17 Workshop de Plantas Medicinais do Mato Grosso do Sul/7º Empório da Agricultura Familiar PPM Produção de mudas de alfavaca-cravo e erva-cidreira, por estaquia, em diferentes substratos 1 2 2 3, Cristina Batista de Lima *, Tamiris Tonderys Villela , Ana Claudia Boaventura , Henrique Hiroshi Maeda 3 Juliana Zambon Holzmann 1 Universidade Estadual do Norte do Paraná, Campus Luiz Meneghel (UENP/CLM), Centro de Ciências 2 Agrárias, C.P. 261, CEP 86360-000, Bandeirantes (PR), Discentes do Programa de Mestrado em 3 Agronomia (UENP/CLM) Discente do curso de graduação (UENP/CLM), 1 2 3 4 [email protected] ; [email protected] ; [email protected] ; [email protected] ; 5 [email protected] . RESUMO A busca por recursos terapêuticos naturais se justifica pela insatisfação com os resultados da medicina convencional, dessa forma tem-se feito o uso de plantas medicinais como a alfavaca-cravo (Ocimum gratissimum L.) e a erva-cidreira (Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson) para a produção de fitoterápicos. Neste caso, faz-se necessária a produção de matéria-prima em larga escala, sustentada em estudos agronômicos, que apontem a melhor relação custo-benefício, considerando-se produtividade e qualidade da planta. Neste contexto o objetivo do presente estudo foi verificar o efeito de três substratos na produção de mudas, por estaquia, de alfavaca-cravo e erva-cidreira. Foram utilizados os substratos comercial da marca Caroliina® e 2 produzidos na fazenda escola da UENP/CLM com materiais de baixo custo e fácil acesso na região. As estacas de erva-cidreira foram confeccionadas com a porção basal dos ramos sem folhas com 20 cm de comprimento e as de alfavaca-cravo com a parte mediana dos ramos sem folhas com 25 cm de comprimento, 4 a 7 gemas e 3 a 6 gramas, ambas com a porção inferior cortada em bisel. Aos 35 dias após o estaqueamento foram avaliadas as características: enraizamento (%), número de folhas e brotos, altura da parte aérea (cm), comprimento da maior raiz (cm) e massas das matérias fresca e seca (g). Apesar das médias significativamente menores nas características comprimento da maior raiz (alfavaca-cravo), e altura da parte aérea (erva-cidreira) os substratos apresentaram desempenho semelhante nas demais características, inclusive nas massas das matérias frescas e secas. Sendo assim, tanto os substratos preparados na UENP/CLM quanto o comercial Carolina®, podem ser utilizados na estaquia de alfavaca-cravo e erva-cidreira. As estacas de alfavaca-cravo necessitam de um período superior a trinta e cinco dias para produção de mudas Palavras-chave: plantas medicinais, propagação vegetativa, enraizamento. INTRODUÇÃO A procura por drogas vegetais como recurso terapêutico se justifica pela insatisfação com os resultados da medicina convencional, efeitos colaterais indesejáveis, custo elevado dos medicamentos sintéticos, consciência ecológica e crença popular de que o natural é inofensivo. A alfavaca-cravo (Ocimum gratissimum L.) produz metabólitos secundários utilizados na medicina, indústria e agricultura (JORGE et al., 2006). A erva-cidreira (Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson) apresenta uma série de estudos pré-clínicos evidenciando várias das atividades relacionadas ao seu uso popular. Entretanto, para a produção de um fitoterápico a partir de plantas medicinais, faz-se necessária a produção de matéria-prima em larga escala, sustentada em estudos agronômicos, que apontem a melhor relação 2 custo-benefício, considerando-se produtividade e qualidade da planta (HEINZMANN e BARROS, 2007). Por serem espécies de fácil hibridação, a estaquia é uma alternativa para a multiplicação dos genótipos de interesse, com a vantagem de manter as características da planta matriz, além da uniformidade das populações e facilidade de propagação. As plantas oriundas desse método superaram os períodos críticos de germinação, emergência e crescimento inicial, estando aptas a garantir o estabelecimento de cultivos uniformes. O enraizamento em estacas é influenciado pelo substrato, cujos componentes devem estar em proporções equilibradas. A constituição do solo argiloso leva a deficiência em aeração capaz de restringir o crescimento das raízes e o desenvolvimento das mudas (KÄMPF, 2008), portanto, o substrato apropriado deve apresentar características ideais por longo período, decompor lentamente e estar disponível com preço acessível. Apesar do caráter rústico e das pesquisas com distintos substratos na propagação vegetativa de Ocimum gratissimum (EHLERT et al., 2004) e Lippia alba (BIASI e COSTA, 2003), não apontarem diferenças significativas no enraizamento das estacas, Lima et al., (2013) concluíram que, tipos e volumes de substratos empregados na estaquia dessas plantas, podem incrementar resultados e aperfeiçoar a qualidade final das mudas. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi verificar o efeito de três substratos na produção de mudas, por estaquia, de alfavaca-cravo e erva-cidreira. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado nos meses de outubro e novembro de 2013, com estacas preparadas a partir de ramos retirados de plantas matrizes de alfavaca-cravo e ervacidreira, existentes na coleção de plantas medicinais do Campus Luiz Meneghel da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP/CLM), Bandeirantes/PR. A identificação botânica das plantas matrizes foi efetuada pelos técnicos do Museu Botânico de Curitiba/PR, com base em material herborizado, que após a identificação foi incorporado à coleção do Centro de Educação e Pesquisa Ambiental da UENP/CLM, sob o número de registro 434 (alfavaca-cravo) e 534 (erva-cidreira). Após a coleta, realizada pela manhã, as estacas de erva-cidreira foram confeccionadas com a porção basal dos ramos sem folhas, medindo 20 cm de comprimento (BIASI e COSTA, 2003) e as estacas de alfavaca-cravo com a parte mediana dos ramos sem folhas com 25 cm de comprimento (EHLERT et al., 2004) 4 a 7 gemas e 3 a 6 gramas, ambas com a porção inferior cortada em bisel. 3 As estacas foram plantadas em recipientes transparentes de polietileno com 500 mL de capacidade, previamente preenchidos com os substratos descritos na Tabela 1. O vermicomposto foi produzido na fazenda escola da UENP/CLM. O solo de barranco (subsolo no mínimo 60 cm de profundidade) apresentou textura argilosa: 69,8% de argila, 21,9% de areia e 8,3% de silte. A areia é a comercialmente conhecida como ‘areia média’. A torta de filtro (subproduto da indústria canavieira resultante da purificação do caldo sulfitado) foi adquirida na empresa USIBAN. A determinação da textura do solo foi efetuada no Laboratório de Análise de Solos da UENP/CLM. A classificação do solo predominante no município de Bandeirantes é latossolo vermelho eutroférrico típico (EMBRAPA, 2006). O Substrato Comercial foi o da marca Carolina®. Tabela 1. Materiais e proporções volumétricas dos dois substratos preparados na UENP/CLM, e características químicas dos três substratos utilizados na estaquia de alfavaca-cravo e erva-cidreira. UENP/CLM, Bandeirantes, 2015. Substrato 1 2 Vermicomposto 2 2 1 2 Comercial pH CaCl2 6,5 6,2 5,5 MO g.kg-1 24,2 24,2 25,3 Solo de barranco Areia Torta de Filtro 4 2 0 4 2 8 Características químicas P K Ca Mg H+Al SB CTC V mg.dm-³ ----------------------cmolc dm-³ ------------% 89,8 1,6 9,4 4,2 2,8 15,2 18,0 84,7 153,2 1,4 7,4 2,4 3,6 11,2 14,8 75,7 94,3 0,6 5,7 1,8 3,2 8,1 11,4 71,4 Os recipientes foram mantidos em casa de vegetação modelo arco e irrigados diariamente conforme a necessidade. A temperatura média foi de 23,7 ºC e a umidade relativa 45,9% durante o período do experimento. Aos 35 dias após o estaqueamento foram avaliadas as características: enraizamento (%), número de folhas e brotos, altura da parte aérea (cm), comprimento da maior raiz (cm) e massas das matérias fresca e seca (g). Para determinação das massas da matéria seca o material vegetal fresco foi acondicionado em saco de papel, separado individualmente por estaca, e secos em estufa com circulação forçada de ar a 60 °C, até atingir peso constante. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, individualmente por planta estudada, com 4 repetições contendo 8 estacas cada. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias agrupadas pelo teste de Scott-Knott (P<0,05). 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Em alfavaca-cravo o enraizamento foi de 100% nos três substratos. Em erva-cidreira, o enraizamento foi de 100% nos substratos 1 e 2 (preparados na UENP/CLM), e 93,8% no substrato comercial. Esses resultados se justificam pelo caráter rústico que ambas as espécies apresentam, e corroboram com a constatação citada por Sousa et al., (2005) e Ehlert et al., (2004) para alfavaca-cravo e Biasi e Costa (2003) e Lima et al., (2015) para erva-cidreira. Todavia, Purcino et al., (2012) verificaram 30% de mortalidade em estacas medianas de alfavaca-cravo, creditando esse resultado apenas a ausência de folhas. O presente estudo evidencia que estacas de alfavaca-cravo, medianas e sem folhas enraízam satisfatoriamente, desde que, se atente ao tamanho da estaca e volume do recipiente. O desenvolvimento das mudas variou conforme a espécie, e nesse contexto, as estacas de erva-cidreira se sobressaíram, produzindo mudas visualmente maiores, no mesmo período de tempo (Figura 1). Tal constatação pode ser comprovada, pela diferença entre as médias da altura da parte aérea, das mudas de cada planta estudada (Tabela 2). Conforme Lima et al., (2015) as mudas de erva-cidreira apresentaram qualidade satisfatória aos trinta dias, quando demonstram maior valor na relação entre as massas da matéria seca do sistema radicular e da parte aérea. Alfavaca-cravo Erva-cidreira Figura 1. Mudas de alfavaca-cravo e erva-cidreira nos substratos preparados na UENP/CLM (1, 2) e comercial (3), aos trinta e cinco dias após a estaquia. UENP/CLM, Bandeirantes, 2015. 5 Apesar das médias significativamente menores nas características comprimento da maior raiz (alfavaca-cravo), e altura da parte aérea (erva-cidreira) os substratos apresentaram desempenho semelhante nas demais características, inclusive nas massas das matérias frescas e secas (Tabela 2). Sendo assim, tanto os substratos preparados na UENP/CLM, com materiais de baixo custo e fácil acesso na região, quanto o comercial Carolina®, podem ser utilizados na estaquia de alfavaca-cravo e erva-cidreira. As estacas de alfavaca-cravo necessitam de um período superior a trinta e cinco dias para produção de mudas. Tabela 2. Médias percentuais do número de folhas (FL) e brotos (BR), altura da parte aérea (APA), comprimento da maior raiz (CMR), massas das matérias frescas (MMF) e secas (MMS) de mudas de alfavaca-cravo e erva-cidreira, a partir da estaquia, em três diferentes substratos. UENP/CLM, Bandeirantes, 2015. Substrato 1 2 Comercial CV (%) FL 30,31 a1 31,09 a 31,37 a 7,3 BR 5,25 a 5,43 a 5,15 a 15,7 1 2 Comercial CV (%) 20,75 a 23,75 a 21,50 a 17,2 3,25 a 3,75 a 3,50 a 15,1 Alfavaca-cravo APA (cm) CMR (cm) 3,40 a 17,28 b 4,03 a 18,34 b 3,73 a 20,58 a 17,6 7,1 Erva-cidreira 20,96 a 20,54 a 21,58 a 20,07 a 17,14 b 18,85 a 11,6 13,6 MMF (g) 5,8800 a 6,4542 a 6,1534 a 6,9 MMS (g) 2,7714 a 2,9533 a 2,9065 a 6,8 10,3253 a 10,9656 a 9,8115 a 13,7 2,6832 a 2,7643 a 2,6686 a 11,2 1 Médias seguidas por mesma letra na coluna não diferem entre si a 5%, pelo teste ScottKnott; CV= coeficiente de variação. AGRADECIMENTOS Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná, pela concessão das bolsas aos discentes. REFERÊNCIAS BIASI, L. A.; COSTA, G. Propagação vegetativa de Lippia alba. Ciência Rural, v. 33, n.3, p.455-459, 2003. 6 EHLERT, P. A. D.; LUZ, J. M. Q. and INNECCO, R. Propagação vegetativa da alfavacacravo utilizando diferentes tipos de estacas e substratos. Horticultura Brasileira, v.22, n.1, p. 10-13, 2004. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2. ed. Rio de Janeiro. 2006.306p. HEINZMANN, B. M.; BARROS, F. M. C. Potencial das plantas nativas brasileiras para o desenvolvimento de fitomedicamentos tendo como exemplo Lippia alba (MILL.) N. E. BROWN (Verbenaceae). Revista Saúde, v. 33, n.1, p. 43-48, 2007. JORGE, M. H. A.; EMERY, F. S.; SILVA, A. M. Enraizamento de estacas de alfavaca (Ocimum gratissimum L.). Corumbá: Embrapa Pantanal, 2006. 3p. (Comunicado técnico 56). KÄMPF, A.N. Materiais regionais como alternativa ao substrato. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE SUBSTRATOS PARA PLANTAS - Materiais Regionais como substrato, 6, 2008, Fortaleza. Anais eletrônicos. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, SEBRAE /CE e UFC, 2008. LIMA, C. B.; BOAVENTURA, A. C.; GOMES, M. M. Cuttings of Lippia alba with emphasis on time for seedling formation, substrates and plant growth regulators. Horticultura Brasileira, v. 33, p. 230-235, 2015. LIMA, C. B.; BOAVENTURA, A. C.; JORGE, A. P. Substratos, recipientes e concentrações de fertilizante orgânico na estaquia de Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson, Ocimum gratissimum L. e Mikania laevigata Sch. Bip. Científica (Jaboticabal. Online), v. 41, p. 199-208, 2013. PURCINO, M.; MACHADO, M. P.; BIASI, L. A. Efeito das folhas no enraizamento de estacas de alfavaca-cravo e alfavaca-anis. 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