Filosofia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ
PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO E AÇÕES COMUNITÁRIAS
DEPARTAMENTO DE EXTENSÃO
PROGRAMA DE INCLUSÃO, ACESSO E PERMANÊNCIA
__________________________________________________________________________________________________________________________________
peso na minha existência?/ Será que sou
Disciplina: Filosofia
apenas um joguete nas mãos daquilo que
Profª Sami Hiasmin
chamamos “forças naturais?".
Queira ou não, esse questionamento
Introdução a Filosofia
surge até nos momentos mais inesperados e
provoca,
Algumas
das
questões
recorrentes
ao
lado
de
outras
inúmeras
questões, o início da atitude de filosofar. (...).
entre os jovens, quando apresentados ao
A atitude filosófica, nascida dessa
estudo da Filosofia, são: "De que trata essa
tensão,
deve
levar–nos
matéria?", "Para que serve a Filosofia?",
realidades, ou seja: o eu, o outro, a natureza,
"Reprova?", "Cai no vestibular?", “para que
através de um olhar crítico, em que estamos
serve, então?”.
“desarmados”:
sem
a
ver
essas
preconceitos,
sem
Quem não ouviu pelo menos uma vez
posições já assumidas anteriormente. Esse
falar em Filosofia? Aqui e acolá, encontramos
olhar crítico leva-nos a compreender e a
em conversas ou nos textos que lemos dos
expressar o que compreendemos e, para
nomes dos famosos filósofos. Quantos de
conseguir essa finalidade, ele nos ensina a
nós, e quantas vezes, já não tivemos a
questionar tudo: a nós mesmos, ao outro, à
oportunidade de ouvir alguém dizendo: "pela
natureza, e ainda mais: ele nos ensina que
minha filosofia, considero certo fazer isto ou
importante é aprender a ver a realidade.
aquilo"? O termo filosofia é vigente e muito
A atitude filosófica possui algumas
utilizado. Mas sabemos nós (e sabem todos
características
que usam esse termo) o que significa, de
independentemente do conteúdo investigado.
fato, a Filosofia? Nós já nos pusemos a
Essas características São:
pensar nisto?
•
Filosofar: Uma atitude natural no homem
pergunta qual é a realidade e qual é a
Há certas perguntas que o homem não
que
são
as
mesmas,
Perguntar o que é. Ou seja, a Filosofia
significação de algo, não importa o quê;
cessa de fazer a si próprio, quer esteja ele na
•
etapa primitiva de sua evolução. Quer esteja
indaga como é a estrutura ou o sistema de
na etapa mais sofisticada. São perguntas que
relações que constitui a realidade de algo;
o atormentam, que o persegue, a ponto de
•
provocar nele o espanto, a angústia: porque
algo existe, qual é a origem ou a causa de
existo?
uma coisa, de uma ideia, de um valor, de um
Qual
a
finalidade
da
minha
existência, se é que tem finalidade?/ Qual a
Perguntar como é. Ou seja, a Filosofia
Perguntar por que é. Ou seja, porque
comportamento.
importância do outro na minha existência? E
A atitude filosófica inicia-se dirigindo
aquilo que chama “natureza”, qual o seu
essas indagações ao mundo que nos rodeia
Prof. Sami Hiasmin – Filosofia – UniENEM/PIAP - 2017
e às relações que mantemos com ele. Pouco
fechar no mundo da introspecção, num
a pouco, descobre que essas questões
mundo todo “seu”. Da mesma forma, ela
pressupõem a figura daquele que interroga e
exclui o fechamento num mundo de ideias,
que elas exigem que seja explicada a
pois a realidade não se deixa absorver nem
tendência do ser humano a interrogar o
mesmo pela própria reflexão, como também
mundo e a si mesmo com o desejo de
não se reduz a uma simples projeção do
conhecê-lo
pensamento.
e
conhecer-se.
Em
outras
palavras, a Filosofia compreende que precisa
conhecer nossa capacidade de conhecer,
Filosofia: O Problema do Conceito.
que precisa pensar sobre nossa capacidade
Quando
começamos
a
estudar
de pensar. Por ser uma volta que o
Filosofia, somos logo levados a buscar o que
pensamento realiza sobre si mesmo, a
ela é. Nossa primeira surpresa surge ao
filosofia
ou,
descobrirmos que não há apenas uma
seguindo o oráculo de Delfos, busca realizar
definição da filosofia, mas várias. A segunda
o “Conhece-te a ti mesmo”.
surpresa vem ao percebermos que, além de
se
realiza
como
reflexão
várias, as definições parecem contradizer-se.
Filosofia e a atitude filosófica.
Eis porque muitos, cheios de perplexidade,
indagam: afinal, o que é Filosofia, que sequer
Provocada pelo “espanto” original, a
consegue dizer o que ela é?
Filosofia nos incita e nos desafia a manter
Uma curiosidade interessante nos livros
um constante contato com todos os fatos e
de filosofia é a sua denominação usual:
todas as experiências, numa atitude radical
“Fundamentos
de olhar crítico, e com esse radicalismo,
”Noções de...”. Louvável essa preocupação
numa verdadeira renúncia. É com esta
dos autores de livros didáticos de Filosofia,
atitude que a Filosofia alcança alguns dos
até
momentos mais ricos da realidade, onde o
características mais marcantes da busca do
sentido reside e se revela.
conhecimento filosófico; o fato de constituir
A Filosofia também nos ensina a
porque
de...”,
coerente
“Elementos
com
uma
de...”,
das
uma busca permanente.
assumir o fato de vivermos todas as
Os problemas é que, na mais das
consequências da luta entre a ignorância e o
vezes, quando um livro desses é manuseado
saber. Ela é a procura livre que ousa
por um estudante de segundo grau, ou
enfrentar o inabitual o insólito na realidade
qualquer outro iniciante na Filosofia, o
concreta. Portanto, a Filosofia nunca se
resultado é diverso do pretendido pelo autor
confunde com a ideologia e muito menos
com essa modéstia. Geralmente funciona
com a mistificação. Ela ensina o homem a
como um choque aversivo, reforçando ainda
evitar a armadilha que consistiria em se
mais a visão preconceituosa da Filosofia
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como
um
conhecimento
fechado,
só
tradições vigentes. É nesse sentido que as
acessível aos iniciados, “sábios”, donos de
sabedorias orientais são também chamadas
uma erudição notável, portanto, um conteúdo
“filosofias”
árido e sem qualquer ligação com a realidade
•
do homem comum.
que teve inicio na Grécia, em torno dos
Como “o filosofar propriamente dito”,
Na história do pensamento, que a
séculos VI e V a.C. Por essa época,
humanidade vem construindo ao longo do
começou-se a repensar a natureza, o ser
tempo, muitos foram os, pensadores e
humano e as divindades com um olhar
pesquisadores que deram uma definição ou
crítico. Procurava-se saber a validade dos
um conceito para a Filosofia. Por vezes,
próprios conhecimentos. Até que ponto a
esses foram complexos, por vezes simples;
cultura era fruto de fantasia e crenças dos
por
antepassados? O que garantia que as
vezes
rebuscados
e
quase
incompreensíveis. Há, pois, um emaranhado
tradições
recebidas
dos
anciãos
eram
de conceitos. Diante deles muitas pessoas se
verdadeiras? A filosofia, portanto, questiona
sentem entediadas e, em vez de enfrentar o
os fundamentos da cultura.
problema, preferem descartá-lo, dizendo que
A Filosofia, na sua acepção ampla, é
a Filosofia é um "jogo inútil e estéril de
considerada "uma acepção de vida e de
palavras", ou que é "muito difícil e só serve e
mundo". Acepção que se aplica a todos seres
interessa a pessoas especiais e muito
humanos. Todo ser humano tem uma visão
inteligentes".
de mundo produto de questionamentos e
O verbo filosofar pode ser usado com
reflexões sobre as ações, sentimentos e
três significados distintos:
ideias, extraídas da vivência cotidiana e
•
geradas pela curiosidade.
Como simples sinônimo de “pensar”.
Às vezes, doenças ou mortes de pessoas
Para Gramsci "todos os homens são
próximas, decepções, perdas irreparáveis e
filósofos", pois participam de uma filosofia
outros problemas existenciais nos fazem
espontânea expressa na linguagem, no
pensar (“filosofar”) sobre o sentido de nossa
senso comum, na cultura popular, crenças,
vida. Mas esse significado é por demais vago
folclore, etc. Só que esta reflexão na busca
e amplo para caracterizar o verdadeiro
de
sentido do filosofar.
compreensão de sua razão de ser se dá de
•
Como
sinônimo
de
“saber
viver”
uma
explicação
dos
fatos
espontânea.
sabedoria. O sábio é aquele que se torna um
mulheres
exemplo vivo das virtudes apreciadas em
humanos,
uma sociedade e é tomado como ponto de
compreender,
referencia
problemas existenciais e sociais.
fortalecer
o
valor
das
da
forma assistemática, ametódica, ocasional e
virtuosamente. Aqui filosofar é viver com
para
e
Neste
sentido,
filosofam,
que
homens
enquanto
refletem,
explicar
e
e
seres
tentando
resolver
os
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Mas o que caracteriza o trabalho
A palavra “Filosofia” aparece na Grécia
filosófico propriamente dito? O que distingue
no século VI a.C nos escritos de Pitágoras,
a minha filosofia de vida (minha concepção
que não querendo definir-se como “sábio”,
de mundo) da Filosofia de Platão ou a de
prefere autodenominar-se “Filos-sophos” - A
Kant? A filosofia na sua acepção estrita
palavra Filosofia é grega. É composta por
consiste na "procura de soluções para as
duas outras: PHILO e SOPHIA. Philo deriva -
problemáticas do ser humano". É a busca de
se de Philia que significa amizade, amor
explicações das causas dos fenômenos, em
fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer
investigar o porquê e a razão de ser dos
dizer sabedoria e dela vem à palavra Sophos
fatos.
se
= sábio -, ou seja, aquele que busca a
caracteriza como uma atividade racional que
sabedoria, “amante da sabedoria”, “amigo do
não se detém nas comuns impressões, mas
saber”, para ele uma denominação mais
busca fundamentar por rigoroso
exame
humilde e fiel à sua postura de tentar
crítico e reflexivo todas as convicções,
compreender a realidade de seu tempo.
encarando a realidade como problema. É
Filosofia significa, portanto amizade pela
uma busca.
sabedoria, amor e respeito pelo saber.
A
filosofia
nesta
perspectiva
A filosofia não é ciência: é uma reflexão
sobre os fundamentos da ciência, isto é,
Filósofo: o que ama a sabedoria tem amizade
pelo saber, deseja o saber.
sobre procedimentos e conceitos científicos.
Deste modo podemos observar que a
Não é religião: é uma reflexão sobre os
filosofia, desde sua definição originária, se
fundamentos da religião, isto é, sobre as
faz compreender como um saber sobre o
causas, origens e formas das crenças
homem, sobre o mundo, sobre a própria
religiosas. Não é arte: é uma reflexão sobre
realidade, um processo sempre dinâmico de
os fundamentos da arte, isto é, sobre os
apreensão das significações históricas da
conteúdos, as formas, as significações das
realidade humana, de maneira humilde e
obras de arte e do trabalho artístico. Não é
processual. O verdadeiro filósofo rejeita o
sociologia
a
status de “possuidor da verdade”, como se
dos
fosse possível conhecê-la ou ainda, que
nem
interpretação
e
psicologia,
avaliação
mas
crítica
conceitos e métodos da sociologia e da
alguém
psicologia. Não é política, mas interpretação,
totalidade
compreensão e reflexão sobre a origem, a
compreende a precariedade de sua busca e
natureza e as formas do poder e suas
o
mudanças. Não é história, mas reflexão
definição das “verdades” de cada época. O
sobre
trabalho
o
sentido
dos
acontecimentos
enquanto inseridos no tempo e compreensão
fosse
da
dinamismo
realidade,
do
capaz
de
realidade.
do
Ao
próprio
filósofo
qualquer
é
apreender
contrário,
processo
refletir
que
a
de
sobre
seja
a
ela,
do que seja o próprio tempo.
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redescobrindo
seus
significados
mais
profundos.
A
A filosofia quer encontrar o significado
mais profundo dos fenômenos. Não basta
filosofia,
enquanto
conhecimento
saber como funcionam, mas o que significam
produzido pelo homem, está condicionada a
na ordem geral do mundo humano. A filosofia
determinados
que
emite juízos de valor ao julgar cada fato,
determinam a sua própria identidade. A rigor
cada ação em relação ao todo. Assim,
não se pode defini-la dogmaticamente, em vã
filosofar é uma prática que parte da teoria e
tentativa de cristalizar a sua compreensão
resulta em outras teorias.
contextos
históricos
numa determinada escola, filósofo ou teoria.
A filosofia parte do que existe, critica,
A filosofia é um modo de pensar, é uma
coloca em dúvida, faz perguntas inoportunas,
postura diante do mundo. A filosofia não é
abre a porta das possibilidades, faz-nos
um conjunto de conhecimentos prontos, um
entrever outros “mundos” e outros modos de
sistema acabado, fechado em si mesmo. Ela
compreender a vida. É uma forma de pensar
é, antes de tudo, uma prática de vida que
que nos possibilita compreender melhor
procura pensar os acontecimentos além de
quem somos, em que mundo vivemos: em
sua aparência. Assim, ela pode se voltar para
suma, nos ajuda a compreender melhor o
qualquer objeto. Pode pensar a ciência, seus
próprio sentido de nossa existência.
valores, seus métodos, seus mitos; pode
Nisto precisamente consiste a filosofia,
pensar a religião; pode pensar a arte; pode
um conhecimento sistematizado sobre o
pensar o próprio homem em sua vida
mundo da natureza, sobre a condição
cotidiana. Até mesmo uma história em
humana pessoal e social, sobre a sociedade,
quadrinhos ou uma canção popular pode ser
sobre a cultura. Em termos gerais é uma
objeto da reflexão filosófica.
ciência humana, de longa tradição histórica,
A filosofia tem, portanto os limites da
que tem privilegiado a pesquisa de questões
própria história do homem. Não se pode
fundamentais sobre a existência humana, a
pensá-la como um conjunto de “verdades”
natureza e a cultura,...
perenes ou um método etéreo de pesquisar
as últimas causas de tudo que existe.
A maior parte dos filósofos está de
acordo em que a filosofia raramente nos dá
Saber o que é a filosofia também passa
respostas seguras e definidas às grandes
sempre por saber alguma coisa acerca dos
questões que lhe colocamos: o sentido da
homens que, ao longo da história, a foram
vida e do universo, por exemplo; apesar
criando: os filósofos. A sua época, a sua
disso, todavia, ela pode pelo menos ajudar-
vida, o seu pensamento, e de que modo
nos a descobrir o que há de errado nas
estes
soluções propostas de todos os lados, pode
três
mutuamente.
elementos
se
influenciam
contribuir para colocar abaixo vendas e
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ilusões que nos impedem de ver a realidade
estas questões, equivale a adiar uma das
face a face.
mais ricas experiências do ser humano, a
A filosofia incomoda porque questiona o
experiência do sentido das coisas.
modo de ser das pessoas, das culturas, do
mundo.
Questiona
as
práticas
política,
científica, técnica, ética, econômica, cultural
Por isso o mais importante não é
aprender uma série de definições, mas
aprender a filosofar.
e artística. Não há área onde ela não se
meta, não indague. E, nesse sentido, a
Por que estudar Filosofia?
filosofia é “perigosa”, “subversiva”, pois vira a
ordem estabelecida de cabeça para baixo.
Uma razão importante para estudar
Talvez a divulgação da imagem do filósofo
filosofia é o fato de esta lidar com questões
como sendo uma pessoa “desligada” do
fundamentais acerca do sentido da nossa
mundo
seja
sociedade
exatamente
contra
o
a
“perigo
defesa
da
existência. A maior parte das pessoas, num
que
ela
ou noutro momento da sua vida, já se
representa”.
interrogou a respeito de questões filosóficas.
Mas, então, enfim, o que é definir a
Mas a todo o momento nos vemos
filosofia? Definir a filosofia é, no melhor caso,
olhando para trás e perguntando o que
não defina-la, mas conseguir ver as várias
significa tudo isso. Então, é bem provável
acepções, ora mais fracas ora mais fortes,
que
que
do
fundamentais com as quais normalmente não
trabalho daqueles que se entendem como
nos importamos. Isso pode acontecer acerca
fazendo filosofia nos dias de hoje. A filosofia
de
não existe sem que se dê um choque no
questionamento pode tornar-se um desafio
banal; nem existe se não faz algum tipo de
incômodo, mas constitui-se o início de um
crítica, não no sentido fundacionista, mas
modo de pensar filosoficamente.
permanecem
como
elementos
comecemos
qualquer
a
aspecto
fazer
da
perguntas
vida.
Esse
simplesmente no sentido de não aceitar a
O que importa ter claro, por ora, é o
primeira resposta que aparece para toda e
fato de que a filosofia nos envolve, não
qualquer coisa.
temos como fugir dela. Ela é como o ar que
Neste sentido a sua grandeza está
respiramos, está permanentemente presente.
mesmo no processo, de proposição sempre
Se nós não escolhermos qual é a nossa
crítica dessas questões fundamentais. Pois
filosofia, qual é o sentido que vamos dar à
necessariamente a vida, a cultura, a história,
nossa existência, a sociedade na qual
a significação da existência são questões
vivemos nos dará, nos imporá a sua filosofia.
fundamentais, bem como a questão do
Quem não pensa é pensado por outros!
saber,
do conhecimento,
da sociedade.
Podemos afirmar seguramente que ela
Desprezar a filosofia significa desprezar
esteve sempre presente na vida do homem:
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antes das mudanças radicais; durante as
para a filosofia, já nos atesta um fato
revoluções, após as transformações sociais,
indiscutível: ela existe. Do contrário. Não
políticas, econômicas; compreendida pela
teríamos em cima do que buscar coisa
população, concretizada em forma de ação.
alguma.
Não há possibilidade de se rever a história do
filosofando. .
Ela existe.
A filosofia
se faz
homem sem se perceber a presença da
O que é Filosofia? Filosofia é a
filosofia. Mas perceber sua presença e saber
faculdade de manter viva a curiosidade da
a sua importância também não garante o
infância e a rebeldia da adolescência.
conhecimento do que ela é. O que é a
Filósofos são como crianças que não cessam
filosofia? É a arma dos combatentes? É a
de se admirar (Platão) e de se espantar
garantia
da
(Aristóteles) diante de um mundo que parece
transformação? O dia-a-dia do povo? É a
renascer novo a cada aurora. Filósofos são
busca da verdade? É o discurso contundente
como adolescentes que não aceitam os
e cheio de argumentação? De certo, também
limites impostos pelo “já pensado”, pelo “já
não será pelas tantas e tantas formas que ela
dito” e pelo “já feito”. Filosofia é a capacidade
poderá assumir que definiremos o que ela é.
de manter sempre em vista uma utopia que –
Embora revestida pelos homens dos mais
como um horizonte – jamais será alcançada;
variados sentidos e utilizada para as mais
mas que nos faz caminhar, ao invés de parar
variadas
e ficar pastando feitos cordeirinhos mansos à
do
domínio?
finalidades,
É
a
não
prática
será
na
multiplicidade de papéis que ela ocupou e
espera do abate.
ocupa que conseguiremos defini-la.
Percebemos através destas colocações
o quanto se torna penoso, quase impossível,
definir filosofia. Entretanto, ela existe. Sua
Objeto da Filosofia.
O objeto da Filosofia é a Totalidade a
Universalidade.
presença e importância podem ser notadas
em todos os momentos da história até
mesmo quando sua ausência, por motivos
outros, se fez presente.
Essência da Filosofia.
A essência da Filosofia é a procura do
saber e não a sua posse.
O que podemos concluir neste primeiro
momento é que, conseguindo ou não defini-
As exigências da reflexão filosófica.
la, estamos sempre esbarrando no fato
Em primeiro lugar, vamos estabelecer
incontestável de sua presença. O próprio
o que é a reflexão. Refletir é pensar,
exercício de buscar definições objetivas e
considerar cuidadosamente o já foi pensado.
claras para este "saber tão especial" ou para
Como um espelho que reflete a nossa
esta "busca da verdade", ou para esta
imagem, a reflexão do filósofo deixa ver,
"tentativa de explicação da realidade", enfim
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revela, mostra, traduz os valores envolvidos
relacionando-se o aspecto em questão com
nos acontecimentos e nas ações humanas.
os demais aspectos do contexto em que está
O trabalho do filósofo é refletir sobre a
inserido. É neste ponto que a filosofia se
realidade, qualquer que seja ela, descobrindo
distingue da ciência de um modo mais
seus significados mais profundos. Como isso
marcante. Com efeito, ao contrário da
é feito?
ciência,
Para chegar a essa revelação, a
reflexão
filosófica,
segundo
Dermeval
Saviani, deve ser:
a
filosofia
determinado,
aspecto
da
ela
não
tem
dirige-se
realidade,
a
desde
objeto
qualquer
que
seja
problemático; seu campo de ação é o
Radical: em primeiro lugar, exige-se
problema,
esteja
onde
estiver.
Melhor
que o problema seja colocado em termos
dizendo, seu campo de ação é o problema
radicais, entendida a palavra no seu sentido
enquanto não se sabe ainda onde ele está;
mais próprio e imediato. Quer dizer, é preciso
por isso se diz que a filosofia é busca. E é
que vá até às raízes da questão, até seus
nesse sentido também que se pode dizer que
fundamentos. Em outras palavras, exige-se
a filosofia abre caminho para a ciência;
que se opere uma reflexão em profundidade.
através da reflexão, ela localiza o problema
Ou
dos
tornando possível a sua delimitação na área
seus
de tal ou qual ciência que pode então
só
analisá-lo e, quiçá, solucioná-lo. Além disso,
cronológica, mas no sentido de chegar aos
enquanto a ciência isola o seu aspecto do
valores originais que possibilitaram o fato. A
contexto e o analisa separadamente, a
reflexão filosófica, portanto, é uma reflexão
filosofia,
em profundidade.
apenas a uma parcela da realidade, insere-a
seja,
chegar
acontecimentos,
fundamentos;
até
isto
à
sua
a
é,
raiz
aos
origem,
não
embora
dirigindo-se
às
vezes
Rigorosa: em segundo lugar e como
no contexto e a examina em função do
que para garantir a primeira exigência, deve-
conjunto desde que seja problemático; seu
se
seja,
campo é o problema, esteja onde estiver. Lá
métodos
onde as outras ciências param, onde, sem
determinados, colocando-se em questão as
mais indagar, aceitam os pressupostos, aí
conclusões da sabedoria popular e as
entra o filósofo e começa a investigar. As
generalizações apressadas que a ciência
ciências conhecem - mas o filósofo pergunta:
pode ensejar. Isto é, seguir um método
o que é o conhecimento; a outras ciências
adequado ao objeto em estudo, com todo o
estabelecem leis - ele põe a questão do que
rigor.
seja uma lei: o homem comum e o político
proceder
sistematicamente,
com
rigor,
segundo
ou
De conjunto: em terceiro lugar, o
falam do fim e da utilidade - o filósofo
problema não pode ser examinado de modo
pergunta o que se deve entender por fim e
parcial, mas numa perspectiva de conjunto,
utilidade?
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Já se vê que a filosofia é uma ciência
monte de informações acumuladas que
radical no sentido em que ela vai às raízes
valem um punhado de notas, não, ela é vida,
das questões muito mais profundamente que
posto que sonhar, pensar, imaginar é viver.
qualquer outra ciência; lá onde as outras se
Não há como manipular tão facilmente
dão por satisfeitas, ela continua a indagar e a
alguém que quebrou as amarras da rotina, do
perscrutar.
costume e começou a pensar por si próprio.
Assim, embora os sistemas filosóficos
possam
chegar
a
conclusões
Estes encontraram o caminho do saber e
diversas,
passarão conscientes por suas experiências.
dependendo das premissas de partida e da
Não haverá mais apenas reação ao meio,
situação histórica dos próprios pensadores, o
mas ação sobre a própria reação.
processo do filosofar será sempre marcado
Muitos dizem que é perda de tempo,
por essas características, resultando em uma
que não traz dinheiro para o bolso, que
reflexão rigorosa, radical e de conjunto.
filosofia não traz nenhum benefício senão dor
de cabeça e loucura para os estudiosos da
O Papel da Filosofia.
mesma. Dizem que isso é chato e difícil.
A tarefa da Filosofia é desenvolver no
Se esses que dizem que a Filosofia é
ser humano o senso crítico, que implica a
pura chatice, loucura e todas essas bravatas
superação
e
lessem um pouco que seja de história,
superficiais sobre os homens, a sociedade e
agradeceriam a certos "loucos e chatos" por
a natureza; concepções essas forjadas pela
terem enlouquecido em nome da medicina,
“ideologia” social dominante.
da matemática, da física, sociologia e do
O
das
concepções
resultado
a
pensamento moderno, etc. Pois os mesmos
ampliação da consciência reflexiva do ser
construíram este mundo e libertaram as
humano,
pessoas da caverna da ignorância, do medo,
voltada
desse
ingênuas
processo
para
dois
é
setores
fundamentais:
da escuridão. Quebraram padrões da época
•
e trouxeram algo de útil, de novo e que hoje
A consciência de si mesmo: crítica de
si próprio enquanto pessoa e de seu papel
individual e social (autocrítica).
•
A
consciência
do
gera a sobrevivência de milhões de pessoas.
De fato, a FILOSOFIA não se preocupa
mundo:
com dinheiro ou bens materiais, posto que o
compreensão do mundo natural e social e de
dinheiro acaba e nosso "amor" pelos objetos
suas possibilidades de mudança.
também. Ela não se preocupa com futilidades
A filosofia faz com que não sejamos
que nada crescem o humano como SER. Ela
mais um no rebanho, levado de canto a canto
é gratuita e qualquer um pode ter acesso, é
por qualquer coisa que nos digam. Ela é a
simples, basta querer.
mãe de todas as ciências e traz um
significado para nossa vida. É mais que um
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Isso é filosofia, ser livre para viver e
Um fato notável, porém, ocorreu nos
pensar, mesmo sabendo das limitações de
Estados Unidos com Helen Keller (1880-
nosso sentir e SER.
1968), nascida cega e surda. Permaneceu
como um animal “até a idade de sete anos,
Cultura.
quando seus pais contrataram a professora
Anne Sullivan, que, a partir de sentido do
Com
frequência
se
tato, conseguiu conduzi-la ao mundo humano
envolvem em discussões a respeito das
das significações”. Helen aprendeu então a
diferenças entre o ser humano e o animal. Às
falar, a ler e a escrever, tendo se tornado
vezes,
uma conhecida escritora e conferencista.
por
se
as
pessoas
surpreenderem
com
o
comportamento animal que se assemelha ao
Esses
relatos
nos
propõem
uma
humano, outras vezes por aproximarem atos
pergunta inicial: quais são as diferenças
humanos ao comportamento de animais. As
entre o ser humano e o animal?
histórias infantis também antropomorfizam os
bichos, que agem como gente, ou criam
Natureza e Cultura.
situações em que seres humanos, por
castigo, se degradam em animais. Tornou-se
“Os animais vivem em harmonia com
um clássico da literatura juvenil o livro
sua própria natureza”. Isso significa que todo
Tarzan,
norte-
animal age de acordo com as características
americano Edgar Rice Burroughs, que serviu
da sua espécie quando, por exemplo, se
de inspiração para inúmeros filmes e revistas
acasala, protege a cria, caça e se defende.
de quadrinhos. Como todos sabem, Tarzan é
Os instintos animais são regidos por leis
um bebê humano que sobrevive na selva e é
biológicas, de modo que podemos prever as
"criado" entre os bichos.
reações típicas de cada espécie. A ação
o
filho
Outros
das
selvas,
relatos
do
semelhantes
são
instintiva
é
contados como fatos reais, embora sem
idênticas
na
comprovação
indivíduo para indivíduo.
científica
da
antropologia
regida
por
espécie
e
leis
biológicas,
invariáveis
de
contemporânea. Assim, é o caso das duas
É evidente que existem diferenças
meninas encontradas na Índia em 1920 que
entre os animais conforme seu lugar na
teriam crescido entre os lobos, vivendo,
escala zoológica: enquanto um inseto, como
portanto, como animais. Essas crianças não
a abelha, constrói a colmeia e prepara o mel
possuíam
quaisquer
características
segundo padrões rígidos, típicos das ações
humanas:
não
não
e,
instintivas. Um mamífero, que é um animal
sobretudo, não falavam. O seu processo de
superior, age também por instinto, mas,
humanização
desenvolve outros comportamentos mais
das
choravam,
só
se
teria
riam
iniciado
participarem do convívio humano.
ao
flexíveis e, portanto, menos previsíveis.
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Não
há
quem
não
tenha
ainda
observado com atenção e pasmo “o trabalho”
paciente da aranha tecendo a teia. Mas
seres culturais que modificam o estado de
natureza.
A
partir
dai
concluímos
que
as
esses atos não têm história, não se renovam
diferenças entre o homem e o animal não
e são os mesmos em todos os tempos, salvo
são apenas de grau, visto que, enquanto o
as modificações determinadas pela evolução
animal permanece inserido na natureza, o
das espécies e as decorrentes da mutação
homem é capaz de transformá-la, tornando
genética.
assim possível à cultura. A transformação
À medida que, na escala zoológica,
que o homem faz na natureza se realiza
subimos até os mamíferos, percebemos,
através do trabalho. O trabalho é a ação
porém que as ações animais deixam de ser
transformadora
resultado exclusivo de reflexos e instintos e
conscientes, para o homem, o contato com a
apresentam uma flexibilidade maior, típica
natureza só é possível quando mediado pelo
dos atos inteligentes. “Ao contrário da rigidez
trabalho.
dirigida
por
finalidades
dos instintos, a resposta inteligente a um
O trabalho humano é a ação dirigida
problema é criativa, improvisada e pessoal“.
por finalidades conscientes. A resposta dos
No entanto, a inteligência animal é concreta,
desafios
porque, de certa maneira, acha-se presa à
sobrevivência. A ação humana é fonte de
experiência
vivida
a
ideias e ao mesmo tempo uma experiência
resolução,
mediata
situação
propriamente dita. O trabalho, ao mesmo
e
tem
de
em
uma
vista
da
natureza
na
luta
pela
problemática. Em outras palavras, o animal
tempo em que transforma
não inventa. Portanto, não tem sequência e
adaptando-a
não adquire o significado de uma experiência
altera o próprio homem, desenvolvendo suas
propriamente dita. O animal não domina o
faculdades. Isso significa que, pelo trabalho,
tempo,
o homem se auto produz.
porque seu ato se esgota no
momento em que o executa.
as
a natureza,
necessidades
humanas,
Por ser uma atividade relacional, o
Na verdade os instintos são “cegos“, ou
trabalho, além de desenvolver habilidades,
seja, são uma atividade que ignora a
permite que a convivência, não só facilite a
finalidade da própria ação. Por isso essas
aprendizagem e o aperfeiçoamento dos
habilidades não levam os animais superiores
instrumentos, mas também, enriqueça a
a ultrapassar o mundo natural, caminho esse
afetividade
exclusivo da aventura humana. “Só o homem
humano:
é transformador da natureza".
expectativa, desejo, prazer, medo, inveja, o
Assim, ao contrário dos outros animais,
os homens não são apenas seres biológicos
resultante
do
Experimentando
relacionamento
emoções
de
homem aprende a conhecer a natureza, as
pessoas e a si mesmo.
produzidos pela natureza. Os homens são
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A cultura é, portanto, o que resulta do
portanto, do trabalho humano, enquanto
trabalho humano: A transformação realizada
forma sempre renovada de intervenção da
pelos instrumentos, as ideias que tornam
natureza". Ao reproduzir as técnicas já
possível essa transformação e os produtos
utilizadas pelos ancestrais e ao inventar
dela resultantes.
outras novas – lembrando o passado e
Ainda
mais:
A
ação
humana
projetando o futuro, o homem trabalha.
transformadora não é solitária, mas social, ou
Se
a
linguagem,
por
meio
da
seja, solidária, já que os homens, ao se
representação simbólica e abstrata, permite
relacionarem
que nos distanciemos do mundo, também é o
para
produzir
sua
própria
existência, desenvolvem condutas sociais, a
que
fim de atender às necessidades do grupo. Eis
transformá-lo. Portanto, se não tivermos
aí a grande diferença fundamental entre o
oportunidade de desenvolver e enriquecer a
homem e os animais.
linguagem enfraquecerá a capacidade de
Mas, para produzir e reproduzir cultura
o homem precisa da linguagem simbólica. De
possibilita
o
retorno
a
ele
para
compreender e agir sobre e o mundo que nos
cerca.
todos os elementos que caracterizam a
Seria
pouco
concluir
dai
que
a
cultura, talvez o mais importante seja a
diferença entre homem e animal estaria no
linguagem. Mas, afinal no que consiste a
fato de o homem ser um animal que pensa e
linguagem? É a capacidade que permite aos
fala. De fato, a linguagem humana permite a
homens comunicarem-se, uns com os outros,
melhor ação transformadora do homem
por meio de códigos, de símbolos.
sobre o mundo, e com isso completamos a
“Os símbolos são invenções humanas
por meio das quais o homem pode lhe dar
distinção: O homem é um ser que trabalha e
produz o mundo e a si mesmo.
abstratamente com o mundo que o cerca. Os
símbolos permitem o distanciamento do
mundo concreto e a elaboração de ideias
abstratas“.
simbólica,
Além disso, com a linguagem
o
homem
não
está
apenas
Cultura: A resposta do homem ao desafio
da existência.
presente no mundo, mas é capaz de
representá-lo:
presente
Isto
àquilo
é,
que
o
está
homem
torna
ausente.
A
Falamos até agora sobre essa distinção
entre
natureza
e
cultura.
Mas
o
que
linguagem introduz o homem no tempo,
queremos dizer exatamente quando usamos
porque permite que ele relembre o passado e
a palavra cultura?
antecipe o futuro pelo pensamento. “Ao fazer
A palavra cultura é utilizada com
uso da linguagem simbólica, o homem torna
diferentes significados. Os biólogos, por
possível o desenvolvimento da técnica e,
exemplo, se referem à criação de certos
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animais falando em cultura de germes,
cultura de carpas etc.
Em todas essas acepções de cultura
podemos perceber uma ideia básica de
Na linguagem cotidiana dizemos que
desenvolvimento, formação e realização.
uma pessoa tem cultura quando frequentou
Usada por antropólogos, historiadores e
boas escolas, leu bons livros, adquiriu
sociólogos, a palavra cultura designa o
conhecimentos científicos etc.
conjunto dos modos de vida criados e
Na Grécia Antiga o termo cultura
transmitidos de uma geração para outra,
adquiriu uma significação toda especial,
entre
ligada à formação individual do homem.
sociedade.
Correspondia à chamada Paidéia, processo
conhecimentos,
pelo qual o homem realizava sua verdadeira
costumes
natureza
adquiridos socialmente pelos homens.
desenvolvendo
a
filosofia
(conhecimento de si e do mundo) e a
consciência da vida em comunidade.
os
A
membros
Nesse
e
cultura
de
sentido,
crenças,
muitos
pode
determinada
abrange
artes,
outros
ser
normas,
elementos
considerada,
portanto, um amplo conjunto de conceitos,
Em Antropologia, cultura significa tudo
símbolos, valores e atitudes que modelam
que o homem produz ao construir sua
uma sociedade. Abrange o que pensamos,
existência. Já para Paulo Freire, é tudo o que
fazemos e temos como membros de um
o homem cria e recria. Nesse sentido,
grupo social.
abrangem conhecimentos, crenças, artes,
Nesse sentido, todas as sociedades
moral, leis, costumes e quaisquer outras
humanas, da pré-história aos dias atuais,
capacidades adquiridas socialmente pelos
possuem uma cultura. E cada cultura tem
homens.
seus próprios valores e sua própria verdade.
A
cultura
pode
ser
considerada,
Podemos acrescentar, por fim, e numa
portanto, como amplo conjunto de conceitos,
abordagem mais filosófica, que cultura é a
de símbolos, de valores e atitudes que
resposta oferecida pelos grupos humanos ao
modelam uma sociedade. Se o contato com
desafio da existência.
o mundo é intermediado pelo símbolo, a
Uma resposta que se manifesta em
cultura é o conjunto de símbolos elaborados
termos de conhecimento (logos), paixão
por um povo. Dada à infinita possibilidade
(pathos) e comportamento (ethos). Isto é em
humana de simbolizar, as culturas são
termos de razão, sentimento e ação.
são inúmeras as
“A cultura é duradoura embora os
maneiras de pensar, de agir, de expressar
indivíduos que compõem um determinado
anseios, temores e sentimentos em geral. Ou
grupo desapareçam”. No entanto, a cultura
seja, a cultura engloba o que pensamos,
também se modifica conforme mudam as
fazemos e temos como membros de um
normas e entendimentos.
múltiplas e variadas:
grupo social.
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Quase se pode dizer que a cultura vive nas
Vários estudiosos concordam com os
mentes das pessoas que a possuem. Mas as
elementos
apontados
por
Braidwood,
pessoas não nascem com ela; adquirem-na à
caracterizando a cultura como:
medida que crescem. Suponha que um bebê
•
húngaro recém-nascido seja adotado por
herdada pelos instintos;
uma família residente nos Estados Unidos, e
•
que nunca digam a essa criança que ela é
através
húngara. Ela crescerá tão alheia à cultura
sociedades;
húngara quanto qualquer outro americano.
•
Assim, quando falo da antiga cultura egípcia,
incluindo a produção material e não-material;
refiro-me a todo conjunto de entendimentos,
•
crenças e conhecimentos pertencentes aos
espaço, de sociedade para sociedade.
Adquirida pela aprendizagem, e não
Transmitida de geração a geração,
da
linguagem
nas
diferentes
Criação exclusiva dos seres humanos,
Múltipla e variável, no tempo e no
antigos egípcios. Significa, por exemplo,
tanto suas crenças sobre o que faz o trigo
Cultura e Humanização.
crescer, quanto sua habilidade para fazer os
implementos necessários à colheita. Ou seja,
suas crenças a respeito da vida e da morte.
Quando falo de cultura, estou pensando
Quando falamos de natureza e cultura,
pode surgir uma dupla questão: onde acaba
a natureza e começa a cultura?
em algo que perdurou através do tempo. Se
O tema é polêmico. Alguns estudiosos
“qualquer egípcio morresse mesmo que
afirmam que não há um limite rígido entre
fosse o faraó, isso não afetaria a cultura
natureza e cultura. Outros dizem que um
egípcia
provável indicador desse limite, seria a
daquele
BRAIDWOOD,
momento
Robert.
determinado”.
Homens
pré-
históricos, p-41-2
construção de instrumentos de trabalho.
Outros ainda, como o antropólogo francês
O mundo cultural é um sistema de
Claude Lévi-Strauss (1908-), acreditam que a
significados já estabelecidos por outros, de
linha de separação entre natureza e cultura
modo que, ao nascer, a criança encontra o
não
mundo de valores já dados, aonde ela vai se
instrumentos, mas a presença da linguagem
situar. A língua que aprende, a maneira de se
simbólica:
seria
a
criação
de
utensílios
ou
alimentar, o jeito de sentar, andar, correr,
Já para Karl Marx, filósofo alemão do
brincar, o tom da voz nas conversas, as
século XIX, é o trabalho que possibilita a
relações familiares; tudo enfim, se acha
distinção entre ser humano e animais;
codificado. Até na emoção, que nos parece
portanto, entre cultura e natureza. É a partir
uma manifestação tão espontânea, ficamos à
do trabalho, e da forma como se dá o
mercê de regras que educam desde a
processo de produção da vida material dos
infância a nossa expressão.
homens, que todas as outras formas de
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manifestações humanas se desenvolvem.
tem asas para voar e dar-lhe a vantagem de
Ele
a
espionar e localizar sua caça. Faltam-lhe o
consciência, a religião e tudo o que se quiser
bico, as garras e a acuidade do gavião No
como distinção entre os homens e os
entanto, conclui: O ser humano pode ajustar-
animais; porém esta distinção só começa a
se a um número maior de ambientes do que
existir quando os homens iniciam a produção
qualquer
dos seus meios da vida”.
infinitamente mais depressa do que qualquer
afirma:
“Pode-se
considerar
outra
criatura
multiplicar-se
Para Marx, portanto, é o modo como os
mamífero superior, e derrotar o urso polar, a
homens constroem sua vida material que dá
lebre, o gavião e o tigre, em seus recursos
origem à organização da vida espiritual e das
especiais. Pelo controle do fogo e pela
relações sociais, formando um conjunto que
habilidade de fazer roupas e casas, o homem
constitui a cultura. Assim, não podemos falar
pode viver, e vive e viceja, desde os pólos da
de cultura no singular, mas sim de culturas,
Terra até o equador. Nos trens e automóveis
pois elas são múltiplas e variáveis, de acordo
que constrói, pode superar a mais rápida
com a diversidade dos modos de ser e viver
lebre ou avestruz. Nos aviões e foguetes
das coletividades humanas.
pode subir mais alto do que a águia, e, com
Mas, se o trabalho é o momento
os telescópios, ver mais longe do que o
inaugural da vida propriamente humana, a
gavião. Com armas de fogo pode derrubar
linguagem não deixa de ser uma das
animais que nenhum tigre ousaria atacar.
dimensões mais importantes da cultura, pois
é
ela
que
permite
o
intercâmbio
das
aquisições culturais.
Mas
fogo,
roupas,
casas,
trens,
automóveis, aviões, telescópios e armas de
fogo não são parte do corpo do homem. Eles
Se compararmos o corpo humano ao
não são herdados no sentido biológico. O
de muitos animais, veremos que ele não é
conhecimento necessário para sua produção
tão capacitado quanto o deles para enfrentar
e uso é parte do nosso legado social. Resulta
uma série de dificuldades. Como ilustra o
de uma tradição acumulada por muitas
arqueólogo australiano Gordon Childe (1892-
gerações e transmitida, não pelo sangue,
1957), o homem não tem, por exemplo, um
mas através da linguagem (fala e escrita).
couro peludo como o do urso para manter o
A compensação que o homem tem
calor do corpo num ambiente frio. O corpo
pelos seus dotes corporais relativamente
humano também não é excepcionalmente
pobres é o cérebro grande e complexo,
bem adaptado à fuga, à defesa própria ou à
centro de um extenso e delicado sistema
caça. Não tem a capacidade de correr como
nervoso, que lhe permite desenvolver sua
uma lebre ou um avestruz. Não tem a
própria cultura. CHILDE, Gordon. A evolução
coloração protetora do tigre ou a armadura
cultural do homem, p. 40-1.
defensiva da tartaruga ou da lagosta. Não
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Nesse sentido, o comportamento do
permitindo a assimilação dos modelos de
homem é fundamentalmente diferente ao dos
comportamento valorizado. É a educação
animais. É certo que o ser humano faz parte
que mantém viva a memória de um povo e
da natureza, pois tem um corpo sujeito às
dá condições para a sua sobrevivência
leis físicas e biológicas, mas graças ao
material e espiritual.
desenvolvimento de seu psiquismo pode
Na realidade, o ser social não nasce
observar a natureza, criar uma linguagem e,
com
assim, analisar, julgar o mundo em que vive.
constituição humana primitiva, como também
Com seu alto grau de consciência, o
homem
superou
tornando-se
os
limites
não se apresenta na
não resulta de nenhum desenvolvimento
primitivos
espontâneo. No homem as múltiplas aptidões
um
que a vida social supõe,
não
podem
biológico e cultural. Nele ocorre uma síntese
organizar-se em nossos tecidos,
aí se
que integra características hereditárias e
materializando
adquiridas, aspectos individuais e sociais e
predisposições orgânicas. Segue-se que elas
elementos do estado de natureza e de
não podem transmitir-se de uma geração a
cultura.
outra, por meio da hereditariedade – é pela
Por
simultaneamente
o homem,
isso,
o
homem
é
um
ser
ser
sob
a
forma
de
educação que essa transmissão se dá.
contraditório, ambíguo, instável e dinâmico.
Na verdade, o homem não é humano se
Um produto da natureza e da cultura e, ao
não porque vive em sociedade, por isso se
mesmo
vê a que se reduziria o homem,
tempo,
um
transformador
da
se
natureza e um produtor cultural. Enfim,
retirássemos dele tudo quanto à sociedade
criatura e criador do mundo em que vive.
lhe empresta: retornaria à condição de
As diferenças entre o homem e o
animal. A educação condiciona todas as
animal não são apenas de grau, pois,
facetas daquilo que chamamos de existência
enquanto o animal permanece mergulhado
propriamente humana. O homem se torna
na
humano graças à educação.
natureza,
o
homem
é
capaz
de
transformá-la, tornando possível à cultura. O
O homem não nasce humano, pois
mundo resultante da ação humana é um
precisa da educação para se humanizar. A
mundo que não podemos chamar de natural,
educação é, portanto, fundamental para a
pois se encontra transformado pelo homem é
socialização do homem e sua humanização.
o mundo social.
Trata-se de um processo que dura à vida
Nada disso, porém, será completo
toda e não se restringe à mera continuidade
senão enfatizarmos que a ação humana é
da tradição, pois supõe a possibilidade de
uma ação coletiva, no entanto, só é possível
rupturas, pelas quais a cultura se renova e o
pela
homem faz a história.
transmissão
dos
conhecimentos
adquiridos de uma geração para outra,
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Mito e Filosofia.
A palavra mito vem do grego, mythos, e
deriva de dois verbos: do verbo mytheyo
A
mente
humana
naturalmente
(contar, narrar, falar alguma coisa para os
inquiridora: quer conhecer as razões das
outros) e do verbo mytheo (conversar, contar,
coisas. Basta ver uma criança fazendo
anunciar, nomear, designar).
perguntas
aos
pais.
perguntas
podem
respostas:
respostas
é
Mas
ser
às
mesmas
Turchi, grande estudioso da história das
dadas
diversas
religiões, dá a seguinte definição de mito:
teológicas,
“Em sua acepção geral e em sua fonte
míticas,
científicas e filosóficas.
psicológica, o mito é a animação dos
fenômenos da natureza e da vida, animação
Mito.
devida a alguma forma primordial e intuitiva
do conhecimento humano, em virtude da qual
Desde o início o homem procurou
o homem projeta a si mesmo nas coisas, isto
indagar sobre a origem do universo, sobre a
é, anima-as e personifica-as, dando-lhes
natureza das coisas e das forcas às quais se
figura e comportamentos sugeridos pela sua
sentia sujeito. A esta indagação ele deu sob
imaginação”.
“Dessa
o impulso da fantasia criadora – tão ativa
retenhamos
a
entre os povos primitivos -, cor e forma,
representação fantasiosa, espontaneamente
criando um mundo de seres vivos (em forma
delineada
humana ou animal) dotados de história.
homem, a fim de dar uma explicação aos
A
humanidade
primitiva
(pode-se
explicações
míticas
mecanismo
parte:
uma
mental
do
O mito é uma narrativa sobre a origem
qualquer
de alguma coisa (origem de astros, da Terra,
problema. Assim, à pergunta “por que
dos homens, das plantas, dos animais, do
troveja?”, respondia: “porque Júpiter está
fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal,
encolerizado”; a pergunta “por que o vento
da saúde e da doença, da morte, dos
sopra?”,
instrumentos de trabalho, das raças, das
respondia:
para
última
definição
fenômenos da natureza e da vida”.
verificar em todos os povos) contentava-se
com
pelo
longa
“porque
Éolo
está
enfurecido”.
A
nós
guerras, do poder, etc.).
modernos,
respostas
Das análises feitas pelos estudiosos de
parecem simplistas e errôneas, por isso,
nosso tempo segue-se que o mito exerceu,
julgamos
entre
oportuno
dizer
estas
aqui
algumas
palavras sobre o mito, sobre sua definição,
os
povos
antigos,
três
funções
principais: religiosa, social e filosófica.
sobre suas interpretações principais e sobre
Primeiramente, “o mito é o primeiro
a passagem da mitologia grega para a
degrau no processo de compreensão dos
filosofia.
sentimentos religiosos mais profundos do
homem; é o protótipo da Teologia”. Mas, ao
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mesmo tempo, ele é também aquilo que
cosmogonia é a narrativa sobre o nascimento
assinala e garante o pertencer a um grupo
e a organização do mundo, a partir de forcas
social e não a outro; de fato, o pertencer a
geradoras (pai e mãe) divinas. Teogonia é
este ou aquele grupo depende dos mitos
uma palavra composta de gonia e theos, que,
particulares que alguém segue e cultiva.
em grego, significa: as coisas divinas, os
Finalmente, o mito exerce uma função
seres divinos, os deuses. A teogonia é,
semelhante
portanto, a narrativa da origem dos deuses, a
à
da
filosofia,
enquanto
representa o modo de autocompreender-se
dos povos primitivos, com o objetivo de
partir de seus pais e antepassados.
Qual é a pergunta dos estudiosos? A
fornecer e responder aos questionamentos
filosofia
existenciais, cósmicos e culturais, ou seja,
transformação gradual sobre os mitos gregos
fornecer
os
ou nasceu por uma ruptura radical com os
acontecimentos da natureza e da existência
mitos? Existem duas teorias que explicam o
humana: para a guerra e a paz, para a
porquê da filosofia ter nascido na Grécia. A
bonança e a tempestade, para a abundância
primeira delas afirma que o aparecimento da
e a carestia, para a saúde e a doença, para o
filosofia se deu através de influências da
nascimento e a morte.
sabedoria oriental, com a qual os gregos
uma
explicação
para
Todos os povos antigos - assírios,
babilônios,
persas,
egípcios,
hindus,
nasceu
realizando
uma
tiveram contato em suas viagens. A outra
teoria
diz
que
o
povo
grego
foi
tão
chineses, romanos, gauleses, gregos – têm
excepcional, que foram capazes de criar a
seus mitos. Mas entre todas as mitologias, a
filosofia de forma espontânea e única.
grega é a que mais se destaca pela riqueza,
Consideram-se
as
duas
respostas
ordem e humanidade. Não é de se admirar,
exageradas e afirma-se que a Filosofia,
que
percebendo as contradições e limitações dos
a
filosofia
se
tenha
desenvolvido
justamente da mitologia grega.
mitos, foi reformulando e racionalizando as
Como os mitos sobre a origem do
narrativas míticas, transformando-as numa
mundo são genealogias, diz-se que são
outra coisa, numa explicação inteiramente
cosmogonias e teogonias.
nova e diferente.
A palavra gonia vem de duas palavras
Nos final do século XIX veio uma
gregas: do verbo gennao (engendrar, gerar,
resposta à pergunta inicial, a partir de um
fazer, nascer e crescer) e do substantivo
grande otimismo na capacidade científica
genos (nascimento, gênese, descendência,
humana. Filosofia é ruptura, sendo a primeira
gênero, espécie). Gonia, portanto, quer dizer;
explicação científica da realidade realizada
geração, nascimento a partir da concepção
no ocidente. A segunda possível resposta é
sexual e do parto. Cosmos, quer dizer mundo
ulterior: os mitos estão intrincados no modo
ordenado
de ser, pensar e construir cultura, de forma
e
organizado.
Assim,
a
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que o mito nasceu a partir dos mitos, como
fenômenos. Ainda mais: a filosofia busca a
uma racionalização deles.
coerência interna, a definição rigorosa dos
conceitos, o debate e a discussão e surge,
Na
verdade,
a
filosofia
possui
grande
portanto, como pensamento abstrato.
influência da sabedoria oriental (egípcios,
É bem verdade que o desenvolvimento
assírios, persas, etc.), no entanto, os gregos
do pensamento reflexivo não decreta a morte
imprimiram mudanças de qualidade tão
da consciência mítica, pois o mito, mesmo
profundas
foram
entre os ditos civilizados, ocupa um lugar de
apontados para alguns, como os criadores
destaque como forma fundamental de todo
únicos da ciência.
viver humano. Em outras palavras, tudo o
nessas
culturas,
que
Na história do pensamento ocidental, a
que
pensamos
e
queremos
se
situa
filosofia nasce por meio de longo processo
inicialmente no horizonte da imaginação, nos
histórico, surge promovendo a passagem do
pressupostos míticos, cujo sentido existencial
saber mítico ao pensamento racional, sem,
serve de base para todo trabalho posterior.
entretanto, romper bruscamente com todos
os conhecimentos do passado. Durante
muito tempo, os primeiros filósofos gregos
Diferenças entre mito e filosofia:
compartilharam de diversas crenças míticas,
enquanto
desenvolviam
o
conhecimento
1. O mito está relacionado ao passado e a
racional que caracterizaria a filosofia. Essa
filosofia se pretende atemporalidade.
passagem
“significa
2. A filosofia explica a produção das coisas
precisamente que já havia, de um lado, uma
por causas naturais, e não pelos três itens
lógica do mito e que, de outro lado, na
acima.
realidade filosófica ainda está incluído o
3. O mito pode ser contraditório. A Filosofia
poder do lendário”.
não admite contradições.
do
mito
à
razão
Embora existam esses aspectos de
O mito é muito confundido com o
continuidade, a filosofia surge como algo
conceito de lenda, porém esta não tem
muito diferente, pois resulta de uma ruptura
compromisso nenhum com a realidade, são
quanto à atitude diante do saber recebido.
meras histórias sobrenaturais, como é o caso
Enquanto o mito é uma narrativa cujo
da mula sem cabeça e do saci Pererê. O mito
conteúdo não se questiona, a filosofia
não é exclusividade de povos primitivos, nem
problematizada
de civilizações nascentes, mas existe em
e,
portanto,
convida
à
discussão. Enquanto no mito a inteligibilidade
todos
é dada, na filosofia ela é procurada. A
componente
filosofia rejeita o sobrenatural, a interferência
humana de compreender a realidade.
de
agentes
divinos
na
explicação
os
tempos
e
indissociável
culturas
da
como
maneira
dos
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Mas, e quanto aos nossos dias, os
mitos são diferentes? O homem moderno,
Condições históricas para o surgimento da
tanto quanto o antigo, não são só razão, mas
Filosofia
também afetividade e emoção. Hoje em dia,
os
meios
de
comunicação
de
massa
Resolvido o problema da relação entre
Filosofia e mito, temos ainda um último a
trabalham em cima dos desejos e anseios
solucionar:
que existem na nossa natureza inconsciente
surgimento da Filosofia na Grécia no final do
e primitiva. O mito recuperado do cotidiano
século VII e no início do século VI a.C.?
do homem contemporâneo, não se apresenta
Quais
com a abrangência que se fazia sentir no
econômicas, sociais, políticas e históricas
homem primitivo. Os mitos modernos não
que permitiram o surgimento da Filosofia?
abrangem mais a totalidade do real como
as
O
que
tornou
condições
Podemos
materiais,
apontar
é,
principais
condições
indígenas. Podemos escolher um mito da
filosofia na Grécia:
sensualidade, outro da maternidade, sem
• As viagens marítimas – (descoberta e
que tenham de ser coerentes entre si. Os
humanização de lugares míticos) As viagens
super-heróis dos desenhos animados e dos
produziram
quadrinhos, bem como os personagens de
desmistificação do mundo, que passou,
filmes, passam a encarnar o Bem e a Justiça,
assim, a exigir uma explicação sobre sua
assumindo a nossa proteção imaginária. A
origem, explicação que o mito já não podia
própria ciência pode virar um mito, quando
oferecer;
somos levados a acreditar que ela é feita à
• A invenção do calendário – (cálculo do
margem da sociedade e de seus interesses,
tempo, o tempo deixa de ser divino e
que mantém total objetividade e que é
incompreensível) revelando, com isso, uma
neutra. A nossa forma de compreensão do
capacidade de abstração nova, ou uma
mundo dessacraliza o pensamento e a ação
percepção do tempo como algo natural e não
(isto é, retira dele o caráter de sobre
como um poder divino incompreensível;
naturalidade), fazendo surgir à filosofia, a
• A invenção da moeda – (capacidade de
ciência e a religião. Como mito e razão
abstração e raciocínio) que permitiu uma
habitam o mesmo mundo, o pensamento
forma de troca que não se realiza através
reflexivo
das
rejeitar
alguns
mitos,
coisas
o
do
como
isto
o
ocorria nos mitos gregos, romanos ou
pode
históricas
possível
surgimento
desencantamento
concretas
ou
dos
ou
da
a
objetos
principalmente os que vinculam valores
concretos trocados por semelhança, mas
destrutivos ou que levam a desumanização
uma troca abstrata, uma troca feita pelo
da sociedade. Cabe a cada um de nós
calculo do valor semelhante das coisas
escolhermos quais serão nossos modelos de
diferentes, revelando, portanto, uma nova
vida.
capacidade de abstração e de generalização;
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• O surgimento da vida urbana – (tecnicismo)
O termo "sofista" tem sua origem no idioma
com
grego,
predomínio
artesanato,
técnicas
do
dando
de
comercio
desenvolvimento
do
a
partir
da
palavra
"sophistēs",
a
derivada de "sophia" e "sophos", significando
e
"sabedoria" e "sábio" respectivamente. O
prestigio das famílias da
termo Sophistēs foi originalmente utilizado
fabricação
diminuindo o
e
e
de
troca,
aristocracia proprietária de terras, por quem e
por
para quem os mitos foram criados;
habilidoso em uma determinada atividade.
•
A
invenção
da
escrita
alfabética
–
Homero,
para
descrever
alguém
Com o tempo a palavra passou a designar a
(capacidade de abstração e generalização)
sabedoria
nos
que, como a do calendário e a da moeda,
humanos, em oposição aos assuntos da
revela o crescimento da capacidade de
natureza, até chegar a designar um tipo
abstração e de generalização, uma vez que a
especifico de profissional, o sofista.
escrita alfabética ou fonética, diferentemente
Embora os sofistas não sejam considerados
de outras escritas – como, por exemplo, os
filósofos pela tradição, sua importância se dá
hieróglifos dos egípcios ou os ideogramas
na medida em que estão entre os primeiros a
dos chineses –, supõe que não se represente
desafiar a ideia de que a sabedoria seria
uma imagem da coisa que está sendo dita,
recebida
mas a idéia dela, o que dela se pensa e se
hipótese de que, assim como nas atividades
transcreve;
físicas, a prática da virtude, por meio da
• A invenção da política – (expressão da
retórica e da oratória, poderia melhorar os
vontade da coletividade, direitos, valorização
estudantes,
do humano, público).
virtuosos.
dos
assuntos
deuses,
tornando-os
tipicamente
baseando-se
mais
sábios
na
e
O foco de seus ensinamentos era prático,
Sofistas.
direcionado a estratégias de argumentação e
oratória, para que os estudantes atingissem o
Conforme nos reporta Platão, a profissão de
á pice da excelência em suas atividades,
sofista foi criada por Protágoras, discípulo de
independente
Demócrito. Sofistas foram um tipo especifico
atividades.
de professor na Grécia antiga e no império
Como os sofistas são conhecidos por meio
romano, que deveriam ensinar a arete, termo
das criticas de seus oponentes, alguns
grego que traduz o conceito de "excelência"
elementos de suas posições são difíceis de
ou "virtude", aplicado a áreas como música,
confirmar. Uma das principais critica aos
política, matemática e atleticismo. Entre os
sofistas era a de que sua posição baseava-
principais
estão
se apenas em verossimilhança, quando um
Hípias,
argumento parece verdadeiro, mesmo que
Protágoras,
sofistas
Górgias,
conhecidos
Pródico,
Trasímaco, Antifonte e Crátilo.
de
quais
fossem
estas
não o seja. O objetivo dos sofistas seria, pela
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visão de filósofos como Aristóteles, apenas o
esforços na demonstração de que seriam
de vencer o debate, sem preocupar-se com a
capazes de tornar os estudantes melhores
busca pela verdade. Por esta razão, a
nas
expressão
auxiliá-los a prosperar na sociedade grega.
"sofisma"
existe
hoje
para
atividades
humanas
que
poderiam
identificar uma argumentação rebuscada,
Era comum que sofistas viajassem em
porém sem fundamentação sólida.
grupos pelas cidades gregas e romanas,
Como foi o primeiro sofista, a posição
para assim poderem realizar elaborados
relativista
discursos e acalorados debates públicos,
atribuída
a
Protágoras
é
normalmente identificada como a posição
demonstrando
suas
habilidades
na
geral que iniciou o movimento, que se
expectativa de atrair estudantes para suas
tornaria a profissão de sofista.
escolas. Em particular, nobres, homens de
Protágoras é lembrado pela controvérsia
estado e jovens que pudessem pagar pelos
acerca de sua afirmação "o homem é a
estudos. Os sofistas foram muito criticados
medida de todas as coisas", aparentemente
por Platão e Aristóteles por só ensinarem aos
manifestando uma forma de relativismo, o
que podiam pagar pela educação.
que era repudiado por filósofos como Platão
e Aristóteles, seus maiores críticos. Como
Platão.
aconteceram com a maioria dos filósofos présocráticos,
as
citações
Protágoras
Platão, filósofo grego, nasceu em Atenas e
sobreviveram sem o contexto no qual foram
se destacou entre os pensadores mais
apresentadas, o que mantém abertas as
influentes da civilização ocidental. Platão foi
possibilidades de interpretações diferentes.
um brilhante escritor e filósofo. Seus diálogos
Uma destas interpretações possíveis para a
abordaram praticamente todos os tópicos
afirmação de Protágoras é a de que o uso da
que vieram a ser discutidos por filósofos que
palavra
se seguiram a ele. Suas obras fazem parte
"chremata",
de
significando
"coisas
usadas", ao invés da palavra mais geral
da mais reconhecida literatura mundial.
"onta", que significaria "entidades", para se
Platão nasceu em uma família aristocrata de
referir ao que é traduzido como "coisas",
Atenas. Desde jovem, Platão tinha ambições
indica
da
políticas, mas logo se decepcionou com a
realidade objetiva do mundo como um todo,
liderança política de Atenas. Platão se tornou
mas daquelas coisas especificas dos seres
discípulo de Sócrates, seguindo sua filosofia
humanos.
e aderindo ao método por ele utilizado: a
Desta forma entende-se que os sofistas não
busca da verdade através de perguntas,
davam atenção a busca pela compreensão
respostas e mais perguntas.
da natureza, do universo e da origem dos
Seu professor, Sócrates, não escreveu seus
objetos do mundo, pois concentravam seus
ensinamentos. Platão, como discípulo de
que
Protágoras
não
falava
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Sócrates, escreveu muito dos ensinamentos
Os ensinamentos de Platão foram escritos
que lemos dele. Porém, nos diálogos, Platão
em forma de dialogo, de uma conversa ou
faz do personagem Sócrates porta-voz de
um debate entre várias pessoas.
seus próprios pensamentos, de modo que é
Seus diálogos são divididos em três fases. A
difícil estabelecer quais são os ideais de
primeira fase é representada com Platão
Platão e quais são os de Sócrates.
tentando comunicar a filosofia de Sócrates.
Em
399
a.C.
Platão
testemunhou
o
Muito dos diálogos tem a mesma forma.
julgamento e a condenação de Sócrates,
Sócrates encontra alguém que diz que sabe
tendo sido acusado de corromper a mente
muito. Sócrates se diz ignorante a procura de
dos jovens e não acreditar nos deuses. Após
conhecimento
a execução de Sócrates, revoltado com a
mostrando que aquele que se dizia mestre no
democracia Ateniense e talvez preocupado
assunto realmente não sabe nada.
com sua própria segurança, Platão deixou
Os diálogos da segunda e terceira fase
Atenas e foi para a Sicília e para o Egito,
relatam as próprias ideias de Platão, por
onde passou aproximadamente dez anos
mais que ele continue a utilizar Sócrates
viajando.
como personagem em seus diálogos.
e
faz
várias
perguntas,
Em 387, com seu regresso a Atenas, Platão
fundou uma Academia, uma instituição tida
Teoria das Formas.
como a primeira universidade da Europa. A
Academia oferecia um currículo de matérias
A parte central da filosofia de Platão é a
tais como astronomia, biologia, ciências
teoria das formas, ou o mundo das ideias.
políticas e filosofia. Aristóteles foi o aluno
Ideias ou formas são arquétipos imutáveis.
mais famoso da Academia. A Academia de
De
Platão se manteve em funcionamento por
ideias/formas são constantes e reais. Platão
mais de novecentos anos.
divide o mundo em duas partes - o mundo
Em 367 Platão retornou a Sicília tentando
das ideias, onde tudo é constante e real, e o
influenciar a política local com seus ideais,
mundo físico em que vivemos, onde o fluxo é
mas logo voltou a Academia em Atenas onde
constante e a realidade é relativa. As formas
passou o resto de sua vida, com exceção de
então mantêm a ordem e a estrutura das
algumas viagens, onde ensinava e escrevia.
ideias do mundo.
Platão faleceu em 347 a .C., com oitenta
Platão distinguiu entre dois níveis de saber:
anos de idade.
opinião
acordo
e
com
Platão
conhecimento.
só
essas
Afirmações
relacionadas com o mundo físico, Platão as
Suas Obras
considerava
estivessem
Fases dos diálogos:
uma
opinião,
baseadas
na
mesmo
lógica
ou
que
na
ciência. Segundo Platão, o conhecimento é
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derivado da razão e não da experiência. Ele
questão de justiça: Como é um Estado justo?
pregava que somente através da razão
Quem é um individuo justo?
atingimos o conhecimento das formas.
Segundo Platão, a melhor forma de governo
Platão diz que as formas têm uma realidade
é a aristocracia por mérito. Platão divide o
que vai além do mundo físico por causa de
estado ideal em três classes: a classe dos
sua perfeição e estabilidade. O mundo físico
comerciantes, a classe dos militares e a
se parece com as formas, mas devido a
classe dos filósofos-reis. Os filósofos-reis são
constantes mudanças nunca chega a sua
encarregados de governar o país. As classes
perfeição.
não são hereditárias, elas são determinadas
Um exemplo para entender a diferença entre
pelo tipo de educação obtida pela pessoa.
o mundo das formas e o mundo físico é dado
Com maior nível de educação a pessoa se
por Platão em termos matemáticos. Devido
pertence à classe dos filósofos-reis.
ao mundo das formas temos a concepção de
A República aborda diversos temas sobre
um círculo perfeito - totalmente redondo,
justiça, governo e apresenta um governo
composto de uma série de pontos que
utópico. Essa obra vem sendo amplamente
apresentam exatamente a mesma distancia
lida através dos séculos, por mais que suas
do ponto central. No mundo físico, porem,
propostas nunca foram adotas como uma
essa figura não é vista. Círculos nunca são
forma de governo concreta.
desenhados perfeitamente. A ideia do círculo
Platão escreveu sobre diversos assuntos,
existe e é imutável, porem ela só pode ser
tais como ética, arte, teoria do conhecimento,
conhecida pela razão e não pela experiência
entre tantas. Suas obras influenciaram e
do círculo perfeito no mundo físico.
moldaram a filosofia ocidental. O intuito
Platão aplica sua teoria a conceitos como
desse artigo foi apenas o de introduzir esse
beleza, justiça, bondade, entre outros. A
grande pensador. De nenhuma forma é
pessoa é bela ou justa por que nela há algo
possível resumir sua imensa contribuição à
que se parece com a forma do belo ou do
nossa cultura.
justo, presente no mundo das ideias. O amor
no mundo das ideias também é perfeito, daí
Aristóteles: Ética e Política.
vem a expressão amor platônico, utilizada
nos dias de hoje.
O tema principal da ética de Aristóteles é
delimitar o que é o “bem” e o significado que
Teoria Política.
ele tem para o homem. Somente quem
conhece o bem é capaz de encontrar a
A República é a maior e mais reconhecida
felicidade, que na filosofia aristotélica não é
obra política de Platão. A obra se foca na
um sentimento passageiro, e sim “obra de
uma vida inteira”.
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instala-se e vai embora; ao contrário, é “obra
A ideia do “bem”:
de uma vida inteira”.
“O bem ético pertence ao gênero da vida
Aristóteles começa a Ética nicomaqueia
excelente e a felicidade é a vida plenamente
provavelmente
realizada em sua excelência máxima. Por
dedicada
a
seu
filho
Nicômaco e o mais importante de seus textos
isso
não
é
alcançável
imediata
nem
sobre o bem e o comportamento dos homens
definitivamente, mas é um exercício cotidiano
– com estas palavras:
que a alma realiza durante toda a vida (…)
“Toda arte e todo saber, assim como tudo
de acordo com a sua excelência mais
que fazemos e escolhemos, parece visar
completa, a racionalidade.”
algum bem. Por isso, foi dito, com razão, que
o bem é aquilo a que todas as coisas
As virtudes: o justo meio.
tendem, Mas há uma diferença entre os fins:
alguns são atividades, ao passo que outros
A virtude (areté) é a expressão maior da
são produtos à parte das atividades que os
excelência
produzem.”
integridade, de sua identidade. A paixão, por
Essa
afirmação
contém
duas
teses
de
uma
pessoa,
de
sua
outro lado, torna-a confusa, dividida entre
fundamentais da ética aristotélica. A primeira:
desejos
todas as coisas tendem ao bem, o que
Alguém sob o domínio da paixão pode
significa, na doutrina do filósofo, que o bem é
inclinar-se ao vício, que é o excesso ou a
a finalidade de todas as coisas. A segunda:
falta da paixão. A virtude é encontrar, pelo
chega-se ao bem por dois caminhos: a) pelas
uso da razão, o meio-termo entre esses
atividades práticas, isto é, aquelas que
extremos, que Aristóteles chamou de justo
contêm seus próprios fins (ética e política); b)
meio.
pelas
Suponha-se alguém dominado pelo prazer
atividades
produtivas
(artes
ou
contrários,
conflitantes,
opostos.
técnicas).
(que, para Aristóteles, é uma paixão). Esse
Em relação à ética, o bem leva cada
alguém pode ser libertino (um dos extremos
indivíduo a ser capaz de viver com os outros,
do prazer em excesso) ou insensível (o
na polis. Em outras palavras, a ética, no
extremo oposto: falta de prazer), O justo
campo individual, prepara terreno para a
meio, aqui, é a temperança, à qual se chega
política, no campo coletivo. Para Aristóteles,
pelo uso da razão.
a finalidade da política é a busca do bem de
A virtude, assim, está ligada à razão. E,
todos os homens.
como todo homem é dotado de razão, todo
E qual é o bem de todos os homens? A
homem pode alcançar a virtude. Basta
felicidade, responde Aristóteles. A felicidade,
identificar a paixão que o domina, reconhecer
porém, não é um sentimento que aparece,
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seus extremos e procurar, racionalmente,
ter uma base empírica para a reflexão sobre
seu justo meio.
teoria política.
A maior de todas as virtudes, diz Aristóteles,
“Uma constituição é a ordem ou distribuição
é a justiça. Sua força sobre as demais
dos poderes de um Estado, isto é, a maneira
consiste em sua perfeição, porque quem é
como são divididos, a sede da soberania e o
justo projeta-se mais para o outro do que
fim a que se propõe a sociedade.”
para si mesmo. Em outras palavras, tudo que
protege
o
conjunto
dos
indivíduos
(a
A ética de Santo Agostinho.
sociedade) é mais importante do que aquilo
que protege somente um dos membros
A felicidade é o tema central de sua filosofia,
dessa sociedade, Por isso, dos males, a
e não se dá sem o conhecimento, sem o
injustiça é o maior, pois destrói o tecido
encontro
social.
conhecimento é aquele que conduz o homem
de
Deus.
O
verdadeiro
à verdade suprema e, só se atinge tal
Política e Estado.
verdade pelo amor. Para o alcance da
felicidade, amor e sabedoria andam juntos.
Como Platão, Aristóteles também faz um
A ética agostiniana envolve o conceito de
estudo dos regimes políticos, divididos em
liberdade e o livre arbítrio da vontade.
monarquia,
ou
Agostinho rompe com a concepção de
Aristóteles
liberdade grega, que estava fundamentada
aristocracia
república.
Tal
qual
considera
que
cada
degenerar
a
e
politeia
Platão,
um
monarquia,
deles
enfatizando que Deus criou o mundo e
aristocracia, em oligarquia; a democracia, em
partindo disso, não existe o mal. Deus é
anarquia.
perfeito e não poderia ser a causa do mal. O
O melhor dos regimes possíveis consistirá
mal é o contrário da ideia de Deus, é apenas
em uma combinação do que há de melhor
ausência de bem.
em cada um deles. O melhor da república é a
O
liberdade e a igualdade; da monarquia, a
possibilidade de escolha entre o bem e o
capacidade
da
mal. O que pode afastar o homem de Deus é
aristocracia, sua excelência, capacidade e
o fator vontade, que muitas vezes leva o
qualidades intelectuais,
homem a escolhas erradas. Afastar-se de
Entre os escritos políticos de Aristóteles, a
Deus significa ir para o não ser, ir em direção
Constituição
no
ao mal. É nesse contexto que surge o
século XIX no Egito, ocupa um lugar
pecado, como vontade do homem e não de
especial. Essa obra era parte das 158
Deus. No homem que vai em direção ao
constituições que Aristóteles reunira a fim de
pecado, sua alma decai e não consegue
de
criar
tirania;
em um télos político e com o maniqueísmo,
a
de
em
pode
riquezas;
Atenas,
e
descoberta
homem
possuía
o
livre
arbítrio,
a
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salvar-se sozinha, até que venha então a
entre os povos bárbaros, preservando muitos
graça, para dirigir o homem para o caminho
elementos da cultura pagã greco-romana.
do bem. Sem o auxílio da graça reveladora
Apoiada em sua crescente influência
divina, exercendo somente o livre arbítrio, o
religiosa,
homem ficaria condenado em seu livre
importante
arbítrio e acabaria escolhendo o caminho do
medieval. Desempenhou, por exemplo, a
mal. Porém, nem todos recebem a graça,
função de órgão supranacional, conciliador
somente os predestinados. O homem não é
das
só intelecto, mas também vontade e esta
problemas da fragmentação política e das
vontade pode ser influenciado ou vulnerável
rivalidades
desejando coisas ruins. O homem que busca
Conquistou, também, vasta riqueza material:
a beatitude para alcançar a felicidade, só a
tornou-se dona de aproximadamente um
encontra com fé e intuição, não por meio de
terço
atividade
razão
ocidental, numa época em que a terra era a
complementam-se na busca da felicidade e
principal base de riqueza. Assim, pôde
da beatitude.
estender seu manto de poder "universalista"
intelectual.
A
fé
e
a
a
Igreja
papel
elites
político
dominantes,
internas
das
passou
áreas
a
na
exercer
sociedade
contornando
da
nobreza
cultiváveis
da
os
feudal.
Europa
sobre diferentes regiões européias.
Filosofia Medieval.
Foi um período de dominação da Igreja
Romana. Durante esse período surge a
A filosofia medieval e o cristianismo
A
Idade
a
Desta forma, o teocentrismo acabou por
desorganização da vida política, econômica e
definir as formas de sentir, ver e também
social do Ocidente, agora transformado num
pensar durante o período medieval. Sob a
mosaico de reinos bárbaros. Depois vieram
influência da Igreja, as especulações se
as guerras, a fome e as grandes epidemias.
concentram
O
teológicas, tentando conciliar a fé e a razão.
cristianismo
Média
inicia-se
propaga-se
por
com
Filosofia cristã, que é, na verdade a teologia.
diversos
povos. A diminuição da atividade cultural
transforma
o
homem
comum
num
ser
dominado por crenças e superstições.
em
questões
filosófico-
O período medieval não foi, porém, a
"Idade das Trevas", como se acreditava. A
filosofia clássica sobrevive, confinada nos
Em meio ao esfacelamento do Império
mosteiros
religiosos.
O
aristotelismo
Romano, decorrente, em grande parte, das
dissemina-se pelo Oriente bizantino, fazendo
invasões
florescer
germânicas,
a
Igreja
católica
os
estudos
filosóficos
e
as
conseguiu manter-se como instituição social
realizações científicas. No Ocidente, fundam-
mais
se as primeiras universidades, ocorre a fusão
organizada.
Ela
consolidou
sua
estrutura religiosa e difundiu o cristianismo
de
elementos
culturais
greco-romanos,
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cristãos e germânicos, e as obras de
Aristóteles são traduzidas para o latim.
De acordo com a doutrina católica, a fé
representava a fonte mais elevada das
No período medieval a filosofia foi
verdades reveladas especialmente aquelas
estudada num contexto, sobretudo religioso.
verdades essenciais ao homem e que dizem
Muitos
respeito à sua salvação.
filósofos
deste
período
foram
perspicazes,
tendo
Assim, toda investigação filosófica ou
desenvolvido algumas ideias e argumentos
científica não poderia, de modo algum,
hoje considerados centrais em filosofia, não
contrariar as verdades estabelecidas pela fé
só na filosofia da religião e na metafísica,
católica.
mas também na ética, filosofia da linguagem
filósofos não precisavam se dedicar à busca
e
mais
da verdade pois ela já havia sido revelada
importantes da época incluem o problema
por Deus aos homens. Restava-lhes, apenas
dos universais, as provas da existência de
demonstrar racionalmente as verdades da fé.
Deus e a compatibilidade entre a presciência
Não foram poucos, porém, aqueles que
divina e o livre-arbítrio humano (a presciência
dispensaram até mesmo essa comprovação
é a capacidade para saber de antemão o que
racional da fé. Eram os religiosos que
vai acontecer). Alguns dos mais destacados
desprezavam a filosofia grega, sobretudo
filósofos ocidentais do período medieval
porque
foram Santo Agostinho, Santo Anselmo
pensamento
(1033-1109), Abelardo (1079-1142), Tomás
pecado, a dúvida, o descaminho e a heresia
de Aquino, Duns Escoto (c. 1265-1308) e
(doutrina contrária ao estabelecido pela
Guilherme de Ockham.
Igreja, em termos de fé).
extraordinariamente
lógica.
Alguns
dos
debates
Os conflitos e a conciliação entre fé e
razão.
Segundo
viam
essa
nessa
uma
orientação,
forma
porta
pagã
aberta
para
os
de
o
Por outro lado, surgiram pensadores
cristãos que defendiam o conhecimento da
filosofia grega, sentindo a possibilidade de
No plano cultural, a Igreja exerceu
ampla
influência,
traçando
um
utilizá-la como instrumento a serviço do
quadro
cristianismo. Conciliado com a fé cristã, o
intelectual em que a fé cristã era o pres-
estudo da filosofia grega permitiria à Igreja
suposto da vida espiritual.
enfrentar
os
hereges
com
Em que consistia essa fé? Consistia na
descrentes
as
armas
derrotar
os
racionais
da
objetivo
era
crença irrestrita ou na adesão incondicional
argumentação
lógica.
às verdades revê ladas por Deus aos
convencer
descrentes,
homens. Verdades expressas nas Sagradas
possível, pela razão, para depois fazê-los
Escrituras (Bíblia) e interpretadas segundo a
aceitar a imensidão dos mistérios divinos, so-
autoridade da Igreja.
mente acessíveis à fé.
os
O
e
tanto
quanto
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Nesse contexto, a filosofia medieval
Procurava harmonizar razão e fé; a relação
pode ser dividida em quatro momentos
entre Deus e o destino da pessoa humana.
principais:
Influência Árabe na formação da tradição
 O dos padres apostólicos, do início do
ocidental. Introdução ao pensamento de
cristianismo (séculos I e ll), entre os quais se
Aristóteles.
incluem os apóstolos, que disseminavam a
Avicena. Querela dos Universais: Guilherme
palavra de Cristo, sobretudo em relação aos
de
temas morais. Entre estes se destaca a
Averróis.Tradução de Aristóteles para o
figura de São Paulo pelo volume e valor
Latim.)
literário de suas epístolas (cartas escritas por
 O da escolástica (do século IX a XVI), - A
um dos apóstolos);
Razão a Procura da Fé. O termo escolástica
 O dos padres apologistas (séculos III e
designa a filosofia ministrada nas escolas
IV), que faziam a apologia do cristianismo
cristãs
contra a filosofia pagã. Entre os apologistas
posteriormente
destacam-se Orígenes, Justino e Tertuliano,
escolástica retoma a filosofia aristotélica,
o mais intransigente na defesa da fé contra a
nela encontrando seus fundamentos e os
filosofia grega;
elementos
 O da patrística (de meados do século IV
desenvolvimento. Santo Tomás de Aquino
ao século VIII), A fé a procura da razão – A
elabora a síntese magistral do cristianismo
Filosofia é um instrumento a serviço da
com o aristotelismo, fornecendo as bases
Teologia. O tema central é a tentativa de
filosóficas para a teologia cristã: surge a
conciliar razão e fé. A Patrística visava
filosofia aristotélico-tomista. Compatibilizar a
combater as heresias firmando a doutrina
fé e a razão continua a ser o problema
Cristã contra o paganismo. E sua principal
central da filosofia escolástica.
característica
reside
no
seu
caráter
Scotus
Champeaux,
A
(de
Erígena,
Roscelino.
catedrais
nas
e
Kindi,
Abelardo
conventos)
universidades.
necessários
característica
Al
para
fundamental
e
e
A
seu
dessa
apologético: é preciso defender os ideais
filosofia medieval é a ênfase nas questões
cristãos perante os pagãos e convertê-los.
teológicas, destacando-se temas como: o
Presencia-se
platônica,
a
retomada
especialmente
da
filosofia
dogma da Trindade, a encarnação de Deus
por
Santo
filho, a liberdade e a salvação, a relação
Agostinho, bem como do neoplatonismo.
entre fé e razão.
Santo Agostinho, Boécio, Alcuíno.
Filosofia do renascimento.
Filosofia Árabe: Difusão da cultura Grega
no Ocidente.
A filosofia renascentista teve início por volta
dos séculos XV e XVI, na Europa. A filosofia
renascentista é entendida como um período
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de transição entre a Idade Média e a Idade
interesses pela cultura e pela ciência, pois os
Moderna.
filósofos do Renascimento tentavam criar
uma ordem baseada no ser humano como
O contexto intelectual do Renascimento.
eixo
central
(o
antropocentrismo)
em
oposição ao teocentrismo medieval.
São vários os acontecimentos que permitem
A figura de Deus já não era vista como base
contextualizar a filosofia renascentista. Em
de toda a realidade, uma vez que surgiram
primeiro lugar, a corrente humanista promove
novas abordagens. Neste sentido, Giordano
a recuperação da cultura clássica grega, o
Bruno defendia um panteísmo baseado na
termo renascimento se refere precisamente
infinidade do universo e Nicolau de Cusa se
ao novo esplendor intelectual inspirado nas
atreveu em questionar a possibilidade de
obras clássicas da cultura e da ciência do
conhecer a natureza de Deus.
período clássico grego.
Os filósofos renascentistas têm uma atitude
Por outro lado, a Reforma Protestante
crítica em relação às doutrinas intelectuais
estabelece uma fragmentação do poder
medievais,
religioso.
aristotelismo que tomava todo o saber
Ao
mesmo
tempo,
deve-se
mais
particularmente
com
o
destacar que o descobrimento do Novo
científico.
Mundo deu outra imagem da realidade e a
A visão heliocêntrica do universo defendida
necessidade de enfrentar novos desafios, por
por Copérnico e o novo método científico
exemplo,
O
proposto
nova
questões
na
aparecimento
área
da
da
navegação.
burguesia
como
por
Francis
essenciais
Bacon
no
são
duas
paradigma
classe social estabeleceu uma renovação
renascentista.
dos
isso
Os ideais renascentistas abriram o caminho
acompanhado de uma nova ferramenta
da filosofia da época moderna, na qual a
tecnológica, a imprensa
razão humana se torna independente da fé e
projetos
culturais.
E
tudo
estrutura a ciência entendida atualmente.
As principais características da filosofia
renascentista.
Nicolau Maquiavel.
A volta aos clássicos no Renascimento
Niccolò di Bernardo dei Machiavelli, mais
apresenta dois aspectos: a tradução de
conhecido no Brasil como Nicolau Maquiavel,
textos que foram esquecidos durante séculos
foi um filósofo que viveu e produziu entre os
e
grega,
séculos XV e XVI, na região de Florença.
de
Dedicou-se a explicação e compreensão do
Arquimedes, Pitágoras e Euclides. Este
estado, politica e homens de estado como
renascer do mundo clássico foi além dos
estes são na realidade, em oposição àqueles
a
recuperação
especialmente
as
da
ciência
contribuições
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autores que formularam teorias acerca de
teóricos da moral, o que contribui para a
como deveria ser o estado ou o governante
associação
ideal. Para além de descrever o estado de
característica inescrupulosa, com a criação
sua época, Maquiavel também apresentou
do adjetivo "maquiavélico".
estratégias
Por
e
métodos
sobre
como
os
de
outro
seu
lado,
nome
autores
a
como
uma
Baruch
homens de estado deveriam comportar-se
Spinoza, Jean-Jacques Rousseau e Denis
para
Diderot defenderam que Maquiavel era na
tirar
maior
proveito
da
realidade,
mantendo e expandindo o poder.
verdade um republicano e que suas ideias
Maquiavel é visto como um proponente do
foram
que viria a ser o cientista empirista moderno,
compreensão
defendendo
Iluminismo
que
expandir
a
partir
da
extremamente
do
úteis
estado,
e
para
inspirando
consequentemente
o
o
experiência e fatos históricos são o melhor
desenvolvimento
método de se desenvolver uma filosofia
democrática
consistente, especialmente em política, e que
Benedetto
a teorização a partir da imaginação é inútil.
afirmando que sua posição era a aceitação
Com esta aproximação, Maquiavel foi capaz
de que, na realidade, as regras morais
de afastar a politica da teologia e da filosofia
afetam muito pouco a ação e decisões dos
moral, desenvolvendo-a como uma disciplina
políticos. A interpretação aceita atualmente é
em si mesma. Assim, contribuiu para a
a de que Maquiavel se coloca como um
compreensão de como os governantes de
cientista politico, procurando distinguir os
fato agem e mesmo para a antecipação de
fatos
seu comportamento. Defendeu o estudo da
julgamento moral.
fundação de uma nação e a compreensão de
Encontramos em Maquiavel uma critica ao
seus elementos originais como essencial
aristotelianismo teológico, aceito pela igreja,
para a antecipação do futuro.
e a relação da igreja com o estado, que
Grande
dificuldade
encontrada
moderna.
Croce
vida
filosofia
politica
O
italiano
autor
defendeu
politica
dos
Maquiavel
valores
do
por
levaria muitas decisões práticas a serem
autores posteriores ao tentar estabelecer a
tomadas com base em ideais imaginários. O
moral de Maquiavel. Devido a sua posição
aristotelianismo
realista acerca da natureza e forma de
sofisticada
manutenção do estado e suas instituições,
cristianismo e, na visão de Maquiavel, teve
especialmente sua descrição de como a
como efeito justificar a preguiça e inação das
desonestidade e a morte de inocentes pode
pessoas frente aos desafios da vida e da
ser útil aos políticos, em sua obra mais
sociedade,
famosa, O Príncipe. Maquiavel foi criticado e
divina para solucionar tais desafios. Este
repudiado
diversos
posicionamento, de recusa da sorte e destino
especialmente,
baseados em algo externo a vida humana,
estudiosos
foi
da
da
a
veementemente
políticos
e,
por
teológico
forma
de
foi
a
justificação
mais
do
ao esperar pela providência
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classificou Maquiavel como um humanista.
método de trabalho (a análise) alimentaram a
Enquanto encontramos em filósofos como
atividade filosófica do século XVII.
Platão a descrição da politica, tornando-o
mais
próximo
de
Maquiavel
do
que
Empirismo.
Aristóteles, tais filósofos sempre tiveram uma
inclinação para posicionar a filosofia acima
O empirismo é a posição filosófica que aceita
da politica, enquanto Maquiavel recusava
a experiência como base para a análise da
qualquer
natureza, procurando rejeitar as doutrinas
ideia
teleológica,
aquelas
que
postulam causas finais ideais.
dogmáticas. Usado pela primeira vez pela
Embora seguidores de Maquiavel tenham
Escola Empírica, uma escola de praticantes
preferido métodos mais pacíficos e baseados
da medicina na antiga Grécia, o termo
na
empirismo
economia
para
promover
o
deriva
da
palavra
desenvolvimento, é aceito que a posição de
grega empeiría (ἐμπειρία),
que
designa
aceitação de riscos, ousadia, ambição e
conhecimento ou habilidade obtida por meio
inovação que Maquiavel sugere aos lideres
da prática, sendo também a origem da
políticos ajudou a fundar novos modos de se
palavra "experiência", por intermédio do
fazer politica e negócios.
termo latino "experientia".
Empiristas defendem que o conhecimento é
Razão
e
experiência:
a
investigação
científica.
primariamente
obtido
pela
experiência
sensorial, alguns empiristas radicais vão
além afirmando que o conhecimento só é
No século
XVII,
no plano científico e
obtido pela experiência sensorial e por
filosófico, desabrocharam-se novas maneiras
nenhuma outra forma.
de pensar que podem ser vistas como
A
herdeiras do período renascentista.
contrastada
Essa maneira “moderna” de pensar não
estabelece
consiste apenas em negar os dogmas e
conhecimento, independente dos sentidos. O
modelos medievais, mas fundamenta-se na
conceito e a busca de evidências como fonte
ideia positiva de que a norma da descoberta
primária de conhecimento existiu durante
e interpretação da ciência é a experiência e
toda a história da filosofia e ciência, desde a
não a autoridade. Por meio dessa premissa,
Grécia antiga, mas foi com o surgimento do
a atividade científica deixa de ser uma mera
chamado Empirismo Britânico, no século
observação e classificação dos fenômenos e
XVII, que se consolidou como uma posição
passa a se preocupar com a determinação
filosófica especifica, sendo o filósofo John
das leis que regem os fenômenos. Essa
Locke considerado o fundador do empirismo
atividade da ciência experimental e seu
como tal.
posição
empirista
com
a
razão
é
frequentemente
o racionalismo,
como
origem
que
do
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Os principais filósofos do Empirismo Britânico
existiriam as entidades que percebem, tendo
foram John Locke, George Berkeley e David
sua existência garantida mesmo sem que
Hume.
outro as perceba. Exagerando a alegoria da
Locke é famoso por sua comparação da
tabula rasa, Berkeley defendeu que a ordem
mente humana com uma folha em branco,
que vemos na natureza é a escrita de Deus.
tabula
Por isto, sua posição é hoje conhecida como
rasa,
na
qual
as
experiências
derivadas das impressões dos sentidos são
idealismo subjetivo.
impressas. Desta forma, haveriam duas
Na sequência desta discussão, o filósofo
formas
pela
Hume moveu a posição empirista na direção
ideias
do ceticismo. Para Hume, a recusa de
de
sensação
surgimento
e
pela
de
reflexão,
ideias,
com
podendo ser simples ou complexas.
Berkeley se daria pelo fato de que o
As ideias simples não são passíveis de
empirismo possui implicações que não são
análise, sendo referentes as qualidades
aceitas pela maioria dos filósofos, devido a
primárias e secundárias dos objetos. Sendo
convicções pessoais.
as primárias aquelas que definem o que o
No
objeto é essencialmente, por exemplo, uma
distinção de argumentos, proposta por Locke,
mesa tem como qualidade primária o arranjo
entre
especifico de sua estrutura atômica, qualquer
expande,
outro arranjo faria outro objeto e não uma
demonstrações, provas e probabilidades.
mesa. As qualidades secundárias tratam das
Sendo as provas, aqueles argumentos da
informações sensoriais acerca do objeto,
experiência aos quais não se pode oferecer
definindo
oposição. Hume afirma ainda que a razão por
seus
atributos
(cor,
sabor,
campo
conceitual,
demonstrativos
dividindo
e
os
Hume
utiliza
prováveis
e
argumentos
a
a
em
espessura, etc).
si mesma não poderia fazer surgir qualquer
Ideias complexas combinam ideias simples e
ideia original, ao mesmo tempo em que
constituem substancias, modos e relações.
desafia a causalidade, ao afirmar que a razão
Desta forma, segundo Locke, e discordando
não seria capaz de concluir que a existência
dos racionalistas, o conhecimento humano
de uma causa seja um requisito absoluto.
acerca dos objetos do mundo é a percepção
Derivações posteriores incluem ainda o
de ideias que estão em concordância ou
Empirismo Lógico, tendo como expoentes os
discordância umas com as outras. Esta
filósofos Nelson Goodman, W. V. Quine e
hipótese
Hilary
tornou-se
a
base
da
posição
Putnam
e
Karl
Popper,
e
o
empirista.
Pragmatismo, desenvolvido especialmente a
Preocupado que a posição de Locke levaria
partir das discussões entre Charles Sanders
ao ateísmo, Berkeley formulou a hipótese de
e William James.
que as coisas só existiriam na medida em
que são percebidas. Para além destas,
Racionalismo.
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"Penso, logo existo". É considerado o criador
O Racionalismo é um movimento filosófico
do pensamento cartesiano, sistema filosófico
que se destacou durante o Iluminismo. É a
que deu origem à Filosofia Moderna. Sua
teoria de que o conhecimento é adquirido por
preocupação era com a ordem e a clareza.
meio da razão, sem que haja a participação
Propôs
dos sentidos. O conhecimento matemático é
acreditasse
o melhor exemplo disso: por meio do
fundamentada única e exclusivamente na
pensamento
construir
verdade. Uma nova visão da natureza
provas a partir das quais é possível deduzir
anulava o significado moral e religioso dos
outros conceitos matemáticos complexos. As
fenômenos naturais. Determinava que a
raízes do Racionalismo se encontram nos
ciência
escritos Platonistas e Neoplatonistas. No
especulativa.
século XVII, o Racionalismo introduziu uma
A obra de Descartes, "O Discurso Sobre o
mudança de pensamento singular: a ideia de
Método",
que os conceitos mentais mais importantes
filosófico, publicado na França em 1637 e
são inatos e que é por meio deles que se
traduzida para o latim em 1656. Em toda
deduzem as outras verdades.
obra prevalece a autoridade da razão.
Renum dos mais importantes filósofos do
René Descartes (1596-1650) nasceu no dia
período
Descartes foi
31 de março em La Haye, antiga província de
século
17,
Touraine, hoje Descartes, na França. Filho
na
de Joachim Descartes, advogado e juiz,
autoridade da razão em filosofia e ciências
proprietário de terras, com o título de
naturais, bem como pelo desenvolvimento de
escudeiro, primeiro grau de nobreza. Era
métodos de verificação. Para Descartes a
também
filosofia seria como uma árvore, na qual a
Rennes na vizinha cidade de Bretanha.
metafísica forma a raiz, a física o tronco e as
René Descartes estudou no Colégio Jesuíta
diversas ciências os galhos, sendo que o
Royal
mais alto grau de sabedoria estaria na moral,
estabelecido no castelo De La Flèche, doado
que pressupõem conhecimento das diversas
aos jesuítas pelo rei Henrique IV. Na época o
ciências, sendo as principais a ética, a
colégio mais prestigiado da França, com o
mecânica e a medicina.
objetivo de treinar as melhores mentes.
racional,
pode-se
moderno, René
um racionalista francês
do
geralmente
pela
lembrado
ênfase
fazer
uma
no
deveria
é
um
filosofia
falso,
ser
Henry
-
Le
no
nunca
que
prática
tratado
conselheiro
que
fosse
e
não
matemático
Parlamento
Grand,
que
e
de
era
Descartes, estudou entre 1607 e 1615.
René Descartes.
Formou-se em Direito pela Universidade de
Poitiers. Dois anos depois, ingressou no
René Descartes (1596-1650) foi um filósofo,
exército do príncipe Maurício de Nassau, na
físico e matemático francês. Autor da frase
Holanda, onde estabelece contato com as
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descobertas recentes da Matemática. Aos 22
A expansão capitalista dos séculos XVII
anos, começa a formular sua "geometria
e XVIII foi acompanhada pela crescente
analítica" e seu "método de raciocinar
ascensão social da burguesia e sua tomada
corretamente".
de
Rompe
com
a
filosofia
consciência
como
classe
social.
aristotélica adotada nas academias e, em
Paralelamente, o racionalismo imperava na
1619,
e
Europa, transmitindo a confiança de que a
universal, lançando as bases do método
razão era o principal instrumento do homem
científico moderno.
para
Sua principal obra foi "O Discurso Sobre o
equacionar os problemas que o rodeavam. O
Método" (1637), na qual apresenta o seu
desenvolvimento da Revolução Industrial e o
método de raciocínio, "Penso, logo existo",
sucesso da ciência em campos como a
base de toda a sua filosofia e do futuro
química, a física e a matemática inspiravam
racionalismo científico. Nessa obra expõe as
filósofos de todas as partes. Foi assim que
quatro
surgiu talvez um novo mito: a ideia de pro-
propõe
uma
regras
ciência
para
se
unitária
chegar
ao
conhecimento: nada é verdadeiro até ser
reconhecido
desafios
da
vida
e
gresso.
problemas
Desse modo, disseminou-se a crença
e
resolvidos
de que a razão, a ciência e a tecnologia ti-
sistematicamente; as considerações devem
nham condições de impulsionar o trem da
partir do mais simples para o mais complexo;
história numa marcha contínua em direção, à
e o processo deve ser revisto do começo ao
verdade e ao progresso humano.
ser
tal;
os
os
precisam
como
enfrentar
analisados
fim para que nada importante seja omitido.
Paralelamente,
desenvolveu-se
um
Em 1649, vai trabalhar como instrutor da
pensamento que culminaria no movimento
rainha Cristina na Suécia. Com uma saúde
cultural do século XVIII denominado Ilumi-
frágil, René Descartes morre de pneumonia
nismo, Ilustração ou Filosofia das Luzes.
no dia 11 de fevereiro de 1650.
O Iluminismo não foi um movimento
coeso e uniforme. Por isso, não podemos
Obras de René Descartes.
rotular todos os pensadores iluministas como
"ideólogos
da
Regras Para Orientação do Espírito, 1628.
exemplo,
entre
O Discurso Sobre o Método, 1637.
pensadores que defendiam a aristocracia. No
Geometria, 1637.
entanto, nessa pluralidade de pensadores,
Meditações Sobre a Filosofia Primeira, 1641.
um
Princípios da Filosofia, 1644.
convencimento racional das pessoas.
traço
burguesia".
os
comum
Havia,
iluministas
é
a
busca
por
muitos
pelo
A própria postura de muitos filósofos se
Iluminismo.
modificou no século XVIII. Abandonando os
círculos fechados de seus antecessores, os
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iluministas circulavam pelas ruas e salões,
conhecimentos adquiridos no passado pode
exibindo e exercitando a razão. Para esses
ser colocado a serviço do bem-estar social;
filósofos propagandistas, como escreveu o
- Progresso: o entusiasmo pelas novas des-
pensador alemão Ernst Cassirer (1874-
cobertas tem como consequência a crença
1945), "a razão não era o cofre da alma onde
em um novo ideal, a ideia de progresso.
se guardavam verdades eternas, mas era a
Resumindo: O iluminismo é um período
força espiritual, a energia, capaz de nos
que crê nos poderes da razão que são
conduzir ao caminho da verdade".
chamadas de "As Luzes". No iluminismo
O Iluminismo enfatizou a capacidade
afirma-se que:
humana de, através do uso da razão,
- pela razão o homem pode conquistar a
conhecer a realidade e intervir nela, no
liberdade e a felicidade social e política.
sentido de organizá-la racionalmente, de
- que a razão é capaz de evolução e
modo a assegurar uma vida melhor para as
progresso e o homem é um ser perfectível (é
pessoas.
a capacidade de libertar-se de preconceitos,
Através do processo de ilustração, isto
é,
do
desenvolvimento
da
medos etc.)
capacidade
- pela razão o homem se aperfeiçoa, faz o
intelectual, havia a proposta de libertar o
progresso das civilizações que vão das mais
homem dos medos irracionais, superstições
atrasadas às mais adiantadas e perfeitas.
e crendices, levando-o a questionar as
- há diferença entre Natureza e civilização.
tradições vulgares e a construir uma nova
Esse foi um período de grandes interesses
ordem racional para a sociedade.
na ciência que se relacionam com as ideias
Podemos dizer, enfim, que talvez o
de evolução, foi uma época de preocupação
grande mérito dos iluministas foi o esforço
com a arte, grandes interesses de bases
por generalizar e aplicar as doutrinas críticas
econômicas da vida social e política.
e
analíticas
aos
diversos
campos
da
Alguns pensadores representativos do
atividade humana, bem como os ideais de
Iluminismo:
conhecimento
grande
Voltaire (1694-1778), Diderot (1713-1784) e
racionalismo (o racionalismo do século XVII).
D' Alembert (1717-1783), Rousseau (1712-
Vejamos alguns indicadores dessa nova
1778), Adam Smith (1723-1790) e Immanuel
mentalidade:
Kant (considerado o maior filósofo do Ilu-
- Estudos: a atenção dos intelectuais se volta
minismo alemão.)
forjados
no
Montesquieu
(1689-1755),
para o mundo terreno, concreto, e, dentro
dele, para o estudo do próprio ser humano;
Immanuel Kant.
- História: os estudos históricos ganham
expressão. Percebe-se que o conjunto dos
Immanuel Kant (1724-1804) foi um dos mais
importantes
e
influentes
filósofos
da
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modernidade. Seus estudos e ensinamentos
As obras de Kant são bastante diversificadas.
nos campos da Metafísica, Epistemologia,
Abaixo, abordamos brevemente alguns de
Ética e Estética tiveram grande impacto
seus principais ensinamentos: os conceitos
sobre a maioria dos movimentos filosóficos
da Teoria do Conhecimento e da teoria da
posteriores.
Moral e Ética.
Kant nasceu em 22 de abril de 1724 na
cidade de Konigsberg, que fazia parte do
Teoria do Conhecimento.
império da Prússia. Lá ele passou toda sua
vida, onde estudou, obteve seu doutorado
Em sua Teoria do Conhecimento, Kant
(1755), escreveu e ensinou. Em 1770,
classificou o tangível e o abstrato em dois
tornou-se professor de Lógica e Metafísica e
grupos: 1 - aquilo que podemos conhecer; 2 -
lecionou durante os 27 anos seguintes,
aquilo que são por si desconhecidas. As
conquistando o afeto e admiração de seus
coisas que podemos conhecer são aquelas
alunos. Kant deixou a universidade em 1797,
que as pessoas podem presenciar tocar, ver
aos 73 anos de idade. Seus ensinamentos,
e experimentar, como uma mesa ou um
que abrangem quase todos os campos de
cachorro. Por outro lado, existem coisas que
Filosofia, obtiveram grande reconhecimento
são desconhecidas por si próprias, como
internacional.
Deus e o conceito de liberdade, cujas
Kant abordava o estudo da religião de forma
existências, segundo Kant, se baseiam em
bastante diferente daquela ensinada e aceita
pressuposições necessárias.
na
eram
Kant afirmava que a área do conhecimento é
na
limitada ao mundo das experiências e que é
revelação, ou seja, ele baseava suas crenças
inevitável que uma pessoa fracasse ao tentar
religiosas principalmente na lógica, e não na
conhecer coisas que são desconhecidas.
simples fé. Em 1792, Frederico Guilherme II,
Kant apresenta essa linha de pensamento
Rei da Prússia, proibiu Kant de escrever ou
em
ensinar assuntos religiosos - ordem que Kant
estabelecendo
que
os
três
obedeceu até a morte do rei, que ocorreu
problemas
Metafísica
são
cinco anos depois. Em 1798, Kant publicou
liberdade e a imortalidade, pois não são
suas visões religiosas.
solucionáveis
por
meio
Kant faleceu em 12 de fevereiro de 1804.
especulativo.
De
acordo
época.
baseados
Seus
no
ensinamentos
racionalismo
e
não
seu
livro Crítica
da
da
Razão
do
Pura,
grandes
Deus,
a
pensamento
com
Kant,
a
existência de Deus e os conceitos de
liberdade e imortalidade não podem ser
Sua Obra.
afirmados ou negados no campo teórico,
nem
podem
ser
cientificamente
demonstrados. Porém, Kant expressou a
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necessidade da crença em Deus e nos
Além
conceitos de liberdade e imortalidade em sua
apresentou
filosofia moral. De acordo com Kant, a
sintética. A proposição sintética não pode ser
existência
alcançada por meio de simples análise: ela
da
moralidade
depende
da
proposição
analítica,
o
de
conceito
exige
liberdade e imortalidade.
conceito evidencia-se na frase "a garota é
Classificação do Pensamento.
Para
realmente
Um
proposição
exclusivamente da existência de Deus, da
loira".
experiência.
Kant
sabermos
loira,
é
exemplo
se
a
desse
garota
necessário
é
uma
experiência, pois não podemos ter certeza
Kant dividiu o conhecimento humano em
dessa afirmação sem antes vê-la.
duas categorias: proposições analíticas e
Através dessas afirmações, Kant tentou
sintéticas.
explicar a estrutura do conhecimento. A partir
Uma proposição analítica é aquela em que o
de Kant, originaram-se diversas discussões
predicado está contido no sujeito, como no
sobre a existência de um conhecimento a
enunciado "nenhum dos solteiros é casado".
priori. As definições de conhecimento de
A verdade deste enunciado é evidente, está
Kant tiveram uma importância fundamental
presente
no estudo da Filosofia.
no
simplesmente
concedidos
experiências
conceito
ao
sem
e
é
analisar
a
descoberta
os
termos
necessidade
avançadas.
Por
de
Moral e Ética
exemplo:
"nenhum dos solteiros é casado" é uma
A filosofia moral de Kant afirma que a base
verdade seja qual for nossa experiência,
para toda razão moral é a capacidade do
porque o significado de "não ser casado" já
homem de agir racionalmente. O fundamento
está presente no termo "solteiro".
para esta lei de Kant é a crença de que uma
Kant
acreditava
um
pessoa deve comportar-se de forma igual a
é
que ela esperaria que outra pessoa se
da
comportasse na mesma situação, tornando
experiência. Um exemplo de uma proposição
assim seu próprio comportamento uma lei
a priori é "dois mais dois é igual a quatro".
universal.
Entendemos esse conceito sem termos que
Um exemplo disso:
fisicamente colocar dois e dois juntos. Kant
Motoristas podem estacionar seus veículos
destacou a importância do conhecimento a
em
priori, afirmando ser ele uma parte essencial
emergência (por exemplo, com o propósito
do conhecimento que não pode ser adquirido
de resgatar uma pessoa). De acordo com a
diretamente pela experiência.
filosofia moral de Kant, essa lei deve-se
conhecimento
conquistado
principalmente
prévio,
sem
a
a
priori,
em
que
necessidade
fila
dupla
apenas
em
casos
de
aplicar a toda e qualquer pessoa que se
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encontre
nessa
mesma
situação.
Isso
significa que ninguém pode estacionar em fila
mesmo que a lei de um país permita ou até
encoraje isso.
dupla por motivo de preguiça ou porque não
encontrou uma vaga livre. Pois se todas as
Conclusão.
pessoas estacionassem em fila dupla, e isso
se tornasse uma lei universal, o trânsito
Immanuel
Kant
ficaria confuso e a cidade viraria um caos.
influente filósofo da modernidade. Suas
Portanto, só é permitido estacionar em fila
ideias inspiraram outros grandes filósofos
dupla em casos de emergência. As exceções
como Hegel e Marx. Seus ensinamentos
a essa regra - os casos de emergência -
influenciaram
ocorreriam em situações nas quais todas as
Pedagogia e a Sociologia; o impacto de suas
pessoas estacionariam em fila dupla e/ou
obras é incalculável. Ele foi, sem dúvida, um
considerariam justificável o fato de outros
dos mais influentes filósofos na história do
terem feito isso.
mundo.
o
é
considerado
Direito
o
mais
Internacional,
a
A situação descrita acima exemplifica a lei
moral de Kant que afirma que uma pessoa
deve agir numa situação da mesma forma
Referências:
que espera que todas as outras pessoas

www.10emtudo.com.br
ajam.

www.suapesquisa.com
A lei moral de Kant é baseada na ideia de
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que os seres humanos são racionais e
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independentes. Em sua obra, Metafísicas da
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Ética (1797), Kant propõe que a razão
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humana é a base da moralidade. Segundo
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Kant, toda ação deve ser tomada com um
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senso de responsabilidade ditado pela razão.
Kant também afirmou que nenhuma ação
baseada apenas na obediência da lei deve
ser considerada como moral. A história
comprovou esse conceito. Por exemplo:
durante a Segunda Guerra Mundial, as
pessoas que obedeciam à lei nazista e
seguiram as leis nazifascistas não agiram
humana e eticamente. Matar e torturar seres
humanos inocentes nunca são atos morais,
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