2014-11-17 - MAltman - Dien Bien Phu

Propaganda
Pelo Socialismo
Questões político-ideológicas com atualidade
http://www.pelosocialismo.net
_____________________________________________
Publicado em 2014/11/10, em: http://pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=7934:batalha-dedien-bien-phu-vitoria-vietnamita-marcou-inicio-de-queda-do-colonialismo-frances-&catid=61:cultura-revolucionaria
Colocado em linha em: 2014/11/17
Batalha de Dien Bien Phu: vitória vietnamita
marcou início de queda do colonialismo francês1
Max Altman | Opera Mundi
Enfrentamento no ''vale da morte'' que encerraria Guerra da Indochina completou
60 anos e colocou frente a frente poderio do Exército regular francês e tropas da
guerrilha independentista lideradas por Giap.
Marco inicial da derrocada do império colonial francês, a batalha de Dien Bien Phu
ocorreu no início de 1954 entre as forças pela independência do Vietnã, o Vietminh, e
o Exército regular francês. A batalha que assinalaria o fim da Guerra da Indochina
teve, do lado da então colônia, o comando do general Vo Nguyen Giap, liderando o
batalhão vietnamita contra as forças francesas, encabeçadas por general Christian de
La Croix de Castries.
No ano anterior, em 1953, os franceses fortaleciam suas defesas ao redor do delta do
rio Vermelho, cujo centro era Hanói, preparando uma série de ofensivas contra o
Vietminh (Frente pela Independência do Vietnã). Na primavera de 1953, Giap lançou
uma ofensiva na cidade de Na San. Depois de duros combates, a ação fracassou e o
Vietminh foi derrotado, sofrendo milhares de baixas. Após o embate, os franceses
logo começaram a planejar uma ação definitiva na zona de Dien Bien Phu, prevendo
batalhas a campo aberto em que a superioridade material francesa se imporia às
guerrilhas vietnamitas — em tese, com menos poder de fogo.
De todos os lugares estudados para a investida final francesa, a escolha recaiu em
Dien Bien Phu. Estava situada no fundo de um vale, ideal para a construção de
aeroporto e perto de numerosas estradas. As colinas que rodeavam a localidade
ficaram fora do perímetro defensivo, talvez como armadilha para o Vietminh.
Os vietnamitas aceitaram o desafio dos franceses. Ho Chi Minh, que mais tarde seria
o presidente do Vietnã, comparou a situação estratégica do Exército francês com um
capacete militar: os franceses estavam na parte côncava do capacete, enquanto os
vietnamitas ocupavam posições na borda circular. Ou seja, havia 20 mil soldados
franceses nas pequenas colinas do vale, enquanto 65 mil soldados vietnamitas
guardavam posição nas montanhas vizinhas.
1
Manteve-se a variante do português do Brasil. – [NE]
1
O Estado-Maior francês imaginava ter montado uma armadilha perfeita, uma isca
que atrairia o grosso das tropas inimigas para poder destrui-las numa batalha
decisiva. Mais de cem anos antes, assim fizera Napoleão Bonaparte na meseta de
Pratzen. Mas o imperador francês não estava na Indochina em 1954. O cálculo dos
estrategistas gauleses deu com os burros n’água e acabou sendo uma armadilha
perfeita para o seu próprio Exército.
A França acordou com uma notícia incrível naquele 8 de maio de 1954: Dien Bien
Phu, onde estava a elite de seu Exército havia caído em mãos dos rebeldes do
Vietminh. Com ele, Paris perdia a Indochina, a joia asiática do Império Francês. Os
responsáveis pelo desastre sabiam havia um mês como tudo ia acabar e não foram
capazes de mudar de tática a fim de evitar a derrota.
O poderia da França na Indochina foi derrocado na Segunda Guerra Mundial. A
invasão japonesa encontrou resistência somente nos vietnamitas, dirigidos por Ho
Chi Min, fundador do Partido Comunista Indochinês e do movimento de libertação
nacional Vietminh, e também por Nguyen Giap [na foto, à direita]2, um simples
professor que, mais tarde iria converter-se num dos gênios militares da história das
guerras.
Em 1945, quando Ho Chi Min proclamara a independência do Vietnã, o mundo tinha
um novo mapa — mas Paris dele não se inteirou. Tentaram reconquistar a Indochina
confrontando-se com uma guerra de guerrilhas, que culminou no enfrentamento
entre exércitos. Em 1950, Giap venceu uma autêntica batalha, Cao Bang. Os franceses
sofreram 4 mil baixas e tiveram 2 mil de seus soldados feitos prisioneiros. No
entanto, em 1953, foi Giap o derrotado em Na San. Os franceses então acreditaram
que poderiam destroçar definitivamente o Vietminh atraindo-o a uma grande
batalha. Foi assim que começaram a desenhar o plano de Dien Bien Phu.
Em 20 de novembro de 1953 foi deflagrada a Operação Castor e 4 mil paraquedistas
franceses saltaram sobre Dien Bien Phu, tomando o vale. Nas semanas subsequentes,
a base foi sendo consolidada, valendo-se de um velho campo de pouso japonês
rapidamente reformado. Os paraquedistas foram sendo substituídos por infantaria
mercenária de distintas laias. O núcleo duro era a Legião Estrangeira, a melhor
infantaria do Exército francês. Os demais eram argelinos, marroquinos e vietnamitas,
que seriam os primeiros a desertar. Eram apoiados por 28 canhões, 28 morteiros
pesados, dez tanques ligeiros M24 e seis caças Bearcat adaptados para ataque a terra,
além de tanques e aviões ‘made in USA’. Em resumo, um Exército de mais de 11 mil
homens bem treinados.
Contudo, a posição francesa sofria de graves carências. Era inacessível por terra e
tudo, desde os reforços e víveres à gasolina, devia ser trazido pelo ar, ainda que se
levasse em conta que o Vietminh não dispunha de artilharia antiaérea para impedi-lo.
Entretanto, esse inconveniente tinha um lado positivo: o difícil acesso a Dien Bien
Phu impedia que o Vietminh trouxesse sua artilharia. Além do mais, o perímetro a
defender era demasiado extenso. Não era possível cobri-lo com uma linha defensiva
2
A foto está postada no sítio em referência. – [NE]
2
contínua; foi necessário recorrer a um rosário de postos fortificados isolados — os
quais algum estrategista romântico resolveu batizar com nomes de mulher: AnneMarie, Beatrice, Claudine, Dominique, Eliane, Gabrielle, Huguette... O pior, porém, é
que a posição estava rodeada de colinas entre 400 e 700 metros de altura, cobertas de
espessa vegetação.
“Para o Estado-Maior francês era impossível que pudéssemos instalar artilharia
nas alturas que dominavam a ‘panela’ de Dien Bien Phu, no entanto desmontamos
os canhões para transportá-lo peça por peça”, explicaria Giap. Antes de mais nada, o
gênio vietnamita foi prodigioso em resolver um problema logístico. “Os exércitos
marcham sobre seu estômago”, dizia Napoleão, e Giap parecia ter aprendido as
lições napoleônicas melhor do que os generais gauleses, que confiavam que o inimigo
não poderia provisionar suas tropas com mantimentos a mais de 100 quilômetros de
suas bases — Dien Bien Phu estava a 600km —, porém “abrimos caminhos,
mobilizamos 260 mil portadores que diziam ‘nossos pés são de ferro!’, utilizamos
milhares de bicicletas fabricadas em Saint-Étienne adaptadas para transportar
cargas de 250 quilos”.
No começo de 1954, parecia que Giap havia de fato caído na armadilha. Levara a Dien
Bien Phu todo o seu Exército regular, o chamado Chu Luc, uns 50 mil homens
distribuídos em quatro divisões de infantaria. Mas seria a única divisão de artilharia a
responsável por desequilibrar o jogo, invertendo o sinal da armadilha francesa. Giap
não somente foi capaz de assentar seus canhões nas colinas dominantes, em abrigos
que impediam que a aviação francesa os atacasse, como também incluiu uma
artilharia antiaérea chinesa — com especialistas chineses manejando-a — de que os
serviços de inteligência franceses não tinham a menor ideia. Essa artilharia antiaérea
tornaria a vida da aviação um inferno, levando o comando francês a optar por
provisionar suas tropas lançando os mantimentos e víveres de paraquedas, cada vez
de maior altura. Resultado foi que muitos caiam em mãos do Vietminh.
Em 31 de janeiro, 200 canhões de campanha começaram a bombardear Dien Bien
Phu sem contemplação. Era o princípio de um inferno que duraria três meses e uma
semana até a rendição incondicional. A infantaria francesa buscou saídas
desesperadas para silenciar a artilharia inimiga, porém fracassou. Em 13 de março,
começaram as investidas da infantaria Vietminh. O comandante da artilharia
francesa se suicidou e o chefe do Estado-Maior, um fino aristocrata, o conde Hubert
de Seguins-Pazzis, sofreu uma crise nervosa. Mercenários vietnamitas passaram a
desertar em massa.
A armadilha não funcionava bem e o comando superior gaulês não soube (ou não
conseguia) reagir. Talvez se tivessem lançado de uma só vez os 4 mil paraquedistas
que tinham em reserva conseguissem algo, mas poderiam perder tudo de uma vez
também. Resolveram lançá-los pouco a pouco, a fim de cobrir os buracos.
Ainda assim houve um momento extremamente delicado para Giap. Nos primeiros
dias de abril, seus furiosos ataques tinham logrado conquistar terreno, mas a um
altíssimo custo, com a perda de 10 mil homens de suas melhores tropas. Ocorreu um
momento de desalento entre os atacantes diante do pesado castigo. Todavia, Giap
3
mostrou-se capaz de reagir. Expurgou uns quantos comandantes desmoralizados e
mudou de tática. Abandonou os ataques diretos e passou à guerra de trincheiras. Seus
soldados sapadores cavaram 500 quilômetros de valetas e trincheiras, que foram
estrangulando lentamente Dien Bien Phu.
A situação tornou-se insustentável. Uns 2 mil desertores internos fugiram, a maioria
norte-africanos, apelidados de ‘ratos de Nam Yun’ porque se escondiam nas
cavidades do rio e dela só saiam de noite para roubar comida.
Em 28 de março, aterrissou o último avião francês que foi imediatamente destruído
pelo bombardeio. Dien Bien Phu permaneceu isolado do mundo durante 40 dias,
uma autêntica quaresma penitencial. Em 7 de maio, o general De Castries,
comandante-geral da guarnição, anunciou pelo rádio um cessar-fogo a partir das
17h30.
Era a capitulação. A França havia sofrido 7.500 baixas, o Viet Minh o dobro, além de
11.721 franceses que caíram prisioneiros. Somente 3.290 sobreviveram. Estava selado
o destino do colonialismo francês na Indochina.
4
Download