INTERAÇÕES ENTRE AVES E PLANTAS ZOOCÓRICAS NA MATA

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO “LATU SENSU”
EM GESTÃO DE RECURSOS NATURAIS
ÉRICA CAMILO RALDI
INTERAÇÕES ENTRE AVES E PLANTAS ZOOCÓRICAS NA MATA
ATLÂNTICA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
CRICIÚMA, MARÇO DE 2009
ÉRICA CAMILO RALDI
INTERAÇÕES ENTRE AVES E PLANTAS ZOOCÓRICAS NA MATA
ATLÂNTICA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Monografia apresentada ao setor de pósgraduação como requisito parcial à obtenção
do título de especialista em Gestão de
Recursos Naturais da Universidade do Extremo
Sul Catarinense – UNESC.
Orientador (a): Profa. Dra. Birgit HarterMarques
CRICIÚMA, MARÇO DE 2009
3
Dedico este trabalho ao meu marido Ângelo e a
minha querida avó Iria, pela paciência e incentivo
em mais esta fase.
4
AGRADECIMENTO
À minha orientadora Profa. Dra. Birgit HarterMarques
pela
oportunidade,
paciência
e
dedicação. Aos amigos Susana, Ricardo e
Márcia
pelo
incentivo,
principalmente pela amizade.
colaboração
e
5
“The most insidious kind of extinction is the
extinction of ecological interactions.”
Daniel H. Janzen (1974)
6
RESUMO
As aves como agentes dispersores têm um importante valor no processo de
reestruturação de ecossistemas e florestas. Assim, o objetivo deste estudo foi reunir
em um único trabalho todas as relações de interação entre aves e plantas
zoocóricas da Mata Atlântica encontradas em uma revisão bibliográfica. Foram
pesquisadas essas relações de mutualismo em várias publicações (artigos, teses,
dissertações, monografias e livros) da região de São Paulo à Rio Grande do Sul e
construídas tabelas que indicam com facilidade quais aves se alimentam de
determinadas plantas. Através da pesquisa foram obtidos registros de 104 espécies
de aves e 67 espécies arbóreas, destas as três aves com maior número de
interações foram: Penelope superciliaris (Cracidae) com 45 espécies de plantas,
Turdus amaurochalinus (Muscicapidae) interagindo com 16 plantas e Turdus
rufiventris (Muscicapidae) com 15 interações. Entre as plantas as três espécies que
se destacaram foram: Cabralea canjerana (Meliaceae) com registro de 39 aves,
Rapanea ferruginea (Myrsinaceae) com 25 espécies de aves e Talauma ovata
(Magnoliaceae) interagindo com 24 aves. Em relação às outras espécies de aves e
plantas registradas o número de interações foi muito baixo, a maioria com apenas 1
registro, pode-se concluir com isso a importância da variedade e riqueza tanto
vegetal quanto animal, para suprir as necessidades individuais de cada espécie.
Além disso, deve-se destacar a importância e carência de estudos que descrevam
maiores números de espécies de aves e plantas e suas relações.
Palavras-chave: Aves; plantas zoocóricas; interação; Mata Atlântica.
.
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Número de interações com aves registradas para as espécies zoocóricas
encontradas nas referências bibliográficas consultadas............................................25
Figura 2 - Número de interações com aves registradas para as espécies zoocóricas
encontradas nas referências bibliográficas consultadas……………………………….35
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Interações entre plantas zoocóricas e aves encontradas na pesquisa de
referências sobre o tema, ordenadas de forma decrescente pelo número total de
interações registradas................................................................................................26
Tabela 2 – Interações entre aves e plantas zoocóricas encontradas na pesquisa de
referências sobre o tema, ordenadas de forma decrescente pelo número total de
interações registradas................................................................................................36
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................10
2 O BIOMA MATA ATLÂNTICA................................................................................13
3
A RELAÇÃO DE MUTUALISMO ENTRE FRUGÍVOROS E PLANTAS
ZOOCÓRICAS...........................................................................................................15
4 AVES DISPERSORAS DE SEMENTES E SUA IMPORTÂNCIA NA MATA
ATLÂNTICA...............................................................................................................17
5
A
IMPORTÂNCIA
DA
AVIFAUNA
EM
PROJETOS
DE
MANEJO
E
RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS.........................................................19
6 JUSTIFICATIVA/OBJETIVO.............. ....................................................................21
7 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ANÁLISE DE DADOS.......................21
8 CONCLUSÃO ........................................................................................................49
REFERÊNCIAS.........................................................................................................52
10
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é um país muito rico, no que diz respeito à biodiversidade. Sua
extensão territorial e, principalmente seus recursos naturais, seu clima, sua
temperatura, entre outros fatores, torna-o um país tropical, o que possibilita a
ocorrência de diversos ecossistemas, com características particulares (MACHADO;
MARTINS; RÓZ, 2007). Desse modo abriga várias espécies, sendo importante sua
conservação.
Em se tratando de avifauna, o país conta com inúmeras espécies, muitas
endêmicas de determinados ecossistemas, como a Mata Atlântica (SICK, 1997).
Segundo Marini e Garcia (2005), a interferência antrópica nos
ecossistemas naturais afetou de maneira agressiva as espécies de aves que neles
habitam. A caça predatória, a introdução de espécies exóticas, o desmatamento, as
queimadas, o aquecimento global, o tráfico de animais silvestres, os desastres
naturais, o processo desenfreado de urbanização, entres outros, culminaram em um
único e não menos importante problema a redução de habitat e alimentos para
essas espécies.
A influência do homem tem causado vários impactos sobre a
biodiversidade, como a perda da variabilidade genética e a alteração do
funcionamento dos ecossistemas (ROOS, 2002).
Conforme Sick (1997) e Marini e Garcia (2005), as aves apresentam altas
taxas de endemismos e uma riqueza expressiva de espécies, todavia o aumento da
quantidade de espécies ameaçadas de extinção explica-se em parte, de muitas
delas dependerem dos fatores ambientais (clima, temperatura...) para sobreviver.
Contudo as aves são consideradas boas bioindicadoras, uma vez que respondem
rápido as alterações do ambiente e por esse motivo podem ser utilizadas para o
monitoramento
das áreas
que
encontram-se
sujeitas
as ações humanas
(MARTERER, 1996).
As respostas das aves aos problemas ambientais são bem diversificadas,
existem aves que aproveitam as alterações ambientais para aumentarem a sua
população, outras, no entanto, ficam sujeitas de entrarem na lista dos animais
ameaçados de extinção (MARINI; GARCIA, 2005).
11
É provável que se esse atual quadro de degradação continuar o número
de espécies ameaçadas irá aumentar de modo significativo, já que a fragmentação
das florestas limita a migração e a colonização das espécies para restabelecimento
das populações no decorrer do tempo (TABARELLI et al., 2005).
Nas florestas tropicais, é possível perceber que existem inúmeras
espécies vegetais que apresentam sementes dispersas pela fauna (HOWE;
SMALLWOOD, 1982 apud FRANCISCO; GALETTI, 2002). Como agentes
dispersores, as aves têm um importante valor no processo de reestruturação de
ecossistemas e florestas, uma vez que carregam as sementes das matas para locais
degradados, promovendo a sua reconstituição (MANHÃES; ASSIS; CASTRO, 2003).
Devido essa interação existente entre aves e as plantas, muitas espécies
da avifauna estão sendo utilizadas em processos de conservação de ecossistemas
(FRANCISCO; GALETTI, 2002)
Diante deste fato, é indispensável o conhecimento dos padrões de
diversidade nos sistemas naturais que produzem e sustentam toda a avifauna.
Entender a relação das aves com os fatores físicos, químicos e biológicos do
ambiente, além da sazonalidade e da importância das espécies envolvidas garantirá
medidas seguras de proteção e manejo para a preservação dos ecossistemas.
Portanto, esse trabalho teve como objetivo estudar especificamente as
aves dispersoras de sementes da vegetação nativa da Mata Atlântica dos estados
de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, reunindo referências de
outros trabalhos e de livros que relatam individualmente determinadas aves
relacionadas com algumas plantas, e destacar a importância deste estudo para
projetos de manejo e recuperação em áreas de Santa Catarina onde a vegetação é
essencialmente formada pelo Bioma Mata Atlântica e as aves dispersoras são
semelhantes às de outros estados brasileiros.
Este estudo encontra-se dividido em capítulos: o Bioma Mata Atlântica,
onde encontra-se um breve histórico sobre esta vegetação e a grande importância
de sua riqueza de espécies arbóreas para a manutenção da vida animal.
No que se trata da relação de mutualismo entre frugívoros e plantas
zoocóricas é evidente a dependência entre esses seres vivos, onde plantas servem
de alimento e as aves dispersam seus propágulos.
Com a crescente degradação do que ainda resta da Mata Atlântica as
12
aves dispersoras apresentam grande importância não só para a manutenção
dessas florestas, como para a recuperação de áreas degradadas, apresentando
uma relação estreita de dependência entre estas aves e o Bioma em questão.
O último capítulo e não menos importante, trata da importância da
avifauna em projetos de manejo e recuperação de áreas degradadas, encontra-se
neste capítulo como as aves podem ser uma alternativa acessível em relação a
custos para manutenção e recuperação de ambientes degradados ou alterados.
Posteriormente além do objetivo deste trabalho, encontram-se os
procedimentos metodológicos e a análise de dados, onde descreve-se os métodos
empregados para a realização da pesquisa e a análise dos resultados para a
construção de duas tabelas.
Na parte que encerra este estudo, encontram-se as conclusões e
comentários sobre os resultados obtidos, além das referências utilizadas.
13
2 O BIOMA MATA ATLÂNTICA
A Mata Atlântica originalmente estendia-se do Rio Grande do Norte ao
Rio Grande do Sul, tratava-se da segunda maior floresta tropical úmida do Brasil, só
comparável à Floresta Amazônica. A Mata Atlântica assume formações que
desenvolvem plantas adaptadas às diferentes regiões brasileiras, com variação de
altitude, temperatura, relevo e umidade (MACHADO; MARTINS; RÓZ, 2007).
o
De acordo com a lei N 11.428, de 22 de dezembro de 2006, art. 2º para os
efeitos desta lei consideram-se integrantes do Bioma Mata Atlântica as
seguintes formações florestais nativas e ecossistemas associados, com as
respectivas delimitações estabelecidas em mapa do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE, conforme regulamento: Floresta Ombrófila
Densa; Floresta Ombrófila Mista, também denominada de Mata de
Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta Estacional Semidecidual; e
Floresta Estacional Decidual, bem como os manguezais, as vegetações de
restingas, campos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do
nordeste.
A história de degradação da floresta atlântica não é algo apenas da
atualidade. Ela sofre influência antrópica desde a chegada dos primeiros
colonizadores, que abriam áreas para a implantação da agricultura e pecuária,
realizavam a extração de madeira e utilizavam a fauna para a alimentação e
confecção de vestimentas (TABARELLI et al., 2005).
Atualmente a maior floresta brasileira dá lugar às grandes cidades, áreas
de pastagens e agricultura. Ainda, segundo Tabarelli et al. (2005), o grande
problema do desmatamento e queimadas dessa floresta é que leva a um rápido
empobrecimento do solo e na redução de alimentos e habitat para os animais.
O quadro se agrava com o avanço da indústria e do comércio, cuja
matéria-prima e energia necessárias à manutenção da produção eram e ainda são
retirados dos nossos ecossistemas.
A onda massiva de industrialização, desenvolvimento econômico e
degradação ambiental que se iniciou no Brasil na década de 1950 tem
resultado, desde a metade da década de 1970, em um levante de
preocupações e ações sobre as questões ambientais, particularmente com
referência a mecanismos eficientes de proteção à biodiversidade.
(TABARELLI et al., 2005; p.135).
Apesar da relevante importância da Mata Atlântica na manutenção dos
ecossistemas e conservação de espécies vegetais e animais, as florestas foram e
estão sendo cada vez mais degradadas. Atualmente restam apenas 5% da sua
14
área de abrangência original, as regiões Sul e Sudeste do Brasil compõem os
estados com maior dominância original do Bioma Mata Atlântica (MACHADO;
MARTINS; RÓZ, 2007).
Nessas regiões, as florestas têm apresentado distribuição fragmentada
em remanescentes que se localizam principalmente na zona costeira da Serra Geral,
preservados somente pelo difícil acesso relacionado à declividade da área
(MACHADO; MARTINS; RÓZ, 2007).
Apesar do vasto desmatamento, a Floresta Atlântica guarda a maior
biodiversidade por hectare entre florestas tropicais, devido a sua distribuição que
abrange condições características de clima e altitude, favorecendo a diversidade de
espécies vegetais e animais (SCHERER; SILVA; BAPTISTA, 2007; MACHADO;
MARTINS; RÓZ, 2007). Há plantas adaptadas aos vários extratos que formam a
floresta, desde bromélias e epífitas a arbustos e grandes árvores, além disso,
apresentam flores e frutos de vários formatos, cores, odores e sabores para atrair a
maior diversidade de polinizadores e dispersores de sementes (SCHERER; SILVA;
BAPTISTA, 2007; MACHADO; ROSA, 2005).
A falta de levantamentos sobre os animais da Mata Atlântica torna a
descrição e o diagnóstico mais difícil do que no caso da vegetação. Apesar da
deficiência de informações para alguns grupos taxonômicos, pesquisas evidenciam
que a diversidade é muito elevada (MARINI; GARCIA, 2005). A fauna da Mata
Atlântica, uma das mais ricas em diversidade de espécies, está entre as cinco
regiões do planeta que possuem o maior número de espécies endêmicas (MARINI;
GARCIA, 2005). Sua fauna está intimamente relacionada com a vegetação,
conforme os motivos vistos anteriormente.
De acordo com Primack e Rodrigues (2001 apud KRIECK, 2006) para a
conservação do que ainda resta das florestas de Mata Atlântica é indispensável o
equilíbrio entre todos os organismos deste ecossistema, sem desconsiderar os
elementos abióticos como a água, vento, clima e temperatura. É notável a relação
de dependência entre os componentes das florestas, principalmente entre a fauna e
a flora (OLIVEIRA, 1998; FRANCISCO; GALETTI, 2002; FADINI; MARCO JUNIOR,
2004). As plantas terrestres vivem a maior parte de suas vidas fixas a um substrato
e por esse motivo desenvolve uma grande dependência aos outros elementos da
natureza para facilitar o seu processo reprodutivo, tanto na fase de trocas de
gametas, polinização, quanto na fase de dispersão de propágulos (OLIVEIRA,
15
1998).
Assim, a conservação e restabelecimento dos fragmentos florestais
garantirão o bom funcionamento do ecossistema e conseqüentemente manterá as
espécies que dele dependem para sobreviver.
3
A RELAÇÃO DE MUTUALISMO ENTRE FRUGÍVOROS E PLANTAS
ZOOCÓRICAS
A relação entre animais e plantas da Mata Atlântica é bastante harmônica.
O fornecimento de alimento a fauna, em troca do auxílio à conservação de uma
espécie vegetal é bastante comum (VAN DER PIJL, 1982 apud FRANCISCO;
GALETTI, 2002). Essa influência mútua existente entre a fauna e a flora, se dá
através de um processo de co-evolução, onde plantas com flores e seus
polinizadores foram adaptando hábitos e necessidades ao longo de milhões de anos
de convívio. (CARVALHAL; RODRIGUES; BERCHEZ, 2008)
Além disso, segundo Howe e Primack (1975); Janzen et al. (1976) e
Augsburger (1984) (apud FDINI; MARCO JUNIOR, 2004), os animais têm uma
importante função na disseminação das sementes de frutos zoocóricos, porque as
retiram dos arredores da planta-mãe, local sujeito a intensa predação, tanto pela
ação de insetos como de mamíferos predadores de sementes, quanto pela
competição com as plantas adultas. Uma vez que esses animais se alimentam da
polpa de frutos desprezando as sementes das plantas zoocóricas (SCHERER;
SILVA; BAPTISTA, 2007). Tal relação pode ser considerada uma forma de
mutualismo, onde ambas as espécies são beneficiadas, os frugívoros obtém sua
nutrição através da polpa do fruto e em troca transportam as sementes dessas
plantas garantindo assim o seu estabelecimento e desenvolvimento em outra área
(VAN DER PIJL (1982 apud FRANCISCO; GALETTI, 2001); JORDANO, (1992 apud
CAZETTA et al., 2002); FRANCISCO; GALETTI, 2002). A ação dos dispersores de
sementes torna-se, portanto essencial tanto para o sucesso individual das plantas
como para a dinâmica das populações e das comunidades vegetais).
As aves se destacam como os frugívoros de maior importância e
16
eficiência na dispersão de propágulos de plantas para a manutenção de
florestas e recuperação de áreas degradadas (ASSUNÇÃO, 2006). Essa
dependência entre animais e plantas confirma a importância do equilíbrio ecológico
entre fauna e flora assim como entre todos os elementos dos ecossistemas.
Conforme Francisco; Galetti (2001); Francisco; Galetti (2002); Scherer;
Silva e Baptista (2007), a dispersão de sementes é uma das principais interações
entre seres vivos, tornando-se essencial para as plantas zoocóricas, pois permitem a
elas a ocupação de novos nichos e a manutenção da espécie. Embora as aves
sejam importantes na dispersão de sementes, a eficiência desse processo não é a
mesma para todas as espécies de aves. (FRANCISCO; GALETTI, 2002).
As plantas cuja dispersão ocorre por meio das aves apresentam algumas
características bastante peculiares, como a produção de frutos adocicados, dotados
de cores vistosas e texturizados, a fim de atrair as aves para uma boa alimentação e
conseqüente dispersão (VAN DER PIJL (1972 apud MANHÃES; ASSIS; CASTRO,
2003); SCHERER; SILVA; BAPTISTA, 2007). O tratamento da semente no bico e
trato digestivo e qualidade de dispersão de sementes am áreas favoráveis tem
grande influência no sucesso reprodutivo de uma planta (HERRERA; JORDANO,
(1981 apud GONDIM, 2001)).
Cabe ressaltar, segundo Pascotto (2007), que as sementes ingeridas
podem não só atravessar o trato digestivo das aves para serem eliminadas pelas
fezes, como também poderão ser regurgitadas pelas mesmas. A regurgitação das
sementes traz benefícios às espécies, uma vez que as sementes são lançadas
intactas ao solo tendo a plena capacidade de germinação, além disso, dispensando
as sementes, as aves tornam-se mais leve facilitando seu deslocamento (vôo)
(MACHADO; ROSA, 2005).
Conforme o mencionado, verifica-se que uma das melhores, se não a
única e mais viável forma de preservar e recuperar nossas florestas e suas relações
é através da interação existente entre animais frugívoros e plantas zoocóricas, uma
vez que são espécies dependentes, no diz respeito à alimentação e reprodução.
Além disso, a recuperação de áreas possibilita a ocorrência de novas espécies e
fornece habitat a fauna, possibilitando a sucessão ecológica e o equilíbrio do
ecossistema.
17
4 AVES DISPERSORAS DE SEMENTES E SUA IMPORTÂNCIA NA MATA
ATLÂNTICA
Dos estudos realizados sobre dispersão de sementes, a maioria relata
apenas eventos de frugivoria analisando uma espécie de ave ou planta. No entanto,
poucos estudos relatam de forma sistemática e abrangente as relações entre grupos
de aves frugívoras dispersoras e plantas (HOWE, 1997; FOSLER, 1987; GALETTI;
STOTZ (1996 apud FRANCISCO; GALETTI, 2002)). É notável a necessidade de
estudos de frugivoria que dêem enfoque a dispersão de sementes dada à
importância deste processo para a sustentação da variedade vegetal nos trópicos,
onde cerca de 90% das espécies arbóreas são dispersas por animais (FADINI;
MARCO JUNIOR, 2004).
Com a fragmentação das florestas há uma diminuição na oferta de
alimentação para a avifauna, que possuem um grande potencial dispersor, o que
além de diminuir a possibilidade de trocas gênicas entre as plantas de fragmentos
florestais ainda gera competição e risco de extinção de espécies tanto vegetais
quanto animais (TABARELLI, 2005). As plantas dependem muito de agentes
polinizadores e dispersores, principalmente animais (JORDANO (1992 apud
CAZETTA et al., 2002)).
As aves têm mostrado maior eficiência na dispersão de sementes pela
sua capacidade de vôo, transportando os propágulos para outras áreas não
vegetadas (FRANCISCO; GALETTI, 2002).
A diminuição e extinção de espécies devido à fragmentação florestal
podem provocar a eliminação de sucessões ecológicas importantes para a
manutenção da diversidade (SANTOS; TELLERIA, 1994; PHILLIPS, 1997; SILVA;
TABARELLI (2000 apud FADINI; MARCO JUNIOR, 2004)). A perda de habitat e as
alterações de qualidade no ecossistema em conseqüência de efeitos de borda
podem causar um processo seletivo de perda de espécies de maior tamanho
corporal ou com maior dependência de grandes áreas de dominância para obtenção
recursos (FADINI; MARCO JUNIOR, 2004).
Dessa forma a permanência dos indivíduos funcionais que possuem
poucas espécies necessitaria, deste modo, receber cuidado prioritário. Contudo,
18
saber quais espécies interagem entre si é um caminho importante para
compreender e promover a conservação não exclusivamente de espécies, mas
igualmente das relações de mutualismos em que participam.
De modo geral, é simples compreender que estudos abrangentes
relatando o consumo de frutos por aves, são úteis porque podem sugerir relações de
dependência ou de oportunismo, servindo de subsídio para um estudo funcional da
comunidade (FADINI; MARCO JUNIOR, 2004).
As florestas tropicais apresentam altas proporções de espécies vegetais
com sementes dispersas por animais. Quando comparada com outras
síndromes de dispersão, a proporção de espécies zoocóricas pode
ultrapassar 90% (Morellato; Leitão- Filho 1992). Como agentes dispersores
de sementes as aves têm um imprescindível valor na regeneração das
florestas. Elas carregam as sementes das matas para as áreas impactadas,
promovendo a sua reconstituição. Pesquisas recentes têm comprovado o
relevante papel exercido pelas aves frugívoras nos processos de dispersão
de muitas plantas, de tal maneira que a dispersão natural de propágulos
tem sido avaliada como fator de importância em recomendações para a
conservação de ecossistemas (MANHÃES; ASSIS & CASTRO, p.173,
2003).
Cabe ressaltar, que as flores polinizadas por aves, também são
adaptadas para atraí-las, geralmente são vistosas, com cores vibrantes e que
produzem néctar (CARVALHAL; RODRIGUES; BERCHEZ, 2008).
Segundo Scherer; Silva e Baptista (2007), a dispersão de sementes por
animais é um processo simbiótico, no qual as plantas têm suas sementes dispersas
enquanto os animais dispersores garantem a sua alimentação. Com esse processo
os dispersores carregam as sementes para longe da planta-mãe diminuindo a
competição e aumentando a chance do estabelecimento de uma nova planta em
outra área (FADINI; MARCO JUNIOR, 2004). As aves destacam-se como
dispersores de sementes. Isso se deve a capacidade de vôo desses animais e assim
abrangem maiores áreas e maior capacidade de freqüentes visitas às variadas
espécies de plantas (OLIVEIRA, 1998). Esses animais são de grande importância
para os projetos de recuperação de áreas degradadas e desmatadas, servindo como
semeadores naturais.
Apesar do extremo valor da avifauna para o Bioma Mata Atlântica, cabe
observar que muitas das espécies de aves encontram-se ameaçadas especialmente
pelo extermínio de habitats, pelo comércio ilegal e pela caça seletiva de várias
espécies (MARINI; GARCIA, 2005).
19
É certo que a avifauna contribui em muito para a reprodução e
manutenção das espécies vegetais, contudo tais espécies também contribuem para
a reprodução das aves, no sentido de fornecer um lugar seguro para a produção de
ninhos e postura de ovos, além da proteção em dias de fortes chuvas e da predação
(HOWE; SMALLWOOD (1982 apud SCHERER; SILVA; BAPTISTA, 2007)).
Algumas espécies apresentam uma relação tão estreita de alimentação e
reprodução que a extinção de uma pode, por conseguinte extinguir a outra,
ocasionando perdas irreparáveis para todo o sistema (FADINI; MARCO JUNIOR,
2004).
5
A
IMPORTÂNCIA
DA
AVIFAUNA
EM
PROJETOS
DE
MANEJO
E
RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS
As florestas brasileiras, em especial a Mata Atlântica, estão perdendo sua
biodiversidade, devido a vários fatores, tais como: a destruição de habitats para a
ocupação humana, lavoura, pastagem e extração de madeira e outros produtos, a
exploração comercial excessiva (como a caça indiscriminada), a poluição e a
introdução de espécies exóticas (que não estavam presentes em um ecossistema)
vêm provocando não só a fragmentação da floresta, como também uma alta taxa de
extinção das espécies, muitas talvez nem descritas.
Com a extinção de uma espécie, perdem-se suas informações genéticas,
sua utilidade. Desaparecem também as chances de se conhecer melhor a natureza.
Além disso, muitas dessas espécies são essenciais ao equilíbrio dos ecossistemas
que sustentam a vida na terra (MARINI; GARCIA, 2005).
Deste modo, estamos perdendo o nosso mais valioso patrimônio natural,
além da extrema exploração das florestas que tem como conseqüência uma perda
da qualidade de vida da população, que sofre com problemas relacionados a
poluição (ar, água, solo...), sem contar que um ecossistema desequilibrado pode
ocasionar inúmeras doenças, antes controladas, pois na falta de habitat ou
alimentos
os
animais
passam
a
conviver
conseqüentemente tornam-se vetores de doenças.
nas
áreas
urbanizadas
e
20
Também deve-se considerar o grande potencial de substâncias
químicas orgânicas com propriedades medicamentosas ou nutritivas existente nas
espécies selvagens, muitas ainda não foram estudadas pelos cientistas.
Pelos motivos apresentados, em toda a parte do mundo, inclusive no
Brasil, estão sendo criados projetos de manejo e recuperação de áreas degradadas
e/ou para conservação e manutenção dos ecossistemas.
Os custos dos projetos de recuperação e reflorestamento de áreas são
muito altos quando feitos pelo próprio homem, ou seja, no sentido de pagar pela
mão-de-obra empregada e pelo preparo de mudas e solo (OLIVEIRA, 1998). As
aves apresentam um grande potencial na recuperação de áreas abertas, através da
dispersão de sementes de espécies de vegetação primárias que se desenvolvem e
geram condições favoráveis de sombreamento, umidade e qualidade do solo ao
aparecimento e estabelecimento de novas espécies vegetais garantindo assim o
processo de sucessão (OLIVEIRA, 1998). Além da importante função de
semeadores naturais algumas aves endêmicas, que somente se desenvolvem, se
alimentam e se reproduzem em determinadas áreas, são elementos importantes na
indicação da qualidade do ambiente, por serem sensíveis às alterações do ambiente
sendo facilmente observáveis nas variações de quantidade e qualidade das
espécies de aves (MARTERER, 1996).
Hoje em dia é comum nos projetos a utilização de poleiros artificiais como
forma de garantir um pouso para as aves e conseqüentemente esperar que as
mesmas depositem as sementes no local, por meio de evacuações, regurgitações
ou mesmo casualmente durante a alimentação (ASSUNÇÃO, 2006). Tendo por
objetivo a germinação dessas sementes na presente área como forma de garantir os
primeiros estágios sucessionais, com isso a instalação de novas comunidades
animais e vegetais, no intuito de recuperar a área através da instalação da
comunidade clímax (REIS et al. (2003 apud ASSUNÇÃO, 2006)).
A utilização de aves nos processos de recuperação e conservação de
áreas da Mata Atlântica garante não só a sucessão gradual e estável das
comunidades animais e vegetais, como também são de baixo custo, pois essas
espécies atuam como polinizadores e semeadores naturais, dispensando, em
determinados momentos, o trabalho humano (HOWE (1984 apud FRANCISCO;
GALETTI, 2001)).
A preservação da Mata Atlântica ainda é viável, porém não basta apenas
21
a criação, aplicação e fiscalização de leis nacionais que visem a segurança de nossa
floresta, a consciência ambiental, deve estar acima da legislação, ou seja, deve
partir de cada um de nós, através do uso racional dos recursos naturais, é na
verdade o que chamamos de desenvolvimento sustentável, isso garantirá a
manutenção das florestas e recursos e uma vida mais saudável, não só a esta
geração, mas principalmente das gerações futuras.
6 JUSTIFICATIVA/OBJETIVO
Existem diversos levantamentos da avifauna e estudos isolados da
frugivoria em espécies de plantas individuais para a Mata Atlântica, no entanto são
publicações específicas que dificultam a compreensão da complexidade dessa
interação entre aves e plantas zoocóricas. Diante da indisponibilidade de estudos
que reúnam dados sobre esta relação de mutualismo entre aves dispersoras de
sementes das espécies arbóreas da Mata Atlântica na região de São Paulo à Rio
Grande do sul, objetivou-se na presente pesquisa reunir informações existentes
sobre tais interações por meio de revisão bibliográfica em estudos publicados e
livros, com o intuito de fornecer em um único trabalho as relações descritas entre
aves frugívoras e plantas zoocóricas neste Bioma, servindo de subsídio para
projetos de recuperação de áreas degradadas.
7 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ANÁLISE DE DADOS
O método científico é forma de pesquisa que transparece credibilidade e
assim instiga os pesquisadores a buscar cada vez mais o conhecimento com
eficiência e utilidade não só para a comunidade científica como também para a
sociedade.
Para a realização de um estudo é necessário o estabelecimento de uma
metodologia a qual deve ser seguida durante todo o desenvolvimento da pesquisa.
22
No presente trabalho encontra-se abordados os estudos feitos sobre a interação
entre fauna e flora, contemplando a relação das aves dispersoras de sementes das
florestas pertencentes à vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica dos estados de
São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O desenvolvimento da
pesquisa deu-se primeiramente pela busca de informações na literatura por meio de
artigos e/ ou periódicos científicos, livros, monografias e dissertações, ressaltando a
não inclusão de informações presentes em resumos de congressos.
A partir dessas referências realizou-se uma catalogação dos dados
publicados, utilizando-se para isto a produção de uma tabela, na qual estão
expressos os seguintes dados: espécies vegetais zoocóricas e as espécies de aves
registradas, alimentando-se dos frutos; e outra tabela com os dados inversos
(espécies de aves e quais as espécies vegetais utilizadas para alimentação).
A nomenclatura das plantas e das aves nas tabelas no presente trabalho
segue a adotada pelos respectivos autores das referências bibliográficas que citam
as interações, sendo que as mesmas não foram atualizadas segundo as novas
regras de nomenclatura (APG II 2003 e CBRO, 2007, respectivamente).
Mediante a produção das tabelas e reunião das referências sobre o
assunto foi possível destacar quais as espécies-chave de plantas na alimentação de
grande parte das aves dispersoras de sementes. Assim este estudo contribui
fortemente na facilitação e eficiência de dados para a elaboração e desenvolvimento
de projetos de manejo e recuperação de áreas degradadas e desmatadas.
Nesse contexto, entende-se que a pesquisa realizada foi qualiquantitativa,
pois pesquisou-se não só a importância das plantas para as aves mas também
quantas aves se alimentam de determinadas plantas e vice-versa.
Com a análise das referências consultadas obteve-se dados para a
construção de duas tabelas que serão analisadas e discutidas nos parágrafos que
seguem.
Nas referências consultadas para este estudo, foram encontrados
registros de 104 espécies de aves em 67 espécies zoocóricas (Tab. 1). Entre as
espécies vegetais destacaram-se três no que diz respeito ao número de espécies de
aves registradas: Cabralea canjerana (Meliaceae) com registro de 39 diferentes
espécies de aves, Rapanea ferruginea (Myrsinaceae), freqüentadas por 25 de
espécies e Talauma ovata (Magnoliaceae) na qual foram observadas, no total, 24
espécies de aves se alimentaram dos frutos (Tab. 1).
23
Segundo LORENZI (2002), Cabralea canjerana (Meliaceae) é uma planta
que mede de 20 a 30 metros de altura, com folhas compostas e frutos que se
apresentam em forma de cápsula globosa com 3-5 sementes grandes. Sua
distribuição vai de MG, MS até o RS, na mata pluvial da encosta Atlântica, floresta
semidecídua de altitude.
Esta
espécie
apresenta-se
como
uma
planta
decídua,
heliófita,
encontrada em quase todas as formações vegetais, apesar de ser mais comum na
floresta primária, pode ser encontrada também como planta pioneira e secundária
nas capoeiras e capoeirões, tem preferência por solos argilosos e úmidos de
encostas, sendo rara em terrenos secos (FERREIRA; PIZO, 1994).
Floresce em mais de uma época do ano, porém com maior intensidade
em setembro-outubro, junto com o surgimento das novas folhas. Os frutos, em
conseqüência, também amadurecem em mais de uma época, predominando os
meses de agosto-novembro (LORENZI, 2002)
Com o arilo suculento que envolve a semente Cabralea canjerana se
torna uma preferência de várias espécies de pássaros, confirmando sua inclusão
importante e indispensável na composição de reflorestamentos heterogêneos em
áreas destinadas à restauração ou à preservação permanente.
Rapanea ferruginea (Myrcinaceae) é uma árvore perenifólia, heliófila,
higrófila e pioneira, característica de formações secundárias, como capoeiras e
capoeirões, mas prefere encostas e beiras de córregos. Em determinado estágio da
sucessão secundária da encosta atlântica, a canela-azeitona chega a ser espécie
predominante (LORENZI, 2002). Ocorre em todo o país, em quase todas as
formações vegetais, sendo particularmente freqüente na floresta pluvial da encosta
atlântica. Floresce duas vezes ao ano, podendo a mesma estar com flores e frutos
maduros na mesma árvore. Os frutos são pequenos, globosos e de coloração negroarroxeada quando maduros, possuindo uma única semente e um pericarpo delgado
(LORENZI, 2002).
Segundo Pinisch (1990), espécies desse gênero representam uma
considerável fonte alimentar para variadas espécies de aves. Este elevado consumo
de diásporos de Rapanea ferruginea pode se dar tanto pela fartura de frutos, que
são pequenos e envoltos por um delgado pericarpo, como por estarem localizados
nas extremidades dos galhos, desprovidos de folhas facilitando para as aves que
24
coletam rapidamente. O que pode determinar números para o consumo de
diásporos não é a abundância de uma dada espécie de ave, mas um conjunto de
outros fatores, como a preferência alimentar das aves e a oferta de outros
alimentares na estação (PASCOTTO, 2007). R. ferruginea oferece frutos por um
longo período durante o ano, diminuindo a competição entre as aves e aumentando
a possibilidade de dispersão de suas sementes por maior abundância de espécies
de aves, especialistas ou não (PASCOTTO, 2007).
Espécies arbóreas de sucessão secundária, como a Rapanea ferruginea
estão adaptadas a preencher lacunas como, por exemplo, em clareiras e bordas,
produzindo grandes quantidades de frutos com pequenas sementes, aumentando
suas possibilidades de fixação e desenvolvimento em áreas abertas disponíveis,
comumente, de ambientes em fases iniciais e intermediárias de sucessão
(FRANCISCO; GALETTI, 2001). Portanto é uma espécie de grande importância em
desenvolvimento de projetos de recuperação de áreas degradadas.
Conforme
Lorenzi
(2002),
Talauma
ovata
é
uma
planta
com
aproximadamente 20 a 30 m de altura, que ocorre do Sul de minas Gerais até o
Norte do Rio Grande do Sul, sendo particularmente comum na mata pluvial Atlântica
e em ambientes de cerrado associadas às matas de galeria ou brejosos. Floresce a
partir do final de outubro, prolongando-se até dezembro. A maturação dos frutos
ocorre durante os meses de agosto-setembro. Os frutos são deiscentes, e quando
abertos expõem as sementes que se encontram envoltas por um arilo vermelho
(LORENZI, 2002). Apesar de que a espécie produzir poucos frutos, num único fruto
ela disponibiliza muitos diásporos que, possivelmente, são ricos em lipídios, assim
como os frutos de diversas espécies da família Meliaceae (CAZETTA et al., 2002).
Além disso, ainda segundo estes autores, o elevado número de espécies de aves
que consomem os frutos desta planta mantém sua dispersão garantida até em áreas
onde os frugívoros especialistas já tenham se tornados extintos, estabelece uma
importante fonte alimentar para as aves.
Constitui uma das espécies mais importantes em áreas permanentemente
alagadas por ser tolerante a esta condição, e apresenta alta capacidade de
recrutamento, tornando-se um importante elemento de projetos de reflorestamento
de matas ciliares (LORENZI, 2002).
Conforme Cazetta et al. (2002) perceberem em seu estudo, o fato de T.
ovata ter sido eficientemente dispersa nos diferentes tipos fitofisionômicos e mesmo
25
em áreas fragmentadas, vem sugerir que essa espécie é provavelmente pouco
afetada pela redução da diversidade de aves em ambientes alterados pelo homem.
Este fato se dá, possivelmente, pelo fenômeno da evolução para um sistema de
dispersão generalista, no qual pequenos diásporos com produção em abundância,
se disponibilizam para uma grande variedade de aves, permitindo a distribuição
desta espécie em ambientes diversificados.
Em relação às demais 64 das 67 espécies zoocóricas observou-se que
77% possuem menos do que dez registros de espécies de aves e aproximadamente
60% possuem registro de apenas uma espécie de ave encontrada na literatura
consultada (Fig. 1), mostrando que existe uma grande lacuna no conhecimento
sobre as interações das plantas zoocóricas e as aves consumidoras de seus frutos
Número de espécies vegetais
para a maioria das espécies vegetais da Mata Atlântica.
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
1a4
5a9
10 a
14
15 a
19
20 a
24
25 a
29
30 a
34
35 a
39
Número de interações
Fig. 1: Número de interações com aves registradas para as espécies zoocóricas encontradas nas
referências bibliográficas consultadas..
26
Tabela 1. Interações entre plantas zoocóricas e aves, encontradas na pesquisa de referências sobre o tema, ordenadas de forma decrescente pelo
número total de interações registradas.
Espécie de Aves
N° de
Interações
Espécie de Planta
Família
01-10
11-20
21-30
31-40
41-50
51-60
61-70
71-80
81-90
91-105
Cabralea canjerana
(Vell.)Mart.
Meliaceae
03-0405-0809
111314-15
24-29
37-40
41-4244-4548-49
53-5860
62-6364
71-7374-76
87-88
91-92-9496-97-99100-102
39
10
17-18
24-2526-29
41-4346-48
61-62
72-7880
8286-87
95-96-9799-100103
25
23-2425-2930
43-4547-4849
62-70
75-7980
86-90
95-96-9799-100101-103
24
Rapanea ferruginea (Ruiz &
Pav.) Mez
Myrcinaceae
Talauma ovata (St. Hil)
Magnoliaceae
Euterpe edulis (Mart.)
Arecaceae
05-0607
11-12
Nectandra megapotamica
(Spreng.) Mez
Lauraceae
02
13
Alchornea glandulosa
(Poepp.)
Euphorbiaceae
Pera glabrata (Schott)
Poepp.
Euphorbiaceae
Ocotea pulchella (Mart.)
Lauraceae
Trichilia catingua (C. DC.)
Meliaceae
10
Trichilia clausenii (C. DC.)
Meliaceae
01
48
52-5758-59
64-6566-6769
71-76
87
93-94-97
22
41-4648
54-5758
62-67
73
81-87
92-94-9597-99100-103
21
43-4648-50
55-58
62
80
82-86
20
22-2429
45-47
51-56
61-70
80
86
94-95-9699-100103
95-96103-104
26-29
62
75
86
70
80
868789-90
73-7980
8486-90
39
29
24-29
1416-18
38
13
24-30
34-40
43-4748-49
48
14
24-2629
32-33
48
58
19
94-95-9697-99-100
97-99
15
92-103
15
15
27
Continuação...
Espécie de Planta
Família
Espécie de ave
01-10
11-20
Copaifera langsdorffii (A.
Juss.)
Caesalpiniaceae
Davilla rugosa (Poir.)
Dilleniaceae
01
Miconia rubiginosa (Bonpl.)
DC.
Melastomataceae
Trichilia pallida (Sw.)
Meliaceae
Trema micrantha (L.) Blume
Ulmaceae
31-40
26-28
43-4749
24-29
46-48
26
48
51-55
36-3840
58
20
21-2426-2729
31
58
13-14
01
51-60
24
21
Trichilia elegans (A. Juss)
Meliaceae
41-50
13-19
Fícus organensis (Miq.)
Moraceae
Rapanea lancifolia (A.DC.)
Mez
Myrsinaceae
21-30
26
18
32-36
61-70
71-80
81-90
91-105
N° de
Interações
62
75-7780
86
95-96-97
13
75-80
86
96-9899-102
12
80
86
95-9697-99
11
79
83
96-104
11
82-86
95
11
94-9597-104
10
62
43
62
73
85-86
45
70
73
89-90
80
86
41-48
51
Cytharexyllum myrianthum
(Cham.)
Verbenaceae
26-29
43-49
62
Peschiera fuschsiaefolia
(Miers.)
Apocynaceae
21-24
43
62
80
84-86
10
96-99103
10
95-96-99
08
96
08
28
Continuação...
Espécie de Planta
Família
Espécie de ave
0110
11-20
21-30
Vitex megapotamica (Spreng.)
Lamiaceae
31-40
41-50
51-60
35
Cecropia pachystachia (Trec.)
Cecropiaceae
24-26
Schinus terebinthifolius
(Raddi)
Anacardiaceae
24-27
61-70
71-80
62
31
58
81-90
91-105
86
94-9597-99
86
05
05
103
04
95-97
04
97
03
94-95
03
Myrciaria cuspidata (O. Berg.)
Myrtaceae
95-97100
03
Eugenia hiemalis (Cambess.)
Myrtaceae
97
01
Erythroxylum argentinum
(O.E. Schulz)
Erythroxylaceae
95
01
Eugenia uruguayensis
(Cambess)
Myrtaceae
26
58
14
Opuntia monacantha (Willd.)
Haw.
Cactaceae
73
62
Myrcia palustris (DC.)
Myrtaceae
Guapira opposita (Vell.)
Nyctaginaceae
86
07
96
Solanum inodorum (Vell.)
Solanaceae
43
N° de
Interações
62
21
43
86
01
29
Continuação...
Espécie de Planta
Família
Espécies de aves
01-10
11-20
21-30
31-40
41-50
51-60
61-70
71-80
81-90
91-105
N° de
Interações
Annona cacans (Warm.)
Annonaceae
Dendropanax cuneatum
(DC.)
Araliaceae
58
01
58
01
Dydimopanax morototoni
(Aubl.), Dcne. et Planch
Araliaceae
58
01
Syagrus romanzoffiana
(Cham.)
Arecaceae
58
01
Cordia axillaris (I. M. Johnst)
Boraginaceae
58
01
Cordia ecalyculata (Vell.)
Boraginaceae
58
01
Pereskia aculeata (Mill.)
Cactaceae
58
01
Holocalyx balansae (Mich.)
Caesalpiniaceae
58
01
Cecropia glaziouii (Sneth.)
Cecropiaceae
58
01
Davilla elíptica (St. Hil.)
Dilleniaceae
58
01
Endlicheria paniculata
(Spreng.)
Lauraceae
58
01
30
Continuação...
Espécie de Planta
Família
Espécies de aves
01-10
11-20
21-30
31-40
41-50
51-60
61-70
71-80
81-90
91-105
N° de
Interações
Ocotea dyospyrifolia
(Meissn.) Mez.
Lauraceae
Miconia collatata (Wurdack)
Melastomataceae
58
01
58
01
Miconia discolor (DC.)
Melastomataceae
Miconia pusilliflora (Beurl.)
Melastomataceae
58
01
58
01
Guarea kunthiana (A. Juss.)
Meliaceae
58
01
Fícus guaranítica (Chodat.)
Moraceae
58
01
Fícus insípida (Willd.)
Moraceae
58
01
Maclura tictoria (L.) D. Don.
Steud.
Moraceae
58
01
Morus nigra (L.)
Moraceae
58
01
Sorocea bonplandii (Baill.)
Burg. Lanj. & Bóer.)
Moraceae
58
01
Camponesia xanthocarpa
(Berg.)
Moraceae
58
01
31
Continuação...
Espécie de Planta
Família
Espécies de aves
01-10
11-20
21-30
31-40
41-50
51-60
61-70
71-80
81-90
91-105
N° de
Interações
Eugenia florida (D.C.)
Myrtaceae
58
01
Prunus selowii (Koehne)
Rosaceae
Geophila macropoda (Ruiz
& Pav.) DC.
Rubiaceae
58
01
58
01
Geophila repens (L.) I.M.
Johnst.
Rubiaceae
58
01
Palicourea macrobotrys
(Ruiz & Pav.) DC.
Rubiaceae
58
01
Psychotria carthagenensis
(Jacq.)
Rubiaceae
58
01
Psychotria leiocarpa (Cham.
& Schltdl.)
Rubiaceae
58
01
Allophyllus edulis (St. Hill.)
Radik
Sapindaceae
58
01
Chrysophyllum gonocarpum
(Mart. & Eichler) Engl.
Sapotaceae
58
01
32
Continuação...
Espécie de Planta
Família
01-10
11-20
21-30
31-40
Espécies de aves
41-50
51-60
61-70
71-80
81-90
91-105
N° de
Interações
Cestrum amictum (Schltdl.)
Solaceae
58
01
Solanum australe (C.V.
Morton)
Solaceae
58
01
Citharexylum solanaceum
(Cham.)
Verbenaceae
58
01
Alchornea triplinervia
(Spreng.) Müll. Arg.
Euphorbiaceae
58
01
Ocotea silvestris (Vatt.)
Lauraceae
58
01
1. Antilophia galeata (Lichtenstein, 1823); 2. Aratinga leucophthalmus (Müller, 1776); 3. Attila phoenicurus (Pelzeln, 1868); 4. Attila rufus (Vieillot, 1819);
5. Baillonius bailloni (Vieillot, 1819); 6. Baryphthengus ruficapillus (Vieillot, 1818); 7. Brotogeris tirica (Gmelin, 1788); 8. Cacicus chrysopteus (Vigors,
1825); 9. Cacicus haemorrhous (Linnaeus, 1766); 10. Camptostoma obsoletum (Temminck, 1824); 11. Carpornis cucullata (Swainson, 1821); 12.
Celeus flavescens (Gmelin, 1788); 13. Chiroxiphia caudata (Shaw, 1793); 14. Ciclaris gujanensis (Gmelin, 1789); 15. Cissopis leveriana (Gmelin, 1788);
16. Coereba flaveola (Linnaeus, 1758); 17. Colaptes campestris (Vieillot, 1818); 18. Colaptes melanochloros (Gmelin,1788); 19. Columba cayanensis;
20. Columbina talpacoti (Temminck, 1811); 21. Coryphospingus cucullatus (Muller, 1776); 22. Cyanocorax chrysops (Vieillot, 1818); 23. Cyanocorax
cristalellus (Temminck, 1823); 24. Dacnis cayana (Linnaeus,1766); 25. Dryocopus lineatus (Linnaeus, 1766); 26. Elaenia flavogaster (Thumberg,
1822); 27. Elaenia mesoleuca (Deppe, 1830); 28. Elaenia obscura (d’ Orbigny e Lafresnaye, 1837); 29. Empidonomus varius (Vieillot, 1818); 30.
Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766); 31. Forpus xanthopterygius (Spix, 1824); 32. Habia rubica (Vieillot, 1817); 33. Hemithraupis ruficapilla
(Vieillot1818); 34. Hylophilus amaurocephalus (Nordmann, 1835); 35. Icterus cayanensis (Linnaeus, 1766); 36. Knipolegus cyanirostris (Vieillot, 1818);
37. Legatus leucophaius (Vieillot, 1818); 38. Leptotila rufaxilla; 39. Lipaugus lanioides (Lesson, 1844); 40. Manacus manacus (Linnaeus,1766); 41.
Megarhynchus pitangua (Linnaeus, 1766); 42. Melanerpes flavifrons (Vieillot, 1818); 43. Mimus saturninus (Lichtenstein,1823); 44. Mionectes rufiventris
33
(Cabanis, 1846); 45. Myiarchus ferox (Gmelin, 1789); 46. Myiarchus swainsoni (Cabanis e Heine,1859); 47. Myiarchus tyrannulus (Statius Muller,1776);
48. Myiodinastes maculatus (Muller, 1776); 49. Myiozetetes similis (Spix, 1825); 50. Myozetetes cayanensis (Linnaeus, 1766); 51. Nemosia pileata
(Boddaert, 1783); 52. Orthogonys chloricterus; 53. Oxyruncus cristatus (Swainson, 1821); 54. Pachyramphus polychopteru (Vieillot, 1818); 55.
Pachyramphus validus (Vieillot, 1816); 56. Parula pitiayumi (Vieillot, 1817); 57. Penelope obscura (Temminck, 1815); 58. Penelope superciliaris
(Temminck, 1815); 59. Pipile jacutinga; 60. Pipraeidea melanonota (Vieillot, 1819); 61. Piranga flava (Spix, 1825); 62. Pitangus sulphuratus
(Linnaeus,1766); 63. Pitylus fuliginosus; 64. Platycichla flavipes (Vieillot, 1818); 65. Procnias nudicollis; 66. Pyroderus scutatus (Shaw, 1792); 67.
Pyrrhura frontalis (Vieillot,1818); 68. Ramphastos dicolorus (Linnaeus, 1766); 69. Ramphastos vitellinus (Lichtenstein, 1823); 70. Ramphocelus carbo
(Hellmayr, 1920); 71. Ramphocelus dicolorus; 72. Saltator atricollis (Vieillot, 1817); 73. Saltator similis (d’Orbighy e Lefresnye, 1837); 74. Schiffornis
virescens (Lafresnaye, 1838); 75. Schistochlamys ruficapillus (Vieillot, 1817); 76. Selenidera maculirostris (Lichtenstein, 1823); 77. Serpophaga
subcristata (Vieillot, 1817); 78. Sirystes sibilator (Vieillot, 1819); 79. Tachyphonus coronatus (Vieillot, 1822); 80. Tangara cayana (Linnaeus 1766); 81.
Tangara preciosa (Cabanis, 1850); 82. Tersina viridis (Llliger, 1811); 83. Thamnophilus doliatus (Linnaeus, 1764); 84. Thlypopsis sordida (d'
Orbigny &
Lafresnaye, 1837); 85. Thraupis bonariensis (Gmelin, 1789); 86. Thraupis sayaca (Linnaeus, 1766); 87. Tityra cayana (Linnaeus, 1766); 88. Tityra
inquisitor (Lichtenstein, 1823); 89. Tolmomyias sulphurescens (Spix, 1825); 90. Trichothraupis melanops (Vieillot, 1818); 91. Trogon rufus; 92. Trogon
surrucura (Vieillot, 1817); 93. Trogon viridis (Vieillot1817); 94. Turdus albicollis (Vieillot, 1818); 95. Turdus amaurochalinus (Cabanis, 1850); 96. Turdus
leucomelas (Vieillot,1818); 97. Turdus rufiventris (Vieillot,1818); 98. Turdus subalaris (Seebohm, 1887); 99. Tyrannus melancholicus (Vieillot, 1819);
100. Tyrannus savana (Linnaeus, 1766) 101. Veniliornis passerinus (Linnaeus, 1766); 102. Vireo chivi (Hellmayr e Seilern, 1913); 103. Vireo olivaceus
(Linnaeus, 1766); 104. Zonotrichia capensis (Statius Muller,1776)
.
34
Com relação às espécies de aves e suas interações com espécies
zoocóricas registradas na revisão bibliográfica, destacam-se Penelope superciliaris
(Cracidae) que interagiu com 45 espécies de plantas, Turdus amaurochalinus
(Muscicapidae) que foi registrada em 16 espécies e Turdus rufiventris (Turdidae) que
foi observada se alimentando de frutos de 15 espécies arbóreas (Tab. 2).
Penelope superciliaris (Cracidae) possui ampla distribuição geográfica
entre os Cracidae, do sul dos rios Amazonas e Madeira, pelo Brasil Central,
Nordeste e Brasil Merídio-oriental, até o Paraguai e Rio Grande do Sul. Habita em
matas, capoeiras, cerrados e caatingas, chegando a medir até 55cm de
comprimento (MIKICH, 2002).
Possui uma barbela nua e vermelha, mais proeminente no macho, um
topete rudimentar, asas com largas bordas ferrugíneas bem distintas, peito com
desenho esbranquiçado e íris vermelha em ambos os sexos (SICK, 1997).
Esta espécie apresenta preferência por áreas florestadas e possui uma
grande variedade alimentar, como frutas, sementes, folhas, brotos, insetos e
pequenos animais. Apresenta forte apreciação ao fruto do palmiteiro (MIKICH,
2002).
Segundo Mikich (2002), quando passam pelo tubo digestivo dessas aves
pode-se constatar que as sementes dessas plantas apresentam altas taxas de
germinação o que indica que P. superciliaris pode ser considerada potencial
dispersora desta espécie de planta.
Além disso, deve-se destacar a importância desta ave devido ao seu
tamanho corporal tanto ao fato de carregar um lastro relativamente grande e
depositar estas sementes em outras áreas, quanto ao fato de se alimentaram de
frutos
com
grandes
sementes
e,
assim,
garantindo
a
disseminação
e
estabelecimento dessas plantas em outras áreas, evitando a extinção (OLIVEIRA,
1998).
Em escala de interação entre as aves e plantas nas próximas colocações
se encontram as espécies do gênero Turdus, com T. amaurochalinus e T. rufiventris.
Estas aves habitam florestas, matas abertas, capoeiras, cercas-vivas, áreas urbanas
arborizadas. Nas florestas são encontradas com mais frequência no extrato médio e
no chão, alimentando-se de várias espécies de frutos carnosos, gostam de laranjas
pelo suco desse fruto e se alimentam de alguns insetos, moluscos e minhocas. As
espécies deste gênero medem aproximadamente 25cm. Sua distribuição se estende
35
do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, em estados litorâneos e tem sua
concentração, principalmente, no sudeste do Brasil (SICK, 1997).
Em estudos realizados sobre interações mutualísticas entre espécies
arbóreas e aves frugívoras como em Francisco e Galetti (2002) e Scherer; Silva e
Baptista (2007), mostram que representantes do gênero Turdus aparecem entre as
mais importantes para a dispersão de sementes, confirmando as primeiras
colocações, das espécies desse gênero, na escala de interações que são apontadas
neste trabalho.
Observou-se com a análise dos dados que das outras 101 espécies de
aves, 80% possuem menos do que cinco registros de interação com espécies de
plantas e aproximadamente 16% das aves apresentam de cinco a quatorze
registros de interações com as plantas encontradas na literatura consultada (Fig. 2).
Número de espécies de aves
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1a 4
5a9
10 a
14
15 a
19
20 a
24
25 a
29
30 a
34
35 a
39
40 a
45
Número de interações
Fig. 2: Número de interações com aves registradas para as espécies zoocóricas encontradas nas
referências bibliográficas consultadas.
.
36
Tabela 2. Interações entre aves e plantas zoocóricas encontradas na pesquisa de referências sobre o tema, ordenadas de forma decrescente pelo
número total de interações registradas.
Espécie de ave
Família
01-10
11-20
21-30
Penelope superciliaris
(Temminck, 1815)
Cracidae
01-0203-0405-0607-0809-10
2225262729-30
Thraupis sayaca (Linnaeus,
1766)
Emberizidae
01-08
111314161819-20
12-17
Turdus amaurochalinus
(Cabanis, 1850)
Muscicapidae
01
12-15
2124-28
Turdus rufiventris
(Vieillot,1818)
Muscicapidae
05
12
232425-28
01-05
1215-17
01-05
12-15
01-0508
17
01-05
15-17
01-05
17
Turdus leucomelas
(Vieillot,1818)
Muscicapidae
Pitangus sulphuratus
(Linnaeus,1766)
Tyrannidae
Dacnis cayana
(Linnaeus,1766)
Emberizidae
Tyrannus
melancholicus(Vieillot, 1819)
Tyrannidae
Myiodinastes maculatus
(Muller, 1776)
Tyrannidae
28
24-28
25
Espécie de Plantas
31-40 41-50
51-60
61-70
71-80
81-90
91-100
N° de
Interações
42-4345-4749
51-5253-5758-5960
62-6366
45
44-4850
54-5556
61-6263-6467
18
31-38
41-4244-48
54
61-6267
16
38-40
41-4244
54
61-6367
15
38
44-4850
54-5556
61-66
14
38-40
42-4450
54
61-67
14
48-50
54-56
61-6263-6466
13
38
42-44
54-55
61-6367
12
38
42-44
54-55
61-6364
12
323334353637-39
38-40
37
Continuação...
Espécie de ave
Família
01-10
11-20
21-30
Espécie de Plantas
31-40
41-50
51-60
61-70
Pitangus sulphuratus
(Linnaeus,1766)
Tyrannidae
01-05
12-15
24-28
38-40
Dacnis cayana
(Linnaeus,1766)
Emberizidae
01-0508
17
Tyrannus
melancholicus(Vieillot,
1819)
Tyrannidae
01-05
15-17
Myiodinastes maculatus
(Muller, 1776)
Tyrannidae
01-05
17
01
12-17
01-05
15-17
Elaenia flavogaster
(Thumberg, 1822)
Tyrannidae
08
12-15
Mimus saturninus
(Lichtenstein,1823)
Mimidae
01
12-15
Vireo olivaceus
(Linnaeus, 1766)
Vireonidae
01
Tangara cayana
(Linnaeus 1766)
Emberizidae
Empidonomus varius
(Vieillot, 1818)
Tyrannidae
25
81-90
91-100
42-4450
54
61-67
14
48-50
54-56
61-6263-6466
13
38
42-44
54-55
61-6367
12
38
42-44
54-55
61-63
64
12
38
48-50
54-55
61-6364
11
42-4448
54
61-6264
11
44
54-58
62-6465
10
44-4650
54-56
61
10
42-48
5455-58
61-64
08
38
28
71-80
N° de
Interações
38
Continuação...
Espécie de ave
Família
01-10
Turdus albicollis (Vieillot,
1818)
Muscicapidae
Tyrannus savana
(Linnaeus, 1766)
Tyrannidae
Saltator similis (d’Orbighy
e Lefresnye, 1837)
Emberizidae
Chiroxiphia caudata
(Shaw, 1793)
Pipridae
Cyclaris gujanensis
(Gmelin, 1789)
Vireonidae
01-05
Myiozetetes similis (Spix,
05
Tyrannidae
Tityra cayana (Linnaeus,
1766)
Tyrannidae
05
1825)
Trichothraupis melanops
(Vieillot, 1818)
Thraupidae
Coryphospingus
cucullatus (Muller, 1776)
Emberizidae
Megarhynchus pitangua
(Linnaeus, 1766)
Tyrannidae
11-20
21-30
25-28
Espécie de Plantas
31-40
41-50
51-60
61-70
31
01-05
05
28
05
05
24
12-15
25
28
05
42-44
81-90
91-100
67
08
41-4244
54
61
07
42
58
64-65
06
42
63-6566
05
48
64-65
05
44
61
05
63
05
61-6364-65
04
62
04
42
31
71-80
N° de
Interações
54
50
42
54-55
04
39
Continuação...
Espécie de ave
Família
Myiarchus ferox (Gmelin,
1789)
Tyrannidae
Myiarchus swainsoni
(Cabanis e Heine,1859)
Tyrannidae
Myiarchus tyrannulus
(Statius Muller,1776)
Tyrannidae
Schistochlamys
ruficapillus (Vieillot, 1817)
Thraupidae
Ramphocelus carbo
(Hellmayr, 1920)
Emberizidae
Trogon surrucura (Vieillot,
1817)
Trogonidae
Colaptes melanochloros
(Gmelin,1788)
Picidae
Tachyphonus coronatus
(Vieillot, 1822)
Emberizidae
Tersina viridis (Llliger,
1811)
Emberizidae
Zonotrichia capensis
(Statius Muller,1776)
Emberizidae
Espécie de Plantas
01-10
11-20
21-30
05
01
31-40
41-50
51-60
48
61-70
61-65
81-90
91-100
04
17
42
12
44-48
61
04
12-17
44
61
04
48
61-6365
04
42
64
03
05
48
01
54
71-80
N° de
Interações
54-55
54
28
48
04
03
61-6466
03
62
03
66
03
40
Continuação...
Espécie de ave
Família
Espécie de Plantas
01-10
21-30
31-40
17
Antilophia galeata
(Lichtenstein, 1823)
Pipridae
Manacus manacus
(Linnaeus,1766)
Pipridae
11-20
41-50
51-60
48
55
05
61-70
38
48
81-90
91-100
03
63-66
Nemosia pileata
(Boddaert, 1783)
71-80
N° de
Interações
55
03
03
Thraupidae
Thlypopsis órdida
(d’Orbigny & Lafresnaye,
1837)
50
64
02
63-65
02
Thraupidae
Tolmomyias
sulphurescens (Spix,
1825)
Tyrannidae
Camptostoma obsoletum
(Temminck, 1824)
Tyrannidae
01
Carpornis cucullata
(Swainson, 1821)
Cotingidae
05
25
02
Selenidera maculirostris
05
25
02
05
25
02
(Lichtenstein, 1823)
54
02
Ramphastidae
Platycichla flavipes
(Vieillot, 1818)
Muscicapidae
41
Continuação...
Espécie de ave
Família
Pyrrhura frontalis
(Vieillot,1818)
Psittacidae
Vireo chivi (Hellmayr e
Seilern, 1913)
Vireonidae
Baillonius bailloni (Vieillot,
1819)
Ramphastidae
Habia rubica (Vieillot,
01-10
11-20
21-30
Espécie de Plantas
31-40
41-50
51-60
61-70
25
05
05
42
17
25
02
(Vieillot, 1818)
Tyrannidae
91-100
02
Emberizidae
Knipolegus cyanirostris
(Deppe, 1830)
81-90
02
1817)
Tyrannidae
Pachyrampus validus
(Vieillot, 1816)
Tyrannidae
Penelope obscura
(Temminck, 1815)
Cracidae
Piranga flava (Spix,
1825)
Emberizidae
Dryocopus lineatus
(Linnaeus, 1766)
Picidae
Elaenia mesoleuca
71-80
N° de
Interações
01
64-65
02
65-66
02
38
25
02
42
48
02
54
02
54
61
02
56
62
02
42
Continuação...
Espécie de ave
Família
01-10
11-20
21-30
Espécie de Plantas
31-40
41-50
51-60
61-70
Euphonia chlorotica
(Linnaeus, 1766)
Emberizidae
Forpus xanthopterygius
08
71-80
81-90
91-100
N° de
Interações
61-63
02
62
02
(Spix, 1824)
Psittacidae
Baillonius bailloni (Vieillot,
1819)
Ramphastidae
05
25
02
Habia rubica (Vieillot,
64-65
02
65-66
02
1817)
Emberizidae
Knipolegus cyanirostris
(Vieillot, 1818)
Tyrannidae
Pachyrampus validus
(Vieillot, 1816)
Tyrannidae
Penelope obscura
(Temminck, 1815)
Cracidae
Piranga flava (Spix,
1825)
Emberizidae
01
38
25
02
42
48
02
54
02
Dryocopus lineatus
(Linnaeus, 1766)
Picidae
54
61
02
Elaenia mesoleuca
56
62
02
(Deppe, 1830)
Tyrannidae
43
Continuação...
Espécie de ave
Família
Euphonia chlorotica
(Linnaeus, 1766)
Emberizidae
Forpus xanthopterygius
(Spix, 1824)
Psittacidae
Thraupis bonariensis
(Gmelin, 1789)
Emberizidae
Tityra inquisitor
(Lichtenstein, 1823)
Tityridae
Trogon rufus (Gmelin,
1788)
Trogonidae
Trogon viridis
(Vieillot1817)
Trogonidae
Celeus flavescens
(Gmelin, 1788)
Picidae
Cissopis leverianus
(Gmelin, 1788)
Thraupidae
Coereba flaveola
(Linnaeus, 1758)
Emberizidae
Colaptes campestris
(Vieillot, 1818)
Picidae
01-10
11-20
21-30
Espécie de Plantas
31-40
41-50
51-60
61-70
08
28
71-80
81-90
91-100
N° de
Interações
61-63
02
62
02
01
05
01
05
01
25
01
25
01
05
01
48
01
54
01
44
Continuação...
Espécie de ave
Família
Columba cayenensis
Bonaterre, 1792
Columbidae
Columbina talpacoti
(Temminck, 1811)
Columbidae
Hemithraupis ruficapilla
(Vieillot1818)
Thraupidae
Hylophilus
amaurocephalus
(Nordmann, 1835)
Vireonidae
Icterus cayanensis
(Linnaeus, 1766)
Icteridae
Legatus leucophaius
(Vieillot, 1818)
Tyrannidae
Lipaugus lanioides
(Lesson, 1844)
Cotingidae
Orthogonys chloricterus
(Vieillot, 1819)
Thraupídae
Oxyruncus cristatus
(Swainson, 1821)
Tityridae
Pachyrampus
polychopterus (Vieillot,
1818)
Tyrannidae
01-10
11-20
21-30
Espécie de Plantas
31-40
41-50
51-60
61-70
05
71-80
81-90
91-100
N° de
Interações
66
01
62
01
64
01
63
01
67
01
01
25
01
25
01
05
01
42
01
45
Continuação...
Espécie de ave
Família
Parula pitiayumi (Vieillot,
1817)
Parulidae
Pipile jacutinga (SPIX,
1988)
Cracidae
Pipraeidea melanota
(Vieillot, 1819)
Emberizidae
Turdus subalaris
(Seebohm, 1887)
Turdidae
Veniliornis passerinus
(Linnaeus, 1766)
Picidae
Aratinga leucophthalmus
(Müller, 1776)
Psittacidae
Attila phoenicurus
(Pelzeln, 1868)
Tyrannidae
Attila rufus (Vieillot, 1819)
Tyrannidae
Baryphthengus
ruficapillus (Vieillot, 1818)
Momotidae
Brotogeris tirica (Gmelin,
1788)
Psittacidae
01-10
11-20
21-30
Espécie de Plantas
31-40
41-50
51-60
61-70
48
71-80
81-90
91-100
N° de
Interações
01
25
01
05
01
17
01
61
42
01
01
05
01
05
01
25
01
25
01
46
Continuação...
Espécie de ave
Família
Cacicus chrysopteus
(Vigors, 1825)
Icteridae
Cacicus haemorrhous
(Linnaeus, 1766)
Icteridae
Schiffornis virescens
(Lafresnaye, 1838)
Pipridae
Serpophaga subcristata
(Vieillot, 1817)
Tyrannidae
Sirystes sibilator (Vieillot,
1819)
Tyrannidae
Tangara preciosa
(Cabanis, 1850)
Emberizidae
Thamnophilus doliatus
(Linnaeus, 1764)
Formicariidae
Pitylus fuliginosus
(Daudin, 1800)
Fringillidae
Procnias nudicollis
(Vieillot, 1817)
Cotingidae
Pyroderus scutatus
(Shaw, 1792)
Cotingidae
01-10
11-20
21-30
Espécie de Plantas
31-40
41-50
51-60
61-70
71-80
81-90
91-100
N° de
Interações
05
01
05
01
05
01
12
01
54
01
42
01
66
05
01
01
25
01
25
01
47
Continuação...
Espécie de ave
Família
Ramphastos dsicolorus
(Linnaeus, 1766)
Ramphastidae
Ramphastos vitellinus
(Lichtenstein, 1823)
Ramphastidae
Saltator atricollis (Vieillot,
1817)
Emberizidae
Melanerpes flavifrons
(Vieillot, 1818)
Picidae
Mionectes rufiventris
(Cabanis, 1846)
Tyrannidae
Myiozetetes cayanensis
(Linnaeus, 1766)
Tyrannidae
Cyanocorax chrysops
(Vieillot, 1818)
Corvidae
Cyanocorax cristalellus
(Temminck, 1823)
Corvidae
Elaenia obscura (d'
Orbigny & Lafresnaye,
1837)
Tyrannidae
01-10
11-20
21-30
Espécie de Plantas
31-40
41-50
51-60
61-70
71-80
81-90
91-100
N° de
Interações
25
01
25
01
54
01
05
01
05
01
01
01
48
01
61
12
01
01
48
1. Alchornea glandulosa (Poepp.); 2. Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll. Arg.; 3. Allophyllus edulis (St. Hill.) Radik; 4. Annona cacans (Warm.); 5.
Cabralea canjerana (Vell.)Mart.; 6. Campomanesia xanthocarpa (Berg.); 7. Cecropia glaziouii (Sneth.); 8. Cecropia pachystachia (Trec.); 9. Cestrum
amictum (Schltdl.); 10. Chrysophyllum gonocarpum (Mart. & Eichler) Engl.; 11. Citharexylum solanaceum (Cham.); 12. Copaifera langsdorffii (A. Juss.);
13. Cordia axillaris (I. M. Johnst); 14. Cordia ecalyculata (Vell.); 15. Cytharexyllum myrianthum (Cham.); 16. Davilla elíptica (St. Hil.); 17. Davilla rugosa
(Poir.); 18. Dendropanax cuneatum (DC.); 19. Dydimopanax morototoni (Aubl.), Dcne. et Planch; 20. Endlicheria paniculata (Spreng.); 21. Erythroxylum
argentinum (O.E. Schulz); 22. Eugenia florida (D.C.); 23. Eugenia hiemalis (Cambess.); 24. Eugenia uruguayensis (Cambess); 25. Euterpe edulis
(Mart.); 26. Ficus guaranítica (Chodat.); 27. Ficus insipida (Willd.); 28. Ficus organensis (Miq.); 29. Geophila macropoda (Ruiz & Pav.) DC.; 30.
Geophila repens (L.) I.M. Johnst.; 31. Guapira opposita (Vell.); 32. Guarea kunthiana (A. Juss.); 33. Holocalyx balansae (Mich.); 34. Maclura tinctoria
(L.) D. Don. Steud.; 35. Miconia collatata (Wurdack); 36. Miconia discolor (DC.); 37. Miconia pusilliflora (Beurl.); 38. Miconia rubiginosa (Bonpl.) DC.;
39. Morus nigra (L.); 40. Myrcia palustris (DC.); 41. Myrciaria cuspidata (O. Berg.); 42. Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez; 43. Ocotea
dyospyrifolia (Meissn.) Mez.; 44. Ocotea pulchella (Mart.); 45. Ocotea silvestris (Vatt.); 46. Opuntia monacantha (Willd.) Haw.; 47. Palicourea
macrobotrys (Ruiz & Pav.) DC.; 48. Pera glabrata (Schott) Poepp.; 49. Pereskia aculeata (Mill.); 50. Peschiera fuchsiaefolia (Miers.); 51. Prunus sellowii
(Koehne); 52. Psychotria carthagenensis (Jacq.); 53. Psychotria leiocarpa (Cham. & Schltdl.); 54. Rapanea ferruginea (Ruiz & Pav.) Mez; 55. Rapanea
lancifolia (A.DC.) Mez; 56. Schinus terebinthifolius (Raddi); 57. Solanum australe (C.V. Morton); 58. Solanum inodorum (Vell.); 59. Sorocea bonplandii
(Baill.) Burg. Lanj. & Bóer.); 60. Syagrus romanzoffiana (Cham.); 61. Talauma ovata(St. Hil); 62. Trema micrantha (L.) Blume; 63. Trichilia catingua (C.
DC.); 64. Trichilia clausenii (C. DC.); 65. Trichilia elegans (A. Juss); 66. Trichilia pallida (Sw.); 67. Vitex megapotamica (Spreng.).
49
8 CONCLUSÃO
Por meio desse trabalho, obtiveram-se dados referentes à riqueza e à
diversidade das aves que se alimentam dos frutos da vegetação do Bioma Mata
Atlântica. A partir desses dados, geraram-se subsídios para projetos de manejo e
recomposição da flora e fauna de áreas degradadas, principalmente para a região
em que se trata este estudo.
Os dados demonstram que a manutenção de espécies-chave, de aves e
plantas, é muito eficiente para aceleração do processo de recuperação ambiental,
visto que as copas das árvores, seus frutos e também os poleiros artificiais, atraem
agentes
dispersores
de
sementes,
gerando
condições
à
germinação
e
estabelecimento de novas comunidades vegetais, garantindo a manutenção e
conseqüente conservação, não só do ecossistema como também de seus recursos
naturais.
As aves têm o maior número de espécies frugívoras dos neotrópicos,
possuindo famílias altamente dependentes de frutos (eg. Cotingidae,
Cracidae) e outras menos dependentes (eg. Emberezidae, Tyrannidae).
Isso resulta num padrão assimétrico das interações ave-planta, segundo o
qual poucas aves interagem com muitas plantas enquanto poucas plantas
interagem com muitas aves (Jordano, 1987). Portanto, a assimetria de
interações e a dependência entre espécies de aves e plantas devem ser
consideradas elementos essenciais para determinar a estabilidade dessas
comunidades (FADINI; MARCO JUNIOR, p.97, 2004).
Analisando os resultados obtidos entre as interações, pode-se perceber
um considerável número de espécies tanto de aves, quanto de plantas, que se
relacionam com poucas espécies para se alimentarem ou servirem de alimento, do
que grandes números de interações. Com isso, deve-se levar em conta a
importância da variedade e riqueza de espécies tanto animais quanto vegetais na
manutenção dos ecossistemas, uma vez que a maioria necessita especificamente
de alguns indivíduos para se alimentar e estes para dispersarem seus propágulos.
Além disso, observa-se uma lacuna a ser preenchida em relação à falta
de estudos que identifiquem as relações entre as plantas e seus dispersores,
principalmente na região em que se trata este estudo, o que dificulta a seleção das
espécies a serem implantadas em projetos de recuperação e manejo de áreas
degradadas.
50
A recuperação destas áreas se apresenta agora como um desafio, sendo
necessário encontrar formas de acelerar ou incrementar a sucessão ecológica.
Considerando-se a extensão da área a ser recuperada, estas formas ou modelos de
recuperação deverão ser triviais e de fácil aplicação, a inclusão de espécies
arbóreas que atraiam a fauna, principalmente as aves.
Quando implantados pelo próprio ser humano, os custos de um programa
de revegetação são muito altos. Existe, portanto, interesse em desenvolver
técnicas de recuperação de áreas degradadas que se utilizem dos
processos naturais de recrutamento e sucessão. Desta forma pode-se
perceber como é necessário o entendimento da interação entre aves, os
frutos que elas comem e as sementes que dispersam: além de ser
interessante do ponto de vista da ecologia como ciência pura, o estudo da
dispersão por aves pode resultar em mecanismos muito mais eficientes e
econômicos de proteger a fertilidade da terra e a água adequada para o
consumo humano (OLIVEIRA, p.19, 1998).
Considerando que em florestas tropicais, os principais vetores de
sementes são vertebrados frugívoros e que estes são importantes para o avanço da
regeneração natural, a presença de uma floresta conservada em áreas vizinhas às
áreas que devem ser recuperadas, servindo como fonte de propágulos, é de
extrema importância para garantir o sucesso e aceleração do processo de
recuperação (KRIECK et al., 2006).
Analisando a necessidade de se conhecer as espécies animais e vegetais
individualmente e suas relações mutualísticas, pôde-se constatar na busca de
estudos realizados e publicados desta relação que, ainda é um campo pouco
explorado, considerando a sua importância para que se possa compreender e
recuperar o equilíbrio ecológico.
Com o conhecimento de quais aves se alimentam das plantas da Mata
Atlântica e quais plantas servem de alimento e são dispersas por esses animais há
uma maior facilidade e eficiência na elaboração e desenvolvimento de projetos de
manejo e recuperação de áreas desmatadas desta formação vegetal em qualquer
região do Brasil.
Nos últimos 20 anos, muitas instituições e profissionais adotaram linhas de
pesquisa que abordam diretamente as questões sobre a conservação e a
comunidade ornitológica e conservacionista promoveu os meios para
estudar, planejar e tomar uma atitude ativa para conservar a rica e
crescentemente ameaçada avifauna brasileira. Nós sabemos quais as
espécies estão ameaçadas, quais são as principais ameaças e onde elas
devem ser preservadas. Contudo, faltam informações sobre as novas
espécies e sobre a biologia das espécies descritas tanto recentemente
quanto anteriormente. As pesquisas e as medidas de conservação ainda
estão desigualmente distribuídas entre as regiões e espécies, e as
ameaças não estão diminuindo. (MARINI; GARCIA, p. 100. 2005).
51
Para proteger a biodiversidade é preciso preservar o ambiente natural das
espécies nativas. Nesse sentido, é fundamental criar e manter unidades de
conservação, como parques nacionais e reservas biológicas. É preciso também
combater a biopirataria, ou seja, o envio ilegal de plantas e animais para o exterior
para extração e pesquisa de medicamentos, cosméticos e outros produtos.
Apesar de o número e a grandeza das iniciativas de conservação terem
crescido consideravelmente nos últimos anos, elas ainda são poucas para garantir a
preservação e continuidade da biodiversidade da Mata Atlântica. Controle,
fiscalização e consciência formam a base necessária de qualquer estratégia de
conservação.
Conservar,
preservar
e
reconstruir
nosso
patrimônio
natural
é
fundamental, não só para preservar nossa biodiversidade e nossos recursos
naturais, como também para garantir o bom funcionamento dos sistemas ecológicos
e conseqüentemente melhorar a qualidade de vida da população.
52
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