ATIVIDADE DE CARTAP E CLOTHIANIDIN SOBRE OVOS DE Heliothis virescens, (Fabr., 1781) (LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE) Geraldo Papa (1); Fernando Juari Celoto (1); Mauricio Rotundo (1); Heder Ricardo Mosca (1). (1) Unesp – Campus de Ilha Solteira/SP, Av. Brasil 56, CEP: 15.385-000, Ilha Solteira/SP. E-mail: [email protected] RESUMO A eficiência dos inseticidas sobre pragas é bastante estudada. Entretanto, a ação destes inseticidas sobre ovos das pragas é, geralmente, pouco conhecida. A propriedade ovicida de um inseticida resulta, além da ação sobre as pragas já presentes, na inviabilização dos ovos colocados. O objetivo do trabalho foi avaliar a atividade ovicida do inseticida cartap (Thiobel 500) e clothianidin (Zellus) sobre ovos de H. virescens. O experimento foi instalado no Laboratório de Entomologia da Unesp, Ilha Solteira/SP. Casais da mariposa foram colocados em gaiolas de vidro fechadas com tela de tule para postura. Os ovos com idade de um dia foram separados formando lotes de 100 ovos (parcela), acondicionados em placas. Os tratamentos constaram da testemunha, cartap (Thiobel 500), simulando as dosagens de 300, 450, 600, 750 e 900 g i.a./ha e clothianidin (Zellus), simulando a dosagem de 86 g i.a./ha. As placas contendo os ovos foram colocadas em uma área de 1m2 e pulverizadas utilizando-se um pulverizador elétrico. As avaliações foram realizadas contando-se o número de lagartas emergidas. Concluiu-se que os inseticidas Thiobel 500, nas dosagens de 600, 750 e 900 g i.a./ha e Zellus, na dosagem de 86 g i.a./ha, mostraram atividade ovicida sobre Heliothis virescens, superiores a 90%. INTRODUÇÃO O algodoeiro hospeda e reproduz várias espécies de insetos e ácaros que tornam o Manejo de Pragas uma das atividades mais importantes na cadeia produtiva. A maioria das pragas que ocorrem na cultura são, geralmente, permanentes, e a repetição da atividade nas mesmas áreas, oferecem condições para o crescimento populacional destas espécies, sendo que algumas delas podem sincronizar sua biologia no ecossistema onde a cultura do algodoeiro se desenvolve. As diversas partes da planta de algodão como raízes caule, folhas, botões florais, flores, maçãs e capulhos são atacados pelas pragas que ocasionam sérios prejuízos podendo até inviabilizar a atividade. Dentre as pragas, a lagarta da maçã, Heliothis virescens, ocorre principalmente na região algodoeira do Estado de Mato Grosso do Sul e Goiás. O adulto é uma mariposa que apresenta asas anteriores pardacentas com três linhas obliquas avermelhadas. Os ovos são colocados nos ponteiros das plantas, nas brácteas dos botões ou nas folhas mais novas, em um total de cerca de 600 por fêmea. As lagartas recém nascidas alimentam-se de tecidos novos, folhas ou botões florais, sendo que nos últimos instares destroem os botões e as maçãs, reduzindo a produtividade. Além disso favorecem a penetração de microrganismos, através dos orifícios causados. De acordo com Garcia (1971) e Santos (1977) verifica-se que cada lagarta consome cerca de 6 estruturas frutíferas (botões, flores e maçãs). Quando a lagarta já se encontra na maçã, significa que ela danificou pelo menos 5 estruturas frutíferas. Portanto, para cada 5% de maçãs infestadas houve, aproximadamente, 25% de maçãs perdidas. Segundo Santos (1977) os danos simulados nas plantas não apresentaram redução na produção quando consideradas até 2 lagartas grandes por planta, aos 100 dias de idade, mas aos 110 . dias, 2 lagartas grandes por planta, causaram 18% de prejuízo, mostrando que a amostragem deve ser realizada 15 a 20 dias antes do dano produzido. Garcia (1971), constatou ainda que, o nível de dano econômico, adotado de 10 lagartas em 100 plantas amostradas, para iniciar o controle químico, é satisfatório quando as amostragens são realizadas na fase em que as lagartas estão nos ponteiros. Na região Noroeste de Estado de São Paulo e todo o Estado de Mato Grosso do Sul a intensidade de ataque da lagarta da maçã nos algodoais tem variado de ano para ano. Entretanto, nas últimas safras, o nível de infestação atingiu índices significativos, havendo necessidade do controle químico. A eficiência dos inseticidas sobre as pragas é, normalmente, bastante estudada. Entretanto, a ação destes inseticidas sobre os ovos dos insetos pragas é, para maioria dos casos, pouco conhecida. A propriedade ovicida de um inseticida pode proporcionar maior período de controle sobre as pragas devido à alta eficiência inicial, pois resulta na eliminação tanto das pragas já presentes como na inviabilização dos ovos colocados, levando a um maior período para o restabelecimento populacional da praga. O presente trabalho teve a finalidade de avaliar a atividade ovicida do inseticida cartap (Thiobel 500) sobre ovos de Heliothis virescens. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado no Laboratório de Entomologia da Unesp, em Ilha Solteira/SP, em janeiro. Em seguida aplicaram-se os tratamentos de acordo com as dosagens indicadas, utilizando-se de um pulverizador manual equipado com pistola marca Arpex, mantida com pressão constante por bomba elétrica de vácuo, estabelecendo-se um volume proporcional a 300 L/ha. Após a aplicação as placas de Petri contendo os ovos foram mantidas em temperatura ambiente (média de 26o C). As avaliações foram realizadas diariamente até 10 dias após a aplicação, contando-se o número de lagartas emergidas em cada Placa de Petri. Os dados obtidos foram submetidos à análise da variância pelo teste F, e as médias comparadas por Tukey (5%). RESULTADOS E DISCUSSÕES A análise dos resultados (Tabela 2) mostrou que todos os tratamentos diferiram significativamente da testemunha e apresentaram redução na eclosão das lagartas que variaram de 79 (Thiobel 500 na dosagem de 300 g i.a./ha) a 98% (Zellus SC, na dosagem de 86 g i.a./ha). Nos tratamentos com Thiobel 500, nas dosagens de 300, 450, 600, 750 e 900 g i.a./ha, as porcentagens de lagartas eclodidas foram de 21, 12, 9, 3 e 4%, respectivamente. No tratamento com Zellus SC, na dosagem de 86 g i.a./ha, a porcentagem de lagartas eclodidas foi de 2%. Na testemunha, onde os ovos não sofreram qualquer tratamento, 96% das lagartas eclodiram. CONCLUSÃO Os inseticidas Thiobel 500 (cartap), nas dosagens de 600, 750 e 900 g i.a./ha e Zellus SC (clothianidin), na dosagem de 86 g i.a./ha, mostraram atividade ovicida sobre Heliothis virescens, superior a 90%. . Tabela 1. Nome comercial, nome comum e dosagens dos inseticidas utilizados sobre ovos de Heliothis virescens.. Nome comercial Principio Ativo Dosagens (i.a../ha) Dosagens (p.c./ha) 1. Thiobel 500 cartap 300 600 g 2. Thiobel 500 cartap 450 900 g 3. Thiobel 500 cartap 600 1200 g 4. Thiobel 500 cartap 750 1500 g 5. Thiobel 500 cartap 900 1800 g 6. Zellus SC clothianidin 86 400 ml 6. Testemunha ---Tabela 2. Efeito do inseticida Thiobel 500 e Zellus SC sobre ovos de Heliothis virescens em laboratório. Porcentagem média de lagartas eclodidas por tratamento até 10 dias após a aplicação. Ilha Solteira, janeiro/2003. Tratamentos i.a./ha % média de lagartas eclodidas 1. Thiobel 500 (cartap) 300 g 21 b 2. Thiobel 500 (cartap) 450 g 12 c 3. Thiobel 500 (cartap) 600 g 9c 4. Thiobel 500 (cartap) 750 g 3c 5. Thiobel 500 (cartap) 900 g 4c 6. Zellus SC (clothianidin) 86 g 2c 7. Testemunha -96 a CV (%) -13.04 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ABBOTT, W.S. A method of computing the effectiveness of inseticide. Journal of Economic Entomology, Lanham, 18: 265-7. COTTON: Review of the World Situation. International Cotton Advisory Committee. Washington: ICAC,v53 n.3, jan.,2000, 20 p. GARCIA, R.F..A. Evoluacion de las perdas en rendimento ocasionadas p el daño de Heliothis spp, en el algodoeiro. Tese apresentada ao programa de estudos para graduados da Universidade de Colombia (MS) ICA. 55. , 1971. AGRIANUAL 2003 – Anuário da agricultura brasileira. FNP Consultoria & Agroinformativa. São Paulo: 2003. 544 p. RICHETTI, A. & MELO FILHO, G.A. In: Algodão: Informações Técnicas. Dourados, EMBRAPA, Circular técnica, 7 , 1998, p. 11-25. SANTOS, W.J. Efeito da simulação dos danos de lagarta da maçã Heliothis virescens (Fabr., 1781) (Lep: Noctuidae) na produção do algodoeiro. Piracicaba, 1977. 64 p. (Dissertação de mestrado, ESALQ-USP). .