SAÚDE INTEGRAL

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O Senhor Deputado NEILTON MULIM (PR/RJ) pronuncia o
seguinte discurso - Senhor Presidente, senhoras e senhores deputados,
minhas senhoras e meus senhores,
Venho a esta Tribuna, numa missão especial, ser a voz de muitos cidadãos,
que como nós hoje aqui nesta Casa, puderam falar e lutar por tantos
assuntos urgentes e relevantes, mas que hoje se encontram internados em
um hospital completamente dependentes e limitados, sem condições, na
maioria das vezes, de falar nem mesmo de seus incômodos e de suas dores,
muitos entubados e inconscientes. Falo em nome de todos os brasileiros
que se encontram nos leitos de uma Unidade de Terapia Intensiva – UTI,
lutando pela vida e de profissionais que desejam integrar a equipe
multiprofissional dos hospitais, convictos de que suas participações podem
contribuir, e muito, para agregar mais saúde, mais vida e menos custos nas
UTIs do nosso país.
Nesse sentido, venho pedir aos nobres colegas que unamos nossas forças
para garantir hoje o direito a uma melhor qualidade de tratamento e de
vida, da qual nunca devemos desistir. Por isso, peço apoiamento ao meu
Projeto de lei nº 2776/2008, que estabelece a obrigatoriedade da
presença de profissionais de odontologia nas unidades de terapia
intensiva.
Obtive artigos e relatos de experiências de profissionais de
odontologia, como da Cirurgiã-dentista Teresa Márcia Nascimento de
Morais, Mestre em clínica Odontológica Integrada pela Faculdade de
Odontologia da Universidade de São Paulo - que há cinco anos assiste os
pacientes da UTI da Santa Casa de Misericórdia de Barretos/São Paulo e
tem vários artigos publicados comprovando a redução significativa dos
custos das internações em UTIs, bem como da garantia de menos óbitos
em função da agregação dos procedimentos odontológicos aos demais da
equipe de multiprofissionais em pacientes críticos.
O Dr. Afonso Fernandes Rocha, Presidente do conselho Regional de
Odontologia informou que no Instituto de Cardiologia Laranjeiras, do Rio
de Janeiro, nenhum paciente é submetido a procedimento cirúrgico sem
avaliação de um cirurgião-dentista, em função de inúmeros casos da perda
da prótese cardíaca causada por infecção. O mesmo procedimento ocorre
no Pró-criança cardíaca.
Essa preocupação é compartilhada pelo Dr. Francisco Soriano
Julivaldo, Presidente da Comissão de Ética do Conselho Regional de
Odontologia do Rio de Janeiro e pelo Dr. Paulo Alberto Nascimento,
Presidente da Associação Brasileira de odontologia de São Gonçalo.
Os doutores defendem, inclusive, a assistência dos cirurgiõesdentistas nas UTIs e de outros profissionais de odontologia, devidamente
capacitados, nos demais setores dos hospitais onde tenham pessoas
internadas por um período prolongado. Argumentam que há preocupação
com colchões d’água, entre outros cuidados, mas esquecem que há pessoas
que ficam meses internadas sem escovar e fazer a devida assepsia nos
dentes. É fato que, com isso, podem permanecer mais tempo no hospital
ou terem as doenças agravadas em decorrência de infecções bucais ou
geradas a partir dessa porta de entrada.
Há mais de cento e cinqüenta anos, a higiene das mãos é a mais
importante medida para o controle da infecção hospitalar. Mas, até o
momento, outra fonte de infecção tão importante como a boca vem
sendo esquecida. Devemos considerá-la também um ambiente propício
para o crescimento microbiano, principalmente nos pacientes que
necessitam de ventilação mecânica, impedidos de fecharem a boca e em
contato maior com o meio ambiente que, sem o devido cuidado, contraem
pneumonia com graves problemas respiratórios, levando muitos pacientes
ao óbito.
Por tudo isso, caros pares, acrescento a este discurso algumas
abordagens sobre o tema a fim de nos dar subsídios para debatermos e
enriquecermos nossos pareceres e contribuições sobre o PL nº 2776/2008.
Temos certeza que os nobres Pares irão aperfeiçoar este projeto e,
ao final, aprová-lo no sentido de darmos uma saúde de qualidade integral
para a nossa sociedade e garantirmos ao nosso próximo o cuidado que
gostaríamos que fosse dispensado a nós mesmos se estivéssemos em uma
UTI.
SAÚDE INTEGRAL
A ODONTOLOGIA CHEGA À UTI
Cuidados odontológicos dos pacientes críticos são básicos para manter a
saúde bucal e promover o bem-estar. Além disso, o serviço ajuda a
prevenir infecções hospitalares sistêmicas relacionadas ao sistema
estomatognático, em especial as respiratórias, que prejudicam a
recuperação do paciente. Apesar do baixo custo do atendimento
odontológico, poucos hospitais realizam tal procedimento em suas UTIs.
Pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) devem
receber – como o próprio nome sugere – cuidados especiais e constantes,
não só para tratar o problema que o levou à internação, mas também para
cuidar dos demais órgãos e sistemas, que podem sofrer alguma
deterioração prejudicial para sua recuperação e prognóstico. Nesses
cuidados deve estar incluído o tratamento odontológico, com higiene bucal
adequada, dada a inter-relação entre doenças bucais e sistêmicas. No
entanto, é raro encontrar um cirurgião-dentista fazenda parte da equipe
multiprofissional das UTIs.
Esse atendimento específico busca manter a higiene bucal e a saúde do
sistema estomatognático do paciente durante sua internação, controlando o
biofilme e prevenindo e tratando a cárie, a doença periodontal, as
infecções perimplantares, as estomatites e outros problemas bucais. Mas,
mais do que isso, o atendimento odontológico do paciente crítico também
contribui na prevenção de infecções hospitalares, principalmente as
respiratórias, entre elas a pneumonia nosocomial, ou hospitalar, uma das
principais
infecções,
em
pacientes
de
UTI
favorecidas
pelos
microrganismos que proliferam na orofaringe. Sua ocorrência é
preocupante, pois é bastante comum entre esse grupo de pacientes,
provocando um número significativo de óbitos, prolongando a internação
do paciente e exigindo mais medicamentos e cuidados.
ATENÇÃO DENTÁRIA TEM CUSTO BAIXO E PROMOVE BEMESTAR DO PACIENTE.
Bacteremias de bastonetes Gram-negativos são uma das causas dessa
pneumonia. Estas bactérias podem chegar ao trato respiratório através da
microaspiração da secreção colonizada por elas presente na cavidade bucal
e faringe do paciente. A proliferação destes patógenos ocorre pela falta de
uma higiene bucal adequada ao paciente crítico e por outras alterações
provocadas por infecções na boca.
Sendo assim, a falta de cuidados bucais provoca desdobramentos que vão
além da boca e além até da saúde integral do paciente. Dificuldades na
melhora do quadro clínico do paciente e o prolongamento da sua estada na
UTI geram uma diminuição no número de vagas disponíveis e aumentam
os gastos hospitalares. O atendimento odontológico desses pacientes, por
outro lado, tem um custo bastante baixo, é mais saudável e preventivo e
ainda promovem o conforto e bem estar deles.
A BOCA SOB TERAPIA INTENSIVA
A HIGIENE BUCAL DOS PACIENTES DE UTI É ESSENCIAL
PARA EVITAR A PROLIFERAÇÃO DE BACTÉRIAS E FUNGOS,
QUE, ALÉM DE PREJUDICAR A SAÚDE BUCAL E O BEMESTAR
DO
PACIENTE,
PODE
PROPICIAR
OUTRAS
INFECÇÕES E DOENÇAS SISTÊMICAS.
As infecções estão entre as principais causas de morbidez e mortalidade
nos pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva(UTI), sendo
que mais de 45% das infecções hospitalares concentram-se nesse grupo de
pacientes, mesmo eles representando apenas 8% dos leitos do hospital.
Essas informações, apresentadas no livro Cardiologia e Odontologia –
Uma visão Integrada (Editora Santos), chamam atenção para o cuidado
com a saúde integral do paciente crítico, para evitar que infecções em
outros órgãos e sistemas, que não os ligados ao problema inicial,
prejudiquem seu quadro clínico e prognóstico e prolonguem sua estada na
UTI.
Nesses cuidados não deve faltar o atendimento odontológico, pois, como já
é sabido, a saúde bucal está integrada à saúde geral e, assim, infecções no
sistema estomatognático, principalmente as periodontopatias, podem
agravar a condição sistêmica do paciente que já está com a saúde
comprometida ou favorecer o aparecimento de novas doenças, em especial
as respiratórias, infecções bastante comuns entre os pacientes críticos. No
entanto, a falta do serviço odontológico para os pacientes das UTIs,
associada à inadequada higiene bucal realizada pela equipe de enfermagem
é muito comum nos hospitais brasileiros.
Soma-se a essa deficiência, ainda, o fato desse paciente já ter sua saúde
bucal prejudicada pela própria condição em que ele se encontra. Há uma
diminuição na limpeza natural da boca, que acontece pela mastigação de
alimentos duros e fibrosos, pela fala e movimentação da língua e das
bochechas. A queda no fluxo salivar, ou hipossialia, causada pela própria
doença,. Por estresse ou ansiedade, ou ainda pelos medicamentos
ingeridos, também contribui para o aumento da placa bacteriana. Se o
paciente necessita de ventilação mecânica, o que o impede de fechar a
boca, a cavidade bucal fica ainda mais ressecada e em contato maior com o
ambiente, favorecendo a colonização do biofilme por microrganismos.
Além disso, há ainda o agravante, observado em alguns estudos, de que
apenas 48 horas após a entrada na UTI os pacientes já apresentam a
orofaringe colonizada por bactérias Gram-negativos, freqüentes agentes
causadores da pneumonias hospitalares.
FOCO DE INFECÇÕES
A saúde bucal dos pacientes críticos que não contam com atendimento
odontológico e higiene bucal eficientes sofre, inicialmente, com o acúmulo
de biofilme e cálculo, principalmente entre os dentados e os que usam
próteses.
Conseqüentes a esses problemas vêm a cárie, a doença periodontal, as
infecções periimplantares e as estomatites. A Cirurgiã-Dentista (CD)
Teresa Márcia Nascimento de Morais, mestre em Clínica Odontológica
Integrada pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo
(FO/USP) e coordenadora do Departamento de Odontologia da Santa Casa
de Misericórdia de Barretos (SP), também destaca a saburra lingual, a
halitose, a úlcera traumática e a candidose como condições prevalentes em
pacientes críticos, que, além de prejudicar a saúde, diminuem o conforto e
o bem-estar deles.
A negligência com a higiene bucal torna o biofilme e a orofaringe um
propício reservatório de microrganismos, inclusive dos que não pertencem
à flora oral, instalando ou agravando um processo infeccioso nos tecidos
periodontais e ainda ocasionando infecções a distância. ¨Esses patógenos
também causam infecções hospitalares, como a pneumonia nosocomial, e
favorecem a proliferação de fungos, responsáveis pela candidose, infecção
que provoca muita dor e dificuldade para comer e falar¨, completa Teresa
Márcia, que é uma das autoras de Cardiologia e Odontologia – Uma visão
Integrada, livro que também aborda a saúde bucal dos pacientes de UTI.
A influência negativa das doenças periodontais em outros sistemas, órgãos
e tecidos já foi bastante evidenciada em diversos estudos, e há mecanismos
de plausibilidade biológica que podem ajudar a explicá-la. Estas relações
entre saúde bucal e saúde integral podem ser ainda mais prejudiciais
quando se trata de pessoas com a saúde comprometida, como os pacientes
das UTIs. A periodontista Maria Cristina Brunetti, doutora em Saúde
Pública pela USP e organizadora do livro Periodontia Médica – Uma
abordagem Integrada )Editora Senac), explica que as infecções nos tecidos
periodontais produzem ¨microrganismos, endotoxinas e mediadores
químicos inflamatórios que, ao caírem na corrente sangüínea, podem
promover ou agravar diferentes morbidades ou condições, como diabetes,
aterosclerose, gestação, entre outras.
ATENDIMENTO ESQUECIDO, PREJUÍZOS AUMENTADOS
Apesar de barato e efetivo em prevenir complicações na saúde, o
serviço odontológico ainda é raro em UTIs, causando danos aos
pacientes e aos cofres dos hospitais.
A importância da higiene bucal para o bem-estar, a prevenção de doenças
sistêmicas e a melhor recuperação do paciente internado na UTI não é algo
bem difundido no Brasil. A cirurgiã-dentista Teresa Márcia Nascimento de
Morais, que há cinco anos deu início ao atendimento odontológico na UTI
da Santa Casa de Misericórdia de Barretos (SP), ao notar a falta desse
serviço, e que hoje é coordenadora do Departamento de Odontologia do
hospital, conta que muitos estudos relatam a pequena quantidade de
hospitais brasileiros com um CD integrado à equipe multidisciplinar da
Unidade, ou com enfermeiros treinados e orientados sobre métodos de
higiene bucal adequados aos pacientes nessas condições.
Para Teresa Márcia, um dos motivos essenciais para essa negligência é
que, mesmo com a evolução do conhecimento, a Medicina ainda dá pouca
importância aos problemas bucais e não incorporou os benefícios que os
cuidados com o sistema estomatognático trazem ao paciente. Há mais de
150 anos a higiene das mãos é a mais importante medida para o controle
da infecção hospitalar. Mas, até o momento, uma fonte de infecção tão
importante como a boca, considerada um ambiente propício para o
crescimento microbiano, vem sendo esquecida, diz a Cirurgiã Dentista.
Por outro lado, também é preciso considerar que muitos profissionais da
Odontologia não estão preparados para atuar na UTI, pois desconhecem os
aspectos médicos relacionados ao seu trabalho. Médicos e cirurgiõesdentistas precisam integrar conhecimentos para o manejo completo do
paciente, em especial do crítico, e lhe proporcionar qualidade de vida”,
conclui Teresa Márcia.
O doente internado na UTI requer cuidados especiais e complexos dos
profissionais que o cercam. O CD, além de reunir conhecimentos técnicocientíficos suficientes para tratar problemas bucais que possam ser um
complicador do caso de forma adequada às possibilidades e limitações
desses pacientes, deve ter boas noções de Suporte Básico à Vida (BLS),
que inclui procedimentos básicos de primeiros socorros em emergências
cardíacas.
A cirurgiã-dentista ainda
conta que na Santa Casa de Barretos são
realizados, periodicamente, cursos de capacitação em higiene bucal para a
equipe da UTI, ministrados por cirurgião-dentista.
Além disso,
semanalmente, toda a equipe multidisciplinar da Unidade reúne-se para
discutir a condição de saúde de cada um dos pacientes, para, juntos,
determinar o plano de tratamento.
A CD destaca ainda que a Odontologia é sempre contemplada nas
estratégias traçadas dentro do hospital para o controle das infecções
hospitalares.
RUIM PARA A BOCA E PARA O BOLSO
Por colaborar na prevenção de infecções hospitalares, principalmente as
respiratórias, e contribuir para a preservação da saúde e recuperação do
paciente, os procedimentos de higiene bucal são benefícios não somente
aos internados, mas também ao próprio hospital, que tem seus custos
reduzidos. Dificuldade na melhora do quadro clínico e conseqüente piora
no
prognóstico prolongam a estada do paciente na UTI e diminui a
possibilidade de vagas, aumentando os gastos hospitalares.
É preciso ressaltar ainda que o atendimento odontológico envolve gastos
irrelevantes, pois são procedimentos simples e baratos e que proporcionam
grandes benefícios. Atualmente, muitos hospitais usam diversos recursos
para combater o grande volume de bactérias na orofaringe, uma das
principais causas das infecções respiratórias hospitalares, como a
administração e aplicação tópica de antibióticos, fisioterapia respiratória,
oxigenioterapia e outras medidas preventivas. Mas, estes métodos, além de
mais caros que a prática da higiene bucal, são mais prejudiciais ao
paciente, pois aumentam o risco de resistência dos microorganismos, no
caso de medicamentos.
A mestre em periodontia e doutora em Saúde Pública, ambos pela USP,
Maria Christina Brunetti completa que pesquisas indicam que o controle
do biofilme dental do paciente crítico pode ser feito pelo menos três vezes
ao dia. “ O trabalho pode ser feito tanto por um cirurgião-dentista quanto
por um THD sob a supervisão de um CD, ou também pelo próprio auxiliar
de enfermagem, desde que treinado e supervisionado pelo CD” , diz Maria
Christina.
A HIGIENE BUCAL DO PACIENTE CRÍTICO
O biofilme fornece proteção às bactérias, por isso seu controle efetivo deve
ser feito pela remoção mecânica dos depósitos microbianos aderidos à
boca e no tubo, caso o paciente esteja entubado, com o uso de escova de
dente própria, fio dental, gaze, gluconato de clorohexidina a 0,12% e, se
necessário, espátula de madeira. Além da remoção da placa bacteriana, o
atendimento odontológico também deve buscar alívio da dor e do
desconforto na boca, a prevenção de acidentes relacionados com a
cavidade bucal e educação para saúde de pacientes e de toda a equipe
multiprofissional da UTI.
No entanto, nem sempre os procedimentos mecânicos podem ser
realizados com eficiência, pois “ não raro, o paciente apresenta
dispositivos intrabucais, selamento dos lábios e dentes, aumento da tensão
dos músculos faciais, movimento da língua, cabeça e pescoço e reações
aversivas mais sérias”, conforme descrito no capítulo Pacientes em
Unidades de Terapia Intensiva: Atuação Conjunta dos Médicos e dos
Cirurgiões-dentistas, do livro Cardiologia e Odontologia – Uma Visão
Integrada.
Nestas situações, tem-se lançado mão de diversas outras substâncias para
fazer um controle químico da placa. O quimioterápico escolhido deve
preencher os requisitos de amplo espectro de ação, alta substantividade,
não causar danos aos tecidos bucais, promover a diminuição significativa
do biofilme e da gengivite e não proporcionar o desenvolvimento de
bactérias resistentes.
CONSEQUÊNCIAS PULMONARES
A proliferação na cavidade oral de microrganismos não comuns a ela é um
dos principais fatores de risco para a pneumonia hospitalar entre pacientes
de UTI. A infecção é preocupante pela alta incidência e número de óbitos.
A pneumonia nosocomial, ou hospitalar, é uma infecção do trato
respiratório baixo diagnosticada 48 horas após a internação do paciente,
sendo que ela não estava presente ou incubada quando foi dada entrada no
hospital.
Diferentemente da pneumonia comunitária, ela acontece pela ação de
germes hospitalares, que são mais resistentes aos antibióticos.
Esta pneumonia é bastante comum entre os internados nas UTIs, sendo
responsável por 24% a 27% das infecções hospitalares ocorridas nas
unidades intensivas coronariana e de clínica médica, respectivamente.
Além disso, a infecção é bastante preocupante pelo grande impacto nos
custos hospitalares que provoca, prolongando a internação do paciente e
exigindo mais medicamentos e cuidados, e por causar um número
significativo de mortes de pacientes críticos – 20% a 50% dos afetados por
ela falecem.
Além de fatores de risco como a própria doença inicial do paciente, idade,
doenças pulmonares e cardiológicas anteriores, necessidade de ventilação
mecânica, manipulação do paciente pela equipe e outros, a pneumonia
nosocomial geralmente também origina-se de bacteremias, especialmente
de bastonetes Gram-negativos. Essas bactérias também podem chegar ao
trato respiratório através da microaspiração da secreção presente na
cavidade oral e faringe do paciente.
No entanto, as bactérias Gram-negativas não são comuns À microbiota
normal da boca, mas se proliferam quando esta se altera em decorrência do
acúmulo do biofilme e do desenvolvimento da doença periodontal. Estes
patógenos são ainda difíceis de se combater, pois o próprio biofilme
oferece uma proteção a eles, tornando-os mais resistentes aos
medicamentos.
Além da alteração da flora natural da boca, o médico Antonio Carlos de
Oliveira Misiara, especialista em Doenças Infecciosas e Parasitárias do
Hospital Sírio Libanês, de São Paulo, acrescenta que as bacteremias com
origem na orofaringe também são favorecidas pela ¨perda da integridade
anatômica e conseqüente perda da imunidade natural da boca, alterações
causadas por infecções locais¨.
AGRAVANTES NA UNIDADE
As condições que aumentam o risco do paciente crítico desenvolver
pneumonia estão intimamente ligadas com a falta de um atendimento
odontológico adequado na UTI, que tenha a função de controlar a placa
bacteriana e evitar infecções bucais. Os prejuízos que a falta desse serviço
causa para a saúde bucal e geral do paciente são ainda mais reforçados por
fatores já inerentes À situação: a microbiota da própria UTI, com germes
mais resistentes, e a condição de gravidade da doença da pessoa. Misiara
completa que o uso de cateteres e sondas também ¨pioram a atuação da
imunidade natural e favorecem a invasão de microrganismos na árvore
brônquica.¨
É preciso lembrar ainda que pacientes com alteração do nível de
consciência, condição comum entre os internados na UTI, tendem a aspirar
maior quantidade de secreções da orofaringe freqüentemente. Além disso,
nos pacientes críticos que precisam de ventilação mecânica, o risco de
desenvolver a pneumonia nosocomial é ainda maior, pois o tubo
endotraqueal acaba ¨guiando¨ as secreções bucais com germes até as
regiões
mais internas do sistema respiratório. Conforme dados
apresentados no capítulos Doenças Periodontais Versus Doenças
Respiratórias, do livro Periodontia Médica: Uma Abordagem Integrada
(Editora Senac), a pneumonia associada à respiração artificial acomete de
20% a 25% dos pacientes que precisam desse recurso.
EVIDÊNCIAS DA RELAÇÃO
A boca mal higienizada do paciente crítico como reservatório de
microrganismos causadores de infecções respiratórias é um fator já
observado em pesquisas desde a década de 60. Potter et al. Foram os
primeiros a notar essa relação quando constataram que, entre 80 pacientes
com patógenos respiratórios nos brônquios, 25% dos dentes estavam
infectados, enquanto que, entre outros 80 sem os germes nos brônquios, o
índice de dentes infectados era de 7,5%.
A influência da colonização da placa dental nas infecções hospitalares em
pacientes de UTI também foi estudada por F. Fourrier et al. Foi feita uma
comparação entre pacientes com proliferação de patógenos respiratórios no
biofilme e os que não apresentavam esse quadro na admissão e no quinto
dia de internação. Então, constatou-se que os pacientes com os
microrganismos na cavidade oral tinham aproximadamente dez vezes mais
chance de desenvolver
a pneumonia nosocomial ou bacteremia. Os
pesquisadores observaram ainda que de cinco pacientes acometidos pela
pneumonia quatro apresentavam a placa colonizada por patógenos
respiratórios.
CAMINHOS DA BOCA PARA O PULMÃO
As pesquisas realizadas para estudar as relações entre as condições bucais
dos pacientes da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e as infecções
respiratórias levantaram alguns mecanismos de plausibilidade biológica,
para explicar como elas acontecem.
Os principais deles são:
ASPIRAÇÕES DE PATÓGENOS QUE COLONIZAM A BOCA
No início da sua formação, o biofilme bucal é colonizado por
microrganismos facultativos Gram-positivos. Conforme ele evolui e
amadurece, há uma diminuição destes e um aumento significativo de
bacilos Gram-negativos que podem ser aspirados pelo paciente. Um estudo
realizado por Brunett observou que microrganismos isolados da boca,
como estafilococos, Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e
outros, foram detectados em infecções hospitalares, entre elas a
pneumonia.
ALTERAÇÕES DA SUPERFÍCIE DA MUCOSA
Pessoas com higiene bucal ineficiente e com doença periodontal têm saliva
com atividade enzimática aumentada pela maior concentração de enzimas
hidrolíticas. Essa condição pode alterar o epitélio da mucosa, facilitando a
adesão de patógenos e modificando, assim, os padrões de colonização da
orofaringe.
Destruição da película salivar
A atividade enzimática aumentada com a higiene oral inadequada pode
modificar moléculas salivares protéticas, como a mucina, reduzindo sua
capacidade de ligação e de limpeza de microrganismos patogênicos. Neste
processo, as defesas específicas contra patógenos respiratórios são
diminuídas.
Citocinas que podem modificar o epitélio respiratório
Patógenos envolvidos na doença periodontal e num meio bucal com
higiene ineficiente estimulam a produção e liberação de citocinas e
também de outros mediadores químicos da inflamação, que podem facilitar
a adesão de germes ao epitélio de revestimento do trato respiratório
inferior. Em resposta, acontece uma série de outras reações: as células
epiteliais produzem outros mediadores químicos que, por sua vez,
promovem atração de neutrófilos, que ainda liberam enzimas proteolíticas,
danificando o epitélio e aumentando a suscetibilidade à infecção.
_________
PACIENTES EM ESTADO CRÍTICO
ANTES E DEPOIS DOS CUIDADOS
Figura 3 - Condição Bucal de Paciente Internado 12 Dias na UTI
Desenvolveu pneumonia nosocomial evoluindo para óbito.
Figura 4 - Paciente Submetido à Ventilação Artificial apresentando Saburra Lingual Intensa.
Figura 5 - Paciente Politraumatizado, Inconsciente (5 dias na
UTI)
Nota-se a presença de quantidade significativa de biofilme por toda a boca, úlceras labiais e sangramento.
Figura 6 - Condição Bucal após Dois Dias Recebendo Acompanhamento Odontológico.
Nota-se redução importante na quantidade de biofilme bucal, melhora significativa das úlceras labiais e do sangramento.
_____
Finalizando, como diz o preâmbulo da Constituição Federal
e as palavras regimentais de abertura das Sessões desta Casa,
que exerçamos nosso mandato “Sob a Proteção de Deus”.
Muito obrigado a todos.
Solicito a publicação desse discurso no programa a Voz do
Brasil e nos meios de comunicação social.
Sala das Sessões, em
de
de 2007.
Neilton Mulim
Deputado Federal PR-RJ
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