a performance musical a partir da ecologia sonora

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ACTAS DEL X ENCUENTRO DE CIENCIAS COGNITIVAS DE LA MÚSICA
A PERFORMANCE MUSICAL A PARTIR DA
ECOLOGIA SONORA
ALINE MARQUES SOHN E DANIELI V. L. BENEDETTI
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL
Resumen
El presente artículo, parte de la investigación científica en curso junto a la Universidad
Cruzeiro do SUL, es el relato de una experiencia realizada en el Colegio Adventista de S. Miguel
paulista - educación infantil, basada en la vivencia práctica de la metodología del compositor y
educador musical Murray Schafer. Los paisajes sonoros analizados en el aula, muestran la
cantidad de contaminación acústica existente, a causa de la intensa urbanización alrededor del
barrio de la escuela. La importancia atribuida a la concienciación ambiental, así como la necesidad
de crear lenguajes pedagógicos acesibles al aprendizaje musical en las escuelas, ocasiona el
término Ecologia Acústica, cuya aplicación tiene diversas consecuencias para la formación
académica y musical de los niños.
Abstract
This article, a segment of scientific research in process together the University Cruzeiro
do Sul, is the report of an experience at the Adventist College from Brazil (São Miguel Paulista),
based on practical experience of the methodology of the composer and music educator Murray
Schafer. The landscapes of sound analyzed in class, show the number of pollution existing noise
because to intense urbanization of the neighborhood around the school. The importance given on
environmental awareness and the necessity of create language learn accessible to pedagogical
Music in Schools, brings to the surface the term ‘Sound Ecology’, with diverse consequences for its
application to academic and musical child.
Introdução
A experiência musical através do estudo desta área multidisciplinar, a Ecologia Sonora,
possibilita uma nova visão sobre o aprendizado musical, além de uma conscientização ambiental.
O termo ‘Ecologia Sonora’ e ‘Paisagem Sonora’, surgem em 1960, por meio de
pesquisadores da Simon Fraser University no Canadá. Liderados por Murray Schafer, este grupo de
pesquisa formou o World Soudscape Project (WSP) com a finalidade inicial de estudar o meio
ambiente sonoro. As paisagens sonoras podem ser analisadas a partir do ponto de vista de muitos
pesquisadores, como engenheiros, físicos, arquitetos, músicos, artistas plásticos, sendo muitas as
áreas que abrange esse estudo, cujo objetivo é explorar o ambiente sonoro. A prática de analisar
uma paisagem sonora chama a atenção do músico, para as modificações que estão ocorrendo na
natureza, muitas vezes irreversíveis:
Así pues, estas repentinas inspiraciones del músico, y el nacimiento de las melodías en
él no serian otra cosa que la percepción y la concepción inconsciente, o mejor, inexpresable por el
lenguaje, de la música secreta de la naturaleza, considerada como el principio de la vida o de toda
actividad vital. En este caso ¿no estaría el musico en la misma relación con la naturaleza que el
1
hipnotizador con el sonámbulo? (Schaeffer 1988, p.15)
De acordo com a citação acima, percebe-se a importância que tem para o músico, a sua
relação e absorção das características do meio que o cerca, e principalmente do meio na sua forma
original, ou seja, a natureza. Schaeffer ainda vai mais além, pois para ele, a inspiração para as obras
artísticas do pintor ou do escultor, estão visíveis na natureza e fáceis de encontrar. Mas, para o
músico, em que lugar na natureza se encontra o protótipo de sua arte? O som está em todo lugar, e a
interação e produção dos sons na relação homem/natureza, remonta ao passado de sociedades
arcaicas. A natureza tem um papel significativo na formação humanística e artística do homem.
1
“Assim, essas inspirações súbitas do músico, e do nascimento das canções de que não seria outra coisa senão
a percepção e concepção inconsciente, ou melhor, o inexprimível pela linguagem, a música secreta da natureza,
é considerada como o início de vida ou de qualquer atividade da vida. Neste caso, não estaria o músico na
mesma relação com a natureza que o hipnotizador com sonambulismo?”
Alejandro Pereira Ghiena, Paz Jacquier, Mónica Valles y Mauricio Martínez (Editores) Musicalidad Humana:
Debates actuales en evolución, desarrollo y cognición e implicancias socio-culturales. Actas del X Encuentro de
Ciencias Cognitivas de la Música, pp. 879-882.
© 2011 - Sociedad Argentina para las Ciencias Cognitivas de la Música (SACCoM) - ISBN 978-987-27082-0-7
MARQUES SOHN E BENEDETTI
Com o processo da Revolução Industrial na Inglaterra, na metade do século XVIII, devido ao
uso de novas fontes de energia e máquinas de produção intensa, ocorrem mudanças significativas no
âmbito tecnológico, trazendo modificações ambientais. Uma das características deste processo, é a
acumulação de sons, que a cada instante fornecem novas informações sonoras. Nesse emaranhado
de sons, torna-se impossível ouvir com nitidez os sons separadamente, e portanto saber sua origem.
Os sons produzidos pelo homem excedem o volume de sons produzidos pela natureza. Já não é
possível saber o que deve ser ouvido.
A poluição sonora hoje é um problema mundial. É uma nova paisagem, que soa de forma
diferente da anterior ao desenvolvimento tecnológico. Além de mudanças no ambiente sonoro, cabe
citar as mudanças atmosféricas como o efeito estufa, devido ao lançamento de gases poluentes que
resultam da queima de combustíveis fósseis, como o dióxido de carbono e monóxido de carbono.
A importância atribuída hoje à sustentabilidade e, a obrigatoriedade do Ensino Musical nas
Escolas Públicas no Brasil devido à Lei nº 11.769, possibilita novas características no Ensino Regular
Infantil. A ecologia sonora promete ser uma área promissora que une artes e ciências, sons e
conscientização ambiental. A escola pode fazer uso desta abordagem, ao criar oportunidades de
desenvolvimento da percepção sonora, e favorecer a consciência ambiental, conforme a experiência
relatada. Desenvolvida em Escola de Ensino Regular Infantil, com crianças de 5 a 11 anos, foram
aplicadas atividades de ‘limpeza de ouvidos’, baseadas na bibliografia de um dos pesquisadores
pioneiros no estudo da Ecologia Sonora, Murray Schafer.
Objetivo
Através da prática de exercícios que possibilitem uma nova escuta, tornar possível ao aluno
identificar fontes sonoras desagradáveis ao ouvido e a partir daí, criar meios para a sua eliminação.
Criar possibilidades para um maior comprometimento dos alunos nas aulas de música e, uma
melhora significativa no aprendizado musical, a partir da compreensão da linguagem musical; uma
linguagem mais corporal e rítmica, que pode ser influenciada pelo meio ambiente do entorno. As
crianças são incentivadas a realizar um mapa sonoro, onde é desenhado simbolicamente um
determinado som e depois, montam uma partitura musical com esses símbolos. A prática de inserir
elementos do cotidiano na partitura musical possibilita um aprendizado diferenciado para a criança.
Desenvolvimento
“A importância do ouvido não pode ser superestimada. Uma de suas funções é nos ajudar a
lembrar e a recordar, o que significa não somente que o ouvido tem uma ligação com a memória, mas
também que nos obriga a pensar” (Barenboim 2009, p. 30).
O ouvido é o sentido mais próximo das partes do cérebro que regulam a vida. Partes que
fornecem informações sobre sensações de dor, prazer, motivação e outras emoções básicas. O
pianista argentino Daniel Barenboim afirma que vivemos em uma sociedade baseada, principalmente,
na imagem. Desde o nascimento, a criança é estimulada a utilizar sua visão. Um exemplo, é ao
atravessar a rua. É ensinado que deve-se olhar de ambos os lados para ter certeza da ausência de
carros, mas não necessariamente para escutar o som da aproximação de um veículo. A pouca
atenção dada ao ouvido leva ao futuro empobrecimento do sentido da audição. De fato, isso nos
estimula a ouvir sem escutar.
Afim de que, uma pessoa consiga relatar com a máxima precisão, a impressão que teve
sobre um som que ouviu, a mesma deve empregar o som. Ou seja, a melhor maneira de perceber um
som é projetar práticas regulares pelas quais o ouvinte possa reproduzir exatamente o que ouve.
Essa reprodução é uma conseqüência do programa ‘limpeza de ouvidos’, que tem como
consequência o aumento da percepção auditiva. É necessário duas etapas: impressão e expressão.
A primeira é o conhecimento das propriedades sonoras, e a segunda é a capacidade de reprodução.
Unindo as duas, temos a origem e definição do termo competência sonológica. 2
Esse exercício de reprodução do som, além de trazer fluência vocal, também trabalha a
memória e melhora a qualidade de um relato acústico.
Sensibilização auditiva - Ouvindo e reproduzindo os sons de hoje
Este é o título de um projeto ambiental e artístico que busca propor idéias para o emprego
da Ecologia Sonora, na disciplina Música nas escolas, devido a importância relacionada a este tema
para a eliminação da poluição sonora e, também proporcionar aumento da percepção auditiva,
através de uma nova escuta musical.
2
Termo criado pelo Dr. Otto Laske. (Schaeffer 2001, p. 216)
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A PERFORMANCE MUSICAL A PARTIR DA ECOLOGIA SONORA
O projeto desenvolvido em escolas de ensino infantil da periferia da cidade de São Paulo
teve como principal objetivo, perceber os sons de uma cidade urbanizada, reproduzir e discutir a
influência desses sons na sonoridade de uma paisagem não urbanizada (competência sonológica).
As crianças foram direcionadas a fazer uma ‘limpeza de ouvidos’, através de exercícios
semanais, onde exploraram o ambiente sonoro do local 3. As atividades foram realizadas por vários
pontos da escola, para se descobrir diferentes paisagens sonoras.
Descrição das atividades
•
1.
2.
•
‘Competência Sonológica’
Impressão: Identificação dos sons que formam o meio ambiente. Pode ser os sons da sua
casa, do Parque Ecológico, da rua onde se mora, de uma sala de aula, de um Shopping
Center, etc.
Expressão: A reprodução daquilo que se ouve. O aluno é incentivado a imitar, com sons do
corpo, da boca, instrumentos de percussão ou de altura definida ou instrumentos reciclados,
o som que ouviu; sons do tráfego, animais, chuva, vento, meios de comunicação, entre
outros.
A Partitura da ‘Paisagem Sonora’ (Schafer): O aluno desenha todos os sons que chegam
até ele. De forma que se estiver na cozinha em horário de almoço, sua folha deverá ter
desenhos de pratos, copos, talheres, conversas, geladeira, microondas, liquidificador, água,
etc. O aluno então, deverá atribuir um símbolo para cada tipo de som. Essa primeira etapa
se chama Mapa Sonoro. Em uma segunda etapa, o aluno faz sua própria partitura
estabelecendo quantos segundos deverá levar para reproduzir cada som.
Após a aplicação das atividades, verificou-se resultados satisfatórios quanto ao
desenvolvimento de habilidades das crianças, como: concentração, fluência na fala, desenvolvimento
cognitivo, coordenação motora, aumento da percepção auditiva e, conscientização ambiental.
Conclusão
A percepção do ambiente sonoro e, a improvisação desses sons através de objetos
comuns, ou da expressão corporal, faz o homem refletir na origem dos sons que o cerca, e se estes
estão influenciando positiva ou negativamente o meio onde vive.
Os alunos, após a atividade de ‘limpeza de ouvidos’, aumentaram sua percepção sonora,
descobrindo sons que mesmo sendo vivenciados diariamente, ainda não haviam sido descobertos. A
percepção da poluição sonora se tornou concreta após essa experiência. A facilidade de expressão
musical a partir da reprodução de sons do ambiente, abriu espaço para a criação de novas idéias
quanto ao fazer musical.
“A educação do ouvido talvez seja muito mais importante do que se imagina, não só
para o desenvolvimento de cada indivíduo, mas para o funcionamento da sociedade (...) Talvez o
efeito cumulativo dessas habilidades e capacidades possa formar seres humanos mais aptos a
escutar e a compreender vários pontos de vista de uma só vez, mais capazes de avaliar seu
próprio lugar na sociedade e na história...” (Barenboim 2009, p. 48)
Referências
Barenboim, D. (2003). Paralelos e Paradoxos: Reflexões sobre Música e Sociedade. São Paulo:
Companhia das Letras.
Barenboim, D. (2009). A Música Desperta o Tempo. São Paulo: Martins Fontes.
Capra, F. (2001). A Teia da Vida. São Paulo: Cultrix.
Fonterrada, M. (2004). Musica e Meio Ambiente – Ecologia Sonora. São Paulo: Irmãos Vitale.
Menezes, F. (2004). Acústica Musical em Palavras e Sons. Cotia: Ateliê Editorial.
Schaeffer, P. (1988). Tratado de Los Objetos Musicales. Madrid: Alianza.
Schafer, M. (1991). O Ouvido Pensante. São Paulo: Unesp.
Schafer, M. (2001). A Afinação do Mundo. São Paulo: Unesp.
3
Cada ambiente é uma paisagem sonora, pode ser a escola, a casa, o parque, a rua, a sala de concertos, o
trabalho do pai ou da mãe, um stúdio de gravação, etc...
Actas del X Encuentro de Ciencias Cognitivas de la Música
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MARQUES SOHN E BENEDETTI
Valente, H. (1999). Os Cantos da Voz: Entre o Ruído e o Silêncio. São Paulo: Annablume.
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