Plantas medicinais para a manutenção da saúde na comunidade de Lages - SC(1). Rosane Schenkel de Aquino(2); Ana Paula de Lima Veeck (2); Fedra Kruger (2); Michael Ramos Nunes(2); Aline Thayse Alves dos Santos Muniz de Barros (3). Resumo Expandido Trabalho executado com recursos do Edital APROEX 1/2014, da Pró-Reitoria de Extensão IFSC Professor do Instituto Federal de Santa Catarina – campus Lages do curso técnico de Biotecnologia, Análises Químicas e Agroecologia, Lages, SC. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] (3) Estudante do Instituto Federal de Santa Catarina – campus Lages, curso técnico de Biotecnologia (1) (2) RESUMO: No ano de 2013, através do projeto de extensão, construiu-se canteiros de plantas medicinais no Bairro São Miguel, em Lages, SC, com a intenção de ter um ponto de referência para a comunidade conseguir mudas e material para a utilização destas plantas no seu dia a dia. Nos últimos anos há o resgate do uso das plantas medicinais como forma de prevenção e de tratamento de enfermidades por parte da população. Prova disso, são as ações governamentais que incentivam esta prática como é o caso da lista RENISUS, que descreve as plantas medicinais aprovadas para uso no SUS para tratamento e prevenção de doenças. Este projeto de extensão tem a intenção de orientar o preparo e o uso de formulações de produtos de uso externo, como sabonetes, shampoos, unguentos, extratos, loções, etc, utilizando partes da planta (raízes, caule, casca, folhas, flores, frutos ou sementes), que possuem propriedades farmacológicas de cura, prevenção, diagnóstico ou tratamento sintomático. Para isso, foram aplicados questionários para direcionar os trabalhos junto à comunidade. As ações estão sendo desenvolvidas com a comunidade na presença dos docentes e alunos bolsistas através de oficinas e acompanhamento das atividades. Palavra Chave: Plantas bioativas, formulação, preparo. INTRODUÇÃO A sistematização e o fortalecimento do uso de plantas medicinais através de uma iniciativa popular acontece no terreno onde está situada a Cáritas Comunitária do bairro São Miguel. Nesta comunidade, em 2013, iniciou-se o trabalho com plantas medicinais através da implantação de um hortomedicinal, com plantas utilizadas e de interesse pela população do bairro. Com a intenção de continuar e fortalecer o trabalho iniciado em 2013 este projeto foi proposto com intuito de melhorar e ampliar a forma de utilização destas plantas no tratamento das enfermidades da população local. Através do conhecimento da forma de preparo das formulações de pomadas, loções, unguentos, shampoos, sabonetes e as partes da planta a ser utilizada para cada uso, diminui-se o risco de erros de tratamento e melhora-se a eficácia de tratamento. Sabe-se que o uso inadequado de plantas medicinais ou o uso de plantas trazem risco de saúde à população. Assim, o preparo e a 4º Seminário de Pesquisa, Extensão e Inovação do IFSC utilização adequada de formas farmacêuticas produzidas pela comunidade, baixa o custo de tratamentos, mehorando a saúde local. Além de baixar o custo, alia-se a este projeto, a valorização da cultura tradicional da comunidade à cultura tradicional sistematizada através de artigos científicos e a RENISUS (Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS). Assim, a orientação das pessoas que produzem as plantas e da população que faz o seu uso, traz benefício a toda rede de saúde, bem como maior credibilidade frente a pessoas adeptas a tratamentos alternativos e produtores das mesmas. Fortalece-se também, não apenas as finalidades medicamentosas dos fitoterápicos como, também, a questão sócioeconômica-cultural regional. Assim, o objetivo do projeto é a produção de formulações magistrais capazes de serem produzidos em local, forma e aplicação adequados à base de plantas medicinais produzidas pela comunidade do Bairro São Miguel. Além disso, o fortalecimento da aplicação de ISSN 2357-836X conhecimentos regionais e científicos para a obtenção de medidas de prevenção e tratamento da saúde; união do IFSC campus Lages com a comunidade local através da educação e de saberes e solidificação dos conhecimentos dos estudantes que cursam os cursos técnicos no IFSC campus Lages METODOLOGIA O trabalho está sendo realizado através de encontros no bairro São Miguel (Fig.1). Nestes encontros há discussão sobre o uso das plantas medicinais, demonstração de extração de princípio ativo com destilador da pastoral da saúde de Lages (Fig.2), e extração de óleo essencial em destilador Clevenger do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) campus Lages. Foi aplicado um questionário para caracterizar o público participante, conhecimento e uso das plantas medicinais por estes. A forma de obtenção destas plantas também foi tema do questionário RESULTADOS E DISCUSSÃO A aplicação dos questionários tiveram como resultado: 1. Idade dos participantes: 40-60 anos. 2. Tempo de residência na região: 2030anos. 3. 100% dos participantes são do lar. 4. 100% dos participantes usam chá como forma de tratamento para enfermidades. 5. 33,3% dos participantes usam xarope de plantas medicinais. 6. 33,3% dos participantes compram as plantas que utilizam 7. 66,7% cultivam as plantas que utilizam para as suas enfermidades. 8. 16,7% utilizam chás mais de 4 vezes por semana. 9. 83,3% utilizam chás quando necessário. 10. As enfermidades mais citadas e tratadas com plantas medicinais foram: gripes, tosse, infecções de bexiga e desconforto gástrico. 11. 100% dos participantes têm interesse em participar da oficina para ampliar o conhecimento sobre as plantas, mas principalmente para aumentar o conhecimento sobre as formas de uso das plantas. O questionário trouxe a realidade da população com quem trabalhamos nesta 4º Seminário de Pesquisa, Extensão e Inovação do IFSC comunidade: mulheres, do lar, vindas, na sua maioria, há mais de 30 anos do interior, de realidade rural, em busca de melhores condições de vida. Por terem a sua educação baseada na “terra” todas utilizam as plantas medicinais como recurso no tratamento de enfermidades comuns na região, tendo aprendido com seus pais e avós. Todas moram em casa e a maioria possui uma horta onde cultivam as plantas que utilizam corriqueiramente, comprando apenas as plantas para enfermidades não comuns na sua família. Para diversificar e evitar compras de plantas e/ou de mudas de plantas, este mesmo grupo em projeto de extensão anterior construiu uma horta de plantas medicinais na Igreja do bairro para que a população tenha várias opções de mudas de plantas medicinais e não necessite comprá-las. Destaca-se também a forma de preparação das plantas, sendo a forma mais comum os chás. A forma de preparo do chá, é variável, algumas fervem as plantas com a água, fazendo na verdade, decocção e não infusão. Isto pode alterar a extração do princípio ativo e alterar a indicação terapêutica da planta utilizada. A frequência de utilização dos “chás” também é variável, na maioria das vezes a utilização é quando sentem os sinais e sintomas da enfermidade. Isto pode dificultar a ação terapêutica das plantas, já que, a quantidade de princípio ativo da planta necessário para a obtenção do efeito terapêutico pode não ser atingido. O uso contínuo, regular consegue manter concentrações terapêuticas adequadas para o tratamento. Neste sentido entramos em outra discussão, quanto podemos utilizar de plantas medicinais, quais as melhores formas de extração e uso das mesmas? Todas podem ser utilizadas em qualquer via de administração? Qual o tempo de tratamento? Plantas medicinais são seguras e podemos utilizar para tudo? Sabemos que não e que pesquisas e projetos de extensão, unidas com ensino trarão as respostas e conscientização da população quanto ao uso seguro destas plantas, muitas vezes sendo a única forma de tratamento da população. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) realizou uma pesquisa sobre farmacovigilância em plantas medicinais e fitoterápicos entre 1999 e 2009, levantando as notificações sobre reações adversas, interações medicamentosas, desvio de qualidade, etc. Poucas notificações sobre o tema são realizadas, dificultando a compilação dos dados sobre o tema. Por isso, além do questionário, este projeto fará uma oficina sobre preparo e formas de uso de plantas medicinais, na comunidade. Nesta oficina ISSN 2357-836X teremos como objetivo utilizar plantas medicinais de uso corriqueiro pela população, que existam na horta do bairro (projeto extensão 2013), demonstrando formas de uso além de chás. Trabalharemos a preparação de xaropes, shampoos, sabonetes e unguento, orientando sobre a importância dos seguintes fatores para a preparação das formulações: a forma de coleta, procedência da planta, preservação do ecossistema e da planta “mãe”, nomenclatura científica e popular das plantas, identificação das plantas, conhecimento sobre partes tóxicas das plantas trabalhadas, período de colheita, aspecto das plantas, local de colheita, recomendação de uso e uso durante a gravidez e amamentação. A oficina será no dia 26/07/14. AGRADECIMENTOS As mulheres do Bairro São Miguel e Sagrada Família, bem como a Pastoral da Saúde que acompanharam e ajudaram para que este projeto se realizasse. REFERÊNCIAS BALBINO, E.E. DIAS, M.F. Farmacovigilância: um passo em direção ao uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos. Revista Brasileira de Farmacognosia, 20(6): 992-1000, Dez. 2010.. Figura 1 – Reunião com demonstração do destilador da pastoral da saúde. Figura 2 – Reunião com a comunidade. CONCLUSÕES Até o momento concluímos que apesar do uso de plantas medicinais pela população, o conhecimento sobre as formas de preparo, além dos chás, e riscos de uso são pequenos. Há necessidade de maior informação por parte da população em geral e dos profissionais da saúde de formas de uso seguras, bem como o aumento de trabalhos sobre fármaco-vigilância em fitoterapia no Brasil. 4º Seminário de Pesquisa, Extensão e Inovação do IFSC ISSN 2357-836X