A produção de flores e sua relação com a apicultura e meliponicultura em São Benedito-CE Marcela Sheila Araújo Xavier¹*, Damires Veras Leitão1, Maria da Piedade Oliveira de Souza¹, José Everton Alves2 1 2 Graduando em Zootecnia CCAB/UVA, Sobral, CE. * E-mail: [email protected] Professor Adjunto no Curso de Zootecnia, CCAB/UVA, Sobral, CE. Resumo: Com o objetivo de investigar a possibilidade de um consórcio entre a floricultura com a apicultura ou meliponicultura realizou-se este trabalho com dados de produção fornecidos por três empresas no município de São Benedito-CE. Nestas, observou-se dados como espécie cultivada e características da colheita e da morfologia floral. Concluiu-se que, apesar de ser possível o unir a floricultura com a criação de abelhas, não há interesse nas empresas por este consórcio. Palavras-chave: Abelhas, Apis mellifera, floricultura, meliponíneos The flower production and its relation to beekeeping and meliponiculture in São Benedito-CE Abstract: In purpose to investigate the possibility of a consortium between the floriculture with beekeeping and creating of stingless bees was held this job with production data provided by the three companies in the São Benedito city, state of Ceará. These were observed data as cultivated species and characteristics of the harvest and floral morphology. It was concluded that, although it is possible to join the floriculture with creating of bees, no interest in the farms in this consortium. Keywords: Bees, Apis mellifera, floriculture, meliponines Introdução As exportações brasileiras de flores e plantas cresceram mais de 124% entre 2001 e 2006, mantendo crescimento real de pelo menos 10% ao ano (CASTRO et al., 2007), acarretando em mudanças nos polos de produção. Desta forma, o Ceará é considerado atualmente como um dos estados brasileiros mais adequados para o plantio de flores, devido às suas características edafoclimáticas e posição geográfica, pois esta facilita o alcance ao mercado externo. A exploração da floricultura nesta região se elevou de forma exponencial, levando ao aumento significativo da produtividade do setor no Brasil (ANEFALOS; FILHO, 2007). No Nordeste brasileiro o Estado do Ceará dispõe de produção significativa de flores tropicais. No entanto, destaca-se como um dos principais produtores de flores temperadas, isso se deve ao fato de possuir em seu território áreas serranas, como é caso das Serras de Ibiapaba e Baturité (BUAINAIN; BATALHA, 2007). A produção é bastante diversificada por serem cultivadas várias espécies. As principais flores de corte comercializadas no Brasil são: Rosa (Rosa spp.), Crisântemo (Dendranthema grandiflorum), Lírio (Lilium sp.), Gérbera (Gerbera jamesonii), Tango (Solidago sp.), Gladíolo (Gladiolus hortulanus), Aster (Aster sp), Gipsofila (Gypsophila sp.) (JUNQUEIRA; PEETZ, 2008). O ponto ideal para colheita é quando as rosas apresentam os botões ainda fechados com hastes e flores túrgidas (LIMA; FERRAZ, 2008). Por este motivo surge o questionamento de como integrar a criação de abelhas ao cultivo de flores, já que as mesmas são colhidas antes da antese. Apesar do manejo aplicado nas fazendas de produção de flores impossibilitar o consórcio entre a criação de abelhas africanizadas (apicultura), ou de espécies de abelhas sem ferrão (meliponicultura), com a floricultura, deve-se atentar para o fato de que existem empresas que, de acordo com o mercado, colhem apenas a quantidade de flores necessárias para atender à demanda, optando por deixar o restante nos canteiros. Desta forma haverá disponibilidade de flores em antese no campo, abertas à visitação das abelhas, possibilitando a produção de mel e/ou pólen apícola, podendo gerar assim renda que auxilie na sustentabilidade do sistema de produção da floricultura. O objetivo deste trabalho foi investigar se o manejo adotado em empresas do município de São Benedito pode possibilitar o consórcio entre o setor da floricultura com o da apicultura ou meliponicultura. Material e Métodos O trabalho foi baseado em visita às empresas e em dados de produção fornecidos por três empresas no município de São Benedito-CE, na Serra da Ibiapaba. Nestas, foram observados dados como espécie cultivada e características da colheita além de observar a morfologia floral como forma de analisar a síndrome de polinização da espécie cultivada. Resultados e Discussão Ocorrem dois tipos de plantio no município quanto à proteção contra inimigos e doenças. Os tipos são plantio em canteiros em campo aberto (empresas A e B) e cultivos protegidos em estufas (empresa C). Observou-se ainda que nas três empresas investigadas são cultivadas S. canadensis, A. ericoides, D. grandiflora e Rosa spp. (Tabela 1). Na empresa A (cultivo aberto) e C (cultivo protegido), não há viabilidade no consorcio das abelhas nesses tipos de cultivos. Isso se deve ao fato de que na empresa A todas as flores são colhidas antes da antese, mesmo que não haja demanda para toda produção, essa é uma forma de evitar a disseminação de pragas. Já na empresa C, além de ficarem isoladas em casas de vegetação, o plantio exclusivo de rosas (Rosa spp.) não é atraente para as abelhas. Na empresa B, verificou-se que 5 a 10% do plantio permanecem no campo após a colheita, pois a produção é normalmente maior do que a procura. Isso é considerado uma perda para a empresa, no entanto, pode ser aproveitada se houver uma associação com a apicultura e meliponicultura. Para que essa prática tenha êxito, são necessários alguns cuidados, tanto com as plantas quanto com as abelhas. Contudo, a falta de interesse por parte da empresa desperdiça a oportunidade de aproveitar essa fonte de renda suplementar. Tabela 1: Espécies de plantas cultivadas nas empresas de floricultura do município de São Benedito e suas porcentagens de produção e de perdas. (Dados colhidos por meio de entrevistas). Participação na produção Espécie visitada Nome vulgar Nome científico de flores Perdas de produção por abelhas Empresa A Sim Crisantemos Dendranthema grandiflora 40,03% Não há perdas Rosas de espinhos Áster Rosa spp. 40,03% Não há perdas Não Aster ericoides 19,94% Não há perdas Sim Total Empresa A Empresa B 100,00% Tango Solidago canadensis 60,00% 5 a 10 % Sim Áster Aster ericoides 40,00% 5 a 10 % Sim Total Empresa B Empresa C 100,00% Rosas amarelas Rosa spp. 6,00% Não há perdas Não Rosas bicolor Rosa spp. 6,00% Não há perdas Não Rosas brancas Rosa spp. 20,00% Não há perdas Não Rosas chá Rosa spp. 4,00% Não há perdas Não Rosas laranjas Rosa spp. 4,00% Não há perdas Não Rosas pink Rosa spp. 3,00% Não há perdas Não Rosas rosa Rosa spp. 11,00% Não há perdas Não Rosas salmon Rosa spp. 2,00% Não há perdas Não Rosas vermelhas Rosa spp. 44,00% Não há perdas Não Total Empresa C 100,00% Apesar de ser possível a utilização das abelhas nos campos cultivados de flores comerciais, é importante atentar ao fato de que as culturas não são frutíferas e independem de polinização para sua reprodução, tendo como único ganho na implantação destas abelhas, a produção de mel e pólen ou dar sustentação às colônias para a obtenção de outros produtos apícolas. Porém, a introdução de abelhas africanizadas requer cuidados, já que há possibilidades de ocorrências com acidentes. Já as abelhas sem ferrão não apresentam este risco. Outro ponto a ser considerado é o uso de agrotóxicos no cultivo de flores que pode promover efeitos letais ou subletais nas abelhas e assim prejudicar, direta ou indiretamente, a produção do mel e do pólen apícola. Porém, neste trabalho este contexto não foi investigado. Diante do exposto, percebe-se que este estudo apresenta resultados iniciais que necessitam ser aprofundados por ser esta ideia de alternativa para a escassez de alimento para as abelhas ou para a produção apícola, já que há flores sendo desperdiçadas em floriculturas cearenses. Conclusões Conclui-se que não há iniciativa e nem tão pouco interesse nas empresas pelo consórcio entre o cultivo de abelhas e a floricultura, mas que, dependendo do manejo adotado na floricultura, é possível o aproveitamento de algumas espécies cultivadas de flores para forrageamento pelas abelhas visando a produção de mel e/ou pólen apícola. Referências ANEFALOS, L.C.; FILHO, J.V.C. Avaliação do processo de exportação na cadeia de flores de corte utilizando modelo insumo-produto. Revista brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v. 61, n. 2, jan. 2007. BUAINAIN, A. M.; BATALHA, M. O. (Coord.). Cadeias produtivas de flores e mel. Brasília, DF: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: IICA, 2007. 139 p. (MAPA. Agronegócios, v. 9). CASTRO, A. C. R.; LOGES, V.; COSTA, A. S.; CASTRO, M. F. A.; ARAGÃO, F. A. S.; WILLADINO, L. G. Hastes florais de helicônia sob deficiência de macronutrientes Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 42, n. 9, p. 1299-1306, set. 2007. JUNQUEIRA, A. H.; PEETZ, M. S. Mercado interno para os produtos da floricultura brasileira: características, tendências e importância socioeconômica recente. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental. v. 14, n.1, p. 37-52, 2008. LIMA, J. D.; FERRAZ, M. V. Cuidados na colheita e na pós-colheita das flores tropicais. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental. v. 14, n. 1, p. 29-34, 2008.