4ºDomingo do Tempo Comum - Ano A

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ESTILO DE VIDA ALEGRE E FELIZ
Georgino Rocha
O sermão das bem-aventuranças abre os ensinamentos de Jesus sobre a novidade que
vem anunciar, o reino de Deus. Constitui uma espécie de iniciação ao estilo de vida
feliz e alegre que os discípulos são convidados a apreciar e a transmitir, a cultivar e a
celebrar. Faz a “ponte” entre o modo de agir de Deus e as apirações mais genuínas do
coração humano. Ponte que Jesus evidencia em opções claras e atitudes coerentes.
Nele, o humano é tão singular que irradia o divino que o habita. Nele, cada bemaventurança tem a marca do seu rosto e ritmo do seu coração. Nele, brilha com
admirável naturalidade o reino de Deus, o pulsar do amor que se faz serviço de
misericórdia.
Mateus, o evangelista narrador, compõe o seu discurso com sentenças colhidas em
várias passagens bíblicas e dá-lhes um colorido entusiasta e assertivo, uma energia
suplementar para quem tem de enfrentar e assumir situações contrastantes e de risco.
De facto, “o mundo” vai por outro caminho, distancia-se e considera desumana,
alienante e sedativa a mensagem das bem-aventuranças. O choque parece inevitável.
E surgem perguntas como estas: de que felicidade se trata? Que alegria nos humaniza?
Que estilo de vida sacia a nossa fome e a nossa sede de dignidade constante e de
realização integral? Terão razão homens e mulheres como Madre Teresa de Calcutá, o
Padre Américo do Gaiato, o Papa Francisco, as Criaditas dos Pobres, os voluntários
silenciosos de todas as periferias?
Mateus propõe caminhos que são respostas válidas. Caminhos que, embora custosos,
somos convidados a percorrer. Como no atletismo: a satisfação de alcançar a meta
compensa bem o esforço dispendido na corrida. A alegria irradia de um coração liberto
de todas as amarras, disponível e pronto, pobre de meios e rico em solidariedade, sem
“ganchos” que reduzem espaços nem complexos que inibem ousadias criativas. “Esta
alegria é privilégio unicamente de quem se sente livre, espontâneo, conectado
directamente com o seu coração de ser simplesmente humano” (Homilética,
2017/1,45). De quem faz a experiência do amor confiante e da entrega generosa. De
quem não deixa instalar no seu ser o poder corrosivo do egoísmo, das satisfações
imediatas, da ganância de bens.
Jesus, grande mestre em humanidade, conhece bem o coração de cada um/a e o
húmus da sociedade humana. O sermão do monte na Galileia constitui uma proposta
de felicidade e adianta uma espécie de “desenho” do seu projecto para o mundo. A
inversão de valores é clara. E vem ilustrada a partir de três situações de sofrimento e
de três atitudes de fundo em benefício da pessoa humana: A felicidade de quem sofre
por amor, de quem chora por compaixão, de quem tem fome e sede de justiça. Bemaventurados os que são misericordiosos, os que tem um coração puro/transparente,
os amigos e construtores da paz. Quem vive estas situações está em sintonia com o
coração de Deus revelado no agir de Jesus Cristo.
Viver estas situações em círculos de progressivo alargamento: a pessoa, a família, a
Igreja, a sociedade; vivê-las valorando o que de bom e de bem acontece e dando-o a
conhecer; cultivando a boa disposição ou dando “largas” à prudente indignação;
derramando uma lágrima perante o sofrimento injusto e imposto. Vivê-las na partilha
do aumento salarial, na visita aos retidos por amarras desumanas, no sorriso a quem
anda com rosto carrancudo e toma a vida demasiado “a sério”.
São felizes os que sabem reservar tempo para si, fazer silêncio no seu interior, rezar,
ler e meditar a Palavra de Deus, avivar a fé e dialogar com o Senhor, participar na
celebração dominical, alegrar-se com os sucessos, ainda que pequenos, dos
empobrecidos. São felizes os que procuram os vestígios do rasto de Deus nas pegadas
dos seres humanos. Terão a certeza de percorrer o caminho certo e seguro, andado
por Jesus e “arejado” pela brisa suave do Espírito Santo.
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