história em quadrinhos como ferramenta para o ensino de evolução

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HISTÓRIA EM QUADRINHOS COMO FERRAMENTA PARA O
ENSINO DE EVOLUÇÃO NOS ANOS FINAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Henrique José Polato Gomes1 - PUCPR
Silvia Regina Pollato Gomes2
Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
A Evolução biológica é um tema de extrema importância, pois perpassa todas as áreas da
Ciência. Contudo, por sua complexidade e caráter abstrato, nem sempre é bem compreendida
pelos estudantes. Neste trabalho, tentamos verificar a compreensão das teorias evolutivas
através de representações em desenho. Ele foi realizado em uma escola particular confessional
católica da cidade de Curitiba, Paraná, Brasil e envolveu 124 alunos dos sétimos anos.
Inicialmente foi apresentado o conteúdo das teorias evolucionistas utilizando o diálogo e o
material didático apostilado utilizado pela escola. Após a fixação do conteúdo no caderno, as
turmas foram divididas em equipes de cinco alunos e cada equipe recebeu uma cópia do
material: “A Origem das Espécies em HQ” (GONSALES, 2009). Após analise e discussão no
grupo e no coletivo, os alunos foram convidados a registrar na forma de desenho a sua visão
de uma das teorias da evolução. Não houve direcionamento para uma temática específica,
nem foi solicitado que desenhassem sua convicção pessoal; ao final do trabalho, o objetivo
era avaliar o entendimento das diferentes teorias e a existência de entraves epistemológicos
através dos desenhos. Analisando os desenhos foi constatado que esta metodologia gerou um
ótimo entendimento do conteúdo. Foi ainda feita uma enquete sobre em qual teoria os alunos
acreditavam e os resultados mostram que um aluno (0,81%) não tem uma opinião formada,
56,45% se declaram darwinistas, 1,6% lamarckistas, 16,13% criacionistas e 25% se declaram
criacionistas/darwinistas. Essa última categoria foi criada pelos alunos e mostra que,
aparentemente, alguns preferem acreditar que há um criador que deu origem à vida, mas que,
a partir daí, e evolução seguiu seu curso conforme a teoria proposta por Darwin.
Palavras-chave: História em quadrinhos. Evolução. Ensino de ciências.
1 Doutorando em Genética. Mestre em Genética pela Universidade Federal do Paraná. Professor Assistente da
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail: [email protected]
2 Mestre em Botânica pela Universidade Federal do Paraná. Professora da rede particular. E-mail:
[email protected]
ISSN 2176-1396
6819
Introdução
A história em quadrinhos (HQ) tem sido uma forma de divulgação de
cultura/conhecimento usada pela sociedade há muito tempo. Tavares (2011) identifica os
quadrinhos não apenas como difusores de ideologias, humores e críticas dentre outros, mas
que também são ali produzidos e, principalmente, que é possível observar neles os reflexos
destes conceitos na e pela sociedade.
De acordo com Silva & Costa (2014), são considerados como HQ apenas as histórias
que tenham balão de diálogo. Por esse critério, a HQ se iniciou em 1897 com Rudolph Dirks
nos USA com ”Hans e Fritz” (HAMZE, 2015). Suas histórias faziam sucesso no Brasil dos
anos 60 juntamente com os gibis do Walt Disney e com as tiras da Turma da Mônica em
jornal. Mas as HQ iniciaram no país com a revista “Tico-tico” que teve sua primeira
publicação em 1905 e décadas de atuação educativa e moralizadora (HAMZE, 2015).
Nem sempre as HQs foram vistas como aliados pedagógicos. Nos anos 60/70 do
século XX era forte a pressão de pais e educadores contra elas (CIRNE, 2004; CARUSO &
SILVEIRA, 2009; LUYTEN, 2011; TAVARES, 2011) que eram tidas como prejudiciais ao
aprendizado, incitadoras da violência e do atentado aos bons costumes. Ainda assim, essa foi
uma época pródiga em novos talentos em HQs, destacando-se o aparecimento de autores
como: Mafalda de Quino (Argentina) e O gaúcho (Júlio Shimamoto) e no humor gráfico
Fradinhos (Henfil) todos em 1964. Philémon (Fred) Franco Belga em 1966. Corto Maltese
(Pratt) italiano e comix underground (USA) em 1967. Capitão Cipó (Daniel Azulay) e O Pato
(Ciça) em 1968. Lobo Solitário (Koike & Kojima) japonês em 1969. Paulette (Wolinski &
Pichard) francês e a revista da Turma da Mônica (Maurício de Souza) em 1970 entre outros
(CIRME, 2008).Este quadro começa a mudar no Brasil com proposição de um “Código de
Ética dos Quadrinhos” assinado pelas editoras de HQs dirigidas a crianças e adolescentes em
1976 (BANTI, 2012). O Código foi assinado com 18 itens e preconizava o caráter educativo
das revistas e os princípios da ética, respeito a raças, religiões, moral e outros princípios
protetivos da criança e do adolescente. Silva & Costa (2015) listam vários sucessos no uso de
HQs em práticas pedagógicas. Lovreto (1995) constata que o gibi é a primeira literatura da
criança e que não dá mais para deixar de usá-lo como ferramenta pedagógica.
No cenário atual, é inegável que a aprendizagem pode melhorar significativamente se
outras linguagens forem usadas além das metodologias tradicionais. Nesse sentido, a HQ
deixa de ser apenas ilustrativa ou um meio de entretenimento para se tornar uma ferramenta
6820
pedagógica importante, visto que pode melhorar a compreensão por ser uma variação
metodológica interessante (BORRALHO et al, 1971; LUYTEN, 2011 ; PALHARES, 2011;
VERGUEIRO, 2004; TAVARES, 2011).
É claro que quando se diz que a HQ deixa de ser uma ferramenta de entretenimento,
refere-se ao entretenimento puramente como meio de diversão. Quaisquer metodologias que
possam tornar o ensino prazeroso são válidas para auxiliar o processo de ensinoaprendizagem.
Nem sempre a percepção sobre a compreensão dos alunos é clara para o professor.
Naturalmente, extrair as informações de uma representação pictórica também é um processo
difícil e sujeito a erros, mas é possível extrair dados importantes acerca dos conceitos dos
alunos sobre evolução nos desenhos em quadrinhos.
Caruso, Carvalho & Silveira (2015, p.4) propõe que uma das formas de trabalhar com
ensino não-formal de Ciências e Biologia tornando-o interessante e significativo para o aluno
é “Incentivar os alunos participantes a traduzirem em linguagem artística (tirinhas e charges)
os conteúdos trabalhados pelos professores em sala de aula e na oficina”.
O trabalho do cartunista Fernando Gonsales é facilmente adaptável ao uso em sala de
aula devido a sua formação acadêmica (veterinário e biólogo) e, por isso trabalha com grande
facilidade e habilidade com temas relacionados às ciências naturais e a processos biológicos.
Seus personagens circulam em roteiros ricos em humor, atraentes para os jovens e propícios
ao uso didático, pela frequente proximidade com os temas da área (GONSALES, 2015).
Apesar de ser fruto de um longo e cuidadoso esforço científico, o trabalho do
naturalista Charles Darwin foi, desde a sua publicação, motivo de acaloradas discussões, uma
vez que colocou em cheque o pensamento vigente sobre o tema e propôs um novo modo de
pensar a natureza. Segundo Meis(1992) apud Teixeira (2009, p. 59) :
De certa forma, Charles Darwin (1809- 1882) fez para a Biologia, o que Galileu e
Newton juntos fizeram para a Física: ao mesmo tempo em que foi obrigado a entrar
no embate com os antigos paradigmas da História Natural ainda dominantes, teve
também o papel de propor toda a base de fundamentação para a Biologia que se
desenvolveria a partir de então.
Publicado no ano de 1859 com o título original On the Origin of Species by Means of
Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life (Sobre a
Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na
Luta pela Vida), depois simplificado para “A Origem das Espécies” provocou uma comoção
entre cientistas e leigos principalmente por seu capítulo IV, o da “Seleção Natural ou da
6821
perseverança do mais capaz” Darwin (1859). Nos 150 anos da publicação do livro “A Origem
das Espécies” do naturalista inglês Charles Darwin o caderno MAIS! do jornal “Folha de São
Paulo” publicou ”A origem das espécies em HQ” (GONSALES, 2009).
Muitos trabalhos mostram que os conceitos de evolução ainda apresentam muitos
equívocos atrelados a eles, tanto nos alunos, quanto nos professores e nos livros didáticos
(LICATTI, 2005; MELLO, 2008; DIAS & BORTOLOZZI, 2009). Por se tratar de um assunto
complicado e com muitas pré-concepções arraigadas, muitos professores ficam inseguros em
discutir o tema ou acabam trabalhando-o de forma superficial ou equivocada. Essas préconcepções, se não forem bem discutidas e resignificadas, podem se tornar obstáculos
epistemológicos fortes à aprendizagem. Para Bachelard (2005) os obstáculos epistemológicos
constituem-se em entraves a um novo conhecimento. A aprendizagem exigiria, portanto,
romper com os conceitos prévios para adquirir os novos; questionar as ideias existentes e
promover a discussão a fim de ensinar os conceitos corretos, indubitavelmente é uma
responsabilidade que o professor precisa ter. A evolução é uma temática que precisa ser
discutida e trabalhada, pois perpassa todas as outras áreas das Ciências Biológicas, além de
possibilitar a reflexão e o senso crítico (TIDON & VIEIRA, 2009).
Assim, o objetivo do presente trabalho é, através dos desenhos de estudantes, verificar
os conceitos aprendidos e eventuais obstáculos epistemológicos ainda presentes no que se
refere aos conceitos e teorias evolutivas propostas por Darwin e Lamarck.
Metodologia
O trabalho foi realizado com os 124 alunos divididos em quatro turmas (A, B, C e D)
dos sétimos anos matutino de uma escola de bairro, particular e de orientação católica da
cidade de Curitiba, Paraná, Brasil. A escola utiliza material didático apostilado de uma rede
de ensino de distribuição nacional.
Em um primeiro momento, foi utilizado o material didático disponibilizado pela escola
para o entendimento das abordagens iniciais teórico-ideológicas das teorias de Lamarck e de
Darwin. Foi enfatizada a seriedade do trabalho científico de ambos e a diferença nos enfoques
e entre os resultados obtidos. De acordo com Teixeira (2009, p.61) o conhecimento do
trabalho de Darwin em seu o contexto histórico “faz parte da alfabetização científica de
qualquer cidadão”. Tratando-se de uma comunidade religiosa, com os alunos autodeclarandose informalmente católicos em sua maioria, mas também formada de evangélicos/protestantes
e espíritas, foi necessário um esclarecimento formal do Criacionismo como uma das visões
6822
aceitas (mas não cientifica) para a criação das espécies. No entanto, não houve nenhuma
forma de resistência nem dos alunos e nem dos pais. Este conhecimento foi fixado em texto
no caderno, com exemplos, em reforço ao já apresentado no material apostilado e com
acréscimos sugeridos pelos alunos.
Foi impresso e plastificado todo o material chamado “A Origem das espécies em HQ”,
(GONSALES, 2009). Este material foi dividido em sete pranchas que contem um enredo
completo diferente em cada. Foram montados 7 conjuntos de pranchas.
Cada turma foi dividida em equipes de no máximo cinco alunos e cada grupo recebeu
um conjunto completo de pranchas de forma que cada aluno pudesse ler todas elas, anotar o
que houvesse compreendido de cada uma para discutir suas conclusões no grupo. Na aula
seguinte as dúvidas e conclusões foram levadas ao grande grupo com o auxílio do professor.
Para fechar a atividade foi pedido que os alunos desenhassem a sua própria interpretação da
origem das espécies ou de alguma das ideias das teorias evolutivas expostas, em charge ou em
quadrinho. Não foi dada nenhuma orientação sobre o tema da história ou sobre qual das
teorias deveriam desenhar; a única orientação foi que deveria conter os elementos típicos de
uma HQ ou das charges, como personagens desenhados, balões de diálogos, onomatopeias,
entre outros. Não houve sugestão que fossem necessariamente fiéis às suas convicções,
tampouco que desenhassem qual julgaram a mais correta. A ideia era que os alunos
representassem corretamente as teorias evolutivas.
Resultados e discussão
As ideias sobre evolução e sobre a origem das espécies são temas inéditos para esta
faixa etária, visto que esse assunto não costuma ser trabalhado nos anos iniciais do Ensino
Fundamental. Considerando que a escola em questão é uma escola confessional, é razoável
afirmar que o único contato anterior que tiveram com este tema é o do ponto de vista
religioso, ou seja, o Criacionista.
A teoria de Lamarck, embora demonstrativamente incorreta, encontra muita aceitação
inicial e traz bons exemplos dos equívocos relacionados a esse tema. As expressões de
domínio leigo comumente ouvidas como: “o cactos se adaptou ao ambiente seco”, “ as
superbactérias existem porque, de tanto as pessoas tomarem antibiótico, as bactérias se
tornaram resistentes a eles”, ou “ tudo se adapta ao ambiente onde vive” têm conotação
claramente depositada sobre o pensamento lamarckista. Além disso, as ideias de uso e desuso
são facilmente aceitas previamente, pois a ideia de melhoria de certa estrutura ou habilidade
6823
com a prática se faz muito presente. Embora uma habilidade de fato possa ser melhorada com
a prática, isso não valida as ideias propostas por Lamarck.
Por outro lado, embora estando fortemente baseada em profundos estudos científicos,
a teoria de Darwin nada tem de intuitiva e apresenta certo grau de complexidade na sua
compreensão. Não é à toa que tem levantado muita polêmica desde o seu lançamento e ainda
hoje traz ranços de uma compreensão muito equivocada. Isso é visível na educação, pois há
muitos relatos de forte resistência em seu ensino em escolas nos Estados Unidos
(BLUMENTHAL, 2007) e mesmo no Brasil, que enfrentou uma tentativa de retorno ao
ensino do Criacionismo nas escolas estaduais do estado do Rio de Janeiro (MARTINS &
FRANÇA, 2004).
Como não foi solicitado que desenhassem o que julgavam correto, não é possível
afirmar que o aluno que fez um desenho representando o criacionismo de fato acredita nisso.
O mesmo vale para as teorias evolutivas. As figuras 1, 2, e 3 representam desenhos com
conotação criacionista. Como a intenção do trabalho é verificar a compreensão dos conceitos,
mesmo nesses desenhos que não contém necessariamente uma teoria científica, é possível
verificar que os alunos foram além da visão tradicional, pois mencionam o elo perdido, Deus
criando Darwin e a conotação fixista do criacionismo. A figura 3, mostra, de forma humorada,
o motivo para os dinossauros não terem sobrevivido ao dilúvio.
As figuras 4, 5 e 6 representam desenhos relacionados a teoria de Lamarck. A figura 4
representa bem a Lei da Herança dos Caracteres Adquiridos, enquanto que a figura 5
representa bem a Lei do Uso e o do Desuso. A figura 6, em tom humorístico, mostra a
evolução do jeito linear que costuma ser erradamente mostrada. Uma vez que foi associada ao
lamarckismo e não ao darwinismo, é razoável supor que a aluna compreendeu que é uma ideia
incorreta e possivelmente associada à adaptação nos moldes propostos por Lamarck. O
argumento do alongamento do pescoço da girafa (figura 5) apareceu muitas vezes nos
desenhos dos estudantes.
As figuras 7 e 8 são desenhos que se associam ao darwinismo. A figura 7, mostra, com
um bordão que estava em voga em virtude de uma propaganda televisiva, que o aluno entende
que o Darwinismo oferece uma explicação melhor para origem das espécies que o
criacionismo.
6824
Figura 1- Deus criou o homem mas tem a figura do elo perdido.
Fonte: os autores.
Figura 2 - Criacionismo-fixismo. Deus criou os animais e, por isso, eles seriam imutáveis
Fonte: os autores.
6825
Figura 3 - Um dinossauro não consegue entrar na arca de Noé, por isso é extinto.
Fonte: os autores.
Figura 4 - Lamarckismo: uma mãe pintando seu cabelo de vermelho e seu bebê com a mesma característica.
Fonte: os autores
Figura 5 - Lamarckismo: alongamento do pescoço da girafa.
Fonte: os autores
6826
Figura 6 - Evolução sequencial e linear, associada ao Lamarckismo.
Fonte: os autores.
Figura 7 - Desenho contrariando o Criacionismo.
Fonte: os autores.
A figura 8 mostra um “combate” entre Darwin e Lamarck com o primeiro saindo
como vencedor e ambos argumentando em favor de suas teorias.
Mesmo entre os alunos que se declararam darwinistas foi comum encontrar
representações do criacionismo. Isso pode ter ocorrido porque talvez achem mais fácil de
expressar esta teoria de forma humorística ou gráfica.
O uso do material desenhado por Gonsales (2009) apresenta vantagens que vão alem
do confrontar o entendimento que o aluno adquiriu na apresentação do conteúdo e da abertura
da possibilidade de ver o conteúdo por um novo prisma com humor e inteligência.
Inicialmente, foi necessário solicitar a pesquisa prévia de palavras e expressões que não são
comuns para os alunos como: elo perdido, deglutição, objeção, entre outros; o que também é
interessante, pois amplia o vocabulário dos alunos. Além disso, o material levanta a discussão
e facilita o entendimento de alguns conceitos que possivelmente não seriam discutidos
diretamente, como a diferença entre seleção natural e artificial, a variação da descendência e
os aspectos positivos da diversidade. Cada um destes tópicos permite o surgimento de
questionamentos e esclarecimentos que ajudam e tornam a aula mais dinâmica e interessante.
6827
Figura 8 - Briga entre Darwin e Lamarck .
Fonte: os autores
Após as explicações e o desenvolvimento de todas as atividades propostas foi feito o
levantamento de posição dos alunos quanto às teorias evolucionistas. O resultado obtido está
computado na tabela 1.
Um aluno (0,81% do total) não soube se decidir sobre o que acreditava depois de
terminados todos os trabalhos. Como era esperado, apenas 2 alunos (1,61% do total) se
manifestaram a favor da teoria de Lamarck. A teoria puramente Criacionista ainda é
defendida por 20 alunos (16,13% do total) que continuam com sua concepção original.
Tabela 1 – Respostas dos alunos
Categoria
Darwinista
Lamarckista
Turma A
%
56,45
1,61
16,13
Criacionista
7
12
0
1
*Criacionista e Darwinista
1
0
11
19
25
Sem opinião
0
1
0
0
0,81
TOTAL
34
31
27
32
100
Fonte: Dados organizados pelos autores. *A categoria Criacionista/Darwinista foi proposta pelos próprios
alunos.
26
0
Turma B
17
1
Turma C
15
1
Turma D
12
0
Setenta alunos (56,45% do total) declararam convencidos de que a Teoria Darwinista é
a que melhor explica a origem das espécies. Contudo, outros 31 alunos (25% do total)
propuseram
um
hibridismo
não
sugerido
pelos
professores.
A
categoria
darwinista/criacionista, pelo discurso dos alunos, indica que eles aceitam a teoria de Darwin
para a evolução das espécies, mas acreditam que ainda há um criador que tenha sido
6828
responsável pelas primeiras formas de vida, de modo que a Evolução seguiu seu curso a partir
daí. Esse raciocínio é bastante interessante, pois foge da dualidade muitas vezes presente entre
Ciência e Religião. Naturalmente, é possível que isso signifique que não consigam se
desapegar das ideias do Criacionismo, mas se, mesmo assim, não rejeitam as de Darwin
através do raciocínio lógico, é sinal que compreenderam e estão analisando com uma visão
científica.
Considerações finais
Partindo do pressuposto de que a Evolução é uma temática que perpassa todos os
demais conteúdos no ensino das Ciências Naturais, é de suma importância que seja bem
trabalhado nessa faixa etária, estabelecendo um alicerce firme para que o aluno consiga fazer
relações corretas com os demais assuntos da área. Por isso, o objetivo desse trabalho foi
verificar através dos desenhos, a compreensão dos alunos sobre a temática discutida em sala
de aula.
Após a análise dos desenhos, é possível reparar que, de forma geral, o conteúdo foi
bem compreendido. Não há nenhum erro conceitual grave nos desenhos não mostrados aqui,
o que mostra que, independente da crença pessoal dos alunos, as concepções das teorias foram
bem entendidas. É lógico que o estudo de Evolução não se resume ao estudo das teorias
evolutivas, mas essa compreensão inicial é fundamental para os demais conceitos.
As concepções religiosas, que muitas vezes atrapalham a discussão desses temas não
foram um problema. Não houve, por exemplo, nenhum aluno que representasse alguma
entidade divina subjugando ou brigando com os evolucionistas. Contudo, ainda há alunos que,
embora tenham entendido a teoria, continuam se declarando criacionistas, mesmo diante do
fato de o Papa João Paulo II (1996) ter publicado que é aceitável o uso da Ciência para
explicar o surgimento do homem.
Para formar pessoas conscientes e críticas essa discussão é extremamente necessária.
Para isso, gêneros textuais como as histórias em quadrinhos e demais formas de
representações por desenho oferecem uma ferramenta interessante, pois o uso desse tipo de
material fornece uma diversificação metodológica importante para alfabetização científica e
para aprendizagem significativa. Além disso, é importante que os alunos tenham espaço para
formularem suas opiniões, de forma que a representação por parte dos próprios alunos
também se mostra uma fonte interessante de informações para que o professor perceba a real
compreensão dos alunos.
6829
REFERÊNCIAS
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