioclonia é considerada uma manifestção clássica dessa doença (SILVA; 2007). Muitos cães são diagnosticados com a doença diariamente em clínicas e hospitais veterinários de todo o país. A forma neurológica da cinomose é fatal na grande maioria das vezes, e a confirmação do diagnóstico clínico através do exame histopatológico se faz necessária em muitos casos (SILVA; 2009). O objetivo desse trabalho é desenvolver uma revisão de literatura sobre essa doença de grande importância na clínica de pequenos animais. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 CINOMOSE CANINA O vírus da cinomose causa uma doença altamente contagiosa de cães e todos os animais da família Canidae (dingo, raposa, coiote, lobo, chacal), da família Mustelidae (furão, zorrilho, jaritataca, texugo, marta, fuinha, lontra) e da família Procyonidae (mão-pelada, panda, japurá, quati) (BAUMANN; 1999, HOSKINS; 2004, SHERDING; 2008). O cão representa o principal reservatório do vírus (BAUMANN; 1999). A doença, atualmente, é encontrada difundida por todo mundo. Na América do Norte, no norte da Europa, e de forma crescente na Europa central, o vírus da cinomose produz numerosas baixas nas criações de visões (BAUMANN; 1999). 10 2.2 ETIOLOGIA A cinomose é causada pelo Morbillivirus, da família dos paramixovírus um vírus RNA grande que este estreitamente relacionado aos vírus do sarampo e da peste bovina. O vírus da cinomose é relativamente lábil, com a infectividade sendo destruída por calor, dessecação, detergentes, solventes lipídicos e desinfetantes,como fenóis e amônio quaternário (HOSKINS; 2004, SHERDING; 2008). Os raios solares destroem o vírus em 14 horas; à temperatura de laboratório é inativado no mesmo período de tempo, a 56 graus Celsius é destruído em 10 a 30 minutos. Sua resistência contra a dissecação e o frio é considerável. No material dessecado e congelado conserva, a 4 graus Celsius sua virulência durante meses; congelado à baixas temperaturas mantém sua capacidade durante anos. Para conservar o vírus é útil a liofilização numa solução de lactose-peptona. O pH ótimo para o vírus é 7,0. A lixívia de soda a 3% e uma solução de fenol a 0,5 a 0,75% possui uma ação destruidora do vírus (BAUMANN; 1999). O vírus da cinomose causa grave imunossupressão associada à lesão linfóide disseminada (apoptose), comprometimento da imunidade mediada pelos linfócitos B e T, linfopenia, atrofia do timo e prejuízo da respostas às citocinas (SHERDING; 2008). 2.3 EPIDEMIOLOGIA Apesar de ocorrer em todas as idades, a incidência é mais elevada em cães jovens, especialmente filhotes não vacinados que são expostos ao vírus após a perda de imunidade passiva adquirida pela ingestão de anticorpos de colostro materno (SHERDING; 2008). A replicação viral ocorre em tecido linfóide, nervoso e epitelial, e o vírus é eliminado nas secreções respiratórias e conjuntivais, nas fezes, saliva e urina, por até 60 a 90 dias após a infecção natural. Mas a principal via de infecção é a inalação do vírus presente em secreções, na forma de aerossol, ou pela transmissão por fômites (FENNER; 2004, SHERDING; 2008). O maior risco de disseminação do vírus é em local em que os cães são mantidos aglomerados (por exemplo, pet shop, canil, abrigo de animais e grupo de pesquisa). A transmissão transplacentária é uma via de contágio rara em neonatos (SHERDING; 2008). Após a inalação, o vírus é fagocitado pelos macrófagos e, no intervalo de 24 horas, é carreado através de vasos linfáticos para as tonsilas, linfonodos faríngeos e brônquicos, onde ocorre a replicação. O sistema nervoso central e os tecidos epiteliais são infectados aproximadamente 8 a 14 dias após o contágio pelo vírus da cinomose (HOSKINS; 2004). A gravidade da doença e os tecidos envolvidos variam de acordo com a cepa e dose do vírus, idade do animal e a condição imune do hospedeiro (NELSON et al; 2006). Algumas cepas do vírus são moderadamente virulentas e provocam infecções inaparentes. Outras 11 causam cinomose aguda com alta incidência de encefalites e alta mortalidade. Determinadas cepas são mais viscerotrópicas e causam doença debilitante com alta mortalidade e baixa incidência de encefalite. As infecções bacterianas secundárias decorrentes dos efeitos imunossupressores do vírus da cinomose em geral são responsáveis pelos sinais clínicos associados com a cinomose aguda. Essas infecções secundárias também contribuem para o índice de mortalidade da cinomose. A ocorrência de toxoplasmose, neosporose, coccidiose, enterite viral, criptosporidiose e giardíase pode ser intensificada pelos efeitos imunossupressores da infecção concomitante pelo vírus da cinomose (HOSKINS; 2004). Os cães não-imunizados de qualquer idade são susceptíveis, porém a doença é mais comum em filhotes entre 3 e 6 meses de idade (BAUMANN; 1999, NELSON et al; 2006). Um estudo realizado por Silva et al (2009), no qual foram analisados 620 casos, a porcentagem de filhotes acometidos pela cinomose foi de 51,6%, um pouco maior que a de adultos 46,2%, portanto nesse caso foi bastante alta também em cães adultos, o que contradiz o relatado na literatura. Nesse estudo os cães foram considerados adultos acima de um ano. Entretanto, neste estudo, embora cães adultos e idosos tenham sido os que mais freqüentemente manifestaram alterações clínicas ou histológicas que permitiram o diagnóstico da forma neurológica da doença, ou seja, 94,5% e 93,8% respectivamente, filhotes apresentaram um quadro neurológico em 87,5% dos casos, isto é, em uma porcentagem também muito alta de casos (SILVA; 2009). A replicação maciça do vírus em células epiteliais do trato respiratório, sistema gastrintestinal e trato genitourinário ocorre em cães com baixa resposta imune, em torno de 9 a 14 dias após a infecção; esses cães normalmente morrem devido a doença polissistêmica. Nos cães com moderada resposta imune, o vírus se replica em tecidos epiteliais por volta de 9 a 14 dias após a infecção, e os animais podem apresentar sinais clínicos resultantes da doença. Os cães com boa resposta imune mediada por células e títulos de anticorpos neutralizantes contra o vírus da ao redor do décimo quarto dia após a infecção eliminam o vírus na maioria dos tecidos e não se tornam sintomáticos. A maioria dos cães infectados desenvolve a infecção no sistema nervoso central, mas os sinais clínicos da doença no SNC, ocorrem apenas em cães com fraca ou ausente resposta de anticorpos. A desmielinização aguda resulta de infecção restritiva dos oligodendrócitos e de necrose subseqüente; a desmielinização crônica se deve a mecanismos imunomediados, incluindo anticorpos antimielina, além de formação e remoção de complexos imunes do vírus da cinomose (NELSON et al; 2006). 2.4 SINAIS CLÍNICOS Muitos cães clinicamente acometidos não foram vacinados, não receberam colostro de cadela imune, foram inapropriadamente vacinados ou estavam imunossuprimidos e também apresentavam história de exposição a animais infectados. Os proprietários geralmente apresentam os animais acometidos para avaliação de depressão, indisposição, secreção óculonasal, tosse, diarréia ou sinais de comprometimento do SNC (NELSON et al; 2006). Após a exposição ao VC, ocorrem febre transitória e perfil de leucopenia sem sinais evidentes de doença. Tosse, diarréia, vômito, anorexia, desidratação e perda de peso com debilidade 12 seguem o quadro inicial. Podem ocorrem corrimentos oculares e nasais mucopurulentos e pneumonias devido a infecções bacterianas secundárias. Erupção cutânea evoluindo para pústulas pode estar presente sobre o abdome. Coriorretinite multifocal com áreas irregulares de cinza a rosa de degeneração no fundo tapetal periférico e intermediário periférico e neurite óptica podem ser observadas na cinomose aguda. Formação de cicatriz e atrofia retinais podem ser notadas nos cães que se recuperam na infecção pela cinomose ou naqueles com doença crônica.a formação de cicatriz é caracterizada por áreas de hiper-reflexibilidade da luz. Irregularidades nas superfícies dentárias podem estar presentes devido à hipoplasia de esmalte. A osteopatia metafisária pode ser conseqüência do vírus da cinomose, visto que o RNA desse vírus foi detectado nas células ósseas metafisárias, podendo ser responsáveis por esse quadro de osteopatia (HOSKINS; 2004; SHERDING; 2008). Mioclonia, tique de mastigação, convulsões, ataxias, incoordenação, andar em circulo, hiperestesia, rigidez muscular, vocalização como se estivesse com dor, reações de medo e cegueira são os sinais neurológicos comuns na cinomose aguda. Os sinais neurológicos podem apresentar um inicio tardio, semanas ou meses após a recuperação de infecções inaparentes ou da cinomose aguda. Os cães com manifestação tardia desses sinais geralmente apresentam imunidade para o VC (BAUMANN; 1999, HOSKINS; 2004). O VC foi associado também com encefalite crônica em cães mais velhos. Os sinais clínicos incluem incoordenação, fraqueza nos membros pélvicos, déficits de reflexo à ameaça, diminuição da acuidade visual, inclinação da cabeça, nistagmo, paralisia facial e tremores cefálicos sem mioclonia. Conforme a encefalite evolui, os cães acometidos tornam-se mentalmente deprimidos, desenvolvem o andar em circulo compulsivo ou compressão cefálica e demonstram alteração no comportamento (HOSKINS; 2004). De acordo com um experimento realizado por Silva (2009) no laboratório de patologia veterinária da Universidade Federal de Santa Maria, foram analisados 70 cães, que apresentaram a forma neurológica da cinomose com presença de corpúsculos de inclusão. A maioria dos cães deste estudo 65,7% foi submetida à eutanásia devido ao agravamento do quadro clínico neurológico associado ao prognóstico desfavorável. Esses animais foram necropsiados, a maioria representada por fêmeas (58,6%); com relação a idade houve uma variação de dois meses a treze anos, entre eles 47,1% com menos de 1 ano. A evolução dos sinais clínicos variou entre 1-60 dias e em 47,8% dos casos a evolução clínica oscilou entre 715 dias. Em 26,1% dos casos a evolução clínica foi inferior a cinco dias. Numa prevalência idêntica (26,1%) a evolução clínica variou entre 20-60 dias. Nesse estudo as regiões mais afetadas foram o cerebelo (91,4%) e o diencéfalo (78,6%). Desmielinização foi a lesão mais prevalente, observada em 91,4% dos casos, localizada principalmente no cerebelo (88,6%), ponte (65,7%) e diencéfalo (61,4%). Com relação as manifestações clinicas, houve variação de sinais neurológicos, mas os mais evidentes forma mioclonia (41,4%), convulsão (38,6%) e ataxia (25,7%). A seguir há uma tabela complementar dos sinais clínicos que ocorrem devido ao vírus da cinomose (NELSON et al; 2006). 13 Tabela1- Manifestações clínicas da infecção pelo vírus da cinomose Infecção no ambiente uterino Afecção do trato gastrintestinal Afecção respiratória Afecção ocular Afecção neurológica Afecção no cordão medular Afecção vestibular Afecção cerebelar Afecção cerebral Mioclonia Sintomas inespecíficos Fonte: Nelson e Couto (2006) Natimortos Abortos Síndrome do definhamento do filhote no período neonatal Sinais de afecção do sistema nervoso central ao nascimento Vômito Diarréia do intestino delgado Descarga mucóide a mucopurulenta Espirros Tosse com aumento dos sons broncovesiculares ou crepitações à auscultação Dispnéia Retinocorioidites, lesão em medalhão, neurite óptica Ceratoconjuntivite seca Descarga ocular mucopurulenta forma de Paresia e ataxia Cabeça pendente, nistagmo e déficit da propriocepção consciente Ataxia, sacudir a cabeça e hipermetria Convulsões generalizadas ou parciais, depressão, cegueira, unilateral ou bilateral Movimento rítmico de um músculo ou de um grupo de músculos Febre Anorexia Aumento de tonsilas Desidratação Dermatose pustular Hiperceratose do nariz e dos coxins Hipoplasia do esmalte nos sobreviventes filhotes 14 2.5 DIAGNÓSTICO O diagnóstico presumível de cinomose canina baseia-se nos sinais clínicos típicos de um cão jovem, em torno de dois a seis meses de idade, com histórico de vacinação inadequada e possibilidade de exposição ao vírus. Mas de uma maneira geral o diagnóstico se baseia nos sinais clínicos e no histórico do animal (NELSON et al; 2006). Quando houver suspeita de cinomose, realize hemograma completo para avaliar a resposta leucocitária e radiografia de tórax para diagnosticar pneumonia (NELSON et al; 2006, SHERDING; 2004). Linfopenia (no inicio do pico febril), trombocitopenia e posteriormente leucocitose com neutrofilia, associada a complicações bacterianas secundárias, como pneumonia. Em cães que manifestam doença neurológica, cuja suspeita é de cinomose, proceda ao exame de fluido cerebroespinhal (FCE) de rotina, a fim de diferenciar infecção por VC de outras doenças. A presença de anticorpos anti-VC no SNC pode confirmar o diagnósticos, mas é necessário um laboratório especializado (SHERDING; 2004). Para demonstração do vírus pode-se observar corpúsculos de inclusão viral intracitoplasmático detectados em células de sangue periférico, células epiteliais ou biopsia, porém em vários casos não são encontrados (SHERDING; 2004). Essas inclusões são mais facilmente encontradas nos esfregaços confeccionados com o creme leucocitário ou com aspirados de medula óssea do que em esfregaços de sangue periférico (NELSON et al; 2006). Em um estudo realizado por Silva et al (2005) com 62 cães, pesquisou-se a presença do corpúsculo de Lentz , em cães com sintomatologia para cinomose. Como relatado por NELSON et al (2006), muitos desses animais não apresentaram esse corpúsculos, apenas 13 animais, o que corresponde a 21% do total foram positivos para a presença do corpúsculo de Lentz. Foram observadas lesões no epitélio intestinal causadas pelo vírus, com conseqüente diarréia, além da própria apatia determinada pela doença levam o animal a recusar o alimento. Isso leva a hipoproteinemia observada na maioria dos animais. Nesses 13 animais houve diminuição da albumina e em 54% (7/13), elevação da fração alfa 2 globulina, através de eletroforese dessas proteínas séricas. Esses resultados podem ser utilizados como diagnósticos auxiliares na cinomose canina (SILVA; 2005). Para um diagnóstico definitivo pode ser feito através da detecção do VC nas células epiteliais por meio do anticorpo fluorescente (AF) ou pelo isolamento do vírus. O teste sorológico pode ou não ser útil para diagnosticar a cinomose aguda, porque os cães com doença aguda de modo geral falham em responder imunologicamente. Os cães que se recuperam da cinomose aguda apresentam títulos de anticorpos mais baixos do que os cães com infecções inaparentes ou com imunidade induzida pela vacina (HOSKINS; 2004). O teste do AF é feito sobre as células epiteliais colhidas da conjuntiva e de outras mucosas ou sobre esfregaços de sangue ou de células da camada leucocitária, visto que o VC infecta linfócitos, trombócitos e, algumas vezes eritrócitos imaturos. A interpretação desse teste baseia-se na detecção do antígeno do VC somente no interior de células intactas e é bom para detectar células positivas para o VC durante os primeiros dias da doença aguda. O teste é 15 negativo nos casos de encefalite pela cinomose crônica ou de início tardio, porque os cães com esses distúrbios geralmente possuem anticorpos neutralizantes que eliminou o vírus ou que bloqueia a reação do AF. O antígeno viral persiste por mais tempo nos macrófagos e epitélio do trato respiratório inferior e no epitélio dos coxins nos cães que se recuperaram da cinomose aguda. Se der negativo, não descarta-se a cinomose. Já o teste positivo há antígeno desse vírus detectado nas células observadas, e os resultados devem ser interpretados em conjunto com a história e os sinais clínicos. O animal vacinado com o vírus atenuado, não será detectado nesse teste. A imunidade sistêmica impede a disseminação e limita a replicação e a resposta imune, o que mantém a imunidade nos cães adultos com exposição freqüente ao VC (HOSKINS; 2004). Um estudo realizado por GEBARA et al (2004), foi avaliada pela reação em cadeia da polimerase, precedida de transcrição reversa (RT-PCR) em amostras de urina de 87 cães que apresentaram sinais clínicos sugestivos de cinomose. Os cães foram divididos em quatro grupos, grupo A, 41 cães com sintomas sistêmicos da doença, grupo B 37 cães com sinais neurológicos, grupo C 9 cães com sinais sistêmicos e neurológicos simultaneamente e o grupo D como grupo controle com 20 cães assintomáticos (GEBARA; 2004). Das 87 amostras de urina (grupos A, B e C), provenientes de cães com sinais clínicos sugestivos de cinomose, a RT-PCR detectou 41 (47,1%) amostras positivas para o VC.(GEBARA; 2004) (Tabela 2). Tabela 2- Resultado da técnica da RT-PCR para a detecção do gene da nucleoproteina do virus da cinomose canina em urina de cães com diferentes formas clinicas da infecção RT-PCR Grupo Forma clínica Amostra analisada POSITIVO NEGATIVO A Sistêmica 41 21 20 B Neurológica 37 11 26 C Sistêmica e Neurológica 9 9 87 41 Total 46 Fonte: Gebara et al (2004) A RT-PCR realizada na urina dos cães incluídos no grupo A proporcionou o diagnóstico do VC em 51% (21/41) dos animais avaliados (GEBARA; 2004). A Tabela 3 apresenta os principais sinais clínicos observados nos cães incluídos nesse grupo. Na forma sistêmica da infecção pelo VC os sinais clínicos como apatia, anorexia, secreção óculo-nasal, tosse, vômito e diarréia, apesar de inespecíficos, são considerados freqüentes em cães com cinomose (HOSKINS; 2004, SHERDING; 2004). Nessa situação, a confirmação do diagnóstico do VC possibilita ao clínico a adoção de condutas terapêuticas mais apropriadas 16 e, particularmente nos casos negativos, abre a perspectiva da realização de novas condutas para o esclarecimento do diagnóstico (GEBARA; 2004). Tabela 3- Freqüência dos sinais clínicos encontrados em cães com diagnóstico sugestivo de cinomose, distribuída de acordo com o resultado da RT-PCR para a detecção do gene da nucleoproteína do vírus da cinomose canina, realizada em urina Forma clínica Sistêmica Neurológica Sistêmica e Neurológica Total Sinal clínico Gastrinterite,conjuntivite, secreção nasal e tosse Conjuntivite, secreção nasal e tosse Gastrinterite Convulsão, ataxia e mioclonia Apatia e anorexia Convulsão e ataxia Convulsão Mioclonia Convulsão, ataxia, mioclonia, secreção óculo-nasal e tosse Convulsão, ataxia, tosse e secreção óculo-nasal Amostra clínica 21 8 7 4 5 18 13 2 5 4 87 RT-PCR Positivo Negativo 11 10 3 5 4 3 4 3 2 3 15 3 10 1 1 5 4 41 46 Fonte: Gebara et al (2004) Com relação às alterações hematológicas, a linfocitose nos grupos com sinais clínicos (Tabela 4). O número de leucócitos totais nos animais desses três grupos foi muito semelhante, independentemente do resultado da RT-PCR. Outras alterações como linfopenia, leucopenia e anemia foram encontradas em menor freqüência de ocorrência. Nos cães do grupo D (controle), dois animais apresentaram anemia e leucocitose, que retornaram a valores normais 15 dias após a primeira análise (GEBARA; 2004). Tabela 4- Frequência das características hematológicas encontradas em cães com diferentes formas clínicas sugestivas da infecção pelo vírus da cinomose canina distribuída de acordo com o resultado da RT-PCR Caracteristicas hematológicas Leucocitose Leucopenia Linfopenia Anemia Nenhuma alteração Fonte: Gebara et al (2004) Frequência Amostra 58 18 9 12 5 RT-PCR Positivo Negativo 28 30 7 11 5 4 5 7 3 2 17 No período de até 15 dias de avaliação da evolução clínica seis cães, pertencentes ao grupo A e que foram positivos na técnica da RT-PCR, evoluíram para a fase neurológica da doença, com sinais de mioclonia e, por solicitação dos proprietários, foram submetidos a eutanásia. Ainda nesse período, a taxa de mortalidade entre os cães com sinais clínicos (grupos A, B e C), porém negativos na RT-PCR, foi de 17,4% (8/46). Nos cães negativos do grupo A houve três óbitos: dois após gastroenterite hemorrágica e um que desenvolveu pneumonia grave. Nenhum dos cães negativos do grupo A apresentou alterações neurológicas. Entre os cães negativos do grupo B (26/37), quatro foram submetidos a eutanásia por desenvolverem alterações neurológicas incompatíveis com a vida e um animal veio a óbito por complicações bacterianas secundárias. A taxa de mortalidade de 58.5% (24/41) observada nos cães positivos para o VC foi significativamente maior do que a encontrada nos cães com resultado negativo na RT-PCR. Entretanto, deve-se ressaltar que não foram realizados testes em paralelo para a identificação de outros agentes infecciosos que podem ocasionar sinais clínicos semelhantes aos apresentados pelos cães incluídos neste estudo (GEBARA;2004). Todos os animais do grupo controle (D) foram também avaliados por até 15 dias após a colheita de material biológico (urina/sangue) e nenhum deles apresentou qualquer sinal clínico sistêmico e/ou neurológico durante esse período (GEBARA; 2004). Métodos moleculares como a RT-PCR vêm sendo desenvolvidos com o objetivo de proporcionar o diagnóstico de forma rápida e, principalmente, para contornar os inconvenientes da não síntese de proteínas virais nas formas subaguda e crônica ou da presença de anticorpos, que podem interferir substancialmente na maioria dos métodos de diagnóstico ante mortem.. Apesar de sensível e específica, a RT-PCR pode também não excluir a infecção. Nesse caso, os resultados podem sofrer interferência de vários fatores tais como: seleção da seqüência alvo de nucleotídeos a ser amplificada, método de extração do RNA a ser utilizado, padronização dos reagentes empregados na técnica, seleção do material biológico a ser utilizado para o diagnóstico, forma de conservação e tempo de estocagem, uma vez que trata-se de um vírus cujo genoma é constituído por RNA de fita simples, que pode facilmente sofrer degradação. Entretanto, essa técnica, após adequada padronização, pode revelar-se como uma das principais ferramentas para o diagnóstico etiológico ante mortem da infecção pelo VC (GEBARA et al; 2004). Considerando a inespecificidade dos sinais clínicos e das alterações hematológicas nas infecções pelo VC, os resultados deste estudo ratificam a importância do desenvolvimento de métodos de diagnóstico etiológico para essa virose. A RT-PCR para a detecção do gene da nucleoproteína do VC, utilizando a urina como amostra biológica, proporcionou o diagnóstico ante mortem da cinomose em cães com sinais clínicos sugestivos da infecção. O emprego de um método sensível de diagnóstico ante mortem do VC permite que condutas adequadas de tratamento e profilaxia, tanto da cinomose canina quanto de outras enfermidades que apresentam sinais clínicos semelhantes, possam ser adotadas com antecipação e eficiência (GEBARA; 2004). Um outro realizado por SONNE et al (2009), foram utilizados 63 cães nos quais foram estabelecidos o diagnóstico de cinomose através do exame macroscópico e microscópico. Os cães utilizados no presente estudo morreram ou foram eutanasiados devido ao mau prognóstico. Foram utilizados fragmentos de vários órgãos, pulmão, estômago, bexiga, coxins digitais, tonsila, linfonodos mesentéricos, encéfalo, medula espinhal, medula óssea, coração, rins, baço, língua, timo, pálpebra, testículo/epidídimo, fígado, intestino delgado e grosso, orelha e olho foram coletados e fixados em solução de formalina a 10% sendo processados 18 por técnicas rotineiras de histologia e corados pela hematoxilina e eosina. Foi realizado o teste imunohistoquímico desses fragmentos. Como controle positivo foi utilizado fragmentos de estômago de um canino fixado durante 24 horas e com marcação imuno-histoquímica positiva para cinomose canina (SONNE; 2009). No encéfalo, principalmente no cerebelo, a principal lesão microscópica foi a desmielinização que ocorreu em 89,6% dos casos. Resultado semelhante foi recentemente relatado por Silva et al. (2007) que mencionam a desmielinização em 89,4% dos cães (SONNE; 2009). O tempo de fixação das amostras se mostrou importante, uma vez que o controle positivo perdeu sua marcação quando fixado por mais de 1 mês. Os tecidos analisados foram fixados por 24 a 48 horas em formol 10% e em um dos cães com tempo de fixação de 1 semana a não marcação do antígeno nos tecidos também pode estar relacionada ao tempo de fixação (SONNE; 2009). Os órgãos que obtiveram maior número de marcações foram os coxins digitais, demonstrando ser órgão indicado para a detecção do vírus da cinomose canina pela técnica de imuno-histoquímica (SONNE; 2009). O estômago é um dos órgãos de eleição para o diagnóstico histológico e imunohistoquímico da cinomose canina por usualmente conter um grande número de corpúsculos de inclusão viral, que foi confirmada neste estudo. Órgãos como pálpebra, orelha e língua demonstraram bons resultados na análise imuno-histoquímica, podendo a orelha, por exemplo, ser utilizada tanto no diagnóstico ante mortem como post mortem da cinomose canina (SONNE; 2009). Neste estudo, a presença de corpúsculos de inclusão intracitoplasmático e intranuclear foi um achado microscópico importante para o diagnóstico da cinomose canina. Porém, em alguns órgãos a sua detecção pode ser difícil como ocorre, por exemplo, em órgãos linfóides. Os coxins digitais, estômago, pálpebra, orelha, tonsila e linfonodos, língua e cerebelo foram órgãos mais adequados para a detecção do antígeno viral da cinomose canina pelo teste imuno-histoquímico. A imuno-histoquímica demonstrou ser um bom método auxiliar no diagnóstico post mortem da cinomose canina, permitindo a visualização do antígeno viral em locais onde ele não é facilmente observado e em tecidos com autólise (SONNE; 2009). Em um estudo realizado por Almeida et al (2009), foram realizados exames como mielograma, hemograma e a ocorrência de apoptose no sangue periférico e na medula óssea de cães com cinomose de ocorrência natural. Foram utilizados 15 cães distribuídos em dois grupos: (a) controle - seis animais clinicamente saudáveis com RT-PCR negativa para o vírus da cinomose canina (VC); (b) infectado - nove animais com manifestações clínicas de VC e RT-PCR positiva (ALMEIDA; 2009). Nos animais do grupo controle, o resultado do hemograma foi dentro da normalidade, já em oito dos animais infectados houve redução na contagem de hemácias, hematócrito, caracterizando anemia (ALMEIDA; 2009). No esfregaço sanguíneo dos cães do grupo-controle, não foram observadas células em apoptose. No grupo dos animais infectados, este achado foi constante (ALMEIDA; 2009). 19 As alterações hematológicas mais relevantes da VC incluem: anemia normocítica normocrômica de discreta a moderada; linfopenia; desvio nuclear dos neutrófilos para a esquerda no sangue periférico e elevado índice apoptótico no sangue e medula óssea (ALMEIDA; 2009). 2.6 TRATAMENTO Não há drogas antivirais para o tratamento da cinomose. O tratamento é de suporte e inespecífico. Se o animal estiver apresentando perdas eletrolíticas através de vomito ou diarréia, é importante a administração de fluidoterapia parenteral, para hidratação constante e uso de antiemético e antidiarréico (HOSKINS; 2004, SHERDING; 2004, NELSON et al, 2006). Para infecções bacterianas secundárias do trato gastrintestinal e do sistema respiratório, recomenda-se a utilização de antibióticos de amplo espectro (HOSKINS; 2004, SHERDING; 2004, NELSON et al, 2006). Para animais com sinais neurológicos, como as convulsões, administrar uma dose única de dexametasona intravenosa para controle de edema do SNC, mas esse protocolo só é recomendado em alguns cães com a doença crônica e contra-indicada na doença aguda. Fazse também a administração de anticonvulsivantes com fenobarbital, diazepam ou brometo de potássio (SHERING; 2004, NELSON et al; 2006). É importante manter a região de olhos e nariz sempre ausentes de secreções, suporte nutricional, ingestão adequada de fluido ou fluidoterapia parenteral e manter esse animal isolado de outros para que não haja disseminação da doença para outros animais susceptíveis (SHERING; 2004). 2.7 PROFILAXIA O filhote canino neonato adquire imunidade contra o virus da cinomose através da ingestão de colostro da própria mãe. A maior parte desses anticorpos é transferida nas primeiras horas após o nascimento. Esses anticorpos protegem a maior parte dos filhotes de cães após o desmame e desaparecem gradativamente entre 8 e 14 semanas de idade. Com esses anticorpos presentes há interferência à resposta vacinal, mas na maior parte dos cães há uma diminuição para um nível que permite imunização efetiva à décima segunda semana de idade (SHERING; 2004). O fundamento da profilaxia da cinomose é a vacinação que estimula as respostas imunes, humoral, mucosal ou mediada por células. A vacina produzida com vírus vivo 20 atenuado em culturas celulares e as recombinantes são altamente eficaz na proteção dos cães (BAUMANN; 1999, NELSON et al; 2006). A imunização contra a cinomose se inicia entre seis a oito semanas de idade, com intervalos entre três a quatro semanas entre as doses vacinais (ANDRADE; 2008, SHERING; 2004, HOSKINS; 2004, NELSON et al; 2006). A idade na qual o cãozinho se torna suscetível a cinomose é proporcional ao título do anticorpo de sua mãe e varia de acordo com a transferência colostral do anticorpo a ele. Por ter uma variação desse imunização em função de uma idade variável, administra-se uma serie de vacinações de acordo com programas que sejam práticos e que maximizem a probabilidade de induzir a imunidade (Tabela 5) (HOSKINS; 2004) . Tabela 5- Resumo do protocolo de vacinação sugerido para a imunização de cães contra infecções virais. Idade 6 semanas 9 semanas 12 semanas 15-16 semanas Doença Cinomose Hepatite infecciosa canina Parvovirus Coronavirus Parainfluenza Cinomose Hepatite infecciosa canina Parvovirus Coronavirus Parainfluenza Cinomose Hepatite infecciosa canina Parvovirus Coronavirus Parainfluenza Raiva Cinomose Hepatite infecciosa canina Parvovirus Coronavirus Parainfluenza Raiva Fonte: Ettinger (2004) Em algumas circunstâncias, como fraca imunidade colostral e alta exposição ao vírus no campo, a imunização deve ser iniciada mais precocemente com vacinas capazes de sobrepujar com mais eficiência a barreira representada pelos anticorpos maternos, nesses ambientes a última dose do protocolo vacinal inicial deve ser aplicada entre 14 e 16 semanas 21 de idade. Animais com quatro meses de idade, pode ser dada uma dose única ou duas doses aplicadas em intervalos de 3 a 4 semanas, promovendo adequada imunização dos cães. O reforço dessa vacina pode ser anual ou trienal também é suficiente para manter a imunidade do animal (ANDRADE; 2008). Não se recomenda a aplicação intravenosa da vacina contra cinomose como forma de profilaxia ou tratamento (ANDRADE; 2008). É importante relatar as causas de falhas das vacinas (NELSON et al; 2006) (Tabela 6) e sua manipulação adequada (NELSON et al; 2006) (Tabela 7), pois pode levar ao animal desenvolver a cinomose ou qualquer outra doença infecciosa. Tabela 6- Causas potenciais de falhas das vacinas Respostas imunológicas protetoras sem estimulação pelos antígenos vacinais Exposição a uma cepa a qual a vacina não protege Resposta imune induzida pela vacina foi enfraquecida pelo tempo de exposição Resposta imune induzida pela vacina foi sobrepujada pelo grau de exposição Vacina administrada ou manipulada de maneira inapropriada Incubação da doença quando foi vacinado Incapacidade de responder a vacina devido à imunossupressão Animais com anticorpos maternos que minimizaram a resposta vacinal O produto atenuado induziu a doença Fonte: Nelson e Couto (2006) Tabela 7- Manipulação adequada de vacinas Manter a temperatura recomendada até a administração Proteger o contato com a luz ultravioleta Reconstituir imediatamente antes do uso Não misturar vacinas na mesma seringa Não usar seringas esterilizadas quimicamente para administrar produtos atenuados Se forem utilizados frascos pequenos multiuso, misturar bem o conteúdo antes de retirar o equivalente a uma dose Descartar as vacinas com prazos de validade vencidos Fonte: Nelson e Couto (2006) Segundo um estudo realizado por Tudury et al (1997), foram utilizados 81 cães com distúrbios sistêmicos e neurológicos sugestivos de infecção pelo vírus da cinomose. Em todos os casos foram realizados anamnese, exames físico e neurológico, exame oftalmológico incluindo fundoscopia e teste I de Schirmer, hemograma, análise de líquor, pesquisa de corpúsculos de Lentz e histologia do sistema nervoso central (SNC)(TUDURY; 1997). 22 Foi constatada ocorrência freqüente de: alteração das reações posturais (87,65%), diminuição da secreção lacrimal (83,95%), presença de mioclonias (75,30%), paresias (69,12%), conjuntivite (56,79%), corioretinite/hiperqueratose naso-digital (51,85%), linfopenia (51,85%), anemia (48,05%), principalmente microcítica hipocrômica, e discretas alterações liquóricas caracterizadas por aumento de proteínas totais (77,33%) e pleocitose linfocítica (50,72%). A presença de corpúsculos de Lentz em tecidos extraneurais oscilou entre 30 e 45%, com maior freqüência em linfonodos (TUDURY; 1997). De acordo com anamnese, 70,37% dos pacientes nunca haviam sido vacinados contra a cinomose, 11,11% receberam somente uma dose desta mesma vacina e que apenas 18,52% dos pacientes foram submetidos a um correto programa de vacinação. Portanto, com relação ao estudo em questão a vacinação correta poderia evitar muitos casos de cinomose (TUDURY; 1997). Segundo Hass et al (2008), através de um estudo com 132 amostras de soro de cães de várias origens, que teve como objetivos determinar os títulos de anticorpos contra o VC e o CPV(parvovirus canino) em cães não vacinados e vacinados e analisar a imunidade nesses animais. Além disso, avaliou-se associação entre determinados aspectos epidemiológicos (idade, acesso à rua e histórico de vacinação) e os níveis de anticorpos (HASS; 2008). Para o vírus da cinomose título de anticorpos igual ou maior que 20 foi considerado como indicador de imunidade contra o VC (Krakowka et al., 1975). Anticorpos contra o VC foram encontrados em 58,3% (77/132) dos cães. A imunidade foi detectada em 40,1% (53/132), sendo 33,3% (6/18) em animais de possuíam entre sete a 12 meses de idade; 43,6% (24/55) nos de um a cinco anos; 40% (10/25) nos de seis anos; e em 59,1% (13/22) nos de idade desconhecida. Não foram detectados animais com imunidade ao CDV nas faixas etárias de zero a seis meses de idade. Nos animais adultos (com idade acima de um ano), os níveis de anticorpos foram mais altos que nos cães com menos de um ano (HASS; 2008). Em relação à moradia, foi observada tendência a maiores níveis de anticorpos nos animais com acesso à rua. Foram detectados anticorpos em títulos >20 em 31,2% dos cães isolados, em 48% (24/50) dos que tinham acesso à rua e em 50% (6/12) dos que viviam sempre na rua. Independente do título, a positividade foi de 44,7% (17/38) em cães isolados, 68% em cães com acesso à rua e 58,3% em cães de rua. Possivelmente, os maiores níveis de anticorpos nos cães com acesso à rua, da mesma forma que nos adultos, indiquem a exposição natural ao VC (HASS; 2008). Dos 80 cães vacinados com pelo menos uma dose contra o VC, 32 (39,8%) apresentaram anticorpos em níveis protetores, o que indica uma resposta pós-vacinal. Contudo, tais níveis estavam presentes em 31,8% (7/22) dos não vacinados e em 46,6% (14/30) dos com histórico desconhecido sobre vacinação, o que sugere a ocorrência de imunização devido à exposição natural (HASS; 2008). A maioria dos vacinados, 60,2% (48/80), não apresentava anticorpos, ou apresentava título menor que 20 (HASS; 2008). Várias razões podem explicar, ao menos parcialmente, a 23 falha na indução de imunidade. Foi considerado como vacinado o cão que havia sido imunizado pelo menos uma vez, porém, se a vacinação foi realizada em um animal muito jovem, os anticorpos maternos podem ter interferido no desenvolvimento de uma imunidade ativa (SAUNDERS; 2008). Também pode ter sido realizada a imunização em animais com sistema imunológico debilitado. Além disso, deve-se considerar que o estoque e o manejo das vacinas podem influenciar sua eficácia, e que as vacinas podem apresentar diferentes capacidades imunogênicas. Contudo, diante do grande número de cães não reagentes ou com títulos de anticorpos considerados incompatíveis com a proteção, a qualidade das vacinas comerciais contra o VC utilizadas no Brasil deve ser reavaliada (HASS; 2008). Um estudo realizado por BIAZZONO et al (2001), com o objetivo de investigar a cinética da resposta imune em cães jovens vacinados contra cinomose, com vírus atenuado, por meio do teste de soroneutralização. Onze cães sadios da raça Beagle, oriundos de cadelas imunizadas; observados do nascimento até 30 meses de idade, isolados de outros cães, receberam vacina monovalente viva atenuada de cinomose canina aos 75, 105 e 135 dias de idade e doze meses após a terceira dose vacinal (BIAZZONO; 2001). Conclui-se que a vacina utilizada foi eficiente na indução da imunidade em filhotes cujos anticorpos maternos já haviam sido catabolizados. Após a administração da primeira dose de vacina, os cães já apresentaram títulos de anticorpos em níveis protetores e, após a revacinação anual, os títulos de anticorpos perduram por mais de 12 meses, não indicando a necessidade de reforço imediatamente após um ano (BIAZZONO; 2001). 2.8 PROGNÓSTICO A taxa de mortalidade é variável, contudo é mais alta em filhotes caninos jovens, especialmente aqueles com febre alta, grave doença multissistêmica, pneumonia grave ou doença nervosa progressiva (SHERING; 2008). Os déficits neurológicos causados pelo VC frequentemente são progressivos e irreversíveis, para esses pacientes a eutanásia normalmente é recomendada (NELSON et al; 2006). 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Portanto, a cinomose sendo uma doença viral de grande importância deve ser estudada a cada dia mais, para que métodos diagnósticos mais simples e confiáves sejam realizados como procedimentos de rotina. A vacinação correta também se faz necessária, pois pode evitar muitos casos de cinomose. 24 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, R. K.; VASCONCELOS, A. C.; CARNEIRO, R. A.; PAES, P. R. O.; MORO, L. Alterações citológicas do sangue periférico e da medula óssea de cães com cinomose. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.61, n. 6, Belo Horizonte, dez. 2009. ANDRADE, S. F. Manual de terapêutica veterinária. 3.ed. São Paulo: Roca, 2008. p. 778-779. BAUMANN, G. In: BEER, J. Doenças infecciosas em Animais Domésticos. 2. Ed. São Paulo: Roca, 1999, Cap.8, p. 158-164. BIAZZONO, L.; HAGIWARA, M. K.; CORRÊA, A. R. Avaliação da resposta imune humoral em cães jovens imunizados contra a cinomose com vacina de vírus atenuado. 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