TUMORES CEREBRAIS

Propaganda
 TUMORES CEREBRAIS – DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Gustavo Rassier Isolan
Os tumores que acometem o Sistema Nervoso Central (SNC)
correspondem a um grupo altamente heterogêneo de diferentes entidades
patológicas que têm origem em diferentes estruturas dos sistemas nervosos
central e periférico e que acometem pacientes em diferentes faixas etárias
(DE ANGELIS, 2001; MCKINNEY, 2004).
Sabe-se que mutações gênicas que ativem oncogenes ou inativem
genes supressores de tumores, sendo o gene TP53 o principal exemplo
deste último grupo, são eventos fundamentais na carcinogênese das
neoplasias do SNC (ISOLAN et al., 2005 A e B; ISOLAN et al., 2007 A e B).
Entretanto, os fatores físicos, químicos ou infecciosos que causam estas
mutações não estão ainda bem definidos em neoplasias do SNC,
contrastando com alguns modelos de carcinogênese em outras partes do
corpo humano.
Embora algumas síndromes genéticas (Gardner, esclerose tuberosa,
Von-Hippel Lindau, neurofibromatose, Li-Fraumeni, Turcot , Maffuci, Ollier e
neoplasia endócrina múltipla) sejam um fator independente claramente
associado ao desenvolvimento de alguns tipos de tumores cerebrais, não
existe em geral uma etiologia definida nas neoplasias do SNC. Uma
associação genética e familial esta presente em 5% dos pacientes com
tumores do SNC.
Epidemiologia
Estima-se que a incidência de tumores cerebrais nos Estados Unidos
seja de 7 a 19 casos por 100.000 habitantes, sendo que mais de 100.000
2 pacientes naquele país vão à óbito portando metástases cerebrais. Acreditase que a incidência nos demais países, incluindo Brasil, seja semelhante.
Clínica
Os achados clínicos clássicos de pacientes com tumores no SNC são
cefaleia, convulsões, déficits neurológicos focais e alterações cognitivas e de
personalidade inespecíficas. No âmbito da medicina geral, deve-se ressaltar
que estes sinais e sintomas podem estar presentes em várias doenças
neurológicas, metabólicas ou psiquiátricas, tendo os achados clínicos em si
baixa especificidade para se estabelecer o diagnóstico de uma neoplasia
cerebral e que, embora os sinais focais possam em alguns casos definir a
localização topográfica da lesão, não têm acurácia para definir o tipo
específico de tumor.
Os sinais e sintomas relacionados a neoplasias do SNC são devidos à
invasão ou compressão do tecido cerebral pelo tumor. Tumores de
crescimento lento (meningeomas, gliomas de baixo grau) geralmente
apresentam grande volume quando diagnosticados devido à acomodação do
tecido cerebral dentro da caixa craniana em um determinado período de
tempo. Tumores de crescimento rápido e que desencadeiem edema cerebral,
por outro lado, podem desenvolver achados clínicos mesmo com pequeno
volume tumoral. Evidentemente, independente do padrão de crescimento
tumoral, tumores que comprimam ou invadam “áreas eloquentes” do SNC
podem desencadear déficits neurológicos focais com pequeno volume
tumoral, algumas vezes como único sintoma.
Como o parênquima cerebral não possui terminações nervosas que
captem estímulos dolorosos, a cefaleia causada pelas neoplasias do SNC se
deve à invasão ou compressão de estruturas com terminações nervosas
livres
(dura-máter,
periósteo,
parede
arterial),
aumento
da
pressão
intracraniana (hidrocefalia, efeito de massa causado pelo tumor, edema
peritumoral ou hemorragia tumoral), dificuldade de visão (acometimento dos
nervos ópticos, óculo-motor, trocear ou abducente) ou psicogênica. A cefaleia
está presente em 1/3 dos pacientes com tumores cerebrais na época do
diagnóstico e 70% dos pacientes irão desenvolver cefaleia em algum
3 momento no curso da doença. A cefaléia relacionada à neoplasia cerebral é
inespecífica, tendo um padrão de cefaléia tensional em 77% e de enxaqueca
em 8%. Suspeita-se de neoplasia cerebral em paciente com cefaleia nas
seguintes situações: piora da cefaléia ao tossir, despertar noturno pela
cefaleia, novo padrão de cefaléia em paciente com cefaléia crônica prévia,
náuseas, vômitos e déficits neurológicos focais. Quadro clínico de cefaléia,
náusea, vômitos e diminuição do nível de consciência deve levantar a
suspeita de hipertensão Intracraniana (HIC), que é uma situação de urgência.
Além da HIC, os vômitos menos comumente são causados por compressão
ou invasão tumoral do “centro do vômito” no tronco encefálico.
Alterações de comportamento, memória ou diminuição do nível de
consciência estão presentes em 10-20% dos pacientes, devendo-se a
comprometimento do córtex cerebral (principalmente o frontal) ou HIC. As
convulsões, parciais ou generalizadas, estão presentes em 1/3 dos pacientes
com tumores cerebrais e são geralmente devidas a comprometimento do
córtex cerebral. Episódio de
crises convulsivas que têm início na idade
adulta deve ser sempre investigado com Ressonância Nuclear Magnética
(RNM).
Os sinais neurológicos causados por tumores em diferentes áreas do
encéfalo e estruturas adjacentes estão apresentados no Quadro 1.
4 Quadro 1. Achados neurológicos associados a tumores cerebrais em
diferentes topografias.
Localização
Achados clínicos
Lobo frontal
Alterações de personalidade (abulia, quadro demencial, afeto
inapropriado, desinibição).
Hemiparesia contralateral
Apraxia, afasia
Reflexos primitivos
Crises convulsivas
Lobo temporal
Convulsões
Diminuição de memória
Afasia
Quadrantopsia superior contralateral
Halucinações olfativas e auditivas, Déja vu
Lobo parietal
Alterações de sensibilidade contra-lateral
Afasia
Negligência do hemicorpo contra-lateral
Síndrome de Gerstmann (agrafia sem alexia, acalculia, agnosia
digital, confusão direita-esquerda)
Apraxia ideomotora.
Lobo occipital
Hemianopsia homônima
Alexia
Tronco cerebral
Neuropatia dos nervos cranianos
Hemiparesia, hemiplegia
Alterações sensibilidade
Vertigem, náuseas e vômitos
Hidrocefalia
Região pineal
Hidrocefalia
Síndrome de Parinaud
Terceiro ventrículo
Hidrocefalia
Disfunção hipotalâmica
Alteração de memória
Cerebelo
Base do crânio
Cefaleia occipital, vertigem
Ataxia, dismetria, tremor de intenção
Hemiparesia, hemiplegia
Hidrocefalia
Comprometimento dos nervos cranianos I a XII dependendo da
localização do tumor (fossas anterior, média ou posterior).
5 Deve-se atentar para os chamados “falsos sinais de localização”, que
são achados neurológicos que não correspondem topograficamente ao local
onde está localizada a doença neurológica. Os mais comuns são paralisia uni
ou bilateral do VI nervo craniano devido ao aumento da HIC (hidrocefalia, por
exemplo); ataxia, hemianopsia bitemporal e alterações endocrinológicas
devido à hidrocefalia; hemiparesia ipsilateral ao lado comprometido pelo
tumor devido a compressão do mesencéfalo na incisura da tenda do cerebelo
contralateral ao tumor por hérnia de úncus (“herniação uncal transtentorial”);
e paralisia do III nervo craniano ipsilateral devido à hérnia de uncus.
Por motivos didáticos achamos pertinente descrever separadamente
os tumores cerebrais primários, metastáticos, da coluna e medula espinhal e
da base do crânio, pois são grupos heterogêneos com características
próprias. Descrições mais detalhadas destes diferentes grupos de tumores
são encontradas nos capítulos 43, 44 e 45.
1 TUMORES CEREBRAIS PRIMÁRIOS
Os Quadros 2 e 3 descrevem, respectivamente, os tipos de tumores
cerebrais primários e a localização destes nas diferentes partes do SNC.
Quadro 2. Principais tumores cerebrais primários
Tipo Celular de Origem
Tumor
Glial
Astrocitoma
Astrocitoma Benigno
Astrocitoma Pilocítico
Astrocitoma Anaplásico
Glioblastoma Multiforme
Oligodendroglioma
Tumor ependimal
Ependioma Celular
Ependioma Anaplásico
Ependioma Mixopapilar
Tumor do plexo coróide
Papiloma do Plexo Coróide
Carcinoma do Plexo Coróide
6 Tipo Celular de Origem
Tumor
Não glial
Origem neural progenitor
Tumor mesenquimal ou meníngeo
Adenoma pituitário
Outros tipos de tecido
Neuroblastoma
Tumor Primitivo do Neuroectoderma
Pineocitoma, pineoblastoma
Gaglioneuroma
Meningioma
Hemangioblastoma
Hemangiopericitoma
Microadenoma
Macroadenoma
Craniofanringioma
Hamartoma, teratoma.
Tumor de células germinativas
Cisto epidermoide ou dermatoide
Linfoma do sistema nervoso central
Hemangioblastoma,, pericitoma
Mal formação vascular
Mal formação cavernosa
Quadro 3. Localização dos principais tumores primários
Localização
Cerebral (supratentorial)
Cerebelo e Tronco (infratentorial)
Ventrículos laterais
Terceiro Ventrículo
Tumor
Astrocitoma
Meningioma
Oligodendroglioma
Lesão metastática
Linfoma
Schwanoma
Meningioma
Tumor Primitivo do Neuroectoderma (PNET)
Tumor de células germinativas (germinoma,
teratoma)
Astrocitoma
Meningioma
Cisto Pineal
Astrocitoma
Ependioma
Neurocitoma central
Astrocitoma
Cisto coloide
Neurocitoma central
7 Localização
Quarto Ventrículo
Ângulo cerebelo-pontino
Região selar
Tumor
Glioma no trono
PNET
Ependioma
Hemangioblastoma
Schwanoma do acústico
Meningioma
Tumor epidermoide
Microadenoma e macroadenoma
Meningioma
Craniofanringioma
Glioma (glioma pilocítico do nervo óptico)
Aneurisma
Astrocitomas
Os astrocitomas representam 60% das neoplasias primárias do SNC.
Eles são classificados baseados em critérios histológicos em graus I a IV. Os
graus I e II, também chamados astrocitomas de baixo grau de malignidade
têm um comportamento biológico menos agressivo enquanto os graus III
(anaplásico) e IV (glioblastoma multiforme - GBM), também chamados
astrocitomas de alto grau de malignidade, têm uma evolução mais acelerada.
Na maioria dos casos, o GBM é o resultado de uma cascata alterações
celulares de um astrocitoma de menor grau.
Os astrocitomas de baixo grau são um grupo heterogêneo, alguns
permanecendo estáveis por muitos anos enquanto outros progredindo para
um maior grau de malignidade, vindo a se tornarem graus III ou IV (GILBERT;
LOGHIN, 2005). Os astrocitomas de baixo grau geralmente acometem
crianças e adultos jovens enquanto os astrocitomas de alto grau acometem
pacientes de uma faixa etária mais elevada, normalmente com mais de 50
anos de idade. As células tumorais astrocitárias invadem o parênquima
tumoral, sendo que nos astrocitomas de alto grau existem células tumorais
distantes vários centímetros da lesão visualizada macroscopicamente. Nos
exames de imagem os astrocitomas de baixo grau são hipodensos na
Tomografia Computadorizada (TC) e hipo ou isointensos na Ressonância
8 Nuclear Magnética (RNM) e não captam contraste na grande maioria dos
casos. A presença de edema cerebral associado é pouco comum e
calcificações podem ser visualizadas em 10-20% dos casos, sendo a TC
melhor que a RNM para visualiza-las. Os astrocitomas de alto grau captam
contraste e, nos casos dos glioblastomas, geralmente existe uma área central
hipodensa (TC) ou hipointensa (RNM) que corresponde à necrose. Edema
peritumoral está presente em quase todos os casos. Embora os achados dos
exames de imagem possam sugerir em alguns casos o grau de malignidade
do tumor, o diagnóstico definitivo é dado pela patologia. A amostra tumoral
provém de ressecção tumoral por craniotomia ou através de fragmentos do
tumor mediante biópsia extereotáxica. O tratamento das neoplasias
astrocitárias varia de acordo com o grau de malignidade tumoral
(GREEN,1983).
Nos astrocitomas de alto grau (anaplásico e glioblastoma) o tratamento
consiste de ressecção tumoral agressiva, radioterapia e quimioterapia
(capítulo 43). A ressecção tumoral agressiva deve ser realizada mediante
técnica microcirúrgica e conhecimento anatômico preciso pelo neurocirurgião
que correlacione o local exato da lesão visualizada nos exames de imagem
com a anatomia microcirúrgica transoperatória. A ressecção tumoral
agressiva, entretanto, deve ser considerada com parcimônia em pacientes
em mal estado geral (avaliada pelo índice de Karnofsky), tumores infiltrativos
envolvendo o encéfalo bilateralmente (padrão de “asa de borboleta”) ou
tumores em áreas eloquentes (área motora, área da fala) em pacientes sem
alterações no exame neurológico relacionados a estas áreas.
A radioterapia aumenta a sobrevida em até 9 meses para pacientes
com GBM. A quimioterapia aumenta a sobrevida 2 meses em média, sendo
uma opção a ser individualizada dependendo do caso. A sobrevida dos
pacientes com astrocitoma anaplásico e GBM é, respectivamente 2-3 anos e
1 ano, embora hajam relatos isolados de maior tempo de sobrevida
relacionados principalmente a ressecção macroscópica tumoral.
Os astrocitomas de baixo grau têm como principal alternativa de
tratamento a cirurgia. Radioterapia deve ser individualizada e não há
indicação de quimioterapia para tratar estes tumores. Em pacientes com
menos de 40 anos de idade com uma lesão assintomática, sem efeito de
9 massa, hipointensa e que não capte contraste uma alternativa à cirurgia é
fazer somente o segmento com RNM seriadas (a cada 6 meses). A sobrevida
destes tumores em 5 anos chega a 50%, correspondendo a 85% nos
astrocitomas pilocíticos na população pediátrica. No Hospital de Clínicas de
Porto Alegre temos rotineiramente estudado o marcador de proliferação
celular Ki67 e outros marcadares imunohistoquímicos de carcinogênese a
procura de fatores prognósticos que possam guiar nossa conduta em casos
individualizados, principalmente em gliomas de baixo grau (Isolan et al, 2005
a e b; 2007 a e b).
Discussão multidisciplicar com patologista, radiologista, entre outras
especialidades
também
é
realizado
rotineiramente.
Avaliação
neuropsicológica é realizada em casos selecionados. Os fatores que
comprovadamente melhoram o prognóstico dos pacientes portadores de
neoplasias astrocitárias são idade menor de 40 anos, ressecção cirúrgica
agressiva, tumor de baixo grau de malignidade e bom estado funcional do
paciente.
Figura 1. a esquerda: RNM axial em T1 com
contraste evidenciando processo expansivo
hipointenso sem impregnação pelo contraste em
topografia de insula com extensão frontotemporal. Este paciente apresentava epilepsia do
lobo temporal refratária ao tratamento clínico e foi
submetido a resseção tumoral microcirúrgica com
ressecção tumoral completa (a direita).
10 Oligodendrogliomas
Os oligodendrogliomas correspondem a 2-4% dos tumores cerebrais
primários. Crises convulsivas estão presentes em 50-80% dos casos. Os
outros achados clínicos são aqueles comuns aos outros tipos histológicos. Os
oligodendrogliomas podem ser divididos em dois subgrupos histológicos:
baixo grau e anaplásico. Nos exames de imagem o baixo grau geralmente
não impregna pelo contraste, diferentemente do anaplásico. Noventa por
cento apresentam calcificações na TC, sendo este achado considerado por
alguns um fator de bom prognóstico. O tratamento dos oligodendrogliomas é
cirurgia seguida por quimioterapia. Nos anaplásicos radioterapia pode ser
associada. Análise genética deve ser realizada visto que tumores com perda
do alelo do cromossomo 1p ou 1p e 19q são altamente responsivos a
quimioterapia. Pacientes com tumores de baixo grau têm uma sobrevida de
75% em 5 anos.
Ependimoma
Os ependimomas têm origem das células ependimárias que revestem
os ventrículos e o canal central da medula, sendo que em 70% dos casos a
localização tumoral é no IV ventrículo, porém também podem ter origem no
parênquima cerebral. Eles são os tumores neuroepiteliais que mais
acometem a medula espinhal. Metastatizam através do líquor em 11% dos
casos, sendo necessário RNM da medula espinhal e análise do líqüor por
punção lombar (não havendo contraindicação) em todos os casos. Os
sintomas devem-se geralmente à hidrocefalia.
Histologicamente, é classificado em baixo grau ou anaplásico, sendo o
primeiro grupo subdividido em papilar (mais comum), mixopapilar (restrito ao
filamento terminal da medula espinhal) e subependimoma (menos comum e
mais benigno). O tratamento consiste de ressecção cirúrgica (total nem
sempre possível devido à sua natureza infiltativa) seguida por radioterapia.
Esta última sendo aplicada (em menor dose) na medula espinhal se líquor
positivo para células tumorais ou implantes tumorais observados na RNM de
11 medula. Quimioterapia pode ser reservada para recidiva tumoral em casos
individualizados.
Tumor Neuroectodérmico Primitivo (Meduloblastoma)
Embora meduloblastoma, retinoblastoma e pineoblastoma sejam
tumores neuroectodérmicos primitivos, abordaremos o meduloblastoma, que
é o protótipo deste grupo. O meduloblastoma é o segundo tumor cerebral
mais frequente em crianças, após os astrocitomas, tendo freqüentemente o
teto do IV ventrículo como sua origem (verme do cerebelo). Hidrocefalia é um
sinal precoce. Dez a 35% dos pacientes têm metástases no neuroeixo na
época do diagnóstico, sendo necessário RNM com contraste da medula
espinhal em todos os pacientes. A RNM revela lesão mediana ou
paramediana na fossa posterior com realce intenso pelo contraste. O
tratamento consiste de cirurgia seguida por radioterapia em todos os casos.
Radioterapia do neuroeixo é frequentemente indicada.
Quimioterapia é reservada comumente para recidivas, pacientes com
pior prognóstico ou pacientes menores de 3 anos de idade não submetidos a
radioterapia. Derivação ventrículo-peritoneal após ressecção tumoral é
necessária em 30-40% dos pacientes. Pacientes sem tumor residual na RNM
após cirurgia e com investigação do neuroeixo (líqüor e RNM) negativa têm
sobrevida de 75% em 5 anos, o contrário acarreta sobrevida em 5 anos de
35-50%, sendo estes pacientes considerados com pior prognóstico.
Meningeoma
Meningeomas são os tumores benignos mais comuns do SNC e
correspondem à 20% de todos tumores cerebrais primários. Eles são mais
frequentes em mulheres (3:1). Os meningeomas originam-se das células
aracnoides e raramente invadem o parênquima cerebral, o que ocorre mais
frequentemente nas variantes atípica ou anaplásica (raro). Em geral os
meningeomas têm crescimento lento e são bastante volumosos em alguns
casos na época do diagnóstico. Estes tumores podem se originar após altas
doses de radioterapia, usadas nos tumores de cabeça e pescoço. Os locais
12 mais comuns são ao longo da foice do cérebro, convexidade cerebral,
assoalho da fossa anterior da base do crânio e osso esfenóide. Na TC, são
lesões bem delimitadas iso ou hiperdensas e que impregam pelo contraste
homogeneamente.
Calcificações, erosão e hiperostose óssea são achados comuns
melhores visualizados na CT do que na RNM. Esta última mostra tipicamente
um processo expansivo isointenso ao parênquima cerebral que contrasta
fortemente. Maior impregnação de contraste na região de origem do tumor
com espessamento desta (dural tail) é um achado comum. Angiografia para
avaliar a nutrição tumoral (geralmente por ramos da artéria carótida externa)
pode ser necessária previamente à cirurgia em volumosos tumores.
O tratamento dos meningeomas é cirúrgico. Embolização préoperatória em volumosos tumores é uma alternativa. As meninges onde o
tumor está implantado devem ser ressecadas, bem como as alterações
ósseas adjacentes (ressecção completa). A taxa de recidiva após ressecção
completa é de 7% em 5 anos, sendo maior em resseções incompletas.
Radioterapia após cirurgia é reservada para a variante maligna. Para tumores
menores do que 3 cm em pacientes com pobres condições clínicas a
radiocirurgia estereotáxica pode ser uma alternativa, o mesmo é válido para
tumores parcialmente ressecados, porém cada caso deve ser individualizado.
OS meningeomas da base de crânio, embora localizando-se em locais de
anatomia mais complexa, são passíveis de ressecção (ISOLAN, ROWE, ALMEFTY, 2007; ISOLAN, KRAYENBUHL, DE OLIVEIRA, AL-MEFTY, 2007)
Adenoma pituitários (Estão descritos no capítulo 44)
Linfoma do SNC
Os linfomas que acometem o SNC são divididos em primário e
secundário, estando o último presente comumente em estágios avançados
de linfomas sistêmicos. O Linfoma primário do SNC tem se tornado um dos
mais frequentes tumores diagnosticados devido ao aumento de casos de
pacientes imunossuprimidos (infectados pelo HIV – capítulo 34 - e
13 transplantados). Patologicamente não há diferença entre o linfoma primário e
o secundário (MCKINNEY, 2004)
Assim como a maioria dos tumores primários, a apresentação dos sintomas
está relacionada à localização do tumor no SNC, sendo muito variada nos
linfomas devido às diferentes localizações que o tumor pode ter. Entretanto,
compressão epidural da medula espinhal e meningite carcinomatosa são
apresentações comuns (paralisias múltiplas de nervos cranianos). Alteração
dos níveis de consciência está presente em aproximadamente 30% dos
casos. Algumas síndromes características, embora não tenham grande
acurácia para diagnosticar linfomas sugerem o diagnóstico. Entre elas estão
desaparecimento da lesão no exame de imagem com o uso de corticoides
(“ghost-cell tumor”), uveociclíte (precede linfoma em 11% dos casos) e
encefalite subaguda com infiltrado subependimário. A Neuroimagem (TC e
RNM) pode revelar uma ou múltiplas lesões que realçam com contraste e são
associados a edema.
A ressecção cirúrgica total ou parcial não altera o prognóstico dos pacientes,
sendo a biópsia estereotáxica o procedimento frequentemente usado para
diagnosticar este tipo de tumor. O tratamento geralmente consiste em
radioterapia e quimioterapia associados. Apesar de ser uma terapia
agressiva, a média de sobrevivência dos pacientes com linfoma primário do
SNC é de aproximadamente 13 meses. A sobrevivência dos pacientes com
linfoma metastático (secundário) é primariamente dependente do estágio em
que se encontra a doença sistêmica.
Cordoma
Os cordomas são responsáveis por menos de 1% dos tumores
intracranianos, estando frequentemente localizados na região do clivus e
sacrococcígea. Caracterizam-se por crescimento lento, invasão local e
recorrência após ressecção cirúrgica. Os achados clínicos são inespecíficos,
porém paralisia de nervos cranianos e déficits neurológicos resultantes de
compressão do tronco cerebral sugerem um acometimento da base do crânio
com a progressão da doença. O pico de incidência é na quinta e sexta
14 décadas de vida. A TC geralmente revela uma lesão lítica com calcificações e
que capta contraste. A RNM define a relação do tumor com as estruturas
adjacentes.
A Ressecção cirúrgica completa é o tratamento de escolha uma vez
que estes tumores são pouco responsivos à radioterapia. O tratamento para
tumores recorrentes ou tumores residuais é reintervenção cirúrgica associada
a radiocirurgia ou radioterapia com partículas pesadas (“proton beam”) A
sobrevida livre do tumor em cinco anos após completa ressecção cirúrgica
varia de 30-70%.
Schwanoma
Schwanoma na maioria das vezes tem origem na porção vestibular do
VIII nervo (schwanoma do acústico) e menos comumente do V, IX, X ou XII
nervos , sendo responsável por 10% de todos os tumores cerebrais
primários. Descreveremos o schwanoma do nervo vestibular superior,
também conhecido como neurinoma do acústico devido a sua alta incidência
em relação aos demais schwanomas. Em 95% dos casos estes tumores são
unilaterais e nos restantes 5%, bilaterais, quando então estão associados
com neurofibromatose tipo 2.
Algum grau de hipoacusia está presente em quase todos os pacientes
com Schwanoma do acústico, podendo entretanto não ser o sintoma
principal. Vertigem, zumbido, paresia facial ou dormência devido à
compressão do VIII ou V nervo cranianos podem estar presentes. Tumores
volumosos causam compressão do tronco cerebral e cerebelo resultando em
hidrocefalia, hemiparesia, ataxia e alteração da consciência.
A RNM revela uma lesão expansiva hipointensa em T1 e hipertensa
em T2, o que é um achado inespecífico pois está presente na maioria dos
tumores do SNC, porém a topografia do tumor (cisterna do ângulo pontocerebelar) deve sugerir o diagnóstico de schwanoma do VIII nervo (vestibular
superior). Estes tumores realçam intensamente pelo contraste. A audiometria
demonstra perda auditiva neurossensorial e diminuição da discriminação de
15 voz em quase todos os pacientes, enquanto que o potencial evocado auditivo
de tronco cerebral pode demonstrar a compressão do nervo auditivo.
A ressecção microcirurgica com monitorização neurofisiológica no
nervo facial é frequentemente curativa, com baixa morbidade e quase
nenhuma mortalidade. Paralisia facial é a principal complicação associada à
cirurgia do neurinoma do acústico e está diretamente relacionada ao volume
tumoral. Radiocirurgia estereotáxica para lesões menores que 3 cm é uma
alternativa, especialmente em pacientes idosos com alto risco cirúrgico.
Tumores da região pineal
Tumores localizados nesta topografia correspondem a 1% de todos os
tumores cerebrais. Os tumores primários desta região crescem das células
do parênquima pineal, produzindo pineocitomas ou pineoblastomas. Outros
tumores comuns incluem germinomas, teratomas, coriocarcinomas e
carcinomas embrionários. Menos comumente meningiomas, astrocitomas,
ependiomomas, gangliogliomas, tumor epidermóide, cisto dermoide e cisto
pineal podem acometer a região pineal
Os tumores da pineal normalmente causam hidrocefalia e compressão
do tronco cerebral. Hidrocefalia pode resultar em ataxia, depressão do nível
da consciência e disfunção vesical. Compressão do tronco cerebral pode
causar a Síndrome de Parinaud e
diminuição do nível de consciência e
ataxia.
O aumento dos níveis séricos de β - gonadotrofina humana coriônica
α-fetoproteína ou ambos são patognomônicos para a presença de tumores
de células germinativas e devem ser pesquisados em todos os pacientes com
tumores na região pineal. A TC e RNM são essencias para o diagnóstico,
pois cada tipo de tumor da pineal demonstra achados característicos na
neuroimagem, embora nenhuma deles seja patognomônico para dado tipo
tumoral. A RNM deve ser solicitada porque muitos desses tumores podem
disseminar-se pelo líquido cefalorraquidiano (LCR).
O tratamento requer o estabelecimento do diagnóstico histológico,
porque uma variedade de tipos de tumores pode ser encontrada nessa
16 região. Biopsia cirúrgica aberta é preferida, e o histopatológico intraoperatório
é útil para determinar se uma ressecção agressiva é necessária. A biópsia
estereotáxica tem menor acurácia diagnóstica do que biópsia cirúrgica aberta
porque alguns tumores podem ser heterogêneos, contendo mais de um tipo
tumoral, além disso, a morbidade do procedimento estereotáxico é maior,
uma vez que a região pineal tem vários vasos de importante calibre.
Aproximadamente um terço desses tumores são benignos e podem
ser curados somente por ressecção. Germinomas são os tumores mais
comuns da região pineal e são altamente sensíveis à radioterapia.
Quimioterapia pode ser associada. Radioterapia pós-operatória é oferecida
para todos os pacientes com tumor maligno da pineal. A taxa de
sobrevivência em 5 anos para pacientes com tumor maligno do parênquima
pineal é de 50%, para aqueles com germinoma em 5 anos a sobrevida é de
80%, entretanto outros tipos de tumores malignos de células germinativas
tem um prognóstico menos favorável.
Craniofaringeomas
Responsável por aproximadamente 2% de todos os tumores cerebrais
primários, o craniofaringioma é mais frequentemente diagnosticado em
crianças menores que 10 anos de idade, todavia eles podem ocorrer em
adultos. Eles crescem de remanescentes de células epiteliais do endoderma
e sofrem progressivo crescimento. Classicamente localizados na região supra
selar,
eles
são
histologicamente
tumores
benignos,
entretanto
frequentemente são recorrentes após ressecção e podem causar distúrbios
hipotalâmicos, visuais e hidrocefaia. Ressecção cirúrgica completa é o
tratamento de escolha e radioterapia adjuvante indicado para tumores
residuais e recorrentes.
Hemangioblastoma
Hemangioblastoma é o tumor benigno intra-axial mais comum da fossa
posterior em adultos. Vinte por cento dos casos estão associados com a
doença de Von Hippel-lindau, uma doença rara caracterizada frequentemente
17 por história familiar, angiomas de retina, hemangioblastomas cerebrais e da
medula espinhal, carcinoma de células renais, cisto ou carcinoma
pancreático,
feocromocitomas
e
policitemia.
Nestes
pacientes
o
aparecimento do hemangioblastoma é mais precoce.
Carcinoma e papiloma do plexo coroide
Tumores da coroide são incomuns e mais de 90% desses tumores são
papilomas. Eles são mais comuns em crianças menores que 5 anos de idade
e crescem do plexo coroide dentro do ventrículo lateral posterior. Quando
ocorrem em adultos, eles frequentemente envolvem o quarto ventrículo. Os
sintomas são resultado da hidrocefalia e inclui cefaleia, ataxia, alteração do
estado mental. Massas, ocasionalmente calcificadas, com aspecto de folha
larga com muitas divisões são vistas em imagem do ventrículo. O tratamento
é ressecção cirúrgica total e em longo prazo a taxa de sobrevida é
diretamente relacionada à classificação patológica. A ressecção de papiloma
pode ser curativa.
Ganglioglioma
Gangliogliomas são tumores raros compostos por neurônios e células
gliais que apresentam crescimento lento e têm tendência à calcificar. Ocorre
predominantemente em crianças e adultos jovens. Convulsões são o sintoma
mais comum, muitas vezes sendo refratárias ao tratamento medicamentoso.
O tratamento ideal consiste de ressecção cirúrgica radical do tumor, não
havendo necessidade de radio ou quimioterapia adjuvantes. A taxa de
sobrevida em 10 anos é de 84%.
Cisto coloide
Tumor benigno de crescimento lento que corresponde a menos de 1%
dos tumores cerebrais. Localiza-se predominantemente no terceiro ventrículo,
bloqueando o forame de Monro e causando hidrocefalia. Manifesta-se como
hipertensão intracraniana intermitente ou hidrocefalia. Muitas vezes é um
18 achado casual. O tratamento é ressecção cirúrgica por craniotomia com
abordagem através do corpo caloso ou esvaziamento do cisto com ou sem
remoção deste por neuroendoscopia. Derivação ventrículo-peritoneal sem
abordagem cirúrgica do tumor é uma opção, porém se deve levar em conta
as possíveis complicações do sistema de drenagem a longo prazo e a
possibilidade de progressão tumoral.
Neurocitoma central
Tumor benigno raro, podendo esporadicamente ter variante maligna.
Localiza-se nos ventrículos laterais ou no septo pelúcido. O tratamento é
ressecção cirúrgica radical.
Tumor dermoide, epidermoide e paraganglioma (Descritos no capítulo 44)
2 METÁSTASES CEREBRAIS
Tumores cerebrais metastáticos ocorrem em aproximadamente 2030% de todos pacientes com câncer sistêmico. Consequentemente,
aproximadamente 50.000 -100.000 pacientes por ano desenvolvem esses
tumores nos Estados Unidos. Em 40% das lesões metastáticas sintomáticas,
o sítio primário é o pulmão e em 20% é a mama. Melanoma, câncer
gastrointestinal e o câncer renal também metastatizam para o cérebro. A
maioria das metástases (80%) são supratentoriais; o cerebelo é o sítio em
10-15% dos pacientes e o tronco cerebral em 3-5%. Entretanto, paciente
adulto ou idoso com tumor no cerebelo, até prove em contrário, considera-se
metástase. Metade das lesões metastáticas tem apresentação única e
metade são múltiplas. Aproximadamente 10% dos pacientes tem mais de
cinco lesões e dentro deste subgrupo a neoplasia primária mais prevalente é
o câncer de pulmão e o melanoma. Tumores cerebrais metastáticos são
raros em crianças e são mais diagnosticados em adultos com mais de 40
anos de idade (LASSMAN; DEANGELIS, 2001) .
19 Os achados clínicos dos tumores cerebrais metastáticos são muito
similares aos tumores cerebrais primários. A presença de sintomas
neurológicos e uma lesão vista na RNM é quase diagnóstico de tumor
cerebral metastático nos pacientes com neoplasia sistêmica diagnosticada,
embora muitas vezes a lesão cerebral possa ser primária ou mesmo
infecciosa, o que torna necessário buscar um diagnóstico histopatológico.
Paciente com lesão única no cérebro e sem evidência de câncer sistêmico,
existe uma probabilidade de 15% dessa lesão representar uma doença
metastática. Aproximadamente um terço dos pacientes com tumores
cerebrais metastáticos não tem história prévia de câncer. Os pacientes com
suspeita (múltiplas lesões, lesões em fossa posterior) ou conhecida lesão
cerebral metastática e nenhum diagnóstico sistêmico, requerem investigação
que inclua TC do Tórax e abdômen, exame de sangue oculto nas fezes e
exame de sangue para vários marcadores de câncer.
Cefaleia é o sintoma predominante, seguida por alterações no estado
mental e déficits neurológico focais. Assim como tumores cerebrais primários,
os sinais clínicos estão relacionados com a localização, tamanho e efeitos
secundários da lesão. Os sintomas mais observados são hemiparesia,
distúrbio
sensorial,
afasia
e
ataxia.
Convulsões
ocorrem
em
aproximadamente 10% dos pacientes e hemorragia em cerca de 15%,
especialmente naqueles com melanoma, coriocarcinoma, carcinoma de
células renais, câncer da tireoide e câncer de pulmão. O tempo do
diagnóstico sistêmico de câncer até o aparecimento de lesões metastáticas
no cérebro varia de acordo com o tipo de tumor, porém a média é usualmente
de 2-3 anos. O câncer de pulmão é uma exceção, produzindo doença
metastática em 6-9 meses.
A RNM e a TC tipicamente revelam múltiplas lesões, frequentemente
na junção da substância branca e cinzenta. As lesões realçam com o
contraste (algumas vezes “anelar”) e exibem edema peritumoral. Os
principais diagnósticos diferenciais incluem gliomas malignos, linfomas
primários do SNC, abscesso, e necrose radioativa.
Em geral, pacientes com metástases para o cérebro tem um
prognóstico ruim. A finalidade de toda a intervenção é prolongar a sobrevida
e melhorar a qualidade de vida do paciente. Em situações de emergência,
20 tais como diminuição do nível de consciência causada por hérnia cerebral
devido ao aumento da pressão intracraniana ou hemorragia tumoral,
requerem altas doses de corticosteroides, diuréticos osmóticos ( manitol) e
em casos selecionados descompressão cirúrgica de urgência. Em muitos dos
casos, a decisão terapêutica é baseada no tipo de tumor (se conhecido),
categoria da doença sistêmica, prognóstico global e número e localização
das lesões. Ressecção cirúrgica deve ser considerada se existem lesões de
fácil acesso cirúrgico, se o tumor é insensível à quimioterapia ou radioterapia
e se as lesões estão causando significativos sintomas neurológicos e podem
ser removidas sem maior morbidade.
Em situações onde não há origem sistêmica identificada após
completa avaliação, biópsia com agulha estereotática ou ressecção cirúrgica
aberta deve ser executada. Em pacientes com conhecido ou recente
diagnóstico de câncer sistêmico, a primeira consideração a ser feita é a
possibilidade do sucesso da resposta à quimioterapia ou radioterapia. Certos
tipos de câncer (Tumores de células germinativas e linfomas, por exemplo)
são tratados efetivamente com quimioterapia e radioterapia. A ressecção
cirúrgica melhora a sobrevida e a qualidade de vida em pacientes com lesão
metastática única no cérebro. Um resultado similar favorável pode seguir da
remoção de lesões metastáticas múltiplas. Lesão única e volumosa em fossa
posterior deve ser removida cirurgicamente. O prognóstico desses pacientes
está diretamente relacionado com o estágio da doença sistêmica .
3 TUMORES DO CRÂNIO
Tumores benignos e malignos do crânio criam sintomas devido à
compressão e destruição do tecido cerebral. Tomografia computadorizada e
RNM são essenciais para o diagnóstico e para o planejamento do tratamento.
A ressecção cirúrgica geralmente é o tratamento de escolha. A Quadro 4
descreve os principais tumores do crânio
21 Quadro 4 – Tumores do crânio
Tumor
Localização
Osteoma
Calvária, seio
paranasal, órbita
Condroma
Base do crânio,
sino paranasal
Hemangioma
Achados Clínicos
Assintomático, sinusite, proptose.
Imagem – lesão circunscrita com
densidade óssea.
Assintomático, paralisia de nervo
craniano.
Coluna vertebral, Assintomático, cefaleia.
Calvária
Imagem – densidade diminuída,
trabeculado ou hexagonal.
Calvarium, sinos, Assintomático
Cisto Dermoide órbita, base do
ou epidermoide crânio
Condrosarcoma Base do crânio
Osteossarcoma Base do crânio,
Calvarium
Imagem – Lesão lítica arredondada,
margens escleróticas pontiagudas.
Paralisia de nervo craniano, dor, sinusite,
proptose.
Imagem – Lesão lítica com margem
pontiaguda, invasão óssea.
Assintomático, paralisia de nervo
craniano, dor.
Imagem - Lesão lítica com margem
pontiaguda, invasão óssea.
Assintomático, cefaleia.
Fibrossarcoma
Por todo o crânio
Tratamento
Imagem – Lesão lítica com margem
pontiaguda, invasão óssea.
Cirurgia
Cirurgia
Cirurgia
Raramente
indicada
cirurgia.
Cirurgia com
grande
margem;
radioterapia
ineficaz.
Cirurgia com
grande
margem;
radioterapia
ineficaz.
Cirurgia com
grande
margem;
radioterapia
ineficaz
4 TUMORES MEDULARES
Os tumores medulares estão descritos em detalhes no capítulo 45.
Esses tumores afetam principalmente jovens e adultos de meia idade, são
encontrados por toda a medula espinhal em uma distribuição que é
proporcional a extensão de cada segmento. A incidência de tumores da
22 medula espinhal é aproximadamente um quarto da dos tumores cerebrais. Os
tumores medulares são classificados em intramedulares (gliomas e
ependimomas são os mais comuns), extramedular intradural (neurofibromas
e meningeomas são os mais comuns) e extramedular extradural (metástases
são os mais comuns). Os tumores metastáticos mais comuns localizam-se
nos corpos vertebrais e espaço epidural e são principalmente os cânceres de
pulmão, mama, próstata e gastrointestinal. Melanomas e linfomas são menos
frequentes.
Compressão
epidural
da
medula
espinhal
ocorre
em
aproximadamente 5-10% dos pacientes.
O diagnóstico dessas lesões baseia-se nos achados da história clínica,
exame físico e estudo de imagens. Os tumores extramedulares causam
sintomas diretamente através da compressão do tecido nervoso, enquanto
que os tumores intramedulares afetam diretamente o parênquima neuronal.
Tumores extramedulares afetam tipicamente um segmento focal da
medula espinhal e estão associada as raízes nervosas, produzindo sintomas
referidos ao nível da lesão. Inicialmente os sintomas podem ser dores
radiculares, parestesias, dormência e fraqueza distribuída pelas raízes
nervosas afetadas. Com a continuação da compressão as vias ascendentes
e descendentes são comprometidas, resultando em paresia espástica,
dormência abaixo da lesão, hiperreflexiam e disfunção vesical e intestinal.
Tumores intramedulares possuem uma apresentação mais variável, pois eles
podem envolver apenas um pequeno segmento ou estender-se por toda
medula espinhal. Os sintomas dependem da área específica afetada. Se as
lesões são restritas a somente um ou dois segmentos, os sintomas e sinais
indicam tumor extramedular. Perda sensorial dissociada é sugestivo de
siringomielia.
5 TUMORES DA BASE DO CRÂNIO
Devido à cirurgia da base do crânio ser um campo relativamente novo
e desafiador da medicina moderna optamos por abordar os tumores desta
região separadamente dos tumores cerebrais discutidos acima. Uma
descrição mais detalhada, no entanto, pode ser encontrada no capítulo 44.
23 CONCLUSÃO
Os
tumores
cerebrais
compreendem
um
grupo
amplamente
heterogêneo de tipos histológicos com tratamento e prognósticos próprios. A
individualização de cada caso levando em conta não somente o tipo tumoral
e seu tratamento específico, mas o estado clínico geral, faixa etária, fatores
sociais e perspectivas do paciente e seus familiares em relação ao
tratamento e prognóstico é imperativo. Após estabelecido o diagnóstico,
equipe
multidisciplinar
composta
por
neurologista,
neurocirurgião,
neuropatologista, neuroradiologista e oncologista, bem como psicólogo e
psiquiatra (quando necessário) e otorrinolaringologista, cirurgião plástico e
cirurgião de cabeça e pescoço ( para casos selecionados de tumores da base
do crânio) deve ser estabelecida. Quando indicado e optado por cirurgia, o
emprego de técnica microcirúrgica, conhecimento microanatômico preciso da
região a ser abordada e cuidadoso pré e pós-operatórios devem ser
realizados visando ressecção tumoral total e segura (sem ocasionar déficits
ao paciente) e o manejo rápido e preciso de eventuais complicações pósoperatórias.
O conhecimento preciso por parte do cirurgião das abordagens
cirúrgicas para a base do crânio (transpetrosa, crânio-órbito-zigomática,
transfacial, transcondilar, entre outras) é essencial para tumores localizados
nesta
região.
Em
casos
selecionados
devem
ser
utilizados
no
armamentarium cirúrgico monitorização eletrofisiológica transoperatória,
potencial
evocado
neuroendoscopia
e
somatosensorial
e
motor,
neuronavegação.
Os
aspectos
eletrocorticografia,
relacionados
à
radioterapia e quimioterapia devem ser considerados em bases individuais e
a equipe deve estar pronta para reconhecer e manejar as complicações
destes procedimentos. Todos os possíveis diagnósticos diferenciais devem
ser considerados em detalhe em um paciente que apresente um “processo
expansivo cerebral” nos exames de imagem, tais como doenças infecciosas
(abscesso, encefalite – capítulo 24), inflamatórias (doenças desmielinizantes
– capítulos 25 e 26 - , vasculites), vasculares (aneurismas, acidente vascular
cerebral – capítulos 7,8, e 9), entre outras: anamnese e exame físico
24 minuciosos muitas vezes orientam para a etiologia. Finalmente, ao depararse com um paciente com neoplasia maligna cerebral avançada com
prognóstico sabidamente reservado, as condutas devem ser tomadas não
somente baseadas em paradigmas científicos, mas também se levando em
conta as expectativas e desejos do paciente e seus familiares, pois aspetos
culturais, sociais, filosóficos e religiosos variam entre membros de uma
mesma sociedade.
Referências
McKinney PA. Brain tumours: incidence, survival, and aetiology. J Neurol
Neurosurg Psychiatry. Jun 2004;75 Suppl 2:ii12-7.
DeAngelis LM. Brain tumors. N Engl J Med. Jan 11 2001;344(2):114-23.
Lassman
AB,
DeAngelis
Clin. Feb 2003;21(1):1-23, vii.
LM. Brain
metastases. Neurol
Kaal EC, Vecht CJ. The management of brain edema in brain tumors. Curr
Opin Oncol. Nov 2004;16(6):593-600.
Gilbert MR, Loghin M: The Treatment of Malignant Gliomas. Curr Treat
Options Neurol 2005 Jul; 7(4): 293-303
Green SB, Byar DP, Walker MD, et al. Comparisons of carmustine,
procarbazine, and high-dose methylprednisolone as additions to surgery and
radiotherapy for the treatment of malignant glioma. Cancer Treat Rep 1983
Feb; 67(2): 121-32
Isolan GR, Krayenbuhl N, De Oliveira E, Al-Mefty O. Microsurgical anatomy of
the cavernous sinus: Measurements of the triangles in anda round it. Skull
Base 2007; 17: 357-367 c
Isolan GR, Rowe R, Al-Mefty O. Microanatomy and surgical approaches to
the infratemporal fossa: An anaglyphic three-dimensional stereoscopic
printing study. Skull Base 2007; 17: 285-302. d
25 Krayenbühl N, Isolan GR, Hafez A, Yaşargil MG. The relationship of the
fronto-temporal branches of the facial nerve to the fascias of the temporal
region: a literature review applied to practical anatomical dissection.
Neurosurgical Review 30 (1):8-15, 2007.
Isolan GR, Dobrowolski S, Negrão AW, Silva PEC, Maingué JA.
Neuroendoscopy: principles and indication. O Dendrito, Curitiba, v. 7, n.4, p.
94-98, 2001.
Isolan GR, Negrão A; Ribas Filho JM, Malafaia O. Proliferation cell markers
and CNS tumors. Revista Médica do Paraná, Curitiba, 2007.a
Isolan GR, Dobrowolski S, Ribas Filho JM, Malafaia O. Understanding the
astrocytic neoplasms tumorigenesis. Revista Médica doParaná, Curitiba,
2007.b
Isolan GR, Ribas Filho J, Santis-Isolan PMB, Giovanini A, Dini LI, Malafaia O,
kummer jr A, Negrão AW. Astrocytic neoplasm and correlation with p53 and
ki67 proteins. Archives of Neuropsychiatry. Arquivos de Neuro-Psiquiatria,
sao paulo, v. 63, n. 4, p. 997-1004, 2005.a
Isolan GR, Ribas Filho JM, Malafaia O, Dobrowolski S, Neto A, Hayashi G,
Vidigal A, Mulinari A, kummer jr, A. Relationship between Ki67 and
astrocytoma grade. Revista Médica do Paraná, Curitiba, v. 62, n. 2, p. 5-10,
2005.b
http://www.braintumor.org
http://www.moffitt.usf.edu/clinical/nonc/index.htm
http://www.mskcc.org/document/WICBRAIN.htm
http://cancernet.nci.gov
http://www.clinicaltrials.org
http://www.cancercare.org
Download