O Senhor Deputado NEILTON MULIM (PR/RJ) pronuncia o seguinte discurso - Senhor Presidente, senhoras e senhores deputados, minhas senhoras e meus senhores, Venho a esta Tribuna, numa missão especial, ser a voz de muitos cidadãos, que como nós hoje aqui nesta Casa, puderam falar e lutar por tantos assuntos urgentes e relevantes, mas que hoje se encontram internados em um hospital completamente dependentes e limitados, sem condições, na maioria das vezes, de falar nem mesmo de seus incômodos e de suas dores, muitos entubados e inconscientes. Falo em nome de todos os brasileiros que se encontram nos leitos de uma Unidade de Terapia Intensiva – UTI, lutando pela vida e de profissionais que desejam integrar a equipe multiprofissional dos hospitais, convictos de que suas participações podem contribuir, e muito, para agregar mais saúde, mais vida e menos custos nas UTIs do nosso país. Nesse sentido, venho pedir aos nobres colegas que unamos nossas forças para garantir hoje o direito a uma melhor qualidade de tratamento e de vida, da qual nunca devemos desistir. Por isso, peço apoiamento ao meu Projeto de lei nº 2776/2008, que estabelece a obrigatoriedade da presença de profissionais de odontologia nas unidades de terapia intensiva. Obtive artigos e relatos de experiências de profissionais de odontologia, como da Cirurgiã-dentista Teresa Márcia Nascimento de Morais, Mestre em clínica Odontológica Integrada pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo - que há cinco anos assiste os pacientes da UTI da Santa Casa de Misericórdia de Barretos/São Paulo e tem vários artigos publicados comprovando a redução significativa dos custos das internações em UTIs, bem como da garantia de menos óbitos em função da agregação dos procedimentos odontológicos aos demais da equipe de multiprofissionais em pacientes críticos. O Dr. Afonso Fernandes Rocha, Presidente do conselho Regional de Odontologia informou que no Instituto de Cardiologia Laranjeiras, do Rio de Janeiro, nenhum paciente é submetido a procedimento cirúrgico sem avaliação de um cirurgião-dentista, em função de inúmeros casos da perda da prótese cardíaca causada por infecção. O mesmo procedimento ocorre no Pró-criança cardíaca. Essa preocupação é compartilhada pelo Dr. Francisco Soriano Julivaldo, Presidente da Comissão de Ética do Conselho Regional de Odontologia do Rio de Janeiro e pelo Dr. Paulo Alberto Nascimento, Presidente da Associação Brasileira de odontologia de São Gonçalo. Os doutores defendem, inclusive, a assistência dos cirurgiõesdentistas nas UTIs e de outros profissionais de odontologia, devidamente capacitados, nos demais setores dos hospitais onde tenham pessoas internadas por um período prolongado. Argumentam que há preocupação com colchões d’água, entre outros cuidados, mas esquecem que há pessoas que ficam meses internadas sem escovar e fazer a devida assepsia nos dentes. É fato que, com isso, podem permanecer mais tempo no hospital ou terem as doenças agravadas em decorrência de infecções bucais ou geradas a partir dessa porta de entrada. Há mais de cento e cinqüenta anos, a higiene das mãos é a mais importante medida para o controle da infecção hospitalar. Mas, até o momento, outra fonte de infecção tão importante como a boca vem sendo esquecida. Devemos considerá-la também um ambiente propício para o crescimento microbiano, principalmente nos pacientes que necessitam de ventilação mecânica, impedidos de fecharem a boca e em contato maior com o meio ambiente que, sem o devido cuidado, contraem pneumonia com graves problemas respiratórios, levando muitos pacientes ao óbito. Por tudo isso, caros pares, acrescento a este discurso algumas abordagens sobre o tema a fim de nos dar subsídios para debatermos e enriquecermos nossos pareceres e contribuições sobre o PL nº 2776/2008. Temos certeza que os nobres Pares irão aperfeiçoar este projeto e, ao final, aprová-lo no sentido de darmos uma saúde de qualidade integral para a nossa sociedade e garantirmos ao nosso próximo o cuidado que gostaríamos que fosse dispensado a nós mesmos se estivéssemos em uma UTI. SAÚDE INTEGRAL A ODONTOLOGIA CHEGA À UTI Cuidados odontológicos dos pacientes críticos são básicos para manter a saúde bucal e promover o bem-estar. Além disso, o serviço ajuda a prevenir infecções hospitalares sistêmicas relacionadas ao sistema estomatognático, em especial as respiratórias, que prejudicam a recuperação do paciente. Apesar do baixo custo do atendimento odontológico, poucos hospitais realizam tal procedimento em suas UTIs. Pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) devem receber – como o próprio nome sugere – cuidados especiais e constantes, não só para tratar o problema que o levou à internação, mas também para cuidar dos demais órgãos e sistemas, que podem sofrer alguma deterioração prejudicial para sua recuperação e prognóstico. Nesses cuidados deve estar incluído o tratamento odontológico, com higiene bucal adequada, dada a inter-relação entre doenças bucais e sistêmicas. No entanto, é raro encontrar um cirurgião-dentista fazenda parte da equipe multiprofissional das UTIs. Esse atendimento específico busca manter a higiene bucal e a saúde do sistema estomatognático do paciente durante sua internação, controlando o biofilme e prevenindo e tratando a cárie, a doença periodontal, as infecções perimplantares, as estomatites e outros problemas bucais. Mas, mais do que isso, o atendimento odontológico do paciente crítico também contribui na prevenção de infecções hospitalares, principalmente as respiratórias, entre elas a pneumonia nosocomial, ou hospitalar, uma das principais infecções, em pacientes de UTI favorecidas pelos microrganismos que proliferam na orofaringe. Sua ocorrência é preocupante, pois é bastante comum entre esse grupo de pacientes, provocando um número significativo de óbitos, prolongando a internação do paciente e exigindo mais medicamentos e cuidados. ATENÇÃO DENTÁRIA TEM CUSTO BAIXO E PROMOVE BEMESTAR DO PACIENTE. Bacteremias de bastonetes Gram-negativos são uma das causas dessa pneumonia. Estas bactérias podem chegar ao trato respiratório através da microaspiração da secreção colonizada por elas presente na cavidade bucal e faringe do paciente. A proliferação destes patógenos ocorre pela falta de uma higiene bucal adequada ao paciente crítico e por outras alterações provocadas por infecções na boca. Sendo assim, a falta de cuidados bucais provoca desdobramentos que vão além da boca e além até da saúde integral do paciente. Dificuldades na melhora do quadro clínico do paciente e o prolongamento da sua estada na UTI geram uma diminuição no número de vagas disponíveis e aumentam os gastos hospitalares. O atendimento odontológico desses pacientes, por outro lado, tem um custo bastante baixo, é mais saudável e preventivo e ainda promovem o conforto e bem estar deles. A BOCA SOB TERAPIA INTENSIVA A HIGIENE BUCAL DOS PACIENTES DE UTI É ESSENCIAL PARA EVITAR A PROLIFERAÇÃO DE BACTÉRIAS E FUNGOS, QUE, ALÉM DE PREJUDICAR A SAÚDE BUCAL E O BEMESTAR DO PACIENTE, PODE PROPICIAR OUTRAS INFECÇÕES E DOENÇAS SISTÊMICAS. As infecções estão entre as principais causas de morbidez e mortalidade nos pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva(UTI), sendo que mais de 45% das infecções hospitalares concentram-se nesse grupo de pacientes, mesmo eles representando apenas 8% dos leitos do hospital. Essas informações, apresentadas no livro Cardiologia e Odontologia – Uma visão Integrada (Editora Santos), chamam atenção para o cuidado com a saúde integral do paciente crítico, para evitar que infecções em outros órgãos e sistemas, que não os ligados ao problema inicial, prejudiquem seu quadro clínico e prognóstico e prolonguem sua estada na UTI. Nesses cuidados não deve faltar o atendimento odontológico, pois, como já é sabido, a saúde bucal está integrada à saúde geral e, assim, infecções no sistema estomatognático, principalmente as periodontopatias, podem agravar a condição sistêmica do paciente que já está com a saúde comprometida ou favorecer o aparecimento de novas doenças, em especial as respiratórias, infecções bastante comuns entre os pacientes críticos. No entanto, a falta do serviço odontológico para os pacientes das UTIs, associada à inadequada higiene bucal realizada pela equipe de enfermagem é muito comum nos hospitais brasileiros. Soma-se a essa deficiência, ainda, o fato desse paciente já ter sua saúde bucal prejudicada pela própria condição em que ele se encontra. Há uma diminuição na limpeza natural da boca, que acontece pela mastigação de alimentos duros e fibrosos, pela fala e movimentação da língua e das bochechas. A queda no fluxo salivar, ou hipossialia, causada pela própria doença,. Por estresse ou ansiedade, ou ainda pelos medicamentos ingeridos, também contribui para o aumento da placa bacteriana. Se o paciente necessita de ventilação mecânica, o que o impede de fechar a boca, a cavidade bucal fica ainda mais ressecada e em contato maior com o ambiente, favorecendo a colonização do biofilme por microrganismos. Além disso, há ainda o agravante, observado em alguns estudos, de que apenas 48 horas após a entrada na UTI os pacientes já apresentam a orofaringe colonizada por bactérias Gram-negativos, freqüentes agentes causadores da pneumonias hospitalares. FOCO DE INFECÇÕES A saúde bucal dos pacientes críticos que não contam com atendimento odontológico e higiene bucal eficientes sofre, inicialmente, com o acúmulo de biofilme e cálculo, principalmente entre os dentados e os que usam próteses. Conseqüentes a esses problemas vêm a cárie, a doença periodontal, as infecções periimplantares e as estomatites. A Cirurgiã-Dentista (CD) Teresa Márcia Nascimento de Morais, mestre em Clínica Odontológica Integrada pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FO/USP) e coordenadora do Departamento de Odontologia da Santa Casa de Misericórdia de Barretos (SP), também destaca a saburra lingual, a halitose, a úlcera traumática e a candidose como condições prevalentes em pacientes críticos, que, além de prejudicar a saúde, diminuem o conforto e o bem-estar deles. A negligência com a higiene bucal torna o biofilme e a orofaringe um propício reservatório de microrganismos, inclusive dos que não pertencem à flora oral, instalando ou agravando um processo infeccioso nos tecidos periodontais e ainda ocasionando infecções a distância. ¨Esses patógenos também causam infecções hospitalares, como a pneumonia nosocomial, e favorecem a proliferação de fungos, responsáveis pela candidose, infecção que provoca muita dor e dificuldade para comer e falar¨, completa Teresa Márcia, que é uma das autoras de Cardiologia e Odontologia – Uma visão Integrada, livro que também aborda a saúde bucal dos pacientes de UTI. A influência negativa das doenças periodontais em outros sistemas, órgãos e tecidos já foi bastante evidenciada em diversos estudos, e há mecanismos de plausibilidade biológica que podem ajudar a explicá-la. Estas relações entre saúde bucal e saúde integral podem ser ainda mais prejudiciais quando se trata de pessoas com a saúde comprometida, como os pacientes das UTIs. A periodontista Maria Cristina Brunetti, doutora em Saúde Pública pela USP e organizadora do livro Periodontia Médica – Uma abordagem Integrada )Editora Senac), explica que as infecções nos tecidos periodontais produzem ¨microrganismos, endotoxinas e mediadores químicos inflamatórios que, ao caírem na corrente sangüínea, podem promover ou agravar diferentes morbidades ou condições, como diabetes, aterosclerose, gestação, entre outras. ATENDIMENTO ESQUECIDO, PREJUÍZOS AUMENTADOS Apesar de barato e efetivo em prevenir complicações na saúde, o serviço odontológico ainda é raro em UTIs, causando danos aos pacientes e aos cofres dos hospitais. A importância da higiene bucal para o bem-estar, a prevenção de doenças sistêmicas e a melhor recuperação do paciente internado na UTI não é algo bem difundido no Brasil. A cirurgiã-dentista Teresa Márcia Nascimento de Morais, que há cinco anos deu início ao atendimento odontológico na UTI da Santa Casa de Misericórdia de Barretos (SP), ao notar a falta desse serviço, e que hoje é coordenadora do Departamento de Odontologia do hospital, conta que muitos estudos relatam a pequena quantidade de hospitais brasileiros com um CD integrado à equipe multidisciplinar da Unidade, ou com enfermeiros treinados e orientados sobre métodos de higiene bucal adequados aos pacientes nessas condições. Para Teresa Márcia, um dos motivos essenciais para essa negligência é que, mesmo com a evolução do conhecimento, a Medicina ainda dá pouca importância aos problemas bucais e não incorporou os benefícios que os cuidados com o sistema estomatognático trazem ao paciente. Há mais de 150 anos a higiene das mãos é a mais importante medida para o controle da infecção hospitalar. Mas, até o momento, uma fonte de infecção tão importante como a boca, considerada um ambiente propício para o crescimento microbiano, vem sendo esquecida, diz a Cirurgiã Dentista. Por outro lado, também é preciso considerar que muitos profissionais da Odontologia não estão preparados para atuar na UTI, pois desconhecem os aspectos médicos relacionados ao seu trabalho. Médicos e cirurgiõesdentistas precisam integrar conhecimentos para o manejo completo do paciente, em especial do crítico, e lhe proporcionar qualidade de vida”, conclui Teresa Márcia. O doente internado na UTI requer cuidados especiais e complexos dos profissionais que o cercam. O CD, além de reunir conhecimentos técnicocientíficos suficientes para tratar problemas bucais que possam ser um complicador do caso de forma adequada às possibilidades e limitações desses pacientes, deve ter boas noções de Suporte Básico à Vida (BLS), que inclui procedimentos básicos de primeiros socorros em emergências cardíacas. A cirurgiã-dentista ainda conta que na Santa Casa de Barretos são realizados, periodicamente, cursos de capacitação em higiene bucal para a equipe da UTI, ministrados por cirurgião-dentista. Além disso, semanalmente, toda a equipe multidisciplinar da Unidade reúne-se para discutir a condição de saúde de cada um dos pacientes, para, juntos, determinar o plano de tratamento. A CD destaca ainda que a Odontologia é sempre contemplada nas estratégias traçadas dentro do hospital para o controle das infecções hospitalares. RUIM PARA A BOCA E PARA O BOLSO Por colaborar na prevenção de infecções hospitalares, principalmente as respiratórias, e contribuir para a preservação da saúde e recuperação do paciente, os procedimentos de higiene bucal são benefícios não somente aos internados, mas também ao próprio hospital, que tem seus custos reduzidos. Dificuldade na melhora do quadro clínico e conseqüente piora no prognóstico prolongam a estada do paciente na UTI e diminui a possibilidade de vagas, aumentando os gastos hospitalares. É preciso ressaltar ainda que o atendimento odontológico envolve gastos irrelevantes, pois são procedimentos simples e baratos e que proporcionam grandes benefícios. Atualmente, muitos hospitais usam diversos recursos para combater o grande volume de bactérias na orofaringe, uma das principais causas das infecções respiratórias hospitalares, como a administração e aplicação tópica de antibióticos, fisioterapia respiratória, oxigenioterapia e outras medidas preventivas. Mas, estes métodos, além de mais caros que a prática da higiene bucal, são mais prejudiciais ao paciente, pois aumentam o risco de resistência dos microorganismos, no caso de medicamentos. A mestre em periodontia e doutora em Saúde Pública, ambos pela USP, Maria Christina Brunetti completa que pesquisas indicam que o controle do biofilme dental do paciente crítico pode ser feito pelo menos três vezes ao dia. “ O trabalho pode ser feito tanto por um cirurgião-dentista quanto por um THD sob a supervisão de um CD, ou também pelo próprio auxiliar de enfermagem, desde que treinado e supervisionado pelo CD” , diz Maria Christina. A HIGIENE BUCAL DO PACIENTE CRÍTICO O biofilme fornece proteção às bactérias, por isso seu controle efetivo deve ser feito pela remoção mecânica dos depósitos microbianos aderidos à boca e no tubo, caso o paciente esteja entubado, com o uso de escova de dente própria, fio dental, gaze, gluconato de clorohexidina a 0,12% e, se necessário, espátula de madeira. Além da remoção da placa bacteriana, o atendimento odontológico também deve buscar alívio da dor e do desconforto na boca, a prevenção de acidentes relacionados com a cavidade bucal e educação para saúde de pacientes e de toda a equipe multiprofissional da UTI. No entanto, nem sempre os procedimentos mecânicos podem ser realizados com eficiência, pois “ não raro, o paciente apresenta dispositivos intrabucais, selamento dos lábios e dentes, aumento da tensão dos músculos faciais, movimento da língua, cabeça e pescoço e reações aversivas mais sérias”, conforme descrito no capítulo Pacientes em Unidades de Terapia Intensiva: Atuação Conjunta dos Médicos e dos Cirurgiões-dentistas, do livro Cardiologia e Odontologia – Uma Visão Integrada. Nestas situações, tem-se lançado mão de diversas outras substâncias para fazer um controle químico da placa. O quimioterápico escolhido deve preencher os requisitos de amplo espectro de ação, alta substantividade, não causar danos aos tecidos bucais, promover a diminuição significativa do biofilme e da gengivite e não proporcionar o desenvolvimento de bactérias resistentes. CONSEQUÊNCIAS PULMONARES A proliferação na cavidade oral de microrganismos não comuns a ela é um dos principais fatores de risco para a pneumonia hospitalar entre pacientes de UTI. A infecção é preocupante pela alta incidência e número de óbitos. A pneumonia nosocomial, ou hospitalar, é uma infecção do trato respiratório baixo diagnosticada 48 horas após a internação do paciente, sendo que ela não estava presente ou incubada quando foi dada entrada no hospital. Diferentemente da pneumonia comunitária, ela acontece pela ação de germes hospitalares, que são mais resistentes aos antibióticos. Esta pneumonia é bastante comum entre os internados nas UTIs, sendo responsável por 24% a 27% das infecções hospitalares ocorridas nas unidades intensivas coronariana e de clínica médica, respectivamente. Além disso, a infecção é bastante preocupante pelo grande impacto nos custos hospitalares que provoca, prolongando a internação do paciente e exigindo mais medicamentos e cuidados, e por causar um número significativo de mortes de pacientes críticos – 20% a 50% dos afetados por ela falecem. Além de fatores de risco como a própria doença inicial do paciente, idade, doenças pulmonares e cardiológicas anteriores, necessidade de ventilação mecânica, manipulação do paciente pela equipe e outros, a pneumonia nosocomial geralmente também origina-se de bacteremias, especialmente de bastonetes Gram-negativos. Essas bactérias também podem chegar ao trato respiratório através da microaspiração da secreção presente na cavidade oral e faringe do paciente. No entanto, as bactérias Gram-negativas não são comuns À microbiota normal da boca, mas se proliferam quando esta se altera em decorrência do acúmulo do biofilme e do desenvolvimento da doença periodontal. Estes patógenos são ainda difíceis de se combater, pois o próprio biofilme oferece uma proteção a eles, tornando-os mais resistentes aos medicamentos. Além da alteração da flora natural da boca, o médico Antonio Carlos de Oliveira Misiara, especialista em Doenças Infecciosas e Parasitárias do Hospital Sírio Libanês, de São Paulo, acrescenta que as bacteremias com origem na orofaringe também são favorecidas pela ¨perda da integridade anatômica e conseqüente perda da imunidade natural da boca, alterações causadas por infecções locais¨. AGRAVANTES NA UNIDADE As condições que aumentam o risco do paciente crítico desenvolver pneumonia estão intimamente ligadas com a falta de um atendimento odontológico adequado na UTI, que tenha a função de controlar a placa bacteriana e evitar infecções bucais. Os prejuízos que a falta desse serviço causa para a saúde bucal e geral do paciente são ainda mais reforçados por fatores já inerentes À situação: a microbiota da própria UTI, com germes mais resistentes, e a condição de gravidade da doença da pessoa. Misiara completa que o uso de cateteres e sondas também ¨pioram a atuação da imunidade natural e favorecem a invasão de microrganismos na árvore brônquica.¨ É preciso lembrar ainda que pacientes com alteração do nível de consciência, condição comum entre os internados na UTI, tendem a aspirar maior quantidade de secreções da orofaringe freqüentemente. Além disso, nos pacientes críticos que precisam de ventilação mecânica, o risco de desenvolver a pneumonia nosocomial é ainda maior, pois o tubo endotraqueal acaba ¨guiando¨ as secreções bucais com germes até as regiões mais internas do sistema respiratório. Conforme dados apresentados no capítulos Doenças Periodontais Versus Doenças Respiratórias, do livro Periodontia Médica: Uma Abordagem Integrada (Editora Senac), a pneumonia associada à respiração artificial acomete de 20% a 25% dos pacientes que precisam desse recurso. EVIDÊNCIAS DA RELAÇÃO A boca mal higienizada do paciente crítico como reservatório de microrganismos causadores de infecções respiratórias é um fator já observado em pesquisas desde a década de 60. Potter et al. Foram os primeiros a notar essa relação quando constataram que, entre 80 pacientes com patógenos respiratórios nos brônquios, 25% dos dentes estavam infectados, enquanto que, entre outros 80 sem os germes nos brônquios, o índice de dentes infectados era de 7,5%. A influência da colonização da placa dental nas infecções hospitalares em pacientes de UTI também foi estudada por F. Fourrier et al. Foi feita uma comparação entre pacientes com proliferação de patógenos respiratórios no biofilme e os que não apresentavam esse quadro na admissão e no quinto dia de internação. Então, constatou-se que os pacientes com os microrganismos na cavidade oral tinham aproximadamente dez vezes mais chance de desenvolver a pneumonia nosocomial ou bacteremia. Os pesquisadores observaram ainda que de cinco pacientes acometidos pela pneumonia quatro apresentavam a placa colonizada por patógenos respiratórios. CAMINHOS DA BOCA PARA O PULMÃO As pesquisas realizadas para estudar as relações entre as condições bucais dos pacientes da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e as infecções respiratórias levantaram alguns mecanismos de plausibilidade biológica, para explicar como elas acontecem. Os principais deles são: ASPIRAÇÕES DE PATÓGENOS QUE COLONIZAM A BOCA No início da sua formação, o biofilme bucal é colonizado por microrganismos facultativos Gram-positivos. Conforme ele evolui e amadurece, há uma diminuição destes e um aumento significativo de bacilos Gram-negativos que podem ser aspirados pelo paciente. Um estudo realizado por Brunett observou que microrganismos isolados da boca, como estafilococos, Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e outros, foram detectados em infecções hospitalares, entre elas a pneumonia. ALTERAÇÕES DA SUPERFÍCIE DA MUCOSA Pessoas com higiene bucal ineficiente e com doença periodontal têm saliva com atividade enzimática aumentada pela maior concentração de enzimas hidrolíticas. Essa condição pode alterar o epitélio da mucosa, facilitando a adesão de patógenos e modificando, assim, os padrões de colonização da orofaringe. Destruição da película salivar A atividade enzimática aumentada com a higiene oral inadequada pode modificar moléculas salivares protéticas, como a mucina, reduzindo sua capacidade de ligação e de limpeza de microrganismos patogênicos. Neste processo, as defesas específicas contra patógenos respiratórios são diminuídas. Citocinas que podem modificar o epitélio respiratório Patógenos envolvidos na doença periodontal e num meio bucal com higiene ineficiente estimulam a produção e liberação de citocinas e também de outros mediadores químicos da inflamação, que podem facilitar a adesão de germes ao epitélio de revestimento do trato respiratório inferior. Em resposta, acontece uma série de outras reações: as células epiteliais produzem outros mediadores químicos que, por sua vez, promovem atração de neutrófilos, que ainda liberam enzimas proteolíticas, danificando o epitélio e aumentando a suscetibilidade à infecção. _________ PACIENTES EM ESTADO CRÍTICO ANTES E DEPOIS DOS CUIDADOS Figura 3 - Condição Bucal de Paciente Internado 12 Dias na UTI Desenvolveu pneumonia nosocomial evoluindo para óbito. Figura 4 - Paciente Submetido à Ventilação Artificial apresentando Saburra Lingual Intensa. Figura 5 - Paciente Politraumatizado, Inconsciente (5 dias na UTI) Nota-se a presença de quantidade significativa de biofilme por toda a boca, úlceras labiais e sangramento. Figura 6 - Condição Bucal após Dois Dias Recebendo Acompanhamento Odontológico. Nota-se redução importante na quantidade de biofilme bucal, melhora significativa das úlceras labiais e do sangramento. _____ Finalizando, como diz o preâmbulo da Constituição Federal e as palavras regimentais de abertura das Sessões desta Casa, que exerçamos nosso mandato “Sob a Proteção de Deus”. Muito obrigado a todos. Solicito a publicação desse discurso no programa a Voz do Brasil e nos meios de comunicação social. Sala das Sessões, em de de 2007. Neilton Mulim Deputado Federal PR-RJ